o BRICSV r" li Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justica Ambiental � r- --......_ - FASE ' BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental FASE 1ª Edição Rio de Janeiro 2015 Realização Solidariedade e Educação Rua das Palmeiras, 90 Botafogo - Rio de Janeiro - RJ www.fase.org.br BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 1ª Edição Rio de Janeiro Fevereiro de 2015 ISBN 978-85-86471-80-3 Organização, texto e edição Fátima Mello Levantamento e tratamento de dados André Martins Projeto gráfico Tiago Macedo (tgmacedo) Tradução David Hathaway Apoio BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental Encarte informativo Fevereiro de 2015 Os BRICS, bloco formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, emergem na arena global como um ator de peso. Desde a crise de 2008, o bloco passou a atuar de forma coordenada na agenda econômico-financeira e em seus respectivos fóruns, como o G20. Mais recentemente, passou a atuar também em outras agendas, posicionando-se como bloco em temas relacionados à segurança e conflitos internacionais. Em sua última cúpula, aprovou instrumentos que apontam a existência de um projeto mais orgânico do bloco. Estes abrangem, entre outros aspectos, a dimensão financeira, com a criação do Arranjo Contingente de Reservas (sigla em inglês CRA), e uma agenda mais ampla de desenvolvimento e coordenação política expressa na criação do banco do bloco, o Novo Banco do Desenvolvimento, destinado a financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável, e na assinatura de inúmeros acordos de cooperação. Entretanto, o potencial de se tornar um ator de peso na política e na economia internacional não significa que este grupo de países esteja ancorado em um modelo de desenvolvimento distinto dos países do Norte. Sua inserção nas cadeias globais de produção se dá como fornecedores de matéria-prima e de manufaturas baratas, cuja produção é baseada na exploração intensiva da força de trabalho e de recursos naturais. Os BRICS estão visceralmente ligados à dinâmica do capitalismo global, e o modelo de desenvolvimento por eles adotado produz fortes desigualdades sociais e injustiças ambientais no interior de seus países membros. Este encarte de dados apresenta estas dimensões do bloco. De um lado, um grande potencial econômico, político, contra-hegemônico e de democratização do sistema internacional. De outro, gigantescos desafios relacionados ao enfrentamento das desigualdades e de um modelo de desenvolvimento injusto, violador de direitos humanos e ancorado na super exploração da natureza. Esperamos assim contribuir para a ampliação do debate na sociedade sobre os rumos do bloco, de modo que os desafios sejam enfrentados e que os BRICS possam ser uma força impulsionadora de justiça social e ambiental no mundo e dentro dos países que compõem o bloco. BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 5 Introdução Se tomarmos como referência os indicadores clássicos de recursos de poder no sistema internacional não restam dúvidas: os BRICS têm grande peso, já que os cinco países que compõem o bloco abrigam quase a metade da população e força de trabalho global; o território somado entre os membros do bloco ocupa um quarto da área do planeta; e o PIB do bloco tem peso percentual expressivo e crescente no PIB mundial. Informações gerais sobre os países do BRICS – 2013 Fonte: BRICS Publicação Estatística Conjunta, 2014. Área territorial (1.000 km²) Capital População (milhões) Densidade Demográfica (pessoas / km²) Moeda Nacional Brasil 8 515 Brasília 201 23.60 Real – R$ Rússia 17 098 Moscou 144 8.4 Rublo – Rub Índia 3 287 Nova Déli 1 211 382.0 Rupia - China 9 600 Beijing 1 357 141.0 Renminbi – RMB África do Sul 1 221 Pretória 52 42.3 Rand – ZAR 43% da população mundial Brasil Rússia Índia China África do Sul Fonte: Infográfico Nivela Populações - BRICS, Publicação Estatística Conjunta, 2013. BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 7 Produto Interno Bruto (PIB) – 2007-2013 10 000 bilhões de US$ Fonte: Tabela-Resumo do Capítulo 4, BRICS Publicação Estatística Conjunta, 2014. 9 000 8 000 7 000 6 000 5 000 4 000 3 000 2 000 1 000 0 2007 2008 Brasil 2009 Rússia 2010 Índia 2011 China 2012 2013 África do Sul PIB dos BRICS x EUA (PPP), 1992-2010 16 000 bilhões de US$ Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. (www.databank.worldbank.com) 14 000 12 000 10 000 8 000 6 000 4 000 2 000 Brasil Rússia Índia China 8 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental África do Sul EUA 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 0 Participação no PIB de diversos setores – 2012 % Fonte: Tabela-Resumo do Capítulo 4, BRICS Publicação Estatística Conjunta, 2014. 