ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA: a realidade dos idosos do abrigo
São Vicente de Paulo em Campina Grande/PB
1
Rochele Sidartha Pimenta de Oliveira
2
Juliana Kelly Dantas da Silva
3
Kelly Hyanny Fernandes Farias
Resumo: Na atualidade envelhecimento e qualidade de vida
expressam múltiplas dimensões, necessitando de maiores enfoques.
Dessa forma, o presente estudo centrou-se na análise da qualidade
de vida dos idosos, que encontram-se no Abrigo São Vicente de
Paulo em Campina Grande/Pb. Para tanto, utilizamos à pesquisa de
campo, de caráter qualitativo e quantitativo. Segundo os resultados,
verificamos que 80% dos entrevistados revelaram terem qualidade de
vida, enquanto 20% afirmaram que não possuem qualidade de vida, o
que foi atribuído a aspectos subjetivos, como: mau humor, ansiedade
e depressão. Portanto, a maioria dos idosos reconhecem que tem
qualidade de vida no referido abrigo.
Palavras-chave: Qualidade de vida, envelhecimento, idosos.
Abstract: Nowadays age and quality of life express multiple
dimensions, requiring greater focus. Thus, this study focused on the
analysis of quality of life of older people who are at the shelter São
Vicente de Paulo in Campina Grande/Pb. For this, use the field
research, qualitative and quantitative in nature. According to the
results show that 80% of respondents revealed they have quality of
life, while 20% said they have no quality of life, which was attributed to
subjective aspects such as: bad mood, anxiety and depression.
Therefore, most patients must recognize that quality of life in the
shelter.
Key words: Quality of life, aging, elderly.
1
Graduanda. Universidade Estadual da Paraíba. E-mail: [email protected]
Graduanda. Universidade Estadual da Paraíba. E-mail: [email protected]
3
Graduanda. Universidade Estadual da Paraíba. E-mail: [email protected]
2
1 INTRODUÇÃO
O crescimento da população idosa é, hoje, um proeminente fenômeno mundial. Isso
significa um crescimento mais elevado da população idosa com relação aos demais grupos
etários. No caso do Brasil, a participação da população maior de 60 anos, no qual registra
um percentual de 8,6% da população total. Tem-se ainda uma projeção de cerca de 30,9
milhões de indivíduos que terão mais de 60 anos de idade no ano de 2020 (BELTRÃO, et
al., 2004, p.71).
A denominada Terceira Idade traz consigo limitações sobre um corpo já muito vivido.
No qual não se tem a mesma vitalidade da jovialidade, diminuição dos movimentos e do
raciocínio. Existindo mais tempo disponível, porém muitos dos idosos não sabem como
aproveitá-lo.
Do ponto de vista físico, o fator mais importante na manutenção da saúde é o
cuidado com a alimentação. Uma alimentação saudável implica em suprir o organismo com
todos os nutrientes de que ele necessita para o seu bom funcionamento e para a
conservação de um peso estável, fatores importantes na prevenção de várias doenças.
Visitas regulares ao médico são fundamentais para prevenir, diagnosticar e tratar
possíveis doenças que possam diminuir a qualidade de vida. Juntamente com a prática
regular de atividades aeróbicas e exercícios contribuindo para a conservação da saúde.
Esta integração é de suma importância para o idoso, uma vez que um de seus
maiores prazeres consiste em relatar fatos acontecidos em sua vida e perceber que as
pessoas que o cercam dão-lhe a atenção devida.
Entre outros inúmeros fatores, os citados acima direcionam para obtenção e/ou
manutenção da qualidade de vida, porém, podemos dizer em linhas gerais que, qualidade
de vida engloba aspectos objetivos e subjetivos.
Neste contexto, encontra-se o nosso objeto de estudo que intentou analisar a
qualidade de vida dos idosos, que encontram-se no Abrigo São Vicente de Paulo em
Campina Grande/Pb.
Tratou-se de uma pesquisa de campo, em que articulamos metodologias qualitativas
e quantitativas. Os sujeitos da pesquisa, foram 25 idosos abrigados, dentre homens e
mulheres, o que corresponde a uma amostra de 33,33%.
