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O QUE EXATAMENTE TORNA O CÉREBRO E
A MENTE DE HOJE TÃO DIFERENTES, TÃO
ATRAENTES? NEUROCIÊNCIA E A PERCEPÇÃO
SENSÍVEL NOS AFETOS DO DIA-A-DIA
Leila Reinert
Resumo
O conhecimento dos processos mentais dos últimos cinquenta
anos, via ciências da mente, ampliou muito o entendimento de
como o cérebro funciona. Este artigo destaca as recentes pesquisas em neurociência e suas relações com o design na contemporaneidade. Discutimos alguns dos mecanismos cerebrais
que produzem, controlam, gerenciam a subjetividade humana
no mundo ordinário do dia-a-dia para entender a importância
da consciência e da percepção dos nossos processos mentais. O
afeto, a sensibilidade, as emoções contidas na produção e recepção das informações que circulam na atualidade, e que, sobretudo, condicionam comportamento, são fundamentais na articulação entre a neurociência e o design.
Palavras-Chave: Neurociência; design; consciência; percepção
sensível.
DAT: Design, Arte e Tecnologia.
São Paulo: Editora, Universidade Anhembi Morumbi
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O que exatamente torna o cérebro e a mente de hoje tão diferentes, tão atraentes?
Neurociência e a percepção sensível nos afetos do dia-a-dia
Introdução
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Parafrasear Richard Hamilton para intitular o artigo aqui apresentado esclarece, bastante
bem, como as pesquisas em neurociência, ou mais amplamente falando, das novas ciências da
mente, têm sido incorporadas nos discursos das mais variadas áreas do conhecimento. Assim
como a colagem O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes? do pôster de
1956 de Hamilton, composto de anúncios recortados de revistas populares, que rompia com a
barreira existente entre uma elevada cultura ocidental e a comunicação de massa, entre elitista e
democrático, único e múltiplo – as pesquisas sobre a mente e o cérebro romperam com as barreiras
que segregavam o saber científico a poucos e circulam vasta e livremente nos mais diversos
periódicos encontrados nas bancas de revistas espalhadas pelas cidades, ou ainda, em inúmeras
reportagens exibidas pelas TVs, elas estão na boca do povo. Mas, o que torna esse conhecimento
tão sedutor e popular?
Os avanços científicos dos últimos anos tornaram possível revelar muitas das funções dos
organismos vivos, especialmente as funções do cérebro no interior desses organismos. A medicina,
a biologia molecular, a neurociência, aliadas a filosofia, a psicologia e a psiquiatria, produziram
importantes pesquisas para o entendimento da mente e de suas ações na vida cotidiana. Questões
centrais do pensamento ocidental sobre a natureza dos processos mentais, dos modos de ser e
existir no mundo, foram explicitadas pelas novas ciências da mente na atualidade.
O desenvolvimento dessas pesquisas, especialmente em neurobiologia molecular, sobre
o modo como pensamos, aprendemos, lembramos, enfim, permitiram avançar sobre aspectos
da mente considerados difíceis de investigar. Auxiliadas pelas novas técnicas de imageamento
cerebral, que admitiram visualizar e mapear as atividades mentais do cérebro durante a realização
de várias ações desempenhadas pelas pessoas – das mais simples as mais complexas, como ver
uma imagem, emocionar-se, ou refletir sobre um trajeto no espaço – essas pesquisas abriram
caminhos para um melhor entendimento dos processos cognitivos, da consciência, e também
dos afetos por eles produzidos. Pode-se dizer que a subjetividade está sendo estudada no
laboratório, e por mais estranho que possa parecer, isso não implica uma abordagem fria e distante
dos cientistas. Eric Kandel, em seu livro Em Busca da Memória, declara não ser possível “tomar
decisões puramente com base nos fatos – porque os fatos são quase sempre insuficientes. No
final das contas temos que confiar em nosso inconsciente, em nossos instintos, em nosso anseio
criativo” (2009, p.169).
Assim como Kandel, prêmio Nobel de fisiologia e medicina em 2002, renomados
neurocientistas – António Damásio, Oliver Sacks, Vilayanur Ramachandran, e Miguel Nicolelis no
Brasil, entre outros – tiveram um papel fundamental na disseminação do conhecimento científico
sobre o funcionamento do cérebro e da mente quando tornaram “literária” a neurociência por meio
de seus livros. Compreender o quê acontece no cérebro quando se está apaixonado, ou por que me
apaixono; entender os processos de aprendizado, atenção e memória para que se possa exercitar o
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O que exatamente torna o cérebro e a mente de hoje tão diferentes, tão atraentes?
