UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM CURSOS DE PEDAGOGIA ROSELANGE BARBARA ZENERE BARETTA JOAÇABA – SC 2008 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. ROSELANGE BARBARA ZENERE BARETTA O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM CURSOS DE PEDAGOGIA Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade do Oeste de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação, sob a orientação da Profa. Dra. Leda Scheibe. Joaçaba, março de 2008. UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM CURSOS DE PEDAGOGIA Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC, Campus de Joaçaba, para obtenção do grau de Mestre em Educação, sob a orientação da professora Dra. Leda Scheibe. APROVADA PELA SEGUINTE COMISSÃO EXAMINADORA: Dra. Leda Scheibe (UNOESC - Orientadora) Dra. Roselane Fátima Campos (UFSC– Examinadora) Dra. Ortenila Sopelsa (UNOESC – Examinadora) Dra. Zenilde Durli (UNOESC– Suplente) ROSELANGE BARBARA ZENERE BARETTA JOAÇABA-SC MARÇO/2008 Dedico esse trabalho ao meu pai, que permanece vivo em cada momento de minha vida. Ele que me ensinou a ter persistência, me ensinou que trabalhar pode ser um prazer, a respeitar os vários jeitos de cada um e, principalmente, me ensinou que estudar é uma forma de superação, pelo menos parcial, da imperfeição humana. Tulica. AGRADECIMENTOS A Jeová Deus que dá forças para enfrentarmos os desafios. A professora Leda Scheibe, orientadora incansável, competente e amiga sempre presente. A Ticiane Bombassaro, revisora atenciosa e prestativa. Ao meu esposo Rogério pela compreensão nas ausências. Aos meus filhos, Ricardo e Raquel, meus amores sempre tão presentes. Aos professores do Programa de Mestrado em Educação da UNOESC, pelos conhecimentos e pelas trocas de experiências. Aos meus alunos e alunas que sempre foram uma razão motivadora da incessante busca de formação na profissão docente. A UNOESC pelo apoio financeiro. No meio do tiroteio vamos abrir os olhos para o começo de conversa. Abri-los significa aceitarmos juntos, de início, o desafio de construirmos aqui, e a partir daqui, como autores de nossas próprias idéias, regras e princípios de trabalho. Carlos Brandão RESUMO O presente estudo buscou investigar o Estágio Supervisionado (ES) como componente curricular dos cursos de formação de professores. Contextualizou o estágio no processo de formação inicial de professores, sob o ponto de vista da legislação estabelecida; detectou na literatura estudos já realizados buscando concepções sobre o ES presentes nas últimas décadas na formação dos professores no Brasil; estabeleceu como marco teórico crítico para a análise do ES a desejada relação entre a teoria e a prática nos cursos de formação; e analisou, em diferentes situações de oferta de cursos presenciais de Pedagogia, que formam professores para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, as propostas de ES: suas concepções, sua organização e operacionalização, e sua estrutura didático-pedagógica, frente ao marco teórico crítico. Constatou que as políticas educacionais que atualmente regulam os cursos de formação de professores apresentam alternativas de prática ao longo do processo de formação, sendo que o ES não se constitui mais como um momento isolado na articulação do curso com a prática profissional. Com base nos Projetos Político-Pedagógicos e Manuais de Estágios dos cursos de Pedagogia selecionados para a investigação, detectou concepções gerais muito semelhantes nas diversas proposições, tais como a idéia de que o ES deve ser uma ação estruturada e organizada no sentido de transformá-los em momentos ricos de experiência profissional, com implementação de um processo constante de ação-reflexão-ação e possibilidades de trabalho coletivo e interdisciplinar. Não encontrou nos Projetos PolíticoPedagógicos das instituições investigadas proposta concreta de tratamento diferenciado para as ofertas também diferenciadas das modalidades de cursos estudadas. Palavras-chave: Formação de Professores. Estágio Supervisionado. Curso de Pedagogia. Relação teoria e prática. ABSTRACT This study investigates the Supervised Internship (SI) as a curricular component in teaching education courses. It considers the internship in the context of initial teacher education, and from the perspective of the established legislation. Previous studies in the field are examined in a search for the concepts about SI found in recent decades in teacher education in Brazil. It established as a critical theoretical reference for the analysis of the Supervised Internship the desired relationship between theory and practice in teacher colleges; and analyzed the proposals for SI in different types of Pedagogy courses in classrooms, which prepare teachers for pre-school and the first years of elementary education. This includes their general didactic-pedagogic characteristics, and their characteristics in relation to the critical theoretical mark. The study found that the public policies that currently govern teacher training courses present practical alternatives during the educational process, given that SI is no longer an isolated moment in the articulation of teacher education with professional practice. Based on Pedagogical Policy Projects and Internship manuals for Educational courses selected for the study, it found similar general characteristics in various proposals, such as the idea that the SI should be a structured and organized action in order to transform the internships into rich moments of professional experience. They also emphasized the need for a constant process of action-reflection-action and that possibilities be created for collective and interdisciplinary work. It did not find, however, in the Pedagogical-Political Programs at the institutions studied, a concrete proposal for distinct treatment of the also distinct modalities of the courses studied. Key words: Teacher Education. Supervised Internship. Pedagogy Course. Relationship between theory and practice. LISTA DE QUADROS Quadro 01 - Quadro de dados de instituições vinculadas ao sistema ACAFE, que oferecem o curso de Pedagogia, na modalidade presencial, de licenciatura, com habilitação em educação infantil e/ou séries ou anos iniciais, com respectivos regimes de oferta e turnos........................................................................................................14 Quadro 02 - Relação das fontes documentais da pesquisa de origem governamental........... 18 Quadro 03 – Relação dos documentos produzidos por Comissões e/ou instituições.............18 Quadro 04 - Instituições pesquisadas, integradas ao Sistema ACAFE...................................19 Quadro 05 - Categorias e subcategorias de análise da pesquisa..............................................20 LISTA DE SIGLAS ACAFE Associação Catarinense das Fundações Educacionais. ANFOPE Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação. CFE Conselho Federal de Educação. CNE/CP Conselho Nacional de Educação/ Conselho Pleno. CONARCFE Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação do Educador. DCNs Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia. E.I. Educação Infantil. E.F. Ensino Fundamental. ENDIPES Encontros Nacionais de Didática e Prática de Ensino. FEARPE Fundação Educacional e Empresarial do Alto Vale do Rio do Peixe Caçador. FEAVC Fundação Educacional do Alto Vale de Concórdia. FEBAVE Faculdade de Educação do Alto Vale do rio Tubarão. FEBE Fundação Educacional de Brusque. FEHH Fundação Educacional Hansa Hammonia – Ibirama. FEDAVI Fundação Educacional do Alto Vale de Itajaí - Rio do Sul. FEMARP Fundação Empresarial do Alto Vale do Rio do Peixe - Videira. FEPLAC Fundação Educacional do Planalto Central Catarinense – Curitibanos. FERJ Fundação da Região de Jaraguá do Sul. FESC/UDESC Fundação Educacional de Santa Catarina/Universidade Estadual de Santa Catarina. FESSC Fundação Educacional do Sul de Santa Catarina - Tubarão. FUCRI Fundação Universitária de Criciúma - Extensão Blumenau FURB Universidade Regional de Blumenau. FURJ Fundação Universitária da Região de Joinville. FUNDESTE Fundação de Ensino para o desenvolvimento do Oeste - Chapecó. FUNORTE Fundação Norte Catarinense de Ensino - Mafra. FUNPLOC Fundação das Escolas do Planalto Norte Catarinense - Canoinhas. FUOC Fundação Universitária do Oeste Catarinense. IES Instituições de Ensino Superior. INEP Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos Anísio Teixeira. INSS Instituto Nacional de Seguridade Social. LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. MEC Ministério da Educação. PPP Projeto Político-Pedagógico. SESU/MEC Secretaria de Ensino Superior/Ministério da Educação UDESC Universidade Estadual de Santa Catarina. UFSC Universidade Federal de Santa Catarina. UNC Universidade do Contestado. UNE União Nacional dos Estudantes. UNIPLAC Universidade do Planalto Catarinense – Lages UNERJ Centro Universitário de Jaraguá do Sul. UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense. UNIDAVI Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí. UNIFEBE Centro Universitário de Brusque. UNISUL Universidade do Sul de Santa Catarina. UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí. UNIVILLE Universidade da Região de Joinville. UNOCHAPECÓ Universidade Comunitária Regional de Chapecó. UNOESC Universidade do Oeste de Santa Catarina. USJ Centro Universitário Municipal São José. 12 SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 13 CAPITULO I - O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DO PEDAGOGO: UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO.................................................................................. 22 1.1 A formação do pedagogo no país .................................................................................. 22 1.2 O Estágio Supervisionado como componente curricular da formação dos professores ............................................................................................................................. 25 1.3 A legislação da última década para a organização e realização dos estágios (1996 2006)........................................................................................................................................ 30 CAPITULO II - A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA COMO UM DESAFIO PARA O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO................................................................................................................................. 43 2.1 Concepções de Estágio Supervisionado no processo de formação dos professores no Brasil.................................................................................................................................. 43 2.2 Principais dificuldades apontadas pela literatura educacional a respeito do Estágio Supervisionado ......................................................................................................... 48 2.2.1 Dificuldades enfrentadas pelas instituições formadoras .......................................... 2.2.2 Dificuldades para os professores orientadores e/ ou supervisores do estágio ......... 2.2.3 Dificuldades para a escola campo de estágio .......................................................... 2.2.4 Dificuldades para os acadêmicos/futuros docentes................................................... 49 51 53 54 2.3. A relação teoria-prática como um desafio para o Estágio Supervisionado .............. 56 CAPITULO III - ORGANIZAÇÃO DOS ESTÁGIOS CURRICULARES EM CURSOS DE PEDAGOGIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA ................................................... 67 3.1. Contextualização da pesquisa ....................................................................................... 67 3.2 Metodologia da pesquisa e dados sobre os cursos pesquisados .................................. 69 3.3.1 Concepções de estágio.............................................................................................. 3.3.2 Organização e operacionalização dos Estágios Supervisionados ............................ 3.3.3 Estruturação didático-metodológica dos Estágios Supervisionados......................... 74 82 87 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 99 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 107 13 INTRODUÇÃO Pretendeu-se com este estudo ampliar o conhecimento a respeito do Estágio Supervisionado em cursos de Pedagogia que formam professores para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. Focalizou-se, inicialmente, a história da legislação que normatiza a oferta desta disciplina nos cursos de formação de professores no país. Segue um estudo conceitual sobre a questão do estágio e da prática de ensino. O estudo empírico voltou-se para a análise dos Estágios Supervisionados tais como se efetivam em diferentes regimes de oferta de cursos presenciais, em instituições de ensino superior catarinenses. Justifica-se tal investigação pela grande expansão dos cursos de Pedagogia no país e no estado de Santa Catarina nas últimas décadas, e pela importância que tem o Estágio Supervisionado no desenvolvimento destes cursos. Previsto comumente para ser realizado ao término do processo de formação, cada vez mais ele se constitui num grande desafio para as instituições formadoras, requerendo estudos que aprofundem o conhecimento a respeito da sua organização, das dificuldades apresentadas para o seu desenvolvimento e das possibilidades já evidenciadas na sua realização. O estudo empírico efetuado voltou-se, no entanto, apenas para os cursos de natureza presencial, não envolvendo, portanto, aqueles de ensino a distância que hoje adquirem extraordinária expansão em todo o país. Considerou-se importante conhecer melhor a especificidade do estágio em diferentes regimes de oferta dos cursos presenciais. Em pesquisa realizada pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos Anísio Teixeira), a partir dos cadastros dos cursos de Pedagogia no ano de 2007, foram localizados 2.121 cursos de Pedagogia no Brasil ofertados em diferentes instituições, com as mais diversas habilitações. Em Santa Catarina (SC), conforme as fontes estatísticas da ACAFE1, as 16 instituições vinculadas ao sistema ofertaram, no ano de 2006, 71 cursos de Pedagogia na modalidade presencial, dos quais 68 cursos eram formadores de professores, e apenas 3 bacharelados. Destes, 35 eram oferecidos em regime regular noturno, 02 em regime regular matutino, 24 cursos em regime especial, 04 em regime regular matutino/noturno, 02 cursos 1 A Associação Catarinense das Fundações Educacionais (ACAFE) desde 1974 congregou diversas fundações educacionais isoladas e atualmente abrange as seguintes instituições: UNISUL, FURB, UNIVALI, UNESC, UNOESC, UNERJ, UNC, UNOCHAPECÓ, UDESC, UNIDAVI, UNIVILLE, UNIFEBE, UNIPLAC, UFJ, FEBAVE e FEHH. 14 em regime integral e apenas 01 curso com oferta de turno noturno/sábado, conforme demonstrado no quadro a seguir: Quadro 01 – Instituições vinculadas ao sistema ACAFE que oferecem o curso de Pedagogia, na modalidade presencial e de licenciatura, com habilitação em educação infantil e/ou séries ou anos iniciais, com respectivos regimes de oferta e turnos. Instituição Regime de oferta Turno FEHH – Fundação Educacional Hansa Hammonia – Ibirama Regular Noturno FURB – Universidade Regional de Blumenau (02 cursos) * Regular Noturno UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina. Regular Matutino/noturno UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina. Regular Integral UNERJ – Centro Universitário de Jaraguá do Sul (03 cursos) * Regular Matutino/noturno UNERJ – Centro Universitário de Jaraguá do Sul Regular Noturno UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense Regular Noturno UNIBAVE – Centro Universitário Barriga Verde Regular Noturno UNIBAVE – Centro Universitário Barriga Verde Especial Não consta UNC – Universidade do Contestado (05 cursos) * Regular Noturno UNC – Universidade do Contestado Regular Noturno/Sábado UNC – Universidade do Contestado (05 cursos) * Especial Não consta UNOCHAPECÓ – Universidade Comunitária Regional de Chapecó (03 Regular Noturno Especial Não consta UNOESC – Universidade do Oeste de Santa Catarina (03 cursos) * Regular Noturno UNOESC – Universidade do Oeste de Santa Catarina (04 cursos) * Especial Não consta UNIFEBE – Centro Universitário de Brusque (02 cursos) * Regular Noturno UNIPLAC – Universidade do Planalto Catarinense Regular Noturno UNIPLAC – Universidade do Planalto Catarinense (03 cursos) * Especial Não consta UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina Regular Integral UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina Regular Noturno UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina (06 cursos) * Especial Não consta UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina (02 cursos) * Regular Noturno UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí (10 cursos) * Regular Noturno UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí (03 cursos) * Especial Não consta UNIVILLE - Universidade da Região de Joinville (02 cursos) * Regular Matutino UNIVILLE - Universidade da Região de Joinville (02 cursos) * Regular Noturno cursos) * UNIDAVI - Universidade para o desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí. (02 cursos) * * Cursos ofertados fora do Campus (descentralizados) Fonte: http:// www.acafe.org.br/newpage/boletim/cursos_por_região.php. Acessado em 2006. 15 Durli (2006) destaca que os cursos citados (Quadro 01) são realizados em modalidades diversas, tais como: aulas em final de semana, modalidade de férias, modalidade mista (aulas concentradas em finais de semanas e alguns períodos de férias), aulas em alguns dias da semana no período noturno, e eventualmente aos sábados. Os dados já referidos permitiram também constatar que 08 cursos estão autorizados a oferecer a habilitação em educação infantil, 20 a habilitação para docência nos anos iniciais do ensino fundamental, e 23 as duas habilitações (educação infantil e séries ou anos iniciais), 02 oferecem a licenciatura de disciplinas de ensino médio e docência na educação infantil e anos iniciais. Ainda, 13 dos cursos não trazem a especificidade da habilitação, 01 oferece habilitação em Educação Especial e 01 traz uma habilitação denominada “Espaços Múltiplos”. O Estágio Supervisionado caracterizou-se por muito tempo como a única disciplina de Prática de Ensino na formação dos futuros professores nos cursos de licenciatura e, em especial, no curso de Pedagogia. Porém, a legislação da última década introduziu novas formas de conceber a prática de ensino no curso, considerando a necessidade de maior integração entre teoria-prática na formação inicial do pedagogo. Neste sentido, obriga a inserção de práticas desde o início do curso, mobilizando e articulando diferentes conhecimentos e experiências. Sabe-se, no entanto, que mesmo com a nova legislação e inserção de práticas ao longo do curso, continua importante o papel do Estágio Supervisionado na formação dos futuros professores. Entende-se, assim, que um melhor conhecimento a respeito deste componente curricular e da sua organização pode auxiliar na melhoria da sua oferta. Cabe lembrar que a recente normatização aprovada para a orientação dos cursos de Pedagogia, isto é, as diretrizes curriculares para este curso — Resolução nº.1, de 15 de maio de 2006, do Conselho Nacional de Educação — estabeleceu obrigatoriamente para todas as instituições a necessidade urgente de rever o seu Projeto Político-Pedagógico e, conseqüentemente, seu currículo de formação. Este estudo poderá auxiliar na discussão acerca do estabelecimento de novos processos de formação. A minha trajetória profissional na docência em disciplinas de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado constitui-se em fator importante para a escolha da temática desta dissertação. Na década de 1980 assumi as disciplinas de Didática, Prática de Ensino e Estágio Supervisionado no curso de nível médio (magistério) de uma escola particular, posteriormente estatizada. Este curso formava docentes para a educação infantil e anos iniciais do ensino 16 fundamental, atendendo a demanda de vários municípios da região do meio-oeste de Santa Catarina, dentre eles Capinzal, Ouro, Lacerdópolis, Zortéa, Piratuba e Ipira. Afastei-me desta função no ano de 1997. A partir do ano 2000, porém, passei a exercêla no ensino superior, no curso de Pedagogia da Universidade do Oeste de Santa Catarina UNOESC, campus de Joaçaba e, posteriormente, no campus aproximado de Capinzal. Durante este percurso, muitas situações me levavam a questionar esta disciplina e a desejar cada vez mais a realização de um trabalho de estágio que trouxesse benefícios tanto para a instituição formadora como para a escola que constituía o campo de prática. Ainda, uma prática que promovesse a produção de conhecimentos e possibilitasse ao acadêmico/estagiário uma formação mais comprometida com a aprendizagem dos alunos. Era constante o questionamento acerca da possibilidade de organizar o processo de estágio de forma que ele atendesse as reais necessidades de formação dos alunos estagiários e, ao mesmo tempo, do processo ensino-aprendizagem da escola. Estes questionamentos trouxeram a preocupação com as formas de regulamentação e organização dos estágios, a carga horária referente ao estágio, o turno de sua realização, o número de estagiários que permite um bom acompanhamento e controle por parte do professor orientador, e outras questões de planejamento. Ao realizar o curso de mestrado em educação, surgiu a oportunidade de contextualizar o Estágio Supervisionado no percurso de formação de professores no Brasil, sua legislação e aspectos conceituais, assim como, averiguar em instituições de Ensino Superior do Estado de Santa Catarina as formas de condução do estágio, focalizando suas principais características. Foi delimitado como período de investigação os anos que sucederam a homologação da última Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN/96), período no qual novas legislações para a formação de professores foram sendo incorporadas pelas instituições, tais como o Parecer no CNE/CP 009/2001 que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Período posterior também ao Parecer no CNE/CP 21/2001, aprovado em 06/08/2001, que trata da duração e da carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível Superior, curso de licenciatura, de graduação plena; o Parecer no CNE/CP 27/2001, aprovado em 02/10/2001, dá nova redação ao item 3,6, alínea c, do Parecer CNE/CP 009/2001, que dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena; o Parecer no CNE/CP 28/2001, aprovado em 02/10/2001, dá nova redação ao Parecer CNE/CP 21/2001 que estabelece a duração e a carga horária dos cursos de Formação de Professores da 17 Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena; a Resolução CNE/CP 01/2002, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, em cursos de licenciatura de graduação plena; e a Resolução CNE/CP 02/2002, institui a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível Superior. Para dar conta do objeto desta pesquisa foram delineados os seguintes objetivos específicos: a) contextualizar o Estágio Supervisionado no processo de formação inicial de professores, sob o ponto de vista da legislação estabelecida; b) detectar na literatura a respeito do tema estudos já realizados buscando concepções sobre o Estágio Supervisionado presentes nas últimas décadas na formação dos professores no Brasil; c) estabelecer um marco teórico crítico para a análise do Estágio Supervisionado; d) analisar, em diferentes situações de oferta de cursos presenciais de Pedagogia, as propostas de Estágio Supervisionado: suas características gerais, didático-pedagógicas e suas características frente ao marco teórico crítico. Conforme já mencionado, os últimos anos foram marcados por inúmeras alterações legais e curriculares no campo educacional, destacando-se leis, resoluções, pareceres e diretrizes curriculares nacionais. Embora só mais recentemente tenham sido aprovadas as diretrizes que estruturam o curso de Pedagogia no Brasil (BRASIL, 2006), diversas alterações anteriores desencadearam mudanças nas instituições de ensino superior, determinando aos coordenadores, aos docentes do curso de Pedagogia e aos professores da disciplina de Estágio Supervisionado novas formas de trabalho coerentes com as legislações e com o processo ensino-aprendizagem. Os principais documentos referenciados nesta pesquisa, e que abordam aspectos sobre o Estágio Supervisionado em cursos de formação docente, encontram-se referenciados no Quadro 02, apresentado a seguir. A análise dos documentos busca estabelecer relações que possibilitem a compreensão das mudanças legais que vêm sendo implementadas. 18 Quadro 02 – Relação das fontes documentais da pesquisa de origem governamental Ordem Documentos DOC. 01 Parecer CFE 292/62 de 14.11.62 DOC. 02 Lei nº. 5.540/68 DOC. 03 Parecer 252/69 DOC. 04 Resolução 2/69 DOC. 05 Parecer 672/69 DOC. 06 Resolução 9/69 DOC. 07 Lei nº. 5.692/71 DOC. 08 Parecer nº. 349/71 DOC. 09 Parecer 867/72 DOC. 10 Lei nº. 9.394/96 DOC. 11 Parecer CNE/CP nº. 9/2001 DOC. 12 Parecer CNE/CP 21/2001 DOC. 13 Parecer CNE/CP 27/2001 DOC. 14 Parecer CNE/CP 28/2001 DOC. 15 Resolução CNE/CP nº. 1/2002 DOC. 16 Resolução CNE/CP nº. 2/2002 DOC. 17 Resolução CNE/CP nº. 5/2005 DOC. 18 Resolução CNE/CP nº. 1/2006 Fonte: Dados organizados pela autora. Quadro 03 – Relação dos documentos produzidos por Comissões e/ou instituições DOC. 01 Proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia elaborada pela Comissão de especialistas de Ensino de Pedagogia em 1999 DOC. 02 Projeto de reformulação do curso de Pedagogia – Universidade do Contestado – UNC – Licenciatura – Habilitação Anos iniciais do ensino fundamental. DOC. 03 Projeto de reformulação do curso de Pedagogia – Universidade do Contestado – UNC – Habilitação em Educação Infantil DOC. 04 Regulamento do estágio curricular supervisionado (Pesquisa e prática docente) DOC. 05 Projeto Político Pedagógico – Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE - Departamento de Pedagogia. DOC. 06 Regulamento do Estágio Supervisionado – Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE DOC. 07 Projeto Pedagógico – Curso de Pedagogia – Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. DOC. 08 Manual de procedimentos dos estágios curriculares do Curso de Pedagogia – Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. Fonte: Dados organizados pela autora. 19 Além da revisão de literatura e dos documentos mencionados acima, foram analisados os Projetos Político-Pedagógicos e Manuais de Estágio dos três cursos de Pedagogia selecionados para a investigação. Todos eles foram elaborados e aprovados anteriormente à resolução CNE/CP nº. 1/2006, isto é, anteriores a nova regulamentação dos estágios. Tais documentos representam o mapa das intenções das instituições, constituindo-se em produto/processo significativo para as análises pretendidas. A realização de um estudo empírico em três instituições de ensino superior, com oferta de cursos em regimes ou situações diferenciadas de ensino presencial, tem apenas a pretensão de levantar de forma exploratória as características dos estágios nestes cursos para a obtenção de informações iniciais sobre a sua operacionalização. Caso seja verificada efetiva diferenciação nesta operacionalização, novos estudos poderão ser recomendados. Das instituições apresentadas no Quadro 01, após uma consulta inicial a diversas coordenações de cursos, optou-se pela realização do estudo em três delas, considerando efetivamente uma maior facilidade na obtenção das informações em relação aos cursos e, naturalmente, o fato de apresentarem cursos com regime de oferta diferenciados. Ratifica-se, então, que o estudo empírico investigou os Estágios Supervisionados de cursos de Pedagogia oferecidos apenas na modalidade presencial, e que foram escolhidos os cursos com regime de oferta regular em turnos matutino, regular noturno e em regime de oferta especial de finais de semana e férias. Quadro 04 – Instituições pesquisadas, integradas ao Sistema ACAFE: Instituição UNIVILLE UNC UNOESC Regime de oferta Regime Regular Regime Especial Turno Diurno Noturno Diurno de finais de semana e semanas intensivas de férias ou recessos Fonte: Dados organizados pela autora. Para interpretar os dados coletados nos Projetos Político-Pedagógicos destes cursos foram selecionados alguns aspectos relevantes para atender aos objetivos da pesquisa: a) concepção de estágio; b) organização e operacionalização dos estágios supervisionados; e c) estruturação didático-metodológica dos estágios supervisionados. A partir da categorização inicial que emergiu dos estudos conceituais a respeito da prática pedagógica nos cursos de formação, foram analisados os dados coletados buscando interpretações e explicações que pudessem responder às questões que motivaram a investigação. 20 No quadro a seguir indicam-se as categorias de análise e seus desdobramentos em subcategorias: Quadro 05 – Categorias e subcategorias de análise da pesquisa Categorias 1. Concepção de estágio Subcategorias a) Concepção de Estágio. b) Concepção de campo de estágio. c) Relação teoria e prática na matriz curricular. d) Concepção de estágio como um campo de investigação da realidade visando ação-reflexãoação através da iniciação científica (pesquisa). 2. Organização e operacionalização dos estágios a) Carga horária dos estágios. supervisionados. b) Aproveitamento e/ou validação de experiência profissional. 3. Estruturação didático-metodológica dos estágios a) Orientação e/ou supervisão de estágios. supervisionados b) Projetos de estágios c) Relatórios de estágios d) Socialização das experiências de estágios e) Avaliação dos estágios Fonte: Dados organizados pela autora. Ressalta-se então, que a intenção desta análise é constatar como se realizam os Estágios Supervisionados em cada uma das instituições, seus alcances e suas dificuldades de acordo com as categorias de análise. Para tanto, a presente dissertação está organizada em três partes. Na primeira parte apresenta-se a contextualização legal do Estágio Supervisionado trazendo as normatizações anteriores e posteriores a 1996, analisando as mudanças que foram ocorrendo e as suas implicações no contexto de uma necessária articulação entre teoria e prática. Na segunda parte do estudo são abordadas diversas concepções de Estágio Supervisionado no processo de formação dos professores no Brasil. São apresentados também os principais problemas apontados pela literatura educacional a respeito desta disciplina formativa. Em seguida, destaca-se uma abordagem teórica acerca do papel do Estágio Supervisionado na formação dos profissionais da educação, enfatizando a centralidade da relação entre teoria e prática que permeia o seu desenvolvimento. Na terceira parte da dissertação apresenta-se o estudo empírico a partir da contextualização dos cursos de Pedagogia no estado de Santa Catarina. São caracterizados os Estágios selecionados para o estudo em três IES por meio da apreciação dos Projetos PolíticoPedagógicos e Manuais de Estágio das instituições pesquisadas. A sua organização e o seu funcionamento são analisados tomando como referência as categorias de análise já apresentadas. 