XI I C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI O N EI RO Educar para a Sensibilidade: Ed uc aç ão , P ed a go gi a e Es t ét i ca . U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 2 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 BLOG: GÊNERO TEXTUAL OU SUPORTE PARA GÊNEROS? Daiane Eloísa dos Santos (G-CLCA-UENP/CJ) Geovana Lourenço de Carvalho (G-CLCA-UENP/CJ) Vera Maria Ramos Pinto (Orientadora-CLCA-UENP/CJ) Resumo: Com base nos estudos de Marcuschi (2004; 2008), Rojo, Barbosa e Collins (2005), Dionisio (2005), Bonini (2003), apresentamos, neste artigo, estudo oriundo de reflexões do GP Leitura e Ensino, onde efetivamos trabalho de pesquisa que investiga se o blog, que é muito utilizado como objeto de ensino nas aulas de Língua Portuguesa, é mesmo um gênero, como é apresentado em muitos livros didáticos, ou se é somente um suporte para gêneros. Palavras-chave: Blog. Gênero textual. Suporte. Introdução A proliferação de gêneros textuais e a transmutação que antigos gêneros sofrem com o advento da grande rede de informações, a internet, faz com que suscitem dúvidas com relação à natureza dos gêneros textuais e seu modo de veiculação (suporte). Neste artigo, objetivamos apresentar estudo que investiga se o blog, que é muito utilizado como objeto de ensino, é mesmo um gênero, como é apresentado em muitos livros didáticos, ou se é somente um suporte para gêneros, por abrigarem tanto declarações de cunho pessoal, que formariam o gênero “diário pessoal”, quanto piadas, músicas e outros gêneros que demonstram o gosto pessoal do “dono” do blog. Fundamentação teórica A respeito do conceito de gêneros, a revista Nova Escola, de agosto/2009, introduz seu artigo com o seguinte comentário: Todo dia você acorda de manhã e pega o jornal para saber as últimas novidades enquanto toma café. Em seguida, vai até a caixa do correio e descobre que recebeu folhetos de propaganda e (surpresa)! depara-se com uma carta de um amigo que está morando em um outro país... Não é de hoje que a nossa relação com os textos escritos é assim: eles têm formato próprio, suporte específico, possíveis propósitos de leitura; têm o que os especialistas chamam de ‘características sociocomunicativas’, definidas pelo conteúdo, a função, o estilo e a 261 XI I C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI O N EI RO Educar para a Sensibilidade: Ed uc aç ão , P ed a go gi a e Es t ét i ca . U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 2 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 composição do material a ser lido. E é essa soma de características que define os diferentes gêneros. Ou seja, se ele é um texto com função comunicativa, tem um gênero. Para Bakhtin (1997, p. 280) Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana, o que não contradiz a unidade nacional de uma língua. A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. E, ainda, segundo o autor, cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que ele denominou de gêneros do discurso ( BAKHTIN, 1997, p.280). Tipos relativamente estáveis de enunciados (orais e escritos) advindos de uma ou outra esfera de atividade humana. No que diz respeito à esfera da internet: 262 XI I C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI O N EI RO Educar para a Sensibilidade: Ed uc aç ão , P ed a go gi a e Es t ét i ca . U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 2 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 Assim, temos muitos exemplos de esferas da atividade humana, campos (situações) de circulação de discursos: familiar, escolar, jornalística, religiosa, política, científica, artística, internet, dentre outras. E cada esfera elabora diferentes gêneros. Na esfera familiar, podemos citar como exemplos: diálogo de instrução (pais e filhos), diálogo amoroso, bilhetes, lista de compras etc.; na esfera da internet o blog, o e-mail, as redes sociais, as notícias, a enciclopédia virtual, os vídeos, fotos, os anúncios publicitários, dentre outros. Desse modo, vemos que os gêneros são inúmeros e “assim como a língua, também variam, adaptam-se, renovam-se e multiplicam-se” (BRONCKART, 2003) e podem circular nos mais variados suportes e de diversas maneiras. Mesmo com essas variações, as pessoas tendem a identificar determinado gênero primeiramente em função de características sinalizadoras especiais, como o formato, o suporte e a estrutura visual que apresenta, só depois identificam as características textuais presentes no mesmo (BAZERMAN, 2006). Como exemplo, podemos mostrar o cartão postal, que é reconhecido logo por seu formato e suporte (PINTO, 2011). 