Neurociência e a percepção sensível nos afetos do dia-a-dia
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cérebro e obter melhor desempenho nas tarefas desejadas, ou mesmo retardar o envelhecimento
mental; conhecer as reações afetivas, as emoções e sentimentos, que condicionam nossas ações
no mundo; mapear áreas cerebrais acionadas pela imaginação, pelo delírio, pelo sonho; são alguns
exemplos que elucidam o quão fascinante é a neurociência, e o quão abrangente pode ser o uso
deste saber.
Inevitável que o design, no seu papel de articulador das relações cotidianas entre os seres
humanos e seus artefatos, seus sistemas de comunicação, faça usufruto dos saberes sobre a mente
para que os designers possam melhor “operar sobre a qualidade das coisas e sua aceitabilidade e,
portanto, sobre a atração que novos cenários de bem-estar possam porventura exercer” (Manzini,
2008).
Este artigo apresenta algumas pesquisas da neurociência sobre a consciência e a percepção
para pontuar de que modo esse conhecimento condiciona o desenvolvimento de projetos em
design na atualidade.
Mente e cérebro
“Dê-me um lapso, um ato falho, e reconstituirei um cérebro”, afirma Deleuze (2005) em
seu livro A Imagem-Tempo, mas foi um neuroanatomista espanhol, Santiago Ramón y Cajal,
contemporâneo de Freud, quem formulou a doutrina do neurônio, base para o pensamento moderno
sore nosso sistema nervoso, sobre o funcionamento do nosso cérebro. De estudos feitos a partir
da década de 1890, Cajal inferiu que a sinapse entre os neurônios é caracterizada por um breve
intervalo chamado de fenda sináptica (Kandel, 2009). As intuições de Cajal foram confirmadas de
maneira conclusiva somente em 1955, e hoje pode-se afirmar com segurança que a comunicação
entre as células nervosas acontece nos intervalos, na fenda, na “falha”.
Se o cérebro humano funciona na descontinuidade, o que dizer dos processos mentais,
da mente humana? Desde a invenção da psicanálise e da teoria freudiana do inconsciente, não
há como duvidar que nossos pensamentos também estão repletos de falhas, ou mesmo que se
constituem nas falhas. Mas como entender as fendas dos processos mentais? Quanto mais e
mais os mistérios da consciência são desvendados, tanto mais somos conscientes dos processos
inconscientes que regulam nossa existência – biológica e subjetiva.
É fato que o desenvolvimento tecnológico associado às ciências médicas e biológicas não só
desvelou o corpo humano, mas também interferiu e modificou-o, afinal, é fato também que o corpo
é um objeto histórico – resultado da convergência dos encontros aos quais foi submetido. Um
pouco mais complicado é compreender de que modo os impulsos elétricos e as reações químicas
da matéria cerebral dão origem aos pensamentos subjetivos. A dificuldade está em estabelecer as
relações entre a mente e o cérebro, entre o corpo e a alma, e o grau de cientificidade comprovado
das abordagens: Quem, ou o que, é consciente em nós? Podemos ser o resultado de meras reações
físico-químicas? E nossa alma, onde ela se encontra? Se a consciência humana pode ser definida
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como uma percepção de si, ser consciente da própria consciência, o que quer dizer perceber-se?
Em vez de respostas, a cada argumento estudado novas perguntas são pronunciadas, novos
conhecimentos se fazem necessários e novas “consciências” são geradas.
Reflexões que se alinham as pesquisas das chamadas novas ciências da mente, pois o
conhecimento dos processos mentais adquiridos nos últimos anos ampliou muito o entendimento
dos mecanismos cerebrais que delineiam a subjetividade humana. É o que veremos a seguir.
A consciência como condição de existência
A palavra consciência faz parte do vocabulário ordinário das pessoas comuns. É uma palavra
mencionada toda vez que se pretende afirmar uma decisão, uma escolha, uma ação controlada,
ou para se cobrar o uso do bom senso em atitudes condizentes com a condição humana. Mas
o que significa a palavra consciência? Na língua portuguesa, quando usamos popularmente as
frases “escute a voz da consciência”, ou “ponha a mão na consciência”, o sentido referido é o de
uma consciência moral, que implica o conhecimento do bem e do mal, do dever, e está relacionada
a valores sociais, ou individuais. A consciência moral foi investigada durante praticamente toda
a história da filosofia ocidental, e adquiriu facetas tão diversas quanto os pensamentos, ou os
conceitos, produzidos por filósofos em suas épocas correspondentes.