21 Espera-se que este estudo colabore no processo de reflexão sobre a prática de ensino e o Estágio Supervisionado, tema que hoje adquiriu centralidade nas discussões vinculadas ao percurso formativo dos professores. 22 CAPITULO I O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DO PEDAGOGO: UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO É importante contextualizar o Estágio Supervisionado como componente curricular nos cursos de formação de professores, particularmente seu papel nos cursos de Pedagogia. Este capítulo se inicia com algumas referências à trajetória deste curso para, em seguida, apresentar uma análise de documentos legais que regulamentaram o Estágio Supervisionado na formação de professores, em período anterior e posterior à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB/1996), atualmente em vigor. Esta linha divisória deve-se ao fato de se considerar que mudanças significativas relacionadas às políticas educacionais no país ocorreram com a promulgação da nova lei. 1.1 A formação do pedagogo no país O curso de Pedagogia foi regulamentado pela primeira vez no Brasil por meio do Decreto-lei nº.1.190/1939, que o definiu como o lugar de formação de “técnicos em educação”. Naquele momento, estes técnicos eram professores primários que cursavam estudos superiores em Pedagogia para posteriormente assumirem as funções de administradores, orientadores e inspetores no Ministério da Educação nos estados e municípios. O artigo 1º deste Decreto-lei, de acordo com Barreiro e Gebran (2006, p.40) aponta que as finalidades do curso eram: a) preparar trabalhadores intelectuais para o exercício das altas atividades culturais de ordem desinteressada ou técnica; b) preparar candidatos ao magistério do ensino secundário e normal; c) realizar pesquisas nos vários domínios da cultura que constituam objeto de seu ensino. 23 Criado no interior da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, o curso tinha a possibilidade de formar bacharéis e licenciados a partir de uma organização curricular representada pelo “esquema 3+1”. Este “esquema” compreendia três anos de formação específica em determinada área de conteúdo (bacharelado) e um ano de formação no curso de didática (licenciatura). A licenciatura habilitava o pedagogo para atuar como professor nas escolas normais que formavam os professores para a escola primária. Segundo Brzezinski (apud LEHMKUHLN, 2000, p.82) o curso “se aprofundava em generalidades sobre as ciências auxiliares da Educação”. Questões específicas do campo da educação o formando somente veria no quarto ano de estudo. Deste ano de curso faziam parte a Didática Geral, Didática Especial, Psicologia Educacional, Administração Escolar, Fundamentos Biológicos da Educação e Fundamentos Sociológicos da Educação. A criação do curso de Pedagogia deu-se num momento no qual a formação de professores passou a constituir-se em campo de destacada preocupação, pois representava uma base estratégica para a implementação do ideal republicano de educação. A educação primária estava entregue exclusivamente às unidades federadas, situação que se modificou apenas após a “revolução de 1930”, quando houve empenho do governo federal na tentativa de diminuir as influências das oligarquias locais nesse campo, extremamente conservadoras. O curso de Pedagogia organizou-se, portanto, academicamente por analogia às outras licenciaturas. A maior parte do curso destinava-se a formação do bacharel e apenas o ano final para a formação do professor, dicotomizando-as e oferecendo maior prestígio acadêmico e social ao bacharelado. Durli (2006, p.2) afirma que: (...) a definição das funções e especificidades dos bacharéis formados em Pedagogia era bastante fluida e indefinida tanto em termos de legislação quanto no que se refere ao campo de atuação. A licenciatura formava para atuação nos cursos normais de nível médio. Estudos sobre o curso no Brasil, como os de Silva (2003), Brzezinski (2004), Saviani (2006) e Caimi (2002), têm indicado uma série de conseqüências geradas pelo processo de definição da identidade deste curso. Até 1968, ano em que foi aprovada a lei nº. 5.540 da reforma do ensino superior, o curso de Pedagogia ficou vinculado à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. A partir desta lei é reconhecido o espaço institucional próprio para as ciências da educação no interior das universidades ao colocar-se sob a responsabilidade de uma Faculdade de Educação e dos seus 24 departamentos a formação dos educadores, articulada a outras unidades universitárias responsáveis pela formação nos conteúdos específicos das diversas licenciaturas. Logo após, no ano de 1969, pelo parecer do Conselho Federal de Educação nº. 252/69, o curso de Pedagogia sofreu significativa reformulação ao ser fracionado em habilitações: para a formação de especialistas, as habilitações técnicas; para a atuação no curso normal, a habilitação magistério de 2ª grau. A partir de então, o currículo mínimo do curso passou a ser constituído por uma parte comum e outra diversificada. Ainda, a partir da Lei 5.540/68 passaram a existir licenciaturas de curta e longa duração, habilitando para o exercício nos diferentes graus (1º grau ou 2 º grau). Segundo Brzezinski (2004), esta legislação, ao institucionalizar as habilitações técnicas, de Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão Escolar, Inspeção Escolar e Planejamento Escolar, determinou fortemente a identidade do pedagogo como um especialista, embora tenha se reconhecido também o direito dos seus diplomados exercerem o magistério primário. Cabe registrar, porém, que para o exercício das habilitações técnicas (dos especialistas) nas escolas ainda era exigida a experiência docente, o que quase determinava que os alunos do curso fossem professores em exercício, egressos dos cursos normais de nível médio. Ao privilegiar a formação do técnico/especialista para atuar nas escolas do ensino básico, relegando ao segundo plano a formação para o magistério das matérias pedagógicas de nível médio, o curso de Pedagogia atribuiu uma identidade ao pedagogo até hoje considerada por muitos setores como a sua identidade (SCHEIBE, 2006). O pedagogo passou a ser o profissional habilitado para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional escolar. Novas indicações para o curso chegaram a ser aprovadas pelo CFE (Conselho Federal de Educação) em anos posteriores para dar-lhe a possibilidade de organização de habilitações polivalentes e ainda a de formação de um “pedagogo em geral”. Estas indicações, porém, foram sustadas pelo Ministério de Educação e não entraram em vigor. A identidade estabelecida para o curso foi questionada particularmente após o ano de 1978. Criou-se neste ano o Comitê Pró-Formação do Educador, depois transformado em Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação do Educador (CONARCFE), que em 1990 deu origem à Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE). Os educadores mobilizados neste processo promoveram amplos debates e estudos sobre a questão da identidade do curso com o apoio das instituições 25 universitárias e também com a participação de outras associações científicas educacionais. A “docência como base” (ANFOPE, 2002) se sobressaiu como princípio orientador da formação do pedagogo, uma espécie de bandeira de luta para a reformulação dos cursos negando a concepção então vigente na qual a formação do pedagogo, além dos conhecimentos gerais sobre as ciências da educação, envolvia um preparo técnico específico para as funções de administração, supervisão, e orientação. Como conseqüência deste movimento, já em meados da década de 1980, algumas faculdades de educação passaram a investir num currículo centrado na formação de professores para as séries iniciais do ensino fundamental. Os cursos de Pedagogia existentes no país diferenciaram-se substantivamente a partir de então. Alguns permaneceram fiéis ao parecer CFE nº. 252/1969, formando profissionais licenciados para o exercício da docência das disciplinas pedagógicas nos cursos de magistério em nível médio e os profissionais licenciados conhecidos como especialistas. Outros, por sua vez, renovaram os seus currículos para oferecer a base docente vinculada ao exercício do magistério nos anos iniciais do ensino fundamental e, em alguns casos, na educação infantil e para o magistério das disciplinas pedagógicas do nível médio. Foi este o cenário que estava presente em 1996, quando aprovada a nova Lei de Diretrizes e Bases. No período que compreende os anos de 1939 até 2006, portanto, houve uma inversão nas características do curso de Pedagogia. De um curso mais centrado na formação de especialistas em educação e na titulação de bacharéis, passou paulatinamente a voltar-se mais para a formação para o magistério e titulação de licenciados. A base de formação do pedagogo caracterizada pelo bacharelado inverteu-se, configurando-se a partir da homologação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia, aprovadas em 2006, numa formação centrada na licenciatura, na preparação para as atividades do magistério na educação básica. 1.2 O Estágio Supervisionado como componente curricular da formação dos professores O Estágio Supervisionado tem sido um importante componente curricular dos cursos de formação de profissionais da educação. Integra o processo formativo do educando, futuro professor. Desta forma, seu campo de atuação é também objeto de análise, investigação, interpretação crítica. Segundo Pimenta e Lima (2004, p.24), o Estágio Curricular “é campo de 26 conhecimento” e para investigar a importância deste componente curricular no curso de formação de professores, neste trabalho utilizar-se-á aspectos das legislações anteriores e posteriores a 1996. Focalizando especificamente o Estágio Supervisionado em cursos de formação de profissionais da educação no Brasil, encontra-se a primeira referência normativa, segundo Pimenta (2001), em um relatório do INEP de 1955, apresentado na “Conferência das Escolas para a Compreensão Internacional”. Tal documento sugeria o equilíbrio entre teoria e prática em cursos de formação. Neste relatório constavam também as idéias de que a prática deveria antecipar as dificuldades a serem encontradas pelo futuro professor e as aulas precisariam ser precedidas de debates, assim como, discutidas em seu término, buscando ajudar os alunos a adquirirem um senso de cooperação e interesse, sem ansiedades. Mas é apenas no Parecer nº. 292/62 do Conselho Federal de Educação que se encontra a primeira determinação a respeito do estágio. Este parecer determinou que a carga-horária das matérias de formação pedagógica deveria ser acrescida à formação daqueles que quisessem ir além do bacharelado. Tal carga horária deveria ser de, no mínimo, 1/8 do tempo dos respectivos cursos, então escalonados em oito semestres letivos e seriados. Estabeleceu ainda, como disciplinas obrigatórias para o curso de Pedagogia e todas as licenciaturas, a Psicologia da Educação, elementos de Administração Escolar, Didática e Prática de Ensino, esta última em forma de Estágio Supervisionado. Pimenta (2001) indica também que no ano de 1962 havia a proposta de Estágio Supervisionado em situações reais nas escolas para todos os cursos de licenciatura. Silva (2003) afirma que o Estágio Supervisionado passa a ser mencionado na organização curricular dos cursos de Pedagogia no Brasil a partir do parecer do CFE nº. 252/69, que propôs a inclusão das disciplinas de metodologia de ensino com Estágio Supervisionado, permitindo ao licenciado lecionar para crianças do curso primário. A finalidade do curso de Pedagogia, pelo Parecer, era a de preparar profissionais da educação com uma duração mínima de 2.200 horas, distribuídas em, no mínimo três, e no máximo sete anos letivos. Fávero (2006, p. 63-4), realizando estudos das legislações que abordavam a relação entre a teoria e a prática nos cursos de formação docente, também cita o parecer do CFE nº. 252/69. Considera que, embora legalmente o estágio seja apresentado como elemento integrador entre teoria e prática, na realidade ele continuava sendo um mecanismo de ajuste, na busca de solucionar ou acobertar a defasagem existente entre os elementos teóricos e trabalhos práticos. 27 Tal parecer abolia a distinção entre o bacharel e o licenciado em Pedagogia. O título passava a ser único — o de licenciado — para qualquer habilitação sob o argumento de que "os portadores do diploma de Pedagogia, em princípio, sempre devam, (sic) ser professores do ensino normal” (FÁVERO, 2006, p.64). Desta forma, incluiu a Didática como matéria obrigatória do currículo, e concedeu os seguintes direitos de exercício profissional aos portadores do diploma de Pedagogia: a) "O exercício das atividades relativas às habilitações registradas em cada caso"; b) "o exercício de magistério, no ensino normal, das disciplinas correspondentes às habilitações específicas e à parte comum do curso...", quando este for de duração plena e "observados os limites estabelecidos para efeito de registro profissional"; c) o exercício do magistério na escola primária, nas condições descritas. A Resolução nº. 2 de 1969 incorporou este parecer tornando o Estágio Supervisionado uma experiência a partir da qual o futuro professor deveria necessariamente possuir alguma vivência da especialidade escolhida com carga-horária de, no mínimo, 5% de duração do curso. Brzezinski (2004) afirma que a citada resolução tornava obrigatório o Estágio Supervisionado nas áreas correspondentes das habilitações, salientado que para o registro de diploma de especialista haveria necessidade de comprovação de no mínimo um ano de exercício do magistério. Este fato gerou contradições, dificultando o acesso de alunos que não exerciam a profissão. Por esta razão, de forma gradativa, as instituições passaram a reconhecer como exercício de magistério o próprio estágio das disciplinas pedagógicas, feito durante o curso, ou a monitoria de disciplina realizada. O Parecer nº. 672/1969 e a Resolução 9/1969 preceituam o mínimo de conteúdos e duração para a formação pedagógica de todas as licenciaturas atribuídas à educação. No entanto, a segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei nº. 5.692 de 20 de dezembro de 1971, conforme Pimenta (apud RODRIGUES, 2005, p.55), (...) deu ‘novo’ aspecto formal aos cursos de formação de professores, sem lhes alterar substancialmente os conteúdos, isto é, sem direcioná-los para as reais necessidades de se formar um professor capaz de ensinar de modo que os alunos das camadas pobres com acesso (ainda parcial) à escola aprendam. A nova estrutura foi definida nos artigos 29 e 30 da lei prevendo que, Art. 29 - A formação de professores e especialistas para o ensino de 1º e 2º graus será feita em níveis que se elevem progressivamente, ajustando-se as diferenças culturais de cada região do país, e com orientação que atenda aos objetivos específicos de cada grau, às características das disciplinas, áreas de estudo ou atividades e às fases de desenvolvimento do educando. 28 Art. 30 - Exigir-se-á como formação mínima para o exercício do magistério: a - no ensino de 1º grau, da 1ª à 4ª séries, habilitação específica de 2º grau; b - no ensino de 1º grau, da 1ª à 8ª séries, habilitação específica de grau superior, ao nível de graduação, representada por licenciatura de 1º grau, obtida em curso de curta duração; c - em todo o ensino de 1º e 2º graus, habilitação específica obtida em curso superior de graduação correspondente a licenciatura plena. Além de organizar a formação de professores, a lei ainda estabeleceu critérios de profissionalização, garantindo a continuidade e terminalidade dos estudos e a regulamentação profissional, determinando a admissão por concursos públicos e critérios para a remuneração dos professores. Foram também definidas novas responsabilidades para especialistas e professores nas escolas de 1º e 2º graus, fazendo com que a formação do magistério também fosse repensada. A reforma proposta pela Lei nº. 5.692/71, segundo Barreiro e Gebran (2006, p.47) extinguia as Escolas Normais Ginasiais, restringindo a formação de professores para as séries iniciais no nível do então chamado 2º grau denominado de Habilitação Específica para o Magistério, que se apresentava apenas como mais uma dentre as diversas habilitações profissionalizantes implantadas no país. Em relação ao estágio, Pimenta (2001, p. 56) argumenta que de forma geral se mantinha (...) definido como o do (sic) antigo normal: observação, participação e regência. Dessa forma, surgem vários problemas: na maioria das vezes ele não é realizado; tem sido utilizado como desculpa para se fechar as habilitações do magistério noturnas, com o argumento de que o aluno desse turno não pode estagiar o que configura um processo de elitização do curso; tem sido interpretada como a “prática salvadora” onde tudo será aprendido. Em 1972, segundo Pimenta (2001, p.58), o Parecer nº. 349/72 indicou que “a prática de ensino deveria ser realizada nas próprias escolas da comunidade, sob forma de Estágio Supervisionado”, propondo que: Com relação à Prática de Ensino, o aluno – mestre, por meio de atividades diversas de observações diretas, compreenderá a estrutura, a organização e o funcionamento da escola de 1º grau e entrará em contato com seu futuro campo de trabalho. Deverá ainda, aprender técnicas exploratórias que lhe permitam identificar e dimensionar os recursos comunitários bem como estagiar em instituições que desenvolvam atividades relacionadas com sua futura habilitação. Poderá ser anterior, concomitante e posterior à didática, embora não haja dúvida de que a concomitância tem vantagens sobre as 29 outras duas, por manter praticamente indissociáveis a teoria e a prática, isto é, o que se deve fazer e o que realmente se faz. O parecer determinou um núcleo comum obrigatório em todos os cursos de “habilitação específica de 2º grau para o exercício de magistério” e uma parte diversificada, atendendo as necessidades específicas de cada estado ou região. Estes currículos deveriam oferecer ao futuro professor uma formação geral, possibilitando a aquisição de conteúdos indispensáveis ao exercício do magistério correlacionando as diversas disciplinas e assegurando o domínio de técnicas pedagógicas, e ainda permitindo e incentivando a continuidade dos estudos em nível superior. Prosseguindo a análise das legislações anteriores aos anos 1990, registra-se o Parecer nº. 867/72 do Conselho Federal da Educação de autoria do Professor Valnir Chagas, que determinava que os cursos de Pedagogia passassem a assumir também a formação de professores para o magistério de primeiro grau, séries iniciais, propondo a inclusão de disciplinas de metodologia de primeiro grau, com Estágio Supervisionado. Tal Parecer determinou que a experiência do magistério a ser exigida fosse de duração "não inferior a um ano letivo, no caso de orientação educacional, e um semestre letivo nos demais casos", e devendo ser "anterior ao ingresso no curso ou à obtenção do diploma". Deixava em aberto o nível em que deveria ser obtida esta experiência no magistério, sendo disciplinada nos regimentos das próprias instituições. Neste momento de efervescência, educadores reuniam-se para debater em diferentes eventos como conferências, simpósios e congressos, os vários problemas educacionais do Brasil gerados pelo período militar. Entre inúmeras preocupações, conforme Pimenta (apud LEHMKULN, 2000, p.85), surgiu também o movimento de redefinição dos cursos de Pedagogia. Questionava-se a identidade do curso e do profissional pedagogo. Intensificaram-se as discussões que definiam o curso como lugar preferencial para a formação de docentes dos primeiros anos do ensino fundamental, assim como da educação infantil. Crescia o número de estudantes sem experiência docente e nenhuma formação exercendo o magistério, levando os cursos de Pedagogia e enfrentarem a problemática do equilíbrio entre formação e exercício profissional. Já nos anos 1980 ocorreram mudanças no cenário econômico e político do Brasil influenciando as discussões educacionais do momento. Brzezinski (1996, p.56) considera que estes movimentos provocaram um repensar sobre a educação através das chamadas “teorias 30 críticas”, buscando a superação da “esterilização intelectual” instalada pelas práticas tecnicistas. Mello (1999, p.01), por sua vez, reafirma que o Brasil deu passos muito significativos em relação a universalização do ensino fundamental investindo na melhoria da qualidade da aprendizagem, exigindo a qualificação dos profissionais da educação e o reconhecimento da importância da educação na sociedade. 1.3 A legislação da última década para a organização e realização dos estágios (1996 2006) A Lei nº. 9.394 (LDB/1996) trouxe aspectos importantes referentes a formação de profissionais para a educação básica, particularmente no que diz respeito a identidade do pedagogo. Em relação ao ensino superior, verificam-se algumas definições na lei, como o número de dias do ano letivo de trabalho acadêmico efetivo e as garantias que o estudante deve ter ao entrar em uma instituição de ensino superior, sobretudo a respeito dos seus direitos. O §1º do art. 47, prevê que as instituições informarão aos interessados, antes de cada período letivo, os programas dos cursos e demais componentes curriculares, sua duração, requisitos, qualificações dos professores, recursos disponíveis e critérios de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições. O § 2º prevê que os alunos que tenham extraordinário aproveitamento nos estudos comprovado por meio de provas e outros instrumentos de avaliação específicos, aplicados por banca examinadora especial, poderão ter abreviada a duração dos seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino. No § 4º a lei afirma que as instituições de educação superior oferecerão, no período noturno, cursos de graduação nos mesmos padrões de qualidade mantidos no período diurno, sendo obrigatória a oferta noturna nas instituições públicas, garantida a necessária previsão orçamentária. Há também pontos relativos à autonomia universitária. Assim, diz o Art. 53, incisos I e II: No exercício de sua autonomia, são asseguradas às universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes atribuições I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e programas de educação superior previstos nesta Lei, obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do respectivo sistema de ensino; II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, 31 observadas as diretrizes gerais pertinentes. Assim, fica claro que as instituições de ensino superior, respeitadas as normas gerais previstas no art. 9º, inciso VII, deverão fixar os currículos de seus cursos e programas. O art. 82 da lei afirma que os sistemas de ensino estabelecerão as normas para realização dos estágios dos alunos regularmente matriculados no ensino médio ou superior em sua jurisdição. No parágrafo único lê-se que: “O estágio realizado nas condições deste artigo não estabelece vínculo empregatício, podendo o estagiário receber bolsa de estágio, estar segurado contra acidentes e ter cobertura previdenciária prevista na legislação específica”. Dando prosseguimento ao histórico, torna-se essencial referenciar que em 06 de maio de 1999, a Comissão de Especialistas de Ensino de Pedagogia apresentou uma proposta de Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia à SESU/MEC e à comunidade acadêmica, expressando a discussão nacional dos educadores. Este documento não foi apreciado pelo Conselho Nacional de Educação, mas serviu de referência para o curso sendo que nas diretrizes aprovadas mais recentemente encontra-se grande parte de suas abordagens. A proposta defendia o curso como uma formação integrada (licenciatura e bacharelado), tendo a docência como base para a atuação profissional do pedagogo. A docência abrangeria como campo de atuação a educação infantil, os anos iniciais do ensino fundamental e as disciplinas de formação pedagógica do nível médio. O pedagogo ainda poderia atuar na organização de sistemas, unidades, projetos e experiências educacionais escolares e não-escolares com foco na gestão, na produção e difusão do conhecimento e nas áreas emergentes do campo educacional. Para a duração do curso, a proposta estabelecia uma carga horária de 200 dias letivos, com 4 horas diárias, durante 4 anos, totalizando 3.200 horas, dentre as quais 2.560 horas de atividades didáticas obrigatórias e optativas, e 640 horas de estudos independentes e trabalho de conclusão de curso. O Estágio Supervisionado estava previsto para ocorrer em 300 horas e deveria acontecer prioritariamente em classes de educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, podendo ainda credenciar o pedagogo para áreas específicas como a educação especial, a educação de jovens e adultos, a educação indígena, a educação ambiental. A prática de ensino, na proposta da Comissão de Especialistas de Ensino (1999) foi visualizada através de três modalidades de articulação teoria-prática: a) como instrumento de integração e conhecimento do aluno com a realidade social, econômica e do trabalho de sua área/curso, a ser desenvolvido ao longo do curso; b) como instrumento de iniciação à pesquisa e ao ensino; c) e como instrumento de iniciação profissional, em Estágio Supervisionado. Ressalta-se novamente que essa proposta não foi homologada, mas expressava certo consenso 32 a respeito do curso, e passou a servir de base para a organização de uma grande quantidade de cursos. Em 08 de maio de 2001, foi homologado o Parecer CNE/CNP nº. 9/2001 definindo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, para licenciaturas de graduação plena. A legislação trazia a previsão de que os cursos de formação de professores em nível superior teriam a sua duração definida pelo Conselho Pleno, em parecer e resolução específicos sobre sua carga-horária. A prática de ensino, com esta normatização, deveria ocorrer ao longo do curso de formação, desde o primeiro ano. Tal decisão pode ter ocorrido pela insistente crítica que vinha sendo feita a respeito desta prática ter se constituído apenas como um momento pontual no final do curso. Salientou-se a idéia de que a prática deveria estar presente ao longo do curso como uma ação integrada e não apenas no Estágio Supervisionado. Segundo o Parecer CNE/CNP nº. 9/2001, os cursos de formação de professores existentes até então tinham uma concepção que fragmentava o curso em dois extremos isolados: o trabalho na sala de aula e as atividades de estágio. O primeiro pólo supervalorizando os conhecimentos teóricos, acadêmicos, desprezando as práticas como importante fonte de conteúdos da formação; o segundo, supervalorizando o fazer pedagógico, desprezando a dimensão teórica dos conhecimentos como instrumento de seleção e análise contextual das práticas. Este parecer prescrevia, portanto, uma concepção de prática de ensino articulada a uma dimensão do conhecimento que tanto está presente nas aulas de formação, nos momentos em que se trabalha a reflexão sobre a atividade profissional, como durante o estágio, nos momentos em que se exercita a atividade profissional. O parecer propõe que as instituições formadoras devem conhecer as demandas sociais e buscar atendê-las e que os futuros licenciados devem, necessariamente, familiarizar-se com as propostas tais como os parâmetros curriculares nacionais, referenciais curriculares nacionais ou propostas estaduais. O planejamento e a execução das práticas no estágio, diz o parecer, devem estar apoiados nas reflexões desenvolvidas nos cursos de formação. A avaliação da prática, por outro lado, constitui momento privilegiado para uma visão crítica da teoria e da estrutura curricular do curso. Trata-se, assim, de tarefa para toda a equipe de formadores e não apenas para o “supervisor de estágio”. Outro aspecto abordado no Parecer nº. 9/2001, refere-se a organização do tempo dos estágios, geralmente curtos e pontuais. É muito diferente observar um dia de aula numa classe 33 uma vez por semana, por exemplo, e poder acompanhar a rotina do trabalho pedagógico durante um período contínuo e pode ver o desenvolvimento das propostas, a dinâmica do grupo e da própria escola, e outros aspectos não observáveis em estágios pontuais. Além disso, alerta o parecer, é completamente inadequado que a ida dos futuros pedagogos às escolas aconteça somente na etapa final de sua formação, pois isso não possibilita que haja tempo suficiente para abordar as diferentes dimensões do trabalho do professor, nem permite um processo progressivo de aprendizado. A idéia a ser superada, enfim, é a de que o estágio é o único espaço reservado a prática, enquanto, na sala de aula se dá conta da teoria. Considera-se, portanto, no Parecer, o Estágio Curricular Supervisionado como o tempo de aprendizagem que, através de um período de permanência, alguém se demora em algum lugar ou ofício para aprender a prática e depois poder exercer uma profissão ou ofício. Assim, o mesmo supõe uma relação pedagógica entre alguém que já é um profissional reconhecido em um ambiente institucional de trabalho e um aluno estagiário. Por isso é que este momento se chama Estágio Curricular Supervisionado: é o período de efetivar, sob a supervisão de um profissional experiente, um processo de ensino-aprendizagem que se tornará concreto e autônomo quando da profissionalização deste estagiário. Há, no documento, um posicionamento que afirma que em tempo e espaço curricular específicos a coordenação da dimensão prática transcenderá o estágio e terá como finalidade promover a articulação das diferentes práticas, numa perspectiva interdisciplinar. Prevê, ainda, que a prática seja desenvolvida com ênfase nos procedimentos de observação e reflexão, visando a atuação em situações contextualizadas com o registro dessas observações realizadas e a resolução de situações-problema. A presença da prática profissional na formação do professor, que não prescinde da observação e ação direta, poderá ser enriquecida com tecnologias da informação, incluídos o computador e o vídeo, narrativas orais e escritas de professores, produções de alunos, situações simuladoras e estudo de casos. O estágio obrigatório, a ser realizado em escola de educação básica, e respeitado o regime de colaboração entre os sistemas de ensino, deve ter início desde o primeiro ano e ser avaliado conjuntamente pela escola formadora e a escola campo de estágio. Assim, sugere-se que a prática apresente uma dimensão investigativa que permita a (re)criação do conhecimento. Este processo permitiria a compreensão da processualidade da produção e apropriação de conhecimento, bem como do caráter provisório das verdades científicas. É imprescindível que haja coerência entre a formação oferecida e a prática do futuro professor, possibilitando que este vivencie atitudes, modelos e modos de organização da instituição. 