263 XI I C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI O N EI RO Educar para a Sensibilidade: Ed uc aç ão , P ed a go gi a e Es t ét i ca . U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 2 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 Com isso, surge a importância do conceito de suporte, já que este, na maioria das vezes, não só funciona como meio de circulação de um gênero na sociedade como auxilia na identificação do mesmo. Pode-se dizer, então, que “o suporte não é neutro e o gênero não fica indiferente a ele” (MARCUSCHI, 2008, p. 174). Porém, ainda, segundo o autor, deve-se ter em mente que não é o suporte que vai determinar o gênero, mas sim, o gênero é que vai determinar ou exigir o suporte mais adequado ao seu propósito comunicativo. Conceito de suporte De acordo com Marcuschi (2008) o suporte é um locus físico ou virtual com formato específico que fixa o gênero materializado em texto. 264 XI I C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI O N EI RO Educar para a Sensibilidade: Ed uc aç ão , P ed a go gi a e Es t ét i ca . U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 2 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 O autor acrescenta, ainda, que se pode dizer que suporte de um gênero é uma superfície física em formato específico que suporta, fixa e mostra um texto. Apesar de o suporte ser específico, não significa que foi comunicativamente produzido para portar textos, podendo agir como portadores eventuais, tornando-se acessíveis para fins comunicativos. Em função deste fator, Marcuschi (2008) afirma que existem dois tipos de suporte: o convencional e o incidental. (a) a categoria dos suportes convencionais, típicos ou característicos, produzidos para portar textos; (b) a categoria dos suportes incidentais que podem trazer textos, mas não são destinados a esse fim de modo sistemático nem na atividade comunicativa regular. São exemplos de suportes convencionais: livro, livro didático, jornal diário, revista (semanal/mensal), revista científica (boletins e anais), rádio, televisão, faixas, internet. Exemplos de suportes acidentais: embalagem, para-choques e para-lamas de caminhão, roupas, corpo humano, paredes, muros, janelas de ônibus, dentre outros. Sendo assim, o blog deixa de ser somente um gênero passando a ser um caso ambíguo, podendo ser visto como suporte, um locus virtual, com suas características específicas, que suporta vários gêneros, as notícias, propagandas , convites entre outros. O blog também como suporte Hewitt (2007) define blog como sendo um website extremamente flexibilizado com mensagens organizadas em ordem cronológica reversa e com uma interface de edição simplificada, através da qual seu autor pode inserir novos posts. Podemos dizer então que blogs são baseados em mecanismos (Ferramentas Blog) que facilitam a criação, edição e manutenção de uma página na web. Já Marcuschi (2008, p. 202) define blog como os diários pessoais na rede; uma escrita autobiográfica com observações diárias ou não, agendas anotações, em geral muito praticados pelos adolescentes na forma de diários participativos . Análise dos Blogs Blog I: Blog do comediante Danilo Gentili 265 XI I C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI O N EI RO Educar para a Sensibilidade: Ed uc aç ão , P ed a go gi a e Es t ét i ca . U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 2 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 Imagem 1 Fonte: http://danilogentili.zip.net/ Imagem 2 Fonte: http://danilogentili.zip.net/ Imagem 3 266 XI I C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI O N EI RO Educar para a Sensibilidade: Ed uc aç ão , P ed a go gi a e Es t ét i ca . U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 2 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 Fonte: http://danilogentili.zip.n Imagem 4 Fonte: http://danilogentili.zip.net/ No blog do comediante Danilo Gentili, usado por ele para divulgar seu trabalho, logo na página inicial, percebemos diversos gêneros, como: • Anúncio publicitário – “No final das contas o show foi adaptado e lançado em DVD , LIVRO e AUDIOLIVRO. Você pode comprá-los agora mesmo clicando no item desejado” (imagem 4) • Piadas – na imagem 1 e 2 temos o texto intitulado “Cristoy”, “Depois dizem que com Religião não se brinca. O bom desse brinquedo é que se o seu filho o quebrar, em 3 dias ele se conserta sozinho.