UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIMICROBIANA DE SOLUÇÕES IRRIGADORAS UTILIZADAS NO PREPARO BIOMECÂNICO DE CANAIS RADICULARES COM O SISTEMA ROTATÓRIO PROTAPER UNIVERSAL ANDRÉA CRUZ CÂMARA Recife 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIMICROBIANA DE SOLUÇÕES IRRIGADORAS UTILIZADAS NO PREPARO BIOMECÂNICO DE CANAIS RADICULARES COM O SISTEMA ROTATÓRIO PROTAPER UNIVERSAL Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutor em Ciências Farmacêuticas na Área de Concentração: Produção e Controle de Qualidade de Medicamentos. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Miracy Muniz de Albuquerque Co-orientador: Prof. Dr. Carlos Menezes Aguiar ANDRÉA CRUZ CÂMARA Recife 2010 Câmara, Andréa Cruz Avaliação da ação antimicrobiana de soluções irrigadoras utilizadas no preparo biomecânico de canais radiculares com o sistema rotatório ProTaper UniversalTM / Andréa Cruz Câmara. – Recife : O Autor, 2010. 169 folhas; il., fig., tab. Tese (doutorado) – Universidade Federal Pernambuco. CCS. Ciências Farmacêuticas, 2010. de Inclui bibliografia e anexos. 1.ProTaper. 2. Atividade antimicrobiana. 3. Soluções irrigadoras. 4. Canal radicular. I. Título. 616-078 616.01 CDU (2.ed.) CDD (20.ed.) UFPE CCS2010-094 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO REITOR Prof. Dr. Amaro Henrique Pessoa Lins VICE-REITOR Prof. Dr. Gilson Edmar Gonçalves e Silva PRÓ-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO Prof. Dr. Anísio Brasileiro de Freitas Dourado DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Prof. Dr. José Thadeu Pinheiro VICE-DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Prof. Dr. Márcio Antônio de Andrade Coelho Gueiros CHEFE DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Prof. Dr. Dalci José Brondani VICE-CHEFE DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Prof. Dr. Antônio Rodolfo de Faria COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Prof. Dr. Pedro José Rolim Neto VICE-COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Prof.ª Dr.ª Beate Seagesser Santos DEDICATÓRIA Dedico este trabalho com todo o amor do mundo à minha mãe, ao meu pai, às minhas irmãs e a Anjinho. AGRADECIMENTOS AGRADECIMENTOS Fruto de muito estudo, dedicação e entrega, esta Tese contou com o apoio e a colaboração de muitas pessoas, as quais dedico os meus agradecimentos especiais: Acima de tudo, agradeço a DEUS pela dádiva da vida e por, em muitos momentos aflitivos, proporcionar-me a paz e a serenidade necessárias para que mais um sonho se concretize, como este que agora se torna realidade, e à NOSSA SENHORA, minha mãe, por me ouvir, falar ao meu coração e ser minha intercessora junto ao Pai. Ao meu Pai e minha Mãe, que são a minha rocha, por serem um exemplo de vida, de família, dedicação e pelo amor incondicional e apoio sempre demonstrados. Agradeço pela devoção dedicada à minha criação, pela confiança e pelo investimento que fizeram em mim. Às minhas irmãs Cristiane e Michelle, por serem muito mais do que pedi a Deus, pelo companheirismo, incentivo, ajuda, compreensão e por terem tornado mais doces os inúmeros momentos dedicados a este trabalho. À minha Família, pela inigualável convivência. À minha orientadora, Professora Dr.ª Miracy Muniz de Albuquerque, a quem tive a honra de conhecer e de agora fazer parte da minha vida pessoal e profissional. Uma pessoa fantástica, inteligente, engraçada, humana, justa, determinada e que trabalha muito por aquilo que acredita. Obrigada pela confiança depositada desde o início em mim e por polir este trabalho até que ele brilhasse. Ao meu co-orientador, Professor Dr. Carlos Menezes Aguiar, que tem uma grande participação no meu desenvolvimento acadêmico e profissional, a quem admiro não só pela inteligência e intelectualidade, mas especialmente pela paixão, entusiasmo e dedicação à vida acadêmica. Agradeço não só pelo seu papel fundamental desempenhado para a realização deste trabalho, mas por continuar a orientar a minha carreira com dedicação, admiração e refinamento. Ser professor é ser condutor de almas e de sonhos, é lapidar diamantes. À Ana Cristina Regis de Barros Correia, uma amiga que sempre terei para o resto de minha vida, que nunca quis nada em troca e a quem, por vários motivos, serei eternamente grata, principalmente pela sua fé inabalável em mim e pela paciência em me ensinar, quando eu não sabia de absolutamente nada. Muito obrigada pela convivência, pelos vários momentos de discussões e debates que proporcionaram crescimento profissional e humano, pelo apoio e dedicação ao longo desta pesquisa. Ao Professor Dr. Amaro Henrique Pessoa Lins, Magnífico Reitor da Universidade Federal de Pernambuco. Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco pela oportunidade de realização desta etapa da minha formação acadêmica. Ao Professor Dr. Pedro José Rolim Neto, Coordenador do Programa de PósGraduação em Ciências Farmacêuticas. Ao Núcleo de Controle e Qualidade de Medicamentos e Correlatos, pela oportunidade de realizar este trabalho e a todos os seus integrantes, especialmente à Aurenice, Rosana e Camila pela aprendizagem diária regada a muitas risadas. A todos os Professores da Pós-Graduação, pelos ensinamentos transmitidos, confiança e apoio durante o Curso. Aos Colegas de Curso, pela amizade, partilha e carinho. Aos Funcionários da Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pela ajuda financeira para a realização desta pesquisa. Aos amigos que colecionei durante toda a vida, obrigada por fazerem parte da minha história. Àqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. A mente que se abre à uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original. (Albert Einstein) NORMATIZAÇÃO NORMATIZAÇÃO Este trabalho foi elaborado de acordo com as seguintes Normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): NBR 14724 de agosto de 2002: Informação e documentação Trabalhos acadêmicos - Apresentação. NBR 6023 de agosto de 2002: Informação e documentação – Referências - Elaboração. NBR 10520 de agosto de 2002: Informação e documentação – Citações em documentos - Apresentação. NBR 6028 de agosto de 2002: Informação e documentação – Elaboração de resumo. RESUMO RESUMO Os micro-organismos e as suas associações com os processos infecciosos que acometem a polpa e o periápice estão muito bem documentados na literatura endodôntica. Esta microflora bacteriana deverá ser neutralizada através do preparo biomecânico pela ação dos instrumentos endodônticos e das soluções irrigadoras, às quais devem apresentar propriedades físico-químicas e antimicrobianas. Dentre as diversas soluções irrigadoras preconizadas, destaca-se o hipoclorito de sódio, que graças à sua atividade antimicrobiana e biocompatibilidade, é a solução auxiliar de eleição para o preparo biomecânico do sistema de canais radiculares. Por outro lado, a clorexidina é utilizada como solução irrigadora apenas quando o único requisito é a atividade antimicrobiana, visto que ela não possui capacidade para dissolver o tecido pulpar. Com o objetivo de diminuir o risco de acidentes operatórios, reduzir o tempo de trabalho e a fadiga do operador e do paciente, instrumentos rotatórios em níquel-titânio foram introduzidos como uma alternativa ao preparo biomecânico, até então realizado com instrumentos manuais. Como a instrumentação rotatória é mais rápida, as soluções irrigadoras permanecem menos tempo no interior dos canais radiculares e podem não desempenhar suas atividades antimicrobianas, principalmente as de baixas concentrações. Esta pesquisa se propôs a avaliar a efetividade antimicrobiana das soluções irrigadoras à base de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5% e de clorexidina a 0,2%, 1% e 2% contra os micro-organismos Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis, Staphylococcus aureus e Candida albicans durante o preparo biomecânico de canais radiculares com o sistema rotatório ProTaper Universal. Diante dos resultados obtidos, pôde-se concluir que, o hipoclorito de sódio, a partir da concentração de 0,5%, em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi efetivo em eliminar todos os micro-organismos. Por outro lado, a clorexidina a 0,2% foi ineficaz contra todos os micro-organismos avaliados, todavia, a clorexidina a 1% foi efetiva em eliminar P. aeruginosa e C. albicans, mas foi ineficaz em eliminar S. aureus e E. faecalis. A solução de clorexidina a 2% demonstrou-se eficaz frente aos microorganismos S. aureus, P. aeruginosa e C. albicans, contudo, não demonstrou capacidade para inativar o E. faecalis. Palavras-chave: Clorexidina, hipoclorito de sódio, ProTaper Universal, soluções irrigadoras. ABSTRACT ABSTRACT Microorganisms and their association with the infectious processes that affect the pulp and periapex are well documented in the endodontic literature. This microflora is eliminated during biomechanical preparation by the mechanical action of the endodontic instruments, physical-chemical and antimicrobial properties of the root canal irrigants. Among the several irrigating solutions advocated, sodium hypochlorite solutions are recommended as main irrigants because of their broad antimicrobial spectrum and biocompatibility. Chlorhexidine is only used when the only requirement is the antimicrobial activity, as this solution does not present ability to dissolve the pulp tissue. The use of rotary nickel-titanium files for root canal preparation helped to significantly reduce the time required to instrument canals with minimal deviation from the original canal path compared with hand instrumentation. Because chemomechanical preparation is a short-time procedure, it would appear that the antibacterial effectiveness of the irrigant inside the root canal might be highly dependent on its concentration. With the reduced working time made possible by the advent of rotary techniques for root canal preparation in comparison to hand instrumentation, the irrigant solution should be one that exerts its antimicrobial activity quickly against the microorganisms found in the root canal and dentinal tubules. The purpose of this study was to evaluate the antimicrobial activity of 0.5%, 1% and 2.5% sodium hypochlorite and 0.2%, 1% and 2% chlorhexidine against Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis, Staphylococcus aureus e Candida albicans in root canals instrumented with the ProTaper Universal system. It may be concluded that sodium hypochlorite, from concentrations of 0.5%, in combination with the rotary instrumentation with the ProTaper Universal system was effective in eliminating all microorganisms. The 0.2% Chlorhexidine solution was ineffective against all test microorganisms. The 1% Chlorhexidine solution was effective in eliminating P. aeruginosa and C. albicans, but was ineffective against S. aureus and E. faecalis. The 2% Chlorhexidine solution was effective in eliminating S. aureus, P. aeruginosa and C. albicans, but was not sufficient to inactivate E. faecalis. Keywords: Chlorhexidine, sodium hypochlorite, ProTaper Universal, irrigants. LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE ILUSTRAÇÕES Revisão da Literatura Figura 1: Canais radiculares e sua complexa anatomia. 31 Figura 2: Sistema rotatório ProTaper Universal. 33 Figura 3: Processo de dissolução tecidual do hipoclorito de sódio. 40 Figura 4: Molécula da clorexidina. 44 Artigo 2 Figura 1: (A) Sistema experimental. (B) Sistema experimental preenchido 77 com BHI. (C) Turbidez do meio indicando crescimento microbiano. Figura 2: Controle positivo mostrando: (A) crescimento da P. aeruginosa. (B) 80 crescimento do S. aureus. Figura 3: Ação antimicrobiana do hipoclorito de sódio a 1%: (A) Cetrimida. 82 (B) Vogel Johnson. (C) Ágar Seletivo para Candida de acordo com Nickerson. (D) Ágar Saboraud. (E) Ágar Sangue. (F) Ágar Chromocult para Enterococcus. Artigo 3 Figura 1: (A) Sistema experimental. (B) Turbidez do meio indicando 98 crescimento bacteriano. Figura 2: Controle positivo mostrando: (A) crescimento do S. aureus. (B) 102 crescimento da P. aeruginosa. Controle negativo mostrando: (C) ausência de crescimento microbiano. Figura 3: Ação antimicrobiana da clorexidina a 1%: (A) Ágar Seletivo para 108 Candida de acordo com Nickerson. (B) Ágar Sangue. (C) Vogel Johnson. (D) Ágar Chromocult para Enterococcus. (E) Cetrimida. (F) Ágar Saboraud. Artigo 4 Figura 1: Ausência de crescimento microbiano após o preparo biomecânico com o sistema ProTaper Universal e irrigação com hipoclorito de sódio a 1%. 129 LISTA DE TABELAS LISTA DE TABELAS Revisão da Literatura Tabela 1: Gêneros de patógenos endodônticos comumente associados com 35 os diferentes tipos de infecção. Artigo 2 Tabela 1: Crescimento microbiano nos controles positivo e negativo. 80 Tabela 2: Eficácia antimicrobiana das soluções de hipoclorito de sódio a 81 0,5%, 1% e 2,5% em canais radiculares infectados com S. aureus, P. aeruginosa, C. albicans e E.faecalis. Artigo 3 Tabela 1: Crescimento microbiano nos controles positivo e negativo. 103 Tabela 2: Atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em 104 canais radiculares infectados por S. aureus. Tabela 3: Atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em 105 canais radiculares infectados por P. aeruginosa. Tabela 4: Atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em 106 canais radiculares infectados por C. albicans. Tabela 5: Atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em 107 canais radiculares infectados por E. faecalis. Artigo 4 Tabela 1: Eficácia antimicrobiana das soluções de hipoclorito de sódio a 130 0,5%, 1% e 2,5% em combinação com a instrumentação rotatória com o ProTaper Universal. Tabela 2: Eficácia antimicrobiana das soluções de clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em combinação com a instrumentação rotatória com o ProTaper Universal. 131 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ANALI: Laboratórios Analíticos ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária ATCC: American Type Culture Collection- coleção americana de micro-organismos ATP: Adenosina Trifosfato BHI: Brain Heart Infusion- infusão cérebro coração CRT: comprimento real de trabalho D1: desobturation file 1 – lima de desobturação 1 D2: desobturation file 2 – lima de desobturação 2 D3: desobturation file 3 – lima de desobturação 3 EDTA: ácido etilenodiaminotetracético EUA: Estados Unidos da América F1: finishing file 1 – lima de acabamento 1 F2: finishing file 2 – lima de acabamento 2 F3: finishing file 3 – lima de acabamento 3 G: gauge g: grama h: hora H2O: água H2O2: peróxido de hidrogênio HOCl: ácido hipocloroso min: minuto mL: mililitro L: microlitro mm: milímetro NaCl: cloreto de sódio NaOCl: hipoclorito de sódio NaOH: hidróxido de sódio NiTi: níquel-titânio pH: potencial hidrogeniônico rpm: rotações por minuto s: segundos SISNEP: Sistema Nacional de Informação sobre Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos SPSS: statistical package for the social sciences- pacote estatístico para as ciências sociais SX: shaping file X – lima de modelagem X S1: shaping file 1 – lima de modelagem 1 S2: shaping file 2 – lima de modelagem 2 TM: trade mark– marca comercial UFC: unidades formadoras de colônias %: porcentagem ºC: graus Celsius SUMÁRIO SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 27 2 REVISÃO DA LITERATURA 30 2.1 PREPARO BIOMECÂNICO DO SISTEMA DE CANAIS 31 RADICULARES 2.1.1 Instrumentação rotatória 32 2.2 MICRO-ORGANISMOS 34 2.2.1 Papel dos micro-organismos nas infecções endodônticas 34 2.2.2 Influência fúngica nas infecções endodônticas 36 2.3 SOLUÇÕES IRRIGADORAS UTILIZADAS PARA O PREPARO 37 BIOMECÂNICO DO SISTEMA DE CANAIS RADICULARES 2.3.1 Importância 37 2.3.2 Classificação 38 2.4 COMPOSTOS HALOGENADOS 38 2.4.1 Hipoclorito de Sódio 38 2.4.1.1 Classificação 39 2.4.1.2 Mecanismo de ação 39 2.4.1.3 Propriedades 41 2.4.1.4 Armazenamento 42 2.4.1.5 Efeitos adversos 42 2.4.1.6 Indicações 43 2.4.2 43 Clorexidina 2.4.2.1 Composição 44 2.4.2.2 Mecanismo de ação 44 3.4.2.3 Efeitos adversos 45 3 OBJETIVOS 46 3.1 OBJETIVO GERAL 47 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 47 4 PREÂMBULO 48 5 ARTIGO 1: Soluções irrigadoras utilizadas para o preparo 50 biomecânico de canais radiculares 6 ARTIGO 2: Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana das 68 soluções de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal 7 ARTIGO 3: Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana das 90 soluções à base de clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal 8 ARTIGO 4: Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana das 118 soluções irrigadoras em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal 9 CONCLUSÕES 138 REFERÊNCIAS 140 ANEXOS 151 INTRODUÇÃO 1 INTRODUÇÃO A Endodontia é o ramo da Odontologia responsável pela prevenção, diagnóstico e tratamento das patologias que envolvem a polpa e a região periapical (AMERICAN ASSOCIATION OF ENDODONTICS, 1998). Os micro-organismos desempenham um importante papel na etiologia e manutenção das infecções pulpares e periapicais. Atualmente, sabe-se que mais de 700 espécies de bactérias habitam a cavidade bucal, contudo, o número de espécies bacterianas presentes nos canais radiculares variam de 1 a 12, com predomínio de anaeróbios estritos e gram negativos (ZEHNDER; GUGGENHEIM, 2009). O tratamento endodôntico do sistema de canais radiculares é composto por etapas interdependentes e de igual importância, que englobam as seguintes fases: abertura coronária, preparo biomecânico e obturação. O preparo biomecânico tem como objetivos promover a limpeza e a modelagem do sistema de canais radiculares. A limpeza ocorre por meio da ação mecânica dos instrumentos endodônticos e das propriedades físico-químicas e antimicrobianas das soluções irrigadoras (SIQUEIRA JÚNIOR; RÔÇAS, 2008). A utilização de soluções irrigadoras durante a fase do preparo biomecânico é de vital importância para a limpeza e eliminação de micro-organismos presentes no interior do sistema de canais radiculares. Como o acesso aos mesmos é limitado, patógenos podem ficar confinados nos túbulos dentinários, nas ramificações ou outras áreas inacessíveis, podendo colonizar, proliferar e reinfectar o sistema de canais radiculares (SASSONE et al., 2008). Deste modo, a solução irrigadora ideal deve apresentar como requisitos básicos uma potente ação antimicrobiana, ter capacidade de dissolver material orgânico, ser lubrificante, apresentar baixa tensão superficial e não apresentar efeitos citotóxicos para os tecidos perirradiculares (RETAMOZO et al., 2010). O hipoclorito de sódio é um composto halogenado utilizado como solução irrigadora desde a sua introdução na Endodontia por Walker em 1936. Apresenta-se como um efetivo agente antimicrobiano, solvente de matéria orgânica, desodorizante, possui baixa tensão superficial e sua efetividade torna-se maior quando se aumenta a sua concentração, porém, quanto mais elevada, maior o efeito tóxico para os tecidos periapicais (PELKA; PETSCHELT, 2008). A clorexidina é, também, um composto halogenado que apresenta propriedades antimicrobianas de amplo espectro, substantividade e baixa toxicidade (ARIAS-MOLIZ et al., 2010), porém não possui a propriedade de dissolver matéria orgânica (LEE et al., 2009). Com o objetivo de simplificar e tornar o preparo biomecânico mais eficiente e seguro, diversas técnicas de instrumentação e modificações no desenho dos instrumentos endodônticos têm sido propostas. Entre elas, destacam-se os instrumentos rotatórios confeccionados em níquel-titânio (NiTi) e movidos a motor elétrico, os quais vêm sendo alvo de diversas pesquisas, principalmente no que concerne à diminuição dos riscos de acidentes operatórios, redução do tempo de trabalho e da fadiga do operador quando comparados com a instrumentação manual (CÂMARA; AGUIAR; FIGUEIREDO, 2007). Desde o início do uso destes instrumentos, inúmeros sistemas rotatórios de NiTi têm sido utilizados no arsenal endodôntico, diferindo-os no design das lâminas cortantes e na conicidade. Dentre estes instrumentos, destaca-se o sistema ProTaper Universal (AGUIAR; CÂMARA, 2008). O sistema rotatório ProTaper Universal é a nova versão do sistema rotatório ProTaper. É constituído pelos instrumentos modeladores, de acabamento e de retratamento. É um sistema rotatório classificado como de multiconicidade, pois a conicidade varia ao longo da parte ativa dos instrumentos. O ProTaper Universal apresenta maior flexibilidade na extremidade e maior resistência na base, bordas cortantes com aumento do ângulo helicoidal o que lhe confere um maior poder de corte. A geometria da sua secção transversal permite e facilita a evacuação dos debris resultantes da ação do instrumento sobre as paredes do canal radicular, além do eletropolimento das limas, proporcionando reduzidas imperfeições na sua superfície (Kim et al., 2008). Como a instrumentação rotatória é mais rápida que a manual, as soluções irrigadoras permanecem por menor tempo no interior dos canais radiculares, podendo não desempenhar suas atividades antimicrobianas, principalmente em baixas concentrações. Em vista do exposto, a presente pesquisa se propôs a avaliar a efetividade antimicrobiana das soluções irrigadoras à base de hipoclorito de sódio e de clorexidina, em diferentes concentrações, durante o preparo biomecânico de canais radiculares realizados com o sistema rotatório ProTaper Universal. REVISÃO DA LITERATURA 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 PREPARO BIOMECÂNICO DO SISTEMA DE CANAIS RADICULARES A terapia endodôntica tem por finalidade solucionar os problemas advindos de agressões que, dependendo da intensidade e da frequência, poderão ocasionar alterações que se manifestarão no órgão pulpar e/ou nos tecidos periapicais adjacentes (MACHADO, 2007). Um dos objetivos do tratamento endodôntico é a limpeza, a modelagem e a desinfecção do sistema de canais radiculares. Tendo como preceito básico, um preparo cônico-afunilado decrescente no sentido cérvico-apical, preservando-se a anatomia original do canal radicular (SCHILDER, 1974). A anatomia interna do sistema de canais radiculares é complexa, não apresentando apenas um único canal principal, mas, um sistema de canais radiculares com canais laterais, co-laterais, secundários, acessórios e recorrentes (AGUIAR; MENDES; FERREIRA, 2007) – Figura 1. Figura 1: Canais radiculares e sua complexa anatomia (AGUIAR; MENDES; FERREIRA, 2007). O processo de sanificação do sistema de canais radiculares não deve envolver apenas o canal principal; é imprescindível que englobe os canais laterais, secundários, intercondutos, deltas apicais e toda a gama de ramificações, visto que estes locais são inacessíveis aos instrumentos endodônticos, mesmo os que apresentam grande flexibilidade (CÂMARA; AGUIAR; FIGUEIREDO, 2007). De acordo com Boudaghier e Yared (1995), a ação racional dos instrumentos endodônticos, durante a limpeza e modelagem do canal radicular, é fundamental na obtenção da planificação e da regularização das suas paredes, o que favorece a desinfecção e o posterior selamento. O preparo biomecânico é a parte crítica do tratamento endodôntico pois tem influência direta no sucesso do tratamento propriamente dito (JAVAHERI; JAVAHERI, 2007); objetivando criar espaços para permitir a ação da solução irrigadora, remoção de dentina contaminada e modelar de forma que se permita a obturação dos canais radiculares (CÂMARA; AGUIAR; FIGUEIREDO, 2008). A remoção de bactérias e seus sub-produtos, restos de tecido orgânico e dentina contaminada ocorre através da combinação entre a ação mecânica dos instrumentos endodônticos, ação química das soluções irrigadoras e o processo físico do binômio irrigação-aspiração que, através da energia cinética do jato, da turbulência criada e do refluxo da solução irrigadora, arrasta para fora do sistema de canais radiculares os resíduos oriundos do preparo biomecânico (BARATTO-FILHO et al., 2004). 2.1.1 Instrumentação rotatória Desde a padronização dos instrumentos endodônticos em 1962, sugerida por Ingle e Levine (1958), foram descritas novas técnicas e criados novos instrumentos de aço inoxidável. Recentemente, surgiram os instrumentos fabricados em ligas de NiTi, que podem ser tanto utilizados nas técnicas manuais como acoplados a motores elétricos ou pneumáticos (AGUIAR; CÂMARA, 2005). Várias técnicas de instrumentação e modificações no desenho dos instrumentos endodônticos têm sido propostas. Os instrumentos rotatórios confeccionados em NiTi e movidos a motor elétrico vêm sendo alvo de diversas pesquisas, principalmente no que concerne à qualidade final do preparo biomecânico, assim como, quanto à diminuição dos riscos de acidentes operatórios, redução do tempo de trabalho e da fadiga do operador quando comparados com a instrumentação manual (CÂMARA; AGUIAR; FIGUEIREDO, 2007). Os instrumentos rotatórios de NiTi são fabricados em diversas conicidades que variam de 2% a 19%, partindo-se da ponta em direção ao cabo. Permitem uma conformação cônico-afunilada do canal radicular com grande rapidez e eficiência e determinam ainda uma menor incidência de acidentes, como formação de degraus, perfurações e desvios (AGUIAR; CÂMARA; MORAES, 2006). Desde a introdução destes instrumentos, inúmeros sistemas rotatórios de NiTi têm sido introduzidos no arsenal endodôntico, diferindo no design das lâminas cortantes e na conicidade; o ProTaper Universal é um dos representantes desta nova geração de instrumentos (AGUIAR et al., 2009a). O sistema rotatório ProTaper Universal é a nova versão do sistema rotatório ProTaper. É constituído pelos instrumentos modeladores, de acabamento e de retratamento. Os primeiros são representados pelos instrumentos SX (Shaping file X), com diâmetro na extremidade de 0,19 mm e tem por objetivo o preparo da entrada do canal radicular; S1 (shaping file 1) é um instrumento com diâmetro de ponta de 0,17 mm e é responsável pelo preparo dos terços médio e apical do canal radicular; S2 (shaping file 2) tem o diâmetro de 0,20mm e é destinado ao preparo do terço apical do canal radicular. Por sua vez, os instrumentos destinados ao refinamento do preparo (finishing files F1, F2, F3, F4 e F5) são instrumentos que apresentam diâmetro de 0,20, 0,25, 0,30, 0,40, 0,50 mm, respectivamente (VAUDT et al. 2009) – Figura 2. Figura 2: Sistema rotatório ProTaper Universal. Aguiar et al. (2009b) avaliaram a ocorrência de desvios no terço apical de canais radiculares instrumentados pelo sistema rotatório ProTaper Universal comparado com limas manuais de NiTi e observaram que o sistema rotatório ProTaper Universal apresentou eficácia na manutenção da trajetória original do canal radicular com baixa proporção de desvios. Quanto à capacidade de limpeza do canal radicular, Williamson et al. (2009) compararam o ProTaper Universal com outros instrumentos rotatórios e observaram que todos os sistemas rotatórios avaliados foram efetivos em eliminar as sujidades do canal radicular. 