34 Torna-se essencial, portanto, que os futuros professores possam exercitar sua autonomia profissional e intelectual e seu senso de responsabilidade pessoal e coletiva. Este fato requer uma convivência maior no interior das instituições e destas com o ambiente educacional, fazendo-o vivenciar situações reais, como a participação na construção do Projeto Político-Pedagógico da escola, nos planejamentos escolares, nas discussões sobre os saberes escolares e o currículo escolar. O estágio, portanto, deve ser vivenciado com tempo aceitável para abordar diferentes dimensões da atuação profissional, reservando um período final para docência compartilhada, preferencialmente, como assistente de professores mais experientes, sob supervisão. Sugere-se aqui a impossibilidade do estágio ficar sob a responsabilidade de um único professor da escola de formação, buscando o envolvimento e a ação coletiva do corpo docente. Posteriormente, o Parecer CNE/CP nº. 21/2001 de 08 de agosto de 2001 apresentou as orientações básicas para a duração e a carga-horária dos cursos de formação de professores da educação básica em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, atendendo todas as prerrogativas da Lei nº. 9.394/96 e do Parecer CNE/CP nº. 9/2001. Ele, porém, não foi homologado, pois apresentava uma polêmica proposta de 300 horas/aula para a prática de ensino. Em outubro de 2001, foi homologado o Parecer CNE/CP nº. 27/2001 que deu nova redação ao item 3.6, alínea c, do Parecer CNE/CP nº. 9/2001. A alteração basicamente envolveu a questão do Estágio Supervisionado, indicando que o mesmo deveria ser vivenciado durante o curso de formação e com tempo suficiente para abordar as diferentes dimensões de atuação profissional prevista no Projeto Político-Pedagógico. Há a indicação de que o Estágio seja desenvolvido a partir do início da segunda metade do curso e não mais desde o primeiro ano de formação. CNE/CP 27/2001 – HOMOLOGADO c) O estágio curricular supervisionado deve ser feito nas escolas de educação básica. O estágio obrigatório definido por lei deve ser vivenciado durante o curso de formação e com tempo suficiente para abordar as diferentes dimensões da atuação profissional. Deve, de acordo com o projeto pedagógico próprio, se desenvolver a partir do início da segunda metade do curso, reservando-se um período final para a docência compartilhada, sob a supervisão da escola de formação, preferencialmente na condição de assistente de professores experientes. Para tanto, é preciso que exista um projeto de estágio planejado e avaliado conjuntamente pela escola de formação inicial e as escolas campos de estágio, com objetivos e tarefas claras e que as duas instituições assumam responsabilidades e se auxiliem mutuamente, o que pressupõe relações formais entre instituições de ensino e unidades dos sistemas de ensino. Esses “tempos na escola” devem ser diferentes segundo os 35 objetivos de cada momento da formação. Sendo assim, o estágio não pode ficar sob a responsabilidade de um único professor da escola de formação, mas envolve necessariamente uma atuação coletiva dos formadores. O Parecer CNE/CP nº. 28/2001, aprovado em 02 de outubro de 2001, deu então nova redação ao Parecer CNE/CP 21/2001, estabelecendo a carga-horária dos cursos de formação de professores da educação básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. O Parecer aprovou o projeto de resolução que instituía a duração e a carga-horária, que deveriam ser efetivadas mediante integralização de, no mínimo, 2.800 horas, com 400 horas de prática de ensino, vivenciadas ao longo do curso, e 400 horas de Estágio Supervisionado, sob forma concentrada ao final do curso, assim como, 1.800 horas para conteúdos curriculares de atividades acadêmico-científico-culturais em sala de aula, e 200 horas para outras atividades. Segundo Barreiro e Gebran (2006, p.26), (...) ao estabelecer a duração e a carga horária dos cursos de formação de professores da educação básica, o parecer recoloca o estágio na pauta de discussões, tendo em vista o aumento do número de horas para sua realização. Se considerarmos, como objetivo central do estágio, levar o aluno a vivenciar a realidade educacional em que atuará, ele se afasta da concepção corrente – classificado como a parte prática do curso – na medida em que pressupõe uma investigação crítica dessa realidade. A Resolução CNE/CP nº. 1/2002 instituiu as diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores da educação básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena, constituindo um conjunto de princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na organização institucional e curricular de cada estabelecimento de ensino e aplicam-se a todas as etapas e modalidades da educação básica. Em seu artigo 3º, a resolução indica que a formação de professores para atuar nas diferentes etapas e modalidades da educação básica deverá observar os seguintes princípios norteadores: I - competências como concepção nuclear na organização do curso; II - a coerência entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro professor, tendo em vista: a) a simetria invertida, na qual o preparo do professor, por ocorrer em lugar similar àquele em que vai atuar, demanda consistência entre o que faz na formação e o que dele se espera; b) a aprendizagem como processo de construção de conhecimentos, habilidades e valores em interação com a realidade e com os demais indivíduos, no qual são colocadas em uso as capacidades pessoais; c) os conteúdos como meio e suporte para a constituição das competências; d) a avaliação como parte do processo de formação que possibilita o diagnóstico de lacunas e a aferição dos resultados alcançados, consideradas as competências a serem 36 constituídas e a identificação das mudanças de percurso necessárias; III - a pesquisa, com foco no processo de ensino e de aprendizagem, uma vez que ensinar requer tanto dispor de conhecimentos e mobilizá-los para a ação, como compreender o processo de construção do conhecimento. Considere-se primeiramente a relevância dada neste artigo às competências. Segundo Barreiro e Gebran (2006, p.72) “os argumentos e justificativas, constantes neste parecer, evidenciam uma concepção de competência em consonância com aquela divulgada pelos estudos de Philipe Perrenoud, apesar de não citá-lo”. Há muitas controvérsias sobre o uso deste termo. Estudiosos alertam sobre o fato de que ele se fundamenta numa proposta neoliberal e que apenas vem atender as necessidades sociais do contexto histórico. Salientam que a própria legislação ressalta que a aquisição de competências ocorrerá mediante uma ação teórico-prática articulada, superando a tradicional dicotomia entre essas duas dimensões. O segundo princípio da Resolução analisa que a formação do professor ocorre numa “simetria invertida”, reforçando a idéia da necessidade de coerência entre o que se faz na formação e o que se espera dele como profissional. Por esse motivo, “todos” os formadores dos futuros profissionais da educação devem conhecer a realidade e a necessidade da escola de educação básica, buscando coletivamente as melhores alternativas de melhoria da qualidade do processo educacional do país. Barreiro e Gebran (2006, p.74) questionam: (...) como exigir do professor da educação básica aquilo que ele não aprendeu no curso formador? Como esperar que tenham uma postura investigativa, fundamentada na pesquisa, com foco no processo de ensino e de aprendizagem? Não é possível querer que o professor tenha uma prática investigativa, se sua formação não priorizou a investigação baseada na análise, na reflexão, na crítica e em novas maneiras de educar. Ainda segundo as autoras, o terceiro princípio da legislação, que aborda a pesquisa como foco no processo de ensino e de aprendizagem, não significa necessariamente um cerceamento do docente em relação a pesquisa acadêmica ou científica, mas sim o acesso dos futuros professores aos métodos de investigação usados pelas ciências como uma das formas de investigar e compreender a realidade em que atuarão. Como princípio metodológico geral, a legislação sugere a homologia de processos, sugerindo a resolução de situações-problema como uma prática que deve permear todo o currículo. Palma Filho (apud BARREIRO e GEBRAN, 2006, p. 70), reconhece como mérito destas diretrizes a definição de “resolução de problemas como uma das estratégias” e discorda que a orientação seja fixada como norma geral obrigatória extensiva a todas as escolas do país. 37 Barreiro e Gebran (2006, p. 70), porém acreditam que “a normatização deste item é importante porque, mesmo não levando em conta as especificidades das escolas em diferentes regiões do país, ela faz com que os cursos formadores busquem construir e resolver, dentro de suas particularidades, situações-problema propiciadoras de reflexão” (Idem). Ainda, sugerem que a prática seja desenvolvida com ênfase nos procedimentos de observação e reflexão, visando a atuação em situações contextualizadas, com o registro dessas observações realizadas. O artigo 12 da Resolução CNE/CP nº. 1/2002 especifica que “os cursos de formação de professores em nível superior terão a sua duração definida pelo conselho pleno, em parecer e resolução específica sobre sua carga horária”. Atendendo ao que preceitua este artigo, em 19 de fevereiro foi aprovada a Resolução CNE/CP nº. 2/2002, que instituiu a duração e a carga-horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da educação básica em nível superior incluindo a educação infantil e séries iniciais. A resolução estabeleceu 2.800 horas a serem desenvolvidas no mínimo, em três anos letivos, sendo 800 horas de prática incluindo o Estágio Supervisionado e 200 horas de atividades complementares. Os princípios norteadores eram idênticos aos do Parecer 1/2002, assim como a previsão de duração do curso. Art. 1º A carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, será efetivada mediante a integralização de, no mínimo, 2800 (duas mil e oitocentas) horas, nas quais a articulação teoria-prática garanta, nos termos dos seus projetos pedagógicos, as seguintes dimensões dos componentes comuns: I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso; II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso; III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico - cultural; IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico – científico-culturais. Parágrafo único. Os alunos que exerçam atividade docente regular na educação básica poderão ter redução da carga horária do estágio curricular supervisionado até o máximo de 200 (duzentas) horas. Art. 2° A duração da carga horária prevista no Art. 1º desta Resolução, obedecidos os 200 (duzentos) dias letivos/ano dispostos na LDB, será integralizada em, no mínimo, 3 (três) anos letivos. Segundo Pimenta e Lima (2004, p.87) o estabelecimento e a distribuição de cargahorária para cada componente curricular indicariam uma proposta de fragmentação, provocando a perpetuação da dicotomia teoria e prática. Essas exigências, segundo as autoras, 38 prejudicariam uma possível flexibilização dos projetos, dificultando para a instituição formadora, a reestruturação dos cursos e a autonomia para inovação. Outro aspecto apontado pelas autoras refere-se ao fato de que “o estágio, conforme escrito nas resoluções, encontra-se separado tanto das atividades práticas quanto das denominadas científico-culturais. Portanto, nem prática, nem teoria; apenas treinamento de competências e aprendizagem de práticas modelares” (Idem). Torna-se importante ressaltar que os documentos em questão, segundo os autores, postulavam não apenas um professor-reflexivo, mas um professor-reflexivo-investigador. Assim, a pesquisa constituiria um saber profissional que supunha o conhecimento e a prática da investigação científica. Somente em 2005, no entanto, o Conselho Nacional de Educação aprovou o Parecer CNE/CP nº. 5/2005 (BRASIL, 2005) que deu base para a Resolução CNE/CP nº. 1/2006 (BRASIL, 2006) que instituiu as diretrizes curriculares nacionais para o curso de Pedagogia. Desta resolução, que hoje normatiza o curso, sobressai a idéia de que todo pedagogo é professor, com formação para o magistério na educação infantil ou nos anos iniciais do ensino fundamental. Os princípios norteadores apresentados são: docência como base da formação e a flexibilização do currículo. Este parecer ampliou a formação do pedagogo. Segundo Scheibe (2007), esta formação deve integrar docência, formação para a gestão e avaliação de sistemas e instituições de ensino em geral, para a elaboração, a execução, e acompanhamento de programas e atividades educativas. As funções estabelecidas para os egressos do curso de Pedagogia, descritas no Parecer CNE/CP nº. 5/2005, se aproximam daquelas reivindicadas pelo movimento dos educadores, sinalizando para um avanço no que se refere à superação da dicotomia entre licenciatura e bacharelado (SCHEIBE, 2007). Ao menos em tese, diz a autora, o documento indica que a formação no curso de Pedagogia é mais abrangente que aquela oferecida no curso Normal Superior. Significativamente, afirma Scheibe (2007), o parecer não se refere à formação do Pedagogo, mas sempre à formação do Licenciado em Pedagogia. O parecer em análise diz o seguinte: O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. As 39 atividades docentes também compreendem participação na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando: -planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor da Educação; - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas não-escolares; - produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e não-escolares. (BRASIL, 2005, p.7 8). A idéia de “núcleos de estudos” elaborada pela Comissão de Especialistas em 1999 é de certa forma retomada neste parecer, que coloca a seguinte orientação: A organização curricular do curso de Pedagogia oferecerá um núcleo de estudos básicos, um de aprofundamento e diversificação de estudos e outro de estudos integradores que propiciem, ao mesmo tempo, amplitude e identidade institucional, relativas à formação do licenciado. Compreenderá, além das aulas e dos estudos individuais e coletivos, práticas de trabalho pedagógico, as de monitoria, as de estágio curricular, as de pesquisa, as de extensão, as de participação em eventos e em outras atividades acadêmico-científicas, que alarguem as experiências dos estudantes e consolidem a sua formação. (BRASIL, 2005, p.11). A duração do curso de Pedagogia foi determinada para um mínimo de 3.200 horas, diferenciando-se do mínimo de 2.800 horas previstas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores em nível superior, cursos de licenciatura de graduação plena, conforme prescrito pelas Resoluções CNE/CP no 1/2002 e CNE/CP no 2/2002. A duração dos estudos e a divisão do tempo para as 3.200 horas ficou assim configurada: 2.800 horas dedicadas às atividades formativas (assistência às aulas, realização de seminários, participação e realização de pesquisas, consultas a bibliotecas e centros de documentação, visitas a instituições educacionais e culturais, atividades práticas, participação em grupos cooperativos de estudos); 300 horas de Estágio Supervisionado prioritariamente em Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, podendo também contemplar outras áreas específicas, conforme o projeto pedagógico da instituição; 100 horas de atividades teóricopráticas de aprofundamento em áreas do interesse dos alunos, por meio da iniciação científica, da extensão e da monitoria. (BRASIL, 2005, p. 15). Nesse sentido, foram extintas as habilitações. O curso de Pedagogia – Licenciatura –, na atualidade, deve formar integradamente para o conjunto das funções que lhe foram atribuídas. O Parecer CNE/CP 05/2005 sugere que cada curso, no seu projeto pedagógico, defina modalidades de ensino que proporcionem aprofundamento de estudos. Sugere, como 40 possibilidades, “a educação a distância, educação de pessoas com necessidades educacionais especiais, educação de pessoas jovens e adultas, educação étnico-racial, educação indígena, educação nos remanescentes de quilombos, educação do campo, educação hospitalar, educação prisional, educação comunitária ou popular” (BRASIL, 2005, p 10). A partir de então, a integralização dos estudos no curso de pedagogia envolve a realização de disciplinas, seminários e atividades de natureza teórica, práticas de docência e gestão educacional, atividades complementares, e ainda o Estágio Curricular. Este último deveria se desenvolver ao longo do curso e pressupõe atividades pedagógicas efetivadas em um ambiente institucional de trabalho, reconhecido por um sistema de ensino, realizado na relação entre um docente experiente e o aluno estagiário, com a mediação de um professor supervisor acadêmico. O Estágio Supervisionado deve possibilitar uma reflexão contextualizada, que lhe dê condições para que o acadêmico se torne autor de sua prática por meio da vivência institucional sistemática, intencional, norteada pelo Projeto Pedagógico da instituição formadora e da unidade campo de estágio. De acordo com isso, a proposta pedagógica do curso de Pedagogia de cada IES deve prever mecanismos que assegurem a relação entre o Estágio Curricular e os demais componentes do currículo. O Art. 8ª, item IV da resolução, prevê que o Estágio Curricular deve ser realizado ao longo do curso de modo a assegurar aos graduandos experiência de exercício profissional, em ambientes escolares e não-escolares que ampliem e fortaleçam atitudes éticas, conhecimentos e competências: a) Na educação infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, prioritariamente; b) Nas disciplinas pedagógicas dos cursos de ensino médio, na modalidade normal; c) Na educação profissional, na área de serviços e de apoio escolar; d) Na educação de jovens e adultos; e) Na participação em atividades de gestão de processos educativos, no planejamento, implementação, coordenação, acompanhamento e avaliação de atividades e projetos educativos; f) Em reuniões de formação pedagógica. Deste modo, além da docência, é prevista a formação do pedagogo preparado para organizar e gerir os sistemas e instituições de ensino escolares e não-escolares, com um compromisso de produção e difusão do conhecimento científico-tecnológico do campo educacional. Desta forma, os princípios que organizam os cursos são a permanência da docência como base, a flexibilização do currículo através de núcleos de estudos, a preocupação com a densidade teórica, e ainda: a interdisciplinaridade, a contextualização, a democratização, a pertinência e relevância social, a ética, a sensibilidade afetiva e estética, e a pesquisa. 41 Vale ressaltar que a docência, nesta resolução, compreende a ação educativa e o processo pedagógico metódico e intencional, construído em relações sociais, étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, princípios e objetivos da Pedagogia, desenvolvendo-se na articulação entre conhecimentos científicos e culturais, valores éticos e estéticos inerentes a processos de aprendizagem, de socialização e de construção do conhecimento, no âmbito do diálogo entre diferentes visões de mundo. Sintetizando a retrospectiva histórica das legislações acerca dos cursos de Pedagogia no Brasil, tendo como foco as formas de execução do Estágio Supervisionado, pode-se considerar que, desde a criação do curso em 1939 até a promulgação da primeira LDB em 1961, o que ocorreu foi uma preocupação com a organização curricular que acabava por caracterizar o caráter prático e utilitário de formação de professores. Segundo Moraes (2000, p.40) “o aprendizado prático exigido na formação do professor, nesse período, valorizava a aplicação da experiência pela experiência, sem refletir sobre os problemas trazidos pela prática (...), havendo, assim, uma distinção entre a prática e conteúdo”. De 1962 até o final da década de 1970, houve a inclusão obrigatória da disciplina de Didática e Prática de Ensino sob forma de Estágio Supervisionado nos currículos dos cursos de licenciatura. No entanto, esta última caracterizava-se como uma prática artificial de conhecimentos teóricos adquiridos no curso, confirmando a desarticulação entre teoria e o espaço da sala de aula. Do final da década de 1970 ao final da década de 1990 ocorreu um processo de reavaliação educacional. Diversos educadores passaram a se reunir com o objetivo de debater sobre a educação brasileira demonstrando as preocupações com a possibilidade de democratização do ensino e da reorganização da escola. Neste espaço de discussão, a identidade do pedagogo e a finalidade do curso de Pedagogia foram repensadas, bem como o papel dos estágios na formação docente. Sobretudo, reafirmou-se a idéia de que Prática de Ensino não é apenas estágio, constituindo este último apenas um dos momentos da prática. O que se desejava realmente era a superação da dicotomia teoria-prática na formação do professor, sendo que esta relação deveria ser trabalhada ao longo do curso e não apenas pela disciplina de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado. Na minuta de proposta do FORUMDIR (Fórum de Diretores de Faculdades/Centros de Educação das Universidades Públicas Brasileiras), aprovada no XVII Encontro Nacional realizado em Porto Alegre/RS, em dezembro de 2003, há referência de que, 42 (...) o largo período de tempo decorrido entre o Parecer 252/69 e o momento atual, possibilitou não apenas uma ampla e aberta discussão entre os educadores, nas instituições e em seus movimentos organizados, como também a implementação de inúmeras experiências praticadas nas diversas instituições de ensino superior universitárias que formam o pedagogo, além da produção de novos conhecimentos através da pesquisa realizada em contextos escolares e não-escolares. De 1996 a 2006, o estágio passou a ser visto, mais do que antes, como uma forma de interagir com a realidade da escola (campo de estágio) buscando compreender a situação da educação brasileira. A atual legislação, portanto, visa promover a articulação das diferentes práticas numa perspectiva interdisciplinar, com previsão de que ele não aconteça apenas ao final do curso. Assim, verifica-se que o conceito de unidade entre teoria e prática ganha uma nova dimensão. Hoje, todos os cursos de Pedagogia no Brasil e em Santa Catarina estão passando por revisão dos seus Projetos Político-Pedagógicos a fim de se adequarem a esta nova legislação, específica para o curso. 43 CAPITULO II A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA COMO UM DESAFIO PARA O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO 2.1 Concepções de Estágio Supervisionado no processo de formação dos professores no Brasil Diferentes concepções de Estágio Supervisionado marcaram e ainda marcam a história da formação de professores no Brasil. Caimi (2002, p. 84) considera que durante o período de 1930 a 1950 a concepção de prática confundia-se com a imitação dos modelos existentes de práticas bem-sucedidas. Neste período, “o objetivo fundamental da prática curricular era a aquisição de experiência, sinônimo de ‘fazer igual’, copiar, imitar, reproduzir, exercitar modelos”. A instituição formadora era entendida como lugar da teoria e a escola como o lugar da prática. Segundo Barreiro e Gebran (2006, p.43): A proposição da prática que permeava a formação docente estava diretamente vinculada à imitação, observação e reprodução de modelos teóricos existentes, sem que houvesse preocupação com as diferenças ou desigualdades eventualmente presentes. Esperava-se que se ensinasse o professor a ensinar, conforme padrões consagrados. Sua formação prática, portanto, seria a de reproduzir e exercitar modelos. De acordo com Pimenta e Lima (2004, p.35): O pressuposto dessa concepção é que a realidade do ensino é imutável e os alunos que freqüentam a escola também o são. Idealmente concebidos, competiria à escola ensiná-los, segundo a tradição. Não cabe, pois, considerar as transformações históricas e sociais decorrentes dos processos de democratização do acesso, a qual trouxe para a escola novas demandas e realidades sociais (...). Ao valorizar as práticas e os instrumentos consagrados tradicionalmente como modelos eficientes, a escola resume seu papel a ensinar; se os alunos não aprendem, o problema é deles, de suas famílias, de sua cultura diversa daquela tradicionalmente valorizada pela escola. 44 Nesta perspectiva, o estágio seria mais imitação de modelos bem sucedidos, sem análise crítica fundamentada teoricamente e validada pela realidade na qual o processo ensino e aprendizagem se efetiva. Já as décadas de 1960 e 1970 constituíram um período de grande expansão do sistema público de ensino, onde a escola deixou de ser um espaço tão elitizado comparado a décadas anteriores. A ampliação do acesso da população às instituições educacionais acabou trazendo como exigência uma nova qualidade de ensino. Neste contexto, de acordo com Caimi (2002, p.87), o INEP, órgão do governo responsável pela produção e difusão de pesquisas sobre ensino, passou a questionar a formação profissional do professor e sugeriu que a prática antecipasse “muitas das dificuldades do jovem professor; que as aulas de prática sejam complementadas com debates antes e depois”. O regime ditatorial implantado em 1964 influenciou a política educacional de forma profunda e radical, inclusive nas propostas de formação docente. Vale destacar a forte influência que passou a ter o ideário tecnicista na educação, que inseriu a escola nos modelos de racionalização dos sistemas de produção capitalista. No interior da influência tecnicista, na década de 1970, segundo Caimi (2002), o conceito de prática passou a ser encarado como o desenvolvimento de habilidades instrumentais necessárias a boa atuação na ação docente. Assim, para desempenhar sua função, passava a ter centralidade a escolha e execução de técnicas de ensino pelo professor. Não há como negar que qualquer profissão se utiliza de técnica e a profissão de professor não é diferente. No entanto, a simples habilidade de aplicar técnicas não garante a resolução dos problemas de uma área tão complexa. A aplicação de técnicas não valoriza a unidade existente entre teoria e prática, reforçando a existência de uma sem a outra. Neste enfoque, o estágio é reduzido a um treinamento em técnicas de ensino. O estágio fica (...) reduzido à hora da prática, ao “como fazer”, às técnicas a ser empregadas em sala de aula, ao desenvolvimento de habilidades específicas do manejo de classe, ao preenchimento de fichas de observação, diagramas, fluxogramas. (...) A perspectiva técnica no estágio gera um distanciamento da vida e do trabalho que ocorre nas escolas, uma vez que as disciplinas que compõem os cursos de formação não estabelecem os nexos entre os conteúdos (teorias?) que desenvolvem e as realidades nas quais o ensino ocorre. (PIMENTA E LIMA, 2004, p. 37-9). Esta conotação tecnicista, até hoje muito presente, pode ser encontrada nos comportamentos dos acadêmicos dos cursos de formação docente quando demonstram 45 excessiva preocupação em conhecer novas técnicas e metodologias, valorizando-as como se elas pudessem resolver todos os problemas inerentes a sua futura profissão. Os anos 1980, por sua vez, são apresentados por Caimi (2002) como o período em que há um grande esforço para unir teoria e prática. A visão instrumental da Didática passa a ser questionada nos seus fundamentos, bem como a chamada “neutralidade da técnica”. A ausência de dimensão política no processo educativo é questionada e passa a fazer parte de estudos, debates, encontros de pesquisa. Busca-se então, uma concepção do processo ensinoaprendizagem dialética, na qual a prática não se restringe ao simples fazer, mas se torna uma reflexão que subsidia a teoria. O estágio é visto como uma possibilidade de ser um processo criativo, de investigação, interpretação e intervenção na realidade educacional. Exige-se que o jovem professor conheça a realidade profissional e saiba observar, descrever, registrar, interpretar, problematizar, teorizar e redimensionar a ação. O Estágio Supervisionado passava, portanto, a ser entendido como espaço interdisciplinar de formação. Já nos anos de 1990, que trazem como característica marcante a revolução tecnológica e dos meios de comunicação, é acentuada a preocupação com uma escola voltada para atender uma sociedade em transformação. De acordo com Pimenta e Lima (2004) caberia aos estágios dos cursos de formação possibilitar que os futuros professores compreendessem a complexidade das transformações em andamento. Freitas (2006) afirma que, nos anos 1990, a estrutura dos cursos de Pedagogia no Brasil pretendeu possibilitar um contato maior dos alunos com a realidade da escola. Nas estruturas anteriores este contato acabava recaindo quase que unicamente sobre a disciplina de estágio no final do curso. Havia, portanto, uma enorme carga de responsabilidade sobre ela por ser vista como a única com caráter integrador entre conteúdo específico e o conteúdo pedagógico. Há, entre os educadores nesta década, uma preocupação com a (re)definição do Estágio Supervisionado tendo como foco a unidade entre teoria e prática: (...) o estágio terá por finalidade propiciar ao aluno uma aproximação à realidade na qual irá atuar. Portanto, não se deve colocar o estágio como o “pólo prático” do curso, mas como uma aproximação à prática, em que será conseqüente à teoria estuda no curso, que, por sua vez, deverá se constituir numa reflexão sobre e a partir da realidade da escola pública. (PIMENTA, 2001, p. 13). Tal autora defende o estágio como uma oportunidade de aproximação entre o estudante e a realidade. Reitera, no entanto, que observações minuciosas e detalhadas sobre a 46 postura do professor, com a finalidade de captar falhas da escola, dos diretores, dos professores, caracterizam um criticismo inócuo. Podem gerar conflitos de rejeição a presença de estagiários nos espaços educacionais provocando o distanciamento entre a universidade e a escola. As observações necessitam de análises aprofundadas, pois muitas vezes transformamse em relatórios que são arquivados sem análise, não permitindo uma visão mais ampla da realidade da futura profissão. Lima (2004, p. 252) assegura que: A viabilização de ambientes favoráveis à formação, os movimentos pedagógicos, reconhecidos como lugares de formação e prática de pesquisas coletivas, são caminhos que podem representar (...) o estágio como um campo de conhecimento a ser investigado, e não como prática apenas. É necessário que o estágio seja assumido e cada vez mais trabalhado como um campo de investigação e produção de conhecimentos, que precisa de novos olhares. A década de 1990 caracterizou-se como um período de reformas em todos os níveis de ensino. O debate educacional em torno das mudanças então ocorridas evidenciou claramente posições ideológicas distintas, tendo de um lado os educadores ligados às associações de classe buscando, segundo Caimi (2002, p.93), a emancipação humana; e de outro lado os gestores oficiais da reforma, mais vinculados a teoria do capital humano, que tem como fundamento considerar a educação como um investimento, como uma forma de aumento de produtividade e reprodução do capital. Uma característica que perpassa os documentos oficiais para a normatização da formação dos professores e que são produto das reformas referidas (Parecer CNE/CP 9/2001 e Resolução 1/2002) é a idéia do desenvolvimento de competências. Segundo Campos (2004, p. 13): Se a lógica das competências se expressa em toda extensão do documento das diretrizes, observamos também que tal não ocorre sem problemas. (...) observamos que o conceito de competências, por exemplo, ora é apresentado como “capacidade de mobilizar saberes”, ora como associado aos conhecimentos teóricos, a reflexão sobre a ação e, mesmo como possibilidade se superar a dissociação teoria-prática. Tais “desencontros” teóricos longe de representar “descuidos” dos reformadores expressam, de fato, as tentativas de conciliar as críticas dirigidas pelo movimento dos educadores ao caráter pragmático imprimindo a formação dos professores, especialmente no que se refere a secundarização do conhecimento teórico. 