100 90 Primário 80 70 68.7 59.7 56.3 44.6 60 50 Secundário 40 23.8 30 20 26.0 10 36.3 5.3 Brasil 0 45.3 19.9 4.0 Rússia Terciário 10.1 Índia China BRICS e Desigualdades A imensa riqueza econômica e de recursos naturais dos países do bloco poderia ser fonte de bem estar, equidade e garantia de direitos econômicos, sociais, ambientais e culturais. No entanto estas riquezas, postas a serviço de um modelo de desenvolvimento concentrador de renda e intensivo na exploração de recursos naturais, se traduz em altos índices de pobreza e desigualdades e em baixos padrões de qualidade de vida e de acesso a direitos sociais, como saúde e educação. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é definido pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) como “uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. O objetivo da criação do IDH foi o de oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento.” http://www.pnud.org.br/IDH/DH.aspx Índice de Desenvolvimento Humano (IDH): evolução dos países do BRICS e média mundial, anos selecionados Fonte: Indicadores Internacionais do Desenvolvimento Humano, ONU. 0.80 IDH – Valores de 0 a 1 (quanto mais alto, melhor) 0.75 0.70 0.65 0.60 0.55 Brasil Rússia Índia China África do Sul Mundo 0.50 0.45 0.40 1990 2000 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 9 Renda O coeficiente de Gini mede a concentração da renda. Varia de zero a um ou zero a cem, em que o zero expressa uma situação de total igualdade, ou seja, toda a população teria a renda igual, e o valor um ou cem expressa o oposto: um só indivíduo concentraria toda a renda. No gráfico abaixo observa-se que, entre os membros dos BRICS, África do Sul e Brasil têm os mais elevados coeficientes de Gini. Coeficiente de Gini (desigualdade de renda), 2009 Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 80 60 40 20 0 Brasil Rússia Índia* China África do Sul * Dados da Índia correspondem ao ano de 2010. Parte da renda nacional captada pelos 10% mais ricos - 2009 Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 60 40 20 0 Brasil Rússia Índia* China África do Sul * Dados da Índia correspondem ao ano de 2010. Apesar de seguir com elevados níveis de concentração da renda, o Brasil se destaca entre os membros do bloco pela recente desconcentração da mesma: Coeficiente de Gini - Brasil (2001-2009) 62 Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 60 58 56 54 52 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 10 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental População que vive com menos de US$2 PPP/dia (%) - 2009 Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 80 60 40 20 0 Brasil Rússia Índia* China África do Sul * Dados da Índia correspondem ao ano de 2010. Coeficiente Gini - Tendências BRICS (2000-2009) Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 80 60 40 20 0 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 Brasil Rússia Índia China África do Sul Este gráfico representa a evolução do índice de Gini nos BRICS de 2000 a 2009. Apenas Brasil e Rússia produziram dados para todo o período, e têm suas respectivas séries apresentadas na forma de curvas. Não sendo possível fazer o mesmo com os demais países, apresentamos os dados de China, Índia e África do Sul na forma de pontos. No Brasil os 20% mais ricos detêm 58,6% da renda nacional e na África do Sul os 20% mais ricos detêm 68,2% da renda nacional. BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 11 Distribuição de renda no Brasil (2009) Distribuição de renda na Rússia (2009) Primeiro quintil (58,6%) Primeiro quintil (47,1%) Segundo quintil (19%) Segundo quintil (21,3%) Terceiro quintil (12,4%) Terceiro quintil (14,8%) Quarto quintil (7,1%) Quarto quintil (10,4%) Último quintil (2,9%) Último quintil (6,5%) Distribuição de renda na Índia (2010) Distribuição de renda na China (2009) Primeiro quintil (42,8%) Primeiro quintil (47,1%) Segundo quintil (20,8%) Segundo quintil (23,2%) Terceiro quintil (15,7%) Terceiro quintil (15,3%) Quarto quintil (12,1%) Quarto quintil (9,7%) Último quintil (8,5%) Último quintil (4,7%) Distribuição de renda na África do Sul (2009) Primeiro quintil (68,2%) Segundo quintil (16,3%) Terceiro quintil (8,2%) Quarto quintil (4,6%) Último quintil (2,7%) Em estatística um quintil é um segmento da amostra analisada correspondente a um quinto, ordenado de acordo com sua correlação com uma variável. No caso da distribuição de renda, o primeiro quintil corresponde aos 20% mais ricos do total analisado (o quinto de indivíduos mais ricos), o segundo quintil, aos 20% seguintes (o segundo quinto mais rico, ou seja, os 40% mais ricos, excluído o primeiro quintil), e assim por diante, até o último (quinto) quintil, correspondente aos 20% mais pobres. Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 12 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental Emprego Desemprego 2000-2012 (% da força de trabalho) Rússia Índia China 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2005 2004 2003 2002 2001 2000 Brasil 2006 Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 30 25 20 15 10 5 0 África do Sul População empregada (% da população total) Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 80 70 60 50 40 30 20 10 Brasil Rússia Índia China 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 0 África do Sul Resumo da população economicamente ativa nos países do BRICS – 2000/2013 Fonte: Publicação Estatística Conjunta, 2014. 2000 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Participação da população economicamente ativa na população nacional (%) Brasil -- 67.8 68.6 69.3 69.0 68.6 68.6 68.6 -- 66.2 65.9 -- Rússia 49.5 49.9 50.6 51.2 52.0 52.7 53.0 53.0 52.8 53.0 52.9 52.7 Índia 40.6 41.9 42.1 43.0 42.3 -- 41.3 -- 40.0 -- 39.5 -- China 56.9 57.1 57.1 57.1 57.0 57.0 56.9 56.8 56.8 56.7 56.6 56.6 África do Sul 36.8 34.9 34.3 35.8 36.6 36.2 36.9 35.8 34.8 34.9 35.4 -- A população economicamente ativa é definida pelo IBGE como “o potencial de mão-de-obra com que pode contar o setor produtivo, isto é, a população ocupada e a população desocupada”. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/ indicadores/trabalhoerendimento/pme/pmemet2.shtm BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 13 Convenções OIT e os países do BRICS Ratificação Convenção OIT Descrição Brasil Rússia Índia China África do Sul No de países que ratificam 29 Abolição do trabalho forçado ou obrigatório. Sim Sim Sim Não Sim 177 87 Liberdade sindical e proteção do direto sindical. Não Sim Não Não Sim 152 98 Aplicação dos princípios do direito de sindicalização e de negociação coletiva. Sim Sim Não Não Sim 163 100 Igualdade de remuneração entre homens e mulheres trabalhadores por trabalho de igual valor. Sim Sim Sim Sim Sim 171 105 Abolição do trabalho forçado. Sim Sim Sim Não Sim 174 111 Discriminção em matéria de emprego e profissão. Sim Sim Sim Sim Sim 172 122 Política de emprego. Sim Sim Sim Sim Não 108 135 Proteção e facilidades a serem dispensadas a representantes de trabalhadores na empresa. Sim Sim Não Não Não 85 138 Idade mínima de admissão a emprego. Sim Sim Não Sim Sim 166 141 Organização dos trabalhadores rurais. Sim Não Sim Não Não 40 148 Proteção dos trabalhadores contra os riscos profissionais devido à contaminação do ar, o ruído e as vibrações do local de trabalho. Sim Sim Não Não Não 45 151 Relações de trabalho na Administração Pública. Sim Não Não Não Não 50 154 Negociação Coletiva. Sim Sim Não Não Não 44 158 Término da relação de trabalho por iniciativa do empregador. Sim Não Não Não Não 36 168 Fomento de emprego e a proteção contra o desemprego. Sim Não Não Não Não 8 Fonte: Organização Internacional do Trabalho. Situação no dia 02 de dezembro de 2013. Elaboração: Subseção DIEESE/CUT-Nacional. Saúde Indicadores de saúde, IDH 2012/13 País Gasto público com saúde Pública* - % do PIB Mortalidade Infantil (5 anos), por mil nascimentos Expectativa de vida ao nascer (geral) Índice de Saúde Brasil 4,2 19 73,8 0,849 Rússia 3,2 12 69,1 0,774 Índia 1,2 63 65,8 0,722 China 2,7 18 73,7 0,846 África do Sul 3,9 57 53,4 0,536 Fonte: Indicadores Internacionais do Desenvolvimento Humano, ONU - Elaboração: Subseção DIEESE/CUT-Nacional. 14 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental Gasto total com saúde, separado por público e privado em relação ao PIB, países do BRICS, 2000 e 2011/12 (o mais recente) País Gasto Privado (%PIB) Gasto Público (%PIB) Gasto Total (%PIB) 2000 2011/12 2000 2011/12 2000 2011/12 Brasil 2,9 3,1 4,3 5,8 7,2 8,9 Rússia 3,2 3,3 2,2 2,9 5,4 6,2 Índia 1,1 1,1 3,2 2,8 4,3 3,9 China 1,8 1,6 2,9 3,5 4,6 5,2 África do Sul 3,4 3,5 4,9 5,1 8,3 8,5 Fonte: Global Health Expendidure Database - United Nations (UN) e OECD Factbook. Elaboração: Subseção DIEESE/CUT-Nacional. Educação Taxa de alfabetização - 2010 Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 100 80 60 40 20 0 Brasil Rússia Índia* China África do Sul * Dados da Índia correspondem ao ano de 2006. Escolaridade (anos): média da população acima de 25 anos - 2010 Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 14 12 10 8 6 4 2 0 Brasil Rússia Índia China África do Sul BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 15 Gasto público com educação em relação ao PIB, países dos BRICS, 1999/2000 e 2010/11 (o mais recente)* Gasto Público em Educação – Em % % 7.0 6,0 6,0 5,8 6.0 5.0 4.0 4,3 4,12 3,9 3,3 2,9 3.0 2,81 1,9 2.0 1.0 Dado de 2010 para a China foi estimado. 