O significado do uso corrente da palavra consciência no português, corresponde ao sentido
da palavra inglesa conscience, que se traduz por consciência moral. A palavra consciousness pode
ser igualmente traduzida por consciência na língua portuguesa, mas não corresponde ao sentido
de consciência moral, definido como uma faculdade especializada em juízos de valores morais –
sentimentos de dever, de aprovação ou de remorsos, que determinam práticas e condutas sociais,
ou pessoais. Falar da consciência como condição de existência, a partir das pesquisas de Antônio
Damásio, significa falar de consciousness, no sentido de se ter a consciência de ser um sujeito, de
ser um Eu, que percebe a si mesmo, um sujeito do conhecimento, que estabelece distinções e
distâncias entre ele e seu entorno, independente de qualquer valor moral. É claro que não se pode
falar em unanimidade de pensamentos, pois existem variações nas abordagens científicas e nos
conceitos filosóficos desenvolvidos ao longo da história, contudo há um ponto comum entre as
discordâncias: Que a consciência produz uma certa unidade no ser.
O amplo material disponível sobre o assunto exigiu muitas escolhas, algumas conscientes,
outras nem tanto, e muitas resultaram de encontros, bons encontros, que proporcionaram um chão,
ou apenas um céu, com a densidade necessária para sustentar um pensamento. Se a consciência é
condição necessária à existência, a questão é saber qual modo, grau, nível, ou qualidade de existência
são necessários para constituir a consciência. E, até mesmo, contrariando a obrigatoriedade da
consciência como condição sempre necessária, quando esta pode ser dispensada e deixar-se levar
pela existência, por ações não-conscientes, sem colocar o ser humano em risco, ou poder, inclusive,
potencializar a própria vida?
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O entendimento da questão apresentada passa por um rápido percurso das abordagens
propostas pelas ciências e pela filosofia sobre a consciência que visam esclarecer os conceitos e as
escolhas determinadas. E é preciso atentar para o fato de que o instrumental teórico desenvolvido
pelo pensamento filosófico ocidental, quer dizer, o vocabulário e os conceitos engendrados, foi
incorporado ao pensamento produzido pelas novas ciências da mente. John R. Searle(1998) afirma
ser preciso rever o uso dos conceitos para que se possa avançar na exploração do mistério da
consciência, ou para transformá-lo em problema. Alinhando-se, assim, ao que Deleuze (2003)
havia dito em 1988 sobre a vida útil de um conceito filosófico. Vale relembrar: conceitos nascem,
morrem e também se transformam de acordo com suas funções e campos de atuação.
O problema da consciência
Na filosofia da mente, os fenômenos do mundo são pensados, basicamente, ou a partir
de um ponto de vista dualista, que defende a existência no mundo de duas espécies diferentes
de fenômenos; ou de um ponto de vista monista, que considera a existência de somente um tipo
de fenômeno (Searle, 1998). Os discursos que se constroem sobre a consciência, em sua maioria,
estão apoiados nestas duas distinções. Quais as diferenças que cada um desses discursos produz
para o entendimento da consciência?
Os dualistas dividem os fenômenos do mundo em mentes e corpos, e se há uma diferença
de substâncias entre o mental e o físico, eles são chamados de “dualistas de substâncias”. Por outro
lado, pode ser que o mental e o físico sejam compostos pela mesma substância tendo propriedades
diferentes, e estes são chamados de “dualistas de propriedade”. Searle supõe que a maior parte
das pessoas comuns aceita o discurso dualista, pois acreditam ser possuidores de uma alma e
um corpo, ou de um corpo e uma mente. Há que haver um ser imaterial que habita o corpo, há
que haver uma alma destinada ao céu, ou mesmo ao inferno; é impossível que o ser humano, que
meu eu interior, resulte de descargas elétricas e reações químicas. Mas diante da visão científica
contemporânea, são poucos os profissionais das ciências da mente que defendem uma visão
dualista dos fenômenos do mundo.
Para os monistas, que pensam o mundo formado por uma única espécie de coisa, a
divisão se dá entre os idealistas e os materialistas. Os idealistas consideram tudo que se passa
como sendo essencialmente mental, e os materialistas consideram que todos os fenômenos
do mundo são materiais ou físicos. Segundo Searle (1998, p.154) “a história da filosofia da
mente, nesses últimos cem anos, tem sido, em grande parte, uma tentativa para se livrar do
mental mostrando que nenhum fenômeno mental existe para além dos fenômenos físicos”.
Sejam os estados mentais pensados como padrão de comportamento (behaviorismo), ou como
sendo idênticos aos estados cerebrais (fisicalismo), ou ainda que “os estados mentais podem
ser considerados estados físicos, mas são definidos como ‘mentais’ não em função da sua
constituição física, mas devido às suas relações causais” (funcionalismo), Searle (Idem) aponta
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o problema da consciência como o nó que engata o desenrolar do pensamento nas vertentes
materialistas da filosofia da mente.