Para a interpretação dos dados utilizamos como instrumentos: a análise de conteúdo
e de conjuntura.
2 O FENÔMENO DO ENVELHECIMENTO
A percepção do fato de que os organismos vivos envelhecem não gera
controvérsias, pois a partir da simples observação da realidade, é possível perceber esse
fenômeno, porém, vários pontos de controvérsia surgem no momento de estabelecer
indicadores para as variáveis envolvidas no processo. Assim, estabelece-se a dificuldade de
construir conceitos fundamentais que possam ser articulados em construções lógicas
explicativas do envelhecimento.
No entanto, pode-se considerar o envelhecimento, como admite a maioria dos
biogerontologistas, como a fase de um continuum que é a vida, começando esta com a
concepção e terminando com a morte.
O envelhecimento é conceituado como um processo dinâmico e progressivo, no qual
há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam a
perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior
vulnerabilidade. Este conceito pode ser complementado com o elaborado por Comfort
(1979), segundo o qual o envelhecimento se caracteriza por redução da capacidade de
adaptação homeostática, perante situações de sobrecarga funcional do organismo.
As manifestações somáticas da velhice pode ser caracterizada por redução da
capacidade funcional e do trabalho, assim como da resistência, entre outras, associam-se
perdas dos papéis sociais, solidão e perdas psicológicas, motoras e afetivas.
A aproximação da velhice não reduz drasticamente qualquer faculdade do indivíduo
ao ponto de impedí-lo de continuar ativo e útil ao grupo social a que pertence. O
comportamento do ser humano independente da idade, não pode ser padronizado ou
generalizado.
A velhice trata-se de uma fase esperada na vida das pessoas, mas quando esta
chega, o idoso acaba sofrendo significativas perdas, seu papel na sociedade sofre
modificações, além da perda de amigos e familiares, a substituição de suas ocupações
profissionais e o aparecimento de doenças crônicas (PASCHOAL, 2000).
Existem cada vez mais evidências cientificas apontando o efeito benéfico de um
modo de vida ativa na manutenção da capacidade funcional e da autonomia física durante o
processo de envelhecimento. Além dos benefícios da atividade aeróbica, existem também
importantes benefícios do treinamento de força muscular no adulto e na terceira idade, quais
sejam: melhora da velocidade de andar, melhora do equilíbrio, aumento do nível de
atividade física espontânea, melhora da auto-eficácia, contribuição na manutenção e/ou
aumento da densidade óssea, ajuda no controle da diabete, artrite e doenças cardíacas,
além da melhora na ingestão alimentar.
Acreditamos que ao se discutir a etapa do envelhecimento humano, é preciso
considerar tanto os critérios cronológicos, como os eventos biológicos que ocorrem ao longo
desse período. A idade em si não representa o estado do envelhecimento de uma pessoa,
mas a combinação de vários fatores associados, embora seja difícil tal avaliação. Nesse
sentido, percebemos que o envelhecimento, como muitas outras situações de vida, se
apresenta diferente para cada ser humano (HAYFLICK, 1996, p. 166 -169).
3 QUALIDADE DE VIDA
O termo qualidade explica por que boa qualidade tem significados diferentes, para
diferentes pessoas, em lugares e ocasiões diferentes. É por isso que há inúmeros conceitos
de qualidade de vida. Assim, qualidade de vida é um conceito que está submetido a
múltiplos pontos de vista e que tem variado de época para época, de país para país, de
cultura para cultura, de classe social para classe social e, até mesmo de indivíduo para
indivíduo.
Portanto, o conceito de qualidade de vida varia de autor para autor, sendo um
conceito subjetivo dependente do nível sociocultural, da faixa etária e da forma de pensar de
cada indivíduo.
Qualidade de vida está relacionado à auto-estima e ao bem-estar pessoal e abrange
uma série de aspectos como a capacidade funcional, o nível socioeconômico, o estado
emocional, a interação social, a atividade intelectual, o autocuidado, o suporte familiar, o
próprio estado de saúde, os valores culturais, éticos e a religiosidade (SANTOS et al., 2002,
p. 757-64 ).
