Teste de sensibilidade de dois métodos numéricos para a solução da equação de coalescência estocástica João Bosco Verçosa Leal Junior, Marcos Tibério Aderaldo de Menezes Gerson Paiva Almeida ([email protected]) Universidade Estadual do Ceará Resumo Neste trabalho são avaliadas as diferenças entre a quantidade de água de chuva formada num modelo de nuvem com microfísica explícita utilizando-se dois métodos diferentes de se resolver a equação de coalescência estocástica. O primeiro método foi o descrito por Kovetz e Olund utilizando-se o kernel de colisão adotado por Berry. Enquanto no segundo método utilizou-se o procedimento definido no trabalho de Bott com o kernel de colisão dado por Hall. Os resultados mostram que o método de Kovetz e Olund produz um determinado valor de água de chuva numa altura superior a altura na qual o mesmo valor de concentração de água de chuva é obtida com o método de Bott. O resultado reforça as conclusões de Almeida e Santos, que demonstraram que, mesmo em ambientes muito poluídos, a chuva quente não é inibida. Palavras-chave: modelagem de nuvens, microfísica de nuvens, coalescência estocástica Abstract The present study evaluates the differences between the rain water content calculated in a bin cloud model using two different methods of solving the stochastic coalescence equation. The first method was described by Kovetz and Olund utilizes the kernel proposed by Berry. The second method utilizes the procedure proposed by Bott with the collision kernel given by Hall. The result shows that the method of Kovetz and Olund need a higher height to produce the same amount of rain water content compared to the method of Bott. The result reinforces the results of Almeida and Santos, who demonstrated that even in very polluted environments, warm rain is not inhibited. Keywords: Cloud modeling, bin cloud microphysics, stochastic coalescence 1. Introdução Muitos trabalhos tem abordado o tema da diminuição da chuva quente através do efeito secundário dos aerossóis sobre as nuvens. A ideia geral é de que uma concentração muito grande de núcleos de condensação de nuvens (CCN) pode diminuir a eficiência da formação de precipitação e levar, em alguns casos, a inibição da fase quente. Uma das possíveis formas de investigar esta possibilidade é através de simulações numéricas com modelos de microfisica apurada. Isto quer dizer, obrigatoriamente, aqueles modelos em que as equações cinéticas representativas dos processos microfisicos são resolvidas explicitamente. Almeida e Santos (2007) aplicaram um modelo de parcela com microfisica de nuvem explícita para avaliar as conseqüências do aumento da concentração de CCN na atmosfera e concluíram que os efeitos gerais de inibição de chuva quente só poderiam ser avaliados com a consideração das interações mútuas entre aerossóis e dinâmica. Neste trabalho avaliamos quais as diferenças de resultados que dois métodos diferentes de resolução da equação de coalescência estocástica tem na avaliação da produção de chuva utilizando um modelo de microfísica de nuvem explícita. 2. Metodologia O modelo utilizado neste trabalho é mesmo utilizado em Almeida e Santos (2007) e avalia todos os processos de microfísica de nuvem: nucleação, condensaçãoevaporação, colisão-coalescencia, quebra espontânea e por colisão em termos de fontes e sorvedouros nas equações prognosticas para temperatura, vapor d’água, CCN e distribuição de gotas. O modelo usa 102 categorias de hidrometeoros, contabilizando gotas desde 1 μm até gotas de 5 mm em raio. Supõe-se que os CCNs pequenos são ativados conforme a supersaturação excede o valor crítico, sendo que o procedimento proposto por Kogan (1991) é usado para determinar o raio úmido dos núcleos na base de nuvem, enquanto os núcleos grandes são avaliados se crescem ou não quando dentro da nuvem. O crescimento por Condensação das gotas d’água é calculado de acordo com Mordy (1959). O termo do soluto de crescimento dos núcleos é considerado nos cálculos somente em um único passo de tempo microfísico e o termo da curvatura é negligenciado para gotas de chuva (raios maiores do que 50 μm). A quantidade água condensada/evaporada e o calor latente liberado é calculado baseando-se em dr/dt. Os dois métodos diferentes de resolução da equação da coalescência estocástica são empregados na resolução da fase de colisão-coalescência. O primeiro método foi o descrito por Kovetz e Olund (1969) utilizando-se o kernel de colisão adotado por Berry (1967), definido com KOB de agora em diante. Enquanto no segundo método utilizouse o procedimento definido no trabalho de Bott (1998) com o kernel de colisão dado por Hall (1980), chamado de BH de agora em diante. 