OS IMPACTOS ECONOMICOS CAUSADOS PELA FALTA DE MOBILIDADE URBANA EM RECIFE * Wagno Monteiro da Silva RESUMO O Brasil assumiu um lugar de destaque entre as maiores economias do mundo. Atualmente o país é integrante dos BRICS; grupo de Estados composto pelas principais forças emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Fortalecer e consolidar a economia do Brasil como uma das maiores do mundo, aliado a serviços de qualidade como infraestrutura e de mobilidade urbana nas grandes cidades brasileiras, é um grande desafio, não apenas para os governantes, mas também para toda a sociedade. O desafio das principais cidades brasileiras e mais especificamente Recife, é desenvolver políticas públicas para a implementação de melhorias na oferta dos serviços de infraestrutura e de mobilidade urbana, tendo em vista que a cada dia, mais pessoas demandam o transporte individual. Nesse sentido, a presente pesquisa objetiva propor alternativas para a mobilidade da capital pernambucana. Como resultados, observa-se que uma das formas de melhorar a infraestrutura e a mobilidade urbana para suportar este crescimento das grandes cidades, principalmente no Recife, é aplicar o conceito de smart cities ou cidades inteligentes, que utilizam tecnologias no intuito melhorar a eficiência dos seus recursos, na qualidade de vida dos seus habitantes, que está se tornando cada vez mais presentes nas principais metrópoles do mundo. Palavras-Chave: Mobilidade, smart cities, Recife * Economista pela Faculdade Boa Viagem. Coordenador Financeiro da AMBEV 126 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 126-‐150 ABSTRACT Brazil assumed a prominent place among the largest economies in the world. Currently the country is a member of the BRICS; group of states made up of the major emerging forces:. Brazil, Russia, India, China and South Africa strengthen and consolidate Brazil's economy as one of the world's greatest ally to quality services such as infrastructure and urban mobility in large Brazilian cities , is a major challenge not only for governments but also for the whole society. The challenge of the major Brazilian cities and more specifically Recife, is to develop public policies for the implementation of improvements in the provision of infrastructure services and urban mobility in order that every day, more people require individual transport. In this sense, this research aims to propose alternatives for the mobility of Recife. As a result, it is observed that one way to improve infrastructure and urban mobility to support this growth of large cities, especially in Recife, is to apply the concept of smart cities or smart cities, using technologies in order to improve the efficiency of its resources, the quality of life of its inhabitants, which is becoming increasingly present in major cities in the world. Keywords: Mobility, smart cities, Recife 127 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 81 -‐125 OS IMPACTOS ECONOMICOS CAUSADOS PELA FALTA DE MOBILIDADE URBANA EM RECIFE Wagno Monteiro da Silva INTRODUÇÃO O Brasil assumiu um lugar de destaque entre as maiores economias do mundo. Atualmente o Brasil faz parte dos BRICS; composto pelas principais forças emergentes como Rússia, Índia, China e África do Sul. Fortalecer e consolidar a economia do Brasil como uma das maiores do mundo, aliado a serviços de qualidade como infraestrutura e de mobilidade urbana nas grandes cidades brasileiras, é um grande desafio, não apenas para os governantes, mas também para toda a sociedade. O desafio das principais cidades brasileiras e mais especificamente Recife, é desenvolver políticas públicas para a implementação de uma melhoria na oferta dos serviços de infraestrutura e de mobilidade urbana, tendo em vista que, a cada dia, mais pessoas demandam mais o transporte individual e em contrapartida a infraestrutura não acompanha o mesmo ritmo, deixando 128 uma enorme lacuna a ser preenchida. REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 126-‐150 Wagno Monteiro da Silva De acordo com uma