2.2 MICRO-ORGANISMOS 2.2.1 Papel dos micro-organismos nas infecções endodônticas Atualmente, sabe-se que mais de 700 espécies de bactérias têm como habitat natural a cavidade bucal e o número de espécies bacterianas presentes no sistema de canais radiculares pode variar de 1 a 12, sendo uma infecção mista, com predomínio de gram negativos e anaeróbios estritos. O ambiente de anaerobiose é quebrado quando o canal radicular é aberto e instrumentado. Entretanto, após o canal ser selado, a anaerobiose é restabelecida e se não tratada, pode haver a proliferação bacteriana (ZEHNDER; GUGGENHEIM, 2009). Apesar dos fatores químicos e físicos poderem induzir inflamações perirradiculares, os agentes microbianos são essenciais para progressão e perpetuação desses processos patológicos, constituindo a principal fonte de irritação persistente aos tecidos periapicais. A infecção primária ou inicial é àquela causada por micro-organismos que colonizam o tecido pulpar necrosado; a infecção secundária é definida como aquela causada por micro-organismos que não estavam presentes na infecção primária e que penetram no canal durante o tratamento endodôntico (SIQUEIRA JÚNIOR; RÔÇAS, 2008). Embora até o momento não tenha sido possível definir o papel de um microorganismo específico na patogênese das alterações perirradiculares, evidências sugerem que um grupo restrito composto por 15 a 30 espécies bacterianas esteja envolvido nas diferentes formas de patologia perirradicular. Algumas espécies que não são membros da microbiota oral foram ocasionalmente encontradas em infecções endodônticas primárias. Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli, e Staphylococcus aureus podem ser mais comumente detectadas em infecções endodônticas secundárias, sendo introduzidas no canal radicular usualmente durante o tratamento endodôntico, devido à quebra da cadeia asséptica (SIQUEIRA JÚNIOR, 2002) – Tabela 1. Tabela 1: Gêneros de patógenos endodônticos comumente associados com os diferentes tipos de infecção. Infecção Primária Lesão Perirradicular Crônica Treponema Tanerella Prevotella Porphyromonas Fusobacterium Peptostreptococcus Streptococcus Eubacterium Actinomyces Camphylobacter Periodontite Apical Aguda Porphyromonas Treponema Eubacterium Peptostreptococcus Prevotella Infecção Secundária ou Persistente Abscesso Perirradicular Agudo Treponema Tanerella Prevotella Porphyromonas Fusobacterium Peptostreptococcus Streptococcus Enterococcus Actinomyces Propionibacterium Candida Streptococcus Staphylococcus Pseudomonas Fonte: Siqueira Júnior (2002). Sunde et al. (2002) demonstraram uma variedade de micro-organismos especialmente gram-positivos nas lesões periapicais de dentes com periodontite apical refratária. As linhagens anaeróbias constituíram 51% dos casos; 79,5% da flora foram espécies gram-positivas; e os micro-organismos facultativos dos gêneros Staphylococcus, Enterococcus, Pseudomonas, Candida, Enterobacter, Stenotrophomonas, Sphingomonas e Bacillus foram evidenciados em 75% das amostras. A persistência de infecções endodônticas depende da capacidade dos microorganismos em se adaptar às variações ambientais. Um grande número de diferentes mecanismos são utilizados por bactérias como: a formação de biofilmes, modificações fisiológicas, troca de material genético e criação de subpopulações de células (PAZ, 2007). Embora o Enterococcus faecalis esteja presente em pequena quantidade no interior do sistema de canais radiculares, este micro-organismo está relacionado aos casos de insucessos do tratamento endodôntico (SCHIRRMEISTER et al., 2009). O E. faecalis possui a propriedade de sobreviver em ambientes de pH extremamente alcalino, com escassez de nutrientes (PRABHAKAR et al., 2010), de invadir e crescer dentro dos túbulos dentinários, colonizando o canal radicular (LEE et al., 2009) e reinfectando o canal obturado (ZEHNDER; GUGGENHEIM, 2009), além de ter a capacidade de formar biofilmes (WILLIAMSON et al., 2009). 2.2.2 Influência fúngica nas infecções endodônticas Os fungos são micro-organismos eucarióticos e têm um importante papel nas infecções endodônticas e doenças periapicais. São ocasionalmente encontrados na infecção primária dos canais radiculares, porém ocorrem mais frequentemente em dentes obturados com lesões refratárias ao tratamento. A Candida albicans é a espécie fúngica mais prevalente sendo considerada um micro-organismo dentinofílico e tem sido resistente a algumas medicações intracanais como, por exemplo, àquelas à base de hidróxido de cálcio. A habilidade em invadir os túbulos dentinários e a resistência à maioria das medicações intracanais rotineiramente utilizadas, pode elucidar o fato da C. albicans estar associada a lesões endodônticas persistentes (HUTH et al., 2009). Segundo Waltimo et al. (2001), a causa da infecção endodôntica por C. albicans não está ainda totalmente elucidada. Contudo, o uso de medicação intracanal poderia modificar o equilíbrio ecológico, favorecendo a proliferação de fungos e promovendo a imunossupressão de outros micro-organismos; além disso, as raízes infectadas poderiam servir como um reservatório de leveduras, ficando estas inacessíveis às defesas do hospedeiro e aos agentes antifúngicos. Turk et al. (2008) avaliaram o padrão de colonização da C. albicans em dentes onde foi realizado o tratamento endodôntico e em dentes onde o tratamento não foi realizado. A C. albicans estava presente em todos os espécimes, entretanto o padrão de colonização foi distinto. Nos dentes onde a terapêutica endodôntica não foi instituída, foram observadas camadas de células formando biofilmes; já nos dentes em que o tratamento endodôntico foi realizado, as células foram ocasionalmente observadas. 2.3 SOLUÇÕES IRRIGADORAS UTILIZADAS PARA O PREPARO BIOMECÂNICO DO SISTEMA DE CANAIS RADICULARES 2.3.1. Importância As soluções irrigadoras são utilizadas no preparo biomecânico do sistema de canais radiculares com os objetivos de umedecer as paredes dentinárias, facilitar a ação mecânica dos instrumentos endodônticos, remover debris e as raspas de dentina, dissolver e remover matéria orgânica e eliminar os micro-organismos, sem causar danos aos tecidos periapicais. A capacidade de limpeza e a ação bactericida estão na dependência das ações mecânicas e das propriedades químicas das soluções irrigadoras. Dependendo da solução utilizada, a microflora bacteriana presente no interior dos canais radiculares poderá ser reduzida (GOMES et al., 2001). Fazendo uma breve retrospectiva histórica da Endodontia, pode-se observar que nos primórdios, o tratamento endodôntico era eminentemente químico, uma vez que não existiam instrumentos seguros e com bom poder de corte para realizar o esvaziamento do canal radicular. Assim, o esvaziamento era conseguido às expensas de substâncias químicas que dissolviam o conteúdo orgânico do canal radicular sem haver um preocupação com o grau de agressão aos tecidos periapicais. Nesta época, eram utilizados ácidos fortes, como o ácido clorídrico e substâncias tóxicas, como o arsênico, a fim de conseguir a limpeza dos canais radiculares (SOUZA; MACHADO; MASSARO, 2007). Inúmeras substâncias foram preconizadas, desde soluções inertes como a solução salina de cloreto de sódio, a substâncias altamente tóxicas e alergênicas, como o formaldeído (HARRISON, 1984). O trabalho pioneiro sobre o uso de uma substância química utilizada na Endodontia foi realizado por Callahan (1894), o qual utilizou ácido sulfúrico a 40-50% e concluiu que essa substância esterilizava os canais radiculares. Assim, a escolha de uma solução irrigadora não deve ser aleatória e deve estar relacionada com o caso em questão, para se obter melhor resultado quanto à limpeza e desinfecção. É muito importante que o profissional tenha conhecimento profundo acerca das propriedades químicas das soluções irrigadoras para selecioná- la e utilizá-la da melhor maneira possível, em cada caso em particular (EL KARIM; KENNEDY; HUSSEY, 2007). De acordo com Zehnder (2006), as soluções irrigadoras devem apresentar algumas propriedades como: baixa tensão superficial, viscosidade, ter capacidade de dissolver material orgânico, atividade antimicrobiana, atividade lubrificante, atividade quelante, suspensão de detritos e biocompatibilidade. 2.3.2 Classificação Segundo El Karim, Kennedy e Hussey (2007), as soluções irrigadoras para a instrumentação dos canais radiculares mais comumente empregadas na Endodontia são: Compostos Halogenados Quelantes Detergentes/Tensoativos Ácidos Peróxidos Associações ou misturas Outras Soluções 2.4 COMPOSTOS HALOGENADOS 2.4.1 Hipoclorito de Sódio Os hipocloritos são compostos halogenados e a sua utilização iniciou-se no final do século XVIII, em 1792, quando foi produzido pela primeira vez por Percy, em Javel, cidade próxima à Paris e recebeu o nome de Eau de Javel ou água de Javel. (ZEHNDER, 2006). Durante a 1a Guerra Mundial, Henry Drysdale Dakin, químico americano e o cirurgião Alexis Carrel extenderam a utilização do hipoclorito de sódio a 0,5% tamponado com ácido bórico. Dakin, em 1915, observou que ao tratar feridos de guerra com hipoclorito de sódio a 2,5%, obtinha-se desinfecção, porém a cicatrização do ferimento era lenta, devido ao grande teor de hidróxido de sódio (NaOH) presente nas soluções à base de hipoclorito, independente de sua concentração. Com base neste raciocínio, Dakin neutralizou a solução de hipoclorito de sódio a 0,5%, pH 11, com ácido bórico a 0,4%, possibilitando a solução de hipoclorito de sódio próxima ao neutro, conseguindo-se então a desinfecção das feridas sem o efeito indesejável das hidroxilas sobre os tecidos vivos. Inicialmente, o hipoclorito foi utilizado como agente clareador. Subsequentemente, o hipoclorito de sódio foi recomendando por Labarraque em 1920 para prevenir a febre infantil e outras doenças infecciosas. Baseados em estudos laboratoriais de Koch e Pasteur, o hipoclorito de sódio então conseguiu uma grande aceitação e utilização como agente desinfetante no final do século XIX. Sua utilização na Endodontia foi proposta por Walker em 1936 e sua utilização para o preparo biomecânico dos canais radiculares tornou-se difundida graças a Grossman em 1943. 2.4.1.1 Classificação Segundo Lopes, Siqueira Júnior e Elias (2010), o hipoclorito de sódio pode ser encontrado em uma série de produtos contendo concentrações variáveis: Líquido de Dakin: solução de hipoclorito de sódio a 0,5% neutralizada por ácido bórico. Líquido de Dausfrene: solução de hipoclorito de sódio a 0,5% neutralizada por bicarbonato de sódio. Solução de Milton: solução de hipoclorito de sódio a 1% estabilizada por 16% de cloreto de sódio. Licor de Labarraque: solução de hipoclorito de sódio a 2,5%. Água sanitária: soluções de hipoclorito de sódio a 2-2,5%. Soda clorada: solução de hipoclorito de sódio de concentração variável entre 4 e 6%. 2.4.1.2 Mecanismo de ação O hipoclorito de sódio somente existe em solução aquosa, neste estado, ele origina NaOH, uma base forte e HOCl, um ácido fraco (ESTRELA et al.,2002). Assim sendo, em solução aquosa o hipoclorito de sódio exibe um equilíbrio dinâmico de acordo com a reação: NaOCl + Hipoclorito de Sódio H2O Água NaOH + Hidróxido de Sódio HOCl (Reação I) Ácido Hipocloroso As reações químicas entre os componentes do tecido pulpar e as substâncias presentes na solução de hipoclorito de sódio são responsáveis pelo processo de dissolução tecidual e podem ser vistas na Figura 3: Fonte: ESTRELA et al. (2002) Figura 3: Processo de dissolução tecidual do hipoclorito de sódio. Pela análise ou interpretação das reações I a IV pode-se entender as ações do hipoclorito de sódio: O NaOH é um potente solvente orgânico e de gordura formando sabões (saponificação). O HOCl é um potente agente antimicrobiano, devido à liberação do cloro nascente que se combina com o grupo amina das proteínas, formando as cloraminas. O HOCl sofre decomposição pela ação da luz, do ar e do calor liberando cloro livre e oxigênio nascente. Neutraliza produtos tóxicos - atua sobre as proteínas. Bactericida, libera cloro e oxigênio nascente. pH alcalino - Neutraliza a acidez do meio, tornando-o impróprio para o desenvolvimento bacteriano. Desidrata e solubiliza proteínas, transformando-as em materiais facilmente elimináveis. Agente clareador - potente fonte de agente oxidante. Agente desodorizante por atuar sobre produtos em decomposição. 2.4.1.3 Propriedades De todas as substâncias utilizadas para a irrigação do sistema de canais radiculares disponíveis, o hipoclorito de sódio é a solução ideal e mais utilizada mundialmente, devido às suas propriedades, como a potente ação antimicrobiana, sua capacidade em dissolver material orgânico, ser lubrificante, apresenta baixa tensão superficial, baixo custo, bom tempo de meia vida e não apresenta efeitos citotóxicos para os tecidos perirradiculares (ZEHNDER, 2006). Há muita controvérsia a cerca da concentração do hipoclorito de sódio utilizado em Endodontia. A concentração do hipoclorito de sódio varia de 0,5% a 5,5% (BERBER et al., 2006). Altas concentrações, como o hipoclorito de sódio de 2,5% a 5,25%, causam severas irritações aos tecidos periapicais no momento da irrigação dos canais radiculares, além de diminuirem o módulo de elasticidade da dentina (MARENDING et al., 2007) e de reduzirem a capacidade de dissolver o tecido pulpar (AUBUT et al., 2010). Arias-Moliz et al. (2009) avaliaram antimicrobiana do hipoclorito de sódio comparativamente a atividade a 0,1%, da clorexidina a 4%, do ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) a 17%, do ácido cítrico a 25% e do ácido fosfórico a 5% em canais radiculares infectados por Enterococcus faecalis. Os autores observaram que, mesmo em baixa concentração e em apenas 1 min, o hipoclorito de sódio foi a única solução irrigadora que erradicou o biofilme bacteriano presente no interior dos canais radiculares. Paz, Bergenholtz e Svensäter (2010) investigaram os efeitos da irrigação com clorexidina a 2,5%, com EDTA e com o hipoclorito de sódio a 1% sobre o biofilme bacteriano presente no interior dos canais radiculares. Os resultados indicaram que apenas a solução à base de hipoclorito de sódio a 1% foi efetiva na remoção do biofilme bacteriano. 2.4.1.4 Armazenamento A questão da instabilidade química do hipoclorito de sódio é crítica. Uma solução de hipoclorito de sódio apresenta decréscimos significativos de concentração quando armazenada em condições inadequadas ou, quando o recipiente de armazenamento durante o uso, é frequentemente aberto. Por serem instáveis, perdem eficiência com a elevação da temperatura, com exposição à luz e quando armazenadas por longos períodos de tempo. O hipoclorito de sódio deve ser manipulado, armazenado em vidro âmbar, ao abrigo de luz, à temperatura ambiente e tem validade por até 3 meses (SWEETMAN, 2004). Siqueira Júnior (1999) avaliou as concentrações de cloro ativo em amostras de soluções de hipoclorito de sódio utilizadas em consultórios de Endodontistas e concluiu que: nenhuma amostra apresentou a concentração prevista pelo fabricante, as soluções de hipoclorito de sódio são instáveis e a soluções a 0,5% foram as que mais perderam cloro ativo proporcionalmente. 2.4.1.5 Efeitos adversos A ingestão do hipoclorito de sódio pode causar corrosão nas membranas mucosas, perfuração gástrica e esofágica e edema de laringe. A sua inalação pode causar irritação brônquica severa e edema pulmonar (BUDAVARI et al., 1996). O contato prolongado com a pele pode causar irritações (SERPER; ÖZBEK; ÇALT, 2004). O HOCl das soluções de hipoclorito de sódio em contato com o suco gástrico pode causar irritação e corrosão da membrana mucosa seguida de dores e vômitos, queda de pressão, delírio e o coma podem ocorrer (SWEETMAN, 2004). Edema na região mentoniana, submentoniana e orbital direita (GATOT et al., 1991), paralisia da musculatura facial (PELKA; PETSCHELT, 2008), parestesia e necrose tecidual foram relatados (MOTTA et al., 2009). As soluções à base de hipoclorito de sódio devem ser injetadas com parcimonia no canal radicular para que não ocorra extravasamento para o periápice e seio maxilar, principalmente em pré-molares e molares superiores, evitando-se, desta forma, a irritação tecidual (BOWDEN; ETHUNANDAN, 2006). 2.4.1.6 Indicações Os hipocloritos estão indicados em todas as fases do preparo biomecânico de dentes com polpa vital ou necrosada (EL KARIM; KENNEDY; HUSSEY, 2007). 2.4.2 Clorexidina A clorexidina foi desenvolvida nos anos 40 pela Indústria Química Imperial na Inglaterra e introduzida no mercado em 1954 como um anti-séptico para ferimentos da pele. A utilização inicial para a Odontologia foi para desinfecção pré-cirúrgica e Endodontia (ADDY; MORAN, 1997). A clorexidina é um composto halogenado, podendo ser adquirida em fármácias de manipulação solicitando-se a solução aquosa de digluconato de clorexidina nas concentrações de 0,2 a 2,0%, sendo que as soluções mais concentradas possuem ação antibacteriana mais efetiva. Essas soluções são incolores e inodoras, mais estáveis em pH de 5 a 8, tendo a maior eficiência antibacteriana na faixa de pH de 5,5 a 7. O soluto mais comum das soluções de clorexidina é o sal digluconato de clorexidina (ZEHNDER, 2006). Esta substância vem sendo utilizada na Endodontia como solução irrigadora e medicação intracanal devido à sua atividade antibacteriana de amplo espectro (VIANNA; GOMES, 2009), baixa citotoxicidade (WILLIAMSON et al., 2009) e por apresentar substantividade (ARIAS-MOLIZ et al., 2010), isto é, ela se liga à hidroxiapatita do esmalte ou dentina e a grupos aniônicos ácidos de glicoproteínas, sendo lentamente liberada à medida que a sua concentração no meio decresce, permitindo desse modo um tempo de atuação prolongado (LEE et al., 2009). Devido a tais propriedades, o uso da clorexidina durante o preparo biomecânico dos canais radiculares na terapia endodôntica tem sido preconizado (MOHAMMADI; ABBOTT, 2009). A clorexidina pode ser a substância química de eleição quando há relato de alergia ao hipoclorito de sódio por parte do paciente e, possivelmente, no tratamento de dentes com polpa necrosada associada à rizogênese incompleta, onde existe grande risco de extravasamento apical da solução química (SABALA; POWELL, 1989) e em casos de micro-organismos resistentes ao tratamento endodôntico e lesões refratárias (ZEHNDER, 2006). Esta substância pode ser utilizada como solução de escolha para irrigação dos canais radiculares apenas quando o único requisito é a atividade antimicrobiana, pois apesar de ser tão efetiva, sob o espectro de atividade antimicrobiana, quanto o hipoclorito de sódio, não apresenta capacidade para dissolver tecido pulpar (NAENNI, THOMA; ZEHNDER, 2004). 2.4.2.1 Composição A clorexidina é composta estruturalmente por dois anéis clorofenólicos nas extremidades, ligados a um grupamento biguanida de cada lado, conectados por uma cadeia central de hexametileno (Figura 4). Esta bisbiguanida catiônica é uma base forte, sendo praticamente insolúvel em água, daí a sua preparação em forma de sal, o que aumenta a solubilidade da substância. O sal digluconato de clorexidina em solução aquosa é o mais utilizado em Odontologia (ESTRELA et al., 2003). Figura 4: Molécula da clorexidina (ADDY; MORAN, 1997). 2.4.2.2 Mecanismo de ação A clorexidina é uma molécula com carga positiva que se une fortemente à membrana da superfície bacteriana carregada negativamente por ação eletrostática. Isso promove a adsorção da clorexidina na superfície bacteriana. A ação antimicrobiana pode ser bacteriostática ou bactericida. A ação bacteriostática ocorre quando a solução de clorexidina é utilizada em pequenas concentrações, isso resulta em uma maior permeabilidade com vazamento de componentes intracelulares, incluindo potássio, há precipitação de proteínas citoplasmáticas e inibição da síntese de ATP (adenosina trifosfato) das bactérias. A ação bactericida, que ocorre com as soluções mais concentradas, se dá pela ruptura da membrana citoplasmática desses micro-organismos e morte da célula. Geralmente, as soluções de clorexidina utilizadas na Endodontia são bactericidas (HAAPASALO et al., 2007). 3.4.2.3 Efeitos adversos Embora sejam raras, soluções de clorexidina podem causar dermatite de contato, irritação na pele e na conjuntiva ocular, fotosensibilidade, urticária, asma e choque anafilático. A utilização da clorexidina como creme e enxaguatório dental pode causar descoloração na língua, nos dentes e nas restaurações, além de ocorrer excesso de salivação (KRAUTHEIM; JERMANN; BIRCHER, 2004). O contato acidental com o tímpano pode causar ototoxicidade (MOHAMMADI; ABBOTT, 2009). OBJETIVOS 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Avaliar a efetividade antimicrobiana das soluções irrigadoras à base de hipoclorito de sódio e de clorexidina durante o preparo biomecânico de canais radiculares com o sistema rotatório ProTaper Universal. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 3.2.1 Analisar a ação antimicrobiana do hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5% em canais radiculares contaminados com os micro-organismos: Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis, Staphylococcus aureus e Candida albicans. 3.2.2 Determinar a ação antimicrobiana da clorexidina a 0,2%,1% e 2% em canais radiculares contaminados com as bactérias Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis e Staphylococcus aureus e da levedura Candida albicans. 3.2.3 Avaliar comparativamente a eficácia antimicrobiana das soluções de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5% com a clorexidina a 0,2%, 1% e 2%. PREÂMBULO 4 PREÂMBULO Durante o período do Curso de Doutorado em Ciências Farmacêuticas, no que se refere ao trabalho de Tese, concluímos o estudo do qual resultaram na elaboração de quatro artigos científicos, sendo um de Revisão da Literatura, o qual derivou da pesquisa bibliográfica para fundamentação teórica da Tese e três artigos originais, resultados dos trabalhos laboratoriais, os quais foram submetidos para publicação nos seguintes periódicos: Artigo 1: Intitulado “Soluções irrigadoras utilizadas para o preparo biomecânico de canais radiculares”, publicado no periódico Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada. Artigo 2: Intitulado “Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana das soluções de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal”, publicado no periódico Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology and Endodontology. Artigo 3: Intitulado “Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana das soluções à base de clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal”, enviado para publicação no periódico Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology and Endodontology. Artigo 4: Intitulado “Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana de soluções irrigadoras em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal”, enviado para publicação no periódico Journal of Endodontics. ARTIGO 1 5 ARTIGO 1 Soluções irrigadoras utilizadas para o preparo biomecânico de canais radiculares Artigo publicado no periódico: Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada, v. 10, n. 1, p. 127-133, jan./abr. 2010 (ANEXO B). Soluções Irrigadoras Utilizadas para o Preparo Biomecânico de Canais Radiculares Andréa Cruz CÂMARA1, Miracy Muniz de ALBUQUERQUE2, Carlos Menezes AGUIAR3 1. Aluna do Curso de Doutorado em Ciências Farmacêuticas do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco. 2. Professora Doutora Associado do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco. Coordenadora do Núcleo de Controle de Qualidade de Medicamentos e Correlatos da Universidade Federal de Pernambuco. 