2 Último dado para a Rússia é para 2008; Fonte: Indicadores Mundiais de Desenvolvimento – Banco Mundial; OCDE Factbook, 2014; e China by Numbers – 2012. Elaboração: Subseção DIEESE/CUT-Nacional. 1 1999/00 2010/11 0 Brasil Rússia Índia China África do Sul Indicadores de educação, países do BRICS, IDH 2012/13 País Gasto público com educação % do PIB Média de anos de estudo dos adultos* Adultos escolarizados (15 anos ou mais) Education Index Brasil 5,7 7,2 90,3 0,674 Rússia 4,1 11,7 99,6 0,862 Índia 3,1 4,4 62,8 0,459 China 2,8* 7,5 94,3 0,627 África do Sul 6,0 8,5 88,7 0,705 *Estimado para 2010. Fonte: Indicadores Internacionais do Desenvolvimento Humano, ONU; e China by Numbers (China Economic Review – 2012). Elavoração: Subseção DIEESE/CUT-Nacional. Estimativa do gasto público por pessoa em idade educacional, países do BRICS e OCDE, 2011, em US$/PPP. Valor de gasto público aplicado por aluno em idade escolar - em US$/PPP 7,950.98 8.000.00 7.000.00 6.000.00 5.000.00 4.000.00 3.000.00 2,648.72 897.02 1.000.00 0.00 1,887.50 1,490.61 2.000.00 Brasil Rússia 248.27 Índia China África do Sul OCDE Fonte: Elaborado a partir do artigo “A educação superior no Brasil: insumos, indicadores e comparações com os países da OCDE e do BRICS”. Disponível em: http://www.revistas.ufg.br/index.php/interacao/article/view/26104/15047 16 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental Porcentagem da população vivendo em favelas Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 45 40 35 Brasil Índia China África do Sul Mundo 30 25 2000 2005 2007 BRICS e impactos socioambientais do modelo de desenvolvimento de seus membros A mais recente Cúpula dos BRICS, realizada no Ceará, Brasil, em julho de 2014, deu destaque ao desenvolvimento sustentável. Apesar da centralidade dada ao tema na Declaração de Fortaleza, os dados aqui apresentados revelam que as graves desigualdades sociais e a exploração intensiva de recursos naturais são bloqueios cruciais para a definição de um projeto de futuro para o bloco baseado no desenvolvimento sustentável – sendo este conceito entendido como justiça social e ambiental. Um exemplo dos desafios é a criação do Novo Banco do Desenvolvimento (NBD), cujo capital inicial de US$ 50 bilhões e perspectiva de chegar a US$ 100 bilhões tem o objetivo de financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável sem, contudo, haver uma definição de seu significado. Ou, ainda mais contraditório, é o fato dos projetos de infraestrutura implementados pelos membros do bloco em seus próprios países e/ou em países receptores de seus investimentos serem marcados por frequentes violações de direitos e injustiças sociais e ambientais. Os membros dos BRICS possuem vastos recursos naturais, tais como florestas, minérios, terras, água e variadas fontes de energia. Suas economias dependem cada vez mais da extração e exploração intensiva destes recursos. BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 17 Matriz energética Composição da matriz energética em 2011 Brasil Rússia Nuclear 1,5% Índia Nuclear 6,2% Hidrelétrica 13,8% Hidrelétrica 1,9% Biocombustível e lixo 29,2% Biocombustível e lixo 1% Geotérmica/Solar/Eólica 0,3% Geotérmica/Solar/Eólica 0,1% Carvão e turfa 5,8% Carvão e turfa 15,8% Petróleo 40,8% Petróleo 21,6% Gás natural 8,6% Gás natural 53,4% China Nuclear 1,2% Nuclear 0,8% Hidrelétrica 1,5% Hidrelétrica 2,2% Biocombustível e lixo 24,7% Biocombustível e lixo 7,9% Geotérmica/Solar/Eólica 0,3% Geotérmica/Solar/Eólica 0,8% Carvão e turfa 43,5% Carvão e turfa 68,2% Petróleo 22,1% Petróleo 16,2% Gás natural 6,7% Gás natural 3,9% África do Sul Nuclear 2,5% Hidrelétrica 0,1% Biocombustível e lixo 10,3% Geotérmica/Solar/Eólica 0,1% Carvão e turfa 69,4% Petróleo 14,9% Gás natural 2,7% Fonte: Agência Internacional de Energia. Renda da extração de produtos naturais (% do PIB) - 2012 Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 20 15 10 5 0 Brasil Rússia Índia China África do Sul 18 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental Renda da extração dos produtos naturais (% do PIB) 2000-2012 Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 60 40 Brasil Rússia Índia China África do Sul 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2000 0 2001 20 Clima O gráfico a seguir evidencia o imenso peso das responsabilidades históricas dos países do Norte sobre os altos níveis de emissões de gases do efeito estufa (GEE) e a crise climática em curso. 