pesquisa publicada na revista Exame CEO (Abril/2013, Pag 20), até 2030; 60% das pessoas estarão habitando as cidades. “As cidades tem o poder de concentrar em um mesmo espaço, empreendedores, trabalhadores e consumidores. Atualmente existem cerca de 4500 cidades no mundo e em 600 destas cidades deverão ocorrer dois terços do crescimento econômico global esperado para os próximos anos, segundo projeções da consultoria americana McKinsey. Sendo que 440 cidades ficam em países emergentes. No Brasil tem dez cidades, neste pelotão da frente do crescimento mundial, entre elas: Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Curitiba, Brasília e Porto Alegre.” Uma das formas de melhorar a infraestrutura e a mobilidade urbana para suportar este crescimento das grandes cidades, principalmente no Recife, é aplicar o conceito de “smart cities” ou cidades inteligentes, que utilizam tecnologias no intuito melhorar a eficiência dos seus recursos, na qualidade de vida dos seus habitantes, que está se tornando cada vez mais presentes nas principais metrópoles do mundo. Segundo a revista Exame CEO (Abril/2013, Pag 39), anualmente é publicado um ranking das smart cities na revista americana de negócios fast company, onde o consultor e climatologista canadense Boyd Cohen considera cinco fatores importantes para que uma cidade se torne uma smart city: mobilidade urbana, governo, pessoas, economia e modo de vida. Atualmente, o Brasil não está no ranking das smart cities. Um fator em comum entre qualquer metrópole do mundo é que problemas decorrentes de violência, trânsito, sociais, poluição, e infraestrutura são os 130 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 126-‐150 Os impactos econômicos causados pela falta de mobilidade urbana em Recife mesmos. No entanto as soluções tomadas para resolver estes problemas é o que diferencia de uma metrópole comum para uma cidade inteligente. “ Quanto mais carros, mais próspera é uma cidade? O senso comum diz que sim. Mas para o urbanista americano Jeff Speck, o sucesso de um centro urbano está na capacidade que ele oferece ao cidadão de deslocarse a pé” (Revista Exame CEO Abril/2013, Pag 105) Os habitantes das grandes cidades brasileiras já sentem isto há pelo menos duas décadas, e vem se intensificando cada vez mais. Uma pesquisa realizada pela UFMG (G1pe 18/10/13) revela que 65% da população do Recife acha que o maior problema da cidade é o trânsito, a frente de problemas como saneamento básico (12%) e habitação (8%). Ou seja, cada vez mais, a mobilidade urbana faz parte da vida dos moradores do Recife e Região Metropolitana. Hoje, a frota de veículos da cidade do Recife é de 630 mil automóveis. Este número irá chegar a 2,4 milhões no Recife e Região Metropolitana até 2040. Tudo o que não foi planejado pelas gerações anteriores, as gerações presentes estão sofrendo as graves consequências e as futuras irão sofrer ainda mais, se não tomarmos soluções para a questão da mobilidade urbana, que não é um problema para se resolver a curto prazo e sim a longo prazo. As grandes cidades ao redor do mundo têm problemas semelhantes e as soluções que o Recife deve tomar, também devem ser parecidas. Decidir de uma melhor forma como será aplicado e gerenciado os recursos 131 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 81 -‐125 Wagno Monteiro da Silva públicos, é uma das formas de garantir a utilização correta do dinheiro publico com mais eficiência. Vejamos alguns exemplos de smart cities publicados na revista Exame CEO (Abril/2013 Pag 37-41). O caso de Boston (nos Estados Unidos), que utiliza a tecnologia para identificar buracos em vias públicas, por meio de informações repassadas pelos próprios moradores, através de aplicativos desenvolvidos para smartphones. O exemplo de Copenhague na Dinamarca que iniciou um projeto em 1981, através do uso da bicicleta, onde foi inserido, na cultura da cidade, a importância de substituir o uso do carro, para se tornar até 2025 a primeira capital que neutraliza toda a emissão de carbono. E no caso do Brasil, que