Estruturas de Betão I – 2012/2013
Prof. Júlio Appleton
9.7 Notas sobre Desenhos de Projecto
9.7.1 Observações Gerais
Os desenhos do projecto devem incluir desenhos de dimensionamento e desenhos de
pormenorização de armaduras.
Os desenhos de dimensionamento são utilizados em obra para a implantação da estrutura,
definição geométrica dos vários elementos e para a execução das cofragens. Devem assim
incluir plantas, cortes e alçados e indicar todas as cotas em planta e altimetria.
Embora não seja a prática corrente em Portugal é conveniente num desenho inicial indicar as
acções e materiais considerados no projecto.
Os desenhos de pormenorização das armaduras e do pré-esforço devem ser claras, completas
e detalhadas. Neste capítulo apresentam-se a título ilustrativo alguns desenhos de betão
armado.
Prevendo a possibilidade de na fase de preparação da obra serem introduzidas pequenas
alterações é importante indicar os comprimentos de amarração e de emenda a respeitar.
Em geral as peças de betão armado são armadas garantindo a existência de uma malha junto
ao seu contorno, complementando as armaduras estruturais de cálculo. A representação usual
em Portugal n φx/y ou nφx//y significa que n varões de diâmetro x devem ser dispostos com um
afastamento de y m. Quando o número de varões é reduzido indica-se apenas nφx.
O símbolo #φx/y significa que se deverá colocar varões de diâmetro x afastados y m em duas
direcções ortogonais.
Há toda a conveniência em pormenorizar as armaduras individualmente, tarefa necessária para
realizar as medições e para a preparação da obra.
Sempre que possível o comprimento dos varões deverá ser submultiplo de 12 m de modo a
minimizar o desperdício de armadura.
Uma preocupação permanente deverá ser evitar congestionamento de armaduras que
dificultam a betonagem, podendo mesmo reduzir a eficácia dessas armaduras.
Se o risco de incêndio é significativo (R > 90 min) deverão ter-se em conta as disposições
específicas de armaduras a apresentar na disciplina de Estruturas de Edifícios.
9.7.2 Desenhos de Betão Armado de Projecto de Edifícios
9.7.2.1 Lajes Vigadas
As armaduras das lajes devem ser representadas em planta e em corte.
9.1
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As armaduras em lajes são frequentemente desenhadas em planta, separadamente a
armadura inferior da superior conforme indicado nos desenhos 9.1 e 9.2. Para referênciar os
desenhos há em geral interesse em definir uma quadrícula de alinhamentos em duas direcções
ortogonais, sempre que possível correspondendo aos alinhamentos dos pilares.
Quando um varão é dobrado e deverá ser colocado junto às duas faces, pode indicar-se em
planta a armadura rebatida a 90° por forma a mostrar a sua geometria, conforme indicado no
desenho 9.1 para as armaduras da face superior junto ao bordo da laje.
Quando no mesmo desenho se apresentam as armaduras superiores e inferiores estas são
referenciadas por uma linha a cheio  ou a traço interrompido---, respectivamente.
No desenho não estão indicados os espaçadores nem os cavaletes de posicionamento das
armaduras da face superior, pormenrores que já foram anteriormente analisados.
Nos corte da laje é usual não se indicar as armaduras das vigas, como ilustrado no desenho
9.3.
As plantas de armaduras das lajes são usualmente realizadas à escala 1 : 50 (ou 1 : 20) e os
cortes à escala 1 : 20 (ou 1 : 10).
9.7.2.2 Vigas
As armaduras das vigas devem ser representadas em cortes longitudinais e em cortes
transversais.
Nos cortes longitudinais é usual não se representarem as armaduras das lajes, como ilustrado
no desenho 9.4.
Nos cortes transversais é conveniente indicar todas as armaduras, da viga e das lajes, como
indicado no desenho 9.4.
Para além da quantidade de armaduras obtidas nos cálculos há que respeitar os requisitos de
armaduras mínimas e de distâncias máximas.
Em relação aos estribos há a referir os requisitos de distâncias mínimas a satisfazer em função
da classe de ductilidade adoptada no projecto.
Para a classe de ductilidade baixa (aplicável nas zonas de reduzida sismicidade) as
disposições da EN1992-1-1 são aplicáveis e sE ≤ 0,35 d
em que:
sE representa a distância entre estribos, medida na direcção do eixo da viga;
d representa a altura útil da viga.
9.2
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Para a classe de ductilidade média as disposições da EN1998-1 são aplicáveis e na zona
crítica junto ao nó com o pilar (lcr = hw)
sE ≤ h/4
≤ 8φL
≤ 24 φE
225 mm
em que h representa a altura da viga
φL representa o diâmetro de armaduras longitudinais
φE representa o diâmetro dos estribos
No que se refere às emendas de armaduras estas devem ser realizadas em zonas onde o
esforço não é máximo. Se o diâmetro das armaduras é φ ≥ 20 mm ou se a percentagem de
emendas numa mesma secção é superior a 25% da área total das armaduras longitudinais na
zona da emenda deverá ser colocada uma armadura transversal com uma secção superior à
de um varão que é emendado nessa região.
