Metodologias de Planejamento e Análise de Experimentos 1 Planejamento e Análise de Experimentos: Aumento da Temperatura da Cerveja Sob Diferentes Condições Claret Laurente Sabioni, IEEE Student Member Electrical Engineering Department of the Federal University of Minas Gerais Belo Horizonte, Brazil [email protected] Resumo—Este artigo apresenta um estudo sobre o aumento de temperatura em cervejas geladas considerando duas marcas comerciais brasileiras, duas possibilidades de isolamento e três tipos de recipientes. O estudo é conduzido segundo uma metodologia experimental bem definida, por meio da qual são obtidos dados relativos ao aumento temperatura das cervejas quando mantidas à temperatura ambiente por 10 minutos. Enfim, uma análise estatística é processada sobre os resultados, demonstrando quall a influência e peso relativo de cada fator no desvio de temperatura da cerveja. Palavras-chaves—Variação de Temperatura, Cerveja, Análise de Variância, Planejamento Fatorial. I. INTRODUÇÃO manutenção da temperatura de uma cerveja gelada após sua retirada da geladeira/freezer é um assunto muito discutido pelos brasileiros em bares e em diversos eventos festivos. O assunto se resume à seguinte pergunta: A “Como faço para manter a temperatura baixa da minha cerveja por mais tempo?” Para responder a esta pergunta, o presente trabalho expõe um experimento no qual são analisados os impactos de determinados fatores sobre a variação de temperatura das cervejas. Para tanto, faz-se necessário uma rigorosa fase de planejamento e análise experimental, de modo que as conclusões tiradas a partir dos resultados sejam confiáveis. A. Motivação A cerveja ou chope é a bebida alcóolica mais consumida pelos brasileiros quando se comparam bebidas pelo número de doses consumidas anualmente, representado mais de 60% de todo o consumo nacional de bebidas alcóolicas [1]. Esta tendência tende a aumentar ainda mais pelo atrativo da chegada de novas marcas, tais como Budweiser e Stella Artois, no mercado brasileiro. As cervejas comercializadas no Brasil são, em sua grande maioria, cervejas Pilsen, que são ditas refrescantes e, por isso, adequadas para o clima quente tipicamente brasileiro. A motivação deste trabalho vem da combinação do interesse do povo brasileiro por uma cerveja Pilsen bem gelada e o fato de o Brasil ter um clima quente na maior parte do ano. Dessa forma, analisar os fatores que influenciam a perda de temperatura das cervejas torna-se uma análise relevante, principalmente para os consumidores de cerveja. Este assunto parece nunca ter sido explorado no meio científico, mas tratados em alguns experimentos efetuados sem muito embasamento científico, como em [2], onde se avalia a eficiência de diferentes tipos de revestimentos de lata de cerveja. B. Objetivos O objetivo principal deste trabalho consiste na verificação de quais dos três fatores: marca da cerveja, condições de isolamento, e tipo de recipiente, tem maior influência na variabilidade da temperatura da cerveja quando exposta por 10 minutos em temperatura ambiente. Para tal, é utilizada uma rigorosa metodologia para planejamento e análise do experimento. Este trabalho também tem como objetivo identificar o quão significativo é cada fator na variabilidade de temperatura da cerveja. II. PLANEJAMENTO PRÉ-EXPERIMENTAL Esta seção apresenta detalhes do experimento, apresentado a metodologia operacional e o planejamento do experimento. A. Fatores, Níveis e Variável de Resposta Vários fatores que influenciam na aumento ou na redução 1 de perda de temperatura da cerveja podem ser listados: • • • • • • • Temperatura ambiente; Espessura da espuma; Superfície de contato do líquido com o recipiente; Fonte externa