3. Professor Doutor Associado do Departamento de Prótese e Cirurgia Buco-Facial da Universidade Federal de Pernambuco. Endereço para Correspondência: Andréa Cruz Câmara, Rua Nadir de Medeiros, 51, Piedade, Jaboatão dos Guararapes-PE, CEP: 54410-110. Telefone: (81) 3361 5269. E-mail: [email protected] RESUMO Introdução: Os micro-organismos desempenham um importante papel na etiologia e manutenção das infecções endodônticas. Esta população microbiana deverá ser eliminada durante o preparo biomecânico através da ação mecânica dos instrumentos endodônticos, das propriedades físico-químicas e antimicrobianas das soluções irrigadoras auxiliares e pela ação da medicação intracanal. Objetivo: O presente trabalho se propôs a avaliar, através de uma revisão da literatura, as principais soluções irrigadoras utilizadas na Endodontia para o preparo biomecânico do sistema de canais radiculares, bem como, a utilização de novas soluções irrigadoras. Conclusões: O hipoclorito de sódio continua sendo a solução irrigadora de eleição na Endodontia. O hipoclorito de sódio a 1% com 16% de cloreto de sódio deve ser utilizado durante o preparo biomecânico dos canais radiculares devido à sua atividade antimicrobiana, capacidade solvente de matéria orgânica e baixa citotoxicidade. A clorexidina a 1% e a 2% é utilizada apenas quando o único requisito é a atividade antimicrobiana, em casos de micro-organismos resistentes ao tratamento endodôntico e em lesões refratárias. Uma solução de ácido etilenodiaminotetracético sal dissódico (EDTA) a 17% deverá ser utilizada como coadjuvante do preparo biomecânico de canais radiculares infectados, no tratamento de canais atresiados e calcificados e para remoção do smear layer contaminado. Todas as soluções irrigadoras apresentam limitações. A procura por uma solução irrigadora ideal deverá ser contínua. Isto apenas poderá ser alcançado com o desenvolvimento e pesquisas de novas substâncias. Descritores: Clorexidina, Hipoclorito de sódio, Quelantes, Soluções irrigadoras. INTRODUÇÃO Os micro-organismos desempenham um importante papel na etiologia e na manutenção das infecções pulpares e periapicais. Sabe-se, atualmente, que mais de 300 espécies de bactérias habitam a cavidade oral, contudo, o número de espécies bacterianas presentes nos canais radiculares variam entre 1 a 12, com predomínio de anaeróbios estritos (SUNDQVIST, 1992). A utilização de soluções irrigadoras durante o preparo biomecânico é importante para a limpeza e eliminação de micro-organismos presentes no interior do sistema de canais radiculares. Como o acesso aos mesmos é limitado, patógenos podem ficar confinados nos túbulos dentinários, ramificações e outras áreas inacessíveis, podendo proliferar e reinfectar o sistema de canais radiculares (SASSONE et al., 2003). A solução irrigadora ideal deve exibir potente ação antimicrobiana, ter capacidade de dissolver material orgânico, ser lubrificante, apresentar baixa tensão superficial e não apresentar efeitos citotóxicos para os tecidos perirradiculares (ZEHNDER, 2006). O hipoclorito de sódio é um composto halogenado utilizado como solução irrigadora desde a sua introdução na Endodontia por Walker em 1936. É um efetivo agente antimicrobiano, solvente de matéria orgânica, desodorizante, possui baixa tensão superficial e sua efetividade torna-se maior quando se aumenta a sua concentração, porém, quanto mais elevada, maior o efeito tóxico para os tecidos periapicais (SIQUEIRA JÚNIOR et al., 1997). A clorexidina também é um composto halogenado e possui propriedades antimicrobianas de amplo espectro, substantividade e baixa toxicidade, porém não possui a propriedade de dissolver matéria orgânica (JEANSONNE; WHITE, 1994). Embora o hipoclorito de sódio seja considerado a melhor solução irrigadora, não consegue dissolver partículas inorgânicas e prevenir a formação do smear layer durante a instrumentação dos canais radiculares. Agentes desmineralizantes como o ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) são recomendados como coadjuvantes no tratamento endodôntico do sistema de canais radiculares (LUI; KUAB; CHEN, 2007). Em vista do exposto, o presente trabalho se propôs a avaliar, através de uma revisão da literatura, as soluções irrigadoras utilizadas na Endodontia para o preparo biomecânico do sistema de canais radiculares, bem como, a utilização de novas soluções irrigadoras. REVISÃO DE LITERATURA Fazendo uma breve retrospectiva da história da Endodontia, pode-se observar que nos primórdios, o tratamento endodôntico era eminentemente químico, uma vez que não existiam instrumentos seguros e com bom poder de corte para realizar o esvaziamento do canal radicular. Assim, o esvaziamento era conseguido às expensas de substâncias químicas que dissolviam o conteúdo orgânico do canal radicular sem haver um preocupação com o grau de agressão aos tecidos periapicais. Neste período histórico eram utilizados ácidos fortes, como o ácido clorídrico e substâncias tóxicas como o arsênico a fim de conseguir a limpeza e a desinfecção dos canais radiculares (SOUZA; MACHADO; MASSARO, 2007). Assim, a escolha de uma solução irrigadora não é aleatória. Ela deve estar relacionada com o caso em questão, para se obter melhor resultado quanto à limpeza e desinfecção. É muito importante que o profissional tenha conhecimento das propriedades químicas das soluções irrigantes para selecioná-la e utilizá-la da melhor maneira possível, em cada caso em particular (SOUZA; MACHADO; MASSARO, 2007). As soluções irrigadoras devem apresentar: baixa tensão superficial, viscosidade, ter capacidade de dissolver material orgânico, atividade antimicrobiana, atividade lubrificante, atividade quelante, suspensão de detritos e biocompatibilidade (ZEHNDER, 2006). As soluções comumente empregadas na Endodontia para a instrumentação dos canais radiculares são: os compostos halogenados, detergentes, quelantes, ácidos, peróxidos e associações ou misturas e outras soluções (EL KARIM; KENNEDY; HUSSEY, 2007). HIPOCLORITO DE SÓDIO Os hipocloritos são conhecidos como compostos halogenados e a sua utilização iniciou no final do século XVIII, em 1792, quando foi produzido pela primeira vez por Percy, em Javel, cidade próxima à Paris e recebeu o nome de Eau de Javel ou água de Javel (ZEHNDER, 2006). O hipoclorito de sódio pode ser encontrado em uma série de produtos contendo concentrações variáveis (LOPES; SIQUEIRA JÚNIOR; ELIAS, 2004): Líquido de Dakin: solução de hipoclorito de sódio a 0,5% neutralizada por ácido bórico. Líquido de Dausfrene: solução de hipoclorito de sódio a 0,5% neutralizada por bicarbonato de sódio. Solução de Milton: solução de hipoclorito de sódio a 1% estabilizada por 16% de cloreto de sódio. Licor de Labarraque: solução de hipoclorito de sódio a 2,5%. Soda clorada: solução de hipoclorito de sódio de concentração variável entre 4 e 6%. Água sanitária: soluções de hipoclorito de sódio a 2-2,5%. De todas as substâncias utilizadas para a irrigação dos canais radiculares disponíveis, o hipoclorito de sódio é a solução mais utilizada mundialmente, devido às suas propriedades, como potente ação antimicrobiana, capacidade de dissolver material orgânico, ser lubrificante, apresenta baixa tensão superficial, baixo custo, tem um bom tempo de meia vida e não apresenta efeitos citotóxicos para os tecidos perirradiculares (ZEHNDER, 2006). A dissolução do tecido pulpar pelo hipoclorito de sódio é fundamental, pois o campo operatório na Endodontia é composto por um sistema de canais radiculares, sendo que boa parte desse sistema é inacessível aos instrumentos endodônticos devido à sua complexa anatomia. A dissolução do tecido acaba por ajudar na limpeza endodôntica pela transformação de substâncias insolúveis (tecido pulpar e restos necróticos) em substâncias solúveis como os sabões, cloraminas e sais de aminoácidos passíveis de serem aspirados (ESTRELA et al., 2002). Observa-se na literatura especializada muita controvérsia a cerca da concentração ideal do hipoclorito de sódio utilizado em Endodontia, sua concentração pode variar de 0,5% a 5,5%. Em altas concentrações, como, por exemplo, a 5,25%, causam severas irritações aos tecidos periapicais no momento da irrigação dos canais radiculares, além de diminuir o módulo de elasticidade da dentina (MARENDING et al., 2007). A biocompatibilidade das soluções de hipoclorito de sódio está inversamente relacionada com sua concentração, ou seja, quanto menor a concentração tanto maior a biocompatibilidade do hipoclorito de sódio. Soluções com baixas concentrações, como o hipoclorito de sódio a 1%, apresentam um aceitável comportamento biológico (ESTRELA et al., 2002), além de possuírem atividade antimicrobiana frente a micro-organismos resistentes (KALFAS; FIGDOR; SUNDQVIST, 2001). Baseado em pesquisas (ZEHNDER, 2006; EL KARIM; KENNEDY; HUSSEY, 2007), observa-se que a concentração ideal de uso clínico do hipoclorito de sódio é a de 1%, com pH próximo a 11, pois concentrações superiores não apresentam melhor capacidade bactericida, ao passo que levam a um maior grau de agressão aos tecidos periapicais. A questão da instabilidade química do hipoclorito de sódio é crítica. Uma solução de hipoclorito de sódio apresenta decréscimos significativos de concentração quando armazenada em condições inadequadas ou, quando o recipiente, durante o uso é frequentemente aberto. Por serem instáveis, perdem eficiência com a elevação da temperatura, com exposição à luz e quando armazenadas por longos períodos de tempo. O hipoclorito de sódio deve ser manipulado, armazenado em vidro âmbar, ao abrigo de luz, à temperatura ambiente e tem validade por 3 meses (SWEETMAN, 2004). A ingestão do hipoclorito de sódio pode causar corrosão nas membranas mucosa, perfuração gástrica e esofágica e edema de laringe. A sua inalação pode causar irritação brônquica severa e edema pulmonar. O contato prolongado com a pele pode causar irritações (SWEETMAN, 2004). Deve-se então, ter cuidado para não se injetar o hipoclorito de sódio com muita pressão ou muito próximo ao forâmen apical para que não ocorra extravasamento deste para o periápice, principalmente em pré-molares e molares superiores, a fim de impedir que parte deste hipoclorito adentre o seio maxilar causando danos, muitas vezes, irreversíveis (BECKING, 1991). Os hipocloritos, devido às suas excepcionais propriedades físico-químicas e biológicas, estão indicados em todas as fases do preparo biomecânico de dentes com polpa vital ou necrosada (EL KARIM; KENNEDY; HUSSEY, 2007). CLOREXIDINA A clorexidina foi desenvolvida nos anos 40 pela Indústria Química Imperial na Inglaterra e introduzida no mercado em 1954 como um anti-séptico para ferimentos na pele. Esta substância foi utilizada inicialmente na Odontologia para desinfecção pré-cirúrgica e na Endodontia (ADDY; MORAN, 1997). A clorexidina pode ser adquirida em farmácias de manipulação sob a forma de uma solução aquosa de digluconato de clorexidina nas concentrações de 0,2 a 2,0%, contudo as soluções mais concentradas possuem ação antibacteriana mais efetiva (LOPES; SIQUEIRA JÚNIOR; ELIAS, 2004; ZEHNDER, 2006). Esta substância vem sendo utilizada na Endodontia como solução irrigadora e medicação intracanal devido à sua atividade antibacteriana de amplo espectro, baixa citotoxicidade e por apresentar substantividade, isto é, ela se liga à hidroxiapatita do esmalte ou dentina e a grupos aniônicos ácidos de glicoproteínas, sendo lentamente liberada à medida que a sua concentração no meio decresce, permitindo desse modo um tempo de atuação prolongado (LOPES; SIQUEIRA JÚNIOR; ELIAS, 2004). A clorexidina é a solução irrigadora de eleição quando há relato, por parte do paciente, de alergia ao hipoclorito de sódio. Está indicada no tratamento de dentes com polpa necrosada associada à rizogênese incompleta, onde observa-se grande risco de extravasamento apical da solução química, nos casos em que os microorganismos são resistentes ao tratamento endodôntico e nas lesões refratárias (ZEHNDER, 2006). Esta substância pode ser utilizada como solução de escolha para irrigação dos canais radiculares apenas quando o único requisito é a atividade antimicrobiana, pois esta solução apesar de ser tão efetiva, sob o espectro de atividade antimicrobiana, quanto o hipoclorito de sódio, não apresenta capacidade para dissolver tecido pulpar (NAENNI; THOMA; ZEHNDER, 2004). Soluções com uma alta concentração de clorexidina podem causar irritação na pele e na conjuntiva ocular. A utilização da clorexidina como creme e enxaguatório dental pode causar descoloração na língua, nos dentes e nas restaurações, além de ocorrer excesso de salivação (SWEETMAN, 2004). QUELANTES Os quelantes são substâncias que fixam os íons metálicos dos complexos moleculares. Embora o hipoclorito de sódio seja a solução irrigadora que mais se aproxima do ideal, não consegue dissolver partículas inorgânicas de dentina e prevenir a formação de smear layer durante a instrumentação dos canais radiculares. Nygaard-Ostby (1957) propôs o uso de um sal derivado de um ácido fraco e orgânico, o etilenodiaminotetracético sal dissódico (EDTA), pois, pela sua ação quelante, permite formular uma solução auxiliar para a instrumentação dos canais radiculares atresiados. Essa solução na concentração e no pH indicado pelo autor é biologicamente compatível aos tecidos da polpa e do periápice. O efeito antimicrobiano de soluções de EDTA é limitado. Todavia, Byström e Sundqvist (1985) relataram que no tratamento endodôntico de dentes infectados nos quais houve o uso combinado de uma solução de EDTA com a de hipoclorito de sódio a 5%, observou-se atividade antibacteriana mais eficaz do que quando se usava apenas a solução de hipoclorito de sódio. Ao contrário do hipoclorito de sódio, o EDTA não possui atividade bactericida ou bacteriostática significativa. O que ocorre é que os quelantes, devido à sua propriedade de limpeza, podem destacar o biofilme bacteriano que fica aderido às paredes dos canais radiculares (ZEHNDER, 2006). Recomenda-se a utilização de soluções de EDTA combinadas com soluções de hipoclorito de sódio na remoção do smear layer, durante o preparo biomecânico de canais radiculares infectados (MARENDING et al., 2007). Apresentando o smear layer em sua composição, componentes orgânicos e inorgânicos, o uso alternado de EDTA a 17% e hipoclorito de sódio a 1% promove a sua remoção. O EDTA quela a porção calcificada e expõe o colágeno, o hipoclorito de sódio atua removendo o material orgânico, inclusive o colágeno da matriz e possui atividade antimicrobiana (HÜLSMANN; HECKENDORFF; LENNON, 2003). O EDTA está indicado como coadjuvante do preparo biomecânico, por ser um quelante específico para os íons cálcio, em canais atresiados e calcificados, para remoção do magma dentinário superficial e combinado com o hipoclorito de sódio durante o preparo biomecânico de canais radiculares infectados (EL KARIM; KENNEDY; HUSSEY, 2007; MARENDING et al., 2007). DETERGENTES Os detergentes, também conhecidos como tensoativos, estão em desuso na Endodontia, pois, apesar de possuírem boa capacidade de limpeza e uma ótima biocompatibilidade com os tecidos periapicais, não são bactericidas. Sua indicação é exclusivamente em dentes com polpa vital onde se observou os rigorosos critérios de antissepsia e assepsia (PÉCORA; SOUZA-NETO; ESTRELA, 2001). Dependendo da polarização que a molécula do detergente apresente, ele pode ser classificado em aniônico, neutro ou catiônico. De maneira geral, os detergentes dotados de carga são mais eficazes, devido à formação de uma interface de mesma carga entre a superfície e a sujidade, fazendo com que, por repulsa das cargas de mesmo sinal, as partículas englobadas não consigam depositar-se novamente (SOUZA; MACHADO; MASSARO, 2007). Detergentes aniônicos São compostos nos quais a cadeia graxa hidrofóbica está anexada a um grupo hidrófilo carregado negativamente. Como exemplo destacam-se o Lauril sulfato de sódio, Laurill dietilenoglicol éter sulfato de sódio. Detergentes catiônicos Apresentam o grupo polar com carga positiva. O cloreto de benzalcônio, dehyquart A, cloreto de cetil piridina, salvizol, Cetavlon são exemplos deste grupo. Detergentes neutros São compostos nos quais a cadeia graxa hidrofóbica está anexada a grupo hidrófilo sem carga. Como é o caso do Tween 80 e do Tween 20. ÁCIDOS O ácido cítrico é um sal orgânico (ácido 2-hidroxi propano tricarboxílico), sólido, cristalino, quando à temperatura ambiente é muito solúvel em água, que atua sobre os tecidos mineralizados do dente, promovendo a sua desmineralização, podendo ser empregado na remoção do smear layer, após o preparo biomecânico do canal radicular (ZEHNDER, 2006). Quanto à concentração do ácido cítrico, não há consenso entre autores, que indicam a concentração entre 1 e 50%. Quanto ao seu uso, dá-se preferência às soluções de menores concentrações (EL KARIM; KENNEDY; HUSSEY, 2007). O efeito antibacteriano do ácido cítrico está relacionado ao seu baixo pH (1,45 a 1,5), que promove a desnaturação de proteínas e enzimas. Porém esse pH ácido pode tem efeito adverso ao tecido perirradicular, devido ao seu efeito citotóxico (GARBEROGLIO; BECCE, 1994). PERÓXIDOS Os peróxidos se caracterizam por apresentarem ligação entre duas moléculas de oxigênio. O peróxido mais conhecido é o H 2O2, popularmente chamado de água oxigenada. Peróxido de hidrogênio O peróxido de hidrogênio (H2O2) é um potente agente oxidante; apresenta-se sob a forma de um líquido incolor, transparente e altamente instável (LOPES; SIQUEIRA JÚNIOR; ELIAS, 2004). Diante de matéria orgânica, apresenta uma atividade antibacteriana limitada, além de ser ineficaz como solvente de tecido necrosado e como solução irrigadora na limpeza do sistema de canais radiculares (HARRISON, 1984). Esta solução ainda é utilizada alternada com o NaOCl conforme foi descrito por Grossman (1943), a qual consistia no uso alternado do NaOCl a 5% com o peróxido de hidrogênio. Ao se associarem estas duas substâncias, há o desenvolvimento de efervescência, oriunda da liberação de oxigênio nascente, conforme a reação química: NaOCl hipoclorito de sódio + H2O2 NaCl peróxido de hidrogênio cloreto de sódio + H2O + O2 água oxigênio A justificativa para se utilizar o método descrito por Grossman (1943) é que a efervescência gerada iria maximizar a limpeza do sistema de canais radiculares, favorecendo a remoção de detritos e a eliminação de micro-organismos. No entanto, estudos não evidenciaram maiores benefícios, no que diz respeito à limpeza e à desinfecção do canal radicular com o emprego deste método, quando comparado ao uso isolado do hipoclorito de sódio (SIQUEIRA JÚNIOR et al., 1997). Peróxido de uréia O peróxido de uréia foi proposto como solução auxiliar da instrumentação de canais radiculares (BLECHMAN; COHEN, 1951). Verificou-se que o peróxido de uréia é mais efetivo que o peróxido de hidrogênio, porque suas moléculas ao entrarem em contato com exsudato purulento e o sangue, rompem-se mais lentamente, liberando oxigênio nascente por mais tempo. As pesquisas com peróxido de uréia foram desenvolvidas entre as décadas de 50 a 70 e essa solução foi introduzida associada a outras substâncias como RC-Prep® e Endo-PTC®. ASSOCIAÇÕES E MISTURAS As associações e misturas são modos de obtenção do máximo proveito das propriedades químicas que as soluções apresentam (BAUMGARTNER; JOHAL; MARSHALL, 2007). Na Endodontia existe a possibilidade do preparo de várias misturas e associações. Dentre as associações preconizadas para o preparo biomecânico do sistema de canais radiculares destaca-se a água de cal. A água de cal é uma solução saturada de hidróxido de cálcio p.a. em água fervida ou resfriada, soro fisiológico ou água destilada (cerca de 0,14g de hidróxido de cálcio em 100mL de água), é límpida e apresenta o pH 11. A solução aquosa de hidróxido de cálcio apresenta uma alta tensão superficial, de 66,82 dinas, ausência de atividade solvente de tecido pulpar e atividade antibacteriana extremamente baixa. É recomendada nos casos de hemorragia pulpar, como substância hemostática, que atua por vasoconstricção, eliminando, assim, a possibilidade de hemorragia tardia. Com o objetivo de reduzir as propriedades negativas da solução aquosa de hidróxido de cálcio, foi realizada a associação hidróxido de cálcio + detergente aniônico (lauril dietilenoglicol éter sulfato de sódio). Esta associação apresenta pH alcalino e baixa tensão superficial, favorecendo a ação do hidróxido de cálcio para entrar em contato com as paredes dos canais radiculares (PÉCORA; SOUZA-NETO; ESTRELA, 2001). DESENVOLVIMENTO DE NOVAS SOLUÇÕES IRRIGADORAS MTAD (mistura de um isômero de tetraciclina, ácido cítrico e detergente) Uma nova solução irrigadora foi proposta (TORABINEJAD et al., 2003a) com a finalidade de promover a ação antimicrobiana juntamente com o aumento da permeabilidade dentinária, combinando-se os componentes: isômero de tetraciclina, ácido cítrico e o detergente Tween 80. Estudos de citotoxicidade do MTAD em comparação com outras soluções irrigadoras e medicação intracanal demonstraram que o MTAD é menos citotóxico que o eugenol, peróxido de hidrogênio a 35%, pasta de hidróxido de cálcio, hipoclorito de sódio a 5% e EDTA, e mais citotóxico que hipoclorito de sódio a 2,63%, 1,31% e 0,66%; além de possuir efeitos neurotóxicos, causando parestesia transitória ou irreversível dos tecidos nervosos periapicais, caso esta solução ultrapasse acidentalmente no ápice radicular (DENIZ et al., 2007). O valor clínico desta solução é questionável, pois a resistência à tetraciclina é comum em bactérias isoladas dos canais radiculares, sendo questionada então, a atividade antimicrobiana desta solução. O MTAD tem sido proposto como solução alternativa na irrigação final de canais radiculares após o preparo biomecânico com hipoclorito de sódio e EDTA (NEWBERRY et al., 2007). Mais pesquisas são necessárias para que esse material seja utilizado como solução irrigadora (EL KARIM; KENNEDY; HUSSEY, 2007). HEBP (hidroxietilideno bifosfonado) O hidroxietilideno bifosfonado, também chamado etidronato, é um agente descalcificante que demonstra pouca interferência nas propriedades do hipoclorito de sódio quando utilizado com o mesmo. Foi recentemente sugerido como uma possível alternativa ao EDTA e ácido cítrico (ZEHNDER, 2006). Por ser uma solução nova, faz-se necessário mais estudos sobre as suas propriedades e utilizações (ZEHNDER, 2006; DE-DEUS et al., 2008). ECA (soluções eletroquimicamente ativadas) São produzidas a partir de água de torneira e soluções salinas em baixas concentrações. A natureza química e física ainda não foi totalmente explicada. Sabe-se que dois tipos de compostos são produzidos: o anionlítico e o cationlítico. O anionlítico tem um alto potencial de oxidação e possui atividade antimicrobiana contra Mycobacterium tuberculosis, Escherichia coli, Enterococus faecalis, Pseudomonas aeruginosa, vírus, fungos e protozoários. O cationlítico é uma solução alcalina com um grande potencial de redução e tem atividade detergente e de limpeza (EL KARIM; KENNEDY; HUSSEY, 2007). A ECA pode ter potencial como solução irrigadora, contudo, mais estudos são necessários. Desinfecção fotoativada A desinfecção fotoativada é uma nova tecnologia que pode ser uma alternativa menos tóxica do que as soluções irrigadoras químicas. Utiliza a combinação de uma infiltração fotosensibilizante e uma luz de comprimento de onda específico. Esta combinação eliminou uma grande população de bactérias em suspensões planctônicas, colágeno e em dentina infectada. Também mostrou-se efetiva em bactérias comumente encontradas nos canais radiculares (WILLIAMS et al., 2006). Água ozonada Também tem sido investigada como solução irrigadora, pois o ozônio é conhecido por ser um forte agente antimicrobiano e mostrou-se efetivo em desinfectar túbulos dentinários em dentes de boi (EL KARIM; KENNEDY; HUSSEY, 2007). CONCLUSÕES O hipoclorito de sódio continua a ser a solução irrigadora de eleição na Endodontia. O hipoclorito de sódio a 1% deve ser utilizado durante o preparo biomecânico dos canais radiculares devido à sua atividade antimicrobiana, capacidade solvente de matéria orgânica e baixa citotoxicidade. A clorexidina 1 a 2% é utilizada apenas quando o único requisito é a atividade antimicrobiana, em casos de micro-organismos resistentes ao tratamento endodôntico e em lesões refratárias. Uma solução de EDTA a 17% deve ser utilizada como coadjuvante do preparo biomecânico de canais radiculares infectados, no tratamento de canais atresiados e calcificados e para remoção do smear layer superficial. Todas as soluções irrigadoras mencionadas neste trabalho apresentam limitações. A procura por uma solução irrigadora ideal continua com o desenvolvimento e pesquisas de novas substâncias. REFERÊNCIAS 1. Sundqvist G. Ecology of the root canal flora. J Endod 1992; 18(9):427-30. 2. Sassone lM, Fidel R, Vieira M, Hirata Júnior R. The influence of organic load on the antimicrobial activity of different concentrations of NaOCl and chlorhexidine in vitro. Int Endodod J 2003; 36(12):848-52. 3. Zehnder M. Root canal irrigants. J Endod 2006; 32(5):389-98. 4. Siqueira Júnior JF, Machado AG, Silveira RM, Lopes HP, Uzeda M. de. Evaluation of the effectiveness of sodium hypochlorite used with three irrigation methods in the elimination of Enterococcus faecalis from the root canal, in vitro. Int Endodod J 1997; 30(4):279-82. 5. Jeansonne M, White R. A comparison of 2,0% chlorhexidine gluconate and 5,25% sodium hypochlorite as antimicrobial endodontic irrigants. J Endod 1994; 20(6):276-8. 6. Lui JN, Kuab HG, Chen NN. Efect of EDTA with and without surfactants or ultrasonics on removal of smear layer. J Endod 2007;33(4):472-5. 7. Souza ADS, Machado ME de l, Massaro H. Substâncias químicas auxiliares utilizadas em endodontia-irrigação e aspiração. In: Machado ME de L. Endodontia: da biologia à técnica. São Paulo: Santos, 2007. p. 253-67. 8. El Karim I, Kennedy J, Hussey D. The antimicrobial effects of root canal irrigation and medication. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2007;103(4): 560-9. 9. Lopes HP, Siqueira Júnior JF, Elias CN. Substâncias químicas empregadas no preparo dos canais radiculares. In: Lopes HP, Siqueira Júnior, JF. Endodontia: biologia e técnica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2004. p. 535-79. 10. Estrela C, Estrela CRA, Barbin EL, Spanó JCE, Marchesan MA, Pécora JD. Mechanism of action of sodium hypochlorite. Braz Dent J 2002; 13(2):113-7. 11. Marending M, Paqué F, Fischer J, Zehnder M. Impact of irrigant sequence on mechanical properties of human root dentin. J Endod 2007;33(11):1325-8. 