Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 EFICÁCIA DA ESPINHEIRA SANTA (MAYTENUS OFFICINALIS MABB.) NA CICATRIZAÇÃO DE FERIDA CUTÂNEA EM RATOS Effectiveness of Espinheira santa (Maytenus officinalis Mabb.) in the healing of skin wounds in rats Morgana PISTORE ¹ Aline ROSSET ¹ Tanara Beatriz WEBER ¹ Silvane Souza ROMAN ² RESUMO Maytenus officinalis Mabb. é utilizada popularmente para distúrbios do estômago e amplamente investigada devido à presença de fitocomplexos. Verificar a atividade cicatrizante cutânea do extrato etanólico de Maytenus officinalis Mabb a 2% em ratos machos Wistar. Para este experimento foram utilizados vinte e quatro ratos distribuídos aleatoriamente em três grupos de 8 animais cada: Grupo EXP (Maytenus officinalis), Grupo CTL+ (controle positivo) e Grupo CTL(controle negativo). O grupo EXP recebeu topicamente o extrato etanólico de Maytenus officinalis Mabb à 2 %; grupo CTL- que foi manipulado igualmente sem receber nenhum tratamento e o grupo CTL+ que recebeu aplicação tópica de Dersani®, uma droga de referência, obtida comercialmente. O extrato de Maytenus officinalis foi obtido através de maceração e após rotaevaporado sob pressão reduzida para retirada do álcool. Os animais foram submetidos a uma ferida cutânea por meio de um “punch” metálico dermal, com este instrumento foi excisado o fragmento cutâneo de 1cm de diâmetro até a fáscia muscular. O dia da lesão foi considerado o 0° dia pós-operatório (DPO) e os animais foram sacrificados em câmara de CO2 no 14° DPO. Durante o período pós operatório, a ferida foi analisada morfologicamente quanto a presença de crosta, reepitelização, esfacelo e granulação. No dia 0° e 14°DPO foi realizada a medida da ferida com o paquímetro. No 14° DPO coletou-se as feridas dos animais dos diferentes grupos para análise histológica. Na análise histológica do 14°DPO, observou-se um aumento de folículos pilosos nos grupos EXP e CTL+ quando comparados ao CTL-, o que representa a eficácia do extrato na reparação epitelial. Além do mais, a espessura da epiderme dos grupos EXP, CTL+ e o SEM LESÃO foi menor significativamente quando comparados ao grupo CTL-, o que demonstra uma reorganização das camadas da epiderme, retornando ao seu estado normal. Os dados morfológicos e histológicos encontrados no 14°DPO corroboram com a evolução cicatricial. O tratamento tópico do extrato etanólico de Maytenus officinalis 2 % no 14° dia pós-operatório favoreceu a reepitelização estimulando a formação de camadas da epiderme com presença de folículos pilosos, porém não foi eficaz nas camadas mais profunda da pele em ratos. Palavras-chaves: Maytenus officinalis, Feridas, Histology, Ratos ¹ Acadêmica do curso de Farmácia. Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Erechim. ² Professor Titular do Departamento de Ciências da Saúde – Laboratório de Histologia - Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Erechim. Vivências. Vol. 11, N.20: p.21-29, Maio/2015 21 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 ABSTRACT Maytenus officinalis Mabb. is popularly used for disorders of stomach and widely investigated due to presence of fhyto-complex. To determine the wound healing activity of ethanolic extract of Maytenus officinalis Mabb 2% in Wistar rats. Twenty-four rats were randomly distributed in three groups the following: EXP (Maytenus officinalis) group; CTL+ (positive control) group and CTL(negative control) group. The EXP group topically received the ethanolic extract of Maytenus officinalis Mabb 2%; The CTL- group was equally manipulated without receiving no treatment and CTL+ group received Dersani®, a reference drug, commercially obtained. Maytenus officinalis extract was obtained by maceration and evaporation route on reduced pressure to remove the alcohol. The animals were subjected to a skin wound through a "punch" metallic dermal, with this instrument was excised cutaneous fragment 1cm in diameter to the fascia. The day of the lesion was considered the postoperative day 0 (PD) and the animals were sacrificed by CO2 chamber at 14 PD. Throughout the postoperative days, the wound was morphologically examined by presence of crust, epithelialization, granulation and slough. On 0 and 14 PD the wound area was measured by a pachymeter. On 14 PD the wounds were collected of the different groups of animals for histological analysis. Histological analysis showed increase