de calor; Condições de isolamento; Material do recipiente; Tipo da cerveja. Todos estes fatores interferem, de alguma forma, em um dos três mecanismos de transferência de calor, seja condução, seja radiação, ou até convecção. Para comprovar fisicamente a influência de cada um deles, são apresentadas as formulações 1 Aumento e redução se referem à taxa temporal de aumento de temperatura da cerveja partindo-se de 0°C. Metodologias de Planejamento e Análise de Experimentos 2 matemáticas simplificadas de cada um dos três mecanismos de transferência de calor, a começar pela Lei de Fourier [3] para a condução térmica: 𝜑 = −𝑘 𝜕𝑇 , 𝜕𝑥 (1) em que 𝑘 é a constante de condutividade térmica do material, 𝑥 é a espessura do material, 𝑇 a temperatura e 𝜑 é o fluxo de calor que passa pelo material, expressa por: 𝜑= 𝑄 , ∆𝑡 (2) em que 𝑄 representa a quantidade de calor e ∆𝑡 o intervalo de tempo. A convecção térmica pode ser expressa pela equação abaixo: 𝜑 = −ℎ𝐴∆𝑇, (3) em que ℎ é o coeficiente de transferência térmica e 𝐴 é a área de superfície pela qual o calor está sendo transferido. A radiação térmica pode ser expressa pela equação abaixo: 𝐸 = 𝜎𝑇 4 , (4) em que 𝜎 = 5,7 10−5 W/m2 K 4 é a constante de StefanBoltzmann e 𝐸 é o poder emissivo do corpo considerado, que é proporcional à potência irradiada pele mesmo. Com base no exposto, verifica-se que a influência da temperatura ambiente, por exemplo, é determinante no experimento considerado, uma vez que o fluxo de calor é proporcional à diferença de temperatura entre corpos em (1) e (3). Porém, como se trata de um fator de difícil contrabilidade doméstica, ele não foi considerado neste trabalho. A espessura da espuma, por sua vez, serve como um isolante térmico no que concerne a condunção térmica, aumentando a constante 𝑘 e a distância 𝑥 da equação (1), além de reduzir a constante ℎ da equação (3), reduzindo a convecção térmica. O controle da espessura da espuma é complicado, e por isso, não foi considerado neste trabalho. A superfície de contato é proporcional ao fluxo de calor transferido por conveccção, de acordo com a equação (3). Embora os recipientes utilizados neste trabalho tivessem formatos diferentes, foi assumido que a superfície de contato do líquido com eles fosse aproximadamente a mesma. Fontes externas de calor fornecem justamente a diferença de temperatura que impacta justamente a condução (1) e convecção térmica (3), além de emitir radiação térmica proporcional à quarta potência de sua temperatura (4). Todas as fontes externas foram consideradas constantes neste trabalho e, portanto, desconsideradas como fator. As condições de isolamento inibem os efeitos da convecção e da radiação, reduzindo significativamente a constante ℎ de (3) e a exposição do recipiente a corpos com alto poder emissivo (4). Este fator é controlável e foi considerado neste trabalho. O material do recipiente impacta diretamente a constante 𝑘 da equação de condução térmica (1), além de também poder servir como barreira radiante contra radiação térmica. Ele foi considerado como fator neste trabalho. O tipo de cerveja representa o “corpo” para o qual o fluxo de calor converge. De acordo com as equações apresentadas, sua importância se atém à sua temperatura inicial. É importante notar, entretanto, que mesmo absorvendo a mesma quantidade de calor, os dois corpos podem sofrer variações diferentes de temperaturas, dependendo da massa 𝑚 e do calor específico 𝑐 de ambos: 𝑄 = 𝑚𝑐∆𝑇. (5) Ou seja, quanto menor a massa 𝑚 e o calor específico 𝑐 em (5), maior será a variação de temperatura para uma mesma quantidade de calor. No experimento deste trabalho, a massa de líquido foi mantida aproximadamente constante, pois o volume considerado