III Encontro Paranaense de Engenharia e Ciência Toledo – Paraná, 28 a 30 de Outubro de 2013 Análise da influência de diferentes valores de graduação alcoólica inicial e pressões de vapor no processo de destilação para a obtenção de bioetanol. Lara T. Schneider1*, Joel G. Teleken2, Gabriela Bonassa3, Anderson R. Heydt3, Carlos J. De Oliveira3 (1)* Curso de Graduação de Tecnologia em Biocombustíveis – UFPR – Universidade Federal do Paraná, Setor Palotina – PR. Rua Pioneiro, n. 2153 – Jardim Dallas – Palotina – Paraná – CEP: 85950-000 – Brasil – +55 (44) 3211-8500. E mail: [email protected]. (2) Docente do curso de Graduação de Tecnologia em Biocombustíveis – UFPR – Universidade Federal do Paraná, Setor Palotina – PR. (3) Curso de Graduação de Tecnologia em Biocombustíveis – UFPR – Universidade Federal do Paraná, Setor Palotina – PR. Resumo: A destilação é um processo de separação de líquidos através da diferença do grau de volatilidade dos componentes da mistura. Realizou-se três processos de destilação com diferentes condições de graduação alcoólica inicial da mistura (6,21 e 9,79 ºGL) e pressões de vapor (0,5 e 0,9 Kgf/cm2) , mantendo a taxa de refluxo de 0,35 para os três testes, onde objetivou-se a criação de sistemas operacionais a partir da análise da influência das variáveis reais controladas, visando um processo otimizado e energeticamente maximizado. A partir dos resultados observou-se que pressões de vapor muito elevadas tem influência direta sobre o tempo de destilação, reduzindo significativamente o tempo total do processo, como no caso do teste 3. A concentração volumétrica de etanol na mistura a ser destilada possui efeito positivo sobre o volume final de etanol recuperado, ou seja, aumentando a concentração de etanol na mistura inicial maior o volume a ser produzido. Durante o teste 2 produziu-se 27 litros de produto desejado em relação a graduação alcoólica (ºGL), entretanto, em um tempo mais elevado. Palavras – Chave: Energias Renováveis; Bioetanol; Destilação; Maximização energética; Controle de variáveis. onde a partir de um sistema de resfriamento se liquefazem e o produto é obtido (JUNIOR, 2010). O processo de separação ocorre através de fenômenos chamados de transferência de calor e massa. Há um escoamento contracorrente onde a fase líquida percorre a coluna por canais de descida em direção à base da coluna, enquanto a fase vapor sobe borbulhando através do líquido pelas perfurações existentes nos pratos. O aquecimento da coluna é feito através dos vapores advindos do refervedor, contido na base da coluna, portanto, a transferência de calor acontece da fase vapor para a fase líquida. Já a transferência de massa acontece devido à diferença de concentração entre fases, e se caracteriza pela transferência de um INTRODUÇÃO A separação de compostos é uma parte essencial na grande maioria dos processos industriais, agregando valores aos produtos obtidos, e a destilação é a técnica de separação mais largamente utilizada para promover a separação de componentes de uma mistura que possuam diferentes graus de volatilidade, através de uma operação de contato intimo entre as duas fases fluidas (líquido e vapor) permitindo a difusão interfacial de seus constituintes e levando a separação desejada (GOUVÊA, 1999). As colunas de destilação são compostas por pratos que formam uma série de aparelhos de destilação simples, um destilando ascendentemente seus vapores para o outro, e ao chegarem à parte superior da coluna dirigem-se para um condensador, Anais do III Encontro Paranaense de Engenharia e Ciência – 28 a 30 de Outubro de 2013 – Toledo–PR 197 III Encontro Paranaense de Engenharia e Ciência Toledo – Paraná, 28 a 30 de Outubro de 2013 componente através de outro presente em menor escala, de modo que essa transferência será tanto maior quanto for à diferença entre o maior e menor ponto de concentração (MAYER, 2010). A temperatura da coluna diminui da base para o topo ao mesmo tempo em que a riqueza alcoólica aumenta na mesma direção (SOARES, 2000). A produção de bioetanol em pequena escala na maioria das vezes é inviabilizada por fatores econômicos, considerando que mesmo com aspectos tecnológicos disponíveis para a obtenção deste combustível, baixos rendimentos alcançados pelos equipamentos colocam essa produção em questão (MAYER, 2010). A etapa de fornecimento de energia e aquecimento é decisiva na economia térmica do processo, portanto, tem-se como objetivo a criação de sistemas operacionais a partir da análise da influência das variáveis reais controladas, visando um processo otimizado e energeticamente maximizado. Refluxo % alcoólica (v/v) Pressão (Kgf/cm2) 0,35 6,21 0,5 0,35 9,79 0,5 0,35 9,79 0,9 Fração volumétrica de etanol: Inicialmente prepara-se a mistura a ser destilada (álcool/água) no