O termo qualidade de vida tem significados divergente, para diferentes pessoas, em
lugares e ocasiões diversas, gerando deste modo inúmeras conceituações do termo, pois
este conceito está submetido a múltiplos pontos de vista variáveis de acordo com a cultura,
classe social, temporalidade, estado emocional e características individuais (GUYATT et al.,
1993, p. 622-9 ).
3.1 Qualidade de Vida na Velhice
O estudo e a avaliação da qualidade de vida se revela como sendo importantes para
a população idosa, pois o envelhecimento é uma experiência heterogênea, vez que cada
indivíduo pautará sua vida de acordo com padrões, normas, expectativas, desejos, valores e
princípios diferentes.
Lawton (1983) construiu um modelo de qualidade de vida na velhice em que a
multiplicidade de aspectos e influências inerentes ao fenômeno é representada em quatro
dimensões inter-relacionadas, quais sejam: a primeira, refere-se as condições ambientais,
ou seja, diz respeito ao contexto físico, ecológico. A segunda, a competência
comportamental, o que depende do comportamento de cada indivíduo, de seu potencial,
suas experiências, condições de vida e dos valores. A terceira, qualidade de vida percebida,
reflete a avaliação da própria vida, influenciada pelos valores que o indivíduo foi agregando
e pelas expectativas pessoais e sociais e por fim, a quarta, relacionada ao bem-estar
subjetivo, significa satisfação com apropria vida, satisfação global e satisfação específica em
relação a determinados aspectos da vida.
4 RESULTADOS
O abrigo São Vicente de Paulo - lócus da pesquisa - foi fundado no ano de 1979,
pelas filhas da caridade São Vicente de Paulo, com o objetivo de abrigar os idosos carentes.
Atualmente vivem na instituição 75 idosos entre homens e mulheres.
Esta instituição é caracterizada como não-governamental, funcionando com recursos
advindos da sociedade civil.
No que se refere ao estado civil dos entrevistados, constatamos que 30% são
casados, 30% são viúvos, 20% são divorciados e 20% nunca casaram. Foi observado que a
maioria, não possui memória ativa e baixo nível de escolaridade. Foi verificado também que
50% dos entrevistados acreditam ter uma boa saúde, o que para muitos justifica possuir
qualidade de vida, outros 50% se queixam de dores de cabeça e uma certa dificuldade de
se locomover, tornando-se dependentes dos remédios, inclusive para conseguir dormir, visto
que nesta idade o sono se torna mais um problema, conforme depoimento de uma idosa
entrevistada.
Quanto a concepção dos idosos entrevistados acerca da qualidade de vida,
verificamos, surpreendentemente - antes da pesquisa, tínhamos como hipótese, que
aqueles que residiam no abrigo eram indivíduos mal cuidados, tristes, depressivos, mal
humorados e que não gostavam do abrigo, estando insatisfeitos – que 80% avaliaram que
estão satisfeitos com o modo como vivem no abrigo e que possuem qualidade de vida,
mesmo diante de limitações e dificuldades, enquanto outros 20% revelaram não terem
qualidade de vida, o que foi atribuído a aspectos subjetivos, como: ansiedade, depressão,
mau humor.
De acordo com as observações, os idosos são atendidos de acordo com as suas
necessidades individuais, como: alimentação, saúde, lazer, etc. Também verificamos uma
grande importância para o desenvolvimento das atividades em grupo.
Os grupos de convivências estimulam a independência individual e a
autodeterminação de superar desafios, cada integrante funciona como apoio para os
demais membros, estimulando-os a adquirir maior autonomia, melhorando a sua
auto-estima, qualidade de vida, senso de humor e promovendo inclusão social
(CHACRA, 2002).
Nos grupos também são relatados as experiências vivenciadas pelos idosos
participantes, o que possibilita a socialização entre os mesmos, pois, como sabemos, nesta
fase da vida muitos se sentem excluídos perante a sociedade e a convivência com seus
familiares é reduzida.