foi o mesmo: 150ml. Dessa forma, o tipo de cerveja, com calores específicos provavelmente diferentes, foi considerado um fator neste trabalho. Para cada um dos fatores não considerados neste trabalho, foram assumidas premissas que mantêm válido o experimento, vide Subseção II-C. Os níveis de cada um dos três fatores principais considerados: tipo (marca) da cerveja, condição de isolamento e tipo de recipiente, são apresentados a seguir. Marca da cerveja • Budweiser • Bohemia Condição de isolamento • Sem contâiner de isopor • Com contâiner de isopor Tipo de recipiente • Caneca de acrílico; • Copo de vidro tipo Lager (copo de chope); • Caneca metálica revestida à vácuo. A variável de resposta do experimento foi a temperatura final da cerveja após 10 minutos de exposição à temperatura ambiente, uma vez que a temperatura inicial da cerveja foi assumida como sendo 0°C. Portanto, o experimento contou com 2 fatores principais de 2 níveis mais 1 fator principal de 3 níveis. Além disso, cada observação teve duas réplicas, de forma a aumentar os graus de liberdade do erro, reduzindo sua contribuição final no procedimento de análise de variância, vide Seção IV. O número total de observações 𝑁𝑜𝑏𝑠 foi, então: 𝑁𝑜𝑏𝑠 = 2 × (22 × 3) = 24 B. Materiais Para conduzir o experimento de forma adequada foram utilizados níveis fixos e bem definidos para cada um dos três fatores considerados, como apresentados na Subseção II-A. Os dois níveis para o fator “marca de cerveja”: Bohemia [4] e Budweiser [5], são apresentadas na Figura 1. Fig. 1. Marcas de cerveja utilizadas no experimento: Budweiser e Bohemia. Os três tipo de recipientes do fator “tipo de recipiente” são apresentados na Figura 2. Metodologias de Planejamento e Análise de Experimentos 3 Por meio dela, qualquer pessoa é capaz de repetir o experimento para fins de comparação e validação. As etapas são listadas a seguir: 1) 2) 3) 4) Copo de Vidro Caneca Metálica Revestida à Vácuo Caneca de Acrílico Fig. 2. Três tipos de recipientes utilizados no experimento Para o fator “condição de isolamento” foi utilizado um contâiner de isopor, dentro do qual os recipientes com cerveja foram colocados. Ele é apresentado na Figura 3. Fig. 3. Contâiner de isopor utilizado no experimento. Além dos materiais representativos de cada fator, também foi utilizado um copo de vidro com capacidade de 150 ml para servir como dosador de cerveja para cada recipiente, vide Figura 4. 5) 6) 7) 8) 9) 10) Cuidado especial foi tomado ao despejar a cerveja tanto no dosador quanto no recipiente. Note que a etapa 2 orienta que o operador despeje a cerveja lentamente no dosador para evitar a formação de espuma, possibilitando a medição mais próxima possível de 150 ml. Em contrapartida, a etapa 3 orienta que a cerveja seja despejada de forma abrupta no recipiente, possibilitando a formação de espuma, que é um importante fator contra a perda térmica do líquido. Embora a espuma não tenha entrado no experimento como um fator, e dada a sua importância, procurou-se gerar espuma de forma similar em todas as observações seguindo-se a etapa 3. Foram tomados alguns cuidados operacionais a fim de evitar fontes de perturbações indesejáveis nas observações. A seguir são listados alguns dos cuidados tomados: • • • • Fig. 4. Copo dosador de 150ml utilizado no experimento. • 2 Um termohigrômetro digital também foi utilizado para medição da temperatura da cerveja no interior de cada recipiente por meio de uma ponta de prova, vide Figura 5. Manter as cervejas e a ponta do termohigrômetro no interior da geladeira até a temperatura estabilizar; Abrir a geladeira, pegar a lata de cerveja da marca X e despejá-la lentamente no dosador até que este fique cheio; Despejar