alambique, com um total de aproximadamente 300 Litros. Mede-se a porcentagem alcoólica da mistura de acordo com os valores exigidos pelos testes e apresentados na Tabela 1, 6,21ºGL (V/V) ou 9,79ºGL (V/V), utilizando um alcoômetro centesimal de Gay Lussac. Pressão de vapor (Kgf/cm2): Após o aquecimento da caldeira, quando esta atinge aproximadamente 05 Kgf/cm2 de vapor (valor observado no medidor de pressão da própria caldeira), abre-se a válvula que permite a liberação de pressão para a estrutura de destilação. O objetivo da alteração destes valores é saber se utilizando menores quantidades de vapor e consequentemente tendo um menor gasto energético, ha influência no tempo de startup da coluna, no tempo de retirada do destilado e no teor alcoólico desejado (92 %). Refluxo: A taxa de refluxo é definida como a razão do líquido que retorna a coluna promovendo uma melhor separação das frações desejadas, e considerada um fator determinante no teor alcoólico do destilado. A válvula de refluxo contida no painel interno de destilação precisa estar marcada em posições exatas de acordo com o planejamento, pois quando um valor é determinado o mesmo é mantido até o final do processo. Também são monitoradas ao longo dos testes as seguintes temperaturas: condensador, deflegmador, alambique e destilador, obtidas através do painel interno do sistema de destilação, monitoradas a cada 2 minutos e posteriormente utilizadas para gerar perfis de temperatura avaliando o comportamento do sistema em cada experimento. Durante os três experimentos a válvula do condensador permaneceu completamente aberta, e a do deflegmador apenas 2/4 aberta. MATERIAIS E MÉTODOS As colunas de destilação requerem sistemas de controles ajustados, e para que esses sistemas operacionais sejam executados e mantidos deve-se fazer o monitoramento de determinados fatores que influenciam no processo, ajustando-os e controlando-os (FILETI, 1995). Neste caso, os fatores controlados nos experimentos realizados foram: taxa de refluxo, graduação alcoólica inicial e pressão de vapor, de acordo com os valores apresentados na Tabela 1, onde pode-se observar que apenas a taxa de refluxo manteve-se a mesma nos três experimentos. Portanto, buscou-se analisar a influência da pressão de vapor utilizada e da graduação alcoólica inicial da mistura a ser destilada, sobre a quantidade de etanol de topo retirada e o tempo gasto para isso. Tabela 1. Planejamento experimental Fatores Teste 1 Teste 2 Teste 3 Anais do III Encontro Paranaense de Engenharia e Ciência – 28 a 30 de Outubro de 2013 – Toledo–PR 198 III Encontro Paranaense de Engenharia e Ciência Toledo – Paraná, 28 a 30 de Outubro de 2013 processo e também a retirada de produto desejado em relação ao ºGL. Em relação à graduação alcoólica inicial da mistura, a concentração volumétrica de etanol na mistura a ser destilada possui efeito positivo sobre o volume final de etanol recuperado, ou seja, aumentando a concentração de etanol na mistura inicial, maior o volume a ser produzido. Como no caso do teste 2 e 3, que iniciaram-se com uma porcentagem de 9,79ºGL. Entretanto, os resultados obtidos no teste 3 não foram positivos em virtude da utilização de maior pressão de vapor, o que influencia na graduação alcoólica do produto retirado. De acordo com a Tabela 2, observase que durante o teste 2 retirou-se 27 litros de produto com uma graduação acima de 92 ºGL, e no teste 1, somente 10 litros. Ou seja, em 116 minutos a mais, produziu-se 17 litros. Observa-se na Figura 1, o comportamento da graduação alcoólica (ºGL) do produto retirado durante os testes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os testes foram realizados de acordo com os fatores observados na Tabela 1, objetivando-se determinar melhor processo dentre estes. Realizou-se o teste 1 com graduação alcoólica inicial da mistura de 6,21 ºGL, taxa de refluxo de 0,35 e pressão de vapor de 0,5 Kgf/cm2. O teste 2 foi realizado com a mesma condição de refluxo e a mesma pressão de vapor, porém, variouse a graduação alcoólica inicial, que foi de 9,79 ºGL. No teste 3, a graduação alcóolica inicial também foi de 9,79ºGL, taxa de refluxo de 0,35 e a pressão de vapor de 0,9 Kgf/cm2. Observa-se na Tabela 2 as variáveis respostas de cada experimento. Tabela 2. Variáveis respostas dos experimentos Teste Tempo Start-up V Q ºGL (min) (min) Etanol (L/h) (L) 1 216 78 10 3,56 92 2 332 54 27 3,71 92 3 38 * * * * * Não atingiu graduação alcoólica desejada. A utilização de uma pressão de vapor muito elevada provoca o rápido aquecimento da mistura a ser destilada e o aumento da velocidade dos vapores, fazendo com que o fluxo de vapor que ascende pela coluna seja muito intenso e que haja um menor tempo de contato entre as fases líquido/vapor, prejudicando os fenômenos de