of hair follicles in the EXP and CTL+ groups when compared to the CTL- group on 14 PD, showing the effective action of the extract in the epithelial repair. Moreover, the thickness of epidermis was significantly lower of the EXP, CTL+ and no lesion groups when compared to the CTL- group, which shows a reorganization of epidermal layers, returning to its normal state. Morphological and histological data found corroborate to healing process on 14 PD. Topical treatment of ethanolic extract of Maytenus officinalis 2% favored to reepithelialization by stimulating the formation of layers of epidermis with the presence of hair follicles, but was not effective in the deeper layers of the skin. on 14 postoperative day in rats. Keywords: Maytenus officinalis, Wounds, Histology, Rats INTRODUÇÃO Durante muito tempo, o uso de plantas medicinais foi o principal recurso terapêutico utilizado para tratar a saúde das pessoas e de suas famílias (BADKE; BUDÓ, 2011). Muitas das propriedades terapêuticas das plantas são relatadas pela população, as quais são confirmadas em sua maioria nos estudos científicos, comprovando a importância da pesquisa etnofarmacológica. Tais propriedades propiciaram o desenvolvimento de vários medicamentos, sejam estes obtidos por síntese a partir de molécula protótipo ou através de isolamento, algumas vezes, biomonitorado. Devido a todos estes aspectos, vê-se um interesse crescente na utilização e pesquisa de plantas medicinais, objetivando fins terapêuticos, aliadas à boa aceitabilidade destes produtos no mercado farmacêutico (NOLDIN; ISAIAS; CHECHINEL, 2006). O uso da medicina popular está circunscrito aos problemas cotidianos das pessoas, como dores e feridas. A reparação tecidual de feridas é um processo altamente complexo que envolve a inflamação, proliferação celular e remodelação, com o intuito de restaurar a integridade anatômica e funcional do tecido lesado (MARTINS, 2011). Desde a antiguidade, o uso de produtos naturais tem sido empregado no reparo de feridas cutâneas com o intuito de auxiliar o processo cicatricial (SHIMIZU, 2009). Os produtos naturais constituem uma fonte inesgotável de substâncias potencialmente ativas e, portanto, devem ser consideradas como matéria-prima, como ponto de partida para a descoberta de novas moléculas e para o desenvolvimento de novos fitoterápicos (ESTEVÃO et al., 2011). Dentro deste contexto, destaca-se a utilização inicialmente popular e atualmente comprovada cientificamente de Maytenus officinalis Mabb na cicatrização de ulceras gástricas (CARLINI, 1988; COULAUD-CUNHA et al., Vivências. Vol. 11, N.20: p.21-29, Maio/2015 22 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 2004; CARVALHO et al., 2008). A Maytenus officinalis Mabb. é conhecida popularmente como espinheira-santa, cancerosa, cancorosa-de-sete-espinhos e maiteno, dentre outros nomes (BRANDÃO et al., 2006). Pertence à família Celastraceae, possuindo 55 gêneros e 850 espécies espalhadas nas regiões trópicas e subtrópicas do mundo. No contexto brasileiro, onde seu crescimento é nativo, a espécie M. officinalis é largamente utilizada na medicina popular (MOSSI et al., 2004 apud OLIVEIRA; COLAÇO, 2009). Segundo o uso popular acredita-se que a Maytenus officinalis Mabb. possa combater várias doenças, dentre as quais podem-se destacar, gastrites e dispepsias. Possui ações tônicas, analgésicas, anti-sépticas, cicatrizantes, diuréticas e laxativas (COIMBRA, 1958 apud OLIVEIRA; COLAÇO, 2009). Os estudos in vivo já demonstraram a eficácia de Maytenus officinalis em modelos de lesão gástrica induzidos por etanol e/ou indometacina (BERSANI-AMADO et al., 2000). Além da atividade anti-ulcerogênica, estudos demonstraram que Maytenus officinalis apresenta atividade antinociceptiva, anti-inflamatória e vasorelaxante (JORGE et al., 2004). De acordo com Lima et al. (1969 apud OLIVEIRA, 2009), houve a demonstração da presença de vários grupos fitoquímicos, destacando-se os terpenóides, taninos, alcalóides, macrólideos e flavonóides, dentre outros (COULAUD-CUNHA et al., 2004; ESTEVAM, 2009). Pesquisas envolvendo Maytenus officinalis Mabb geralmente estão voltadas para sua atividade anti-ulcerogênica, e são escassos os estudos avaliando sua ação na reparação tecidual. A fim de contribuir na terapia contra o dano da integridade tecidual, torna-se válido a realização deste estudo avaliando o efeito cicatrizante desta planta. Este