ainda nem resolvemos problemas básicos de saneamento, qual a solução para o problema de infraestrutura e de mobilidade urbana no Recife para os próximos anos? O exemplo da cidade da copa em São Lourenço da Mata, onde está construída a Arena Pernambuco, que será palco da copa da FIFA de 2014 é um bom laboratório para se tornar uma smart city, com empreendimentos que serão construídos com toda a infraestrutura de uma cidade planejada que irá começar do zero. Com um conceito onde os habitantes da cidade da copa não precisarão se deslocar com seus veículos para trabalhar, estudar, fazer compras, lazer, ir ao médico, etc., pois todos os serviços necessários estarão concentrados em um único local, conseqüentemente a demanda pelo transporte individual será reduzida, já que não haverá a necessidade 132 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 126-‐150 Os impactos econômicos causados pela falta de mobilidade urbana em Recife de percorrer grandes distâncias. Outro conceito de bairro planejado que está em fase de construção, é a Reserva do Paiva no município do Cabo de Santo Agostinho. O bairro tem uma série de condomínios de luxo, com hotéis e edifícios empresariais que por enquanto é o que há de mais concreto em Pernambuco em se tratando de cidades/bairros planejados. Revista Construir NE (Dezembro 2012, Pag 42). O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta para a melhoria na qualidade do processo de mobilidade urbana no Recife e Região Metropolitana através de referencial teórico, casos de sucessos de cidades com problemas semelhantes aos de Recife e que atualmente são consideradas referências em questão de mobilidade urbana; Sugestão de melhorias no processo de mobilidade urbana no Recife e Região Metropolitana. 1. REFEFENCIAL TEÓRICO De acordo com o urbanista americano Jeff Speck, em um artigo publicado na revista Exame CEO (Abril/13 Pag 106-107), os deslocamentos realizados através do transporte público em Nova York chega a 10%, que tem proporcionalmente uma das menores frotas de carros dos Estados Unidos, sendo um carro para quatro habitantes, porém o cenário de outras metrópoles americanas, que não tem uma extensa malha de metrô, este número chega a apenas 1,5%. Enquanto que em cidades como Barcelona e 133 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 81 -‐125 Wagno Monteiro da Silva Roma, este número chega a 35%. Em Tóquio 60% e em Hong Kong 73%. Em São Paulo, o percentual é de 36%. Ainda de acordo com Speck, a explicação para a baixa utilização do transporte público, especificamente nos Estados Unidos, tem um contexto histórico, que se iniciou no pósguerra, onde a indústria automotiva americana foi a principal mola propulsora da economia do país. As zonas residências foram construídas afastadas dos centros urbanos e conseqüentemente a demanda por carros aumentou. Este modelo urbanístico americano foi copiado por alguns países, inclusive pelo Brasil, que priorizou o transporte individual ao invés do transporte público de qualidade. 2. METODOLOGIA A partir de dados coletados em diferentes institutos de pesquisa, no que concerne ao meio de transporte utilizado pela população, em diferentes unidades da federação, podemos observar toda a Gama de transporte utilizada pela população de acordo com sua idade, renda e região onde vive. O tempo de deslocamento é observado como uma condição sine qua non para a opção de transporte a ser utilizada pelos moradores de determinada localidade. Podemos ainda observar, para o caso particular que motiva o presente estudo, as condições sociais e os transportes utilizados pela população de Recife e de sua região metropolitana, além, é claro, de observamos outras regiões metropolitanas do Brasil com a 134 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 126-‐150 Os impactos econômicos causados pela falta de mobilidade urbana em Recife finalidade precípua de apontar soluções para o melhoramento da mobilidade urbana. