XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL
RELAÇÃO ENTRE O TEMPO GASTO POR FORRAGEIRAS
DE Melipona quadrifasciata NA COLETA DE RECURSO E
DIFERENTES DISPONIBILIDADES ALIMENTARES
Bruno Gusmão Vieira - Universidade Federal de Viçosa, Departamento de entomologia, Viçosa, MG.
[email protected]
Weyder Cristiano Santana - Universidade Federal de Viçosa, Departamento de entomologia, Viçosa, MG.
INTRODUÇÃO
Para que sejam efetivas no forrageamento, as abelhas utilizam mecanismos de comunicação adequados para indicar
fontes de alimento para as outras forrageiras da mesma colônia, o que pode incluir trilhas de odor, feromônio
marcando o alimento, produção de sons no interior da colônia, danças no caso da Apis mellifera (Apini), passagem
de alimento de uma abelha para outra no interior da colônia via trofaláxis, entre outros meios (Biesmeijer e Slaa,
2004). Com a comunicação, as abelhas conseguem indicar a qualidade, a distância, a posição e a disponibilidade da
fonte de recurso (Lichtenberg et al, 2011). Além desses mecanismos descritos, muitas espécies também se utilizam
da presença de suas irmãs nas flores para se orientar, com outras abelhas da mesma colônia servindo de reforço
positivo para as forrageiras, pois elas indicam, na maioria das vezes, que a fonte é segura e possui alimento
disponível (Biesmeijer e Slaa, 2004), o que pode sinalizar que é possível coletar alimento por mais tempo sem
serem perturbadas. Além disso, coletar recursos de uma fonte por mais tempo, que os possui em abundância, ao
invés de gastar esse tempo em um local que possui recursos escassos traz uma maior relação custo-benefício para a
colônia, já que conseguem transportar maior quantidade de alimento em menor espaço de tempo para o ninho.
OBJETIVO
Avaliar se o tempo gasto na coleta de recursos por forrageiras de Melipona quadrifasciata difere em dois tipos de
fonte alimentar: abundante e restritiva.
METODOLOGIA
Neste trabalho foram utilizadas operárias de Melipona quadrifasciata obtidas a partir de 5 colônias, com número
semelhante de operárias, que foram transportadas para um local em que não houve interferência de outras abelhas.
Foi testada uma colônia por vez, em cinco rodadas, sem interferência das outras colônias. As abelhas foram
treinadas a visitar o alimentador abundante, composto por uma placa raiada e um frasco, onde várias abelhas
tiveram acesso ao alimento ao mesmo tempo. Foi oferecido, como atrativo às forrageiras, mel de Apis mellifera
diluído em água a aproximadamente 66% de concentração (2:1, v/v). As forrageiras também foram treinadas a
visitar um alimentador restritivo, composto por 6 capilares de 50 µl em contato com o xarope, onde no máximo seis
indivíduos tiveram acesso ao alimento ao mesmo tempo. Os alimentadores foram mantidos a uma distância entre 34m das colônias testadas e os testes contaram com 5 rodadas, sendo cada colônia considerada como uma repetição.
Foi registrado, com o auxílio de um cronômetro, o tempo de permanência das forrageiras previamente marcadas na
fonte. Foi avaliada uma abelha por colônia, tanto na fonte abundante quanto na restritiva, tendo sido observados os
dez primeiros retornos da mesma ao alimentador.
RESULTADOS
A média do tempo em segundos que cada abelha gastou coletando recursos em cada fonte para as 5 colônias foi
testada pelo teste t para duas médias pareadas (n=5). Obtivemos p=0,001932, assumindo assim que há diferença
significativa entre o tempo gasto pela forrageira na coleta de recurso fonte dependendo da disponibilidade de
alimento.
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DISCUSSÃO
O tempo que a forrageira gasta coletando seu recurso nos dois tipos de fonte é diferente significativamente. É mais
vantajoso para a colônia que as forrageiras gastem mais tempo coletando recursos de uma fonte, que os possui em
abundância, do que gastar esse tempo em uma fonte que possui recursos escassos, já que conseguem transportar
maior quantidade de alimento para o ninho. Quando o fluxo do alimentador é maior, as abelhas carregam mais
alimento no papo, o que serve também como um atrativo para que gastem maior tempo coletando recursos dessa
fonte (Nuñez, 1970). Outro ponto que pode ser levado em conta é que ao ter mais abelhas da mesma colônia na
fonte mais abundante, elas possuem melhor defesa contra predadores e outros competidores que possam aparecer
durante a coleta de alimento, possibilitando que permaneçam coletando o recurso por mais tempo, preocupando-se
menos com esse risco (Begon et al., 2007), o que não ocorre na fonte com menor disponibilidade de recurso. A
fonte restrita conta com menor número de abelhas coletando alimento, deixando-as mais vulneráveis. Com uma
limitação espacial, poucas operárias podem permanecer na fonte ao mesmo tempo, então pode ser mais vantajoso
para a colônia que haja maior revezamento das abelhas forrageiras que lá estão, possibilitando uma maior
velocidade na coleta do recurso, embora não tenha sido possível avaliar a velocidade com que esse recurso foi
consumido.
CONCLUSÃO
Nas condições apresentadas, as abelhas gastaram mais tempo coletando alimento em fontes com maior
disponibilidade, pois há maior custo-benefício para a colônia quando isso ocorre.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEGON, M.; TOWSEND, C. R.; HARPER, J. L. Ecologia: De Indivíduos a Ecossistemas. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2007. 752 p.
NUÑEZ, J. A. The relationship between sugar flow and foraging and recruiting behavior of honey bees (Apis
mellifera L.) Animal Behaviour. 1970. 18: 527 – 538.
BIESMEIJER, J. C; SLAA, E. J. Information flow and organization of stingless bee foraging. Apidologie. 2004.
35:143–157.
LICHTENBERG, E. M.; HRNCIR, M.; TURATTI, I. C.; NIEH, J. C. Olfactory eavesdropping between two
competing stingless bee species. Behavioral Ecology and Sociobiology. 2011. 65: 763–774.
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