Mas toda essa história começou bem antes. Hipócrates, fundador da academia de Atenas
no século v a. C., foi o primeiro médico a afirmar que os processos mentais resultam de funções
cerebrais (Kandel, 2009), argumento baseado na observação de casos clínicos. Por sua vez, Platão
rejeita os experimentos e as observações de Hipócrates, pois só é possível pensarmos sobre nós
mesmos e nosso corpo mortal porque possuímos uma alma imaterial e imortal, ou seja, uma
realidade essencialmente imortal, que faz parte do mundo inteligível das idéias. A separação
corpo e alma é incorporada pelo cristianismo, que aprofunda a idéia de uma alma de origem divina
distinta do corpo material e geradora da consciência. Mas é no século XVII que Descartes atribui
uma natureza dual aos seres humanos quando afirma que corpo e mente são constituídos por
substâncias diferentes, ou seja, o corpo é matéria (substância material) e a mente deriva de uma
substância de natureza espiritual. A ciência médica pode estudar o corpo e o cérebro para entender
seu funcionamento e suas ações, ou para compreender a “percepção sensorial, os apetites, as
paixões e até mesmo formas simples de aprendizagem, […] A mente, entretanto, é sagrada e,
como tal, não é um objeto de estudo adequado para a ciência” (Idem, p. 408).
Por outro lado, Espinosa, também no século XVII, não considera a alma superior ao corpo
nem o corpo superior a alma. “Segundo a Ética, ao contrário, o que é ação na alma é também
necessariamente ação no corpo, o que é paixão no corpo é por sua vez necessariamente paixão na
alma” (Deleuze, 2002, p.24). A consciência não domina ou controla as paixões do corpo, ela é ilusória,
porque o corpo é mais, ou pode mais, do que o conhecimento que temos dele, e o pensamento é
mais amplo do que a nossa consciência. Somos conscientes somente dos efeitos produzidos pelos
encontros entre corpos, entre idéias, pelo afetar e ser afetado, mas não temos conhecimento das
causas que o produziram. Para Espinosa, ter consciência não quer dizer conhecer. Consciência e
afetos propulsionam o conhecimento quando ultrapassam a condição de signos equívocos (Deleuze,
2002), que exprimem somente uma condição natural de nossa existência, e passam a organizar-se
pelo esforço da razão para nos induzir a formar idéias adequadas. Pode-se dizer que o pensamento
é gerado a partir de uma consciência que se alimenta de processos inconscientes, pois nossas
primeiras percepções são consciências de idéias inadequadas, errôneas.
Em oposição ao “eu penso logo sou”1 de Descartes, é Kant, no final do século XVIII, quem
introduz a distinção entre uma consciência empírica e uma consciência transcendental, ou segundo
Deleuze (1997), um Eu [Je] e um Eu [Moi]. Um Eu [Moi] que não pára de mudar, receptivo, que se dá
no tempo, e um Eu [Je] que é ato, e determina ativamente minha existência. Mas, “eu, considerado
como sujeito pensante, me conheço como objeto pensado dado a mim mesmo na intuição do
mesmo modo que conheço os outros fenômenos, isto é, não como sou, mas como me apareço”
(Machado, 2009, p.112). Essa consciência que não se encontra mais localizada em uma alma divina,
mas que resulta do entendimento entre o Je e o Moi, produz um sujeito que se modula na relação
consigo mesmo. Ou seja,
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[…] o Eu não é um conceito, mas a representação que acompanha todo conceito;
e o Eu não é um objeto, mas aquilo que a todos os objetos se reportam como
à variação contínua de seus próprios estados sucessivos e a modulação infinita
de seus graus no instante. A relação conceito-objeto subsiste em Kant, mas
encontra-se duplicada pela relação Eu-Eu, que constitui uma modulação, não mais
uma moldagem. (Deleuze, 1997, p. 39-40)
Embora Damásio não faça nenhuma referência à Deleuze em seus livros, o seu eu também
é concebido como um processo que comporta dois tipos de eus, “e esse processo encontra-se
presente em todos os momentos em que se presume que estejamos conscientes” (2010, p. 25).
Pode-se dizer, grosso modo, que o que Deleuze denomina de eu transcendental, Damásio vai
chamar de “eu-enquanto-sujeito”, enquanto conhecedor; e o eu empírico ou fenomenal, o Moi de
Deleuze, é definido como o “eu enquanto objeto-dinâmico” em Damásio. Para o autor, não há de
fato uma dicotomia entre o “eu-enquanto-objeto” e o “eu-enquanto-conhecedor”, mas sim uma
continuidade e uma progressão. Seria possível dizer que há aqui também uma modulação? Ou
ainda, seria possível traçar algum tipo de paralelo entre os “eus” apresentados? É preciso buscar
com mais precisão as definições de Damásio para que se possa pensar nessa questão.