12. Kalfas S, Figdor D, Sundqvist G. A new bacterial species associated with failed endodontic treatment: Identification and description of Actinomyces radicidentis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2001;92(2):208-14. 13. Sweetman S C. Martindale: the complete drug reference. London: Pharmaceutical Press, 2004. 2756p. 14. Becking AG. Complications in the use of sodium hypochlorite during endodontic treatment. Report of three cases. Oral Surg 1991;71(4):346-8. 15. Addy M, Moran JM. Clinical indications for the use of chemical adjuncts to plaque control: chlorhexidine formulations. Periodontol 2000 1997;15(1):52-4. 16. Naenni N, Thoma K, Zehnder M. Soft tissue dissolution capacity of currently used and potencial irrigants. J Endod 2004;30(11):785-7. 17. Nygaard-Ostby B. Chelation in root canal therapy: ethylenediaminetetraacetic acid for cleansing and widening of root canals. Odontol Tidskr 1957;65:3-11. 18. Byström A, Sundqvist G. The antibacterial action of sodium hypochlorite and EDTA in 60 cases of endodontic therapy. Int Endodod J 1985;18(1):35-40. 19. Hülsmann M, Heckendorff M, Lennon A. Chelating agents in root canal treatment: mode of action and indications for their use. Int Endodod J 2003;36(12):810-30. 20. Pécora JD, Souza-Neto MD, Estrela C. Soluções auxiliares do preparo do canal radicular. In: Estrela C, Figueiredo JAP. Endodontia: princípios biológicos e mecânicos. São Paulo: Artes Médicas, 2001. p. 553-69. 21. Garberoglio R, Becce C. Smear layer removal by root canal irrigants. A comparative scanning electron microscope study. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1994;78(3): 359-67. 22. Harrison JW. Irrigation of the root canal system. Dent Clin North Am 1984;4:797-808. 23. Grossman LI. Irrigation of root canals. J Am Dent Assoc 1943;30(12):1915-7. 24. Blechman H, Cohen M. Use of aqueous urea solution in the field of Endodontia: preliminary report. J Dent Res 1951;30(4):503-4. 25. Baumgartner JC, Johal S, Marshall JG. Comparison of the antimicrobial efficacy of 1.3% NaOCl/BioPure MTAD to 5.25% NaOCl/15% EDTA for root canal irrigation. J Endod 2007;33(1):48-51. 26. Torabinejad M, Khademi AA, Babagoli J, Cho Y, Johnson WB, Bozhilov K, Kim J, Shabahang S. A new solution for the removal of the smear layer. J Endod 2003a;29(3):170-5. 27. Deniz D, Sayin TC, Onur MA, Cehreli ZC, Bayolken M, Tasman FD. Influence of an antibacterial root canal cleanser (MTAD) on compound nerve action potentials. Int Endodod J 2007;40(12):981. 28. Newberry BM, Shabahang S, Johnson N, Aprecio RM, Torabinejad M. The antimicrobial effect of biopure MTAD on eight strains of Enterococcus faecalis: an in vitro investigation. J Endod 2007;33(11):1352-4. 29. De-Deus G, Zehnder M, Reis C, Fidel S, Fidel RAS, Galan Júnior J, Paciornik S. Longitudinal co-site optical microscopy study on the chelating ability of etidronate and EDTA using a comparative single-tooth model. J Endod 2008;34(1):71-5. 30. Williams JA, Pearson GJ, Wilson M, John CM. Antibacterial action of photoactivated disinfection (PAD) used on endodontic bacteria in planktonic suspension and in artificial and human root canals. J Dent 2006;34(6):363-71. ARTIGO 2 6 ARTIGO 2 Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana das soluções de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal Artigo publicado no periódico: Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology and Endodontology, v. 108, n.2, p. e55-e61, ago. 2009 (ANEXO C). Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana das soluções de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal Andréa Cruz Câmara,a Miracy Muniz de Albuquerque,b Carlos Menezes Aguiar, c Ana Cristina Regis de Barros Correiad a Aluna do Curso de Doutorado em Ciências Farmacêuticas do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco. b Professora Doutora Associado do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco. Coordenadora do Núcleo de Controle de Qualidade de Medicamentos e Correlatos da Universidade Federal de Pernambuco. c Professor Doutor Associado do Departamento de Prótese e Cirurgia Buco-Facial da Universidade Federal de Pernambuco. d Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco. Endereço para Correspondência: Andréa Cruz Câmara, Rua Nadir de Medeiros, 51, Piedade, Jaboatão dos Guararapes-PE, CEP: 54410-110. Telefone: (81) 3361 5269. E-mail: [email protected] Este estudo foi financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES - Brasil. RESUMO Objetivo. A presente pesquisa se propôs a avaliar, in vitro, a atividade antimicrobiana das soluções à base de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal. Metodologia. Cinquenta pré-molares inferiores humanos unirradiculares foram infectados com um pool microbiano constituído por Candida albicans, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis e Staphylococcus aureus. Os espécimes foram aleatoriamente divididos de acordo com a solução irrigadora utilizada em 5 grupos contendo 10 canais radiculares cada: Grupo 1: hipoclorito de sódio a 0,5%; Grupo 2: hipoclorito de sódio a 1%; Grupo 3: hipoclorito de sódio a 2,5%; Grupo 4 (controle positivo): solução salina estéril (NaCl 0,85%); Grupo 5 (controle negativo- sem microorganismos): solução salina estéril (NaCl 0,85%). Todos os canais radiculares foram instrumentados com o sistema ProTaper Universal. A avaliação da atividade antimicrobiana das soluções irrigadoras foi realizada antes do preparo biomecânico e após a instrumentação com os instrumentos S1, S2, F1, F2 e F3. Resultados. Todos os controles positivos apresentaram crescimento microbiano, enquanto os controles negativos não demonstraram crescimento antes e após o preparo biomecânico com os instrumentos S1, S2, F1, F2 e F3. Os microorganismos foram eliminados após a instrumentação com o instrumento S1 em todas as soluções irrigadoras avaliadas, com exceção de 1 amostra, onde se utilizou o S1 com o hipoclorito de sódio a 0,5%, que apresentou crescimento positivo. Não houve diferença estatisticamente significante (p=1,000) entre as soluções irrigadoras avaliadas. Conclusões. O hipoclorito de sódio, em todas as concentrações analisadas, em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi efetivo em eliminar os micro-organismos Candida albicans, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis e Staphylococcus aureus. Palavras-Chave: atividade antimicrobiana, hipoclorito de sódio, instrumentação rotatória, ProTaper Universal, soluções irrigadoras. INTRODUÇÃO Os micro-organismos desempenham um importante papel na etiologia e manutenção das patologias que acometem a polpa e a região periapical (KAKEHASHI; STANLEY; FITZGERALD, 1965; SUNDQVIST, 1992; SIQUEIRA JÚNIOR et al. 2000). Mais de 300 espécies microbianas podem ser encontradas no interior do canal radicular infectado (TURK; ATES; SEM, 2008) e o seu controle e eliminação são importantes durante o tratamento endodôntico (MENEZES et al., 2004). Sunde et al. (2002) demonstraram uma variedade de micro-organismos especialmente gram-positivos nas lesões periapicais de dentes com periodontite apical refratária. As linhagens anaeróbias constituíram 51% dos casos; 79,5% da flora foram espécies gram-positivas. Micro-organismos facultativos dos gêneros Staphylococcus, Enterococcus, Pseudomonas, Candida, Enterobacter, Stenotrophomonas, Sphingomonas e Bacillus foram evidenciados em 75% das amostras. Idealmente, o tratamento endodôntico deve eliminar os micro-organismos presentes no interior do sistema de canais radiculares (SIQUEIRA JÚNIOR; RÔÇAS, 2008). A limpeza ocorre por meio da ação mecânica dos instrumentos endodônticos e das propriedades físico-químicas e antimicrobianas das soluções irrigadoras (BARATO-FILHO et al., 2004; SIQUEIRA JÚNIOR et al., 2007; SIQUEIRA JÚNIOR; RÔÇAS, 2008). Como o acesso ao interior dos canais radiculares é limitado e a anatomia interna é complexa, micro-organismos podem permanecer no interior dos túbulos dentinários e em outros espaços inacessíveis. Quando estes microorganismos encontram um ambiente favorável, podem proliferar e reinfectar o sistema de canais radiculares (BARATO-FILHO et al., 2004; MENEZES et al., 2004; SASSONE et al., 2008). Embora, ao longo dos anos, várias soluções irrigadoras tenham sido propostas, o hipoclorito de sódio continua a ser o irrigante mais amplamente utilizado (SIQUEIRA JÚNIOR; RÔÇAS, 2008). O hipoclorito de sódio possui uma potente ação antimicrobiana e tem uma excelente capacidade de dissolver material orgânico (SENA et al., 2006). Contudo, é extremamente irritante aos tecidos periapicais, especialmente em concentrações elevadas (SERPER; ÖZBEK; ÇALT, 2004; BOWDEN; ETHUNANDAN; BRENNAN, 2006; PELKA; PETSCHELT, 2008), devendo então ser utilizado na menor concentração efetiva e não deve ser extravazado além do ápice radicular. Não existe um consenso, ainda, sobre a concentração ideal a ser utilizada, a qual pode variar de 0,5% a 5,5% (GOMES et al., 2001). Sua atividade antimicrobiana é proporcional à concentração da solução (BERBER et al. 2006). No entanto, o efeito irritante do hipoclorito de sódio é minimizado pelo curto período que a solução irrigadora permanece em contato com o tecido periapical durante o preparo biomecânico. Os sistemas rotatórios em NiTi reduzem o tempo necessário para o preparo biomecânico, bem como diminuem as falhas relativas à instrumentação (CÂMARA; AGUIAR; FIGUEIREDO, 2007). Desde à sua introdução, diferentes sistemas rotatórios em NiTi foram acrescentados ao arsenal dos instrumentos endodônticos. O mesmo fabricante pode produzir vários modelos tentando melhorar o desempenho destes sistemas. O ProTaper Universal é um dos representantes desta nova geração de instrumentos (AGUIAR; CÂMARA, 2008). O sistema rotatório ProTaper Universal é a nova versão do sistema rotatório ProTaper. É constituído pelos instrumentos modeladores, de acabamento e de retratamento. Possui multi-conicidade em um mesmo instrumento, maior flexibilidade na ponta e maior resistência na base de cada instrumento, bordas cortantes com ângulo helicoidal variável conferindo um maior poder de corte e espaço adequado para os debris retirados, o qual não permite que aconteça o efeito parafuso e as limas são eletro-polidas, proporcionando menos imperfeições na superfície da liga (KIM et al., 2008). O preparo biomecânico do sistema de canais radiculares realizado com instrumentos rotatórios é mais rápido quando comparado com a instrumentação manual (GUELZOW et al., 2005; KUMMER et al., 2008), consequentemente, a solução irrigadora permanece menos tempo no interior do canal radicular. A solução irrigadora de eleição deve ser aquela que exerça sua atividade antimicrobiana rapidamente contra os micro-organismos encontrados no interior do sistema de canais radiculares e túbulos dentinários. Portanto, diante do exposto, o presente trabalho se propôs a avaliar in vitro a atividade antimicrobiana das soluções à base de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal. METODOLOGIA REALIZAÇÃO DA PESQUISA Este trabalho foi realizado no Núcleo de Controle e Qualidade de Medicamentos e Correlatos, laboratório credenciado pela ANVISA - ANALI 051, do Departamento de Ciências Farmacêuticas, do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal de Pernambuco. Ressaltamos também, que todos os equipamentos utilizados nesta pesquisa apresentam certificado de calibração. AMOSTRAS Foram selecionados, aleatoriamente, 50 pré-molares inferiores humanos unirradiculares, confirmados radiograficamente, retos, com o comprimento variando entre 20 e 21mm, com processo de rizogênese concluído, extraídos por razões ortodônticas de pacientes com idade entre 16 e 18 anos, obtidos do Banco de Dentes do Departamento de Prótese e Cirurgia Buco-Facial da Universidade Federal de Pernambuco, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, sob parecer n o 188/2006 e registro do SISNEP FR-102287 (ANEXO A). Os elementos dentários foram armazenados, até o momento do uso, em recipientes de vidro contendo formol a 10% (Limed, Camaragibe, Brasil), em quantidade suficiente para submergir as raízes. Em seguida, foram lavados em água corrente por 5min e desinfectados por 3min em solução manipulada à base de hipoclorito de sódio a 1% e deixados secar à temperatura ambiente. PREPARO DOS ESPÉCIMES Os elementos dentários selecionados foram numerados e sorteados aleatoriamente de 1 a 50, sendo realizada a abertura coronária com broca esférica diamantada de haste longa, número 1016 (KG Sorensen, São Paulo, Brasil) acoplada a uma caneta de alta rotação com refrigeração e a divergência das paredes circundantes com a broca Endo-Z (Maillefer, Ballaigues, Suíça). Para se realizar uma padronização da instrumentação dos canais radiculares em 1mm aquém do forâmen apical, uma lima tipo K 10# (Maillefer, Ballaigues, Suíça) foi introduzida no canal radicular até que a sua extremidade ultrapassasse 1mm do forâmen apical e, em seguida, recuou-se 2mm. Os espécimes foram acondicionados em tubos de ensaio individualizados e levados para esterilização em autoclave (Fabbe-Primar LTDA., São Paulo, Brasil) a 121ºC por 30min. Dez espécimes escolhidos aleatoriamente foram transferidos para o meio de cultura Brain Heart Infusion (BHI, Acumedia®, Lansing, EUA) e incubados em estufa bacteriológica (Tecnal, São Paulo, Brasil) a 35 2ºC por 96h, com o objetivo de se avaliar a esterilidade dos espécimes. PREPARO DO SISTEMA EXPERIMENTAL A preparação do sistema experimental para avaliação da contaminação dos canais radiculares, consistiu de um frasco de vidro com tampa de borracha de acordo com o preconizado por Gomes et al. (2003). Com um instrumento aquecido (cureta de dentina), foi confeccionado um orifício no centro da tampa do frasco, no qual o elemento dentário foi inserido sobre pressão até o limite da junção amelocementária, de modo que apenas a coroa dentária ficasse exteriorizada e a raiz imersa no interior do frasco de vidro (Figura 1, A). A interface entre o elemento dentário e a tampa de borracha foi selada com 3 camadas de cianoacrilato (Henkel Ltda, São Paulo, Brazil). Estes sistemas experimentais foram esterilizados em autoclave a 121ºC por 30min e, em seguida, foram armazenados em estufa (Fanem LTDA.,São Paulo, Brasil) a 40ºC até a completa secagem. Posteriormente, em uma câmara de fluxo laminar (Veco, Piracicaba, Brasil), foram preenchidos com o meio de cultura BHI, de modo que a raiz ficasse imersa neste meio de cultura - (Figura 1, B) e selados hermeticamente com o objetivo de se evitar a contaminação por agentes externos. Em seguida, os sistemas experimentais foram incubados a 35 2ºC por 96h para se verificar a esterilidade. Após este período, nenhuma contaminação foi observada. MICRO-ORGANISMOS INDICADORES Foram utilizados micro-organismos com distintas características: uma levedura, bastonetes gram-negativos e cocos gram-positivos. O painel de micro- organismos indicadores foi constituído por uma linhagem de levedura: Candida albicans (ATCC 10231) e três linhagens de bactérias: Pseudomonas aeruginosa (ATCC 9027), Enterococcus faecalis (ATCC 19433) e Staphylococcus aureus (ATCC 6538) comumente encontradas nas infecções endodônticas obtidas do NEWPROV Produtos para Laboratórios (Paraná, Brasil). PREPARO DO POOL MICROBIANO E CONTAMINAÇÃO DOS CANAIS RADICULARES Os seguintes procedimentos foram realizados em uma câmara de fluxo laminar (Veco, Piracicaba, Brasil) utilizando-se materiais e instrumentais esterilizados. Neste trabalho foi utilizada uma solução salina estéril (NaCl 0,85%) na qual foram adicionadas as linhagens bacterianas específicas (Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis e Staphylococcus aureus) de acordo com a Escala de McFarland na concentração aproximada de 3x108 UFC por mL (concentração salivar) e, em uma concentração maior de 3x10 9 UFC por mL, uma linhagem de levedura (Candida albicans). A partir de cada suspensão microbiana, 1mL foi removido e uma mistura com os 4 micro-organismos foi preparada. Em seguida, o sistema experimental foi aberto e os canais radiculares foram infectados, exceto o controle negativo, com 10L da suspensão utilizando uma micropipeta automática (Gilson, Villiera-le-Bel, França) introduzida no canal radicular de cada elemento dentário. Após a introdução dos micro-organismos, limas esterilizadas tipo K 10# (Maillefer, Ballaigues, Suíça), demarcadas no comprimento real de trabalho (CRT), foram utilizadas para levar a suspensão microbiana para o interior do canal radicular. Para se comprovar a efetividade da contaminação, o sistema foi incubado em estufa biológica a 35 2ºC por 48h. A turbidez do meio durante o período de incubação foi indicativa de crescimento microbiano (Figura 1, C). Posteriormente, o isolamento e a identificação dos micro-organismos foram realizados. A pureza e a identificação das culturas foram confirmadas pela morfologia das colônias e o crescimento em placas de Petri com os meios de cultura: Cetrimida (Acumedia®, Lansing, EUA): para verificar a presença de P. aeruginosa, Vogel Johnson (Acumedia®, Lansing, EUA): para verificar a presença de S. aureus, Ágar Sabouraud (Acumedia®, Lansing, EUA): para verificar a presença de C. albicans, Ágar Seletivo para Candida de acordo com Nickerson (Merck, Darmstadt, Alemanha): para verificar a presença de C. albicans, Ágar Sangue (Newprov, Paraná, Brasil): para verificar a atividade hemolítica, e Ágar Chromocult para Enterococcus (Merck, Darmstadt, Alemanha): para verificar a presença de E. faecalis. Se não houvesse a detecção dos 4 micro-organismos, o sistema seria descartado. A eficiência deste método de infecção dos canais radiculares foi observada em um estudo piloto prévio. Os ensaios foram conduzidos em triplicata em condições assépticas para garantir a fidedignidade desta pesquisa. Figura 1 - (A) Sistema experimental. (B) Sistema experimental preenchido com BHI. (C) Turbidez do meio indicando crescimento microbiano. PREPARO BIOMECÂNICO DOS CANAIS RADICULARES Para a irrigação dos canais radiculares foram utilizadas soluções de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5% recém manipuladas (Farmácia Escola Carlos Dumont de Andrade, Recife, Brasil). Os espécimes contaminados foram removidos dos sistemas experimentais e transferidos para outros frascos de vidro sem meio de cultura, com a finalidade de que os elementos dentários permanecessem fixos para o início da instrumentação. Os elementos dentários foram divididos aleatoriamente em 3 grupos experimentais e 2 grupos controle com dez espécimes cada de acordo com a solução irrigadora utilizada durante o preparo biomecânico: GRUPO 1: Solução de hipoclorito de sódio a 0,5%. GRUPO 2: Solução de hipoclorito de sódio a 1%. GRUPO 3: Solução de hipoclorito de sódio a 2,5%. GRUPO 4 (Controle positivo): Solução Salina estéril (NaCl 0,85%). GRUPO 5 (Controle negativo-sem micro-organismos): Solução Salina estéril (NaCl 0,85%). Para os cinco grupos, o CRT foi padronizado em 1mm aquém do ápice radiográfico. Para a irrigação dos canais radiculares foi utilizado o sistema seringa FCF (FCF, São Paulo, Brasil) de 3mL com agulha 30G (Injecta, Diadema, Brasil). A irrigação foi realizada no início da instrumentação, entre as trocas dos instrumentos e ao final do preparo biomecânico, utilizando-se 5mL da solução em cada uma das etapas. Todos os canais radiculares foram instrumentados com o sistema ProTaper Universal utilizando um contra-ângulo de baixa rotação (Daby Atlante, Ribeirão Preto, Brasil) acoplado a um motor elétrico (Driller Endo-Pro, São Paulo, Brasil) a uma velocidade constante de 300rpm. Inicialmente, o instrumento SX foi introduzido no terço cervical, posteriormente a lima S1 foi utilizada em 4mm aquém do CRT, em seguida os instrumentos S1 e S2 foram introduzidos no CRT e, por último, utilizou-se as limas F1, F2 e F3 no CRT. A instrumentação dos canais radiculares foi realizada por um único operador. Após o preparo biomecânico e antes da coleta do material do canal radicular, nos grupos 1, 2 e 3, foi realizada uma irrigação com Tiosulfato de Sódio a 5% para neutralizar o hipoclorito de sódio. O tempo do preparo biomecânico foi gravado, excluindo o tempo gasto para a coleta de material do interior do canal radicular. AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIMICROBIANA DAS SOLUÇÕES IRRIGADORAS Para se avaliar a ação antimicrobiana das soluções irrigadoras, pontas de papel absorvente estéreis, demarcadas no CRT e compatíveis com o canal radicular, foram introduzidas no interior do canal radicular, objetivando a coleta do material. Cada ponta de papel absorvente foi depositada no interior do canal radicular por 1min da seguinte forma: 0- inicial (antes do preparo biomecânico), 1- após a instrumentação com o S1 em todo CRT, 2- após instrumentação com o S2, 3- após instrumentação com o F1, 4- após instrumentação com o F2 e 5- após instrumentação com o F3. As pontas de papel absorvente foram transferidas para placas de Petri com os meios de cultura: Cetrimida, Vogel Johnson, Ágar Sabouraud, Ágar Seletivo para Candida de acordo com Nickerson, Ágar Sangue e Ágar Chromocult para Enterococcus. As placas de Petri foram incubadas a 35 2ºC por 48h. Após este período, foram avaliadas a presença ou ausência de crescimento microbiano com o auxílio de um Estereomicroscópio (Stemi 2000-C, Zeiss, São Paulo, Brasil) com 10X de magnificação. DESTINO DOS ELEMENTOS DENTÁRIOS Após o término do experimento, os elementos dentários foram esterilizados em autoclave a 121ºC durante 30min e devolvidos ao Banco de Dentes do Departamento de Prótese e Cirurgia Buco-Facial da Universidade Federal de Pernambuco. ANÁLISE ESTATÍSTICA Para análise dos dados foram obtidas distribuições absolutas e percentuais (Técnicas de estatística descritiva) e foi utilizado o teste Qui-quadrado de Pearson ou o teste Exato de Fisher quando as condições para utilização do teste Quiquadrado não foram verificadas (Técnicas de estatística inferencial). Em todos os testes foi adotado o nível de significância de 0,05. Os dados foram digitados na planilha Excel e o software utilizado para a obtenção dos cálculos Estatísticos foi o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na versão 13. RESULTADOS AÇÃO ANTIMICROBIANA DA SOLUÇÃO IRRIGADORA O crescimento microbiano foi observado em todas as amostras iniciais (0antes do preparo biomecânico), com exceção do controle negativo, demonstrando, desta forma, que a contaminação foi efetiva em todos os canais radiculares de todos os grupos. Todos os controles positivos mostraram crescimento microbiano (Figura 2 A e B), enquanto que os controles negativos não mostraram crescimento antes e após o preparo biomecânico com os instrumentos S1, S2, F1, F2 e F3 (Tabela 1). Figura 2 – Controle positivo mostrando: (A) crescimento da P. aeruginosa. (B) crescimento do S.aureus. Tabela 1 – Crescimento microbiano nos controles positivo e negativo. Instrumento S1 Grupo Positivo n % Negativo n % TOTAL n % Valor de p Controle positivo Controle negativo 10 10 100,0 50,0 10 10 100,0 50,0 10 10 20 100,0 100,0 100,0 p(1) < 0,001* Controle positivo Controle negativo 10 10 100,0 50,0 10 10 100,0 50,0 10 10 20 100,0 100,0 100,0 p(1) < 0,001* Controle positivo Controle negativo 10 10 100,0 50,0 10 10 100,0 50,0 10 10 20 100,0 100,0 100,0 p(1) < 0,001* Controle positivo Controle negativo 10 10 100,0 50,0 10 10 100,0 50,0 10 10 20 100,0 100,0 100,0 p(1) < 0,001* Controle positivo Controle negativo 10 10 100,0 50,0 10 10 100,0 50,0 10 10 20 100,0 100,0 100,0 p Total S2 Total F1 Total F2 Total F3 Total n=número de espécimes (*): Diferença significante a 5,0% (1): Através do teste Qui-quadrado de Pearson. (1) < 0,001* A ação antimicrobiana das soluções irrigadoras frente ao S. aureus, P. aeruginosa, C. albicans and E. faecalis está demonstrada na Tabela 2. A Tabela 2 demonstra que os micro-organismos foram eliminados após a instrumentação com o instrumento S1 no CRT em todas as soluções irrigadoras avaliadas (Figura 3 A, B, C, D, E e F), com exceção de 1 amostra em S1 com o hipoclorito de sódio a 0,5% que apresentou crescimento positivo. Tabela 2 - Eficácia antimicrobiana das soluções de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1%, e 2,5% em canais radiculares infectados com S. aureus, P. aeruginosa, C. albicans e E.faecalis. Instrumento NaOCI Positivo n % Negativo n % TOTAL n % Valor de p S1 0,5% 1,0% 2,5% 1 1 10,0 3,3 9 10 10 29 90,0 100,0 100,0 96,7 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p(1) = 1,000 0,5% 1,0% 2,5% - - 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 ** 0,5% 1,0% 2,5% - - 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 ** 0,5% 1,0% 2,5% - - 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 ** 0,5% 1,0% 2,5% - - 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 ** Total S2 Total F1 Total F2 Total F3 Total n=número de espécimes; (1): Através do teste Exato de Fisher. (**): Não foi possível determinar devido à ausência de uma das categorias. Figura 3 – Ação antimicrobiana do hipoclorito de sódio a 1%: (A) Cetrimida. (B) Vogel Johnson. (C) Ágar Seletivo para Candida de acordo com Nickerson. (D) Ágar Saboraud. (E) Ágar Sangue. (F) Ágar Chromocult para Enterococcus. O hipoclorito de sódio, em todas as concentrações analisadas, em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi semelhantemente efetivo e permitiu a completa eliminação dos micro-organismos. Não houve diferença estatisticamente significante (p=1,000) entre as soluções irrigadoras avaliadas. TEMPO DO PREPARO BIOMECÂNICO O tempo médio de instrumentação com o sistema ProTaper Universal foi de 4,2 ± 1,5min. DISCUSSÃO Várias metodologias podem ser utilizadas para