De referir ainda que em estruturas de ductilidade média deverá garantir-se uma quantidade de
armadura de compressão de pelo menos 50% de tracção, conforme indicado no Capítulo 10.
9.7.2.3 Lajes Fungiforme
No desenho 9.5 apresenta-se a pormenorização de armadura as numa laje fungiforme
aligeirada.
Para este tipo de laje também é conveniente representar em desenhos distintos as armaduras
superiores e inferiores. Neste caso as armaduras das nervuras (em geral 2 ou 3 varões)
deverão ser indicadas para cada nervura (ou conjunto de nervuras) separadas da planta como
indicado no desenho 9.5. As nervuras deverão ser numeradas sendo assim fácil a identificação
em obra das respectivas armaduras.
No desenho 9.6 apresenta-se um pormenor da zona maciça em torno do pilar quer da armdura
da face superior quer das armaduras da face inferior (armadura das nervuras, das bandas
entre pilares e da zona maciça). Neste caso indicam-se em planta todas as armaduras.
Os cortes transversais são fundamentais para completar as plantas e identificar as armaduras
transversais. Nas nervuras e por razões construtivas deve pelo menos colocar-se um estribo.
Para evitar grandes concentrações e duplicação de armaduras observe-se no desenho 9.6 que
na zona maciça só se acrescentaram armaduras φ12 entre as duas bandas.
9.3
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9.7.2.4 Pilares
Nos projectos de edifícios as armaduras dos pilares são frequentemente apresentadas em
quadros de secções, por pisos, uma vez que as armaduras num piso são em geral constantes,
conforme se ilustra no desenho 9.8.
É conveniente indicar no quadro de pilares os alinhamentos considerados nos desenhos de
dimensionamento e que definem a posição de cada pilar.
O eixo das vigas não deverá apresentar grande excentricidade em relação ao eixo dos pilares.
A posição do pilar (por exemplo
ou
) no quadro deve estar coerente com a sua posição
nas plantas de dimensionamento.
É fundamental incluir também cortes verticais para representar o reforço de cintas nos nós, a
localização das emendas e amarração de armaduras, como ilustrado no desenho 9.9 e
pormenores em zonas de transição da secção transversal do pilar como ilustrado no desenho
9.10.
Refira-se que no desenho 9.9 do corte vertical apenas se representam as armaduras da viga
existente no plano do corte, omitindo-se as secções das armaduras da laje e da viga
perpendicular ao plano respectivo.
Na realidade se existir outra viga perpendicular (como representado a traço interrompido no
desenho 9.9) ainda acrescem nesta zona as armaduras dessa viga e as armaduras da laje.
Quando a variação da secção é significativa (a evitar nas zonas de maior sismicidade) a
transferência de forças e pormenorização de armaduras deverá ser objecto de estudo
específico pelo modelos de escoras e tirantes.
Salienta-se a necessidade de terminar com um gancho (incluindo patilha com 10φ dobrado
para o interior da secção) a extremidade das cintas, e não com cotovelos (dobragem a 90°),
como ilustrado no desenho 9.10.
As emendas das armaduras longitudinais não devem ser realizadas junto aos nós devendo
incluir o reforço de armaduras transversais referido anteriormente para as vigas.
A distância entre cintas ao longo do pilar deve ser menor na zona crítica (junto ao nó) por forma
a garantir a necessária ductilidade nessas zonas, onde os esforços de flexão são mais
elevados.
A zona crítica indicada no desenho 9.9 tem desenvolvimento lcr
h
lcr
lcl / 6
0,45m
9.4
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em que:
h é a maior dimensão da secção transversal do pilar
lcl é o comprimento livre os pilares
Na zona crítica a distância entre cintas na direcção longitudinal do pilar s'c tem os seguintes
limites:
Em estruturas de baixa ductilidade, DCL, (EN1992-1-1)
s'c
180mm
≤ 9 φL
≤ 0,6 b
Em estruturas de ductilidade média, DCM, (EN1998-1)
sc ≤ 175 mm
≤ 8φL
≤ 0,5 b0
em que φL representa o diâmetro de varões longitudinais do pilar
b representa a menor dimensão do pilar
b0 representa a menor dimensão do núcleo cintado do betão do pilar
Entre as zonas críticas a distância entre cintas s'c tem os seguintes limites (NPEN 1992-1-1):
s'c
300mm
≤ 15φL
≤b
No entanto se os varões têm diâmetro superior a 14 mm ou em zonas de emenda deverão
adoptar-se as mesmas distâncias indicadas para as zonas críticas.