1850-1960: Os países industrializados lideram as emissões Comparação dos maiores emissores de CO2 Total de Emissões de CO2, excluindo mudança de uso de solo e silvicultura 3.000 MTCO2 Fonte: World Resources Institute. (WRI) 2.250 1.500 750 Estados Unidos Reino Unido Rússia Alemanha 1958 1952 1946 1940 1934 1928 1922 1916 1910 1904 1898 1892 1886 1880 1874 1868 1862 1856 1850 0 China Nas últimas décadas cresceu o peso de países do Sul hoje reunidos nos BRICS nas emissões globais. Na produção globalizada, indústrias poluentes e sistemas de produção com altos níveis de emissões de gases do efeito estufa (GEE) e super intensivos na exploração do trabalho e de recursos naturais passam a se localizar nestes países, onde a força de trabalho é mais explorada, precarizada e barata e onde as normas de regulação ambiental e social são frágeis ou inexistentes. Por isso a China passa a ter importante participação nas emissões globais de GEE e os BRICS, como bloco, passam a ser responsáveis por cerca de um terço das emissões globais. BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 19 1960-2011: Emergência de novos grandes emissores Total de Emissões de CO2, excluindo mudança de uso de solo e silvicultura MTCO2 Fonte: World Resources Institute. (WRI) 3.000 2.250 1.500 750 China Estados Unidos Rússia Índia Japão 36,44 China 22 Índia 5,4 Rússia 5 Brasil 3,2 África do Sul Resto do Mundo BRICS Fonte: PNUMA. Fonte: PNUMA. 36,44 TOTAL BRICS 63,56 0,84 0 5 10 15 20 25 Participação nas emissões globais de cada país membro dos BRICS (2010) 10.000.000,00 Milhares de toneladas métricas Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 8.000.000,00 6.000.000,00 4.000.000,00 Brasil Rússia Índia China África do Sul 2.000.000,00 0,00 2000 2002 2004 2006 2008 20 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 2011 Reino Unido Participação nas emissões globais de cada país membro dos BRICS (2010) Participação nas emissões globais (2010) 2008 2005 2002 1999 1996 1993 1990 1987 1984 1981 1978 1975 1972 1969 1966 1963 1960 0 2010 30 35 Emissões de CO2 por setor - BRICS (2010) 14000 Mtoe (CO2) Fonte: Agência Intenacional de Energia. 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0 Total OCDE Eletricidade e aquecimento EUA África do Sul Outros usos na indústria China Manufaturas e construção civil Índia Transporte total Rússia Transporte rodoviário Brasil Outros setores Consumo residencial Emissões de CO2 por tipos de combustíveis Líquidos (% do total) Fonte: Banco de Dados do Banco Mundial. 80 60 40 Brasil Rússia Índia China África do Sul 20 0 1995 2000 2005 2010 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 21 Gás (% do total) Fonte: Banco de dados do Banco Mundial. 60 50 40 30 20 Brasil Rússia Índia China África do Sul 10 0 1995 2000 2005 2010 Sólidos (% do total) Fonte: Banco de dados do Banco Mundial. 100 80 60 40 Brasil Rússia Índia China África do Sul 20 0 1995 2000 2005 2010 Ainda que os países membros dos BRICS tenham nas últimas décadas aumentado sua participação nas emissões globais de GEE e na atualidade estejam incluídos entre os grandes emissores, as potências tradicionais seguem mantendo seus altos padrões de emissões. Diante do imenso peso das responsabilidades históricas e dos altos níveis de emissões atuais produzidos pelas potências tradicionais, não há dúvida que o princípio das “Responsabilidades Comuns Porém Diferenciadas”, aprovado na Convenção Marco sobre Mudanças Climáticas da ONU e que assegura uma justa diferenciação de responsabilidades entre os emissores, deve manter-se como pilar central das negociações para a construção de um novo acordo global na COP 21 em Paris (2015). 22 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental Emissões per capita de CO2 por regiões, 1960-2011 Total de emissões de CO2: excluindo mudança de uso de solo e silvicultura 24 tCO2 per capita Fonte: World Resources Institute. (WRI) 18 12 6 América do Norte Oceania Europa Ásia América Latina e Caribe 2008 2005 2002 1999 1996 1993 1990 1987 1984 1981 1978 1975 1972 1969 1966 1963 1960 0 África Comércio e investimentos intra-BRICS As figuras e gráficos a seguir descrevem o padrão de comércio intraBRICS, em que basicamente Brasil, Rússia, Índia e África do Sul cada vez mais exportam para a China produtos primários intensivos em exploração de recursos naturais e importam da China produtos manufaturados. Principais produtos exportados e importados dos países do BRICS, 2012/2013 País Exportações Importações Brasil Soja, minérios, alimentos, automóveis, autopeças, máquinas elétricas e mecânicas, combustíveis, aeronaves, cereais, químicos, grãos, papel e celulose, calçados, fumo. Automóveis, adubos, químicos, farmacêuticos, farmacêuticos, combustíveis, grãos, autopeças, instrumentos de precisão, máquinas elétricas e mecânicas, plástico, aeronaves e partes, têxtil, borracha. China Máquinas