a avaliação da atividade antimicrobiana das soluções irrigadoras como, por exemplo, o método de contato direto, o método de difusão em ágar e a infecção artificial de dentes extraídos com micro-organismos selecionados e a irrigação com os agentes antimicrobianos analisados (MENEZES et al., 2004; BERBER et al., 2006; SENA et al., 2006). A metodologia utilizada nesta pesquisa para a contaminação dos canais radiculares mostrou-se adequada, pois após o período de 48h de incubação, todas as amostras iniciais, com exceção do grupo controle negativo, demonstraram crescimento microbiano. Diferentes metodologias são empregadas para a coleta de micro-organismos no interior dos canais radiculares. Neste estudo, os micro-organismos foram coletados dentro dos canais radiculares com pontas de papel absorvente, antes, durante e após o preparo biomecânico com o sistema ProTaper Universal com o objetivo de se avaliar a atividade antimicrobiana das soluções à base de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5%. A utilização destas pontas de papel absorvente tem a vantagem de poderem ser usadas in vitro e in vivo (MENEZES et al., 2004; MERCADE et al., 2009). Por outro lado, a coleta de micro-organismos no interior dos canais radiculares com pontas de papel absorvente é limitada, pois apenas os microorganismos que estão presentes no canal radicular principal podem ser coletados, e os que estão localizados no interior dos túbulos dentinários são inacessíveis. Os micro-organismos desempenham um papel fundamental na etiologia e na manutenção das infecções endodônticas (KAKEHASHI; STANLEY; FITZGERALD, 1965). Os patógenos utilizados neste estudo foram selecionados devido à sua importância clínica e associação com as infecções endodônticas (SUNDE et al., 2002). Micro-organismos como o Enterococcus faecalis e Candida albicans têm sido relatados como sendo de interesse especial nos casos de lesões perirradiculares persistentes (SUNDQVIST, 1992; RUFF; MCCLANAHAN; BABEL, 2006; STUART et al., 2006; TURK; ATES; SEM, 2008). O Staphylococcus aureus e a Pseudomonas aeruginosa também têm sido associados com infecções persistentes (SIQUEIRA JÚNIOR, 2002; SIQUEIRA JÚNIOR; RÔÇAS, 2008; HUTH et al., 2009). Entre os procedimentos envolvidos no controle das infecções endodônticas, a instrumentação e a irrigação são importantes para a eliminação dos micro- organismos presentes no sistema de canais radiculares (BARATO-FILHO et al., 2004; SENA et al., 2006; SIQUEIRA JÚNIOR et al., 2007). O hipoclorito de sódio continua sendo a solução irrigadora mais utilizada na Endodontia. Entretanto, não há um consenso em relação à sua concentração ideal que pode variar de 0,5% a 5,25% (GOMES et al., 2001; OLIVEIRA et al., 2007). Kozol et al. (1988) avaliaram os efeitos tóxicos do hipoclorito de sódio e observaram que o hipoclorito de sódio a 0,025% é uma concentração segura para o uso clínico, capaz de manter a atividade antimicrobiana sem efeitos nocivos aos tecidos periapicais, corroborando com o presente estudo e com Siqueira Júnior et al. (2000) e Sassone et al. (2008), onde foi observado que, mesmo em baixas concentrações, as soluções de hipoclorito de sódio apresentaram atividade antimicrobiana contra micro-organismos resistentes ao tratamento endodôntico como E. faecalis, C. albicans, S. aureus e P. aeruginosa. Por outro lado, alguns autores relataram que bactérias como E. faecalis são resistentes ao hipoclorito de sódio em baixas concentrações, mas sensíveis a concentrações acima de 5,25% (GOMES et al., 2001; BERBER et al., 2006; ESTRELA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2007; HUTH et al., 2009; WILLIAMSON; CARDON; DRAKE, 2009). Concordando com Sena et al. (2006), esta pesquisa reforça a importância de se utilizar soluções irrigadoras com atividade antimicrobiana durante o preparo biomecânico, pois no grupo controle positivo, uma solução salina a 0,85% foi utilizada e não demonstrou atividade antimicrobiana. Contudo, Siqueira Júnior et al. (2000) e Berber et al. (2006) observaram que a solução salina foi capaz de remover micro-organismos do canal radicular principal, embora a redução bacteriana tenha sido significantemente superior quando o hipoclorito de sódio foi utilizado como solução irrigadora. Como o preparo biomecânico é um procedimento rápido, supõe-se que a ação antibacteriana da solução irrigadora no interior do canal radicular é altamente dependente da sua concentração. Gomes et al. (2001) e Vianna et al. (2004) demonstraram que o hipoclorito de sódio a 0,5% e 1% apresentaram atividade antimicrobiana, mas o hipoclorito de sódio nestas concentrações necessita de pelo menos 20 a 30min para inibir o crescimento microbiano, por outro lado, o hipoclorito de sódio a 5,25% eliminou os micro-organismos em segundos. Indo de encontro a D’Arcangelo, Varvara e Fazio (1999) e Siqueira Júnior et al., (2000), nesta pesquisa, o tempo médio de instrumentação foi de 4,2 ± 1,5min e nenhuma diferença no que se refere à atividade antimicrobiana foi observada entre as três concentrações utilizadas. Diferentes sistemas rotatórios têm sido introduzidos ao arsenal endodôntico. A maioria destes sistemas apresenta uma conicidade regular, contudo o sistema ProTaper Universal possue uma conicidade variável ao longo do comprimento do instrumento (KIM et al., 2008). A utilização de instrumentos rotatórios em NiTi reduziu significantemente o tempo necessário ao preparo biomecânico do sistema de canais radiculares, além de ter apresentado uma menor proporção de desvios da trajetória original do canal radicular quando comparado à instrumentação manual (CÂMARA; AGUIAR; FIGUEIREDO, 2007; AGUIAR; CÂMARA, 2008; SABET; LUTFY, 2008). Contudo, a capacidade destes sistemas em limpar o canal radicular nem sempre é efetiva, especialmente em canais radiculares achatados. Rollison, Barnett e Stevens (2002) relataram que a instrumentação rotatória com soluções irrigadoras sem atividade antimicrobiana foi ineficaz em remover as bactérias no interior do sistema de canais radiculares, concordando com os resultados deste estudo, onde a instrumentação com o sistema ProTaper Universal com a solução salina a 0,85% não foi efetiva em eliminar C. albicans, P. aeruginosa, E. faecalis e S. aureus. Siqueira Júnior et al.(1999) e Chuste-Guillot et al. (2006) avaliaram, in vitro, a redução de bactérias presentes em canais radiculares infectados após o preparo biomecânico com instrumentos rotatórios e observaram que, apesar de uma extensiva instrumentação e irrigação com soluções antissépticas, os microorganismos permaneciam no canal radicular, perpetuando a infecção. No entanto, nesta pesquisa, todos os micro-organismos foram eliminados após a irrigação com o hipoclorito de sódio, em todas as concentrações testadas, em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal. Com a redução do tempo da instrumentação dos canais radiculares tornada possível com o advento dos sistemas rotatórios, a solução irrigadora de escolha deve ser aquela que exerça a sua atividade antimicrobiana rapidamente contra os micro-organismos encontrados no interior dos canais radiculares e túbulos dentinários. Este trabalho se propôs a avaliar, in vitro, a atividade antimicrobiana das soluções de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal contra alguns micro- organismos comumente encontrados nas infecções endodônticas. Diante das condições testadas e dentro das limitações deste estudo in vitro, pôde-se concluir que o hipoclorito de sódio, em todas as concentrações avaliadas, e em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi eficaz na eliminação de C. albicans, P. aeruginosa, E. faecalis e S. aureus. CONCLUSÕES O hipoclorito de sódio, em todas as concentrações analisadas, em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi efetivo em eliminar os micro-organismos Candida albicans, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis e Staphylococcus aureus. REFERÊNCIAS 1. Aguiar CM, Câmara AC. Radiological evaluation of the morphological changes of root canals shaped with ProTaper™ for hand use and the ProTaper™ and RaCe™ rotary instruments. Aust Endod J 2008;34:115-9. 2. Barato-Filho F, Carvalho Júnior JR de, Fariniuk LF, Sousa-Neto MD, Pécora JD, Cruz-Filho AM da. Morphometric analysis of the effectiveness of different concentrations of sodium hypochlorite associated with rotary instrumentation for root canal cleaning. Braz Dent J 2004;15:36-40. 3. Berber VB, Gomes BPFA, Sena NT, Vianna ME, Ferraz CCR, Zaia AA, Souza-Filho FJ. Efficacy of various concentrations of NaOCl and instrumentation techniques in reducing Enterococcus faecalis within root canals and dentinal tubules. Int Endod J 2006;39:10-7. 4. Bowden JR, Ethunandan M, Brennan PA. Life-threatening airway obstruction secondary to hypochlorite extrusion during root canal treatment. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2006;101:402-4. 5. Câmara AC, Aguiar CM, Figueiredo JAP de. Assessment of the deviation after biomechanical preparation of the coronal, middle, and apical thirds of root canals instrumented with three Hero rotary systems. J Endod 2007;33:1460-3. 6. Chuste-Guillot MP, Badet C, Peli JF, Perez F. Effect of three nickel-titanium rotary file techniques on infected root dentin reduction. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2006;102:254-8. 7. D’Arcangelo C, Varvara G, Fazio P de. An evaluation of the action of different root canal irrigants on facultative aerobic-anaerobic, obligate anaerobic, and microaerophilic bacteria. J Endod 1999;25:351-3. 8. Estrela C, Estrela CRA, Dercucio DA, Hollanda ACB, Silva JA. Antimicrobial efficacy of ozonated water, gaseous ozone, sodium hypochlorite and chlorhexidine in infected human root canals. Int Endod J 2007;40:85-93. 9. Gomes BPFA, Ferraz CCR, Vianna ME, Berber VB, Teixeira FB, Souza-Filho FJ. In vitro antimicrobial activity of several concentrations of sodium hypochlorite and chlorhexidine gluconate in the elimination of Enterococcus faecalis. Int Endod J 2001;34:424-8. 10. Gomes BPFA, Sato E, Ferraz CCR, Teixeira FB, Zaia AA, Souza-Filho FJ. Evaluation of time required for recontamination of coronally sealed canals medicated with calcium hydroxide and chlorhexidine. Int Endod J 2003;36:604-9. 11. Guelzow A, Stamm O, Martus P, Kielbassa AM. Comparative study of six rotary nickel-titanium systems and hand instrumentation for root canal preparation. Int Endod J 2005;38: 743-52. 12. Huth KC, Quirling M, Maier S, Kamereck K, Alkhayer M, Paschos E et al. Effectiveness of ozone against endodontopathogenic microorganisms in a root canal biofilm model. Int Endod J 2009;42:3-13. 13. Kakehashi S, Stanley HR, Fitzgerald RJ. The effects of surgical exposures of dental pulps in germ-free and conventional laboratory rats. Oral Surg 1965;20:340-9. 14. Kim HC, Cheung GSP, Lee CJ, Kim BM, Park JK, Kang SI. Comparison of forces generated during root canal shaping and residual stresses of three nickel–titanium rotary files by using a three-dimensional finite-element analysis. J Endod 2008;34:743-7. 15. Kozol RA, Gillies C, Elgebaly AS. Effects of sodium hypochlorite (Dakin’s solution) on cells of the wound module. Arch Surg 1988;123:420-3. 16. Kummer TR, Calvo MC, Cordeiro MMR, Vieira R de S, Rocha, MJ de C. Ex vivo study of manual and rotary instrumentation techniques in human primary teeth. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008;105:e84-92. 17. Menezes MM, Valera MC, Jorge AOC, Koga-Ito CY, Camargo CHR, Mancini MNG. In vitro evaluation of the effectiveness of irrigants and intracanal medicaments on microorganisms within root canals. Int Endod J 2004;37:3119. 18. Mercade M, Duran-Sindreu F, Kuttler S, Roig M, Durany N. Antimicrobial efficacy of 4.2% sodium hypochlorite adjusted to pH 12, 7.5, and 6.5 in infected human root canals. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2009;107:295-8. 19. Oliveira DP, Barbizam JVB, Trope M, Teixeira FB. In vitro antibacterial efficacy of endodontic irrigants against Enterococcus faecalis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2007;103:702-6. 20. Pelka M, Petschelt A. Permanent mimic musculature and nerve damage caused by sodium hypochlorite: a case report. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008;106:e80-3. 21. Rollison S, Barnett F, Stevens RH. Efficacy of bacterial removal from instrumented root canal in vitro related to instrumentation technique and size. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2002;94:366-71. 22. Ruff ML, McClanahan SB, Babel BS. In vitro antifungal efficacy of four irrigants as a final rinse. J Endod 2006;32:331-3. 23. Sabet NE, Lutfy RA.Ultrastructural morphologic evaluation of root canal walls prepared by two rotary nickel-titanium systems: a comparative study. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008;106:e59-66. 24. Sassone LM, Fidel RAS, Murad CF, Fidel SR, Hirata Júnior R. Antimicrobial activity of sodium hypochlorite and chlorhexidine by two different tests. Aust Endod J 2008;34:19-24. 25. Sena NT, Gomes BPFA, Vianna ME, Berber VB, Zaia AA, Ferraz CCR, Souza-Filho FJ. In vitro antimicrobial activity of sodium hypochlorite and chlorhexidine against selected single-species biofilms. Int Endod J 2006;39:878-85. 26. Serper A, Özbek M, Çalt S. Accidental sodium hypochlorite-induced skin injury during endodontic treatment. J Endod 2004;30:180-1. 27. Siqueira Júnior JF, Lima KC, Magalhães FAC, Lopes HP, Uzeda M de. Mechanical reduction of the bacterial population in the root canal by three instrumentation techniques. J Endod 1999;25:332-5. 28. Siqueira Júnior JF, Rôças IN, Favieri A, Lima KC. Chemomechanical reduction of the bacterial population in the root canal after instrumentation and irrigation with 1%, 2.5%, and 5.25% sodium hypochlorite. J Endod 2000;26:331-4. 29. Siqueira Júnior JF. Endodontic infections: concepts, paradigms, and perspectives. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2002;94:28193. 30. Siqueira Júnior JF, Rôças IN, Paiva SSM, Guimarães-Pinto T, Magalhães KM, Lima KC. Bacteriologic investigation of the effects of sodium hypochlorite and chlorhexidine during the endodontic treatment of teeth with apical periodontitis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2007;104:122-30. 31. Siqueira Júnior JF, Rôças IN. Clinical implications and microbiology of bacterial persistence after treatment procedures. J Endod 2008;34:1291-1301. 32. Stuart CH, Schwartz SA, Beeson TJ, Owatz CB. Enterococcus faecalis: its role in root canal treatment failure and current concepts in retreatment. J Endod 2006;32:93-8. 33. Sunde PT, Olsen I, Debelian GJ, Tronstad L. Microbiota of periapical lesions refractory to endodontic therapy. J Endod 2002;28:304-10. 34. Sundqvist G. Ecology of the root canal flora. J Endod 1992;18:427-30. 35. Turk BT, Ates M, Sen BH. The effect of treatment of radicular dentin on colonization patterns of C. albicans. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008;106:457-62. 36. Vianna ME, Gomes BPFA, Berber VB, Zaia, AA, Ferraz CCR, Souza-Filho FJ de. In vitro evaluation of the antimicrobial activity of chlorhexidine and sodium hypochlorite. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2004;97:7984. 37. Williamson AE, Cardon JW, Drake DR. Antimicrobial susceptibility of monoculture biofilms of a clinical isolate of Enterococcus faecalis. J Endod 2009;35:95-7. 7 ARTIGO 3 ARTIGO 3 Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana das soluções à base de clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal Artigo enviado para publicação no periódico: Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology and Endodontology Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana das soluções à base de clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal Andréa Cruz Câmara,a Miracy Muniz de Albuquerque,b Carlos Menezes Aguiar, c Ana Cristina Regis de Barros Correiad a Aluna do Curso de Doutorado em Ciências Farmacêuticas do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco. b Professora Doutora Associado do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco. Coordenadora do Núcleo de Controle de Qualidade de Medicamentos e Correlatos da Universidade Federal de Pernambuco. c Professor Doutor Associado do Departamento de Prótese e Cirurgia Buco-Facial da Universidade Federal de Pernambuco. d Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco. Endereço para Correspondência: Andréa Cruz Câmara, Rua Nadir de Medeiros, 51, Piedade, Jaboatão dos Guararapes-PE, CEP: 54410-110. Telefone: (81) 3361 5269. E-mail: [email protected] Este estudo foi financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES - Brasil. RESUMO Objetivo. A presente pesquisa se propôs a avaliar, in vitro, a atividade antimicrobiana das soluções à base de clorexidina a 0,2%, 1%, e 2% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal. Metodologia. Cinquenta pré-molares inferiores humanos unirradiculares, com processo de rizogênese concluído, foram infectados com um pool microbiano constituído por Candida albicans, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis e Staphylococcus aureus. Os espécimes foram aleatoriamente divididos de acordo com a solução irrigadora utilizada em 5 grupos contendo 10 canais radiculares cada. Todos os canais radiculares foram instrumentados com o sistema ProTaper Universal. A avaliação da atividade antimicrobiana das soluções irrigadoras foi realizada antes, durante e após o preparo biomecânico. Resultados. A clorexidina a 0,2% foi ineficaz contra todos os micro-organismos. A clorexidina a 1% mostrou-se eficaz em eliminar a P. aeruginosa e C. albicans a partir dos instrumentos F1 e F2, respectivamente, mas foi ineficaz contra S. aureus e E. faecalis. A clorexidina a 2% foi efetiva contra S. aureus, P. aeruginosa e C. albicans após a utilização do instrumento S1, mas ineficaz frente ao E. faecalis. Houve diferenças estatisticamente significantes entre as concentrações da clorexidina e os instrumentos utilizados. Conclusões. A clorexidina a 0,2% em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi ineficaz contra todos os micro-organismos avaliados. A clorexidina a 1% foi ineficaz em eliminar S. aureus e E. faecalis. A clorexidina a 2% não foi eficiente para inativar o E. faecalis. Palavras-chave: atividade antimicrobiana, clorexidina, instrumentação rotatória, ProTaper Universal, soluções irrigadoras. INTRODUÇÃO Os micro-organismos desempenham um importante papel na etiologia e manutenção das patologias que acometem a polpa e a região periapical (KAKEHASHI; STANLEY; FITZGERALD, 1965; SUNDQVIST, 1992; SIQUEIRA JÚNIOR et al. 2000). Mais de 300 espécies microbianas podem ser encontradas no interior do canal radicular infectado (TURK; ATES; SEM, 2008) e o seu controle e eliminação são importantes durante o tratamento endodôntico (MENEZES et al., 2004). Sunde et al. (2002) demonstraram uma variedade de micro-organismos, especialmente gram-positivos, nas lesões periapicais de dentes com periodontite apical refratária. As linhagens anaeróbias constituíram 51% dos casos; 79,5% da flora foram espécies gram-positivas. Micro-organismos facultativos dos gêneros Staphylococcus, Enterococcus, Pseudomonas, Candida, Enterobacter, Stenotrophomonas, Sphingomonas e Bacillus foram evidenciados em 75% das amostras. Idealmente, o tratamento endodôntico deve eliminar os micro-organismos presentes no interior do sistema de canais radiculares (SIQUEIRA JÚNIOR; RÔÇAS, 2008). A limpeza ocorre por meio da ação mecânica dos instrumentos endodônticos e das propriedades físico-químicas e antimicrobianas das soluções irrigadoras (BARATO-FILHO et al., 2004; SIQUEIRA JÚNIOR et al., 2007; SIQUEIRA JÚNIOR; RÔÇAS, 2008). Como o acesso ao interior dos canais radiculares é limitado e a anatomia interna é complexa, micro-organismos podem permanecer no interior dos túbulos dentinários e em outros espaços inacessíveis. Quando estes microorganismos encontram um ambiente favorável, podem proliferar e reinfectar o sistema de canais radiculares (BARATO-FILHO et al., 2004; MENEZES et al., 2004; SASSONE et al., 2008). Um grande número de substâncias vêm sendo utilizadas como soluções irrigadoras, incluindo ácidos, quelantes, enzimas proteolíticas, soluções alcalinas, agentes oxidantes, anestésicos locais e solução salina (EL KARIM; KENNEDY; HUSSEY, 2007). Embora, ao longo dos anos, várias soluções irrigadoras tenham sido propostas, o hipoclorito de sódio continua a ser o irrigante mais amplamente utilizado (SIQUEIRA JÚNIOR; RÔÇAS, 2008). O hipoclorito de sódio possui uma potente ação antimicrobiana e tem uma excelente capacidade de dissolver material orgânico (SENA et al., 2006). Contudo, é extremamente irritante aos tecidos periapicais, especialmente em concentrações elevadas (SERPER; ÖZBEK; ÇALT, 2004; BOWDEN; ETHUNANDAN; BRENNAN, 2006; PELKA; PETSCHELT, 2008). Reações alérgicas e os efeitos adversos associados ao uso de soluções de hipoclorito de sódio com elevadas concentrações levaram à utilização de substâncias com comprovada atividade antimicrobiana e baixa toxicidade, como a clorexidina. A clorexidina vem sendo utilizada na Endodontia como solução irrigadora e medicação intracanal devido ao seu amplo espectro antimicrobiano (VIANNA; GOMES, 2009), substantividade (LEE et al., 2008; LEE et al., 2009), baixa citotoxicidade (KRAUTHEIM; JERMANN; BIRCHER, 2004; WILLIAMSON; CARDON; DRAKE, 2009) e habilidade em inibir a aderência de algumas bactérias (ATHANASSIADIS; ABBOT; WALSH, 2007; KISHEN et al., 2008). Entretanto, esta substância não é capaz de dissolver matéria orgânica (NAENNI; THOMA; ZEHNDER, 2004). Os sistemas rotatórios em NiTi reduzem o tempo necessário para o preparo biomecânico, bem como diminuem as falhas relativas à instrumentação (CÂMARA; AGUIAR; FIGUEIREDO, 2007; AGUIAR; CÂMARA, 2008). Desde à sua introdução, diferentes sistemas rotatórios em NiTi foram acrescentados ao arsenal dos instrumentos endodônticos. O mesmo fabricante pode produzir vários modelos tentando melhorar o desempenho destes sistemas. Dentre eles, destacamos o sistema ProTaper Universal. O sistema rotatório ProTaper Universal é a nova versão do sistema rotatório ProTaper. É constituído pelos instrumentos modeladores (SX, S1 e S2), de acabamento (F1, F2, F3, F4 e F5) e de retratamento (D1, D2 e D3). É um sistema rotatório classificado como de multiconicidade, pois a conicidade varia ao longo do comprimento dos instrumentos. O ProTaper Universal apresenta maior flexibilidade na extremidade e maior resistência na base, bordas cortantes com ângulo helicoidal variável, o que lhe confere um maior poder de corte. A geometria da sua secção transversal permite e facilita a evacuação dos debris resultantes da ação do instrumento sobre as paredes do canal radicular, reduzindo, desta forma, o efeito parafuso, além do eletropolimento das limas, proporcionando reduzidas imperfeições na sua superfície (KIM et al., 2008). O preparo biomecânico do sistema de canais radiculares realizado com instrumentos rotatórios é mais rápido quando comparado com a instrumentação manual (KUMMER et al., 2008), consequentemente, a solução irrigadora permanece menos tempo no interior do canal radicular. A solução irrigadora de eleição deve ser aquela que seja capaz de exercer sua atividade antimicrobiana rapidamente contra os micro-organismos encontrados no interior do sistema de canais radiculares e túbulos dentinários. Portanto, diante do exposto, a presente pesquisa se propôs a avaliar, in vitro, a atividade antimicrobiana das soluções à base de clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal. METODOLOGIA REALIZAÇÃO DA PESQUISA Este trabalho foi realizado no Núcleo de Controle e Qualidade de Medicamentos e Correlatos, laboratório credenciado pela ANVISA - ANALI 051, do Departamento de Ciências Farmacêuticas, do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal de Pernambuco. Ressaltamos também, que todos os equipamentos utilizados nesta pesquisa apresentam certificado de calibração. AMOSTRAS Foram selecionados, aleatoriamente, 50 pré-molares inferiores humanos unirradiculares, confirmados radiograficamente, retos, com o comprimento variando entre 20 e 21mm, com processo de rizogênese concluído, extraídos por razões ortodônticas de pacientes com idade entre 16 e 18 anos, obtidos do Banco de Dentes do Departamento de Prótese e Cirurgia Buco-Facial da Universidade Federal de Pernambuco, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, sob parecer no 188/2006 e registro do SISNEP FR-102287 (ANEXO A). Os elementos dentários foram armazenados, até o momento do uso, em recipientes de vidro contendo formol a 10% (Limed, Camaragibe, Brasil), em quantidade suficiente para submergir as raízes. Em seguida, foram lavados em água corrente por 5min e desinfectados por 3min em solução manipulada à base de hipoclorito de sódio a 1% e deixados secar à temperatura ambiente. PREPARO DOS ESPÉCIMES Os elementos dentários selecionados foram numerados e sorteados aleatoriamente de 1 a 50, sendo realizada a abertura coronária com broca esférica diamantada de haste longa, número 1016 (KG Sorensen, São Paulo, Brasil) acoplada a uma caneta de alta rotação com refrigeração e a divergência das paredes circundantes com a broca Endo-Z (Maillefer, Ballaigues, Suíça). Para se realizar uma padronização da instrumentação dos canais radiculares em 1mm aquém do forâmen apical, uma lima tipo K 10# (Maillefer, Ballaigues, Suíça) foi introduzida no canal radicular até que a sua extremidade ultrapassasse 1mm do forâmen apical e, em seguida, recuou-se 2mm. Os espécimes foram acondicionados em tubos de ensaio individualizados e levados para esterilização em autoclave (Fabbe-Primar LTDA., São Paulo, Brasil) a 