47 Pimenta e Lima (2004, p.85) afirmam que no destaque atribuído as competências focalizando-as como núcleo de formação, a atividade docente acaba reduzida a um desempenho técnico muito similar à concepção tecnicista dos anos 1970. Porém, de acordo com Caimi (2002, p.94), nas diretrizes curriculares nacionais para a educação básica em curso de nível superior, (...) a aprendizagem por competências supera a dicotomia teoria-prática, definindo-se pela capacidade de mobilizar conhecimentos adquiridos na reflexão sobre as questões pedagógicas e aqueles construídos na vida profissional e pessoal, para responder às diferentes demandas das situações de trabalho. O desenvolvimento de competências pede uma outra organização do percurso de aprendizagem, no qual o exercício das práticas profissionais e da reflexão sistemática sobre ele ocupa um lugar central. De acordo com a autora, a proposta consiste em articular a teoria e prática e fazer com que os conhecimentos específicos sejam contextualizados, buscando construir significados pertinentes a vida dos indivíduos. Portanto, o professor deve ser formado numa perspectiva reflexiva da docência, com um perfil constituído por um saber-fazer sólido, teórico e prático, crítico, que permita decidir em contextos instáveis, em situações imprevisíveis, buscando respostas complexas e inovadoras. Barreiro e Gebran (2006, p. 72) também abordam que “a valorização de competências e habilidades presentes nos discursos oficiais e nas políticas educacionais, em geral, fundamenta-se no ideário neoliberal, justificada pelas novas necessidades da sociedade”. Salientam, porém, que quando se faz uma análise detalhada das diretrizes percebe-se que a concepção de competência necessária ao profissional, proposta nas legislações, não se pauta apenas no conhecimento técnico e reprodutor, mas “envolve a compreensão das questões envolvidas no trabalho docente, na sua identificação e a busca de resolução, além de avaliar criticamente a própria atuação e o contexto em que atua”. O debate atual a respeito da centralidade das competências na formação profissional dos professores é importante no sentido de manter viva uma discussão sobre o papel dos professores e a necessidade de considerar este profissional não apenas como um técnico, mas sim como um intelectual que não prescinde de habilidades técnicas. É importante, no entanto, perceber que as políticas educacionais sugerem a prática de ensino não restrita ao Estágio, mas presente desde o início do curso. O Estágio Supervisionado passa a ser considerado um espaço interdisciplinar de formação, com a finalidade de favorecer maior conhecimento da realidade profissional, através de um processo 48 de estudo, análise, problematização, teorização, reflexão, proposição de alternativas, intervenção e redimensionamento da ação. É importante passar a considerá-lo como um momento privilegiado de ação-reflexão-ação, prevendo um exercício profissional pleno, com a orientação de professores mais experientes, como elemento integrador do currículo, que possibilite a unidade teoria-prática. 2.2 Principais dificuldades apontadas pela literatura educacional a respeito do Estágio Supervisionado É importante demarcar as principais dificuldades apontadas pela literatura educacional acerca do Estágio Supervisionado. Reconhecê-las é uma forma de contribuir para o levantamento de possíveis alternativas de superação das fragilidades presentes na formação docente. De acordo com Barreiro e Gebran (2006) as propostas para a disciplina de Estágio Supervisionado desde a criação do curso de Pedagogia até aproximadamente o final dos anos 1970 apresentavam um enfoque burocrático, de cumprimento legal. Destacavam as etapas de observação, participação e regência, de forma estanque. Segundo os autores, os estágios acabavam se caracterizando por uma atividade sem perspectiva de análise crítica do contexto escolar. Ainda segundo estes autores, de 1970 a 1980 os cursos de formação docente pouco se alteraram e o Estágio continuou sendo visto principalmente dentro da lógica estabelecida pelas exigências legais. As etapas de observação, participação e regência se mantiveram, passando a dar maior enfoque à aplicação de técnicas de ensino e ao “fazer bem feito”, sem considerar as específicas realidades das escolas e mesmo dos cursos de formação. Segundo Barreiro e Gebran (2006, p.43): “Esperava-se que se ensinasse o professor a ensinar, conforme padrões consagrados”. Durante os anos de 1980 ocorreram mobilizações dos educadores brasileiros acerca da reformulação dos cursos de formação docente na tentativa de amenizar os efeitos da concepção tecnicista. Tais educadores afirmavam que o Estágio Supervisionado precisava ser visto como um processo investigativo, possibilitando que o aluno pudesse identificar e problematizar a realidade vivida na escola campo de estágio, articulando os conhecimentos teóricos com a prática docente. Os estudos questionavam o fato de que a oferta desta disciplina era prevista de forma pontual no final do curso, o que causava uma desvalorização 49 teórica, pois acabava sendo vista como disciplina de segunda categoria no currículo, sobretudo para cumprir uma função burocrática. Nos anos de 1990 e 2000 diversos dispositivos legais foram implantados, entre elas a Lei nº. 9.394/96, o parecer CNE/CP 9/2001, os pareceres 27 e 28/2001, a resolução CNE/CP 1/2002, o parecer 2/2002, o parecer CNE/CP 5/2005 e finalmente o parecer CNE/CP 1/2006. Todas estas legislações destacam a preocupação com a articulação da teoria com a prática propondo novas alternativas de execução da prática de ensino e estágio curricular. As pesquisas de Barreiro e Gebran (2006), Brzezinski (2004), Kuenzer (2003), Lima (2004), Pimenta (2001, 2002, 2004), Rodrigues (2007) entre outras, apontam especialmente para a dicotomia teoria-prática na formação dos professores, gerada entre outras questões pelo Estágio Supervisionado realizado apenas ao final do curso. Obviamente, a esta dificuldade somam-se outras determinadas pelas políticas educacionais, pelo contexto social do país. Estas questões, porém, não podem ser consideradas de forma estanque, pois se fundem no momento em que os Estágios se operacionalizam. Podemos, no entanto, abordar as principais dificuldades apontadas pela literatura educacional, classificando-as em quatro grandes categorias: aquelas enfrentadas pelas instituições formadoras; as dificuldades enfrentadas pelos professores orientadores/supervisores de estágio; as enfrentadas pelas escolas campo de estágio; e finalmente aquelas enfrentadas pelos acadêmicos, futuros professores. 2.2.1 Dificuldades enfrentadas pelas instituições formadoras Muitas são as dificuldades enfrentadas pelas instituições formadoras em relação ao Estágio Supervisionado. Algumas são oriundas de entraves legais, outras de ordem políticoadministrativa. Em relação ao primeiro ponto, é preciso apontar que a Resolução CNE/CP 1/2002 define em seu artigo 14 que cada instituição formadora deve ter flexibilidade ao elaborar o seu Projeto Pedagógico de curso. No entanto, a resolução define e distribui rigidamente os espaços e tempos do curso, da seguinte forma: 400 horas de prática como componente curricular, 400 horas de estágio curricular supervisionado, 1.800 horas de aulas para conteúdos de natureza científico-cultural e 200 horas para outras formas de atividades acadêmico-científico-culturais. 50 Outra dificuldade diz respeito ao reconhecimento que as instituições precisam ter sobre a importância de seu papel social. Freitas (2006, p. 94) nos auxilia a entender esta dificuldade quando afirma que: A separação entre teoria e prática e o afastamento da universidade da realidade educacional da escola pública e dos problemas colocados pela prática da sala de aula refletem-se de maneira diferenciada no trabalho pedagógico. O afastamento da realidade da escola pública, caracterizando, portanto, a ausência do trabalho pedagógico como eixo articulador da relação teoria-prática nos cursos de formação, produz uma desqualificação do aluno, em termos de conhecimento, para responder aos problemas educacionais colocados pela prática social que se desenvolve no interior da escola. Nesta perspectiva, não se pode esquecer da necessidade da reflexão crítica sobre a prática, tão bem anunciada por Freire (1998, p.44): (...) na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática. Outro aspecto que dificulta a articulação entre teoria e prática nas instituições formadoras refere-se à estruturação da matriz curricular dos cursos de formação de professores, quando os Estágios ainda são concebidos como o pólo prático do curso, não envolvendo as demais disciplinas no processo de realização interdisciplinar da prática. Freitas (2006, p. 93) confirma a idéia quando assegura que: Temos uma estrutura universitária que se organiza propedeuticamente, ou seja, toda nossa estrutura de graduação está montada em cima de uma concepção curricular que tem, implicitamente, uma noção de teoria e prática que aponta para o seguinte: primeiro temos que dar a teoria para depois, ela ser aplicada a situações práticas. A nossa organização universitária está montada em cima desta visão. Os cursos e aulas começam, em geral, com teoria e depois vão passando para aspectos práticos. As normatizações prevêem que as atividades práticas devem ocorrer ao longo de todo o curso de formação dos professores e no interior de todas as disciplinas da matriz curricular, e não somente transformar-se numa única disciplina curricular responsável pela unidade teoria e prática. Percebe-se que normalmente as disciplinas do curso não participam efetivamente de projetos desenvolvidos com atividades práticas. 51 Estas normatizações provocaram a formação de um enorme contingente de professores para atender a demanda de qualificação em regiões carentes de profissionais habilitados ou para atender a demanda de profissionais já experientes, com formação no ensino médio normal que buscam o ensino superior para complementação de sua formação profissional. Este fato acabou por gerar a criação de cursos de Pedagogia com inúmeros formatos, em regimes e modalidades diferentes, sem a garantia de nível de qualidade. Estas novas possibilidades de acessos, muitas vezes, acabam por ofertar o curso de uma forma aligeirada ou em modalidades duvidosas. Ressalta-se também a importância da relação entre a instituição formadora, a escola campo de estágio e a mediação do professor orientador de estágio. Cabe a instituição preocupar-se, segundo Barreiro e Gebran (2006, p. 60), em “propiciar momentos de reflexão, análise e interpretação da realidade educacional do seu campo de estágio, possibilitando ações e intervenções desejadas” e que a partir de vivências e experiências o estagiário possa ir construindo a sua própria prática. 2.2.2 Dificuldades para os professores orientadores e/ ou supervisores do estágio Em relação as dificuldades enfrentadas pelos professores orientadores e/ou supervisores de estágio, ressalta-se que o Parecer 27/2001 indica que o Estágio Curricular deve acontecer em diferentes tempos na escola, com objetivos também diferentes para cada momento da formação acadêmica. O Parecer CNE/CNP nº. 9/2001 considera o Estágio Supervisionado como uma relação pedagógica entre alguém que já é um profissional reconhecido em um ambiente institucional de trabalho e um aluno estagiário. É o período de efetivar, sob a supervisão de um profissional experiente, um processo de ensino-aprendizagem concreto e autônomo. Assim, se confirma a idéia da necessidade de desenvolver uma atuação coletiva dos formadores na prática de ensino. A articulação entre a teoria e a prática no curso requer responsabilidade de todos os profissionais formadores que através de estratégias diversas, possam aproximar a realidade educacional com os aspectos teóricos de suas disciplinas visando observação-reflexão. Este exercício profissional poderá proporcionar a conquista de atitudes de autonomia, tão necessárias na futura profissão. 52 Confirma-se a idéia acima com Perrenoud (1993, p. 124) que em seus estudos argumenta que a dificuldade de fazer a prática e o Estágio Supervisionado se transformarem em propostas interdisciplinares, com unidade entre teoria e prática, reside no “distanciamento dos demais educadores formadores da realidade educacional”. Uma pesquisa realizada por Alarcão (apud PIMENTA e LIMA, 2004, p.100), (...) aponta problemas como o elevado número de alunos nas turmas e as dificuldades dos professores da universidade, que muitas vezes não recebem o devido reconhecimento por essa atividade.(...) Acrescente-se ainda, que professores das demais disciplinas nem sempre são preparados ou não se comprometem com essa atividade, pois eles próprios, por vezes, por desconhecer o universo das escolas, acabam por considerar o estágio como um fardo. O que indica a necessidade de explicitar e valorizar o estágio como um campo de conhecimentos necessários aos processos formativos. Barreiro e Gebran (2006, p.20) argumentam que “a identidade do professor é construída no decorrer do exercício da sua profissão, porém, é durante a formação inicial que serão sedimentados os pressupostos e as diretrizes presentes no curso formador, decisivos na construção da identidade docente”. Estudos em Pimenta (2004, p.180) confirmam que uma das dificuldades encontradas pelo professor responsável pelo Estágio Supervisionado para a realização do trabalho coletivo, é o fato de que esse processo passa por reuniões contínuas de planejamento sem participação desejada, pois a maioria do colegiado tem múltiplas atividades com suas disciplinas. Uma outra dificuldade consiste no fato de que algumas universidades não possuem uma política de atendimento as várias atividades dos estágios, que envolvem, dentre outras ações, as visitações dos professores supervisores aos locais de trabalho dos estagiários. Muitas vezes, os acadêmicos são oriundos de locais distantes da sede da instituição e realizam seus estágios em escolas afastadas, que podem abranger extensos espaços geográficos acarretando ao professor de estágio deslocamentos e gastos não previstos em seus contratos. Esses contratos normalmente são restritos apenas às atividades de aula. Ocorre, assim, a necessidade de que os professores responsáveis pelo processo realizem o trabalho de orientação e supervisão, mesmo sem subsídios financeiros, visando a não-desqualificação do curso. Na mesma perspectiva, destaca-se a ausência de uma política de acompanhamento em momentos de bancas de qualificações ou socializações de projetos de estágio. O nãorecebimento de um auxílio financeiro aos professores convidados denota, de certa forma, o 53 descaso das instituições formadoras com o trabalho realizado nos cursos de formação de professores e com professores responsáveis pelo Estágio Supervisionado. Outro aspecto relevante refere-se à necessária participação de todos formadores na construção de Projetos Político-Pedagógicos, como co-autores do processo, para que eles possam compreender os mais diversos contextos de sua produção. A capacidade de decidir e colaborar nesta construção pode possibilitar ao professor um engajamento no processo, bem como permite que ele não seja meramente um executor de decisões alheias. Um aspecto interessante é que muitas vezes o professor orientador/supervisor do estágio caracteriza essa ação como de inspeção, de forma rígida e de cobrança ou por formas de facilitação de orientação e de aconselhamento. Muitas vezes, ele precisa superar os medos e receios dos estagiários, desmistificando o autoritarismo inerente a própria palavra “supervisão”. De acordo com Pimenta e Lima (2004, p. 114), As atividades de supervisão que acontecem no estágio requerem aproximação e distanciamento, partilha de saberes, capacidade de complementação, avaliação, aconselhamento, implementação de hipóteses de solução para os problemas que, coletivamente, são enfrentados pelos estagiários. Essas são algumas das dificuldades encontradas pelo professor orientador e/ou supervisor de estágio e servem para que ao conhecê-las se possam tomar decisões para superá-las. 2.2.3 Dificuldades para a escola campo de estágio Uma das dificuldades enfrentadas pela escola campo de estágio reside nas relações entre ela e as instituições formadoras. Em pesquisa realizada por Sampaio (1998) sobre o fracasso escolar na educação básica, a autora identifica a distância entre estas duas instituições. Muitas vezes, a escola não acompanha as informações e inovações que são ensinadas na instituição formadora. Como exigir uma atitude pedagógica mais investigativa, através da pesquisa, com foco no processo ensino-aprendizagem, nas escolas campo de estágio? 54 Por vezes, o curso formador apresenta o enfoque metodológico na pesquisa, mas o que se detecta é que o egresso, no exercício de sua profissão, mantém uma postura de simples imitação de modelos aparentemente de sucesso ou de aplicação de técnicas e estratégias. A instituição formadora, juntamente com as escolas de educação básica, precisam rever esta questão. A prática de ensino e o estágio não podem mais ser vistos como um momento de atuação inócua sobre a escola, mas uma atuação na escola como forma de análise crítica da realidade e que através de pesquisas pode oferecer alternativas de novas práticas pedagógicas que atendam as características reais de onde ela esteja inserida. Barreiro e Gebran (2006, p.76) referem-se ao fato dizendo que: Nas escolas, as representações que os docentes têm de pesquisa são fortemente marcadas pela conotação formal acadêmica, e não como um caminho investigativo para a construção de novos conhecimentos entre alunos e professores. Tal dificuldade deve-se, em grande parte, à precária integração entre pesquisa e ensino durante a graduação, às relações segmentadas entre as diferentes áreas do conhecimento, à (des) valorização atribuída ao ensino pelas agências de fomento e pelas universidades inclusive as públicas. Outro aspecto que precisa ser ventilado diz respeito a resistência dos professores da escola às propostas a serem desenvolvidas no estágio: “Normalmente eles buscam respostas imediatas para os problemas vividos no cotidiano escolar, demonstrando impaciência, o que dificulta a criação de um ambiente de reflexão”. (MORAES, 2000, p.109). Da mesma forma que é importante que os professores dos campos de estágio, nos momentos de acompanhamento, avaliação e revitalização, participem ativamente sentindo-se também responsáveis pelo processo de formação do estagiário, é significativo que, no processo de execução das atividades programadas para os estágios, os professores da escola campo de estágio se envolvam nesse processo, com o objetivo de aperfeiçoar sua prática pedagógica. 2.3.4 Dificuldades para os acadêmicos/futuros docentes Entre as dificuldades enfrentadas pelos acadêmicos nos estágios aborda-se o fato de que muitos alunos “assustam-se” com a realidade das escolas ao iniciarem a prática. Barreiro 55 e Gebran (2006, p.74) afirmam que “muitas vezes, eles mudam de escolas para buscar uma ‘melhor’, com menos problemas de disciplina e melhores condições de ensino”. Também é muito comum o estagiário encontrar nas escolas campos de estágio, professores insatisfeitos com o trabalho, infelizes com os problemas contextuais que os afetam. Assim, eles podem se desequilibrar com tais depoimentos. Estes fatos podem ser explicados pelo distanciamento que ocorre entre o processo de formação docente e a realidade vivida cotidianamente nas escolas de educação básica. Não há, nos cursos, situações que possibilitem observações e reflexões tendo sempre como fundamento a ação-reflexãoação, na busca de soluções para os problemas que ocorrem. Segundo Freitas (2006, p. 94), “Os alunos (...) encontram dificuldades para relacionar suas experiências práticas com os conhecimentos teóricos visitados durante o curso e, assim, produzir conhecimento novo sobre a escola, o ensino e a educação”. O Estágio Supervisionado como componente curricular e como integrador entre a teoria e prática, envolvendo as demais disciplinas, pode minimizar esta distância existente entre a instituição formadora, o acadêmico e a realidade dos sistemas educacionais. Pode, ainda, proporcionar observações e reflexões de vivências que podem transformar-se em novas práticas que atendam as necessidades concretas do dia-a-dia da escola campo de estágio, futuro mercado de trabalho do aluno. De acordo com Barreiro e Gebran (2006, p.88): (...) o professor deve ter autonomia intelectual, o direito e a responsabilidade para a tomada de decisões profissionais, ou seja, além de saber fazer, deve compreender o que faz e por que faz. Para tanto, é necessário que ele tenha uma formação integral, por meio da qual possa conhecer as várias faces da educação e da sua gestão, pois a escola é mais do que salas de aula, é mais do que regras de linguagem e matemática, é mais do que muros e grades. Escola é vida em processo e, como tal, precisa ser conhecida na sua integridade para que possa ser entendida. Outra dificuldade encontrada é a falta de clareza a respeito dos objetivos do Estágio ou da sua dinâmica por parte do estagiário. Quando chega à escola, muitas vezes não sabe o que precisa fazer, nem observar, nem anotar. Não distingue o que é ou não relevante. Segundo Pimenta e Lima (2004, p. 104), “quanto mais claros forem os fundamentos, a natureza e os objetivos do estágio, suas possibilidades e limites curriculares, mais fácil fica a compreensão do processo”. Muitas vezes, o estagiário compreende que sua atividade na escola tem o objetivo simplificado de colher informações e elaborar críticas às falhas da mesma. O fato de o 56 acadêmico transitar nos espaços escolares deve proporcionar uma série de informações, conhecimentos, aprendizagens que necessariamente favoreçam a compreensão da realidade para aprender a superar as dificuldades do dia-a-dia de sua futura profissão. O curso de formação de professores apresenta características muito próprias desta profissão: alguns professores experientes retornam as classes da universidade para complementar a formação acadêmica, exigida pela legislação, ou antes de complementarem sua formação alguns acadêmicos já iniciam a carreira de professores. No primeiro caso, os acadêmicos que possuem experiência docente devem ter suas práticas valorizadas como referências importantes para serem discutidas e refletidas nas aulas. Pimenta (2004, p. 129) afirma que “o estágio se configura, para quem já exerce o magistério, como espaço de reflexão de suas práticas, a partir das teorias, de formação contínua, de ressignificação de seus deveres docentes e de produção de conhecimentos”. O sentido de analisar as dificuldades que se apresentam para a realização dos estágios, tal como tentamos fazer, tem a ver com a preocupação se supera-las na medida do possível. 2.3. A relação teoria-prática como um desafio para o Estágio Supervisionado Como se pode perceber no item anterior, o grande desafio relacionado ao Estágio Supervisionado refere-se ao estabelecimento de uma forte relação entre a teoria e a prática no curso. Pretende-se agora destacar aspectos importantes para uma melhor compreensão deste desafio, com o objetivo de captar indicativos para a sua superação. Saviani (2006) argumenta que a relação entre teoria e prática precisa ser compreendida como um processo dialético, tendo presente que estas duas dimensões são aspectos distintos, porém inseparáveis e fundamentais na experiência humana. Podem e devem manter sua especificidade, caracterizando-se um em relação ao outro: a prática como razão de ser da teoria, como seu fundamento, sua finalidade e seu critério de verdade. Igualmente, a prática depende da teoria, pois sem ela perde a sua característica de atividade humana, atividade esta adequada a finalidades, guiada pela intencionalidade. Logo, afirma o autor, uma sólida teoria orientará de forma consistente e eficaz a atividade prática. Teoria e prática são, portanto, opostos que se incluem. O que pode se opor de modo excludente à teoria, no entanto, não é a prática, mas o “ativismo”, e o que pode se opor de 57 modo excludente à prática é o “verbalismo” e não a teoria. “O ativismo é a ‘prática’ sem teoria e o verbalismo é a ‘teoria’ sem a prática.” (SAVIANI, 2006, p.19). De acordo com Saviani (2006, p.18), os alunos tendem a reivindicar a primazia da prática numa visão imediatista, já o professor tende a defender a importância da teoria. O autor afirma que na raiz do dilema está a compreensão da relação entre teoria e prática “em termos da lógica formal, para a qual os opostos se excluem”. Se a teoria se opõe a prática, ela exclui a prática. Assim, se um curso é teórico, não poderia ser prático; e vice-versa. Há uma oposição entre teoria e prática que se traduz na relação pedagógica como uma oposição entre professor e estudante. A saída do dilema por um ou por outro de seus pólos constitutivos se revelaria igualmente difícil e, no limite, impossível (Idem, p.18). Para Saviani (2006), no entanto, uma Pedagogia histórico-crítica parte de uma formulação teórica que supera a oposição excludente apontada e articula teoria e prática. O papel do professor, ao se entender a educação como mediação no seio da prática social global, não se opõe ao aluno. O professor faz a mediação entre o conhecimento e o aluno. A prática social é o ponto de partida e o ponto de chegada da prática educativa, e professor e alunos se encontram inseridos no processo, embora ocupando posições distintas. Ao argumentar que ambas – teoria e prática – são indissociáveis numa lógica que nega o formalismo e valoriza a dialética, Saviani (2006) considera que tanto a teoria como a prática possuem as suas especificidades, porém é preciso considerar que a prática é a essência da teoria e que a teoria depende radicalmente da prática. O autor reafirma esta idéia quando explica que o homem, entre os seres vivos, é o único que antecipa mentalmente o que será realizado, e isto comprova que a prática humana é determinada por uma teoria. Assim, tendo como base as reflexões supracitadas buscam-se alternativas para o curso de Pedagogia de maneira a permitir que o futuro docente possa problematizar a realidade com o auxílio da teoria, construindo saberes pertinentes e incorporando as experiências vividas nas práticas e no Estágio Supervisionado a sua vida pessoal e profissional. Conforme afirmam Barreiro e Gebran (2006, p.21): A formação inicial e o estágio devem pautar-se pela investigação da realidade, por uma prática intencional, de modo que as ações sejam marcadas por processos reflexivos entre os professores-formadores e os futuros professores, ao examinarem, questionarem e avaliarem criticamente o seu fazer, o seu pensar e a sua prática. Nesta mesma direção, Pimenta (2002, p.115) assegura que: 58 (...) o papel da teoria é oferecer aos professores perspectivas de análise para compreenderem os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e de si mesmos como profissionais, nos quais se dá sua atividade docente, para neles intervir, transformando-os. A formação inicial é base para o exercício da atividade profissional e deve, portanto, possibilitar a construção de um saber aberto para novas experiências que ampliem a teoria. Com esta compreensão, a formação inicial dos profissionais da educação passa a ser relevante para que ocorra um processo educativo qualitativo, buscando no princípio educativo e científico o caminho metodológico para a formação docente. Demo (apud BARREIRO e GEBRAN, 2006, p.24) afirma que: A formação inicial é determinante para o rompimento das práticas de reprodução. Nesse processo, é fundamental o papel dos professoresformadores ao favorecer e oferecer caminhos que levem à reconstrução de conhecimentos. A universidade que apenas reproduz conhecimento é desnecessária. Os caminhos que rompem com as práticas de reprodução passam fundamentalmente pela reflexão que a teoria possibilita quando confrontada com a prática. Esta é uma forte razão para a formação de um profissional reflexivo. Há, no entanto, uma tendência hoje suficientemente marcante no interior de propostas, que pretende a formação de professores reflexivos, e que parecem desconsiderar o valor da teoria numa supervalorização da prática imediatista. Preocupada com esta tendência de supervalorização da prática em detrimento da teoria, Pimenta (2002) realizou uma pesquisa intitulada “Pesquisa na área de formação de professores e as tendências investigativas contemporâneas teórico-epistemológicas-metodológicas e políticas”, buscando apontar origens, pressupostos, fundamentos e características do conceito de professor reflexivo, com o objetivo de realizar uma análise crítica apontando seus limites e possibilidades. Neste sentido, Pimenta (2002) analisou os estudos de Donald Schön, pesquisador norte-americano com notável expressão nos últimos anos na área educacional, ao fundamentar-se em conceitos da prática pedagógica, tais como o conhecimento na ação, reflexão na ação e sobre a ação. Este autor apresentou críticas ao modelo de racionalidade técnica, de tradição positivista. A concepção de formação assumida por Schön, de acordo com Pimenta (2002) assenta-se numa concepção de formação reflexiva construída sob o enfoque da epistemologia da prática. A autora salienta que na compreensão de Schön, a formação do professor é 59 equivalente a uma formação técnica, e não apresenta, portanto, condições de mediar os conhecimentos teóricos com os práticos, diante da complexidade que envolve o trabalho escolar. A concepção de Schön tem origem em estudos sobre educação profissional e, segundo a autora, analisa a reflexão centrada em práticas individuais. Contudo, a reflexão acabou por ser um dos conceitos mais utilizados atualmente nas propostas de formação docente. Segundo Pimenta (2002), há uma apropriação indiscriminada do conceito e a falta de conhecimento mais aprofundado de suas origens e contextos faz com que ocorra certa vulgarização da perspectiva da reflexão. Pimenta (2002) assegura que a proposta de Schön, embora valorize a prática profissional como possibilidade de construção de conhecimento, através da reflexão, análise e problematização, não considera suficientemente o papel da teoria para uma efetiva reflexividade. O conhecimento na ação é mobilizado na ação cotidiana, caracterizando-se como um hábito, mas não é um conhecimento suficiente. Assim, considera a autora que (...) somente a prática não dá conta de novas situações, que colocam problemas que superam o repertório criado, exigindo uma busca, uma análise, uma contextualização, possíveis explicações, uma compreensão de suas origens, uma problematização, um diálogo com outras perspectivas, uma apropriação de teorias sobre o problema, uma investigação, enfim. A esse movimento, o autor denomina de reflexão sobre a reflexão na ação. (PIMENTA, 2002, p.20). Portanto, apesar de Schön se opor à racionalidade técnica, a sua vinculação a uma epistemologia da prática, segundo Pimenta (2002), também não é suficiente para superar o afastamento que esta racionalidade traz no seu bojo entre teoria e prática. Pimenta (2002, p.23), no estudo mencionado, faz referência à massificação do termo “professor-reflexivo” e seu uso muitas vezes inoportuno para a designação de um profissional crítico e desalienado, que efetivamente oportuniza uma relação dialética entre a teoria e a prática. Este fato dificulta o engajamento de docentes em práticas realmente mais críticas. A autora ratifica a importância da unidade teoria-prática quando afirma que: (...) o saber docente não é formado apenas da prática, sendo também nutrido pelas teorias da educação. Desta forma, a teoria tem importância fundamental na formação dos docentes, pois dota os sujeitos de variados pontos de vista para uma ação contextualizada, oferecendo perspectivas de análise para que os professores compreendam os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e de si próprios como profissionais. (Idem, p.24). 