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 Tempo de deslocamento, renda e aumento da frota - Cenário Brasil Segundo uma pesquisa publicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseado nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) 2012, realizada nas dez principais regiões metropolitanas do país, no ano de 2012, 54% dos domicílios brasileiros possuem carros ou motos para os deslocamentos dos seus moradores. Em 2008 este número era de 45%. Um aumento de 9% em apenas quatro anos. Mostrando a mudança de perfil dos brasileiros e principalmente no aumento da renda, possibilitando a aquisição de carros e motos, conforme descrito na tabela 1. Tabela 1 – Posse de automóvel e motocicletas pelas famílias brasileiras por localização dos municípios 135 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 81 -‐125 Wagno Monteiro da Silva A pesquisa mostra ainda o perfil das famílias brasileiras por faixa de renda per capita que possuem automóveis ou motocicletas. Um fator que chama a atenção, e que as camadas mais pobres começam a ter acesso ao transporte individual. No nível mais básico da cadeia de salários, ou seja, dos que ganham até ¼ do salário mínimo, 19,7% das famílias possuem moto. Tabela 2 – Posse de automóvel e motocicletas pelas famílias por faixa de renda 136 per capita REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 126-‐150 Os impactos econômicos causados pela falta de mobilidade urbana em Recife Ainda de acordo com a pesquisa do Ipea, 35% das famílias que estão abaixo da linha da pobreza, que vivem com até meio salário mínimo per capita, possuem veículos privados, um aumento de 12 pontos percentuais em relação a 2008. Este crescimento se deve principalmente ao aumento de renda das famílias e a expansão de acesso ao credito. Figura 1 – Posse de automóvel e motocicletas por faixa de renda per capita (PNAD, 2012. IBGE) A pesquisa mostra ainda um ranking dos estados brasileiros de posse de automóveis ou motocicletas e a variação entre 2008 e 2012. Em Pernambuco, 38,4% dos domicílios possuem veículos, enquanto que em Santa Catarina o percentual é de 74,3%. A variação em Pernambuco de 137 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 81 -‐125 Wagno Monteiro da Silva 2008 para 2012 foi de 11 pontos percentuais, conforme descrito na Tabela 3. Tabela 3 – Posse de automóveis ou motocicletas por Unidade da Federação (2012) APÊNDICES (CORPO 12) (opcional) 138 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 126-‐150 Os impactos econômicos causados pela falta de mobilidade urbana em Recife Fonte: Microdados PNAD, 2012. IBGE 3.2 Tempo de deslocamento - Cenário Recife De acordo com a pesquisa publicada pelo Ipea, Recife é a quarta capital do país com maior tempo de deslocamento de casa para o trabalho, com 38 minutos em média, ficando atrás do Rio de Janeiro com 47 min, São Paulo com 45 min e 6 seg. e Salvador com 39 min e 7 seg. Entre os entrevistados na pesquisa, 14% afirmam que passam mais de uma hora no deslocamento de casa para o trabalho no Recife, conforme demonstrado na tabela 04 e na figura 02 Tabela 04 - Percentual de trabalhadores x tempos de percurso casatrabalho por Região Metropolitana 139 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 81 -‐125 Wagno Monteiro da Silva 140 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 126-‐150 Os impactos econômicos causados pela falta de mobilidade urbana em Recife Figura 2 – Percentual de trabalhadores com tempo de percurso casatrabalho superior a 60 minutos (%) (PNAD 2012 – IBGE) Baseado nos dados desta pesquisa, o recifense gasta, em média, 1h e 16min diariamente no deslocamento de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Se considerarmos os cinco dias da semana, ou seja, de segunda a sexta, o resultado será de 6h e 20min; isto significa que no final do mês, o recifense terá gasto no trânsito 25h e 20min, ou seja, três dias de trabalho por mês, com uma jornada diária de 8h. Considerando ainda que a renda média das pessoas economicamente ativas na Região Metropolitana do Recife é de R$ 1.682,00, segundo pesquisa realizada pelo IBGE no mês de setembro/13, o