121ºC por 30min. Dez espécimes escolhidos aleatoriamente foram transferidos para o meio de cultura Brain Heart Infusion (BHI, Acumedia®, Lansing, EUA) e incubados em estufa bacteriológica (Tecnal, São Paulo, Brasil) a 35 2ºC por 96h, com o objetivo de se avaliar a esterilidade dos espécimes. PREPARO DO SISTEMA EXPERIMENTAL Frascos de vidro com tampa de borracha foram utilizados nesta pesquisa, de acordo com a metodologia descrita por Câmara et al. (2009). Com um instrumento aquecido (cureta de dentina), foi confeccionado um orifício no centro da tampa do frasco, no qual o elemento dentário foi inserido sobre pressão até o limite da junção amelo-cementária, de modo que apenas a coroa dentária ficasse exteriorizada e a raiz imersa no interior do frasco de vidro (Figura 1, A). A interface entre o elemento dentário e a tampa de borracha foi selada com 3 camadas de cianoacrilato (Henkel Ltda, São Paulo, Brasil). Estes sistemas experimentais foram esterilizados em autoclave a 121ºC por 30min e, em seguida, foram armazenados em estufa (Fanem LTDA.,São Paulo, Brasil) a 40ºC até a completa secagem. Posteriormente, em uma câmara de fluxo laminar (Veco, Piracicaba, Brasil), foram preenchidos com o meio de cultura BHI, de modo que a raiz ficasse imersa neste meio de cultura e selados hermeticamente com o objetivo de se evitar a contaminação por agentes externos. Em seguida, os sistemas experimentais foram incubados a 35 2ºC por 96h para se verificar a esterilidade. Após este período, nenhuma contaminação foi observada. Figura 1- (A) Sistema experimental; (B) Turbidez do meio indicando crescimento bacteriano. MICRO-ORGANISMOS INDICADORES Foram utilizados micro-organismos com distintas características: uma levedura, bastonetes gram-negativos e cocos gram-positivos. O painel de microorganismos indicadores foi constituído por uma linhagem de levedura: Candida albicans (ATCC 10231) e três linhagens de bactérias: Pseudomonas aeruginosa (ATCC 9027), Enterococcus faecalis (ATCC 19433) e Staphylococcus aureus (ATCC 6538) comumente encontradas nas infecções endodônticas obtidas do NEWPROV Produtos para Laboratórios (Paraná, Brasil). PREPARO DO POOL MICROBIANO E CONTAMINAÇÃO DOS CANAIS RADICULARES Os seguintes procedimentos foram realizados em uma câmara de fluxo laminar (Veco, Piracicaba, Brasil) utilizando-se materiais e instrumentais esterilizados. Neste trabalho foi utilizada uma solução salina estéril (NaCl 0,85%) na qual foram adicionadas as linhagens bacterianas específicas (Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis e Staphylococcus aureus) de acordo com a Escala de McFarland na concentração aproximada de 3x10 8 UFC por mL (concentração salivar) e, em uma concentração maior de 3x10 9 UFC por mL, uma linhagem de levedura (Candida albicans). A partir de cada suspensão microbiana, 1mL foi removido e uma mistura com os 4 micro-organismos foi preparada. Em seguida, o sistema experimental foi aberto e os canais radiculares foram infectados, exceto o controle negativo, com 10L da suspensão utilizando uma micropipeta automática (Gilson, Villiera-le-Bel, França) introduzida no canal radicular de cada elemento dentário. Após a introdução dos micro-organismos, limas esterilizadas tipo K 10# (Maillefer, Ballaigues, Suíça), demarcadas no CRT, foram utilizadas para levar a suspensão microbiana para o interior do canal radicular. Para se testar a efetividade da contaminação, o sistema foi incubado em estufa biológica a 35 2ºC por 48h. A turbidez do meio durante o período de incubação foi indicativa de crescimento microbiano (Figura 1, B). Posteriormente, o isolamento e a identificação dos micro-organismos foram realizados. A pureza e a identificação das culturas foram confirmadas pela morfologia das colônias e o crescimento em placas de Petri com os meios de cultura: Cetrimida (Acumedia®, Lansing, EUA): para verificar a presença de P. aeruginosa, Vogel Johnson (Acumedia®, Lansing, EUA): para verificar a presença de S. aureus, Ágar Sabouraud (Acumedia®, Lansing, EUA): para verificar a presença de C. albicans, Ágar Seletivo para Candida de acordo com Nickerson (Merck, Darmstadt, Alemanha): para verificar a presença de C. albicans, Ágar Sangue (Newprov, Paraná, Brasil): para verificar a atividade hemolítica, e Ágar Chromocult para Enterococcus (Merck, Darmstadt, Alemanha): para verificar a presença de E. faecalis. Se não houvesse a detecção dos 4 micro-organismos, o sistema seria descartado. A eficiência deste método de infecção dos canais radiculares foi observada em um estudo piloto prévio. Os ensaios foram conduzidos em triplicata em condições assépticas para garantir a fidedignidade desta pesquisa. PREPARO BIOMECÂNICO DOS CANAIS RADICULARES Para a irrigação dos canais radiculares foram utilizadas soluções à base de clorexidina a 0,2%, 1% e 2% recém manipuladas (Farmácia Escola Carlos Dumont de Andrade, Recife, Brasil). Os espécimes contaminados foram removidos dos sistemas experimentais e transferidos para outros frascos de vidro sem meio de cultura, com a finalidade de que os elementos dentários permanecessem fixos para o início da instrumentação. Os elementos dentários foram divididos aleatoriamente em 3 grupos experimentais e 2 grupos controle com dez espécimes de acordo com a solução irrigadora utilizada durante o preparo biomecânico: GRUPO 1: Solução de clorexidina a 0,2%. GRUPO 2: Solução de clorexidina a 1%. GRUPO 3: Solução de clorexidina a 2%. GRUPO 4 (Controle positivo): Solução Salina estéril (NaCl 0,85%). GRUPO 5 (Controle negativo-sem micro-organismos): Solução Salina estéril (NaCl 0,85%). Para os cinco grupos, o CRT foi padronizado em 1mm aquém do ápice radiográfico. Para a irrigação dos canais radiculares foi utilizado o sistema seringa FCF (FCF, São Paulo, Brasil) de 3mL com agulha 30G (Injecta, Diadema, Brasil). A irrigação foi realizada no início da instrumentação, entre as trocas dos instrumentos e ao final do preparo biomecânico, utilizando-se 5mL da solução em cada uma das etapas. Todos os canais radiculares foram instrumentados com o sistema ProTaper Universal utilizando um contra-ângulo de baixa rotação (Daby Atlante, Ribeirão Preto, Brasil) acoplado a um motor elétrico (Driller Endo-Pro, São Paulo, Brasil) a uma velocidade constante de 300rpm. Inicialmente, o instrumento SX foi introduzido no terço cervical, posteriormente a lima S1 foi utilizada em 4mm aquém do CRT, em seguida os instrumentos S1 e S2 foram introduzidos no CRT e, por último, utilizou-se as limas F1, F2 e F3 no CRT. A instrumentação dos canais radiculares foi realizada por um único operador. Após o preparo biomecânico e antes da coleta do material do canal radicular, nos grupos 1, 2 e 3, foi realizada uma irrigação com Tween 80 a 0,5% + lecitina a 0,07% para neutralizar a clorexidina. O tempo do preparo biomecânico foi gravado, excluindo o tempo gasto para a coleta de material do interior do canal radicular. AVALIAÇÃO DA AÇÃO ANTIMICROBIANA DAS SOLUÇÕES IRRIGADORAS Para se avaliar a ação antimicrobiana das soluções irrigadoras, pontas de papel absorvente estéreis, demarcadas no CRT e compatíveis com o canal radicular, foram introduzidas no interior do canal radicular, objetivando a coleta do material. Cada ponta de papel absorvente foi depositada no interior do canal radicular por 1min da seguinte forma: 0- inicial (antes do preparo biomecânico), 1- após a instrumentação com o S1 em todo CRT, 2- após instrumentação com o S2, 3- após instrumentação com o F1, 4- após instrumentação com o F2 e 5- após instrumentação com o F3. As pontas de papel absorvente foram transferidas para placas de Petri com os meios de cultura: Cetrimida, Vogel Johnson, Ágar Sabouraud, Ágar Seletivo para Candida de acordo com Nickerson, Ágar Sangue e Ágar Chromocult para Enterococcus. As placas de Petri foram incubadas a 35 2ºC por 48h. Após este período, foram avaliadas a presença ou ausência de crescimento microbiano com o auxílio de um Estereomicroscópio (Stemi 2000-C, Zeiss, São Paulo, Brasil) com 10X de magnificação. DESTINO DOS ELEMENTOS DENTÁRIOS Após o término do experimento, os elementos dentários foram esterilizados em autoclave a 121ºC durante 30min e devolvidos ao Banco de Dentes do Departamento de Prótese e Cirurgia Buco-Facial da Universidade Federal de Pernambuco. ANÁLISE ESTATÍSTICA Para análise dos dados foram obtidas distribuições absolutas e percentuais (Técnicas de estatística descritiva) e foi utilizado o teste Qui-quadrado de Pearson ou o teste Exato de Fisher quando as condições para utilização do teste Quiquadrado não foram verificadas (Técnicas de estatística inferencial). Em todos os testes foi adotado o nível de significância de 0,05. Os dados foram digitados na planilha Excel e o software utilizado para a obtenção dos cálculos Estatísticos foi o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na versão 13. RESULTADOS AÇÃO ANTIMICROBIANA DA SOLUÇÃO IRRIGADORA O crescimento microbiano foi observado em todas as amostras iniciais (0antes do preparo biomecânico), com exceção do controle negativo, demonstrando, desta forma, que a contaminação foi efetiva em todos os canais radiculares de todos os grupos. Todos os controles positivos mostraram crescimento microbiano antes e após o preparo biomecânico com os instrumentos S1(1), S2 (2), F1 (3), F2 (4) e F3 (5) (Figura 2, A e B), enquanto que os controles negativos não mostraram crescimento (Figura 2, C) antes e após o preparo biomecânico com os instrumentos S1, S2, F1, F2 e F3 (Tabela 1). Figura 2 - Controle positivo mostrando: (A) crescimento do S. aureus; (B) crescimento da P. aeruginosa. Controle negativo mostrando: (C) ausência de crescimento microbiano. Tabela 1 – Crescimento microbiano nos controles positivo e negativo. Instrumento S1 Grupo Positivo n % Negativo n % TOTAL n % Valor de p Controle positivo Controle negativo 10 10 100,0 50,0 10 10 100,0 50,0 10 10 20 100,0 100,0 100,0 p(1) < 0,001* Controle positivo Controle negativo 10 10 100,0 50,0 10 10 100,0 50,0 10 10 20 100,0 100,0 100,0 p Controle positivo Controle negativo 10 10 100,0 50,0 10 10 100,0 50,0 10 10 20 100,0 100,0 100,0 p Controle positivo Controle negativo 10 10 100,0 50,0 10 10 100,0 50,0 10 10 20 100,0 100,0 100,0 p(1) < 0,001* Controle positivo Controle negativo 10 10 100,0 50,0 10 10 100,0 50,0 10 10 20 100,0 100,0 100,0 p(1) < 0,001* Total S2 Total F1 Total F2 Total F3 Total (1) < 0,001* (1) < 0,001* n=número de espécimes; (*): Diferença significante a 5,0%; (1): Através do teste Qui-quadrado de Pearson. A eficácia antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% frente ao S. aureus, P. aeruginosa, C. albicans e E. faecalis está demonstrada nas Tabelas 2, 3, 4 e 5, respectivamente. A Tabela 2 demonstra a atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares infectados por S. aureus. Para a clorexidina a 0,2%, a frequência de amostras positivas foi maior em S1 (com 5 espécimes), igual a 3 em S2 e igual a 2 espécimes em F1, F2 e F3. Na concentração de 1%, a frequência de amostras positivas foi maior em S1 e S2 (com 3 espécimes), igual a 2 em F1 e F2 e 1 espécime em F3. Na concentração de 2%, todas as amostras foram negativas para S. aureus. Não houve diferença estatisticamente significante entre as concentrações da clorexidina e nenhum dos instrumentos utilizados (p>0,05). Tabela 2 – Atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares infectados por S. aureus. Instrumento Clorexidina Positivo n % Negativo n % TOTAL n % Valor de p S1 0,2% 1,0% 2,0% 5 3 8 50,0 30,0 26,7 5 7 10 22 50,0 70,0 100,0 73,3 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p 0,2% 1,0% 2,0% 3 3 6 30,0 30,0 20,0 7 7 10 24 70,0 70,0 100,0 80,0 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 0,2% 1,0% 2,0% 2 2 4 20,0 20,0 13,3 8 8 10 26 80,0 80,0 100,0 86,7 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 0,2% 1,0% 2,0% 2 2 4 20,0 20,0 13,3 8 8 10 26 80,0 80,0 100,0 86,7 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 0,2% 1,0% 2,0% 2 1 3 20,0 10,0 10,0 8 9 10 27 80,0 90,0 100,0 90,0 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 Total S2 Total F1 Total F2 Total F3 Total (1) = 0,053 (1) = 0,195 (1) = 0,507 p p p(1) = 0,507 p(1) = 0,754 n=número de espécimes; (1): Através do teste Exato de Fisher. A Tabela 3 demonstra a atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares infectados por P. aeruginosa. Na concentração de 0,2%, a frequência de amostras positivas foi maior em S1, S2 e F1 (com 6 espécimes), igual a 4 em F2 e igual a 1 espécime em F3. Na concentração de 1%, a frequência de amostras positivas foi igual a 6 em S1, igual a 3 em S2 e não houve crescimento bacteriano em F1, F2 e F3. Na concentração de 2%, todas as amostras foram negativas para P. aeruginosa. Com exceção do instrumento F3, houve diferença estatisticamente significante entre as concentrações da clorexidina e os instrumentos utilizados (p <0.05). Tabela 3 – Atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares infectados por P. aeruginosa. Instrumento Clorexidina Positivo n % Negativo n % TOTAL n % Valor de p S1 0,2% 1,0% 2,0% 6 6 12 60,0 60,0 40,0 4 4 10 18 40,0 40,0 100,0 60,0 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p 0,2% 1,0% 2,0% 6 3 9 60,0 30,0 30,0 4 7 10 21 40,0 70,0 100,0 70,0 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p(1) = 0,016* 0,2% 1,0% 2,0% 6 6 60,0 20,0 4 10 10 24 40,0 100,0 100,0 80,0 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p 0,2% 1,0% 2,0% 4 4 40,0 13,3 6 10 10 26 60,0 100,0 100,0 86,7 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p(1) = 0,023* 0,2% 1,0% 2,0% 1 1 10,0 3,3 9 10 10 29 90,0 100,0 100,0 96,7 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p(1) = 1,000 Total S2 Total F1 Total F2 Total F3 Total (1) (1) = 0,005* = 0,001* n=número de espécimes; (*): Diferença significante a 5,0%; (1): Através do teste Exato de Fisher. A atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares infectados por C. albicans está demonstrada na Tabela 4. Na concentração de 0,2%, a frequência de amostras positivas foi, respectivamente, 6, 5, 3, 2 e 1 para os instrumentos S1, S2, F1, F2 e F3. Na concentração de 1%, a frequência de amostras positivas foi igual a 7 em S1, igual a 3 em S2, igual a 1 em F1 e não houve crescimento microbiano em F2 e F3. Na concentração de 2%, todas as amostras foram negativas para C. albicans. A única diferença estatisticamente significante entre as concentrações da clorexidina e dos instrumentos utilizados foi observada em S1 (p <0.05). Tabela 4 – Atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares infectados por C. albicans. Instrumento Clorexidina Positivo n % Negativo n % TOTAL n % Valor de p S1 0,2% 1,0% 2,0% 6 7 13 60,0 70,0 43,3 4 3 10 17 40,0 30,0 100,0 56,7 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p 0,2% 1,0% 2,0% 5 3 8 50,0 30,0 26,7 5 7 10 22 50,0 70,0 100,0 73,3 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p(1) = 0,053 0,2% 1,0% 2,0% 3 1 4 30,0 10,0 13,3 7 9 10 26 70,0 90,0 100,0 86,7 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p 0,2% 1,0% 2,0% 2 2 20,0 20,0 8 10 10 28 80,0 100,0 100,0 80,0 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p(1) = 0,754 0,2% 1,0% 2,0% 1 1 10,0 10,0 9 10 10 29 90,0 100,0 100,0 90,0 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p(1) = 1,000 Total S2 Total F1 Total F2 Total F3 Total (1) (1) = 0,003* = 0,286 n=número de espécimes; (*): Diferença significante a 5,0%; (1): Através do teste Exato de Fisher. A atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares infectados com E. faecalis está demonstrada na Tabela 5. Todas as amostras foram positivas em S1 e S2 em todas as concentrações avaliadas. Na concentração de 0,2%, todas as amostras foram positivas em F1, igual a 8 em F2 e igual a 7 em F3. Na concentração de 1%, a frequência de amostras positivas foi igual a 9, 7 e 5, respectivamente, para os instrumentos F1, F2 e F3. Na concentração de 2% a frequência de amostras positivas foi igual a 5 em F1, igual a 2 em F2 e igual a 1 em F3. Houve diferenças estatisticamente significantes entre as concentrações da clorexidina e os instrumentos F1, F2 e F3 (p <0.05). Tabela 5 – Atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares infectados por E. faecalis. Instrumento Clorexidina Positivo n % Negativo n % TOTAL n % S1 0,2% 1,0% 2,0% 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 - - 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 ** 0,2% 1,0% 2,0% 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 - - 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p(1) = 1,000 0,2% 1,0% 2,0% 10 9 5 24 10,0 90,0 50,0 80,0 1 5 6 10,0 50,0 20,0 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p 0,2% 1,0% 2,0% 8 7 2 17 80,0 70,0 20,0 56,7 2 3 8 13 20,0 30,0 80,0 43,3 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p(1) = 0,020* 0,2% 1,0% 2,0% 7 5 1 13 70,0 50,0 10,0 43,3 3 5 9 17 30,0 50,0 90,0 56,7 10 10 10 30 100,0 100,0 100,0 100,0 p(1) = 0,035* Total S2 Total F1 Total F2 Total F3 Total Valor de p (1) = 0,027* n=número de espécimes; (*): Não foi possível determinar devido à ausência de uma das categorias; (**): Diferença significante a 5,0%; (1): Através do teste Exato de Fisher. A Figura 3 mostra, respectivamente, a ação antimicrobiana da clorexidina a 1% contra (A) C. albicans. (B) E. faecalis. (C) S. aureus. (D) E. faecalis. (E) P. aeruginosa. (F) C. albicans. Figura 3 - Ação antimicrobiana da clorexidina a 1%: (A) Ágar Seletivo para Candida de acordo com Nickerson. (B) Ágar Sangue. (C) Vogel Johnson. (D) Ágar Chromocult para Enterococcus. (E) Cetrimida. (F) Ágar Saboraud. TEMPO DO PREPARO BIOMECÂNICO O tempo médio de instrumentação com o sistema ProTaper Universal foi de 4,2 ± 1,5min. DISCUSSÃO Várias metodologias podem ser utilizadas para avaliação da atividade antimicrobiana das soluções irrigadoras como, por exemplo, o método de contato direto, o método de difusão em ágar e a infecção artificial de dentes extraídos com micro-organismos selecionados e irrigação com os agentes antimicrobianos analisados (MENEZES et al., 2004; BERBER et al., 2006; SENA et al., 2006, CÂMARA et al., 2009). A metodologia utilizada nesta pesquisa para a contaminação dos canais radiculares mostrou-se adequada, pois após o período de 48h de incubação, todas as amostras iniciais, com exceção do grupo controle negativo, demonstraram crescimento microbiano. Diferentes métodos são empregados para a coleta de micro-organismos no interior dos canais radiculares. Por ser um método simples, efetivo e que pode ser aplicado em pesquisas in vitro e in vivo, neste estudo e de acordo com os trabalhos de Menezes et al. (2004), Câmara et al. (2009) e Mercade et al. (2009), os microorganismos foram coletados dentro dos canais radiculares com pontas de papel absorvente, antes, durante e após o preparo biomecânico com o sistema ProTaper Universal com o objetivo de se avaliar a atividade antimicrobiana das soluções de clorexidina a 0,2%, 1% e 2%. Por outro lado, a coleta de micro-organismos do interior dos canais radiculares com pontas de papel absorvente é limitada, pois apenas os micro-organismos que estão presentes no canal radicular principal podem ser coletados, e os que estão localizados no interior dos túbulos dentinários são inacessíveis. Os micro-organismos desempenham um papel fundamental na etiologia e na manutenção das infecções endodônticas (KAKEHASHI; STANLEY; FITZGERALD, 1965). Os patógenos utilizados neste estudo foram selecionados devido à sua importância clínica e associação com as infecções endodônticas (SUNDE et al., 2002). Micro-organismos como o E. faecalis e C. albicans têm sido relatados como sendo de interesse especial nos casos de lesões perirradiculares persistentes (SUNDQVIST, 1992; RUFF; MCCLANAHAN; BABEL, 2006; STUART et al., 2006; TURK; ATES; SEM, 2008). O S. aureus e a P. aeruginosa também têm sido associados com infecções persistentes (SIQUEIRA JÚNIOR, 2002; SIQUEIRA JÚNIOR; RÔÇAS, 2008; HUTH; QUIRLING; MAIER, 2009). Entre os procedimentos envolvidos no controle das infecções endodônticas, a instrumentação e a irrigação são importantes para a eliminação dos microorganismos presentes no sistema de canais radiculares (BARATO-FILHO et al., 2004; SENA et al., 2006; SIQUEIRA JÚNIOR et al., 2007). A clorexidina foi desenvolvida nos anos 40 pela Indústria Química Imperial na Inglaterra (ZEHNDER, 2006) e tem sido largamente utilizada como solução irrigadora e medicação intracanal (LEE et al., 2008). Esta bisbiguanida catiônica é altamente eficaz contra uma variedade de bactérias gram-positivivas e gram-negativas e fungos que habitam a cavidade oral (SIQUEIRA JÚNIOR et al., 2007). A clorexidina foi utilizada como solução irrigadora nesta pesquisa porque, segundo Vianna et al. (2004) e El Karim, Kennedy e Hussey (2007), esta substância é recomendada como uma alternativa ou solução irrigadora de eleição quando há relato, pelo paciente, de alergia ao hipoclorito de sódio, no tratamento de dentes com polpa necrosada associada à rizogênese incompleta, onde existe grande risco de extravasamento apical da solução química e em casos de micro-organismos resistentes ao tratamento endodôntico e lesões refratárias. Siqueira Júnior et al. (2007) compararam, in vivo, a atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,12% e do hipoclorito de sódio a 2,5% e observaram que estes irrigantes apresentaram eficácia antibacteriana semelhante, indicando que ambos podem ser utilizados como solução irrigadora e que para a escolha do hipoclorito de sódio ou da clorexidina, propriedades como substantividade, capacidade de dissolver matéria orgânica e toxicidade devem ser consideradas. Ohara, Torabinejad e Kettering (1993) e D’Arcangelo, Varvara e De Fazio (1999) demonstraram que a clorexidina a 0,2% foi capaz de eliminar todos os micro-organismos, incluindo E. faecalis, presentes em canais radiculares infectados, discordando com os achados deste presente estudo, onde a clorexidina a 0,2% não foi capaz de eliminar nenhum dos micro-organismos avaliados. Neste trabalho, a clorexidina a 1% foi efetiva contra P. aeruginosa e C. albicans, mas foi ineficaz contra S. aureus e E. faecalis, contradizendo o estudo de Sassone et al. (2003) onde a clorexidina a 1% demonstrou atividade antimicrobiana frente a S. aureus e E. faecalis. Para Estrela et al. (2007) e Lee et al. (2008), há uma crescente preocupação sobre a insuficiente eficácia antibacteriana da clorexidina contra o E. faecalis, até mesmo após um contato prolongado da medicação no interior do canal radicular, corroborando com esta pesquisa, onde a atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em combinação com a instrumentação rotatória não foi efetiva em eliminar o E. faecalis. Entretanto, estudos relataram resultados contraditórios em relação à eficácia da clorexidina a 2% em eliminar o E. faecalis (AYHAN et al., 1999; GOMES et al., 2001; MENEZES et al., 2004; VIANNA et al., 2004; OLIVEIRA et al., 2007; HUTH; QUIRLING; MAIER, 2009; VIANNA; GOMES, 2009; WILLIAMSON; CARDON; DRAKE, 2009). Ruff, McClanahan e Babel (2006) observaram que a clorexidina a 2% foi efetiva em eliminar a C. albicans. Além disso, Huth, Quirling e Maier (2009) relataram que a clorexidina foi efetiva contra C. albicans e P. aeruginosa. O que é consistente com os resultados deste estudo, onde a clorexidina a 2% foi capaz de eliminar a C. albicans e P. aeruginosa. Como o preparo biomecânico é um procedimento de curta duração, supõe-se que a eficácia antimicrobiana da solução irrigadora dependa de sua concentração e do seu tipo. Gomes et al. (2001) e Vianna et al. (2004) demonstraram que a clorexidina a 0,2%, 1% e 2% apresentaram atividade antibacteriana e que, o tempo necessário para a clorexidina a 0,2% produzir culturas negativas foi de 30s e menos de 30s para a clorexidina a 1% e 2%. Contudo, Athanassiadis, Abbot e Walsh (2007) relataram que quando esta substância é utilizada como solução irrigadora, ela permanece pouco tempo no interior dos canais radiculares e não exerce a sua completa ação antibacteriana. Como resultado, um grande número de bactérias viáveis pode persistir dentro dos túbulos dentinários. Como pôde ser observado na presente pesquisa, pois o tempo médio da instrumentação foi de 4,2 ± 1,5min e a clorexidina não exibiu sua completa ação antibacteriana, quando foi aplicada por um período curto de tempo no canal radicular durante a irrigação. O feito residual da clorexidina não foi investigado neste estudo, já que a mesma foi neutralizada pela adição do Tween 80 a 0,5% + lecitina a 0,07%. Concordando com os trabalhos de Ayhan et al. (1999), Sena et al. (2006) e Zehnder (2006), esta pesquisa reforça a importância de se utilizar soluções irrigadoras com atividade antimicrobiana durante o preparo biomecânico, pois no grupo controle positivo, uma solução salina a 0,85% foi utilizada e não demonstrou atividade antimicrobiana. Contudo, Siqueira Júnior et al. (2000) e Berber et al. (2006) observaram que a solução salina foi capaz de remover micro-organismos do canal radicular principal. Diferentes sistemas rotatórios têm sido introduzidos ao arsenal endodôntico. A maioria destes sistemas apresenta uma conicidade regular, contudo o sistema ProTaper Universal possui uma conicidade variável ao longo do comprimento do instrumento (KIM et al., 2008). A utilização de instrumentos rotatórios em NiTi reduziu significantemente o tempo necessário ao preparo biomecânico do sistema de canais radiculares, além de ter apresentado uma menor proporção de desvios da trajetória original do canal radicular quando comparado à instrumentação manual (CÂMARA; AGUIAR; FIGUEIREDO, 2007; AGUIAR; CÂMARA, 2008; SABET; LUTFY, 2008). Contudo, a capacidade destes sistemas em limpar o canal radicular nem sempre é efetiva, especialmente em canais radiculares achatados. Rollison, Barnett e Stevens (2002) relataram que apenas a instrumentação rotatória sem soluções irrigadoras foi ineficaz em remover as bactérias no interior do sistema de canais radiculares. Em concordância com a presente pesquisa, Siqueira Júnior et al.