DANDO UM TEMPO
Do cafezinho às redes sociais: como as pausas ao longo do
dia afetam nossa rotina de trabalho
POR CAROLINA MAZZI
Vamos tomar um cafezinho? Praticamente todos os trabalhadores brasileiros já foram convidados
para uma pausa ao longo do dia. Mas não é só o café. Com o fim dos fumódromos, o
deslocamento dos profissionais aumentou o tempo gasto com cigarro. E as redes sociais se
tornaram uma distração difícil de conter no dia a dia. Hoje, enquanto as empresas se preocupam
com as pausas, principalmente devido às checagens de mensagens eletrônicas e afins,
especialistas dizem que intervalos em que as pessoas realmente relaxam são saudáveis e podem
aumentar a produtividade.
Liliane Toledo, professora de psicologia do trabalho na Universidade Mackensie, afirma que estes
intervalos são uma necessidade biológica. Mas diz que é preciso observar excessos.
— Nenhum ser humano fica concentrado as oito horas diárias de trabalho. Vários pesquisadores
comprovam que estes espaços são fundamentais para nossa saúde mental. Além disso, são
momentos de criar laços sociais... Agora, muita gente acaba usando a pausa para acessar redes
sociais e mexer no celular. Neste caso, o intervalo, além de não promover a sociabilização nem
refrescar a cabeça, continua a estimular o cérebro, ao invés de relaxá-lo.
90% TÊM CONTA EM PELO MENOS UMA REDE SOCIAL
Os benefícios na produtividade foram notados pela empresa Ancar Ivanhoe, que passou a
estimular as pausas, construindo espaços exatamente para este fim. Segundo Léia Cardoso,
gerente de Recursos Humanos da companhia, os momentos são importantes por estimular o
funcionário, que se sente mais valorizado. Na empresa, os funcionários têm acesso às redes.
— Não tenho dúvidas que houve aumento na produtividade depois que começamos a estimular
estes breaks. A pressão do mercado é muito grande, as pessoas estão trabalhando muito, dando
120%. É fundamental que o funcionário se sinta tranquilo, estimulado e seguro para trabalhar.
Porém, o uso excessivo das redes sociais e da internet tem se mostrado preocupante, alertam
especialistas. Segundo outro estudo da Robert Half, feito apenas com gestores, o principal motivo
de desconcentração (30%) no ambiente de trabalho é o acesso à internet — pelo celular ou
computador — para fins pessoais, incluindo o uso das redes sociais.
E conectar-se ao celular é quase sinônimo de tempo gasto nas redes, registra pesquisa da
agência eLife: 77% das pessoas com internet móvel têm como principal atividade visitar estas
páginas e, dos brasileiros conectados, mais de 90% estão em pelo menos uma rede social.
Mas restringir completamente o acesso pode passar a imagem de falta de confiança em relação
ao empregado, afirma Fabio Porto d’Ave, gerente de Divisão da Robert Half. Segundo o
especialista, proibir é opção apenas se o gestor notar que os funcionários estão abusando:
— O melhor jeito de analisar o uso é calcular o resultado do trabalho. Se o funcionário consegue
entregar o que é pedido, com qualidade e dentro dos prazos, a probabilidade é de que ele esteja
usando as pausas com bom senso.
A consultoria Deep fez uma pesquisa com um grupo de 12 profissionais, acompanhando sua
rotina de trabalho durante seis meses, para entender como se dá o uso das redes sociais. O que
se viu, segundo Juliana Almeida, diretora do Departamento de Pessoas da companhia, foi perda
de foco e até desmotivação pelo uso excessivo de celulares e acesso às redes. Segundo ela,
muitas pessoas param para responder, atender ou olhar mensagens assim que as recebem,
interrompendo o fluxo de trabalho. Em média, perderiam uma hora e 16 minutos por dia. Por mês,
25 horas ou três dias. O valor perdido poderia chegar a R$ 4.523 anuais por funcionário.
— A internet ajuda em muitos sentidos, mas as pessoas estão com problemas de abdicar da
ferramenta, nem que seja por algumas horas, o que é muito preocupante e um desafio grande
para as empresas atualmente. Proibir é muito difícil, mas é preciso que as empresas se
comuniquem com seus funcionários e os conscientizem melhor sobre o uso do celular e da
internet — diz a diretora da Deep.
Mas não só de problemas vivem as redes sociais. Especialistas concordam que a ferramenta
pode ser um importante aliado na busca por informações, contatos e até na resolução de
problemas relativos aos trabalho. Sendo assim, para Juliana, proibir o acesso às redes e ao
celular é quase impossível. E os maiores malefícios do uso excessivo ficam para os funcionários:
— Os gastos prejudicam, mas acabam diluídos nas empresas. As redes sociais podem ser muito
úteis no ambiente profissional, mas quando o colaborador troca suas pausas pelo acesso ao
celular, ou quando utiliza as redes de forma exagerada, ele perde a concentração, fica muito mais
ansioso e se desmotiva.
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