Quanto à minha definição do eu material, o eu-enquanto-objecto, ela é a seguinte:
um agrupamento dinâmico de processos neurais integrados, centrado na representação
do corpo vivo, que encontra expressão num agrupamento dinâmico de processos
mentais integrados.
O eu-enquanto-sujeito, enquanto conhecedor, é uma presença mais fugidia,
muito menos agregada em termos mentais ou biológicos do que o eu-enquantoobjecto, mais dispersa, em geral dissolvida no fluxo de consciência, por vezes
tão exasperantemente discreta que está e não está presente. Não há dúvida de
que o eu enquanto conhecedor é mais difícil de captar do que o simples eu. Claro
que isso não reduz a sua importância para a consciência. O eu enquanto sujeito e
conhecedor é não só uma presença real mas também um ponto de viragem na
evolução biológica. Podemos imaginar que o eu enquanto sujeito e conhecedor
se encontra, por assim dizer, por cima do eu enquanto objecto, como uma nova
camada de processos neurais que dá origem a mais uma camada de processos
mentais. (Ibidem, p. 26-27)
Por um lado, tem-se dois “eus” como duas fases do desenvolvimento evolutivo da
identidade do sujeito, concebido por Damásio. Por outro, tem-se um Moi mutável, cambiante no
tempo, um sujeito fenomênico que é afetado pelo Je, o eu transcendental que o determina. Para
Deleuze (2006), o intervalo que se encontra entre um e outro não constrói nenhuma identidade
– mesmo que a unidade seja mantida, ao contrário, provoca fissuras que fazem com que o Moi
apreenda o Je como um Outro nele. Ou ainda, “o ‘eu penso’ afeta o tempo e só determina a
existência de um eu que muda no tempo e apresenta a cada instante um grau de consciência”
(Idem, 1997, p. 38).
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Claro que há diferenças fundamentais na conceituação dos “eus” de cada um dos autores,
mas há também algumas aproximações viáveis. O importante é entender que a consciência é um
estado mental particular em que temos conhecimento da nossa própria existência, um estado mental
enriquecido por uma sensação do organismo a que a mente pertence e do entorno que o cerca.
“A consciência é um estado mental a que foi acrescentado o processo do ser” (Damásio,
2010).
Bases biológicas
Sermos conscientes de nós mesmos resulta de um processo biológico que será um
dia explicado em termos de vias de sinalização molecular (Kandel, 2009). Mas ainda não há
tecnologia para compreender como impulsos elétricos e reações químicas da matéria cerebral são
transformados em pensamentos subjetivos. Aliás, o cérebro só se torna consciente quando adquire
uma propriedade subjetiva.
A neurobiogia da consciência organiza-se em torno de estruturas cerebrais que estão
envolvidas na criação de três aspectos fundamentais para um organismo consciente, são elas: o
estado de vigília, a mente e o Eu. E há três grandes divisões anatômicas envolvidas que contribuem,
de forma não linear, para a emergência desses três aspectos, são elas: o tronco cerebral, o tálamo
e o córtex cerebral. Essas estruturas anatômicas realizam várias tarefas de forma colaborativa e
coordenada. Os núcleos do tronco cerebral são responsáveis pela regulação visceral do organismo
tanto como contribuem para o estado de vigília e geram os sentimentos primordiais. O tálamo é
uma estrutura par, com aspecto ovóide, e tem um importante papel para a criação do pano de fundo
da mente como um todo e da chamada mente consciente. É ele que se encarrega da transmissão
dos sinais necessários para despertar ou adormecer o córtex cerebral, e serve de coordenador das
atividades corticais. O tálamo “tanto retransmite informações essenciais ao córtex cerebral como
cria uma interassociação massiva de informações corticais” (Damásio, 2010, p.307). Por fim, o
córtex cerebral que é considerado o apogeu da evolução cerebral humana.
O córtex cerebral evolui junto ao tálamo desde os primórdios do desenvolvimento do
organismo humano. Eles são, portanto, inseparáveis e sem o tálamo o córtex cerebral não funciona.
É na interação entre o tronco cerebral e o tálamo que o córtex cerebral cria os mapas neurais que nos
mantém acordados e concentrados em nossas escolhas, e que cria a nossa biografia na medida em
que armazena, arquiva, os registros de tudo aquilo que vivemos. Embora não se possa favorecer
uma das estruturas em detrimento das outras no processo de criação da consciência, o tronco
cerebral merece uma atenção especial por ter uma “precedência funcional”. Ele é indispensável para
uma mente consciente pois é nele que se encontram os sentimentos corporais qualitativamente
distintos, o primeiro vislumbre da subjetividade humana.