impacto mensal por trabalhador para o empregador será de R$ 168,20. Considerando que no ano de 2012, 709 mil pessoas estavam empregadas na RMR, segundo Pesquisa Mensal de Empregos, IBGE 2012. O custo total mensal estimado dos impactos causados pela falta de mobilidade urbana no Recife e Região Metropolitana é de R$ 120 milhões. Anualmente o custo estimado é de R$ 1,44 bilhão, o que representa 4,79% do PIB do Recife no ano de 2012, que foi de R$ 30.032,003 bilhões, divulgado pelo IBGE (Revista exame 2013). De acordo com Eduardo Vasconcelos, diretor do Instituto Movimento São Paulo, o custo estimado anual no Brasil com congestionamentos nas aglomerações urbanas no ano 2012 é de R$ 10 bilhões (Jornal Diário de Pernambuco 04/11/13). Tabela 5 – Tempo de deslocamento no Recife e Região Metropolitana 141 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 81 -‐125 Wagno Monteiro da Silva Fonte: elaboração própria. Dados: Microdados PNAD, 2012. IBGE Tabela 6 – Impactos econômicos causados pelos congestionamentos no Recife e Região Metropolitana Fonte: elaboração própria. Dados: Microdados PNAD, 2012. IBGE 3.3. Utilização de diferentes modais Além da utilização de alguns modelos de transporte coletivo, como o ônibus e metrô, dentre outros modais (bicicleta, barco, taxi, carro, moto e andar a pé), também podem ser inseridos como alternativas para a melhoria na mobilidade urbana no Recife e Região Metropolitana. Desde que tenham uma infraestrutura adequada para sua utilização. Estes modais podem ser utilizados em distâncias mais curtas e em conjunto com outros 142 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 126-‐150 Os impactos econômicos causados pela falta de mobilidade urbana em Recife modais, de forma complementar, como é o caso da bicicleta e o metrô, por exemplo. Em um desafio intermodal realizado no dia 12/09/13 no Recife (site www.jc.com.br), com diferentes tipos de modais, onde os participantes saíram da praça da independência do centro do Recife com destino ao shopping Recife em Boa Viagem, na zona sul. A bicicleta ficou em primeiro lugar, com um tempo de 26 min e trinta um segundos, conforme ranking da tabela 07 Tabela 07 – Resultado do desafio intermodal no Recife Fonte: elaboração própria. Dados: JC Online 3.4. Construção de Corredores Exclusivos para Ônibus Desenvolvido em Curitiba em 1974, o BRT (Bus Rapid Transit), em português Transporte Rápido por Ônibus, utiliza corredores exclusivos de ônibus. Jornal Diário de Pernambuco (15/07/2012). O BRT é uma das 143 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 81 -‐125 Wagno Monteiro da Silva alternativas para os problemas de mobilidade urbana em Recife e Região Metropolitana. No Recife, o sistema já está sendo implantado com a construção de 100 km de corredores exclusivos de BRT até 2014 (Diário de Pernambuco, 2012). Com a construção dos corredores norte/sul e leste/oeste que irão interligar 25 terminais de passageiros, previstos a conclusão até 2014. Atualmente, a frota é de três mil ônibus no Recife e Região Metropolitana, que transporta diariamente dois milhões de usuários, dos quais oitocentos mil utilizando o SEI (Sistema Estrutural Integrado), que tem a função de interligar os 14 municípios da Região Metropolitana. De acordo com uma publicação no jornal Diário de Pernambuco (03/11/13), 30% das viagens programadas de ônibus para o dia na Região Metropolitana do Recife, deixam ser realizadas por conta dos engarrafamentos. Segundo um estudo apresentado pela Associação Nacional de Transporte Público, publicada no jornal Diário de Pernambuco (03/11/13), realizado com quatro tipos de modais, sendo: carro, bicicletas, pedestres e ônibus. Em uma via de 3,5 metros de largura, o estudo com o carro transporta 1300 pessoas por hora com capacidade para 900 carros. No caso da mesma avenida sendo ocupada por bicicletas, seria possível transportar 4500 pessoas por hora. Na outra hipótese, com pedestres, poderia circular 13.500 pedestres por hora. E na quarta hipótese, no caso do ônibus também poderia transportar 13.500 pessoas por hora. Ou seja, o carro se mostrou o modal menos eficiente de todos, e o ônibus o mais eficiente. 