trabalho tem como objetivo verificar a atividade cicatrizante cutânea do extrato etanólico de Maytenus officinalis Mabb a 2%, no 14° dia pós operatório (DPO) após lesão mecanicamente induzida por “punch” metálico dermal, em ratos machos Wistar realizando análise morfológica, morfométrica e histológica. MATERIAIS E MÉTODOS Obtenção do extrato As folhas recém-colhidas foram submetidas à secagem em estufa de ar circulante à 35 ºC, até completa desidratação. Em seguida o material vegetal foi moído em moinho de facas e macerado em frascos âmbar com auxílio de etanol 96 ºGL, por 72 horas. Após esse período, a solução foi filtrada com auxílio de bomba a vácuo e o filtrado foi concentrado em evaporador rotatório, sob pressão reduzida à temperatura menor que 40 ºC, até eliminação do etanol. O solvente recuperado foi adicionado novamente ao mesmo material vegetal triturado e submetido a uma nova maceração por igual período, sendo novamente filtrado e evaporado. Este procedimento foi novamente repetido por mais duas vezes. Os concentrados foram transferidos para placas de Petri e secos em estufa de ar circulante com temperatura inferior a 35ºC. Após, foram ressuspensos em água, para determinação das doses. Animais de experimentação Para o experimento foram utilizados 24 ratos machos da linhagem Wistar, entre 60 e 90 dias de idade, provenientes e mantidos no Laboratório de Experimentação Animal da URI – Campus de Erechim. Os animais foram acondicionados em caixas separadas, sob condições de temperatura de 22±2 ºC e um ciclo de 12 h luz/12 h escuro, com acesso à água e alimentação à vontade. Todos os protocolos utilizados neste experimento foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da URI Campus de Erechim, sob o número 021/PIA/2011 e foram seguidos os Princípios Éticos de Experimentação Animal estabelecidos pela Sociedade Vivências. Vol. 11, N.20: p.21-29, Maio/2015 23 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Brasileira de Ciências em Animais de Laboratório (SBCAL) e Lei Arouca (11794/08). No final das análises os animais foram eutanasiados em câmara de dióxido de carbono (CO2) e após foram incinerados. Atividade cicatrizante Vinte e quatro ratos machos da linhagem Wistar foram distribuídos aleatoriamente em três grupos de 8 animais cada: Grupo EXP (Maytenus officinalis), Grupo CTL+ (controle positivo) e Grupo CTL- (controle negativo). Para a análise histológica foi utilizado um grupo denominado SEM LESÃO (quarto grupo), o qual foi utilizado um fragmento de pele sem ferimento dos próprios animais dos três grupos já descritos. Para a indução da lesão tecidual, os ratos foram submetidos à anestesia intramuscular com Zoletil®50 (50mg/kg) e considerados anestesiados pela imobilidade do corpo. A seguir realizou-se a tricotomia e anti-sepsia com álcool iodado a 2%. A indução da lesão tecidual foi na região dorsal por meio de punch metálico dermal circular. Com este instrumento foi excisado o fragmento cutâneo de 1cm de diâmetro, no centro da área depilada, até a exposição da fáscia muscular dorsal (cicatrização de segunda intenção) e o dia da lesão foi considerado o dia 0 (zero) pós operatório. A hemostasia foi realizada por compressão digital, utilizando-se gaze esterilizada. Logo após a cirurgia, os animais foram recondicionados nas caixas específicas e individualizados, de acordo com o seu respectivo grupo, e realizou-se a primeira aplicação tópica de 0,02mL do extrato etanólico de Maytenus officinalis 2 % para o grupo EXP (Maytenus officinalis), 0,02mL de Dersani® para o Grupo CTL+ (controle positivo), ambos aplicados com pipeta automática, na lesão cutânea dos ratos. O grupo CTL- (controle negativo) foi manipulado igualmente, porém não recebeu nenhum tratamento. O tratamento foi repetido diariamente, até o 14° dia de pós operatório. Nos dias 0, e 14°de pós-operatórios, a área lesa da de todos os animais foram analisadas morfologicamente e morfometricamente. A análise morfométrica consistiu na medida do diâmetro maior e do diâmetro menor da ferida, com auxílio de paquímetro, para posterior cálculo da área, utilizando-se a equação matemática: A = π x R x r , onde A representa a área, R o raio maior e r o raio menor da ferida. Para a análise morfológica, utilizou-se o método de avaliação do processo cicatricial, segundo Santos et al. (2005), denominado push (Pressure Ulcer Scale for Healing), que considera os parâmetros: