Universidade Tecnológica Federal do Paraná Professor Murilo V. G. da Silva Notas de aula – Matemática Discreta (Aula 16) Teoria dos Grafos (cont.) Vamos provar agora dois teoremas que enunciamos em aulas passadas, mas que ainda não haviam sido provados. Teorema: Um grafo G conexo é euleriano ⇔ o grau de todo vértice de G é par e maior ou igual a 2. Prova da ida (⇒): Suponha que G é conexo e euleriano. Seja C um circuito euleriano de G e seja v um vértice (arbitrário) de G. Como G é conexo d(v) ≥ 2. Como C percorre todas as arestas do grafo, em particular C percorre todas as arestas incidentes a v. Cada vez que o circuito passa por v duas arestas incidentes a v são percorridas (uma aresta de “entrada” e uma aresta de “saı́da”) e portanto o grau de v deve ser par. Como v é arbitrário, esse raciocı́no pode ser aplicado a todo vértice do grafo, e portanto todo vértice de G tem grau par maior ou igual a 2. Prova da volta (⇐): Suponha que ∀v ∈ V (G), d(v) é par e maior ou igual a 2. Como G não tem vértices de grau 1 pela QUESTÃO 5 da lista de exercı́cios 13 G não é uma árvore e portanto contém pelo menos um ciclo C 0 . Construiremos agora um circuito euleriano a partir do ciclo C 0 . Para tal usaremos indução forte em m, onde m é o número de arestas de G. BASE: Primeiramente precisamos saber qual é o menor m possı́vel neste cenário. Como todo vértice tem grau maior ou igual a 2, sabemos que o grafo não pode conter 0, 1 ou 2 arestas. Portanto a base é m = 3. O único grafo com 3 arestas satisfazendo essas restrições (ter todo vértice com grau maior ou igual a 2) é o K3 e este grafo obviamente contém um circuito euleriano. 1 H.I.: Suponha que a proposição é válida para todo grafo com m arestas ou menos. INDUÇÃO: Seja G um grafo com m + 1 arestas. O ciclo C 0 (como qualquer outro ciclo) deve ter pelo menos 3 arestas. Seja G0 o grafo obtido a partir da remoção das arestas de G que fazem parte de C 0 . O grafo G0 resultante pode ou não ser conexo. Seja G01 , G02 , ..., G0k os componentes conexos de G0 (observe que se G0 é conexo, então k = 1). Como todo grafo G0i =, i = 1, 2, ..., k, tem menos que m arestas, pela hipótese de indução todos eles contém um circuito euleriano Ci0 ou G0i é um vértice isolado. Observe também que Ci0 contém pelo menos um vértice de C 0 . Para cada i = 1, 2, ..., k, considere agora o passeio Pi0 no grafo G0i : Dado o circuito euleriano Ci0 = ui , v1 , ..., vs , ui em Gi , defina Pi0 = v1 , ..., vs . Digamos que o ciclo C 0 tem t vértices, ou seja, C 0 = c1 , ..., ct , c1 . Construı́mos um circuito euleriano em G da seguinte maneira: Começamos o circuito pelo vértice c1 . Seguimos percorremos os vértices c1 , c2 , ..., ct , c1 , mas cada vez que encontramos um vértice cj de C que pertença a um grafo G0i , antes de seguir para cj+1 , fazemos um “desvio” e incluı́mos no circuito o passeio Pi0 . Seguimos com esse processo até que retornemos ao vértice c1 . 2 Teorema: G é bipartite ⇔ G não contém nenhum ciclo ı́mpar. Prova (⇒): Suponha que G seja bipartite com as partições V1 e V2 . Todo passeio em G alterna entre os vértices de V1 e V2 . Portanto todo passeio saindo de um vértice (arbitrário) v, no caso de passar novamente em v, passará após um número par de arestas percorridas. Portanto se G contém um ciclo C, como C em particular também é um passeio, temos que C tem um número par de arestas e portanto é um ciclo par. Prova (⇐): Suponha que G não contém nenhum ciclo ı́mpar. Podemos assumir que G é conexo (pense a respeito desta afirmação). Seja v um vértice (arbitrário). Vamos particionar V (G) em 2 conjuntos A e B descritos a seguir: 2 A: Conjunto de vértices u ∈ V (G) tal que o caminho mı́nimo entre u e v é ı́mpar. B: Conjunto de vértices w ∈ V (G) tal que o caminho mı́nimo entre w e v é par. Note primeiramente que v ∈ B. Suponha existam a1 , a2 ∈ A tal que a1 a2 é uma aresta. Como G é conexo, existe um passeio v, ..., a1 , a2 , ..., v. Mas esse passeio contém um número ı́mpar de arestas. Pela QUESTÃO 1 da lista de exercı́cios 16, G contém um ciclo ı́mpar, uma contradição. Portanto a1 e a2 não são adjacentes. Com isso não existe nenhuma aresta ligando vértices de A. Usando o mesmo argumento, não existem arestas conectando vértices de B e portanto {A, B} é uma bipartição de G. 3