60 Ela argumenta que o enfoque do ensino voltado para o desenvolvimento da capacidade reflexiva do futuro professor direciona o processo de formação docente para um processo de “pesquisa na ação”, capaz de formar um professor pesquisador. Abre um espaço em sua obra para refletir sobre alguns aspectos deste enfoque, pois embora acatando a idéia de que a pesquisa é um instrumento valioso na formação docente, ela faz perguntas como: “que tipo de reflexão tem sido realizada pelos professores? As reflexões incorporam um processo de consciência das implicações sociais, econômicas e políticas da atividade de ensinar? Que condições têm os professores para refletir?” (PIMENTA, 2002, p.25). Ela aponta, portanto, limites que se referem aos modelos de formação baseados na racionalidade técnica e também no modelo de profissional reflexivo de Schön. A racionalidade técnica, segundo a autora, baseia-se num paradigma de concepção linear e simplista dos processos de ensino. Nesta racionalidade de formação é acentuada sobremaneira a instrumentalização técnica como solução para todos os problemas. Os problemas da prática social e educacional se resolveriam, nesta concepção, com a escolha acertada de uso de meios e de procedimentos. Já na proposta do profissional reflexivo uma das limitações remete-se ao fato de que o profissional constrói a partir da prática o próprio conhecimento, ou seja, acontece a reflexão-na-ação, e esta capacidade não depende da assimilação do conhecimento acadêmico, mas da mobilização de um outro tipo de conhecimento produzido na situação real. Entre os críticos das teorias de Schön, também destacamos Zeichner. Em Rodrigues (2005) encontra-se a análise deste outro autor norte-americano, que revê o enfoque reflexivo sinalizando os limites da teoria de Schön. Zeichner defende o conceito de professor como prático-reflexivo, e sua preocupação situa-se na forma de apropriação dos termos “prático reflexivo” e “ensino reflexivo”. Salienta que tem havido confusão sobre o significado do termo reflexão. Ele afirma que reflexão significa reconhecimento de que o processo de aprender a ensinar se prolonga durante toda a carreira do professor e de que independentemente do que fazemos nos programas de formação docente e do modo como fazemos, no melhor dos casos só podemos preparar os professores para começarem a ensinar. Os formadores de professores têm o compromisso de ajudar os futuros professores a interiorizarem, durante a formação inicial, a disposição e a capacidade de estudarem a maneira como ensinam e de melhorar com o tempo. De acordo com Pimenta e Ghedin (2002, p. 20), Zeichner entende que “o conhecimento tácito, mobilizado no decorrer da ação, não é suficiente para responder às situações que extrapolam a rotina da sala de aula, onde os professores criariam novos caminhos e soluções por meio da reflexão-na-ação”. 61 Em seus estudos sobre as políticas públicas educacionais, Kuenzer e Rodrigues (2005) concordam que a emergência da epistemologia da prática no Brasil coincide com o movimento das reformas educacionais, e neste contexto aparece o enfoque da formação reflexiva do professor e a construção de competências profissionais, fazendo críticas ao modelo da racionalidade técnica nos cursos de formação de professores. Segundo as autoras, a centralização da formação no seu aspecto prático traz o risco de desconsiderar a necessidade de um processo teórico de formação, dando o entendimento que se aprende apenas através de prática. Segundo Contreras (apud KUENZER e RODRIGUES, 2005, p. 12): (...) a idéia básica deste modelo é que a prática profissional consiste na solução instrumental de problemas mediante a aplicação de um conhecimento teórico e técnico, previamente disponível, que procede da pesquisa científica. É instrumental porque supõe a aplicação de técnicas e procedimentos que se justificam por sua capacidade para conseguir os efeitos ou resultados desejados. O aspecto fundamental da prática profissional é definido, por conseguinte, pela disponibilidade de uma ciência aplicada que permita o desenvolvimento de procedimentos técnicos para a análise e diagnóstico dos problemas e para o tratamento e solução. A prática suporia a aplicação inteligente desse conhecimento, aos problemas enfrentados por um profissional, com o objetivo de encontrar uma solução satisfatória. Confirma-se a idéia de que apenas a prática não é suficiente na formação inicial docente, tornando-se imprescindível proporcionar momentos de interpretação das causas, das relações, da organização dos fatos, das finalidades, para conseguirmos construir conhecimentos. A prática por si só passa a ser considerada superficial e pouco profunda, quando não é analisada sob a perspectiva teórica, quando não se estabelece a unidade entre teoria e prática. Numa análise filosófica, a epistemologia da prática relaciona-se ao pragmatismo, que reconhece o conhecimento vinculado a necessidades práticas, entendendo que o verdadeiro se reduz ao útil. O que se quer na realidade é discutir uma visão de formação do profissional da educação num enfoque que possibilite a articulação entre o pólo teórico e o prático. Dialeticamente, a mediação entre teoria e prática acontece através do trabalho educativo, que segundo Kuenzer e Rodrigues (2005, p.16): (...) é através dele que a prática se faz presente no pensamento e se transforma em teoria; do mesmo modo, é através do trabalho educativo que a teoria se faz prática, que se dá a interação entre consciências e 62 circunstâncias, entre pensamento e bases materiais de produção, configurando-se a possibilidade de transformação da realidade. Salienta-se que entre os autores há formas diferenciadas de compreensão de “reflexão” dependendo de sua origem epistemológica. Assim, torna-se inequívoca a necessidade de que haja nos cursos de formação de professores a proposta básica de possibilitar a unidade entre teoria-prática. Contudo, é indispensável, também, que se compreenda o Estágio Supervisionado como a principal atividade da prática de ensino, mas não a única, e que não pode se restringir a espaços terminais de uma matriz curricular que ainda agrupa disciplinas sem a preocupação real da articulação entre os componentes curriculares denominados teóricos e práticos. De acordo com Barreiro e Gebran (2006, p. 20), “o estágio curricular pode se constituir no lócus de reflexão e formação da identidade ao propiciar embates no decorrer das ações vivenciadas pelos alunos, desenvolvidas numa perspectiva reflexiva e crítica, desde que efetivado com essa finalidade”. Portanto, o Estágio Supervisionado deve se constituir em uma possibilidade concreta de problematização da prática pedagógica onde a relação teoria e prática pode ser equacionada, de acordo com Pimenta e Lima (2004, p. 23) na seguinte proposta: “o estágio realizado com pesquisa e como pesquisa contribuindo para uma formação de melhor qualidade de professores e de pedagogos”. Esta proposta baseia-se em pesquisas que apontam, segundo Pimenta e Lima (2004, p. 41): Com unanimidade, que a universidade é por excelência o espaço formativo da docência, uma vez que não é simples formar para o exercício da docência de qualidade e que a pesquisa é o caminho metodológico para essa formação. Contrapõem-se, portanto, às orientações das políticas geradas a partir do Banco Mundial, que reduzem a formação a mero treinamento de habilidades e competências. Para Maciel (apud BARREIRO e GEBRAN, 2006, p.24) “a pesquisa provoca no acadêmico certa desestruturação de suas certezas, pois enfrentar uma situação concreta que precisa ser refletida não pode ser buscada simplesmente na reprodução de idéias”. Esse processo caracteriza-se pela busca de soluções para os problemas detectados exigindo reflexão e nova ação. Para isto, é essencial a relação teoria e prática. Neste sentido, Pimenta e Lima (2004, p.43) afirmam que: 63 (...) o papel das teorias é iluminar e oferecer instrumentos e esquemas para análise e investigação que permitam questionar as práticas institucionalizadas e as ações dos sujeitos e, ao mesmo tempo, colocar elas próprias em questionamento, uma vez que as teorias são explicações sempre provisórias da realidade. A pesquisa no estágio pode possibilitar ao acadêmico a possibilidade de desenvolverem posturas e habilidades de investigadores, buscando elaborar projetos que propiciem situações para compreender e problematizar as situações vividas, ou seja, a iniciação científica como incorporação da metodologia investigativa é uma oportunidade de experimentar uma busca sistematizada de respostas e soluções. A pesquisa-ação como uma proposta busca a partir da análise da realidade da escola campo de estágio, levantar novas formas de trabalho que possibilitem reflexões das práticas realizadas, bem como a criação de novas soluções para as situações vividas. Segundo Moraes (2000, p.112): A perspectiva de realização da pesquisa nos estágios supervisionados indica uma mudança no processo de realização dessa atividade. Ao invés de esses trabalhos tomarem o esquema observação, participação e regência, verificouse neles a utilização da metodologia da pesquisa (grifo da autora), ou seja, a realização dos estágios por meio das seguintes fases: identificação das dificuldades que envolvem o cotidiano escolar (problematização), seleção do referencial teórico, elaboração de um projeto – ação, aplicação desse projeto (intervenção) e análise dos resultados. Porém, de acordo com Pimenta e Lima (2004, p.50): Apesar da importância dessa perspectiva, é necessário também, apontarmos alguns de seus limites. São eles de natureza política: quais as condições que a escola pública oferece para espaços de reflexão coletiva e de pesquisa por seus profissionais? É possível criar e desenvolver uma cultura de análise nas escolas cujo corpo docente é rotativo? Que interesse os sistemas públicos que adotam políticas com práticas autoritárias e de desqualificação do corpo docente têm de investir na valorização e no desenvolvimento profissional dos professores? Considerem-se, ainda, as limitações na formação inicial dos professores, que historicamente acumula índices precários devido à formação aligeirada e muitas vezes frágil teórica e praticamente. São limites também de natureza teórico-metodológica: quais as possibilidades efetivas de o professor pesquisar a prática? Quais são os aportes teóricos e metodológicos necessário para desenvolver pesquisas? A análise da prática é realizada para além de si, criticamente, com critérios externos de validade do conhecimento produzido? As autoras afirmam que apontar os limites citados acima, permite buscar a forma de superá-los. Elas entendem que a superação dos mesmos “se dará a partir de teoria(s) que 64 permita(m) aos professores entender as restrições impostas pela prática institucional e pelo histórico social ao ensino, de modo a identificar o potencial transformador das práticas” (PIMENTA e LIMA, 2004, p.53). Sugerem então, que o estágio possa se efetivar através da pesquisa podendo possibilitar a ampliação da compreensão das situações vividas e observadas nas escolas durante o estágio e também posteriormente a ele. Outra proposta para que o Estágio Supervisionado possa apresentar unidade entre teoria- prática é “caracterizar-se como um processo de caráter interdisciplinar”, conforme afirma Moraes (2000, p.113). Contudo, segundo Pimenta (1997, p.115) “essa aproximação só ocorre quando os professores que ministram essas aulas têm conhecimento do curso e da problemática que envolve as escolas do ensino fundamental e médio”. Segundo Pimenta e Lima (2004), o estágio não é um apêndice do currículo, mas poderá permear todas as disciplinas. De acordo com Barreiro e Gebran (2006, p. 91) o estágio “envolve observações, relatórios, investigações e análise do espaço escolar e da sala de aula, ultrapassando a situação da dinâmica do ensino-aprendizagem, favorecendo os espaços de reflexão e o desenvolvimento de ações coletivas e integradoras”. As autoras propõem que existam momentos específicos na operacionalização dos estágios. Sugerem que o primeiro momento seja de observação e atuação na escola. Assim, torna-se necessário que o aluno tenha clareza e compreensão da dinâmica de estágio, tendo comprometimento com a realidade escolar e com sua formação. A observação permite a construção de conhecimentos, competências e habilidades. Possibilita a interação do acadêmico com a estrutura da escola e seu funcionamento, bem como com o processo pedagógico e administrativo, e as relações interpessoais. Serrão (apud PIMENTA e LIMA, 2004, p. 74) ratifica a importância da observação, pois ela (...) possibilita a aprendizagem dos processos de organização do ensino e dos elementos constitutivos da educação escolar, ou seja, a percepção da postura política e pedagógica diante das demandas sociais, dos processos de aprendizagem dos estudantes, bem como do contexto histórico cultural e político. Esse momento de estágio pode permitir a análise do Projeto Político-Pedagógico e os demais planejamentos. Propicia que o estagiário compreenda como as ações e as relações ocorrem no espaço escolar, permitindo a construção e reconstrução de inovadoras ações de investigação, reflexão, análise e interpretação. 65 Para que todos esses passos se concretizem, há necessidade dos registros. Barreiro e Gebran (2006, p. 95) asseguram que: Os registros das ações significativas do cotidiano escolar e a sua socialização favorecem o enriquecimento e o aprimoramento da formação docente, já no processo da supervisão de estágio.(...) Esse processo propicia compreender o espaço escolar como espaço de formação individual e coletiva, onde cada pequena ação pode gerar uma postura permanente de indagação e questionamento da prática educativa e o desenvolvimento de projetos de investigação que abordem o conhecimento da realidade escolar, a prática de reflexão sobre essa realidade e a proposição de novas ações. Em seguida, segundo as autoras, torna-se necessário a elaboração do diagnóstico que orientará as práticas e as ações na escola e na sala de aula. Libâneo (apud BARREIRO e GEBRAN, 2006, p. 96), por sua vez, afirma que é “por meio do diagnóstico que detectamos os problemas, as necessidades e as possibilidades de atuação para uma determinada escola ou sala de aula”. Vasconcellos (apud PIMENTA e LIMA, 2004, p. 223) explica o significado de diagnóstico: Fazer diagnóstico não é só “criticar”(no sentido vulgar), ver os defeitos. Estamos numa luta. Precisamos conhecer nossas forças e as forças do inimigo; temos que identificar tanto os fatores dificultadores quanto os facilitadores. Não se trata, portanto, de mera descrição da realidade; embora a descrição seja necessária, não é suficiente para sua compreensão crítica. Um diagnóstico bem feito é meio caminho andado para uma boa programação. Assim, o professor supervisor de estágio precisa orientar para que não haja criticismo, equívoco ou pré-julgamento. Depois do diagnóstico, Barreiro e Gebran (2006) sugerem que seja realizado o projeto de estágio, que significa um envolvimento dos acadêmicos em diversas ações e projetos na escola com o objetivo de enriquecer o percurso da profissionalização, permitindo compreender múltiplas facetas de sua formação, adquirindo autonomia na solução de problemas atuais ou futuros. Pimenta e Lima (2004, p.227) justificam que nos últimos anos a prática de projetos na área de educação é muito bem aceita, embora não possa haver a banalização e a falta de clareza em sua finalidade, contradizendo os fundamentos dessa opção pedagógica. Há necessidade que os supervisores e/ou orientadores de estágio tenham muito cuidado ao aplicar a proposta, porém a mesma deve ser utilizada por caracterizar-se como 66 possibilidade de aproximar os estudos realizados na universidade e a realidade vivida nas escolas. Há, segundo Pimenta e Lima (2004, p. 230-6) a possibilidade de realização de pesquisa no estágio, entendendo que ela tem por finalidade a produção de conhecimentos numa área específica. Permite a ampliação e análise de contextos do local onde ocorrem os estágios. É uma possibilidade de os estagiários desenvolverem posturas e habilidades de pesquisadores a partir das situações vivenciadas, elaborando projetos que possibilitem a compreensão e problematização da realidade observada. O que se supõe é que o estagiário busque novos conhecimentos, novos dados e novas soluções. Todas as ações, sejam elas projetos de intervenção ou projetos de pesquisa, devem ser discutidas e apresentadas para a comunidade escolar e receber constantes avaliações que podem ocorrer através de reuniões, estudos, pareceres e opiniões. A socialização dos projetos possibilita a elaboração de novos conhecimentos, além de redimensionar o processo. Em relação ao relatório de estágio, ele finaliza o processo de estágio sendo um instrumento valioso de registro, reflexão e avaliação. Podem ser levantados os pontos positivos e os pontos negativos ou frágeis da caminhada para propiciar um constante ir e vir entre teoria e prática. Não podemos deixar de considerar que a teoria e a prática estão presentes nos espaços da instituição formadora, bem como nas instituições que são campo de estágio. Torna-se essencial então, para uma proposta de estágio de qualidade, que ele “permita um intercâmbio, durante o processo formativo, entre o que se teoriza e o que se pratica em ambas” (PIMENTA e LIMA, 2004, p. 57). 67 CAPITULO III ORGANIZAÇÃO DOS ESTÁGIOS CURRICULARES EM CURSOS DE PEDAGOGIA NO ESTADO DE SANTA CATARINA Como se organizam os estágios nos cursos de Pedagogia que formam os professores para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental? Estes estágios supervisionados atendem as necessidades formativas que lhes cabem como componentes curriculares da formação docente? Há diferenças na sua organização? Com a finalidade de fazer um mergulho empírico na situação dos estágios supervisionados dos cursos de Pedagogia, optou-se por realizar um estudo a respeito da sua organização em regimes diferenciados de oferta dos cursos. Foram selecionadas três instituições de ensino superior catarinenses, que oferecem o curso de Pedagogia em modalidades diferenciadas como uma forma de evidenciar as possibilidades e limites na condução de seus estágios, tendo como base os seus Projetos Político-Pedagógicos e Manuais de Estágios. 3.1. Contextualização da pesquisa O primeiro curso de Pedagogia no Estado foi criado na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, em janeiro de 1960. Segundo Durli (2006), e Scheibe e Daniel (2002) ainda nessa década a UDESC, UNIVALI e FURB implantaram o mesmo curso, todos localizados no litoral do estado catarinense. Com a reforma universitária de 1968 e o movimento desenvolvimentista houve uma extraordinária ampliação do ensino superior e sua interiorização. No estado de Santa Catarina esta ampliação ocorreu principalmente através da criação das fundações educacionais que caracterizam hoje grande parte das instituições de ensino superior do Estado. No ano de 1974, as fundações educacionais, que eram faculdades isoladas, congregaram-se dando origem a ACAFE - Associação Catarinense das Fundações Educacionais. Hoje o sistema ACAFE é composto de 16 instituições (Ver Nota 1). 68 Para este estudo, optamos analisar a organização dos estágios em três instituições: a Universidade do Contestado – UNC, a Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE) e a Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. Nestas instituições encontramos cursos de Pedagogia ofertados em diferentes regimes de oferta. Durli (2006, p.13), ao estudar a oferta dos cursos de Pedagogia no Estado de Santa Catarina, indicou a existência de quatro modalidades de oferta: cursos noturnos, cursos mistos noturno/matutino, cursos em regime especial e ainda curso em regime integral. Ela afirma que o regime especial é uma modalidade que surgiu para atender as exigências de formação docente em nível superior, principalmente para uma clientela que já estava atuando nas escolas cuja carga de trabalho não possibilitava a freqüência em cursos regulares, assegurando que: Dessa necessidade concreta, surgem algumas modalidades como alternativas àquelas convencionais, apresentando variações internas: 1) modalidade de final de semana: a) sextas – feiras no período noturno e sábado – matutino e vespertino, b) sextas – feiras no período noturno e sábado no período matutino, c) sábado matutino e vespertino: 2) modalidades de férias: a) aulas intensivas oferecidas durante o mês de janeiro, parte de fevereiro, até o início das aulas no ensino regular, b) aulas intensivas nos meses de janeiro e julho: 3) modalidades mistas:a) aulas concentradas em finais de semanas e alguns períodos de férias,c) aulas em alguns dias da semana no período noturno, com contemplação de alguns sábados.Das experiências que conhecemos no estado, essas foram às modalidades identificadas, possivelmente existam outras. A UNC teve o início de sua história na década de 1970, quando houve na região do meio-oeste e planalto norte de Santa Catarina a implantação de cinco instituições de ensino superior, dentre elas a FEPLAC – Fundação Educacional do Planalto Central Catarinense, criada em 24 de junho de 1976. Mais tarde, para atender as demandas e necessidades sociais da região, essa instituição foi transformada em universidade, denominando-se então de Universidade do Contestado - UNC. Esta instituição foi e é responsável pela formação de muitos profissionais que atuavam e atuam no ensino fundamental e médio da região de sua abrangência. A UNIVILLE – Universidade da Região de Joinville se denominava como FURJ desde o ano de 1977 quando de sua aprovação para funcionamento, através da lei municipal nº.1423 de 22 de dezembro de 1975. Apenas em 1995 passou a denominar-se UNIVILLE. O curso de Pedagogia e suas habilitações em educação infantil e anos iniciais foi aprovado em 1994. 69 A UNOESC – Universidade do Oeste de Santa Catarina caracteriza-se como uma instituição de ensino superior voltada, principalmente, para atender à comunidade do meio oeste catarinense. Seu curso de Pedagogia foi autorizado pela primeira vez pelo Conselho Estadual de Educação em 1975. Seu reconhecimento, porém, só ocorreu em 1978 por este Conselho e pelo Decreto Ministerial, em 1979. A UNOESC denominava-se inicialmente como FUOC – Fundação Universitária do Oeste Catarinense. 3.2 Metodologia da pesquisa e dados sobre os cursos pesquisados A intenção inicial desta investigação foi levantar dados sobre a forma de condução dos estágios supervisionados em diversas instituições de ensino superior em Santa Catarina que oferecem o curso de Pedagogia, com diferentes regimes de ofertas. Foram escolhidas instituições ligadas ao sistema ACAFE, portanto, de natureza privada. O intuito era investigálas através de entrevistas com os coordenadores de cursos de Pedagogia e orientadores e/ ou professores de Estágios Supervisionados. Porém, percebeu-se que os dados se tornariam subjetivos demais e o que se buscava poderia ser encontrado de forma mais sistemática nos Projetos Político-Pedagógicos e Manuais de Estágio. Assim, a escolha da amostra atendeu ao fato de que as instituições escolhidas oferecem o curso de Pedagogia na modalidade presencial, em regime regular em turno matutino e noturno, bem como em regime especial de final de semana e semanas de férias e recessos. Contatou-se através de correio eletrônico e ligações telefônicas, as diversas universidades ligadas ao Sistema ACAFE. Apenas a UNC, UNOESC e UNIVILLE forneceram os documentos necessários. Neste capítulo, portanto, serão apresentados alguns dados de identificação das instituições investigadas com o objetivo de caracterizá-las de forma um pouco mais ampla, apresentando algumas das suas particularidades, possibilitando reflexões importantes para análise das conduções dos estágios supervisionados. A UNC - Universidade do Contestado é mantida pela Fundação Universidade do Contestado. Possui natureza jurídica fundacional, com campus nas cidades de Caçador, Canoinhas, Concórdia, Curitibanos e Mafra e exerce funções também em Porto União, 70 Fraiburgo, Santa Cecília, Monte Carlo, Seara e Rio Negrinho. Segundo rege seu estatuto, é uma instituição pública municipal de direito privado. O curso de Pedagogia na UNC é uma licenciatura, com habilitação em anos iniciais do ensino fundamental e habilitação em educação infantil. Sua modalidade de oferta é presencial e o critério de seleção adotado para o ingresso no curso é o processo seletivo determinado pela própria UNC. Há no Projeto Político-Pedagógico a previsão de 405 horas de atividades não presenciais durante o curso, sendo que esta carga está distribuída entre as disciplinas curriculares. Embora estejam previstas ofertas regular e especial, a pesquisa envolveu apenas o curso com oferta regular, noturna. Para o regime especial há previsão de que sempre que for ofertado, haverá projeto específico com aprovação no colegiado superior. Atualmente, no campus pesquisado, é oferecido apenas o curso em regime regular. Para a habilitação em anos iniciais do ensino fundamental a duração do curso é de oito semestres letivos/4 anos, com 2.805 horas/aulas no total. Para a habilitação em educação infantil a duração prevista também é de oito semestres letivos/4 anos, com 2.820 horas/aulas no total. A segunda instituição investigada é a UNIVILLE - Universidade da Região de Joinville que possui campus nas cidades de Joinville e São Bento do Sul. Caracteriza-se por ser uma instituição de natureza jurídica fundacional, privada e comunitária, com sede em Joinville. O curso de Pedagogia ofertado pela instituição é uma licenciatura, com habilitação em séries iniciais do ensino fundamental e habilitação em educação infantil (0 a 6 anos). A modalidade de oferta do curso é presencial e o sistema de ingresso ocorre através de processo seletivo constituído por provas, ou por modalidades que atendam a demanda. O regime de oferta previsto no Projeto Político-Pedagógico é o regular. O turno previsto é noturno para a habilitação em séries iniciais do ensino fundamental e matutino para a habilitação em educação infantil. A duração do curso de Pedagogia previsto no documento é de 2.840 horas/aula. A terceira instituição em questão nesse estudo é a UNOESC - Universidade do Oeste de Santa Catarina, que possui campus nas cidades de Joaçaba, Capinzal, Videira, São Miguel do Oeste, Xanxerê e Campos Novos. Caracteriza-se por ser uma Universidade de natureza jurídica fundacional filantrópica, com sede em Joaçaba. A denominação do curso de Pedagogia é de licenciatura com habilitações em educação infantil, séries iniciais do ensino fundamental, educação especial e educação de jovens e adultos. Porém, o foco deste estudo se deterá nas duas primeiras ofertas. A oferta é presencial, mas o projeto prevê 20% de toda a carga horária do curso para atividades não 71 presenciais nas quais os acadêmicos estarão presentes no campo de estágio realizando investigações práticas, sem a presença do professor, ou na biblioteca da universidade, nos laboratórios, enfim onde houver condições de realizar atividades relacionadas ao curso. O professor, nesses momentos, estará sempre disponível ao aluno para consultas via telefone, cartas, fax, Internet. O sistema de ingresso ao curso, ocorre através de processo seletivo por provas específicas ou outras modalidades que atendam as demandas específicas provenientes dos sistemas de ensino municipal e estadual. O regime de oferta do curso depende das demandas e necessidades existentes. Pode ser regular (diurno ou noturno) e especial de finais de semana ou nas sextas-feiras à noite e nos sábados, ou apenas nos sábados ou ainda de férias. No campus pesquisado, ocorre em regime especial nos sábados e semanas intensivas nas férias e recesso escolar. A carga total do curso é de 2.835 horas/aula para cada habilitação. Ratifica-se que os três cursos analisados nesse estudo apresentam características muito semelhantes em vários aspectos. Pertencem a instituições de natureza jurídica fundacional, privada. Todas possuem a característica de universidade multicampi, ofertam o curso na modalidade presencial e pertencem ao sistema ACAFE. Caracterizam-se por serem cursos de licenciatura com habilitações em educação infantil e anos iniciais, tendo a docência como base. O sistema de ingresso nos cursos acontece através de um processo seletivo por provas ou outras modalidades especificadas pela própria instituição. Ressalta-se que o processo seletivo realizado, muitas vezes, caracteriza-se por uma prova de conhecimentos gerais e da atualidade, com questões breves e/ou uma redação sobre um tema relevante, ou por outras modalidades, facilitando o ingresso. Sabe-se de forma empírica, que muitas vezes, por serem instituições privadas, abrem-se vagas para atender a demanda total de inscrições, caracterizando o sistema de ingresso como um processo de caráter burocrático e formal, ocorrendo a entrada de todos os inscritos, não havendo nenhuma seleção. Apesar de ser importante o acesso a formação, muitas vezes, ocorre que no curso de Pedagogia ingressam acadêmicos com defasagens sérias de habilidades básicas como escrever de forma clara e coerente, interpretar, raciocinar, ler com fluência, expressar-se de forma oral, entre outras. Estes fatos acabam por dificultar o processo ensino-aprendizagem de melhor qualidade nos cursos, quando pode ocorrer uma graduação com caracterização de um ensino médio aprofundado. Em relação ao fato, torna-se essencial que os professores formadores, bem como os acadêmicos, tenham clareza do compromisso que a profissão docente exige e criem novas formas, experiências e exigências para a formação inicial, não permitindo o sucateamento do curso e conseqüentemente o sucateamento da educação básica. 