o conteúdo do dosador no recipiente Y de forma abrupta; Pegar a ponta do termohigrômetro do interior da geladeira e colocá-la rapidamente no interior do recipiente Y; Deixar o recipiente Y na condição Z de isolamento; Ligar o cronômetro; Guardar a lata de cerveja da marca X caso ela ainda contenha cerveja; Aguardar 10 minutos; Anotar a temperatura determinada pela ponta do termohigrômetro; Voltar para a etapa 1. • Manipular os recipientes com cerveja pela borda, a fim de evitar a troca de calor entre a mão do operador e o líquido; Deixar os recipientes e o dosador embaixo de água corrente antes de usá-los em determinada observação, para que todos partissem de uma mesma temperatura inicial; Quando nenhuma observação estiver sendo feita, manter a ponta do termohigrômetro no interior da geladeira, de forma a indicar uma temperatura próxima à das cervejas geladas; Não demorar mais do que 20 segundos na preparação de cada observação por meio da metodologia apresentada; Lavar e enxugar a ponta do termohigrômetro anter de colocá-la no interior da geladeira, para que a evaporação do líquido remanescente na ponta não altere o valor da medição; Desconsiderar prováveis preferências do operador por um recipiente específico, que contenha o escudo de um time de futebol, por exemplo. Por fim, foram ainda assumidas algumas premissas para assegurar a validade dos resultados gerados pelo experimento. As premissas foram: Fig. 5. Termohigrômetro digital utilizado no experimento para medição de temperatura. C. Aquisição dos Dados Uma metodologia com todas as etapas operacionais necessárias para a condução correta do experimento foi feita. 2 Precisão: ±0,1°C. Faixa de operação: -30°C a 70°C a) A temperatura das latas de cervejas no interior da geladeira são iguais à temperatura do interior da geladeira (em potência máxima), aproximadamente 0°C. b) O abre e fecha da porta da geladeira não altera a temperatura das latas de cerveja. Ou seja, a dinâmica de aquecimento neste caso é muito lenta, e portanto, desprezível. c) A temperatura da cerveja contida no recipiente é homogênea, de forma que a posição da ponta do termohigromêtro no interior do recipiente não altere o valor da resposta final. d) A espessura de espuma em todas as observações é a mesma, uma vez que espessuras diferentes podem influenciar a resposta final. Metodologias de Planejamento e Análise de Experimentos e) A amplitude térmica da temperatura ambiente entre a primeira e a última observação é desprezível, e portanto, a ordem das observações não altera a resposta final. f) A abertura de cada recipiente tem aproximadamente a mesma área de exposição à temperatura ambiente. g) As fontes de calor ao redor das observações são mantidas contantes para todas as observações. III. RESULTADOS Tanto a aleatorização do experimento na fase de seu planejamento quanto a análise dos resultados foram feitas com o software Minitab v16 [6]. Os resultados das temperaturas para cada uma das observações são apresentados de forma concisa na Tabela I. TABELA I RESULTADO DAS 24 OBSERVAÇÕES De acordo com o somatório parcial das respostas da Tabela I, percebe-se que o somatório das respostas das observações feitas com o recipiente metálico revestido à vácuo teve o menor valor quando comparado com os outros recipientes, o que indica que este recipiente pode ser o melhor. Além disso, o somatório das colunas indica que a combinação de fatores: Bohemia com isopor, apresenta o menor resultado frente às demais. Uma forma interessante de visualizar os resultados é por meio de boxplot, em que tendências podem ser observadas por grupos e por níveis. A Figura 6 apresenta o Boxplot dos dados. 