elétricas e mecânicas, vestuário, móveis, instrumentos de precisão, minérios, automóveis, calçados. Máquinas elétricas e mecânicas, instrumentos de precisão, minérios, sementes, grãos, plásticos, químicos, combustíveis, cobre. Índia Combustíveis, pedras preciosas, químicos, automóveis, máquinas mecânicas e elétricas, algodão, cereais, minérios, farmacêuticos. Combustíveis, instrumentos de precisão, pedras, químicos, minérios, adubos. Rússia Combustíveis, minérios, adubos, Máquinas elétricas e mecânicas, químicos, máquinas, madeiras, cereais, automóveis, farmacêuticos, plásticos, cobre. instrumentos de precisão, minérios, frutas. África do Sul Pedras preciosas, minérios, combustíveis, máquinas mecânicas, frutas. Combustíveis, máquinas mecânicas e elétricas, automóveis, plásticos, instumentos de precisão, farmacêuticos, químicos, minérios. Fonte: Brasil Global Net (http://www.brasilglobalnet.gov.br), estatísticas nacionais, MDIC, WTO e FMI. Elaboração: Subseção DIEESE/ CUT-Nacional. BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 23 As 10 principais mercadorias importadas pela China de países dos BRICS - 2013 Commodity Brasil Commodity Índia Valor Valor Milhões US$ Var. % Milhões US$ Var. % 1. Produtos agrícolas 22 505 20.4 1. Produtos agrícolas 3 295 -19.8 2. Minério e concentrados de ferro 21 424 -5.6 2. Algodão 2 240 -26.1 3. Cereais 19 122 34.0 3. Fios têxteis, tecidos e produtos acabados 2 132 92.2 4. Petróleo bruto 3 803 -18.6 4. Cobre não trabalhado e produtos de cobre 1 872 -13.7 5. Celulose 1 764 8.5 5. Diamantes 1 710 36.6 6. Açúcar 1 433 26.6 6. Minério e concentrados de ferro 1 469 -60.0 7. Produtos mecânicos e elétricos 755 -50.6 7. Produtos mecânicos e elétricos 1 316 9.0 8. Couro bovino ou equino 698 19.4 8. Plásticos brutos 540 -8.9 9. Óleos vegetais comestíveis 506 -56.1 9. Produtos com tecnologia de ponta 454 -1.6 10. Algodão 326 -60.0 10. Xilenos 277 -17.2 Commodity Rússia Commodity África do Sul Valor Valor Milhões US$ Var. % Milhões US$ Var. % 1. Petróleo bruto 19 740 -3.6 1. Minério e concentrados de ferro 6 024 8.6 2. Produtos refinados de petróleo 4 098 -33.5 2. Diamantes 2 407 75.2 3. Carvão e lignite 2 781 15.8 3. Minério e concentrados de crômio 1 153 30.7 4. Produtos agrícolas 1 570 0.9 4. Carvão e lignite 1 097 -30.1 5. Minério e concentrados de ferro 1 413 -20.4 5. Minério e concentrados de manganês 916 61.4 6. Madeira bruta 1 408 -9.9 6. Produtos agrícolas 498 17.1 7. Madeira serrada longitudinalmente, cortada ou desenrolada 1 362 6.1 7. Produtos mecânicos e elétricos 420 62.7 8. Pescado congelado 1 303 1.6 8. Resíduos e sucata de metais 217 15.6 9. Fertilizantes 1 206 -27.9 9. Lã 189 9.7 10. Celulose 589 -17.4 10. Veículos automotores (incl. desmontados e semidesmontados) 185 87.2 Fonte: BRICS, Publicação Estatística Conjunta, 2014. 24 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental As 10 principais mercadorias exportadas pela China para países dos BRICS - 2013 Commodity Brasil Commodity Índia Valor Valor Milhões US$ Var. % Milhões US$ Var. % 1. Produtos mecânicos e elétricos 21 497 6.4 1. Produtos mecânicos e elétricos 2. Produtos de tecnologia de ponta 8 605 6.4 2. Produtos com tecnologia 12 177 de ponta 9.7 3. Fios têxteis, tecidos e produtos prontos 2 370 7.6 3. Máquinas e unidades de 3 250 processamento automático de dados 13.6 4. Vestimentas e acessórios 1 746 15.0 4. Fios têxteis, tecidos e produtos acabados 2 934 9.6 5. Painéis de tela de cristal 1 412 líquido -4.7 5. Fertilizantes 1 907 -35.7 6. Produtos de aço ou de ferro 26.0 6. Produtos de ferro ou de aço 1 693 -25.4 7. Máquinas e unidades de 893 processamento automático de dados -5.6 7. Aparelhos telefônicos 1 450 38.4 8. Produtos agrícolas 857 25.2 8. Produtos médicos e farmacêuticos 1 268 4.3 9. Malas, bolsas de mão e afins 660 5.7 9. Vestimentas e acessórios 845 61.8 10. Peças de TVs, rádios e equipamentos de telecomunicações sem fio 650 3.6 10. Diodos e semicondutores afins 733 109.9 Commodity Rússia Commodity África do Sul 1 291 Valor 25 858 -1.4 Valor Milhões US$ Var. % Milhões US$ Var. % 1. Produtos mecânicos e elétricos 22 621 2.4 1. Produtos mecânicos e elétricos 7 782 17.6 2. Vestimentas e acessórios 9 267 45.4 2. Produtos de alta tecnologia 2 496 39.4 3. Produtos de alta tecnologia 6 406 -4.7 3. Vestimentas e acessórios 1 926 1.0 4. Fios têxteis, tecidos e produtos prontos 3 153 13.8 4. Fios têxteis, tecidos e produtos prontos 987 1.1 5. Calçados e componentes para calçados 3 131 20.4 5. Calçados e componentes de calçados 854 -17.7 6. Produtos agrícolas 2 100 8.2 6. Móveis e peças 821 11.3 7. Máquinas e unidades de 2 043 processamento automático de dados -22.6 7. Máquinas e unidades de 662 processamento