72 Quanto a carga horária e duração total dos cursos de Pedagogia ofertados pelas três instituições (UNC, UNIVILLE e UNOESC) percebem-se pequenas diferenças de cargas horárias, porém nos três documentos a média é de 2.800 horas/aula. O tempo de duração do curso está previsto na legislação que não deve ser menor do que 3 anos. A UNC prevê a duração de 4 anos ou 8 semestres letivos. A UNIVILLE contempla o curso também em 4 anos, porém subdivididos em anos letivos e não em semestres. Já a UNOESC oferece o curso em 3 anos e meio, ou em 7 fases, ratificando que as aulas são em finais de semana e em semanas intensivas de férias e recessos, isto é, há aulas nos meses de janeiro e julho. Neste caso são flexibilizados horários para que haja conclusão do curso dentro de um espaço mínimo legal de tempo. A base legal destes cursos é a Resolução CNE/CP 1/2002 e 2/2002, cuja estruturação do curso prevê uma carga horária específica para diferentes atividades. Pimenta e Lima (2004, p.87), se posicionam em relação ao fato, afirmando que é um (...) equívoco e retrocesso o estabelecimento e distribuição das 2.800 horas dos cursos de formação em horas de prática, horas de estágio, horas de aulas para conteúdos de natureza científico-cultural e horas para outras atividades acadêmico-culturais. Essa distribuição revela uma proposta curricular fragmentada, que perpetua a separação entre teoria e prática, o fazer e o pensar. Em relação a algumas diferenças detectadas entre as instituições investigadas, cita-se primeiramente que apesar de todas apresentarem natureza fundacional, a UNOESC é considerada filantrópica pois deixa de recolher contribuição patronal ao INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social e este valor precisa ser revertido em bolsas a partir de 50% do valor da mensalidade para alunos carentes. Assim, a instituição oferece estas bolsas para acadêmicos que freqüentam os cursos de formação de professores na instituição. Já a UNIVILLE caracteriza-se por ser de natureza jurídica comunitária. Essas instituições são normalmente financiadas por igrejas, congregações ou organizações não governamentais. Já a UNC é uma instituição com natureza jurídica pública municipal. As três instituições têm previstas em seus Projetos Político-Pedagógicos a ocorrência de atividades não presenciais no curso de Pedagogia. Elas consistem em atividades de prática de ensino planejadas para serem realizadas normalmente nas escolas de diversos sistemas de ensino com o objetivo de investigar a realidade educacional. 73 A UNC prevê em sua matriz curricular que as atividades de pesquisa e prática educativa possuem uma carga horária de 15 ou 30 horas/aula e ocorrem no interior das áreas e disciplinas. Essas atividades devem ter dimensão prática e acontecem no decorrer dos oito semestres de duração do curso, com a já citada aproximação com a realidade escolar, tendo como referência eixos norteadores, que são: epistemologia pedagógica, comunicação e expressão, desenvolvimento humano, currículo, metodologias de ensino e investigação educativa. A UNIVILLE também prevê cargas horárias de prática em todas as disciplinas nos dois primeiros anos. Nos dois últimos aparece como disciplina específica, além do estágio supervisionado. A UNOESC prevê 20% destas atividades não presenciais sobre a carga total do curso. A prática de ensino denomina-se na grade curricular como Prática Pedagógica e Investigação Educativa e aparece na matriz curricular como uma disciplina desde a primeira fase do curso, tendo como objetivo a inserção do acadêmico nos espaços escolares com a perspectiva de investigação (pesquisa). O processo ocorre inicialmente pela observação minuciosa dos espaços escolares, a elaboração de um diagnóstico com enfoque reflexivo e finaliza com o registro em relatórios. Questiona-se: O fato da prática de ensino aparecer como um componente curricular na matriz curricular, não pode de forma implícita, ser entendida como a única responsável por realizar a unidade teoria e prática durante o curso? Em relação ao regime de oferta dos cursos, a instituição que oferece em regime único o regular é a UNIVILLE, os outros dois (UNC e UNOESC) oferecem o curso nos regimes regular e especial, dependendo das demandas e necessidades existentes. A UNC prevê que para a oferta do regime especial haverá um projeto específico aprovado pelo colegiado superior, porém não se sabe da existência deste projeto. Atualmente o curso está sendo ofertado em regime regular. Já a UNOESC, possui somente um Projeto Político-Pedagógico que não especifica diferenciações tanto para a oferta regular, como a oferta em regime especial. Hoje o regime de oferta é especial de finais de semana e semanas intensivas de férias e/ou recessos escolares. Questiona-se neste momento do estudo sobre não haver especificidades claras quando o regime de oferta for diferenciado: apenas a carga-horária igual garante a mesma qualidade do processo ensino-aprendizagem? As características dos educandos que freqüentam o curso em regimes diferenciados não exigem outras estruturações e organizações, principalmente no que tange ao Estágio Supervisionado, quando muitos já são profissionais docentes com vasta experiência? Salienta-se que não há menção no Projeto Político-Pedagógico e no Manual de Estágio referências sobre esse fato. 74 Outro aspecto salientado nessa investigação refere-se ao dado que prevê que o turno de oferta poderá ser diurno e noturno, tanto a UNC como a UNOESC. Apenas a UNIVILLE deixa clara a oferta do curso no período noturno para a habilitação em séries iniciais do ensino fundamental e no período matutino a habilitação em educação infantil. A questão do turno de oferta é um foco salientado pela lei nº. 9.394/96 que no artigo 47, parágrafo 4º, afirma que as instituições de educação superior oferecerão, no período noturno, cursos de graduação nos mesmos padrões de qualidade mantidos no período diurno (...). O fato de a lei focalizar essa exigência reforça a preocupação existente, pois se sabe que a clientela de cursos diurnos e noturnos se diferencia normalmente pelo fator de que quem freqüenta o período noturno são trabalhadores com maiores dificuldades do que os acadêmicos que têm possibilidade de freqüentar um curso diurno (matutino). Essas dificuldades normalmente são mais acentuadas em atividades de práticas de ensino e nos Estágios Supervisionados. Não há nos documentos investigados nenhuma referência de como a condução respeitará essas características. Segundo Lüdke (apud MORAES, 2000, p.68) “seria muito importante saber se essas tentativas estão levando em consideração a relação entre trabalho e educação, que deveria entrar em cheio na proposta desses novos cursos (...) é o trabalhador-estudante, o novo sujeito que bate às portas da universidade, reivindicando um direito para si mesmo, mas trazendo de imediato para a instituição o benefício de sua experiência da realidade, por meio do seu trabalho”. Em momento anterior do estudo foi mencionado que o artigo 53 da lei nº. 9.394/1996 permite autonomia à universidade para criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e programas de educação superior, fixando os currículos dos seus cursos e programas. Não se pode negar que este fato, numa perspectiva de políticas educacionais é uma conquista histórica das universidades, porém traz algumas preocupações, como os mencionados acima, que precisam ser cuidadosamente planejados, executados e avaliados, para que a autonomia não se configure num processo de fazer o mínimo, sem preocupação com a qualidade. 3.3. Análises de dados dos Projetos Político-Pedagógicos e Manuais de Estágios Supervisionados. Para melhor estruturação do trabalho, foram estabelecidas categorias e subcategorias de análise. As três categorias centrais são as seguintes: concepção de estágio, organização e operacionalização dos estágios supervisionados e estruturação didático-metodológica dos estágios supervisionados. Com essa estrutura buscou-se explicitar aspectos relevantes sobre as 75 formas de condução dos Estágios Supervisionados dos cursos de Pedagogia, objetivando refletir sobre o que é, como, quando e o que pode ser realizado neste componente curricular, sempre com a intenção de buscar novos caminhos que o tornem cada vez mais qualitativo. 3.3.1 Concepção de estágio Investigar os Estágios Supervisionados poderá possibilitar conhecimentos sobre como as instituições o concebem, qual é a concepção de campo de estágio, como ocorre a relação teoria e prática na matriz curricular e qual a concepção de estágios como um campo de investigação da realidade visando ação-reflexão-ação através da iniciação científica. Concepções de Estágio Supervisionado UNC O estágio curricular supervisionado é considerado um componente curricular obrigatório para obtenção do grau de Pedagogo. Deve ser cumprido na área específica de atuação do licenciado. UNVILLE O Estágio Supervisionado são as atividades de aprendizagem social, profissional e cultural, proporcionadas ao estudante pela participação em situações reais de vida e de trabalho em seu meio, sendo realizadas na comunidade em geral ou junto a pessoas jurídicas de direito público ou privado, sob responsabilidade e coordenação da instituição de ensino. UNOESC Estágio é o exercício de atividades profissionais inerentes a cada uma das habilitações do curso de pedagogia e deve ser planejado, orientado e avaliado visando possibilitar aos estagiários as condições plenas de aplicação prática dos conteúdos e metodologias do curso. Analisando os Manuais de Estágio das três instituições investigadas (UNC, UNIVILLE e UNOESC) percebe-se que o Estágio Supervisionado aparece com um foco mais formal e burocrático no documento da UNC, quando é “considerado um componente curricular obrigatório para obtenção do grau de Pedagogo e que deve ser cumprido na área específica de atuação do licenciado”. Nos documentos da UNIVILLE e UNOESC há preocupação em salientar que o estágio se caracteriza como atividade de aprendizagem de diversas áreas, inerentes a futura profissão e que devem ser supervisionadas, orientados e avaliados. Nesses dois últimos documentos transparece a concepção de estágio com enfoque na perspectiva da relação teoria e prática, quando buscam possibilitar a participação do acadêmico em situações reais de vida e de trabalho, junto a comunidade (UNIVILLE) ou quando especificam que o Estágio visa possibilitar aos estagiários as condições plenas de aplicação prática dos conteúdos e metodologias do curso (UNOESC). 76 De acordo com Cury (2003, p. 118) “o estágio torna-se uma das práticas de ensino que ocorre na graduação e deve necessariamente implicar em: 1. Conhecer o real em situação; 2. Fazer crescer o interesse pela área; 3. Verificar se os conhecimentos adquiridos são pertinentes à área; 4. Articular-se com o mercado de trabalho; 5.Comparar programas de estudos às diferentes necessidades da sociedade”. Lüdke ( apud MORAES, 2000, p. 62) afirma que “o estágio é um processo criador, de investigação, explicação, interpretação e intervenção na realidade. Não é reprodução automática do já sabido”. Moraes (2000, p. 62) também salienta a importância que há em realizar um estágio com supervisão qualitativa, envolvendo orientação, supervisão e avaliação, pois segundo ele: “O estágio, quando mal orientado, é encarado apenas como uma exigência acadêmica necessária para a aquisição do diploma”. Concepção de campos de Estágio Quando se analisa historicamente as normatizações de cursos de formação e de forma especial os Estágios Supervisionados, encontra-se no Parecer nº.292/1962 a primeira referência sobre a realização dos mesmos em situações reais nas escolas. Outra referência normativa aparece em 1972 através do Parecer nº. 349/72, onde se ratifica a idéia de que a prática de ensino deveria ser realizada nas próprias escolas. Em relação ao presente estudo sobre os Estágios Supervisionados e seus campos de estágio, há previsão de que: UNC São as instituições onde serão aplicadas a pesquisa de campo e sua correspondente prática docente. Caracterizam-se por serem Unidades Escolares que ofereçam os anos iniciais (1ª a 4ª série) do Ensino Fundamental ou educação infantil, incluindo salas de recursos, centros de educação com atendimento de educação infantil e 1ª a 4ª série, espaços educativos que desenvolvam projetos para atendimento de alunos de classes de educação infantil e 1ª a 4ª série e com necessidades especiais nas escolas de educação básica. Não será permitida a prática docente do Estágio Curricular Supervisionado junto ao espaço da sala de aula onde o(a) acadêmico(a) exerça suas atividades profissionais. UNIVILLE São as organizações e instituição Educacionais com condições de proporcionar vivência efetiva de situações concretas de vida e trabalho, dentro do campo profissional da Pedagogia. Serão consideradas a existência de infra estrutura material e de recursos humanos; a adequação das atividades do Campo de Estágio pertinentes ao Curso de Pedagogia e a formação profissional do estagiário (EI 0 a 6 anos, Séries Iniciais – EF e outras modalidades). Poderá ser realizado na instituição onde o estagiário trabalha desde que esta lhe ofereça as condições necessárias para o desenvolvimento de seu Projeto de Estágio, inclusive disponibilizando profissional apto a supervisionar as atividades de estágio. UNOESC Deve haver formas de colaboração com os sistemas de ensino para assegurar a oferta, desde o início de sua preparação profissional, oportunidades de contato regular supervisionado.O responsável da entidade campo de estágio é indicado dentre os profissionais com formação compatível com a área objeto de estágio e acompanha o aluno ou grupo de alunos. Mantém o intercâmbio com a universidade, elabora um parecer por escrito sobre cada estagiário.A coordenação do curso celebra os convênios com as Unidades escolares. Organiza cadastros dos campos de estágio. O acadêmico poderá optar por instituição de sua preferência, mesmo que exerça suas funções profissionais na mesma. 77 Percebe-se, portanto, que o Manual de Estágios da UNC caracteriza de forma clara as instituições aptas a serem campos de estágio. A UNIVILLE salienta que o local deve ter as condições necessárias para vivências concretas de sua futura profissão, não deixando de registrar a importância de apresentar infra-estrutura material e humana para a realização das atividades. Especifica que o campo de estágio são os espaços escolares que permitem a vivência de situações concretas. A UNOESC apenas cita a possibilitade da realização dos Estágios nos sistemas de ensino, sem qualificar ou especificar exigências mais detalhadas. Como já se afirmou anteriormente, a profissão de professor possui características especiais, pois muitas vezes o acadêmico já exerce a profissão, sendo habilitado através do ensino médio na modalidade normal, ou por falta de profissionais habilitados, antes de concluir seu curso o acadêmico já exerce a profissão. Esse fato é previsto no Manual de Estágio das instituições pesquisadas, sendo que a UNC não permite estágios onde o acadêmico exerce sua função de professor, a UNIVILLE e UNOESC pemite a realização do estágio em instituição onde o acadêmico trabalha, porém deve haver comprovação das condições para que as atividades de supervisão aconteçam. Não há referência nos Projetos Políticos-Pedagógicos e Manuais de Estágios das instituições investigadas sobre o estágio ser desenvolvido apenas em instituições públicas ou sobre a possibilidade de fazê-lo em instituições privadas. Em pesquisa realizada por Pimenta e Lima (2004, p. 188) há a afirmação de que detectou-se que: A maioria dos orientadores encaminha a realização dos estágios em escolas públicas, considerando que a inserção profissional dos alunos egressos dos cursos de graduação ocorrerá em grande parte nesse universo; considerando, ainda, que as escolas públicas se constituem em espaço especialmente privilegiado para a aprendizagem profissional, uma vez que nelas emergem, de modo mais evidente, as contradições da educação escolar no País. Porém, independentemente do fato, é imprescidível afirmar que a articulação direta com as escolas e demais instâncias educativas sociais, deve privilegiar a análise dos saberes nelas praticados como recurso para o preparo dos futuros pedagogos. Relação teoria e prática na matriz curricular 78 UNC UNIVILLE UNOESC Há previsão no PPP do compromisso da instituição em relacionar a teoria/prática a partir da promoção da pesquisa. A grade curricular prevê as atividades de pesquisa e prática educativas desde a 1ª fase, culminando em socialização e apresentação de oficinas pedagógicas em seminários pedagógicos. O PPP prevê que as atividades de pesquisa e prática pedagógica do Curso de Pedagogia terão a carga horária de 405 (quatrocentos e cinco) horas/aulas dentro das quais se possibilitará aos acadêmicos a vivência necessária para uma sólida formação docente. Desenvolver-seá ao longo do curso compondo junto às disciplinas curriculares a interação teoria e prática constituindo base para a realização do estágio curricular supervisionado. Prevê que o processo de estágio deva se desenvolver tendo em vista a própria trajetória do curso, a partir das experiências e vivências construídas historicamente na Universidade. Como ação está previsto haver relação dialética entre teoria/prática a partir da promoção da pesquisa As 400 horas de prática serão distribuídas disciplinas. A prática estará presente no curso através da construção de projetos que aliem teoria e prática. Todas as disciplinas terão uma dimensão prática. A constante busca da relação teoria e prática são princípios que deverão ser contemplados pelos professores em seu fazer pedagógico ao longo do curso. A Matriz Curricular do Curso organiza-se em eixos temáticos e insere nos dois primeiros anos na disciplina “Pesquisa em Educação” e nos dois últimos a disciplina “Prática Pedagógica” que deverão articular as diversas disciplinas de forma que o observado e problematizado na realidade escolar seja fundamentado teoricamente pelas diversas áreas do conhecimento envolvidas e discutido em seminários de integração. A prática constitui-se num primeiro passo para a não compartimentalização do saber. Garante a integração teoria e prática de forma interdisciplinar, garante a criação, a produção e a socialização do conhecimento. Na Prática Pedagógica a ementa prevê a disciplina como um espaço interdisciplinar destinado a fazer a ponte entre a realidade do aluno e a prática pedagógica das escolas, visando a análise global e crítica da realidade educacional e profissional. Debates com diversos profissionais buscando uma compreensão mais ampla da prática pedagógica. Iniciação científica através de pesquisas exploratórias na rede pública. Este espaço também deverá ser utilizado para a integração horizontal das disciplinas do 1º ano. Professores e alunos reunir-se-ão para debate de temas geradores. Nos objetivos específicos do curso há previsão para que teoricamente fundamentados os futuros profissionais possam superar a dicotomia teoria e prática. Pretende a construção de projetos que aliem teoria e prática. O estágio é previsto para ser regulamentado em documento específico. A matriz curricular demonstra articulação entre teoria e prática através da disciplina prática pedagógica e investigação educativa, que deve organizar-se de forma integrada às demais, buscando um processo progressivo de conhecimento da realidade que o futuro pedagogo irá atuar. A proposta é determinar um fenômeno a ser pesquisa, através de uma investigação, caracterizada como iniciação científica. O PPP prevê a prática de ensino como articuladora dos demais componentes curriculares. A previsão é que seja instituído novos modos de proceder a prática pedagógica, articulando o fazer de todos os docentes em torno das atividades significativas vinculadas ao campo de atuação desde as primeiras fases do curso, para a articulação do estágio com as demais disciplinas de cada núcleo da matriz curricular e com a escola campo de estágio. Para Que esta perspectiva aconteça, os professores dos cursos dedicar-seão a seleção e organização de conteúdos, habilidades e competências que cada disciplina estará trabalhando em encontros periódicos onde serão estabelecidas atividades comuns a todas as disciplinas privilegiando a pesquisa e a resolução de problemas como metodologias. 79 Percebe-se nos documentos pesquisados, nas três instituições, uma organização curricular que busca propiciar a análise do real vivido nos espaços escolares tendo como base a unidade teoria e prática. Há referências indicando que desde o início da década de 1980, as propostas de estágios exigem do futuro professor o conhecimento da realidade profissional. Este deve saber observar, descrever, registrar, interpretar, problematizar, teorizar e redimensionar a ação. O Estágio Supervisionado passa, portanto, desde então, a ser pretendido cada vez mais como espaço interdisciplinar de formação. Na proposta da Comissão de Especialistas de Ensino (1999) a prática foi indicada para ocorrer com articulação entre teoria-prática, tornando-a um instrumento de integração e conhecimento mais amplo do acadêmico com a realidade social, econômica e profissional visando, portanto um exercício profissional mais próximo das características da futura profissão. Parafraseando Barreiro e Gebran (2006, p. 91), um processo interdisciplinar propicia a articulação e o envolvimento das diferentes áreas do conhecimento. A prática aparece na organização curricular da UNIVILLE, até o segundo ano, dissolvida nas várias disciplinas e nos outros dois anos como disciplina específica. Na UNOESC aparece como componente curricular e na UNC pretende-se que a prática integre todas as disciplinas através das suas atividades. Porém, questiona-se: a prática (como disciplina específica ou presente no interior de todas as disciplinas) e o Estágio Supervisionado nos cursos de Pedagogia nas instituições investigadas, continuam a ser vistos como as únicas possibilidades de aproximação com o contexto onde ocorre a intervenção pedagógica? A análise da organização curricular que realizamos indica a presença do Estágio Supervisionado no final do curso, com carga horária específica (400 horas) como prevê a legislação, mas de forma dicotomizada da denominada prática de ensino. Porém, não se pode deixar de argumentar que a previsão da prática de ensino desde o primeiro semestre do curso possibilita aos acadêmicos que eles obtenham (...) um conjunto de informações e dados sobre a escola, a sala de aula e o professor da classe que lhes possibilite, baseados em uma visão geral do processo pedagógico da escola e da forma de trabalho do professor com as crianças, encontrar caminhos para elaborar sua proposta particular de trabalho, para o estágio(...)”. (FREITAS, 2006, p. 105). É indispensável que se compreenda o Estágio Supervisionado como a principal atividade da prática, mas não a única, e que não pode se restringir aos espaços terminais de 80 uma matriz curricular sem preocupação real com a unidade entre componentes curriculares denominados teóricos e práticos. Concepção de estágio como um campo de investigação da realidade visando açãoreflexão-ação através da iniciação científica (pesquisa). UNC UNIVILLE UNOESC Na apresentação do PPP traz a preocupação com a regulamentação da pesquisa curricular. Na concepção e perfil da UNC explicita que a universidade é o local adequado para assegurar a reflexão epistemológica e crítica da realidade. Nos objetivos específicos do curso está previsto que haverá articulação ensino e pesquisa na produção do conhecimento e na prática educativa. Na justificativa ratifica-se a intenção do curso em contribuir para a intervenção dos profissionais da educação na realidade vivida, repensando o estágio, a gestão escolar, a prática de ensino num contínuo movimento de reflexão e ação. Na proposta filosófica encontra-se a intenção do curso de materializar-se no cotidiano escolar e na prática pedagógica críticoemancipatória a ser adotada pelos educadores como tarefa de, além de buscar o fundamento, isto é, construir juntamente com os alunos o referencial teórico, possibilitar também, a elaboração de um quadro explicativo do mundo que os situe face às implicações decorrentes da aplicação e utilização deste saber, elaborado, na prática. Um dos objetivos previstos para o curso prevê a pesquisa como princípio educativo e científico. E que a ação reflexiva, crítica e propositiva sobre o processo educativo resulte em qualidade de ensino. Nos objetivos do curso está previsto o desenvolvimento de projetos de iniciação científica e produções que contribuiriam para a melhor formação acadêmica e da educação escolar nos diferentes níveis de abrangência do curso. Através da prática de ensino e estágio supervisionado o acadêmico estará em constante contato com a realidade educacional que o cerca, desenvolvendo atividades e refletindo sobre a mesmo em busca de transformação. Os cursos analisados apresentam uma perspectiva metodológica de investigação buscando romper com as práticas antigas de simples imitação ou repetição de modelos. Segundo Barreiro e Gebran (2006, p 118) A prática investigativa permitirá ao futuro professor, sair da atitude de imitação para a atitude de apreensão e elaboração própria, coincidindo com o criar, emancipar-se e dialogar com a realidade educativa, visando à sua compreensão e à construção de novos caminhos para a prática docente. Há, portanto, nos documentos, a intenção de desenvolver nos acadêmicos habilidades para o conhecimento e a análise das escolas e demais espaços institucionais onde ocorre o ensino e a aprendizagem, para que se instale um processo de ação-reflexão-ação. 81 De acordo com Barreiro e Gebran (2006, p. 99), para que ocorra a reflexão-ação, o estagiário deve conceber a prática docente como um processo de formação-ação, no qual o professor se coloca como agente e sujeito de sua própria prática e sujeito do processo de construção e reconstrução do conhecimento. O Parecer nº. 9/2001 é enfático ao propor a prática numa dimensão investigativa e de (re)criação do conhecimento. O objetivo é a melhor compreensão da processualidade da produção e apropriação de conhecimento, bem como do caráter provisório das verdades científicas. A resolução do CNE/CP nº. 1/2001 que normatizou o Parecer acima referido enfatizou a importância da atitude de pesquisa no processo de ensino e de aprendizagem, uma vez que ensinar requer tanto dispor de conhecimentos e mobilizá-los para a ação, como compreender o processo de construção do conhecimento. Este fato significa o acesso dos futuros professores aos métodos de investigação das ciências, como forma de compreender a realidade em que atuarão. O Estágio Supervisionado considerado um espaço interdisciplinar de formação, favorece a ampliação de conhecimentos da realidade profissional, quando metodologicamente se organiza em momentos de ação-reflexão-ação. A pesquisa deve provocar no acadêmico uma desestruturação de suas certezas, pois ao enfrentar uma situação concreta que precisa ser investigada ele não pode resolvê-la com modelos já existentes ou com simples reprodução de idéias. Considerações sobre as concepções de estágio Tendo como base os dados empíricos, torna-se agora possível tecer algumas considerações acerca das concepções dos estágios desenvolvidos nas instituições investigadas. A partir de estudos dos Projetos Político-Pedagógicos e Manuais de Estágio das instituições (UNC, UNIVILLE e UNOESC), o Estágio Supervisionado aparece como atividade imprescindível para a formação. Todas enfatizam também o compromisso da universidade e da escola campo de estágio nas atividades de planejamento, orientação e avaliação. Duas das instituições manifestam claramente sua preocupação com a relação teoria e prática nos estágios. Mesmo assim, a disciplina de Estágio Supervisionado está prevista nos três cursos para acontecer nos últimos momentos do curso. As instituições investigadas propõem etapas muito similares para seus Estágios Supervisionados. Tanto a UNIVILLE, como a UNC e a UNOESC propõem um processo de 82 investigação como momento inicial para o conhecimento da realidade a ser trabalhada; a elaboração de projeto de pesquisa e sua aplicação, prevendo a elaboração da monografia ou relatório final cujo fechamento ocorre através de bancas, seminários e oficinas. Há poucas diferenças nas propostas das etapas, porém salienta-se que de certa forma ainda prevêem os momentos de observação, participação e regência. O foco metodológico das três propostas para a realização das etapas do Estágio Supervisionado apresenta características voltadas para a iniciação científica, ou seja, busca possibilitar aos acadêmicos uma experiência sistematizada de análise da realidade, reflexões das práticas vividas, levantamento de soluções e respostas para os mesmos e uma nova ação pedagógica baseada em estudos teóricos práticos, ou seja, a execução das hipóteses levantadas e conseqüentemente análise detalhada dos resultados. Desta forma as propostas das três instituições vêm ao encontro do que se propõem atualmente para os cursos de formação no sentido de articular a relação teoria e prática: uma proposta de pesquisa na prática pedagógica e sobre a prática pedagógica. Deve-se considerar que há, nas últimas legislações para cursos de formação de professores, a preocupação com a relação entre a teoria que se desenvolve no curso e a prática para a qual são formados os profissionais. Novos desenhos de matrizes curriculares representam esta preocupação que envolve o estágio, mas que vai além deste. Apresentamos a seguir algumas indicações na organização dos estágios que refletem o cuidado com este vínculo. As instituições investigadas evidenciam uma organização curricular na qual transparece a preocupação com a unidade teoria e prática, propondo novas formas de condução dos estágios através da pesquisa, da interdisciplinaridade, da ação coletiva visando a transformação da realidade educacional brasileira. Esta transformação requer, no exercício profissional docente, a busca constante de respostas para os inúmeros problemas existentes. 3.3.2 Organização e operacionalização dos estágios supervisionados Cargas horárias dos estágios 83 UNC Habilitação em educação infantil. Etapas desenvolvidas: São 165 horas na 7ª fase e 240 horas na 8ª fase. 1ª Elaboração do projeto de pesquisa (105h/a); 2ª Seminário de qualificação do projeto de pesquisa (60h/a); 3ª Aplicação da pesquisa de campo sob forma de docência (150h/a); 4ª Seminário de qualificação da monografia (60h/a);¨5ª Defesa pública do Trabalho de conclusão de curso (30h/a). Habilitação em anos iniciais de ensino fundamental . Etapas desenvolvidas: Na 7ª fase desenvolve-se 180 horas e na 8ª fase 225 horas. 