144 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 126-‐150 Os impactos econômicos causados pela falta de mobilidade urbana em Recife Este modelo de integração entre os modais e a utilização do BRT é uma tendência viável, é o que afirma um estudo realizado pela Siemens ‘Picture of the Future – Rio de Janeiro 2030 – 2040, publicado pela revista EXAME CEO (Abril/13 – Pg 83-87), onde a cidade foi escolhida para realização do estudo, devido aos grandes acontecimentos e transformações em razão das olimpíadas de 2016. O estudo revela que uma pessoa irá gastar no máximo 40 minutos de qualquer ponto da cidade até o centro. Este trajeto poderá ser feito por meio de bicicleta elétrica compartilhada, até um ponto de vagão/estação, onde o usuário irá ter acesso às informações dos horários através de mensagens de celular. “Cidade e cidadãos trocarão informações o tempo todo”. O Rio de Janeiro também adotou o BRT como uma das soluções para os problemas de mobilidade urbana. De acordo com o prefeito do Rio, Eduardo Paz em entrevista a revista EXAME CEO (Abril/13 – Pg 83-87), o BRT é uma solução original brasileira e que custa 15 vezes menos que a implantação do metrô. “O BRT também é uma opção mais flexível, podendo ocupar o espaço público na superfície e caso inventem uma nova tecnologia, como por exemplo, um trem magnético, poderá substituir o BRT”, afirma Paes. 3.5 Metrô – uma alternativa eficiente Inaugurado em 1985, o metrô do Recife possui 39 quilômetros de extensão com duas linhas em operação, centro e sul. O metrô é um transporte de massa de grande complexidade, de alto custo, que custa 15 vezes mais que 145 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 81 -‐125 Wagno Monteiro da Silva o BRT, talvez o porquê das grandes cidades brasileiras não investirem neste modal. No entanto, os investimentos no metrô como uma matriz de transporte é uma melhor opção a longo prazo, pois demanda tempo e grandes investimentos, de acordo com o professor da UFPE Fernando Jordão. Atualmente a capacidade de passageiros por dia é de 400 mil, com 40 trens operando nas duas linhas e 39 quilômetros de extensão. O Brasil não escolheu o transporte ferroviário como sua principal matriz de mobilidade e hoje sofre as conseqüências. Diferentemente de países europeus que tiveram em sua matriz de transporte o trem como o principal modal, como é o caso da França, onde Paris possui atualmente 586 km e 389 estações integradas ao ambiente urbano. Em toda a França são 1.860km dedicados a trens de alta velocidade. (Diário de Pernambuco 30/06/2013). Uma outra alternativa é a utilização do VLT (Veiculo Leve sobre Trilhos), segundo o professor de engenharia da UFPE Fernando Jordão (Diário de Pernambuco 30/06/2013), “O VLT tem uma capacidade de transporte maior que o ônibus, polui menos e ocupa apenas quatro metros da via, enquanto que o BRT ocupa sete. Tem mais flexibilidade de se inserir na malha existente. O metrô precisa de uma via segregada e deve ser alternativa a corredores de grande demanda”. Em Pernambuco o VLT opera atualmente numa malha de 32 km, com 7 VLT’s na linha cabo e irá operar mais 14 na linha Suape. Serão transportadas entre as linhas Cabo e Suape no horário de pico uma média de 2800 pessoas por viagem (Diário de Pernambuco 30/06/2013) 146 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 126-‐150 Os impactos econômicos causados pela falta de mobilidade urbana em Recife 3.6 Calçadas do Recife – Andar é preciso Andar pelas calçadas do Recife e Região Metropolitana é um verdadeiro desafio, bueiros abertos, esgoto, calçadas com terrenos irregulares, buracos, comercio ambulante, ocupação indevida. Os pedestres no Recife representam 30% da população que andam a pé, segundo matéria publicada no Diário de Pernambuco 2012. Um exemplo de duas cidades que podem servir como modelo para o Recife e que tem uma realidade bem próximas são Bogotá e Medelín na Colômbia, que viviam o caos urbano