automático de dados 4.3 8. Aparelhos telefônicos 1 302 49.2 8. Produtos de aço ou de ferro 493 30.4 9. Produtos de aço ou de ferro 1 104 12.6 9. Diodos e semicondutores afins 486 1 045.4 10. Peças e acessórios de automóveis 1 098 5.0 10. Células solares 456 1 101.0 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 25 Pauta exportadora dos membros dos BRICS por tipos de produto Minérios e metais (% do total) Combustíveis (% do total) 40 80 30 60 20 40 10 20 0 2000 2005 2010 Bens de alta tecnologia (% do total das manufaturas) 0 40 30 30 20 20 10 10 0 2005 2005 2010 0 2000 2005 Manufaturas (% do total) 100 80 Fonte: Banco de dados do Banco Mundial 60 40 Brasil Rússia Índia China África do Sul 20 0 2000 2005 2010 Alimentos (% do total) 40 2000 2000 2010 26 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 2010 Os BRICS na América Latina e na África O padrão de comércio entre os membros do bloco se assemelha ao que se observa nas relações econômicas e comerciais entre a China e a América Latina: “Entre 2001 e 2013, o comércio bilateral multiplicouse por 22 vezes. Quando se observam os saldos comerciais por tipo de produto, ao longo do período, o resultado não dá margem para dúvidas: o saldo positivo latino-americano em commodities saltou de 2,3 bilhões de dólares para 62,6 bilhões de dólares, ao passo que o déficit com a China em bens industrializados alcançou 130,7 bilhões de dólares em 2013, contra – 7,5 bilhões de dólares em 2001. Em termos de investimentos externos diretos chineses, estes ainda são de pequena monta (em parte, porque os dados estão subestimados), mas vêm crescendo rapidamente, depois de 2010, nos setores de petróleo, energia, mineração, infra-estrutura e, inclusive, na indústria de transformação. O mais marcante, contudo, é o dado referente a empréstimos para o ano de 2010: os créditos chineses à região mostram-se superiores ao total das carteiras do Banco Mundial, BID e Eximbank dos Estados Unidos para os países latino-americanos.”1 Durante a VI Cúpula dos BRICS realizada em Fortaleza a China assinou acordos com países chave da América Latina: firmou 38 acordos com a Venezuela nas áreas de energia, mineração e transportes, 54 acordos com o Brasil nas áreas de, entre outros, ferrovias, telecomunicações, informática, energia hidrelétrica, indústria automotiva e de construção, 9 acordos com Cuba nas áreas de finanças, biotecnologia, agricultura, infraestrutura e energia renovável, e 19 com a Argentina nas áreas de finanças, energia, infraestrutura, agricultura, comércio e cooperação.2 Mais recentemente, durante o Fórum CELAC (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos) - China, realizado em janeiro passado em Pequim, o presidente chinês Xi Jinping anunciou que investirá US$ 250 bilhões nos próximos dez anos na região. No caso da África, o rápido crescimento do comércio, da cooperação e dos investimentos dos membros dos BRICS no continente tem sido objeto de amplo debate. Os volumes de recursos da China no continente, comparados aos demais membros do bloco, são impressionantes, sendo algumas das evidências os fluxos de comércio conforme demonstra a figura a seguir.3 Barbosa, Alexandre de Freitas – “China e América Latina: Parceria Sul-Sul?”, http:// brasilnomundo.org.br/analises-e-opiniao/ china-e-america-latina-parceria-sul-sul/#. VNuSN-bF_zM, 26/01/2015 2 http://www.nivela.org/updates/will-china-become-latin-america-s-new-partner-for-infrastructure/en 3 http://theafricanfile.com/public-diplomacy/international-relations/ globalization-in-emerging-markets united-how-south-africa%E2%80%99s-relationship-to-africa-serves the-brics 1 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 27 BRICS: Exportações para a África (exceto África do Sul) Fonte: Centro Internacional de Comércio. 50.000.000 37.500.000 25.000.000 12.500.000 Brasil Rússia Índia China 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 0 África do Sul A China também predomina amplamente quando se observam as tendências sobre investimentos externos diretos:4 Entrada de IDE na África e fluxo para os BRICS (US$ bilhões) Fonte: UNCTADStat, 2013. 