O corpo, está repleto de micromundos, de passagens secretas, de vastos pormenores que
informam o cérebro sobre os estados dos sistemas corporais, que responde aos sinais de forma
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consciente ou não-consciente. Apesar dos avanços nas pesquisa dos aspectos neurobiológicos da
consciência, boa parte baseou-se na articulação de 3 perspectivas: 1) a perspectiva de observação
direta da mente consciente individual, de 1º pessoa; 2) a perspectiva comportamental, que observa
os outros revelando suas ações; 3) e a perspectiva do cérebro, que estuda o funcionamento cerebral
em indivíduos em que a consciência esteja presente ou não (Damásio, 2010). Mas essas três
perspectivas não são suficientes para o entendimento da mente consciente, por mais articulada
que seja a relação estabelecida entre elas, então Damásio introduz uma nova perspectiva que
considera os aspectos evolutivos, os antecedentes do eu. Perspectiva, em parte, impulsionada
pelos estudos da neurobiologia molecular. Os organismos unicelulares podem ser vistos como
nossos antepassados, pois permanecem gravadas em nossas células memórias de mecanismos
ancestrais. Somos um organismo multicelular, resultado do agenciamento de trilhões de células
que funcionam associadas, de forma colaborativa, gerando uma infinidade de ações bastante
complexas. Grosso modo, o que nos difere dos organismos unicelulares é a complexidade gerada
pela quantidade de células que nos compõem.
Embora muitos pesquisadores considerem o problema da consciência como o mais
importante para a compreensão da mente humana, para Damásio, ele é um dos problemas
da mente, mas não o único. Ele afirma que “a consciência é um ingrediente indispensável da
mente humana criativa, porém não é toda a mente humana e, a meu ver, tampouco é o ápice da
complexidade mental”(Damásio, 2000, p. 48). Portanto, mente e consciência são coisas distintas,
pois “a consciência é a parte da mente relacionada ao sentido manifesto do self e do conhecimento.
Damásio acredita que há dois problemas importantes para que se possa elucidar a
consciência: o primeiro, é saber como o cérebro humano engendra padrões mentais – imagens de
um objeto a partir das propriedades emergentes do sistema de neurônios; o segundo, é como o
cérebro constrói um padrão mental unificado – um sentido de self, ou, em outras palavras, saberse proprietário e observador dos padrões mentais engendrados. O segundo problema implica em
saber como padrões neurais, os alicerces biológicos, são transformados em padrões mentais que
conhecem o ato de conhecer. Ele aponta alguns fatores importantes a serem considerados para
elucidar a consciência: a consciência é sustentada pela arquitetura neural do organismo; estado
de vigília e atenção básica são distintos da consciência; consciência e emoção são inseparáveis;
a consciência não é um monólito – há diferentes níveis de consciência; as funções cognitivas não
explicam a consciência.
A intrínseca relação entre o corpo e o cérebro se dá através de uma área de não mais que
1 cm de diâmetro: o tronco cerebral. O tronco cerebral, ou o tronco do encéfalo, é “uma unidade
definida topograficamente e embriologicamente, mas não representa um sistema funcional
uniforme” (Menezes, 2006, p. 109), ele participa, em maior ou menor grau, de todas as tarefas do
sistema nervoso central. É uma peça chave para o processo de tomada de consciência. Isso porque
Damásio concebe a consciência como resultante da relação entre o organismo e o objeto. Mas
o que isso significa? Primeiro é necessário determinar a definição dos termos da relação, então,
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“Objeto designa aqui entidades tão diversas quanto uma pessoa, um lugar, uma melodia, uma dor
de dente, um estado de êxtase” (Damásio, 2000, p. 24). Segundo o autor, embora tradicionalmente
o cérebro e o corpo tenham sido constantemente estudados como coisas separadas pela ciência
cognitiva e mesmo pela neurociência, é imprescindível pensar em um organismo integrado – corpo
e cérebro fazem parte de um conjunto composto que compõem o organismo vivo. O organismo é,
então, o corpo propriamente dito mais um sistema nervoso, e o tronco cerebral que funciona como
uma via de mão dupla e transporta as informações de um para o outro.
A mente consciente resulta de propriedades emergentes no cérebro – sabemos o que é mas
não como ela emerge. Para a biologia da consciência, do ponto de vista de Damásio, a compreensão
de uma consciência com sentido de self passa por elucidar como o cérebro mapeia o organismo e o
objeto, como ele cria padrões mentais e constrói representações. É preciso salientar que a palavra
representação é usada como sinônimo de imagem mental ou padrão neural, quer dizer, um “padrão
que é consistentemente relacionado a algo, […] Não tenho idéia de quanto os padrões neurais e
as imagens mentais são fiéis em relação aos objetos aos quais se referem” (Idem, p. 405). Uma
representação, portanto, não é uma cópia, uma reprodução de um objeto específico com o qual
se estabelece uma relação, mas uma construção mental resultante da interação do objeto com o
organismo, e da própria estrutura do organismo.