(1999) e Chuste-Guillot et al. (2006) avaliaram, in vitro, a redução de bactérias presentes em canais radiculares infectados após o preparo biomecânico com instrumentos rotatórios e observaram que, apesar de uma extensiva instrumentação e irrigação com soluções antissépticas, micro-organismos podem permanecer no canal radicular, perpetuando a infecção. Neste estudo, a clorexidina a 0,2% em combinação com o ProTaper Universal foi ineficaz contra todos os microorganismos. A clorexidina a 1% foi eficaz em eliminar P. aeruginosa e C. albicans ao final da instrumentação com os instrumentos F1 e F2, respectivamente, mas foi ineficaz contra S. aureus e E. faecalis. A clorexidina a 2% foi efetiva contra S. aureus, P. aeruginosa e C. albicans já no início da instrumentação após a utilização do instrumento S1, mas não foi eficiente para inativar o E. faecalis. Devido às variações anatômicas e com o objetivo de se estandardizar o instrumento apical final, neste trabalho, os canais radiculares foram instrumentados até o instrumento F3 para obter-se o diâmetro apical de 0,30mm, pois de acordo com Khademi, Yazdizadeh e Feizianfard (2006), este é o diâmetro mínimo necessário para que haja a penetração dos irrigantes ao terço apical dos canais radiculares. Estudos devem ser realizados para avaliar se, ao aumentar-se o diâmetro do instrumento apical final, micro-organismos considerados resistentes ao tratamento endodôntico, como E. faecalis, serão completamente eliminados. Com a redução do tempo da instrumentação dos canais radiculares tornada possível com o advento dos sistemas rotatórios, a solução irrigadora de escolha deve ser aquela que exerça a sua atividade antimicrobiana rapidamente contra os microrganismos encontrados no interior dos canais radiculares e túbulos dentinários. Este trabalho se propôs a avaliar, in vitro, a atividade antimicrobiana das soluções de clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal contra alguns micro-organismos comumente encontrados nas infecções endodônticas. Devido à ampla e dinâmica microbiota oral, pesquisas adicionais serão necessárias para avaliar a sua relevância clínica. CONCLUSÕES Baseando-se na metodologia utilizada, pôde-se concluir que: - A clorexidina a 0,2% em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi ineficaz contra todos os micro-organismos avaliados. - A clorexidina a 1% em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi efetiva em eliminar P. aeruginosa e C. albicans, mas foi ineficaz em eliminar S. aureus e E. faecalis. - A clorexidina a 2% em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi eficaz contra S. aureus, P. aeruginosa e C. albicans, mas não foi suficiente para inativar o E. faecalis. REFERÊNCIAS 1. Aguiar CM, Câmara AC. Radiological evaluation of the morphological changes of root canals shaped with ProTaper™ for hand use and the ProTaper™ and RaCe™ rotary instruments. Aust Endod J 2008;34:115-9. 2. Athanassiadis B, Abbot PV, Walsh LJ.The use of calcium hydroxide, antibiotics and biocides as antimicrobial medicaments in endodontics. Aust Dent J 2007;52:S64-82. 3. Ayhan H, Sultan N, Çirak M, Ruhi MZ, Bodur H. Antimicrobial effects of various endodontic irrigants on selected microorganisms. Int Endod J 1999;32:99-102. 4. Berber VB, Gomes BPFA, Sena NT, Vianna ME, Ferraz CCR, Zaia AA, Souza-Filho FJ. Efficacy of various concentrations of NaOCl and instrumentation techniques in reducing Enterococcus faecalis within root canals and dentinal tubules. Int Endod J 2006;39:10-7. 5. Bowden JR, Ethunandan M, Brennan PA. Life-threatening airway obstruction secondary to hypochlorite extrusion during root canal treatment. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2006;101:402-4. 6. Câmara AC, Aguiar CM, Figueiredo JAP de. Assessment of the deviation after biomechanical preparation of the coronal, middle, and apical thirds of root canals instrumented with three Hero rotary systems. J Endod 2007;33:1460-3. 7. Câmara AC, Albuquerque MM de, Aguiar CA, Correia ACR de B. In Vitro Antimicrobial Activity of 0.5%, 1%, and 2.5% sodium hypochlorite in Root Canals Instrumented with the ProTaper Universal™ System. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2009;108:e55-61. 8. Chuste-Guillot MP, Badet C, Peli JF, Perez F. Effect of three nickel-titanium rotary file techniques on infected root dentin reduction. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2006;102:254-8. 9. D’Arcangelo C, Varvara G, Fazio P de. An evaluation of the action of different root canal irrigants on facultative aerobic-anaerobic, obligate anaerobic, and microaerophilic bacteria. J Endod 1999;25:351-3. 10. El Karim I, Kennedy J, Hussey D. The antimicrobial effects of root canal irrigation and medication. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2007;103:560-9. 11. Estrela C, Estrela CRA, Dercucio DA, Hollanda ACB, Silva JA. Antimicrobial efficacy of ozonated water, gaseous ozone, sodium hypochlorite and chlorhexidine in infected human root canals. Int Endod J 2007;40:85-93. 12. Gomes BPFA, Ferraz CCR, Vianna ME, Berber VB, Teixeira FB, Souza-Filho FJ. In vitro antimicrobial activity of several concentrations of sodium hypochlorite and chlorhexidine gluconate in the elimination of Enterococcus faecalis. Int Endod J 2001;34:424-8. 13. Huth KC, Quirling M, Maier S, Kamereck K, Alkhayer M, Paschos E et al. Effectiveness of ozone against endodontopathogenic microorganisms in a root canal biofilm model. Int Endod J 2009;42:3-13. 14. Khademi A, Yazdizadeh M, Feizianfard M. Determination of the minimum instrumentation size for penetration of irrigants to the apical third of root canal systems. J Endod 2006;32:417-20. 15. Kim HC, Cheung GSP, Lee CJ, Kim BM, Park JK, Kang SI. Comparison of forces generated during root canal shaping and residual stresses of three nickel–titanium rotary files by using a three-dimensional finite-element analysis. J Endod 2008;34:743-7. 16. Kishen A, Sum CP, Mathew S, Lim CT. Influence of irrigation regimens on the adherence of Enterococcus faecalis to root canal dentin. J Endod 2008;34:850-4. 17. Krautheim AB, Jermann THM, Bircher AJ. Chlorhexidine anaphylaxis: case report and review of the literature. Contact Dermatitis 2004;50:113-6. 18. Kummer TR, Calvo MC, Cordeiro MMR, Vieira R de S, Rocha, MJ de C. Ex vivo study of manual and rotary instrumentation techniques in human primary teeth. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008;105:e84-92. 19. Lee Y, Han SH, Hong SH, Lee JK, Ji H, Kum KY. Antimicrobial efficacy of a polymeric chlorhexidine release device using in vitro model of Enterococcus faecalis dentinal tubule infection. J Endod 2008;34:855-8. 20. Lee JK, Baik JE, Yun CH, Lee K, Han SH, Lee W et al. Chlorhexidine gluconate attenuates the ability of lipoteichoic acid from Enterococcus faecalis to stimulate toll-like receptor 2. J Endod 2009;35:212-5. 21. Menezes MM, Valera MC, Jorge AOC, Koga-Ito CY, Camargo CHR, Mancini MNG. In vitro evaluation of the effectiveness of irrigants and intracanal medicaments on microorganisms within root canals. Int Endod J 2004;37:3119. 22. Mercade M, Duran-Sindreu F, Kuttler S, Roig M, Durany N. Antimicrobial efficacy of 4.2% sodium hypochlorite adjusted to pH 12, 7.5, and 6.5 in infected human root canals. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2009;107:295-8. 23. Naenni N, Thoma K, Zehnder M. Soft tissue dissolution capacity of currently used and potencial irrigants. J Endod 2002;30:785-7. 24. Ohara P, Torabinejad M, Kettenring JD. Antibacterial effects of various endodontic irrigants on selected anaerobic bacteria. Endod Dent Traumatol 1993;9:95-100. 25. Oliveira DP, Barbizam JVB, Trope M, Teixeira FB. In vitro antibacterial efficacy of endodontic irrigants against Enterococcus faecalis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2007;103:702-6. 26. Pelka M, Petschelt A. Permanent mimic musculature and nerve damage caused by sodium hypochlorite: a case report. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008;106:e80-3. 27. Rollison S, Barnett F, Stevens RH. Efficacy of bacterial removal from instrumented root canal in vitro related to instrumentation technique and size. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2002;94:366-71. 28. Ruff ML, McClanahan SB, Babel BS. In vitro antifungal efficacy of four irrigants as a final rinse. J Endod 2006;32:331-3. 29. Sassone LM, Fidel R, Fidel S, Vieira M, Hirata Júnior R. The influence of organic load on the antimicrobial activity of different concentrations of NaOCl and chlorhexidine in vitro. Int Endod J 2003;36: 848-52. 30. Sassone LM, Fidel RAS, Murad CF, Fidel SR, Hirata Júnior R. Antimicrobial activity of sodium hypochlorite and chlorhexidine by two different tests. Aust Endod J 2008;34:19-24. 31. Schirrmeister JF, Liebenow AL, Pelz K, Wittmer A, Serr A, Hellwig E et al. New bacterial compositions in root-filled teeth with periradicular lesions. J Endod 2009;35:169-74. 32. Sena NT, Gomes BPFA, Vianna ME, Berber VB, Zaia AA, Ferraz CCR, Souza-Filho FJ. In vitro antimicrobial activity of sodium hypochlorite and chlorhexidine against selected single-species biofilms. Int Endod J 2006;39:878-85. 33. Siqueira Júnior JF, Lima KC, Magalhães FAC, Lopes HP, Uzeda M de. Mechanical reduction of the bacterial population in the root canal by three instrumentation techniques. J Endod 1999;25:332-5. 34. Siqueira Júnior JF, Rôças IN, Favieri A, Lima KC. Chemomechanical reduction of the bacterial population in the root canal after instrumentation and irrigation with 1%, 2.5%, and 5.25% sodium hypochlorite. J Endod 2000;26:331-4. 35. Siqueira Júnior JF. Endodontic infections: concepts, paradigms, and perspectives. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2002;94:28193. 36. Siqueira Júnior JF, Rôças IN, Paiva SSM, Guimarães-Pinto T, Magalhães KM, Lima KC. Bacteriologic investigation of the effects of sodium hypochlorite and chlorhexidine during the endodontic treatment of teeth with apical periodontitis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2007;104:122-30. 37. Siqueira Júnior JF, Rôças IN. Clinical implications and microbiology of bacterial persistence after treatment procedures. J Endod 2008;34:1291-1301. 38. Sunde PT, Olsen I, Debelian GJ, Tronstad L. Microbiota of periapical lesions refractory to endodontic therapy. J Endod 2002;28:304-10. 39. Sundqvist G. Ecology of the root canal flora. J Endod 1992;18:427-30. 40. Turk BT, Ates M, Sen BH. The effect of treatment of radicular dentin on colonization patterns of C. albicans. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008;106:457-62. 41. Vianna ME, Gomes BPFA, Berber VB, Zaia, AA, Ferraz CCR, Souza-Filho FJ de. In vitro evaluation of the antimicrobial activity of chlorhexidine and sodium hypochlorite. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2004;97:7984. 42. Vianna ME, Gomes BPFA. Efficacy of sodium hypochlorite combined with chlorhexidine against Enterococcus faecalis in vitro. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2009;107:585-9. 43. Williamson AE, Cardon JW, Drake DR. Antimicrobial susceptibility of monoculture biofilms of a clinical isolate of Enterococcus faecalis. J Endod 2009;35:95-7. 44. Zehnder M. Root canal irrigants. J Endod 2006;32:389-98. ARTIGO 4 8 ARTIGO 4 Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana de soluções irrigadoras em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal Artigo enviado para publicação no periódico: Journal of Endodontics Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana de soluções irrigadoras em combinação com a instrumentação rotatória A C Câmara; M M de Albuquerque; C M Aguiar; A C R de B Correia Andréa Cruz Câmara 1, Miracy Muniz de Albuquerque2, Carlos Menezes Aguiar3, Ana Cristina Regis de Barros Correia4 1 Aluna do Curso de Doutorado em Ciências Farmacêuticas do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco. 2 Professora Doutora Associado do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco. Coordenadora do Núcleo de Controle de Qualidade de Medicamentos e Correlatos da Universidade Federal de Pernambuco. 3 Professor Doutor Associado do Departamento de Prótese e Cirurgia Buco-Facial da Universidade Federal de Pernambuco. 4 Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco. Endereço para Correspondência: Andréa Cruz Câmara, Rua Nadir de Medeiros, 51, Piedade, Jaboatão dos Guararapes-PE, CEP: 54410-110. Telefone: (81) 3361 5269. E-mail: [email protected] Este estudo foi financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES - Brasil. Resumo A presente pesquisa se propôs a avaliar, in vitro, a atividade antimicrobiana das soluções à base de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5% e de clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal. Oitenta pré-molares inferiores humanos unirradiculares foram infectados com um pool microbiano constituído por Candida albicans, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis e Staphylococcus aureus. Os espécimes foram aleatoriamente divididos de acordo com a solução irrigadora utilizada em 8 grupos contendo 10 canais radiculares cada. Todos os canais radiculares foram instrumentados com o sistema ProTaper Universal até o instrumento F3. A avaliação da atividade antimicrobiana das soluções irrigadoras foi realizada antes e após do preparo biomecânico. O hipoclorito de sódio, em todas as concentrações analisadas, em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal, foi efetivo em eliminar todos os micro-organismos avaliados. A clorexidina a 0,2% foi ineficaz contra todos os micro-organismos. A clorexidina a 1% foi ineficaz em eliminar S. aureus e E. faecalis. A clorexidina a 2% não foi eficiente para inativar o E. faecalis. Palavras-chave: atividade antimicrobiana, clorexidina, ProTaper Universal, soluções irrigadoras. hipoclorito de sódio, Introdução Os micro-organismos desempenham um importante papel na etiologia e manutenção das patologias que acometem a polpa e a região periapical (KAKEHASHI; STANLEY; FITZGERALD, 1965; SIQUEIRA JÚNIOR et al., 2000) e o controle e a eliminação dos mesmos, ocorre por meio da ação mecânica dos instrumentos endodônticos e das propriedades físico-químicas e antimicrobianas das soluções irrigadoras (BARATO-FILHO et al., 2004; SIQUEIRA JÚNIOR et al., 2007; SIQUEIRA JÚNIOR; RÔÇAS, 2008). Embora, ao longo dos anos, várias soluções irrigadoras tenham sido propostas, o hipoclorito de sódio continua a ser a solução irrigadora mais amplamente utilizada (SIQUEIRA JÚNIOR; RÔÇAS, 2008). O hipoclorito de sódio possui uma potente ação antimicrobiana e tem uma excelente capacidade de dissolver material orgânico (SENA et al., 2006). Contudo, é extremamente irritante aos tecidos periapicais, especialmente em concentrações elevadas (SERPER; ÖZBEK; ÇALT, 2004; BOWDEN; ETHUNANDAN; BRENNAN, 2006; PELKA; PETSCHELT, 2008). Reações alérgicas e os efeitos adversos associados ao uso de soluções de hipoclorito de sódio com elevadas concentrações levaram à utilização de substâncias com comprovada atividade antimicrobiana e baixa toxicidade, como a clorexidina. A clorexidina vem sendo utilizada na Endodontia como solução irrigadora e medicação intracanal devido ao seu amplo espectro antimicrobiano (VIANNA; GOMES, 2009), substantividade (LEE et al., 2008; LEE et al., 2009), baixa citotoxicidade (WILLIAMSON; CARDON; DRAKE, 2009) e habilidade em inibir a aderência de algumas bactérias (ATHANASSIADIS; ABBOT; WALSH, 2007; KISHEN et al., 2008). Durante a fase do preparo biomecânico do sistema de canais radiculares, a modelagem, o alargamento e a limpeza do terço apical tem desempenhado um papel fundamental para a obtenção do sucesso na terapêutica endodôntica. Khademi, Yazdizadeh e Feizianfard (2006) demonstraram que para se obter a penetração das soluções irrigadoras de modo eficaz no terço apical do canal radicular, o mesmo deveria ser alargado, no mínimo, com uma lima de calibre 30 ou equivalente. Seguindo esta mesma linha filosófica, Mickel et al. (2007) demonstraram, também, que nos alargamentos apicais realizados com limas de grandes calibres há uma maior redução de micro-organismos na região apical. Os sistemas rotatórios em NiTi reduzem o tempo necessário para o preparo biomecânico, bem como diminuem as falhas relativas à instrumentação (CÂMARA; AGUIAR; FIGUEIREDO, 2007; AGUIAR; CÂMARA, 2008). Desde à sua introdução, diferentes sistemas rotatórios em NiTi foram acrescentados ao arsenal dos instrumentos endodônticos. O mesmo fabricante pode produzir vários modelos tentando melhorar o desempenho destes sistemas. Dentre eles, destacamos o sistema ProTaper Universal. O preparo biomecânico do sistema de canais radiculares realizado com instrumentos rotatórios é mais rápido quando comparado com a instrumentação manual (KUMMER et al., 2008), consequentemente, a solução irrigadora permanece menos tempo no interior do canal radicular. A solução irrigadora de eleição deve ser aquela que seja capaz de exercer sua atividade antimicrobiana rapidamente contra os micro-organismos encontrados no interior do sistema de canais radiculares e túbulos dentinários. Portanto, diante do exposto, a presente pesquisa se propôs a avaliar, in vitro, a atividade antimicrobiana das soluções à base de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5% e de clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares instrumentados com o sistema ProTaper Universal. Metodologia Realização da Pesquisa Este trabalho foi realizado no Núcleo de Controle e Qualidade de Medicamentos e Correlatos, laboratório credenciado pela ANVISA - ANALI 051, do Departamento de Ciências Farmacêuticas, do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal de Pernambuco. Ressaltamos também, que todos os equipamentos utilizados nesta pesquisa apresentam certificado de calibração. Amostras Foram selecionados, aleatoriamente, 80 pré-molares inferiores humanos unirradiculares, confirmados radiograficamente, retos, com o comprimento variando entre 20 e 21mm, com processo de rizogênese concluído, extraídos por razões ortodônticas de pacientes com idade entre 16 e 18 anos, obtidos do Banco de Dentes do Departamento de Prótese e Cirurgia Buco-Facial da Universidade Federal de Pernambuco, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, sob parecer n o 188/2006 e registro do SISNEP FR-102287 (ANEXO A). Os elementos dentários foram armazenados, até o momento do uso, em recipientes de vidro contendo formol a 10% (Limed, Camaragibe, Brasil), em quantidade suficiente para submergir as raízes. Em seguida, foram lavados em água corrente por 5min e desinfectados por 3min em solução manipulada à base de hipoclorito de sódio a 1% e deixados secar à temperatura ambiente. Preparo dos Espécimes Os elementos dentários selecionados foram numerados e sorteados aleatoriamente de 1 a 80, sendo realizada a abertura coronária com broca esférica diamantada de haste longa, número 1016 (KG Sorensen, São Paulo, Brasil) acoplada a uma caneta de alta rotação e a divergência das paredes circundantes com a broca Endo-Z (Maillefer, Ballaigues, Suíça). Para se realizar uma padronização da instrumentação dos canais radiculares em 1mm aquém do forâmen apical, uma lima tipo K 10# (Maillefer, Ballaigues, Suíça) foi introduzida no canal radicular até que a sua extremidade ultrapassasse 1mm do forâmen apical e, em seguida, recuou-se 2mm. Os espécimes foram acondicionados em tubos de ensaio individualizados e levados para esterilização em autoclave (Fabbe-Primar LTDA., São Paulo, Brasil) a 121ºC por 30min. Dez espécimes escolhidos aleatoriamente foram transferidos para o meio de cultura Brain Heart Infusion (BHI, Acumedia®, Lansing, EUA) e incubados em estufa bacteriológica (Tecnal, São Paulo, Brasil) a 35 2ºC por 96h, com o objetivo de se avaliar a esterilidade dos espécimes. Preparo do Sistema Experimental Frascos de vidro com tampa de borracha foram utilizados nesta pesquisa, de acordo com a metodologia descrita por Câmara et al. (2009). Estes sistemas experimentais foram esterilizados em autoclave a 121ºC por 30min e, em seguida, foram armazenados em estufa (Fanem LTDA.,São Paulo, Brasil) a 40ºC até a completa secagem. Posteriormente, em uma câmara de fluxo laminar (Veco, Piracicaba, Brasil), foram preenchidos com o meio de cultura BHI, de modo que a raiz ficasse imersa neste meio de cultura e selados hermeticamente com o objetivo de se evitar a contaminação por agentes externos. Em seguida, os sistemas experimentais foram incubados a 35 2ºC por 96h para se verificar a esterilidade. Após este período, nenhuma contaminação foi observada. Micro-organismos Indicadores O painel de micro-organismos indicadores foi constituído por uma linhagem de levedura: Candida albicans (ATCC 10231) e três linhagens de bactérias: Pseudomonas aeruginosa (ATCC 9027), Enterococcus faecalis (ATCC 19433) e Staphylococcus aureus (ATCC 6538) comumente encontradas nas infecções endodônticas obtidas do NEWPROV Produtos para Laboratórios (Paraná, Brasil). Preparo do Pool Microbiano e Contaminação dos Canais Radiculares Os seguintes procedimentos foram realizados em uma câmara de fluxo laminar (Veco, Piracicaba, Brasil) utilizando-se materiais e instrumentais esterilizados. Neste trabalho foi utilizada uma solução salina estéril (NaCl 0,85%) na qual foram adicionadas as linhagens bacterianas específicas (Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis e Staphylococcus aureus) de acordo com a Escala de McFarland na concentração aproximada de 3x10 8 UFC por mL (concentração salivar) e, em uma concentração maior de 3x109 UFC por mL, uma linhagem de levedura (Candida albicans). A partir de cada suspensão microbiana, 1mL foi removido e uma mistura com os 4 micro-organismos foi preparada. Em seguida, o sistema experimental foi aberto e os canais radiculares foram infectados, exceto o controle negativo, com 10L da suspensão utilizando uma micropipeta automática (Gilson, Villiera-le-Bel, França) introduzida no canal radicular de cada elemento dentário. Após a introdução dos micro-organismos, limas esterilizadas tipo K 10# (Maillefer, Ballaigues, Suíça), demarcadas no CRT, foram utilizadas para levar a suspensão microbiana para o interior do canal radicular. Para se testar a efetividade da contaminação, o sistema foi incubado em estufa biológica a 35 2ºC por 48h. A turbidez do meio durante o período de incubação foi indicativa de crescimento microbiano. Posteriormente, o isolamento e a identificação dos micro-organismos foram realizados. A pureza e a identificação das culturas foram confirmadas pela morfologia das colônias e o crescimento em placas de Petri com os meios de cultura: Cetrimida (Acumedia®, Lansing, EUA): para verificar a presença de P. aeruginosa, Vogel Johnson (Acumedia®, Lansing, EUA): para verificar a presença de S. aureus, Ágar Sabouraud (Acumedia®, Lansing, EUA): para verificar a presença de C. albicans, Ágar Seletivo para Candida de acordo com Nickerson (Merck, Darmstadt, Alemanha): para verificar a presença de C. albicans, Ágar Sangue (Newprov, Paraná, Brasil): para verificar a atividade hemolítica, e Ágar Chromocult para Enterococcus (Merck, Darmstadt, Alemanha): para verificar a presença de E. faecalis. Se não houvesse a detecção dos 4 micro-organismos, o sistema seria descartado. A eficiência deste método de infecção dos canais radiculares foi observada em um estudo piloto prévio. Os ensaios foram conduzidos em triplicata em condições assépticas para garantir a fidedignidade desta pesquisa. Preparo Biomecânico dos Canais Radiculares Para a irrigação dos canais radiculares foram utilizadas soluções à base de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2% e de clorexidina a 0,2%, 1% e 2% recém manipuladas (Farmácia Escola Carlos Dumont de Andrade, Recife, Brasil). Os espécimes contaminados foram removidos dos sistemas experimentais e transferidos para outros frascos de vidro sem meio de cultura, com a finalidade de que os elementos dentários permanecessem fixos para o início da instrumentação. Os elementos dentários foram divididos aleatoriamente em 8 grupos com dez espécimes de acordo com a solução irrigadora utilizada durante o preparo biomecânico: GRUPO 1: Solução de hipoclorito de sódio a 0,5%. GRUPO 2: Solução de hipoclorito de sódio a 1%. GRUPO 3: Solução de hipoclorito de sódio a 2,5%. GRUPO 4: Solução de clorexidina a 0,2%. GRUPO 5: Solução de clorexidina a 1%. GRUPO 6: Solução de clorexidina a 2%. GRUPO 7 (Controle positivo): Solução Salina estéril (NaCl 0,85%). GRUPO 8 (Controle negativo-sem micro-organismos): Solução Salina estéril (NaCl 0,85%). Para os oito grupos, o comprimento real de trabalho (CRT) foi padronizado em 1mm aquém do ápice radiográfico. Para a irrigação dos canais radiculares foi utilizado o sistema seringa FCF (FCF, São Paulo, Brasil) de 3mL com agulha 30G (Injecta, Diadema, Brasil). A irrigação foi realizada no início da instrumentação, entre as trocas dos instrumentos e ao final do preparo biomecânico, utilizando-se 5mL da solução em cada uma das etapas. Todos os canais radiculares foram instrumentados com o sistema ProTaper Universal utilizando um contra-ângulo de baixa rotação (Daby Atlante, Ribeirão Preto, Brasil) acoplado a um motor elétrico (Driller Endo-Pro, São Paulo, Brasil) a uma velocidade constante de 300rpm. Inicialmente, o instrumento SX foi introduzido no terço cervical, posteriormente a lima S1 foi utilizada em 4mm aquém do CRT, em seguida