transferência de calor e massa, fazendo que não haja a purificação desejada e que os vapores sejam condensados com uma baixa graduação alcoólica. Observa-se que o tempo é reduzido de forma significativa, como no caso do teste número 3 que durou apenas 38 minutos, entretanto, quando o objetivo é a retirada de produto dentro da especificação de 92 ºGL este não é vantajoso, pois todo volume produzido atinge cerca de no máximo 88 ºGL, graduação que tende a diminuir do início até o final do processo, além disso, há um gasto energético muito elevado. Já com a utilização de menores pressões de vapor, como no teste 1 e 2, observa-se que conforme a diminuição da pressão de vapor aumenta-se o tempo do 100 90 80 70 ºGL 60 50 Teste 1 Teste 2 Teste 3 40 30 20 10 0 0 50 100 150 200 250 300 350 Tempo (min) Figura 1. Graduação alcoólica do destilado ao longo dos testes. De acordo como o explicado anteriormente, o teste 3 não atingiu a graduação alcoólica esperada em consequência da utilização de elevada pressão de vapor. O tempo de start-up, ou seja, tempo necessário para que o produto de interesse em relação ao ºGL seja produzido, foi diferente em cada um dos testes. Esta Anais do III Encontro Paranaense de Engenharia e Ciência – 28 a 30 de Outubro de 2013 – Toledo–PR 199 III Encontro Paranaense de Engenharia e Ciência Toledo – Paraná, 28 a 30 de Outubro de 2013 variável resposta está diretamente relacionada com a pressão de vapor utilizada, pois quanto maior essa pressão, mais rápido acontece o aquecimento da mistura e retira-se o produto em um menor tempo, como no caso do teste 3, entretanto, com baixa graduação alcoólica. Nos testes 1 e 2 os tempos e star-up foram maiores devido a utilização de menor pressão de vapor, provocando um aquecimento mais lento da mistura a ser destilada. No teste 2, a quantidade de álcool na mistura era maior do que no teste 1, em virtude da graduação alcoólica inicial ser mais elevada, portanto, o aquecimento acontece mais rápido em consequência do menor ponto de bolha da mistura, o que explica o menor tempo de start-up. As condições de operação dos testes 1 e 2 foram favoráveis para que o estado estacionário de retirada de produto desejado se mantivesse durante um certo tempo, que foi maior no teste 2 em virtude da maior quantidade de álcool adicionada inicialmente na mistura, influenciando também no volume final de produto. no teste 1 foi de 10 em um total de 216 minutos de operação. Para a determinação do melhor processo precisa-se levar em consideração se a quantidade de produto retirada compensa o gasto energético do tempo a mais de operação. Agradecimentos Agradeço a bolsa de iniciação cientifica UFPR/TN (2012/2013), a UFPR – Setor Palotina e ao Laboratório de Produção de Biocombustíveis, pelo espaço para o desenvolvimento do projeto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GOUVÊA, P. E. M. Simulação e análise de configurações alternativas de colunas de destilação: meta e para-destilação, 1999. 150 P. Tese (Mestrado em Engenharia Química) Universidade Estadual de Campinas, Campinas. FILETI, A. M. F. Controle em destilação batelada: controle adaptativo e controle preditivo com modelo baseado em redes neurais artificiais, 1995. 216 P. Tese (Doutorado em Engenharia Química) Universidade Estadual de Campinas, Campinas. SOARES, C. Avaliação Experimental dos Coeficientes de Transferência de Massa e Calor em uma Coluna com Pratos Perfurados. Dissertação. (Mestrado em Engenharia Química) Faculdade de Engenharia Química – Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Campinas. CONCLUSÕES Os resultados apresentados durante o teste 3 nos mostram que maiores pressões de vapores além de proporcionar um elevado gasto energético, não são eficientes para a retirada de uma maior quantidade de produto de interesse. Já as condições de operação dos testes 1 e 2, indicam resultados consideráveis quanto a retirada de produto na especificação em relação ao ºGL, pois o produto desses dois testes atingiram a graduação alcoólica desejada, entretanto, com tempos diferentes. Concluiu-se em um tempo total de 332 minutos, porem, com um total de 27 litros de produto, quantidade que JUNIOR, M. S. J. R. Obtenção de álcool etílico hidratado, com graduação alcoólica para uso automotivo: validação de um processo em batelada, 2010. 146 P. Tese (Pós-graduação em Engenharia de processos). Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria- RS. MAYER, F. D. Desenvolvimento da tecnologia de destilação apropriada à produção de álcool combustível em pequena escala, 2010. 109 P. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Processos) – Centro de Tecnologia, Universidade Federal de Santa Maria- RS. Anais do III Encontro Paranaense de Engenharia e Ciência – 28 a 30 de Outubro de 2013 – Toledo–PR 200