Consciência e afeto
Ainda que as abordagens científicas sejam fascinantes nas suas comprovações de dados,
os conceitos filosóficos continuam a exercer sua influência, a balizar modos de apreensão e
interpretação nas pesquisas objetivas dos cientistas, como se pode observar na articulação
entre as pesquisas de Damásio e a filosofia de Baruch Espinosa (1632-1677). Em seu livro Em
busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos, Damásio expõe os avanços do papel dos
sentimentos na vida humana, um dos aspectos menos compreendidos na neurobiologia, ainda
que as sociedades avançadas lidem e manobrem seus sentimentos sem o menor pudor. Ou nas
palavras do autor, “Tratamos dos nossos sentimentos com comprimidos, bebidas, exercícios físicos
e espirituais, mas nem o público nem a ciência fazem uma idéia clara do que são os sentimentos
do ponto de vista biológico” (2004, p. 12). Inclusive, até pouco tempo atrás, os sentimentos não
eram considerados objetos da ciência, eles não pertenciam a nenhum programa científico e só era
possível, no máximo, estudar os processos sensitivos e as reações físicas emocionais do corpo que
correspondem as respostas reflexas como o rubor facial, o suor nas mãos ou o tremor no corpo
quando algo nos assusta ou nos deixa em pânico.
É preciso diferenciar os afetos que ocupam o corpo e a mente para melhor compreender
os mecanismos cerebrais que engendram uma mente consciente. Os fenômenos da emoção e do
sentimento são processos distinguíveis que produzem os nossos afetos. São distinguíveis mas
não ocorrem separadamente, quer dizer, são estágios de um “continuum: um estado de emoção,
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que pode ser desencadeado e executado inconscientemente; um estado de sentimento, que pode
ser representado inconscientemente, e um estado de sentimento tornado consciente, isto é, que é
conhecido pelo organismo que está tendo emoção e sentimento” (Damásio, 2000, p.57). A emoção
refere-se diretamente ao corpo, e os sentimentos fazem parte dos conteúdos mentais, afirma
Damásio (2004), e é na articulação corpo e mente inferida por Espinosa, no séc. XVII, que se intui a
organização anatômica e funcional assumida pelo o corpo para que seja possível a emergência da
mente consciente, que os afetos serão estudados pelo autor.
Para concluir. O sentir corresponde a “uma percepção de um certo estado de corpo,
acompanhado pela percepção de certos temas e pela percepção de um certo modo de pensar”
(Damásio, 2004, p. 92). Damásio ainda vai além, para ele a consciência “dá a sensação de ser um
sentimento [...] de ser um tipo de padrão construído com os sinais não verbais dos estados do
corpo” (2000, p. 394). Isso porque nossa consciência e seu sentido de self se revelam ao organismo,
segundo o autor, de uma forma “ao mesmo tempo intensa e indefinível, inequívoca e vaga”.
Design e afeto
O design focado no sujeito não projeta mais para um consumidor nem para um público alvo,
ele agora projeta para um usuário, ao menos nos discursos mais inovadores. Esse deslizamento
de sentido faz com que, no planejamento de novos produtos, os aspectos afetivos adquiram uma
maior relevância, ou, como afirma Carlos Zibel da Costa, “… hoje, é preciso admitir que a produção
– de arte, design ou arquitetura – contém desde o início o sujeito, o objeto e a própria relação
sujeito-objeto” (2010, p.205). Considerando que o afeto, as emoções e os sentimentos, são parte
constituinte de nossa relação com o entorno, será possível concluir que o afeto é um mediador
essencial nos projetos de design? Da relação entre o objeto produzido e o usuário?
Há muitas maneiras diferentes de abordar esta questão, por exemplo: Zibel (Ibidem) vai articular
a produção de afetividade com o pensamento de Espinosa, Leibniz e o conceito de dobra de Deleuze
dentro da complexidade da produção de subjetividade no mundo contemporâneo e, desse modo,
pensar o design nas relações em rede que esgarçaram as fronteiras anteriores; Donald A. Norman
(2008) parte de uma abordagem que tem suas bases nas pesquisas em ciências cognitivas e tem como
foco o desenvolvimento de tecnologias de ponta, para produzir um design de interface entre homem e
máquina; Vera Damazio (2008) pesquisa as relações entre a memória e o design emocional, focando nos
aspectos históricos, antropológicos e culturais, isso para citar somente algumas vias de acesso sobre o
papel do afeto nas relações das pessoas com o mundo projetado. O que não significa dizer que se está
falando de formas estanques de abordagens, pois os limites atuais são sempre muito tênues. O que nos
interessa é sublinhar que o mundo do sensível faz parte dos mais variados campos do conhecimento, e,
retomando o papel da arte e do design na configuração de regimes de visibilidade que constroem nossa
existência, tem que se atentar para como o afeto está sendo “projetado”, quer dizer, tem sido pensado
na elaboração de projetos de design, sob a influência das atuais pesquisas da neurociência.