A participação dos idosos em grupos de socialização desvincula o idoso a uma
possível ociosidade, deste modo permite um envelhecimento mais saudável, pois
promove ao idoso uma ocupação de forma lúdica e prazerosa (FERRAZ e
PEIXOTO, 1997, p. 316).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no que foi abordado neste trabalho é notório que conceituar e avaliar
qualidade de vida não é uma tarefa das mais fáceis, dada a complexidade das variáveis
envolvidas, principalmente quando envolve a população idosa, pois a qualidade de vida em
idosos e sua avaliação sofrem os efeitos de numerosos fatores, sendo uma questão não
apenas metodológica, mas também ética, tendo em vista que o padrão de qualidade de vida
é um fenômeno altamente pessoal.
Tal compreensão é afirmada quando a maioria dos idosos revelaram terem qualidade
de vida no abrigo São Vicente de Paulo, demonstrando que cada um tem um conceito
acerca do que consideram qualidade de vida.
Porém, devemos ter clareza que envelhecer em um país com tantos problemas
sociais, econômicos e estruturais, constitui-se um grande desafio. Apesar de todo aparato
legalmente instituído a esse segmento populacional, especialmente com o Estatuto do
Idoso, ainda há muito a fazer, principalmente na implantação e implementação de novas
políticas sociais direcionadas para melhorar a qualidade de vida dos “nossos idosos”.
REFERÊNCIAS
BELTRÃO, K. I.; CAMARANO, A. A.; KANSO, S. Dinâmica populacional brasileira na
virada do século XX. Rio de Janeiro: Ipea, 2004. p. 71.
COMFORT, A. The biology of senescence, 3 ed. Edinburgh: Church Livingstone, 1979.
CHACRA, F. C. Empatia e comunicação na relação médico-paciente: uma semiologia
autopoiética do vínculo. 2002. Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciência Médicas,
UNICAMP, Campinas.
FERRAZ, A. F.; PEIXOTO, M. R. B. Qualidade de vida na velhice: estudo de uma
instituição pública de recreação para idosos. Revista da Escola de Enfermagem USP. v. 31,
n. 2, p. 316-338. 1997.
GUYATT, G. H.; FEENY, D. H.; PATRICK, D. L. Measuring health-related quality of life.
Ann Intern Med. v. 118, n. 8, 622-9. 1993.
HAYFLICK L. Como e por que envelhecemos. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1996. p.
166 - 169.
LAWTON, M.P. Environment and other determinants of well-being in older people.
Berontologist., 1983. p. 349-357.
MINAYO, M. C. S.; DESLANDE, S. F.; CRUZ NETO, O.; GOMES, R. Pesquisa social:
teoria, método e criatividade. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo
- Rio de Janeiro: Hucitec-Abrasco, 1999.
MOREIRA, M. M. S. Trabalho, qualidade de vida e envelhecimento. 2000. Dissertação
(Mestrado) - Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro.
PASCHOAL, S. M. P. Epidemiologia do envelhecimento. In: PAPALÉO NETTO, M.
Gerontologia: a velhice e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo: Atheneu,
1996. p. 26-43.
PASCHOAL, S. M. P. Qualidade de vida do idoso: elaboração de um instrumento que
privilegia sua opinião. 2000. Dissertação (Mestrado em Medicina) - Faculdade de Medicina,
Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo.
PINHEIRO, A. R. O.; RECINE, E.; CARVALHO, M. F. O que é uma alimentação saudável?
Considerações sobre o conceito, princípios e características: uma abordagem
ampliada. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.
SANTOS, S. R.; SANTOS, I. B. C.; FERNANDES, M. G. M.; HENRIQUES, M. E. R. M.
Elderly quality of life in the community: application of the Flanagan’s Scale. Revista
Latino Americana de Enfermagem. v. 10, n. 6, p. 757-64. 2002.
SILVA, Y. F. Cuidando de si ou violência corporal? A produção da velhice na mídia.
1999. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
Download

a realidade dos idosos do abrigo São Vicente de Paulo em