que o Recife vive atualmente e os gestores destas duas cidades, decidiram tomar as rédeas no final dos anos 90 e inicio dos anos 2000. (Diário de Pernambuco 10/03/2013). Além da reconstrução da consciência cidadã, houve também a transformação espacial e estrutural da cidade, com a recuperação de calçadas, ciclovias e a organização do comercio informal. Em 2010 Medellín se tornou a cidade da Colômbia com a melhor qualidade de vida. A mudança ocorreu principalmente com a implementação de melhorias nos espaços e equipamentos públicos das duas cidades. À guisa de conclusão O urbanista americano Jeff Speck defende em seu livro Walkable City: How Downtown Can Save America, One Step at a Time. “Walkability” ou andabilidade, que sugere colocar os carros em seu devido lugar. “Quanto 147 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 81 -‐125 Wagno Monteiro da Silva mais espaço você dá aos carros, mais espaço eles tomarão e acabarão fazendo a cidade entrar em colapso”. O conceito de andabilidade só é possível com uma boa infraestrutura de comercio e serviços, em uma região central com calçadas amplas e arborizada, e estações de metrô e de ônibus a poucos passos de distância. Assim, como mostram as pesquisas relacionadas com o tema em apreço, que é o impacto econômico da falta de mobilidade urbana em Recife, podemos concluir que investimentos em transportes coletivos de qualidade seria uma solução viável e com custo acessível, se comparado com os metrôs, por exemplo. Nesse ínterim podemos citar a utilização dos corredores exclusivos de ônibus (BRT), e também uma outra alternativa para a mobilidade urbana do Recife e região metropolitana é o BRS (Bus Rapid Service) em português Serviço Rápido por Ônibus, ou seja, faixas exclusivas para os ônibus. A faixa da direita é dedicada para os ônibus, permitindo que os carros entrem no corredor apenas para acessar vias e comércios locais, onde os automóveis são proibidos de circular. REFERÊNCIAS SEGALA, Mariana. O pelotão de frente. 2013. (Revista Exame CEO) CASTILHO, Adriane. As cidades que pensam. 2013. (Revista Exame CEO) VIALLI, Andrea. Andar é preciso. 2013. (Revista Exame CEO) 148 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 126-‐150 Os impactos econômicos causados pela falta de mobilidade urbana em Recife RODRIGUES, Alexandre. O Rio em 2040. 2013. (Revista Exame CEO) NETO, Antonio Martins. A inteligência a serviço das cidades. 2012. (Revista Construir NE) PASSOS, Tânia. O exemplo de Curitiba. 2012. (Jornal Diário de Pernambuco) PASSOS, Tânia. Um novo começo para o transporte público do Recife. 2012. (Jornal Diário de Pernambuco) PASSOS, Tânia; COLARES, Juliana. Hora de abrir para os ônibus. 2013. (Jornal Diário de Pernambuco) PASSOS, Tânia. Caminho azul para o ônibus. 2013. (Jornal Diário de Pernambuco) PASSOS, Tânia. Metrô: uma aposta de futuro. 2013. (Jornal Diário de Pernambuco) DOLORES, Ana Cláudia. Cidades possíveis: a cidade para os cidadãos. 2013. (Jornal Diário de Pernambuco) PASSOS, Tânia; COLARES, Juliana. Os custos dos congestionamentos. 2013. (Jornal Diário de Pernambuco) II Desafio Intermodal do Recife. Disponível em: http://ne10.uol.com.br/canal/cotidiano/jctransito/noticia/2013/09/12/bicicleta-e-moto-sao-os-mais-rapidos-nodesafio-intermodal-mas-skate-surpreende-442227.php Acesso em 12/09/13. 149 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 81 -‐125 Wagno Monteiro da Silva Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) 2012. Disponivel em:http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=a rticle&id=20329&catid=1&Itemid=7 Acesso em 24/10/2013 Rendimento médio do trabalhador no Recife e Região Metropolitana. Disponivel em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/ pme_nova/pme_201309pe_01.shtm Acesso em 03/11/2013 As cidades que mais contribuem para o PIB brasileiro. Disponivel em: http:// exame.abril.com.br/economia/noticias-cidades-que-maiscontribuem-para-o-pib-brasileiro. Acesso em 17/11/2013 150 REVISTA NOVAS IDEIAS Recife, vol. 1, n. 1, julho – dezembro 2014, p. 126-‐150