4 o intervalo de temperaturas pertencentes a cada observação. Em alguns casos, a temperatura final é até menor que a temperatura inicial de 0°C, o que seria impossível. Fig. 7. O intervalo de confiança Outro gráfico que fornece informação visual sobre os efeitos médios dos fatores principais sobre a resposta do experimento é apresentado na Figura 8. Fig. 8. Efeito dos fatores principais no desvio de temperatura Da Figura 8 percebe-se claramente que o fator “tipo de recipiente” é o que tem maior impacto no desvio da temperatura da cerveja, com uma variação de aproximadamente 5°C entre os níveis extremos (vidro e metal revestido à vácuo). Por outro lado, os fatores “marca da cerveja” e “condições de isolamento” apresentam um desvio pequeno na temperatura, cerca de 0,8°C, entre seus níveis. IV. ANÁLISE DOS RESULTADOS A. Testes de Hipóteses O modelo de efeitos para o experimento em questão é dado pela equação que resulta na reposta yijkl da ijkl-ésima observação: 𝑦𝑖𝑗𝑘𝑙 = 𝜇 + 𝜏𝑖 + 𝛽𝑗 + 𝛾𝑘 + (𝜏𝛽)𝑖𝑗 + (𝜏𝛾)𝑖𝑘 + (𝛽𝛾)𝑗𝑘 + (𝜏𝛽𝛾)𝑖𝑗𝑘 + 𝜖𝑖𝑗𝑘𝑙 , Fig. 6. Boxplot do desvio de temperatura para as 12 diferentes combinações de níveis possíveis. Por inspeção da Figura 6 é possível observar algumas tendências. Considerando somente o fator tipo do recipiente percebe-se que o vidro é pior que o acrílico que, por sua vez, é pior que o metal revestivo à vácuo. Pode-se notar, em geral, que as observações feitas com isopor tiveram temperaturas menores do que as feitas sem isopor. E ainda, as observações feitas com a cerveja Bohemia tiveram, no geral, temperaturas menores do que as feitas com a cerveja Budweiser. Porém, o número de réplicas por observação foi muito baixo: 2. Isto impede que conclusões e inferências estatísticas sejam feitas mediante a simples análise da Figura 6. Considerando um intervalo de confiança de 95%, percebe-se pela Figura 7 que não é possível na maioria dos casos determinar com baixa variância 𝑖 = 1, 2 𝑗 = 1, 2 𝑘 = 1, 2, 3 𝑙 = 1, 2 (6) em que µ é a média geral, τi representa o efeito do nível i do fator “marca de cerveja”, βj representa o efeito do nível j do fator “condição de isolamento”, γk representa o efeito do nível k do fator “tipo de recipiente”, (τβ)ij , (τγ)ik , (βγ)jk e (τβγ)ijk representam a interação entre os efeitos principais, e ϵijkl é o resíduo (erro aleatório com distribuição normal de média zero e variância σ2 ). Os índices 𝑖, 𝑗, 𝑘 representam, respectivamente, o nível dos fatores “marca de cerveja”, “condição de isolamento” e “tipo de recipiente”, e 𝑙 a replicação. Os testes de hipóteses foram os seguintes: Testar influência da marca da cerveja na variação de temperatura final da cerveja 𝐻0 : 𝜏𝑖 = 0 ∀𝑖 𝐻1 : 𝜏𝑖 ≠ 0 ∃𝑖 Metodologias de Planejamento e Análise de Experimentos Testar influência da condição de isolamento na variação de temperatura final da cerveja 𝐻0 : βj = 0 ∀𝑗 𝐻1 : βj ≠ 0 ∃𝑗 Testar influência do tipo de recipiente na variação de temperatura final da cerveja 𝐻0 : γk = 0 ∀𝑘 𝐻1 : γk ≠ 0 ∃𝑘 Testar influência da interação entre os fatores principais na variação de temperatura final da cerveja 𝐻0 : (𝜏𝛽)𝑖𝑗 = 0 ∀𝑖𝑗 𝐻1 : (𝜏𝛽)𝑖𝑗 ≠ 0 ∃𝑖𝑗 𝐻0 : (𝛽𝛾)𝑗𝑘 = 0 ∀𝑗𝑘 𝐻1 : (𝛽𝛾)𝑗𝑘 ≠ 0 ∃𝑗𝑘 5 com o nível de significância considerado, embora o gráfico da Figura 8 induza o leitor a achar que a cerveja tenha influência. É ainda notável da Tabela II, que o fator recipiente é o que mais contribui (78,77%) para a variabilidade da resposta, sendo, portanto, o fator mais importante no desvio de temperatura da cerveja. A Figura 9 mostra um gráfico de interação com as médias dos níveis dos fatores que mais influenciaram na resposta do experimento: condição de isolamento e tipo de recipiente. 