1ª Elaboração do projeto de pesquisa (120h/a); 2ª Seminário de qualificação do projeto de pesquisa (60h/a); 3ª Aplicação da pesquisa de campo sob forma de docência (120h/a); 4ª Seminário de qualificação da monografia e defesa pública do Trabalho de conclusão de curso (105h/a). UNIVILLE Abrangem 400 horas/aula para cada habilitação. Há 200h/a no 3º ano e mais 200 h/a no 4º ano. Prevê que caberá o acréscimo de 64 h/a de orientação específica ao Estágio de Educação Infantil de 0 a 3 anos e Séries Iniciais. A orientação específica será designada pela Comissão Orientadora. Etapas: 1º Integração e conhecimento do aluno com a realidade social, econômica e do trabalho de sua área/curso; 2º Iniciação à pesquisa e ao ensino; 3º Iniciação profissional, que são desenvolvidas mediante a observação, participação e regência, operacionalizadas. Das 400 h/a, 192h/a são de orientação para planejamento e acompanhamento do estágio. Das 208 horas restantes, 32 h/a serão destinadas a observação, 32 h/a participação em eventos promovidos pelo campo de estágio, 112 h/a para docência e 32 horas para o relatório e defesa pública. UNOESC São previstas 400 horas de estágio curricular supervisionado a partir da segunda metade do curso. Há previsão de 100 horas na 6ª fase do curso e 300 horas na 7ª fase. Etapas: 1ª) Observação de uma classe de alunos para detectar uma problemática que desencadeará um projeto de pesquisa (20 h/a); 2ª) Elaboração de relatório de observação; 3ª) Elaboração do Projeto de pesquisa para o estágio supervisionado; 4ª) Elaboração das unidades didáticas para a aplicação do projeto de pesquisa sob forma de regência; 5ª) Aplicação do projeto de pesquisa de estágio em classes de acordo com a habilitação escolhida (40h/a); 6ªª) Elaboração do relatório de aplicação 7ª)Planejamento, desenvolvimento, apresentação, relatório e avaliação do processo, socializado em banca ou seminários organizados pela coordenação do curso e/ou equipe do estágio supervisionado. A respeito da carga-horária dos Estágios Supervisionados previstos nas legislações da última década (1996-2006), as mesmas oscilaram entre 300 h/a a 400h/a. Nos cursos pesquisados, onde a base legal são as resoluções 1/2002 e 2/2002 a previsão legal mínima é de 400 horas de Estágio Supervisionado. Somente a UNC prevê 405 h/a e determina diferenciações de atividades em relação às habilitações oferecidas: educação infantil e anos iniciais. Tanto a UNC como a UNIVILLE trazem especificações maiores a respeito das atividades desenvolvidas com os detalhes das cargas horárias. A UNOESC especifica apenas a carga horária para a observação da realidade escolar e o tempo para aplicação do projeto. Os documentos confirmam a proposta de que o estágio ocorre com as denominadas atividades “tradicionais” de observação, participação e regência (docência). Porém, se detecta a clara opção das instituições pelo estágio através da pesquisa. Isso é, devem ser conduzidos numa perspectiva reflexiva e investigativa. As atividades previstas apresentam um processo de observação da realidade escolar (sala de aula), elaboração de um projeto de pesquisa com o momento de qualificação em banca, para que possa haver redimensionamento, detalhamento metodológico visando a docência, no qual o projeto de pesquisa seja aplicado e analisado. Em 84 seguida, os resultados são apresentados novamente em banca de qualificação para que o relatório final de estágio (TCC) seja revisto, aprimorado e entregue a instituição formadora. Esse enfoque da pesquisa (iniciação científica) possibilita ao acadêmico contato com os métodos de investigação usados pelas ciências, como uma das formas de investigar e compreender a realidade em que trabalharão. Na resolução 1/2002, no artigo 3º, inciso III a pesquisa aparece focalizando todo o processo de ensino e de aprendizagem, sugerindo que ensinar demanda conhecimentos e formas de mobilizá-los para a ação e para a compreensão do processo de construção do conhecimento. O estágio ocorre na UNC a partir das 7ª e 8ª fases, na UNIVILLE no 3º e 4º ano e na UNOESC na 6ª e 7ª fase. Assim, na UNIVILLE ocorre na segunda metade do curso, como está previsto nas Resoluções Federais, e nas duas outras instituições ocorre nas duas últimas fases do curso, o que equivale ao último ano letivo da formação. Na UNC a prática aparece na matriz curricular, permeando todas as disciplinas numa carga horária que varia entre 15 ou 30 horas, quando o aluno é inserido nos espaços escolares com o objetivo de observar aspectos mais gerais das estruturas escolares. Esta idéia já estava presente na proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia elaborada pelos especialistas de ensino de Pedagogia em 1999, e foi legalmente homologado no parecer 9/2001 e depois nas resoluções 1/2002 e 2/2002. Sabe-se que a decisão da prática aparecer desde o início do curso, como disciplina ou fazendo parte de todas elas, provavelmente tenha sido apontada pela insistente crítica feita a respeito de ela ter representado sempre um momento pontual no final do curso. Nas legislações aparece como possibilidade o que a UNC prevê em seu Projeto Político-Pedagógico, isto é, a idéia de que a prática deveria estar presente em todas as disciplinas como uma ação coletiva e não apenas no Estágio Supervisionado. A presença da prática de ensino durante todo o processo de formação, incluindo obviamente o Estágio Supervisionado, segundo Moraes (2000, p. 75) faz com que o licenciado, futuro professor da escola básica, (...) passa a ser compreendido como sujeito em formação que traz consigo uma representação de educação construída durante sua própria escolarização, que vivencia uma formação superior fundamentada e que continuará se formando na prática pedagógica com questões advindas da realidade escolar. 85 Torna-se, porém necessário especificar que o fato da legislação, base dos Projetos Político-Pedagógicos (resolução 1 e 2/2002), subdividir as cargas-horárias em 400 horas mínimas de prática e 400 horas de Estágio Supervisionado, segundo alguns estudiosos, acaba por fragmentar o processo gerando dicotomia entre teoria e prática, além de dificultar a estruturação do curso de maneira mais inovadora e flexível, como está previsto legalmente. Aproveitamento e/ou validação de experiência profissional. A Resolução 2/2002 prevê no artigo 1º, parágrafo único: “Os alunos que exerçam atividade docente regular na educação básica poderão ter redução da carga horária do Estágio Curricular Supervisionado até o máximo de 200 (duzentas) horas”. UNC Os alunos exercício regular de atividade docente nos anos iniciais do ensino fundamental ou educação infantil da educação básica, o estágio supervisionado poderá ser reduzido de acordo com a seguinte pontuação: a) Alunos com um ano de atividades docentes, integralizarão um total de quarenta horas. b) Alunos com um ano e seis meses de atividades docentes, integralizarão um total de setenta horas. c) Alunos com dois anos de atividades docentes, integralizarão um total de cento e dez horas. d) Alunos com dois anos e seis meses de atividades docentes, integralizarão um total de cento e cinqüenta horas. e)Alunos com três anos de atividades docentes, integralizarão um total de duzentas horas. O acadêmico deve comprovar seu tempo de atividade docente através de portaria de nomeação ou com o registro na Carteira Profissional de Trabalho. UNIVILLE Não há previsão de aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições escolares a na prática profissional. UNOESC Acadêmicos que já possuem prática e sala de aula poderá ter redução da carga horária do estágio supervisionado em até 200 horas. Experiência em até dois anos não permite redução; experiência de 2 a 4 anos redução de 100 horas das 200 horas totais; experiência superior a 4 anos redução das 200 horas (50%). O portador de diploma em pedagogia poderá cursar outra habilitação, sendo que as horas de estágio realizadas em outras habilitações, desde que na educação básica, eliminarão a necessidade das 400 horas iniciais de prática. Como já se afirmou anteriormente, a profissão de professor pode ser exercida sem que o mesmo tenha terminado a graduação, através de habilitação em nível médio ou por alta demanda de professores que acabam por gerar a necessidade destes profissionais, mesmo sem a formação necessária. Como este fato é comum, a própria legislação federal prevê a possibilidade de ocorrer o chamado aproveitamento da formação e de experiências anteriores em instituições escolares e na prática profissional. 86 A UNIVILLE não prevê o aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições escolares e na prática profissional. Apesar da legislação permitir a redução, a palavra “poderão” reduzir a carga-horária do estágio, permite a instituição a autonomia de escolha em diminuir ou não a referida carga-horária. A UNOESC prevê que o egresso, portador de diploma em Pedagogia, poderá cursar outra habilitação, possibilitando que a carga-horária de estágio já realizadas em outras habilitações, eliminam a necessidade das 400 horas iniciais de prática, isso é, o processo de exercício profissional de docência não é liberado e sim obrigatório. Aqui abre-se um parênteses para reflexão: Trabalhar com acadêmicos experientes na profissão altera o processo pedagógico do curso e de forma especial o Estágio Supervisionado de alguma forma? As experiências de acadêmicos que já são professores são valorizadas como referências importantes a serem discutidas e refletidas nas aulas? A redução da cargahorária do Estágio Supervisionado para profissionais com experiências não acaba gerando perdas de aprofundamento teórico-prático que poderiam aprimorá-lo como profissional? Considerações sobre a Organização e operacionalização dos estágios supervisionados Cabe ressaltar que segundo as legislações federais e institucionais, a prática pedagógica está prevista para ocorrer desde as primeiras fases ou anos do curso. O estágio é uma das formas de realização da prática, mas é nele que o exercício profissional da docência se coloca mais claramente. A legislação possibilita falta de clareza sobre o que compete à prática e ao estágio quando realiza um tratamento específico para cada uma delas ao determinar as cargas horárias de 400h/aula para ambas as atividades. O aproveitamento e/ou validação de experiência profissional prevista por duas das instituições pesquisadas deve explicitar que o Estágio Supervisionado não poderia ter sua carga horária reduzida. A referida redução direciona-se à carga horária de prática, prevista desde o início do curso de Pedagogia. 3.3.3 Estruturação didático-metodológica dos Estágios Supervisionados. Orientação e/ou supervisão de estágios Apresenta-se, a seguir, como se organizam nas diferentes instituições de ensino. 87 UNC Prevê a escolha de um professor orientador temático pelo próprio acadêmico ou indicado/sugerido pelo professor de Estágio Supervisionado ou pela Banca de Qualificação do projeto, em função da temática do projeto e da disponibilidade dos profissionais envolvidos no curso. Ele poderá assumir a orientação de no máximo 05 (cinco) projetos por semestre letivo, independente do número de turmas. O orientador temático perceberá o valor referente a 04 (quatro) hora / aulas / mês por projeto orientado, não podendo ultrapassar as 40 (quarenta) horas / semanais. O pagamento do orientador temático terá início a partir da 7a. fase. UNIVILLE A supervisão e orientação serão desenvolvidas pelo Chefe do Departamento; pela Comissão Orientadora de Estágio; pelo Professor Orientador de Estágio; pelos Professores Orientadores Específicos, quando for o caso; e pelo Profissional habilitado, nomeado no Campo de Estágio. . Compete ao Departamento de Pedagogia: Instituir a Comissão Orientadora de Estágio, constituída de professores Orientadores de Estágio, responsáveis pelo estágio de Educação Infantil, Séries Iniciais e um professor dentre os da área de Fundamentos e Metodologia do Ensino; Coordenar as atividades da Comissão Orientadora do Estágio; Emitir cartas de apresentação para os estagiários ao Campo de Estágio; Receber dos alunos duas cópias encadernadas do Relatório de Conclusão de Estágio; Encaminhar o resultado final da Avaliação do Estágio Supervisionado à Secretaria Acadêmica. . Compete à Comissão Orientadora do Estágio: Acompanhar o estágio, orientando e supervisionando; Solicitar de acordo com os projetos de estágio, Orientadores Específicos, da área de Fundamentos e Metodologia do Ensino. Aprovar o planejamento de estágio e o cronograma de execução. Fornecer roteiros para cada etapa do estágio. . Compete aos professores Orientadores de Estágio: Elaborar o planejamento global do estágio; Orientar o planejamento e a execução do estágio; Acompanhar e avaliar a execução do estágio; Avaliar os estagiários; Orientar a elaboração do Trabalho de Conclusão Estágio, a apresentação e a defesa; Promover a articulação interinstitucional; Estimular a participação em projetos de interesse educacional e social. Os professores da Comissão Orientadora de Estágio serão remunerados com 02 h/a semanais, exceto aqueles com 40 h/a na Instituição. UNOESC Os estagiários são acompanhados pelos professores, orientadores e pelos responsáveis pela entidade campo, com aquiescência do coordenador de curso. No início de cada semestre será composta pela coordenação do curso uma equipe de professores responsáveis pelo desenvolvimento, acompanhamento e avaliação do programa de estágio. O PPP afirma que a orientação de estágio é exercida pelo professor da disciplina de prática de ensino sob forma de estágio supervisionado. Não há indicação do número mínimo ou máximo de acadêmicos por orientador. Isso depende do número de acadêmicos matriculados. O estágio será realizado ao longo do curso, reservando um período após a metade do curso para a docência sob a supervisão do professor responsável pelo estágio que estará acompanhando todo o processo. Como função do colegiado, há previsão de que deve decidir e organizar a forma de acompanhamento do estágio que deverá ter a participação de todos. Há previsão de interações através do Portal de ensino UNOESC, através de e-mail, telefone e fax. 88 Nas três instituições percebe-se a definição das responsabilidades para a organização e supervisão dos estágios. Ratificam a necessidade de que os professores orientadores de estágio procedam as atividades de orientação e supervisão no coletivo do curso, junto aos alunos e professores dos campos de estágio, visando a apropriação da realidade para analisá-la e questioná-la criticamente à luz das teorias. A UNC especifica a possibilidade de que o acadêmico ou a equipe responsável pelo estágio indique um professor temático para cada projeto, o que pode permitir uma qualidade maior no trabalho. A afirmação de que cada professor temático terá no máximo a responsabilidade por cinco projetos por semestre deixa clara a percepção da necessidade de não sobrecarregar o professor responsável pelo estágio e possibilitar uma perspectiva mais abrangente da pesquisa. O documento, no entanto, não salienta a perspectiva de que o estágio transcende as atividades finais de exercício da docência e que abrange a prática de ensino desde o início do curso. A UNIVILLE propõe nos documentos uma organização e estrutura mais coletiva de supervisão e orientação de estágio. Segundo as competências de cada elemento desta estrutura percebe-se que o departamento de Pedagogia possui funções burocráticas. Já a comissão orientadora tem como função o acompanhamento, a orientação e supervisão do estágio, indicando a necessidade de orientadores mais específicos, aprovando o planejamento e o cronograma de execução. Esta comissão fornece também roteiros para cada uma das etapas de estágio. O orientador de estágio tem as funções de planejar, orientar o planejamento e execução do processo, bem como a responsabilidade da avaliação da execução do estágio, do desempenho do estagiário, e a orientação do trabalho de conclusão de estágio (TCC), da apresentação e defesa. São indícios de que o professor orientador de estágio possui uma sobrecarga de trabalhos. Em relação ao TCC, que é produto do processo de estágio, perguntase: Se todos os profissionais envolvidos no processo auxiliassem na sua estruturação, a qualidade do trabalho não seria melhor? E ainda: Se a apresentação e defesa do projeto demonstram as competências de toda a ação, por que os profissionais do colegiado não participam da orientação e elaboração como co-responsáveis? Essas reflexões sobre as funções de cada um dos responsáveis pelo estágio podem gerar posturas mais coletivas e interdisciplinares ao processo. A UNOESC deixa explícito que o estágio não se restringe ao projeto de docência, mas às atividades práticas desenvolvidas desde a primeira fase do curso. Prevê a formação de uma equipe orientadora de estágio, porém não clarifica como esse procedimento ocorre. Não 89 delimita o número de projetos para cada professor e nem mesmo a possibilidade de remuneração destes profissionais. Estes fatos podem gerar uma sobrecarga ao professor responsável pela disciplina de estágio que, no limite, poderá ficar com a orientação e supervisão de todos os projetos de pesquisa sem contar com o auxílio dos demais. Salientamos a necessidade de que a instituição tenha uma política clara de valorização dos profissionais e em relação ao processo ao Estágio Supervisionado para que ele ocorra de forma mais qualitativa. De acordo com Barreiro e Gebra (2006, p. 104) Os estagiários deverão contar com a supervisão direta de seu orientador em todos os momentos do estágio que sejam essenciais para a reflexão sobre as observações/investigações realizadas e nos encaminhamentos possíveis e necessários em cada etapa. A supervisão coletiva é mais rica, por possibilitar a construção dos conhecimentos por meio da prática do outro, e se constitui em aprendizagem valorizada pelos alunos, que a consideram uma mostra do que se deve ou não fazer. É importante questionar sobre a formação do professor responsável pelo Estágio Supervisionado. Embora esteja previsto nos Manuais de Estágios a presença de outros profissionais no processo de planejamento, execução e avaliação dos estágios, sabe-se que o professor da disciplina precisa ter uma formação de caráter interdisciplinar que, segundo Carvalho & Vianna (apud MORAES, 2000, p. 72) “domine tanto o conteúdo específico como o conteúdo pedagógico e, além disso, se dedique à pesquisa sobre ensino desse conteúdo”. Mediano, outro autor citado por Moraes (2000, p. 72), sugere que o professor deve ser “alguém capaz, de juntamente com seus licenciados, pesquisar a realidade educacional e buscar soluções aos problemas encontrados”, baseado no movimento ação/reflexão/ação. Projetos de Estágio Verifica-se, a seguir, como se organizam os projetos de estágio nas diferentes instituições de ensino pesquisadas. 90 UNC O projeto de pesquisa é elaborado na 6ª fase. Ele fundamentará a prática do estágio supervisionado. Tem como pressupostos as aproximações e investigações desenvolvidas nas fases anteriores dentro dos eixos temáticos “epistemologia pedagógica” e “metodologias de ensino”, como referência para a ação docente. O Projeto de Pesquisa é implementado nas 7ª e 8ª fases. Na 7ª fase o acadêmico desenvolverá atividades de observação, pesquisa e prática pedagógica, e socialização de resultados de pesquisas relacionadas ao Estágio Supervisionado I. Tais atividades são orientadas pelos professores orientadores temáticos dos projetos de pesquisa docente. No decorrer da 8ª fase o acadêmico desenvolverá atividades de observação, pesquisa docente e prática pedagógica e socialização de resultados de pesquisas relacionadas ao Estágio Supervisionado II. Tais atividades serão orientadas pelos Professores Orientadores Temáticos dos Projetos de Pesquisa desenvolvidos pelos acadêmicos. Os resultados obtidos em cada fase serão socializados ao término do ano letivo dentro da Semana Pedagógica sendo obrigatória a produção de um artigo ou monografia para efeito de publicação. UNIVILLE O projeto de estágio devem surgir no contexto da aprendizagem social, profissional e cultural e atender a uma das linhas de pesquisa: Alfabetização; Educação Ambiental; Novas Metodologias do Ensino; Educação e Cidadania; Desenvolvimento e Aprendizagem. Os passos da pesquisa são: Definição das diretrizes para a organização, elaboração e apresentação do projeto; Avaliação da consistência do projeto a partir da fundamentação teórica; .Execução do projeto; . Analisar o diagnóstico produzido; Supervisionar e orientar o acadêmico face à demanda e ou necessidade; Acompanhar o processo de execução do projeto. O estagiário deverá desenvolver as etapas de observação e participação a partir do 3º ano do curso. Deverá observar o contexto institucional e participar de atividades promovidas pelo Campo de Estágio; Ele elabora o Projeto de Estágio de acordo com o Projeto Pedagógico da Instituição, Campo de Estágio, do Curso, área de formação e modalidade de ensino (educação infantil, ensino fundamental e outras), apresentando-o ao professor orientador de classe no primeiro mês letivo do 4º ano do curso, como também os documentos comprobatórios correspondentes à etapa de observação; Na ficha de avaliação do projeto, anexo do manual de estágio encontram-se os critérios que analisa o projeto nos seguintes aspectos: a justificativa da pesquisa, o problema, os objetivos, a fundamentação teórica, as fontes de referência, a metodologia, do estudo e as normas da ABNT na elaboração do mesmo. UNOESC Os projetos devem ser elaborados a partir da problemática levantada na leitura da realidade escolar, ou seja, deve nascer das problemáticas vivenciadas nas escolas e mais especificamente nas salas de aula que foram observadas. No manual de estágio encontra-se como objetivo a realização de projetos de pesquisa com foco em reflexão-ação, visando a análise da realidade educacional a ser trabalhada, o levantamento do diagnóstico, a elaboração e execução do projeto de pesquisa. Segundo o manual o projeto segue critérios estabelecidos pela equipe de estágio, porém não há maiores detalhes. Implicitamente percebe-se que seguem a estrutura de trabalhos científicos. Os projetos de estágio conservam as tradicionais etapas: a observação, participação e regência. Apresentam, no entanto, uma nova perspectiva de investigação. Assim, nestes cursos a pesquisa aparece como um componente essencial de formação do pedagogo. Os três cursos conduzem os acadêmicos à investigarem a realidade escolar e demais espaços educativos. 91 De acordo com Pimenta e Lima (2004, p. 236): A pesquisa no estágio como método de formação dos estagiários, futuros professores, se traduz pela mobilização de investigações que permitam a ampliação e análise dos contextos onde os estágios se realizam. E também, em especial, na possibilidade de os estagiários desenvolverem postura e habilidades de pesquisador e a partir das situações de estágio, elaborando projetos que lhes permitam ao mesmo tempo compreender e problematizar as situações que observam. (...) Supõem que se busque novo conhecimento na relação entre as explicações existentes e os dados novos que a realidade impõe e que são percebidos na postura investigativa. Segundo Barreiro e Gebran (2006, p.90), (...) um projeto de estágio deve ter, como objetivo central, efetivar a articulação do curso de licenciatura com a educação básica da rede pública e privada, aprimorando a formação do profissional da educação, de modo a garantir uma ação mais comprometida com o processo educativo. O projeto de estágio ganha contornos diferenciados porque pressupõe que a aquisição dos saberes pedagógicos (científicos e didáticos) não ocorre de forma estanque, ao contrário, dá-se pela interação entre as várias áreas do conhecimento. As autoras (2006, p. 102) argumentam também que: (...) ao elaborar o projeto de ação, o estagiário deve ser orientado para definir claramente: os pressupostos teóricos e metodológicos que embasam sua proposta de trabalho, os objetivos e as intenções, as temáticas a serem desenvolvidas, os procedimentos e recursos a serem utilizados, a sistemática de avaliação das ações e a auto-avaliação. Os documentos da UNC e UNIVILLE deixam transparecer, de forma não muito explícita, que os projetos devem acontecer de forma conjunta entre as escolas de formação e as escolas dos diferentes sistemas, entre seus professores, alunos e coordenadores. Apenas a UNOESC deixa clara a preocupação de que a instituição formadora deve elaborar os projetos a partir das problemáticas levantadas na realidade escolar e/ou salas de aula. Torna-se essencial que a proposta tenha o aval da escola campo de estágio para poder atender as demandas, transformando-se em intervenção relevante e essencial. Nesta perspectiva, realizar estágios, de acordo com Pimenta e Lima (2004, p. 220) (...) supõe, pois, o compromisso de realizar projetos significativos para uma escola de melhor qualidade, voltada à inclusão social e em constante diálogo entre os participantes. Somente acreditando que as pessoas, juntas, têm a capacidade de transformar a realidade é que o projeto pode deixar de ser um 92 instrumento burocrático para ser um instrumento de ensino e de aprendizagem tanto do aluno como do professor. À medida que as pessoas se sentem co-autoras e não apenas executoras, estão assumindo melhor o projeto e suas conseqüências. Uma das preocupações em relação a metodologia de projetos é não tornar o processo banalizado, sem definição de suas reais finalidades. De acordo com Pimenta e Lima (2004, p. 228), (...) a realização dos estágios sob a forma de projetos pode estimular nos estagiários o desenvolvimento de um olhar sensível e interpretativo às questões da realidade, uma postura investigativa, uma visão de conjunto do espaço escolar, uma percepção das dificuldades que a escola enfrenta, mas também das conquistas reveladas nas ações dos profissionais que ali se encontram; uma compreensão da cultura escolar e das relações que ali se estabelecem de conflitos, confrontos e cooperação e participação. A UNC traz no contexto do Manual de Estágio a determinação de que o projeto de pesquisa, depois de executado e analisado, transforme-se em um artigo científico ou monografia para publicação, ratificando o processo de que se trata de uma proposta de iniciação científica. No documento aparece também uma referência diferencial sobre os acadêmicos que freqüentam os cursos em regimes especiais. Estes deverão participar das semanas pedagógicas promovidas, encaminhando os resultados das atividades realizadas dentro das fases que freqüentam naquele período letivo. Relatórios de Estágio: Estrutura e organização UNC UNIVILLE UNOESC Os acadêmicos pesquisam nas 7ª e 8ª fases da disciplina estágio supervisionado I e II acompanhados pelo professor e orientador temático. O professor de estágio orienta todos os itens metodológicos da monografia. Elas são entregues com 15 dias de antecedência para serem analisadas pela banca e avaliadas por três professores do curso, seguida da defesa pública do trabalho. Os trabalhos são devolvidos com as sugestões de correção. O acadêmico que não alcançar nota igual ou superior 7,0 (sete) na sua Monografia, na Banca de Avaliação Final será considerado reprovado. O acadêmico terá o prazo de sete dias após a defesa pública da monografia para entregar, devidamente corrigida. O relatório deve ter: Introdução, desenvolvimento ( com a descrição das atividades vividas, a produção de sínteses), referências e anexos. O TCC é defendido publicamente e avaliado pela Comissão orientadora de estágio, (2 vias). Após a apresentação e as devidas correções, o estagiário entrega uma via do trabalho de conclusão para o chefe de departamento e uma via para a direção da unidade escolar. O TCC tem peso 2,0. O trabalho só poderá ser apresentado se o estagiário for aprovado no desenvolvimento do estágio e na aplicação dele no campo de estágio, sendo a nota mínima 7,0. Aborda a preocupação com ampliação da visão da futura profissão para orientar o processo articulando as etapas precedentes e acompanha a redação com base nas normas técnicas. O TCC e a avaliação serão individuais. O projeto político-pedagógico não aborda aspectos estruturais dos relatórios de estágio. No manual de estágio há referência que a equipe de estágio elaborará os critérios para a elaboração dos relatórios, porém não há referências sobre o mesmo. 93 Os trabalhos de conclusão de curso ou monografias são articulados com as atividades desenvolvidas nos Estágios Supervisionados, para constituir-se em instrumento que possibilita a formação na pesquisa. São apresentados como documentos importantes para provocar debates coletivos, a troca e a socialização dos conhecimentos construídos no decorrer de todo o processo de estágio. Para Freitas (2006, p. 103): Possibilita que essa reflexão se efetue de maneira mais objetiva e científica. Constitui-se em ponto de apoio e referência para o próprio aluno que, ao debruçar-se sobre seu trabalho e expressar-se sobre os dados da realidade vivida – problemas que enfrentou, as questões que aparecem no cotidiano da escola, as angústias e os desafios do trabalho pedagógico -, vê-se colocado diante da contingência de refletir sobre ele, desenvolvendo a possibilidade de organizar sua ação e, conseqüentemente, entender as determinações da prática, as condições concretas que a determinam e atuar de uma maneira transformadora. Barreiro e Gebran (2006, p. 105) em relação ao relatório final do Estágio afirmam que: Sua finalidade ultrapassa eventuais cobranças burocráticas e a necessidade de se comprovar a realização de um trabalho. Na verdade se constitui num processo de elaboração que perpassa todo o estágio, construído a cada momento, já que é um instrumento de registro, de reflexões, daquilo que se mostra como essencial para a compreensão e a execução do projeto de estágio. O formato de metodologia proposta para os relatórios possivelmente busca garantir a familiarização com práticas científicas e tecnológicas, direta ou indiretamente envolvidas. Sabe-se empiricamente que os relatórios concluídos muitas vezes ficam esquecidos nas bibliotecas sem valorização. Este fato é lamentável, haja vista que, como já foi afirmado, os relatórios de estágio são “documentos vivos oferecendo subsídios para a revisão dos cursos de formação do educador e melhoria da qualidade do ensino na escola”. (MORAES, 2000, p. 63). Socialização das experiências dos Estágios Verifica-se, a seguir, a socialização das experiências dos estágios nas instituições pesquisadas. UNC UNIVILLE UNOESC 94 Ao final da 6ª Fase, haverá a qualificação do Projeto de Pesquisa. A banca terá professores de metodologia da pesquisa e de estágio supervisionado I e 02 professores da área temática do projeto. A avaliação deverá contemplar:escolha do tema, a problemática, os objetivos, a metodologia; pesquisa bibliográfica; pretensão de pesquisa de campo; condições de pesquisa. O acadêmico deverá socializar o projeto de pesquisa em seminário de pesquisa I. Ao término da pesquisa de campo (prática docente) os acadêmicos deverão apresentar os primeiros resultados da pesquisa, tirar dúvidas e ajustar o necessário. Para a socialização dos resultados da pesquisa, será composta uma banca de qualificação de monografia. Composta pelo professor de estágio supervisionado II e por dois professores do curso, da área temática afim ao trabalho. Os professores que compuserem a Banca da Monografia perceberão o valor de duas horas / aula por cada monografia avaliada. O acadêmico que não obtiver parecer favorável será reprovado, sem direito a defesa pública de monografia devendo repetir a disciplina. A Banca de Avaliação Final, na defesa pública de monografia, terá que: Avaliar e atribuir uma nota pela apresentação do trabalho que será somada às demais notas e atribuir uma nota individual. A Defesa Pública da Monografia terá para cada acadêmico ou dupla o tempo máximo de apresentação de 20 minutos, sem interrupção ou interferências. A banca terá 15 minutos para argüição e considerações sobre a exposição e/ou documento produzido. Os componentes da Banca deverão devolver aos acadêmicos a cópia da monografia, com as sugestões de correção após a defesa. Art. 14, inciso III, prevê que o TCC será apresentado e defendido publicamente e avaliado pela comissão orientadora de estágio. Deverá ser entregue em duas vias ao chefe de departamento até o último dia útil do mês de novembro. A apresentação pública do trabalho de conclusão do curso é organizada pela comissão orientadora de estágio e tem peso avaliativo 2,0. O estagiário só poderá fazer apresentação pública do Trabalho de Conclusão de Estágio se tiver obtido, no mínimo, nota 7,0 (sete) quanto ao desempenho, nos seguintes itens: desenvolvimento durante o estágio curricular supervisionado, o resultado da avaliação do campo de estágio e o TCC. A socialização em bancas ou seminários dos relatórios devem ser organizadas pela coordenação do uso e/ou equipe de estágio. A banca é composta por no mínimo três professores do colegiado, visando a qualificação do relatório final do estágio. A socialização do projeto de pesquisa e/ou dos resultados da pesquisa é uma forma de assegurar a possibilidade de momentos de crítica e discussão, consistindo numa forma de subsidiar as experiências de estágio. 