140 120 100 80 60 40 20 0 1970 Brasil 1980 1990 Rússia 2000 Índia 2006 2007 China 2008 2009 África do Sul 2010 2011 África (média) http://www.uneca.org/sites/default/ files/publications/africa-brics_cooperation_eng.pdf 4 28 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental Entre os BRICS, a China também predomina como destino das exportações do continente africano:5 Participação dos BRICS nas exportações de mercadorias pela África US$ 117,6 bilhões Brasil Índia 13% 25% África do Sul 50% China 11% 1% Rússia As exportações de mercadorias africanas para o mundo em 2011 somaram aproximadamente US$ 488,9 bilhões (comparadas a US$ 116,7 bilhões em 2000), sendo aproximadamente US$ 117,6 para países dos BRICS (comparadas a US$ 11,4 bilhões em 2000) – a metade destas para a China, e a quarta parte para a Índia. Fonte: UNCTADStat, 2013. Ainda que os volumes de recursos não deixem dúvidas sobre a supremacia chinesa, a presença dos membros dos BRICS na África segue demandando um entendimento mais detalhado sobre a natureza e as motivações de cada país quando realiza programas de cooperação e promoção de comércio e investimentos. Frequentemente observamse motivações contraditórias e objetivos conflitantes, que combinam narrativas de horizontalidade e intercâmbio Sul-Sul com interesses de internacionalização de empresas e extração dos abundantes recursos naturais do continente. Alguns desafios para as organizações e movimentos sociais Os BRICS colocam para as lutas das organizações e movimentos sociais dimensões contraditórias. De um lado, é com esperança que se observa o grande potencial de um bloco do Sul para alterar a correlação de forças no sistema internacional e incluir estes países com o devido peso na política global. Os BRICS são a iniciativa mais concreta já criada com vistas à democratização das instituições internacionais e do processo decisório global, hoje ainda hegemonizado pelas potências tradicionais do Norte. Por outro lado, as informações aqui apresentadas evidenciam que tal potencial está longe de ser acompanhado de um modelo justo do ponto de vista social e ambiental. Em todos os países do bloco são frequentes os conflitos e injustiças sociais e ambientais resultantes da exploração intensiva dos recursos naturais e, em alguns destes países, as violações de direitos e condições de trabalho precárias e degradantes são um padrão. Por este motivo, em todos estes países observam-se intensas lutas de resistência, tais como as lutas dos trabalhadores da mineração na África do Sul, que se somam aos movimentos internacionais http://www.uneca.org/sites/default/ files/publications/africa-brics_cooperation_eng.pdf 5 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 29 de resistência dos atingidos pela indústria da mineração. As lutas dos atingidos pelos grandes projetos energéticos, como as grandes barragens, também são comuns a vários países do bloco. As lutas por direitos e contra as desigualdades estão presentes em todos os países do bloco. Apesar da força e da intensidade destas lutas, não se observa a sua tradução na dinâmica de consolidação dos BRICS. O bloco avança em sua arquitetura institucional, tendo instituído inclusive fóruns acadêmico e empresarial, sem que haja a criação de espaços ou mecanismos de participação social. Menciona-se a perspectiva de criação de um Fórum Sindical, algo crucial para assegurar que os direitos do imenso contingente de trabalhadores do bloco sejam respeitados e sirvam de base para os acordos firmados entre seus membros. Além do Fórum Sindical, resta o desafio de criação de mecanismos de diálogo com os grupos sociais e populações tradicionais atingidos pelos grandes projetos, investimentos e empreendimentos do bloco, inclusive em países de fora do bloco receptores de seus investimentos, em especial na África. Fica também o desafio das organizações e movimentos sociais, a partir de suas lutas de resistência, reunirem elementos para a construção de saídas distintas ao modelo de desenvolvimento implantado pelos BRICS. A resistência contra as desigualdades, as violações de direitos, a exploração intensiva de recursos naturais, e a primarização das economias e das pautas de exportações podem se articular ao debate sobre um modelo de desenvolvimento distinto, cujas bases sejam a justiça social e ambiental combinada com a articulação contra-hegemônica de países do Sul, fortemente ancorados em suas respectivas regiões. Para tal é necessário que as organizações e movimentos sociais e demais forças populares nos países membros disputem a destinação dos investimentos e trocas comerciais dos BRICS a favor de seus direitos. 30 BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental Fontes - Agência Internacional de Energia - BRICS Joint Statistical Publication 2014 - http://brics.ibge.gov.br/ downloads/BRICS_Joint_Statistical_Publication_2014.pdf - Nivela - http://www.nivela.org/updates/a-visual-representation-of-the-bricsgroup/es - “Os BRICS e a ação sindical - Elementos para o debate” – CUT, julho de 2014 - Banco de Dados do Banco Mundial - World Resources Institute (WRI) - http://www.wri.org/blog/2014/05/historycarbon-dioxide-emissions. - Banco de imagens do Shutterstock BRICS: Desafios para enfrentar as desigualdades e alcançar a Justiça Ambiental 31