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Norman foi um dos pioneiros a trabalhar no campo das ciências cognitivas e é uma importante
referência nas pesquisas sobre o Design Emocional – um campo que estuda a estreita ligação
entre os objetos do dia-a-dia e as emoções nascidas nessa relação. A partir de estudos sobre
a emoção, Normam e seus colegas pesquisadores sugerem três níveis de estruturas do cérebro:
Visceral, Comportamental e Reflexivo2 (2008, p. 41), e esses níveis são mapeados, de uma forma
simplificada, em termos de características de produto da seguinte maneira:
• Design Visceral > aparência. O nível visceral é pré-consciente, e tem nas primeiras
impressões, no impacto visual inicial ou no impacto emocional imediato, seu grande trunfo.
• Design comportamental > prazer e efetividade do uso. O nível comportamental refere-se
ao uso, à experiência na execução das funções relacionadas, quer dizer, no bom ou mau
desempenho das atividades a que o produto se destina. Usabilidade é o termo que descreve
a facilidade com que o usuário manipula o objeto ou a informação.
• Design reflexivo > auto-imagem, satisfação pessoal, lembrança. O nível reflexivo está
diretamente ligado à consciência e aos mais altos níveis dos afetos e da cognição. É nele
que se encontram a interpretação, a compreensão e o raciocínio, que variam de acordo com
a cultura, experiência, grau de instrução e as diferenças individuais de cada um.
Dentre as várias explanações apresentadas por Norman, para especificar a classificação
proposta, há um comentário sobre o famoso espremedor de cítricos, de Philippe Starck, intitulado
Juicy Salif, que resume a efetividade dos três níveis no produto maravilhosamente. Norman comenta,
em especial, sobre o espremedor na versão banhada a ouro que é danificada pela acidez dos cítricos:
Comprei um espremedor caro, mas não posso usá-lo para fazer suco! Nota zero
para o design comportamental. E daí? Orgulhosamente, exibo o espremedor no
saguão da minha casa. Nota cem para a atração visceral. Nota cem para a atração
reflexiva. (Idem, p.15)
Figura 1 – Juicy Salif, 1990 – Philippe Starck.
Adaptado de http://www.creativebloq.com/product-design
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Para complementar a declaração de Norman, dizem os rumores que Starck teria afirmado
diante das criticas: “Meu espremedor de sucos não foi feito para espremer limões: foi feito para
iniciar conversas” (Ibidem, p.136).
O Design Emocional procura projetar o entre da relação sujeito-objeto, mas é difícil confinar
essa relação somente ao design denominado de emocional, pois, como foi mencionado por
Zibel, toda produção atual em arte, design e arquitetura está diretamente vinculada as relações
estabelecidas entre produto e usuário e produz afetividade.
Conclusão
Faz-se necessário salientar que os aspectos afetivos de nossa relação com o entorno
tem sido apresentados a partir de pesquisas sobre o funcionamento dos mecanismos cerebrais,
privilegiando, muitas vezes, linhas de pesquisa bastante segmentadas. Queremos dizer que é
preciso atentar para o uso abusivo do conhecimento e das pesquisas sobre o cérebro e a mente,
pois, apesar dos avanços das pesquisas na área, ainda há muito para desvelar e corre-se o risco de
cair em um reducionismo exagerado dos aspectos subjetivos da mente humana. Afinal, estamos
na era das neurociências. Há um artigo de Francisco Ortega – Instituto de Medicina Social da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro intitulado: Neurociências, neurocultura e autoajuda cerebral3.
O artigo analisa o fenômeno denominado de neuroascese, ou autoajuda cerebral, para investigar a
questão da biossociabilidade, de como o sujeito cerebral engendra práticas de si cerebrais, ou seja,
práticas de como agir sobre o cérebro para maximizar a sua performance.
Notas
i Apesar do enunciado de Descartes ser mais conhecido como: “Eu penso, logo existo”, os tradutores de
Gilles Deleuze optaram por substituir o verbo existir pelo verbo ser. Optamos por manter ao longo do texto
a escolha dos tradutores.
ii Vale remarcar a relação entre a classificação assumida por Norman e a teoria do “encéfalo triúnico” do
neurologista americano Paul MacLean, no livro The Triune Brain in Evolution: Role in Paleocerebral Functions.
Nova Iorque: Plenum Press, 1990.
iii Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832009000400002&script=sci_arttext>.
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