presença de crosta, reepitelização, esfacelo e granulação. Os resultados foram transformados em escores de 0 a 4, de acordo com a intensidade do parâmetro avaliado. No 14° de pós-operatório os ratos foram eutanasiados em câmara de dióxido de carbono (CO2) e em seguida foram fixados à mesa cirúrgica para a coleta do espécime cirúrgico. A ferida foi excisada com profundidade até a fáscia muscular. Cada peça foi identificada de acordo com o grupo a que pertencia, fixada em papel filtro e colocada em solução de formalina a 10% para seguida confecção das lâminas. As quais foram coradas em hematoxilina-eosina, para avaliação global dos fragmentos de tecido, e em Tricrômico de Mallory, para avaliar da presença de fibras colágenas, seguida da avaliação histológica em microscopia de luz. Para a análise microscópica das lesões teciduais coradas em hematoxilina-eosina os parâmetros avaliados na epiderme foram: presença de crosta, reepitelização e queratinazação; e na derme: hemorragia, vasodilatação, neovascularização, anexos (folículo piloso, glândula sebácea e glândula sudorípara) e colagenização (Tricrômico de Mallory). Os dados obtidos para esses parâmetros acima foram classificados de acordo com a intensidade em que foram encontrados e transformados em escores: ausente – até 15% (0), muito pouco – até 20% (1), pouco – até 50% (2), moderado – até 80% (3) e muito intenso – até 100% (4), de acordo com o seu aspecto histológico. Vivências. Vol. 11, N.20: p.21-29, Maio/2015 24 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Utilizando o sistema de captura Leica IM 50 acoplado ao microscópio (Lambda Lqt – 3), as imagens histológicas das lesões teciduais foram processadas no software Motic Images Plus 2.0, para que a espessura da epiderme fosse medida. Considerou-se a escala em milímetros (mm). Análise Estatística Para análise estatística da morfometria das lesões, utilizou-se o teste não paramétrico de Mann Witney do ANOVA seguido de Duncan quando necessário. A análise estatística dos dados referentes à morfologia e histologia foi realizada pelo teste de distribuição não paramétrica de Kruskal-Wallis, seguido do teste Student – Newmam - Keuls do Bioestat 5.0. As diferenças entre os grupos foram consideradas estatisticamente significativas quando p<0,05. RESULTADOS Ao longo do período analisado os animais dos diferentes grupos não sofreram quaisquer complicações ou óbitos e não apresentaram sinais que evidenciassem infecção secundária, apresentando uma boa recuperação após anestesia. Análise morfométrica e morfológica da área lesada Figura 1: Área (mm2) de feridas cutâneas de ratos dos grupos controle negativo, controle negativo e experimental no 14° DPO. Os dados estão expressos em médias ± desvio padrão. Tabela 1: Análise morfológica das feridas dos animais dos grupos controle e experimental, no 14°DPO. Parâmetro/ Grupos CTL CTL + EXP Valor de p 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 Presença de crosta 7 1 0 0 0 7 1 0 0 0 8 0 0 0 0 0,886 0 0 0 1 7 0 0 0 0 8 0 0 0 0 8 0,367 Reepitelização 8 0 0 0 0 8 0 0 0 0 8 0 0 0 0 1,000 Esfacelo 7 1 0 0 0 7 1 0 0 0 8 0 0 0 0 0,886 Granulação Análise histológica Tabela 2: Intensidade da reparação tecidual da epiderme e da derme dos diferentes grupos avaliados no 14°DPO. Vivências. Vol. 11, N.20: p.21-29, Maio/2015 25 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Parâmetros/ Grupos Epiderme Derme CLT + CTL - EXP Valor de p 01234 01234 01234 Presença de crosta 62000 71000 80000 0,69 Reepitelização 00017 00008 00008 0,36 Queratina 04400 01340 00215 0,12 Vasodilatação 80000 71000 80000 0,88 Hemorragia 80000 80000 80000 1,00 Neovascularização 80000 80000 71000 0,88 Folículo Piloso 00620 04400 05210 0,03* Glândula Sebácea 02600 01610 01700 0,56 Glândula Sudorípara 04310 04400 05300 0,78 04400 26000 01340 53000 00 215 62000 0,12 0,17 Queratina Colágeno maduro * Diferença significativa em relação ao grupo CTL -, quando p < 0,05. Análise da espessura da epiderme Vivências. Vol. 11, N.20: p.21-29, Maio/2015 26 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Figura 2: Espessura (mm) da epiderme de lesões cutâneas de ratos dos diferentes grupos aos 14° dias pós operatório (DPO). Os dados são expressos em médias ± desvio padrão, avaliados pelo teste de variância ANOVA, seguida de Duncan (n=8). Considera-se como diferença significativa quando p < 0,05. a diferença significativa em relação