𝐻0 : (𝜏𝛾)𝑖𝑘 = 0 ∀𝑖𝑘 𝐻1 : (𝜏𝛾)𝑖𝑘 ≠ 0 ∃𝑖𝑘 𝐻0 : (𝜏𝛽𝛾)𝑖𝑗𝑘 = 0 ∀𝑖𝑗𝑘 𝐻1 : (𝜏𝛽𝛾)𝑖𝑗𝑘 ≠ 0 ∃𝑖𝑗𝑘 A hipótese nula 𝐻0 indica a ausência de influência do fator ou da interação de fatores na resposta. A hipótese alternativa 𝐻1 indica a existência de influência do fator ou da interação de fatores na resposta. A rejeição e a aceitação de casa hipótese de teste são válidas para um determinado nível de significância 𝛼. Neste trabalho estabeleceu-se que 𝛼 = 0,05, ou seja, as conclusões obtidas têm um intervalo de confiança de 95%. B. ANOVA Para análise dos testes de hipóteses foi utilizada a análise de variância (ANOVA) através do teste estatístico F [7]. O valor p também foi calculado para auxiliar na tomada de decisão. Porém, o teste foi feito assumindo-se algumas premissas: • Distribuição normal dos resíduos; • Independência dos dados; • Variância constante e igual para todos níveis dos fatores. O resultado da ANOVA para os 3 fatores e todas as suas interações até 2ª ordem é apresentado na Tabela II. 3 Fig. 9. Distribuição dos 9 experimentos considerando a presença de 3 fatores com 3 níveis por fator. Da Figura 9, nota-se que a ausência do isopor para os recipientes vidro e acrílico levam a temperaturas maiores do que com a presença do isopor, sendo o isopor benéfico para ambos os recipientes. O contrário ocorre com recipiente metálico revestido à vácuo, em que a presença do isopor leva a um aumento de temperatura em relação à ausência. Com base no exposto, foi feito uma nova ANOVA considerando somente os dois fatores que rejeitaram a hipótese nula anteriormente, vide Tabela III. TABELA III ANOVA PARA 2 FATORES: ISOPOR E RECIPIENTE TABELA II ANOVA PARA 3 FATORES: CERVEJA, ISOPOR E RECIPIENTE É notável da Tabela II, que dos 3 fatores principais, somente 2 têm influência nas respostas do experimento: “condição de isolamento” (isopor) e “tipo de recipiente” (recipiente). Isto foi verificado porque o valor p de ambos os fatores foram menores que o nível de significância considerado a priori: 𝛼 = 0,05, de modo que suas respectivas hipóteses nulas foram rejeitadas. Verifica-se também a influência da interação entre os dois fatores: “condição de isolamento” e “tipo de recipiente” na resposta. As demais hipóteses nulas foram aceitas, ou seja, o fator “marca da cerveja” não tem influência sobre a resposta 3 Interações de 3a ordem, como (𝜏𝛽𝛾)𝑖𝑗𝑘 , são pouco significativas [7]. Como o fator “marca da cerveja” não foi considerado, a soma dos quadrados do erro passou naturalmente a ter um valor maior. De qualquer forma, por meio da análise dos valore p da Tabela III, verifica-se que os fatores mais relevantes (𝑝 < 𝛼) são de fato o recipiente, o isolamento (isopor) e a interação deles. Neste caso, o experimento foi considerado como tendo 4 replicações e 2 fatores, sendo um com 2 níveis e outro com 3, mantendo as 24 observações originais. C. Modelo de Regressão O Minitab gerou dois modelos de regressão, sendo um considerando a presença dos 3 fatores iniciais e outro considerando a presença somente dos dois fatores relevantes. A regressão linear foi feita pelo Método do Mínimos Quadrados. Considere a seguinte codificação dos níveis apresentada na Tabela IV. TABELA IV CODIFICAÇÃO DOS NÍVEIS DOS 3 FATORES DO EXPERIMENTO Marca da Cerveja (𝒙𝟏 ) Budweiser (𝑥1 = −1) Bohemia (𝑥1 = 1) Metodologias de Planejamento e Análise de Experimentos 6 Condição de Isolamento (𝒙𝟐 ) Sem Isopor (𝑥2 = −1) Com Isopor (𝑥2 = 1) Tipo de Recipiente Vidro (𝒙𝟑 ) Acrílico (𝒙𝟒 ) Metal e vácuo (𝒙𝟓 ) Sem Acrílico (𝑥4 = Sem Vidro (𝑥3 = −1) Sem Metal (𝑥5 = −1) −1) Com Vidro (𝑥3 = 1) Com Acrílico (𝑥4 = 1) Com Metal (𝑥5 = 1) O modelo de regressão com três fatores é apresentado na Equação (7) e o reduzido a dois fatores na Equação (8). 