9.7.2.5 Paredes
Consideram-se como paredes os elementos em que o comportamento da secção transversal é
pelo menos 4 vezes a espessura.
As paredes de betão armado representam um papel fundamental nas estruturas de edifícios
devendo nas zonas de maior sismicidade ser consideradas como paredes ducteis conforme a
NP EN1998-1.
9.5
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As paredes devem ter um confinamento nas extremidades através de cintas como indicado
para os pilares. Este confinamento é particularmente necessário nas extremidades que não
estão interligadas a um banzo (parede perpendicular).
A NP EN1992-1-1 requer tal confinamento nas zonas onde a área da secção das armaduras
longitudinais for superior a 0,02 da secção do betão respectiva.
Para além da armadura horizontal deverão colocar-se na parede armaduras construtivas
interligando as duas malhas de armadura conforme representado no desenho 9.1. Essas
armaduras podem ter a forma de cintas, varão U ou ganchos
9.7.2.6 Sapatas de Fundações
Nos edifícios as sapatas estão em geral interligadas por vigas de travamento. As sapatas
requerem uma armadura de cálculo junto à face inferior e é recomendável utilizar uma
armadura de pele junto à face superior, como indicado no desenho 9.12.
A armadura de face superior tem como objectivo principal controlar a fendilhação que pode
ocorrer no betão nomeadamente associada à retracção.
Em sapatas de dimensão média (até 5 m, dimensão corrente em edifícios) as armaduras são,
em geral, uniformemente distribuídas em cada direcção, sem dispensas.
As sapatas deverão em geral ser executadas sobre betão de limpeza podendo nas faces
laterais ser betonadas contra o terreno ou com cofragens.
9.7.2.7 Fundações por Estacas
Nos desenhos 9.13 e 9.14 apresentam-se maciços de encabeçamento de 4 e 3 estacas
utilizados na fundação de pilares.
No maciço de estacas, sendo as acções transmitidas a estas, é no alinhamento das estacas
que se tem de concentrar a armadura dos tirantes obtida nos modelos de cálculo. Se os
maciços de estacas estão interligados por vigas ou laje de fundação as armaduras de cálculo
desses maciços são apenas as da face inferior.
Entre as armaduras de cálculo há que dispor de uma malha de armaduras que não há
interesse em sobrepor com as armaduras principais dos alinhamentos das estacas, para evitar
congestionamento de armaduras, como ilustrado no desenho 9.13.
No que se refere às armaduras das estacas salienta-se que se utilizam cintas em forma
helicoidal aproveitando assim a totalidade do comprimento corrente dos varões (12 m ou 18 m
ou o comprimento total necessário quando os varões são fornecidos em bobine) evitando
numerosas amarrações. É usual soldar as armaduras tranversais aos varões longitudinais para
rigidificar essas ligações, evitando-se assim o movimento das cintas quando da sua colocação
no molde ou terreno (nessa altura é inevitável que ocorra atrito entre as armaduras e o molde).
9.6
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Para as armaduras longitudinais (verticais em geral) utilizam-se com alguma frequência
amarrações mecânicas quando os varões são de grande diâmetro e em quantidade elevada,
evitando assim congestionamento de armaduras.
A pormenorização das armaduras das estacas indicada no desenho, é adequada, quando as
estacas estão sempre comprimidas. Se as estacas estiverem traccionadas para uma
determinada combinação de acções há que dar continuidade a essas forças até ao topo do
maciço.
9.7
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Desenho 9.1 – Laje vigada – armadura superior
9.8
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Desenho 9.2 – Laje vigada – armadura inferior
9.9
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Desenho 9.3 – Laje vigada – cortes
9.10
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Desenho 9.4 – Vigas – cortes longitudinais e transversais
9.11
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Desenho 9.5 – Laje fungiforme – armaduras superiores e armaduras inferiores nas nervuras
9.12
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Desenho 9.6 – Lajes fungiformes – armadura de zona do capitel
9.13
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Desenho 9.7 – Lajes fungiformes – cortes
9.14
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Desenho 9.8 – Quadro de secções de pilares
9.15
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Desenho 9.9 – Corte vertical e nós de ligação viga-pilar
9.16
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Desenho 9.10 – Exemplo da pormenorização de armaduras em zons de alteração da secção
do pilar
9.17
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Desenho 9.11 – Paredes de betão armado. Secção transversal
9.18
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Desenho 9.12 – Sapata de fundação. Planta e corte
9.19
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Desenho 9.13 – Fundações por estacas. Maciço de 4 estacas
9.20
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Desenho 9.14 – Fundações por estacas. Maciço de 3 estacas
9.21
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parte escrita complementar