(...)” que é uma piada pronta publicada por Danilo em seu blog. Na imagem 3 temos outra piada desse tipo, intitulada “Uma piada para Robin Willians” Blog II: Blog do jornalista Edemilson Paraná Imagem 5 267 XI I C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI O N EI RO Educar para a Sensibilidade: Ed uc aç ão , P ed a go gi a e Es t ét i ca . U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 2 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 Fonte: http://blogdoparana.wordpress.com/ Imagem 6 Fonte: http://blogdoparana.wordpress.com/ Imagem 7 268 XI I C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI O N EI RO Educar para a Sensibilidade: Ed uc aç ão , P ed a go gi a e Es t ét i ca . U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 2 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 Fonte: http://blogdoparana.wordpress.com/ No blog do jornalista, também utilizado por seu autor para divulgação do seu trabalho, podemos identificar a presença de diversos gêneros textuais, como: • Notícia: na imagem 1 temos uma notícia postada “Site da secretaria de cultura do distrito Federal invadido em favor da luta no Santuário dos Pajés” • Perfil biográfico: na imagem 2 temos o texto “Quem é Paraná?”, cuja finalidade é contar a vida do jornalista Edemilson Paraná, quem é, sua origem e seu trabalho. • Convite: na imagem 3, o jornalista utiliza seu blog para convidar seus leitores para participar de uma manifestação no feriado. Considerações finais Com base nas teorias e estudos sobre gênero textuais, suporte de gêneros e a transmutação dos gêneros, percebemos que o blog deve ser analisado sobre vários aspectos. Muitos estudiosos e livros didáticos classificam esse website como gênero da internet, porém desconsideram que sua estrutura específica comporta diversos gêneros orais e escritos, tendo assim seu papel também de suporte. 269 XI I C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI O N EI RO Educar para a Sensibilidade: Ed uc aç ão , P ed a go gi a e Es t ét i ca . U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 2 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 Observamos que o blog se encontra na internet que é o serviço que nos permite acessá-lo, e que a internet está disponível em todos os microcomputadores conectados à rede, sendo então o computador o canal que nos leva ao suporte. Portanto encontramos no blog vários gêneros nele fixados, por isso, em resposta à pergunta – título, de acordo com nossos estudos, acreditamos que ele não pode ser considerado simplesmente um gênero, o seu papel de suporte deve ser levado em consideração. Referências BAZERMAN, Paulo,2005. Charles. Gêneros Textuais, tipificação e interação. Ed. Cortez, São _______. Gênero, agência e escrita. Ed. Cortez, São Paulo, 2006. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BONINI, Adair. Veículo de comunicação e gênero textual: noções conflitantes. D.E.L.T.A., 19:1, 2003. COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. DIONISIO, A. P. Gêneros multimodais e multiletramento. In KARWOSKI, A.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (Orgs.) Gêneros textuais: reflexões e ensino. União da Vitória - PR: Editora Kaygangue, 2005. DOLZ, B; NOVERRAZ, M; SCHNEUWLY, D. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. Org. ROJO, R. e CORDEIRO, G. L. Campinas: Mercado das Letras, 2004. HEWITT, H. Blog: entenda a revolução que vai mudar o seu mundo.Tradução de Alexandre Martins Morais. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2007. MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos (Orgs.). Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro:Lucerna, 2004. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. Parábola Editorial, São Paulo, 2008. ROJO, R; BARBOSA, J.P; COLLINS.H. Letramento digital: um trabalho a partir dos gêneros do discurso. In KARWOSKI, A.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (Orgs.) Gêneros textuais: reflexões e ensino. União da Vitória- PR: Editora Kaygangue, 2005. 270 XI I C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI O N EI RO Educar para a Sensibilidade: Ed uc aç ão , P ed a go gi a e Es t ét i ca . U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO A N AI S – 2 0 1 2 I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9 Para citar este artigo: SANTOS, Daiane Eloísa dos; CARVALHO, Geovana Lourenço de. Blog: gênero textual ou suporte para gêneros? . In: XII CONGRESSO DE EDUCAÇÃO DO NORTE PIONEIRO Jacarezinho. 2012. Anais. ..UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Ciências Humanas e da Educação e Centro de Letras Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2012. ISSN – 18083579. p. 261 – 271. 271