𝑦 = 5,44 − 0,35𝑥1 − 0,40𝑥2 + 2,20𝑥3 + 0,15𝑥4 + 0,04𝑥1 𝑥2 − 0,04𝑥1 𝑥3 + 0,21𝑥1 𝑥4 − 0,61𝑥2 𝑥3 + 0,04𝑥2 𝑥4 + ∈ 𝑦 = 5,44 − 0,40𝑥2 + 2,20𝑥3 + 0,15𝑥4 − 0,61𝑥2 𝑥3 + 0,04𝑥2 𝑥4 + ∈ normal ℵ(0, 𝜎 2 ), validando a premissa de distribuição normal. Além disso, a variância de cada observação é aproximadamente constante (homoscedasticidade), como mostra a Figura 11(a), em que os resíduos são distribuídos aleatoriamente em torno de 0. Por fim, a Figura 11(b) revela a independência dos dados, em que nenhuma tendência é observada no decorrer das observações. Para o modelo reduzido, as premissas também são validadas, como mostram as Figuras 12, 13(a) e 13(b). (7) (8) Para o modelo (7) 𝑅2 = 91,26%, o que significa que 91,26% de toda a variabilidade dos dados foi explicada pelo modelo. 2 = 85,63%. Para o Considerando a quantidade de termos 𝑅𝑎𝑑𝑗 2 2 modelo (8) obteve-se 𝑅 = 87,82% e 𝑅𝑎𝑑𝑗 = 84,44%. Do exposto, concluí-se que o modelo (8) é mais adequado para fornecer as respostas do experimento, uma vez que conta com um menor número de termos (simplicidade) e com uma desprezível perda de generalidade em relação ao modelo (7), 2 é de apenas 1,19% pois a diferença dos 𝑅𝑎𝑑𝑗 Vale ressaltar também que os coeficientes: 0,15 e 0,04 do modelo (8) podem ser substituídos por 0,00 com 95% de confiança, pois validam a hipótese nula de que são iguais a 0. D. Validação das premissas Como mencionado na Subseção IV-B, três premissas foram assumidas para que o teste estatístico F pudesse ser feito. Resta verificar a validade destas premissas analisando-se os resíduos gerados tanto pelo modelo de 3 fatores (7), quanto para o modelo reduzido de 2 fatores (8). A Figura 10 e a Figura 11(a) e 11(b), mostram, respectivamente, a proximidade dos resíduos à normalidade, a distribuição dos resíduos em função do valor calculado pelo modelo e do número da observação. Fig. 10. Plot de normalidade dos resíduos do modelo (7). Fig. 12. Plot de normalidade dos resíduos do modelo (8). (a) (b) Fig. 13. Plot dos resíduos do modelo (8) em função do valor aproximado (a) e do número da observação (b). Embora a Figura 12 pareça violar a condição de normalidade, um teste de normalidade foi feito por meio do Teste Ryan-Joiner [8], fornecendo um valor p de 0,080, e portanto, assegurando com 95% de confiança a validade da hipótese nula de que o plot dos resíduos é uma distribuição normal. V. CONCLUSÕES Este trabalho foi bem sucedido, tem atendido aos objetivos propostos. Foi verificado que o fator mais significativo no desvio de temperatura da cerveja é o tipo de recipiente. Foi verificado também que a presença do contâiner de isopor e sua interação com o tipo de recipiente também influenciam no resultado, embora de forma bem menos intensa, representando somente 9,4% da variabilidade dos dados. A marca de cerveja não influencia no resultado, ou seja, os calores específicos em (5) são equivalentes. O pior tipo de recipiente é o copo de vidro. O melhor é a caneca metálica revestida à vácuo, cujo metal é uma barreira reflexiva contra a radiação (4) e, o vácuo, isolante contra a condução térmica (1). REFERÊNCIAS [1] (a) (b) Fig. 11. Plot dos resíduos do modelo (7) em função do valor aproximado (a) e do número da observação (b). Por inspeção visual da Figura 10, nota-se que a curva dos resíduos é bem próxima à reta que representa uma distribuição [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/resultado_pesquisa_senad_2 007.pdf http://www.myscienceproject.org/beer.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Condu%C3%A7%C3%A3o_t%C3%A9rmica http://bohemia.com.br/cervejaria/ http://www.budweiser.com/default.aspx#/index http://www.minitab.com/pt-BR/default.aspx D. C. Montgomery. Design and Analysis of Experiment. 5th ed. John Wiley & Sons, inc. New York, 2001. Minitab v16 Help.