3. Condições iniciais O modelo foi inicializado com uma concentração de CCN seguindo um expressão dada por N=3400s0,58, onde s é a supersaturação em %. Esta concentração de CCN representa um ambiente extremamente poluído. A velocidade de ascendência da parcela foi fixada em 4,0 m/s e a umidade foi dada como de 80% com uma temperatura de 270C. Desta forma, a base da nuvem se forma em cerca de 460 metros acima do nível do solo. 4. Resultados A nuvem formada apresentou uma concentração de gotas máxima de cerca de 3170 cm-3. Sob esta condição, que realmente representa um regime microfísico extremamente poluído, diferenças pequenas na altura da formação de água de chuva só poderão ocorrer devido a maior alargamento do espectro produzido dentro da rotina numérica responsável pela resolução da coalescência. A Figura 1 mostra o resultado da quantidade de água de chuva em função da altura para as simulações realizadas com os dois métodos numéricos. Como se pode observar o modelo apresenta a formação de cerca de 0,1 g/m3 de água de chuva em cerca de 5300 metros quando se utiliza o método KOB, enquanto os mesmos valores de água de chuva só vão aparecer cerca de 500 metros acima quando se utiliza o método BH. 6500 Altura (m) 6000 5500 KOB BH 5000 4500 4000 0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 Agua de chuva (g/m3) Figura 1. Comparação entre as alturas de formação da chuva quente no modelo de Almeida e Santos com dois esquemas diferentes de solução da equação de coalescência estocástica. 5.Conclusões Neste trabalho mostramos a comparação entre dois métodos utilizados na resolução da equação da coalescência estocástica num modelo de microfísica explícita para avaliar o cálculo de água de chuva produzida. Os dois métodos mostrados foram os de Kovetz e Olund (1969) com o kernel de Berry (1967) e o de Bott (1998) com o kernel de Hall (1980). Os resultados mostram que o método de Kovetz e Olund (1969) produz um determinado valor de água de chuva numa altura superior a altura na qual o mesmo valor de concentração de água de chuva é obtida com o método de Bott (1998). O resultado reforça as conclusões de Almeida e Santos (2007), que demonstraram que, mesmo em ambientes muito poluídos, a chuva quente não é inibida. O resultado ressalta também a necessidade de escolhas rigorosas de rotinas numérica utilizadas nas soluções de equações representativas de modelos numéricos utilizados em microfísica de nuvem explícita. Isso acontece porque erros associados a procedimento numéricos podem ser artificialmente utilizados para gerar resultado que não condizem com a realidade. Diante deste fato é importante avaliar não só a metodologia empregada na avaliação de modificações de padrões de precipitação como também as rotinas numéricas utilizadas. 6.Referências ALMEIDA, G.P. e R. R. SANTOS: Modeling the relation between CCN and the vertical evolution of cloud drop size distribution in convective clouds with parcel model. Rev. Brasileira de Meteorologia. V. 22, n. 3, p. 313-321, 2007. BERRY, E.X.: Cloud droplet growth by coalescence. J.Atmos.Sci., 24, 688-701,1967. BOTT, A.: A Flux Method for the Numerical Solution of the StochasticCollection Equation. J.Atmos.Sci., 55, 2284 – 2239. 1998 HALL, W. D.: A detailed microphysical model within a twodimensional dynamic framework: Model description and preliminary results. J. Atmos. Sci., 37, 2486–2507, 1980. KOGAN, Y.: The simulation of a convective cloud in a 3D model with explicit microphysics. Part I: Model description and sensitivity experiments. J. Atmos. Sci., 48, 1160–1189 1991. KOVETZ e OLUND.: The effect of coalescence and condensation on rain formation in a cloud of finite vertical extent. J. Atmos. Sci. 26 (1969), pp. 1060–1065, 1969. MORDY, W.: Computation of the growth by condensation of a population of cloud drops. Tellus, 11, 16 – 44, 1959.