95 De acordo com Barreiro e Gebran (2006, p. 104): (...) no processo de socialização das vivências dos estagiários, as experiências e opiniões contribuem para a elaboração de novos conhecimentos e permitem mudanças no processo como um todo, em que as propostas efetivadas podem ser redimensionadas, reelaboradas e reaplicadas. Nos três Manuais de Estágio investigados aparece a proposta de socialização da pesquisas realizadas no decorrer dos Estágios Supervisionados como uma forma de valorização do processo desenvolvido, bem como a qualificação dos relatórios finais (TCC). A UNC apresenta nos seus documentos detalhamentos importantes para esse processo. A UNIVILLE e a UNOESC abordam essa etapa, porém não a apresentam com detalhes. Este fato indica falta de previsão de uma política de acompanhamento desta etapa do estágio. Avaliação dos Estágios A seguir são apresentadas as formas pelas quais as instituições pesquisadas organizam o processo de avaliação dos estágios. UNC A avaliação acontece através da banca de qualificação e avaliação do Projeto de Pesquisa, observando os itens: a escolha do tema; a problemática; objetivos, a metodologia; a pesquisa bibliográfica; a pretensão de pesquisa de campo e as condições de pesquisa. O acadêmico será avaliado no campo de estágio por profissional já determinado com antecedência através de parecer descritivo. A avaliação final da Monografia ocorre perante a Banca Avaliadora de Defesa Pública, que só ocorrerá após a aprovação da Banca de Qualificação. UNIVILLE A avaliação corresponderá a: Desenvolvimento durante o Estágio Supervisionado (peso 3,0); Resultado da avaliação do Campo de Estágio (peso 3,0); Trabalho de Conclusão do Estágio Curricular Supervisionado (peso 2,0); Apresentação pública organizada pela Comissão Orientadora de Estágio - (peso 2,0). A avaliação considerará o percurso do aluno, sua postura frente aos desafios do projeto; a abstração dos fundamentos políticoinstitucionais-pedagógicos da atividade; a capacidade de articular conhecimento acadêmico na realidade do estágio; a compreensão da complexidade institucional, política e pedagógica; a sua formação como futuro profissional que usará as metodologias e os instrumentos da ciência no seu cotidiano; a motivação para encarar sua formação como um processo contínuo; a efetivação da autonomia e da autoconfiança no UNOESC A avaliação será realizada pela coordenação do curso, pelo professor de Prática de ensino, pelos demais professores do curso e pelos supervisores da entidade campo, com o consentimento da coordenação do curso. Os responsáveis pelo campo de estágio farão um parecer por escrito, sobre o desempenho de cada estagiário. A avaliação abrange, os critérios de: Planejamento, domínio conhecimento, comunicação, relações interpessoais, eficiência, responsabilidade e criatividade. Os instrumentos previstos são: Fichas de acompanhamento devidamente preenchidas pelos responsáveis pelo campo de estágio, por relatórios parciais e finais, obedecendo as normas estabelecidas pela equipe de estágio. A avaliação dos estágios compreende: o processo de elaboração dos projetos, a apresentação dos trabalhos realizados em seminários 96 desempenho de suas atividades; a aquisição da perspectiva científica e ético-crítica na abordagem de seu objeto de estudo. promovidos pela coordenação, com atribuição de notas pelos professores orientadores. A avaliação será por notas atribuídas pelo responsável da entidade campo e professores orientadores de estágio correspondendo a avaliação de Grau 1 e Grau 2. A média sete e freqüência igual ou superior a 75%. As três instituições em seus Manuais de Estágio denotam que o processo avaliativo deve ser contínuo, envolvendo todos os momentos do estágio, indo ao encontro do que afirmam Barreiro e Gebran (2006, p. 103) quando escrevem que a avaliação “deve acontecer de forma processual, com ênfase nos aspectos qualitativos sobre os quantitativos, mas sempre se considerando os resultados alcançados”. Assim, todos os momentos de estágio tornam-se mecanismo avaliativo e têm como objetivos tornarem-se fontes de aprendizagem para ações profissionais futuras. A avaliação da prática constitui-se em momento especial para uma visão crítica da teoria e da estrutura curricular do curso, sendo uma tarefa para toda a equipe de formadores e não apenas para o “supervisor de estágio”. Considera-se também que, se a construção da proposta de estágio é coletiva, a avaliação deverá envolver todos os responsáveis pelo mesmo, ou seja, a coordenação do curso, a equipe de coordenação e o colegiado de forma geral. Salienta-se que a pessoa responsável pela avaliação no campo de estágio possui uma responsabilidade importante na vida formativa profissional do estagiário. A Resolução do CNE/CP nº. 1/2001 prevê a avaliação como parte do processo de formação que possibilita o diagnóstico de lacunas e a aferição dos resultados alcançados, consideradas as competências a serem constituídas e a identificação das mudanças de percurso necessárias. Considerações sobre a estruturação didático-metodológica dos estágios supervisionados Há nos documentos das instituições pesquisadas referências quanto as responsabilidades necessárias para haver a organização e supervisão dos estágios de forma coletiva, com todos os professores do colegiado, bem como com os responsáveis pelos campos de estágio, com o intuito de diagnosticar na realidade vivida as necessidades de intervenção. 97 A UNC prevê que um professor temático auxilie o professor orientador de estágio na organização, execução e avaliação do projeto, possibilitando maior qualidade no trabalho a ser realizado. Prevê também um recorte quantitativo de trabalhos por professor temático denotando a preocupação da instituição em valorizar a qualidade dos projetos de estágios aplicados nos campos de estágio. A UNIVILLE especifica a estrutura de supervisão e orientação de estágio, responsabilizando o departamento de Pedagogia, uma comissão orientadora, orientadores específicos por projetos e um professor orientador de estágio. Essa estrutura é significativa para que o processo ocorra com qualidade. A UNOESC explicita que o estágio não se restringe ao projeto de docência, mas às atividades práticas desenvolvidas desde a primeira fase do curso. Afirma nos seus documentos que deve haver a formação de uma equipe orientadora de estágio, porém não dá as formas como esta operacionalização deve acontecer, não prevê o número máximo ou mínimo de projetos para cada professor e nem formas de remuneração dos referidos profissionais. A falta de melhores especificações gera um trabalho “solitário” do professor responsável pela disciplina de estágio, sujeito apenas a contribuições eventuais e de “boa vontade” de outros professores a partir da solicitação de auxílio dos acadêmicos. Pensa-se que a determinação de uma política clara de valorização dos estágios e seus profissionais é imprescindível. Em relação às etapas de estágio, as mesmas envolvem as ações de observação, participação e regência, porém com novas propostas tendo no processo investigativo seu foco central. As três instituições trazem em seus Manuais de Estágio a pesquisa como princípio cognitivo e formativo, propondo investigações da realidade escolar ou de outros espaços educativos. A UNC prevê a elaboração de um artigo científico para publicação, a partir da elaboração e execução do projeto de pesquisa. A instituição inclui os acadêmicos de cursos em regimes especiais nas semanas pedagógicas. Os TCCs ou monografias são previstas nas três instituições e vistas como um instrumento de pesquisa com possibilidade de intervenção e transformação das práticas docentes que acontecem nas escolas. Sabemos que estes trabalhos podem enriquecer os conhecimentos dos alunos traduzindo-se em reflexões e proposições de novas alternativas para que a educação formal tenha uma melhor qualidade. A elaboração de relatórios permite também a familiarização com o exercício da cientificidade, bem como um maior contato com a tecnologia envolvida no processo. Um fato 98 que não pode ser esquecido é que os relatórios finais de estágio precisam ser utilizados como subsídios para professores ou acadêmicos. Há previsão nos documentos de que as avaliações dos estágios sejam processuais e contínuas, ocorrendo em todos os momentos e de que envolvam todos os responsáveis pelo Estágio, ou seja, a coordenação do curso, equipe de coordenação e o colegiado de forma geral. 99 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao realizar o curso de mestrado em educação surgiu a oportunidade de aprofundar conhecimentos, de contextualizar o Estágio Supervisionado e de averiguar em instituições de Ensino Superior do Estado de Santa Catarina formas de sua condução, focalizando as principais características. Assim, a investigação sobre o Estágio Supervisionado buscou aprofundar o conhecimento a respeito deste componente curricular no percurso de formação de professores no Brasil, sua legislação e aspectos conceituais. Desta forma, coletou-se dados sobre o estágio em diferentes regimes de oferta de cursos, verificando como as instituições organizam e conduzem esta disciplina nos cursos de Pedagogia que formam o profissional para exercer suas funções em classes de educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. Foram analisados documentos de concepção e normatização dos estágios de cursos presenciais, com regime de oferta regular e especial no Estado de Santa Catarina, em três instituições de ensino superior vinculadas à ACAFE. Escolheu-se esta temática devido a importância do estágio na formação dos professores e pelo fato de que nos últimos anos diversas modificações legais foram implantadas exigindo reformulações dos projetos de cursos, trazendo novas perspectivas em relação à estruturação desta disciplina. Justifica-se o estudo dada a expansão dos cursos de Pedagogia no país e as diferentes opções de oferta que foram criadas para atender a demanda existente. O foco de análise buscou verificar o atendimento à relação entre teoria e prática nos cursos de formação. O estudo sobre os estágios, a partir das legislações anteriores e posteriores a 1996, possibilitou a percepção das mudanças ocorridas e as suas implicações no contexto da articulação entre teoria e prática. Constatou-se que desde a primeira regulamentação do curso de Pedagogia, em 1939, mesmo que seriamente dicotomizada a teoria da prática pelo formato 3+1 do curso, já mencionava a preocupação de “realizar pesquisas” nos vários domínios da cultura considerados objeto de sua formação. Em relação ao Estágio Supervisionado, os autores estudados mencionam que a primeira referência a esta disciplina encontra-se num documento do INEP apresentado na “Conferência das Escolas para a Compreensão Internacional” em 1955, sugerindo que os cursos de formação fossem estruturados com 100 equilíbrio entre teoria e prática, propondo contato maior com as dificuldades inerentes a profissão docente, com debates sobre os fenômenos observados. O estágio passou a ser previsto em situações reais nas escolas para todos os cursos de licenciatura a partir da legislação de 1962, quando o Parecer nº. 292/62 previu a sua realização, sem detalhes sobre a sua operacionalização. Novas legislações a partir desta data incluíram as disciplinas de metodologias de ensino e de Didática e Prática de Ensino nos currículos dos cursos. Em 1971 a Lei nº. 5.692, alterou as estruturas dos cursos de formação e estabeleceu critérios de profissionalização (continuidade e terminalidade) para esta formação. Também regulamentou novas responsabilidades para especialistas e professores nas escolas de 1º e 2º graus. Apresentou, porém, poucas modificações para o estágio dos cursos, e manteve as etapas que já organizavam a disciplina de Prática de Ensino: observação, participação e regência. O Parecer nº. 349 de 1972 é que apontou para a mudança da denominada Prática de Ensino para Estágio Supervisionado nas escolas, propondo atividades diversas de observações diretas, para a compreensão da estrutura, da organização e o funcionamento da escola de 1º grau, buscando a unidade entre teoria e a prática. Nesta década de 1970, no entanto, a maior questão levantada referia-se a identidade do pedagogo, passando pelos enfoques de bacharelado, de técnico, de especialista e de docente. Essa indefinição, de certa maneira afetava as formas de condução dos estágios práticos. Na década de 1980, quando a identidade do pedagogo ficou mais fortemente voltada para o seu papel docente entre os educadores críticos, o estágio na formação profissional do educador adquiriu maior importância, com a preocupação de uma formação não alienada e voltada para a realidade educacional do país. O estudo empírico desta dissertação abarcou o período pós-promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº. 9.394/96, que hoje se constitui no marco legal maior do sistema educacional brasileiro. A partir desta legislação, outras normatizações trouxeram importantes referências para a formação dos professores para educação básica. Em sentido contrário ao que está na referido lei a respeito da identidade do pedagogo, que o considera como um especialista para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional (cf.art. 64 da LDB/96), a Comissão de Especialistas de Ensino de Pedagogia (SESU/MEC) apresentou uma proposta de Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia em 1999. Tal proposta expressava a opinião dos educadores do país, na qual o pedagogo seria considerado também, e principalmente como docente para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental. Apesar da proposta não ter sido aprovada, 101 serviu de referência para as diretrizes curriculares nacionais para o curso aprovadas recentemente. Esse documento previa que o Estágio Supervisionado tivesse uma carga mínima de 300 horas, prioritariamente em classes de educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, credenciando ainda o pedagogo para áreas como a educação especial, de jovens e adultos, educação indígena e educação ambiental. A prática de ensino foi proposta como instrumento de integração do aluno com a realidade social, econômica e do trabalho, para ser desenvolvida ao longo do curso, usando a iniciação à pesquisa e ao ensino como instrumentos de iniciação profissional através do Estágio Supervisionado. Essas idéias estão presentes nas legislações posteriores, como o Parecer nº. 9/2001, que trouxe a previsão de que a prática de ensino deveria ocorrer ao longo do curso, desde o primeiro ano evitando que fosse apenas um momento pontual no final do mesmo. Essa tarefa passa a ser para toda a equipe de formadores e não apenas para o professor supervisor de estágio. Propôs-se a articulação das diferentes práticas, numa perspectiva interdisciplinar com ações de observação e reflexão de situações contextualizadas com o registro dessas observações realizadas e a resolução de situaçõesproblema. Com o Parecer nº. 27/2001 houve alteração em relação ao Estágio Supervisionado que passou a ser previsto para iniciar na segunda metade do curso e não mais desde o primeiro ano de formação. O Parecer CNE/CP nº. 28/2001 estabeleceu a carga-horária de, no mínimo, 2.800 horas, com 400 horas de prática de ensino, vivenciadas ao longo do curso, e 400 horas de Estágio Supervisionado, sob forma concentrada ao final do curso. Em 2002 com a aprovação da Resolução nº. 1/2002 foram instituídas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, que apresentaram como concepção nuclear do curso o desenvolvimento de “competências”, numa clara contraposição a ênfase no desenvolvimento de conhecimentos até então presente nas legislações. Esta legislação vincula-se a uma concepção denominada por alguns autores como “ativismo” (SAVIANI, 2006), ou “epistemologia da prática” (PIMENTA, 2002). Há também ênfase nesta legislação a necessidade de haver coerência entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro professor (simetria invertida), que exige conexão entre o que se faz na formação e o que se espera do profissional formado. A Resolução CNE/CP nº. 2/2002 instituiu a duração e a carga-horária dos cursos estabelecendo 2.800 horas a serem desenvolvidas no mínimo, em três anos letivos, sendo 800 horas de prática, incluindo o Estágio Supervisionado. 102 Finalmente aprovado, o Parecer CNE/CP nº. 5/2005 que versou sobre as DCNs para o curso de Pedagogia, trouxe a docência como base da formação do pedagogo. O currículo proposto apresenta para o curso uma duração mínima de 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico, com 2.800 horas para atividades formativas de assistência a aulas, realizadas em várias modalidades; 300 horas dedicadas ao Estágio Supervisionado, prioritariamente em educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, contemplando também outras áreas específicas, conforme o Projeto Pedagógico da instituição; e 100 horas de atividades teórico-práticas de aprofundamento. Propôs a realização do Estágio Supervisionado ao longo do curso, com atividades pedagógicas em um ambiente institucional de trabalho. Assim, o Estágio Supervisionado deve possibilitar uma reflexão contextualizada por meio de vivência institucional mais sistemática. Este Parecer foi normatizado através da Resolução CNE/CP nº. 1/2006, visando a formação inicial para o exercício de docência na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, nos cursos de ensino médio na modalidade normal, e em cursos de educação profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. Cabe salientar que além da formação para a docência, a Resolução prevê a formação do pedagogo também para organizar e gerir os sistemas e instituições de ensino escolares e não-escolares. Constata-se que a partir do documento dos especialistas em 1999, o curso de Pedagogia ganhou forte espaço de discussão. Certamente muitas questões ainda permanecem considerando que as normas aprovadas, em nome de uma flexibilização curricular, dão margem a interpretações diversas, principalmente em relação à prática como componente curricular. Há, porém, um ganho no sentido da relação entre teoria e prática ou teoria e realidade, com a indicação de que atividades práticas ocorram desde o início do curso, como componente curricular, dissolvidas entre as disciplinas ou como disciplinas específicas. Este aspecto permite uma aproximação entre o que se ensina na instituição formadora e a realidade vivida no cotidiano dos sistemas educacionais, permitindo reflexões e conseqüentemente novas formas de ação pedagógica. Há aspectos que ainda levantam questões na legislação aprovada, tais como: como garantir a qualidade dos cursos considerando a autonomia e flexibilização permitida aos Projetos Político-Pedagógicos? Como conduzir os estágios de forma que atendam as prerrogativas legais e ao mesmo tempo adquira qualidade na proposta de iniciação científica e interdisciplinaridade possibilitando a relação teoria e prática? A docência como base da formação do profissional docente, principalmente do pedagogo não 103 afunila as perspectivas profissionais, mesmo prevendo a gestão e a produção e difusão de conhecimentos no campo educacional? O exame das legislações possibilitou perceber o processo histórico da organização dos cursos de formação docente, particularmente do curso de Pedagogia, permitindo reflexões focalizadas na preocupação precípua do estabelecimento da unidade entre teoria e prática. No que se refere às diversas concepções de Estágio Supervisionado no processo de formação dos professores no Brasil, a análise realizada permitiu visualizar também o desenvolvimento do pensamento sobre a prática do ensino na formação dos professores brasileiros. Assim, vimos que de 1930 a 1950, a concepção de prática confundia-se com a imitação dos modelos existentes de práticas bem-sucedidas. Já nas décadas de 1960 e 1970 sugeria-se que a prática antecipasse as possíveis dificuldades do futuro professor, o que requeria aulas de prática complementadas com debates. Ainda na década de 1970 a prática de ensino passou a ser encarada como o desenvolvimento de habilidades instrumentais necessárias à boa atuação docente, dando-se especial ênfase à execução de técnicas de ensino. Os anos 1980 caracterizaram-se como o período em que houve especial preocupação com a prática informada pela teoria. O estágio passou a ser reivindicado pelos educadores críticos como um processo criativo, investigativo, interpretativo e de intervenção na realidade educacional, portanto, entendido como espaço interdisciplinar de formação. Nos anos de 1990, nos quais amplas reformas educacionais foram iniciadas, houve especial mobilização dos educadores no sentido de requerer que a estrutura dos cursos de Pedagogia no Brasil possibilitasse um contato maior dos alunos com a realidade da escola. Em relação às dificuldades encontradas na literatura educacional sobre o Estágio Supervisionado focalizaram-se as enfrentadas pelas instituições formadoras, pelos professores orientadores/supervisores de estágio, pelas escolas campo de estágio e pelos acadêmicos, futuros professores. Os estudos assinalaram dificuldades procedentes tanto de impedimentos legais como de ordem político-administrativa. O estudo prosseguiu realizando uma investigação teórica sobre o papel do Estágio Supervisionado com enfoque na relação teoria e prática nos cursos, visto que esta relação se caracteriza como um dos maiores problemas relacionados ao estágio. Os teóricos utilizados para respaldar o estudo foram Saviani (2006), Barreiro e Gebran (2006), Pimenta (2002), Kuenzer e Rodrigues (2005), Pimenta e Lima (2004), entre outros. Os autores citados argumentam que a relação entre teoria e prática precisa estar presente no processo de formação docente, no qual, respeitadas suas especificidades, uma não 104 existe sem a outra. Segundo Saviani (2006), eles são opostos que se incluem e propõe uma pedagogia histórico-crítica como forma de minimização da dicotomia. Nas propostas atuais de formação de professores há, segundo os autores estudados, a predominância do enfoque da epistemologia da prática, e portanto, forte tendência à desvalorização da teoria. Os autores concordam que centralizar a formação na prática desconsidera o processo teórico de formação denotando que se aprende apenas através de prática, o que comprovadamente não é suficiente. Se o estágio é realizado como problematização da prática pedagógica, a relação teoria e prática pode ser equacionada de uma forma equilibrada e complementar. Assim, a metodologia da pesquisa aplicada no estágio pode ser uma possibilidade de desenvolver posturas e habilidades de iniciação científica, num processo interdisciplinar. Para aprofundar os estudos a respeito do Estágio Supervisionado na formação dos professores, foram analisados os Projetos Político-Pedagógicos e os Manuais de Estágios dos cursos de Pedagogia de três Universidades do Estado de Santa Catarina: a Universidade do Contestado — UNC, a Universidade da Região de Joinville — UNIVILLE, e a Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. As três instituições atenderam aos critérios de análise que previam a investigação de cursos de Pedagogia com diferentes regimes de ofertas na modalidade presencial, em regime regular, em turno matutino e noturno, bem como em regime especial de final de semana e semanas de férias e recessos. A UNC e UNOESC prevêem a possibilidades de ofertar os cursos em regime regular e regime especial. Já a UNIVILLE apenas no regime regular. Não se percebe, no entanto, nos documentos investigados preocupação em estruturar os cursos com regimes diferenciados de ofertas (regular e especial) e com suas especificidades obviamente distintas. Os três cursos apresentaram características muito similares em vários quesitos. São instituições de natureza jurídica fundacional, privada, possuem estrutura multicampi, e pertencem ao sistema ACAFE. O sistema de ingresso para o curso de Pedagogia das três instituições propõe um processo seletivo por provas ou outras modalidades especificadas pela própria instituição. Esta facilitação de ingresso pode ser considerada uma “faca de dois gumes”, pois por um lado os acessos possibilitam maior oportunidade educativa, mas por outro lado ocorre muitas vezes o ingresso de acadêmicos com sérias dificuldades de aprendizagem. Nas cargas horárias e duração total dos três cursos há o cumprimento legal de ofertar 2.800 horas/aula, no mínimo em um tempo de 3 a 4 anos. A UNIVILLE estrutura o curso em 105 anos letivos e as outras duas instituições em semestre. A UNC e UNOESC têm previstos a ocorrência de atividades não presenciais no curso de Pedagogia. A UNC propõe as atividades de pesquisa e prática educativa no interior das disciplinas, tornando-as co-partícipes do processo de unificação de teoria e prática. Na UNOESC a prática de ensino aparece como uma disciplina específica. A UNIVILLE apresenta em sua matriz curricular a prática de ensino com cargas horárias no interior de todas as disciplinas nos dois primeiros anos e como disciplina específica nos dois últimos. Em relação ao turno de oferta, não há nenhuma referência sobre ações diferenciadas para atender às características dos cursos diurnos ou noturnos, nem mesmo em relação ao estágio supervisionado, no qual as dificuldades costumam ser maiores. Percebe-se que nos três cursos investigados o Estágio Supervisionado propriamente dito continua aparecendo, na matriz curricular, apenas nos últimos momentos do curso. Não há uma relação orgânica entre a prática que é prevista para ser realizada durante o curso e o Estágio Supervisionado. Apenas a UNOESC ressalta em seu documento que este estágio é uma das atividades práticas. Ressalta-se que a própria legislação confunde o conceito de prática e estágio. Os manuais de estágio das três instituições estruturam o Estágio Supervisionado em etapas muito similares, propondo a investigação científica como procedimento, visando a articulação entre a relação teoria e prática. Os Estágios Supervisionados nas três instituições investigadas denotam uma necessidade de maior organização e supervisão do seu processo, com a participação efetiva de todos os professores do curso, juntamente com os responsáveis pelas escolas campos de estágio. Partiu-se do pressuposto de que quanto maiores as especificações em relação ao processo de organização dos estágios, maiores serão as possibilidades de qualificação dos mesmos. Conclui-se, portanto, que os documentos deixam a desejar nesse sentido. Sobre as etapas de estágio, percebe-se a manutenção das ações de observação, participação e regência, porém com propostas voltadas para a pesquisa no processo de estágio e do processo de estágio. Há, portanto, nos documentos analisados, o entendimento de que é desejável maior proximidade entre a instituição formadora e os campos de estágio, pois isto possibilita a realização de projetos que realmente atendam às necessidades de ambos. Os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) são vistos como essencial para enriquecimento dos conhecimentos e como forma de aproximar o acadêmico ao exercício da cientificidade. Em todos os documentos encontra-se referências à avaliações ao longo do processo. Todos apontam para a necessidade de envolver também na avaliação todos os 106 responsáveis, desde a coordenação do curso, seu colegiado, até os professores responsáveis pelos campos de estágio. Sintetizando, as políticas educacionais que orientam os cursos de formação de professores apresentam alternativas possíveis e aplicáveis para transformar os estágios em momentos ricos de experiência profissional. A prática de ensino desde o início do curso possibilita uma inserção do acadêmico na realidade educacional através de projetos de pesquisa, confirmando que as questões relacionadas à necessária unidade entre teoria e prática nos cursos de Pedagogia só serão implementadas através de um processo constante de açãoreflexão-ação. Deverá também, ser possibilitado como um trabalho coletivo, permitindo a interdisciplinaridade. Um fato que não se pode negar é a necessidade das instituições de ensino superior valorizarem os cursos de formação de professores, especificando políticas internas coerentes e bem estruturadas, viabilizando um processo de estágio com maior qualidade. A relação entre a universidade e as escolas que são campo de estágios devem ser estreitadas possibilitando que o processo de prática e de estágio transforme-se em um caminho com via dupla, onde hajam somas de experiências, visando buscar novas formas de solução para os problemas inerentes ao sistema educacional brasileiro. Como o enfoque deste estudo relaciona-se à forma de condução de Estágios Supervisionados de cursos de Pedagogia em diferentes regimes de oferta, não se encontrou Projetos-Político-Pedagógicos e Manuais de Estágios das instituições investigadas nenhuma proposta concreta de tratamento diferenciado para as ofertas também diferenciadas. Muitas questões ficam, assim, abertas para novas investigações para que os Estágios Supervisionados possibilitem maior relação com a realidade da escola brasileira e tenham também um papel mais indutor em relação ás proposições teóricas do curso. Teoria e prática necessitam de uma relação dialética, uma fecundando a outra. A prática é sempre um ponto de partida para a transformação da realidade precária que hoje predomina nas escolas. Mas ela é também o ponto de chegada da formação. E fica um grande desafio: os cursos oferecidos em diferentes regimes não levam em consideração as características obviamente diferentes das suas condições de estudo e de realização dos estágios. Os documentos norteadores dos Estágios Supervisionados vinculados às três instituições estudadas, embora incorporem indicações teóricas e organizativas que podem lhe dar maior qualidade, ainda tem uma natureza muito abstrata, ao não levarem em consideração as diferentes condições de oferta dos cursos. 107 REFERÊNCIAS Documentos oficiais ANFOPE. 2002. Posicionamento encaminhado na reunião de consulta com o setor acadêmico, no âmbito do Programa Especial “Mobilização Nacional por uma nova Educação Básica”. Disponível em www.google.com.br. Acesso em 18 set.2007. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996. BRASIL. CNE. Proposta de Diretrizes para a formação inicial de professores de educação básica em cursos de nível superior. Versão preliminar. Fevereiro/2001. BRASIL. Parecer nº 9/2001 de 08.05.2001. 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