ao grupo CTL- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Na análise morfométrica da área da ferida não foram verificadas diferenças significativas entre os grupos experimentais em relação aos grupos controles, como mostra a Figura 1. As lesões de todos os grupos avaliados apresentaram completa reparação tecidual, exibindo cicatriz com bordos evidentes, porém não mostraram diferenças significativas na avaliação morfológica (Tabela 1). A análise histológica das lesões dos animais tratados com o extrato de M. officinalis e com a droga de referência (CTL+), nos 14 dias de pós-operatório, mostrou um aumento de folículos pilosos na derme e redução da espessura da epiderme, quando comparadas às lesões dos animais do grupo controle negativo, o que caracteriza um avanço do processo cicatricial. O avanço na reepitelização induz consequentemente ao aparecimento de anexos cutâneos, já que o aparecimento de pelos tem total relação com a epiderme, visto que, os pelos são delgadas estruturas queratinizadas que se desenvolvem a partir de uma invaginação da epiderme (JUNQUEIRA, 2011). Considerando a avaliação das lesões dos animais tratados com o extrato de M. officinalis, a reparação tecidual já estava completa até o 14° dia pós-operatório, pelo fato da epiderme apresentar-se totalmente reconstituída e a derme possuir intensa presença de folículo piloso. Já os outros parâmetros histológicos avaliados não mostraram resultados significativos para o grupo EXP em relação aos grupos controles (Tabela 2). Vivências. Vol. 11, N.20: p.21-29, Maio/2015 27 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Os grupos CTL+, EXP e o sem lesão apresentaram redução significativa na espessura da epiderme quando comparados ao grupo de animais pertencentes ao grupo CTL-, o que supõe uma reorganização das camadas da pele, retornando ao seu estado normal (Figura 2). Para Shimizu et al. (2009), os taninos, presentes nas folhas de Maytenus officinalis, possuem a propriedade de precipitar as proteínas de um tecido lesado, formando um revestimento protetor à ferida, que facilita a cicatrização. Ao precipitar proteínas, os taninos propiciam um feito antimicrobiano e antifúngico (MONTEIRO, 2005). Embora não tenha sido realizada a análise fitoquímica do extrato etanólico de Maytenus officinalis Mabb., Oliveira et al. (2009) já descreve a presença de taninos nas folhas da planta. Este constituinte influenciou significativamente na reepitelização encontrada no grupo EXP no 14° DPO e consequentemente a formação de folículos pilosos. De acordo com alguns estudos a M. officinalis apresenta ação contra úlcera péptica (CARLINI, 1988; COULAUD-CUNHA et al., 2004; CARVALHO et al., 2008). Baseado nesses estudos esperava-se a possível atividade cicatrizante desta droga nas lesões cutâneas em ratos. Carlini (1998) relaciona a ação anti-ulcerogênica da M. officinalis com sua riqueza em taninos e a identificação de epigalocatequina nos extratos utilizados. Demonstrou ainda, que vários desses taninos inibem a ATPase de membrana potássio-dependente das células da mucosa gástrica responsáveis pela secreção de ácido clorídrico no estômago. Segundo Annuk et al. (1999) há um outro mecanismo de ação anti-úlcerogênica da M. officinalis, relacionado contra a Helicobacter pylori, frequentemente envolvida em quadros de inflamação e ulceração da mucosa gástrica. Através desses estudos, verifica-se que os mecanismos envolvidos na atividade contra úlcera, são diferentes dos mecanismos presentes no processo de reparação tecidual. CONCLUSÃO O tratamento tópico do extrato etanólico de Maytenus officinalis 2 % no 14° dia pósoperatório favoreceu a reepitelização estimulando a formação de camadas da epiderme com presença de folículos pilosos, porém não se mostrou eficaz nas camadas mais profunda da pele. BIBLIOGRAFIA AMORIM, E.; MATIAS, J.E.F.; COELHO, J.C.U.; CAMPOS, A.C.L.; STAHLKE, H.J.; TIMI, J.R.R.; ROCHA, L.C.A.; MOREIRA, A.T.R.; RISPOLI, D.Z.; FERREIRA, L.M. Efeito do uso tópico do extrato aquoso de Orbignya phalerata (Babaçu) na cicatrização de feridas cutâneas – estudo controlado em ratos. Revista Acta Cirúrgica Brasileira. v.21, n.2, p. 67-76, 2006. ANNUK, H.; HIRMO, S.; MIKELSSAR, M. Effect on cell surface hidrophobicity and susceptibility of Helicobacter pylori to medicinal plant extracts. FEMS Microbiol. Lett., 1999. BADKE, M. 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