os instrumentos S1 e S2 foram introduzidos no CRT e, por último, utilizou-se as limas F1, F2 e F3 no CRT. A instrumentação dos canais radiculares foi realizada por um único operador. Após o preparo biomecânico e antes da coleta do material do canal radicular, nos grupos 1, 2 e 3, foi realizada uma irrigação com Tiosulfato de Sódio a 5% para neutralizar o hipoclorito de sódio. Nos grupos 4, 5 e 6, foi realizada uma irrigação com Tween 80 a 0,5% + lecitina a 0,07% para neutralizar a clorexidina. O tempo do preparo biomecânico foi gravado, excluindo o tempo gasto para a coleta de material do interior do canal radicular. Avaliação da Ação Antimicrobiana das Soluções Irrigadoras Para se avaliar a ação antimicrobiana das soluções irrigadoras, pontas de papel absorvente estéreis, demarcadas no CRT e compatíveis com o canal radicular, foram introduzidas no interior do canal radicular, objetivando a coleta do material. Cada ponta de papel absorvente foi depositada no interior do canal radicular por 1min da seguinte forma: 0-inicial (antes do preparo biomecânico), 1- após instrumentação com o F3. As pontas de papel absorvente foram transferidas para placas de Petri com os meios de cultura: Cetrimida, Vogel Johnson, Ágar Sabouraud, Ágar Seletivo para Candida de acordo com Nickerson, Ágar Sangue e Ágar Chromocult para Enterococcus. As placas de Petri foram incubadas a 35 2ºC por 48h. Após este período, foram avaliadas a presença ou ausência de crescimento microbiano com o auxílio de um Estereomicroscópio (Stemi 2000-C, Zeiss, São Paulo, Brasil) com 10X de magnificação. Destino dos Elementos Dentários Após o término do experimento, os elementos dentários foram esterilizados em autoclave a 121ºC durante 30min e devolvidos ao Banco de Dentes do Departamento de Prótese e Cirurgia Buco-Facial da Universidade Federal de Pernambuco. Análise Estatística Para análise dos dados foram obtidas distribuições absolutas e percentuais (Técnicas de estatística descritiva). O teste Exato de Fisher foi utilizado adotando-se o nível de significância de 0,05. Os dados foram digitados na planilha Excel e o software utilizado para a obtenção dos cálculos Estatísticos foi o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na versão 13. Resultados Ação Antimicrobiana das Soluções Irrigadoras O crescimento microbiano foi observado em todas as amostras iniciais, com exceção do controle negativo, demonstrando, desta forma, que a contaminação foi efetiva em todos os canais radiculares de todos os grupos. Todos os controles positivos mostraram crescimento microbiano, enquanto que os controles negativos não mostraram crescimento antes e após o preparo biomecânico com o sistema ProTaper Universal. A eficácia antimicrobiana das soluções irrigadoras frente ao S. aureus, P. aeruginosa, C. albicans e E. faecalis está demonstrada nas Tabelas 1 e 2, respectivamente. O hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2%, em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi semelhantemente efetivo e permitiu a completa eliminação dos micro-organismos (Figura 1). Não houve diferença estatisticamente significante (p=1,000) entre as soluções irrigadoras avaliadas (Tabela 1). Figura 1. Ausência de crescimento microbiano após o preparo biomecânico com o sistema ProTaper Universal e irrigação com hipoclorito de sódio a 1%. Tabela 1. Eficácia antimicrobiana das soluções de hipoclorito de sódio a 0,5%, 1% e 2,5% em combinação com a instrumentação rotatória com o ProTaper Universal. Micro-organismo 0,5% 1,0% 2,5% Valor de (1) p Total n % n % n % n % 10 100,0 10 100,0 10 100,0 30 100,0 Total 10 100,0 10 100,0 10 100,0 30 100,0 P. aeruginosa Positivo Negativo 10 100,0 10 100,0 10 100,0 30 100,0 Total 10 100,0 10 100,0 10 100,0 30 100,0 10 100,0 10 100,0 10 100,0 30 100,0 10 100,0 10 100,0 10 100,0 30 100,0 10 100,0 10 100,0 10 100,0 30 100,0 10 100,0 10 100,0 10 100,0 30 100,0 S. aureus Positivo Negativo C. albicans Positivo Negativo Total E. faecalis Positivo Negativo Total ** ** ** ** n=número de espécimes; (1): Através do teste Exato de Fisher. (**): Não foi possível determinar devido à ausência de uma das categorias. A Tabela 2 demonstra que, a frequência de amostras positivas após a instrumentação com o ProTaper Universal e irrigação com a clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em canais radiculares infectados com S. aureus, P. aeruginosa e C. albicans variou de 0 a 2. Com exceção para o E. faecalis, que na clorexidina a 0,2%, as amostras positivas foram iguais a 7, na concentração de 1%, foi igual a 5 e, na concentração de 2%, foi igual 1. Houve diferenças estatisticamente significantes (p = 0.035) entre as concentrações da clorexidina. Tabela 2. Eficácia antimicrobiana das soluções de clorexidina a 0,2%, 1%, e 2% em combinação com a instrumentação rotatória com o ProTaper Universal. Micro-organismo S. aureus Positivo Negativo Total P. aeruginosa Positivo Negativo Total C. albicans Positivo Negativo Total E. faecalis Positivo Negativo Total 0,2% 1,0% 2,0% Valor de P(1) Total n % n % n % n % 2 8 20,0 80,0 1 9 10,0 90,0 10 100,0 3 27 10,0 90,0 10 100,0 10 100,0 10 100,0 30 100,0 1 9 10,0 90,0 10 100,0 10 100,0 1 29 3,3 96,7 10 100,0 10 100,0 10 100,0 30 100,0 1 9 10,0 90,0 10 100,0 10 100,0 1 29 3,3 96,7 10 100,0 10 100,0 10 100,0 30 100,0 7 3 70,0 30,0 5 5 50,0 50,0 1 9 10,0 90,0 13 17 43,3 56,7 10 100,0 10 100,0 10 100,0 30 100,0 p(1) = 0,329 (1) p = 1,000 p(1) = 1,000 (1) p = 0,035* n=número de espécimes; (*): Diferença significante a 5,0%; (1): Através do teste Exato de Fisher. Discussão Várias metodologias podem ser utilizadas para avaliação da atividade antimicrobiana das soluções irrigadoras (MENEZES et al., 2004; BERBER et al., 2006; SENA et al., 2006; CÂMARA et al., 2009). A metodologia utilizada nesta pesquisa para a contaminação dos canais radiculares mostrou-se adequada, pois após o período de 48h de incubação, todas as amostras iniciais, com exceção do grupo controle negativo, demonstraram crescimento microbiano. Diferentes métodos são empregados para a coleta de micro-organismos no interior dos canais radiculares. Por ser um método simples, efetivo e que pode ser aplicado em pesquisas in vitro e in vivo, neste estudo e de acordo com os trabalhos de Menezes et al. (2004), Câmara et al. (2009) e Mercade et al. (2009), os microorganismos foram coletados dentro dos canais radiculares com pontas de papel absorvente, antes, durante e após o preparo biomecânico com o sistema ProTaper Universal. Os micro-organismos desempenham um papel fundamental na etiologia e na manutenção das infecções endodônticas (KAKEHASHI; STANLEY; FITZGERALD, 1965; SIQUEIRA JÚNIOR et al., 2000). Os patógenos utilizados neste estudo foram selecionados devido à sua importância clínica e associação com as infecções endodônticas (SUNDE et al., 2002). Micro-organismos como o E. faecalis e C. albicans têm sido relatados como sendo de interesse especial nos casos de lesões perirradiculares persistentes (RUFF; MCCLANAHAN; BABEL, 2006; SCHIRRMEISTER et al., 2009). O S. aureus e a P. aeruginosa também têm sido associados com infecções persistentes (SIQUEIRA JÚNIOR; RÔÇAS, 2008; HUTH; QUIRLING; MAIER, 2009). Kozol et al. (1988) avaliaram os efeitos tóxicos do NaOCl e observaram que o hipoclorito de sódio a 0,025% é uma concentração segura para o uso clínico, capaz de manter a atividade antimicrobiana sem efeitos nocivos aos tecidos periapicais, corroborando com o presente estudo e com Siqueira Júnior et al. (2000) e Sassone et al. (2008), onde foi observado que, mesmo em baixas concentrações, as soluções de hipoclorito de sódio apresentaram atividade antimicrobiana contra microorganismos resistentes ao tratamento endodôntico como E. faecalis, C. albicans, S. aureus e P. aeruginosa. Por outro lado, alguns autores relataram que bactérias como E. faecalis são resistentes ao hipoclorito de sódio em baixas concentrações, mas sensíveis a concentrações acima de 5,25% (OLIVEIRA et al., 2007; HUTH et al., 2009; WILLIAMSON; CARDON; DRAKE, 2009). Devido às variações anatômicas e com o objetivo de se estandardizar o instrumento apical final, neste trabalho, os canais radiculares foram instrumentados até o instrumento F3 para obter-se o diâmetro apical de 0,30mm, pois de acordo com Khademi, Yazdizadeh e Feizianfard (2006), este é o diâmetro mínimo necessário para que haja a penetração dos irrigantes ao terço apical dos canais radiculares. Apesar de ser necessário um preparo apical mínimo, não podemos utilizar esse conceito como dogma, pois a dilatação excessiva poderá não ser aplicada, devendo sempre estar baseada em parâmetros clínicos (MICKEL et al., 2007). Para Estrela et al. (2007) e Lee et al. (2008), há uma crescente preocupação sobre a insuficiente eficácia antibacteriana da clorexidina contra o E. faecalis, até mesmo após um contato prolongado da medicação no interior do canal radicular, corroborando com esta pesquisa, onde a atividade antimicrobiana da clorexidina a 0,2%, 1% e 2% em combinação com a instrumentação rotatória não foi efetiva em eliminar o E. faecalis. Entretanto, estudos relataram resultados contraditórios em relação à eficácia da clorexidina a 2% em eliminar o E. faecalis (MENEZES et al., 2004; VIANNA et al., 2004; OLIVEIRA et al., 2007; HUTH; QUIRLING; MAIER, 2009; VIANNA; GOMES, 2009; WILLIAMSON; CARDON; DRAKE, 2009). Estudos devem ser realizados para avaliar se, ao aumentar-se o diâmetro do instrumento apical final, micro-organismos considerados resistentes ao tratamento endodôntico, como E. faecalis, serão completamente eliminados. A utilização de instrumentos rotatórios em NiTi reduziu significantemente o tempo necessário ao preparo biomecânico do sistema de canais radiculares, além de ter apresentado uma menor proporção de desvios da trajetória original do canal radicular quando comparado à instrumentação manual (CÂMARA; AGUIAR; FIGUEIREDO, 2007; AGUIAR; CÂMARA, 2008). Contudo, a capacidade destes sistemas em limpar o canal radicular nem sempre é efetiva, especialmente em canais radiculares achatados. Rollison, Barnett e Stevens (2002) relataram que apenas a instrumentação rotatória sem soluções irrigadoras foi ineficaz em remover as bactérias no interior do sistema de canais radiculares. Em concordância com a presente pesquisa, Siqueira Júnior et al.(1999) e Chuste-Guillot et al. (2006) avaliaram, in vitro, a redução de bactérias presentes em canais radiculares infectados após o preparo biomecânico com instrumentos rotatórios e observaram que, apesar de uma extensiva instrumentação e irrigação com soluções antissépticas, micro-organismos podem permanecer no canal radicular, perpetuando a infecção. Todavia, Câmara et al. (2009) reportaram que a instrumentação rotatória, em combinação com a irrigação com hipoclorito de sódio a 0.5%, 1% e 2%, foi efetiva em eliminar micro-organismos presentes no interior do sistema de canais radiculares. Diante das condições testadas e dentro das limitações deste estudo in vitro, pôde-se concluir que o hipoclorito de sódio, em todas as concentrações avaliadas, e em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi eficaz na eliminação de todos micro-organismos. A clorexidina a 0,2% foi inefIcaz contra todos os patógenos avaliados. A clorexidina a 1% foi eficaz em eliminar P. aeruginosa e C. albicans, contudo foi ineficaz contra S. aureus e E. faecalis. A clorexidina a 2% foi efetiva contra S. aureus, P. aeruginosa e C. albicans, mas não foi eficiente para inativar o E. faecalis. Referências 1. Aguiar CM, Câmara AC. Radiological evaluation of the morphological changes of root canals shaped with ProTaper™ for hand use and the ProTaper™ and RaCe™ rotary instruments. Aust Endod J 2008;34:115-9. 2. Athanassiadis B, Abbot PV, Walsh LJ.The use of calcium hydroxide, antibiotics and biocides as antimicrobial medicaments in endodontics. Aust Dent J 2007;52:S64-82. 3. Barato-Filho F, Carvalho Júnior JR de, Fariniuk LF, Sousa-Neto MD, Pécora JD, Cruz-Filho AM da. Morphometric analysis of the effectiveness of different concentrations of sodium hypochlorite associated with rotary instrumentation for root canal cleaning. Braz Dent J 2004;15:36-40. 4. Berber VB, Gomes BPFA, Sena NT, Vianna ME, Ferraz CCR, Zaia AA, Souza-Filho FJ. Efficacy of various concentrations of NaOCl and instrumentation techniques in reducing Enterococcus faecalis within root canals and dentinal tubules. Int Endod J 2006;39:10-7. 5. Bowden JR, Ethunandan M, Brennan PA. Life-threatening airway obstruction secondary to hypochlorite extrusion during root canal treatment. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2006;101:402-4. 6. Câmara AC, Aguiar CM, Figueiredo JAP de. Assessment of the deviation after biomechanical preparation of the coronal, middle, and apical thirds of root canals instrumented with three Hero rotary systems. J Endod 2007;33:1460-3. 7. Câmara AC, Albuquerque MM de, Aguiar CA, Correia ACR de B. In Vitro Antimicrobial Activity of 0.5%, 1%, and 2.5% sodium hypochlorite in Root Canals Instrumented with the ProTaper Universal™ System. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2009;108:e55-61. 8. Chuste-Guillot MP, Badet C, Peli JF, Perez F. Effect of three nickel-titanium rotary file techniques on infected root dentin reduction. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2006;102:254-8. 9. Estrela C, Estrela CRA, Dercucio DA, Hollanda ACB, Silva JA. Antimicrobial efficacy of ozonated water, gaseous ozone, sodium hypochlorite and chlorhexidine in infected human root canals. Int Endod J 2007;40:85-93. 10. Huth KC, Quirling M, Maier S, Kamereck K, Alkhayer M, Paschos E et al. Effectiveness of ozone against endodontopathogenic microorganisms in a root canal biofilm model. Int Endod J 2009;42:3-13. 11. Khademi A, Yazdizadeh M, Feizianfard M. Determination of the minimum instrumentation size for penetration of irrigants to the apical third of root canal systems. J Endod 2006;32:417-20. 12. Kakehashi S, Stanley HR, Fitzgerald RJ. The effects of surgical exposures of dental pulps in germ-free and conventional laboratory rats. Oral Surg 1965;20:340-9. 13. Kishen A, Sum CP, Mathew S, Lim CT. Influence of irrigation regimens on the adherence of Enterococcus faecalis to root canal dentin. J Endod 2008;34:850-4. 14. Kozol RA, Gillies C, Elgebaly AS. Effects of sodium hypochlorite (Dakin’s solution) on cells of the wound module. Arch Surg 1988;123:420-3. 15. Kummer TR, Calvo MC, Cordeiro MMR, Vieira R de S, Rocha, MJ de C. Ex vivo study of manual and rotary instrumentation techniques in human primary teeth. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008;105:e84-92. 16. Lee Y, Han SH, Hong SH, Lee JK, Ji H, Kum KY. Antimicrobial efficacy of a polymeric chlorhexidine release device using in vitro model of Enterococcus faecalis dentinal tubule infection. J Endod 2008;34:855-8. 17. Lee JK, Baik JE, Yun CH, Lee K, Han SH, Lee W et al. Chlorhexidine gluconate attenuates the ability of lipoteichoic acid from Enterococcus faecalis to stimulate toll-like receptor 2. J Endod 2009;35:212-5. 18. Menezes MM, Valera MC, Jorge AOC, Koga-Ito CY, Camargo CHR, Mancini MNG. In vitro evaluation of the effectiveness of irrigants and intracanal medicaments on microorganisms within root canals. Int Endod J 2004;37:3119. 19. Mercade M, Duran-Sindreu F, Kuttler S, Roig M, Durany N. Antimicrobial efficacy of 4.2% sodium hypochlorite adjusted to pH 12, 7.5, and 6.5 in infected human root canals. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2009;107:295-8. 20. Mickel AK, Chogle S, Liddle J, Huffaker K,Jones JJ. The role of apical size determination and enlargement in the reduction of intacanal bacteria. J Endod 2007;33:21-3. 21. Oliveira DP, Barbizam JVB, Trope M, Teixeira FB. In vitro antibacterial efficacy of endodontic irrigants against Enterococcus faecalis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2007;103:702-6. 22. Pelka M, Petschelt A. Permanent mimic musculature and nerve damage caused by sodium hypochlorite: a case report. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008;106:e80-3. 23. Rollison S, Barnett F, Stevens RH. Efficacy of bacterial removal from instrumented root canal in vitro related to instrumentation technique and size. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2002;94:366-71. 24. Ruff ML, McClanahan SB, Babel BS. In vitro antifungal efficacy of four irrigants as a final rinse. J Endod 2006;32:331-3. 25. Sassone LM, Fidel RAS, Murad CF, Fidel SR, Hirata Júnior R. Antimicrobial activity of sodium hypochlorite and chlorhexidine by two different tests. Aust Endod J 2008;34:19-24. 26. Schirrmeister JF, Liebenow AL, Pelz K, Wittmer A, Serr A, Hellwig E et al. New bacterial compositions in root-filled teeth with periradicular lesions. J Endod 2009;35:169-74. 27. Sena NT, Gomes BPFA, Vianna ME, Berber VB, Zaia AA, Ferraz CCR, Souza-Filho FJ. In vitro antimicrobial activity of sodium hypochlorite and chlorhexidine against selected single-species biofilms. Int Endod J 2006;39:878-85. 28. Serper A, Özbek M, Çalt S. Accidental sodium hypochlorite-induced skin injury during endodontic treatment. J Endod 2004;30:180-1. 29. Siqueira Júnior JF, Lima KC, Magalhães FAC, Lopes HP, Uzeda M de. Mechanical reduction of the bacterial population in the root canal by three instrumentation techniques. J Endod 1999;25:332-5. 30. Siqueira Júnior JF, Rôças IN, Favieri A, Lima KC. Chemomechanical reduction of the bacterial population in the root canal after instrumentation and irrigation with 1%, 2.5%, and 5.25% sodium hypochlorite. J Endod 2000;26:331-4. 31. Siqueira Júnior JF, Rôças IN, Paiva SSM, Guimarães-Pinto T, Magalhães KM, Lima KC. Bacteriologic investigation of the effects of sodium hypochlorite and chlorhexidine during the endodontic treatment of teeth with apical periodontitis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2007;104:122-30. 32. Siqueira Júnior JF, Rôças IN. Clinical implications and microbiology of bacterial persistence after treatment procedures. J Endod 2008;34:1291-1301. 33. Sunde PT, Olsen I, Debelian GJ, Tronstad L. Microbiota of periapical lesions refractory to endodontic therapy. J Endod 2002;28:304-10. 34. Vianna ME, Gomes BPFA. Efficacy of sodium hypochlorite combined with chlorhexidine against Enterococcus faecalis in vitro. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2009;107:585-9. 35. Williamson AE, Cardon JW, Drake DR. Antimicrobial susceptibility of monoculture biofilms of a clinical isolate of Enterococcus faecalis. J Endod 2009;35:95-7. CONCLUSÕES 9 CONCLUSÕES Baseando-se na metodologia utilizada pôde-se concluir que: 1. O hipoclorito de sódio, a partir da concentração de 0,5%, em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi efetivo em eliminar os micro-organismos Candida albicans, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis e Staphylococcus aureus. 2. A clorexidina a 0,2% em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi ineficaz contra todos os micro-organismos avaliados. 3. A clorexidina a 1% em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi efetiva em eliminar P. aeruginosa e C. albicans, mas foi ineficaz em eliminar S. aureus e E. faecalis. 4. A clorexidina a 2% em combinação com a instrumentação rotatória com o sistema ProTaper Universal foi eficaz contra S. aureus, P. aeruginosa e C. albicans, mas não foi suficiente para inativar o E. faecalis. REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS ADDY, M.; MORAN, J. M. Clinical indications for the use of chemical adjuncts to plaque control: chlorhexidine formulations. Periodontology 2000, v. 15, n. 1, p. 52-54, 1997. AGUIAR, C. M; CÂMARA, A. C. Avaliação radiográfica das alterações morfológicas dos canais radiculares instrumentados com o sistema rotatório Hero 642 e limas manuais de níquel-titânio. Revista da Faculdade de Odontologia. Universidade de Passo Fundo, v. 10, n. 1, p. 69-73, 2005. AGUIAR, C. M; CÂMARA, A. C.; MORAES, A C. de. Avaliação radiográfica do desvio apical em canais instrumentados com o Sistema ProTaper. Revista da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas, v. 60, n. 1, p. 67-71, 2006. AGUIAR, C. M.; MENDES, D. de A.; FERREIRA, J. P. M. G. Morfologia interna do primeiro molar inferior através da radiografia e da diafanização. Revista da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas, v. 61, n. 2, p. 157-162, 2007. AGUIAR, C. M.; CÂMARA, A. C. Radiological evaluation of the morphological changes of root canals shaped with ProTaper for hand use and the ProTaper and RaCe rotary instruments. Australian Endodontic Journal, v. 34, n. 3, p.115-119, 2008. AGUIAR, C. M.; MENDES, D. de A.; CÂMARA, A. C.; FIGUEIREDO, J. A. P. de. Assessment of canal walls after biomechanical preparation of root canals instrumented with ProTaper Universal rotary system. Journal of Applied Oral Science, v. 17, n.6, p. 590-595, 2009a. AGUIAR, C. M.; MENDES, D. de A.; CÂMARA, A. C.; FIGUEIREDO, J. A. P. de. Evaluation of the centreing ability of the ProTaper Universal rotary system in curved roots in comparison to Nitiflex files. Australian Endodontic Journal, v. 35, n.3, p. 174-179, 2009b. AMERICAN ASSOCIATION OF ENDODONTICS. Terminology for Endodontics. 6.ed. 1998. 62p. Glossary Contemporary ARIAS-MOLIZ, M. T.; FERRER-LUQUE, C. M.; ESPIGARES-GARCÍA, M.; BACA, P. Enterococcus faecalis biofilms eradication by root canal irrigants. Journal of Endodontics, v. 35, n. 5, p. 711-714, 2009. ARIAS-MOLIZ, M. T.; FERRER-LUQUE, C. M.; GONZÁLEZ-RODRÍGUEZ, M.P.; VALDERRAMA, M. J.; BACA, P. Eradication of Enterococcus faecalis biofilms by cetrimide and Chlorhexidine. Journal of Endodontics, v. 36, n. 1, p. 87-90, 2010. ATHANASSIADIS, B.; ABBOT, P. V.; WALSH, L. J. The use of calcium hydroxide, antibiotics and biocides as antimicrobial medicaments in endodontics. Australian Dental Journal, v. 52, p. S64-82, 2007. AUBUT, V.; POMMEL, L.; VERHILLE, B.; ORSIÈRE, T.; GARCIA, S.; ABOUT, I.; CAMPS, J. Biological properties of a neutralized 2.5% sodium hypochlorite solution. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v. 109, n. 2, p. e120-e125, 2010. AYHAN, H.; SULTAN, N.; ÇIRAK, M.; RUHI, M. Z.; BODUR, H. Antimicrobial effects of various endodontic irrigants on selected microorganisms. International Endodontic Journal, v. 32, n.2, p. 99-102, 1999. BARATTO-FILHO, F.; CARVALHO JÚNIOR, J. R. de; FARINIUK, L. F.; SOUSANETO, M. D.; PÉCORA, J. D.; CRUZ-FILHO, A. M. da. Morphometric analysis of the effectiveness of different concentrations of sodium hypochlorite associated with rotary instrumentation for root canal cleaning. Brazilian Dental Journal, v. 15, n. 1, p. 36-40, 2004. BAUMGARTNER, J. C.; JOHAL, S.; MARSHALL, J. G. Comparison of the antimicrobial efficacy of 1.3% NaOCl/BioPure MTAD to 5.25% NaOCl/15% EDTA for root canal irrigation. Journal of Endodontics, v. 33, n. 1, p.48-51, 2007. BECKING, A. G. Complications in the use of sodium hypochlorite during endodontic treatment. Report of three cases. Oral Surgery, v. 71, n.4, p. 346-348, 1991. BERBER, V. B.; GOMES, B. P. F. A.; SENA, N. T.; VIANNA, M. E.; FERRAZ, C. C. R.; ZAIA, A. A.; SOUZA-FILHO, F. J. Efficacy of various concentrations of NaOCl and instrumentation techniques in reducing Enterococcus faecalis within root canals and dentinal tubules. International Endodontic Journal, v. 39, n. 1, p.10-17, 2006. BLECHMAN, H.; COHEN, M. Use of aqueous urea solution in the field of Endodontia: preliminary report. Journal of Dental Research, v.30, n. 4, p. 503-504, 1951. BOUDAGHIER, F. E.; YARED, G. M. Comparison of three files to prepare curved root canals. Journal of Endodontics, v. 21, n. 5, p.264-265, 1995. BOWDEN, J. R.; ETHUNANDAN, M.; BRENNAN, P. A. Life-threatening airway obstruction secondary to hypochlorite extrusion during root canal treatment. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v. 101, n. 3,p. 402-404, 2006. BUDAVARI, S. (Ed.); O’NEILL, M.; SMITH, A.; HECKELMAN, P. The Merck Index. 20. ed. Philadelphia: Merck & CO. Inc., 1996. p. 1478. BYSTRÖM, A.; SUNDQVIST, G. The antibacterial action of sodium hypochlorite and EDTA in 60 cases of endodontic therapy. International Endodontic Journal, v. 18, n. 1, p.35-40, 1985. CALLAHAN J. R. Sulfuric acid for opening root canals. Dental Cosmos, v. 36, n. 12, p. 957-959, 1894. CÂMARA, A. C.; AGUIAR, C. M.; FIGUEIREDO, J. A. P. de. Assessment of the Deviation Following Biomechanical Preparation of the Coronal, Middle and Apical Thirds of Root Canals Instrumented with three HERO Rotary Systems. Journal of Endodontics, v. 33, n. 12, p.1460-1463, 2007. CÂMARA, A. C.; AGUIAR, C. M.; FIGUEIREDO, J. A. P. de. Evaluation of the root dentine cutting effectiveness of the HERO 642 ®, HERO Apical® and HERO Shaper® Rotary Systems. Australian Endodontic Journal, v. 34, n. 3, p. 94-100, 2008. CÂMARA, A. C.; ALBUQUERQUE, M. M. de; AGUIAR, C. M.; CORREIA, A. C. R. de B. In Vitro Antimicrobial Activity of 0.5%, 1%, and 2.5% sodium hypochlorite in Root Canals Instrumented with the ProTaper Universal System. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v.108, n. 2, p. e55-e61, 2009. CÂMARA, A. C.; ALBUQUERQUE, M. M. de; AGUIAR, C. M. Soluções irrigadoras utilizadas para o preparo biomecânico de canais radiculares. Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clínica Integrada, v.10, n. 1, p. 127-133, 2010. CHUSTE-GUILLOT, M. P.; BADET, C.; PELI, J. F.; PEREZ, F. Effect of three nickeltitanium rotary file techniques on infected root dentin reduction. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics,v. 102, n. 2, p. 254-258, 2006. DAKIN, H. D. In the use of certain antiseptic substances in the treatment of infected wounds. British Medical Journal, v. 2, n. 2852, p. 318-320, 1915. D’ARCANGELO, C.; VARVARA, G.; FAZIO, P. de. An evaluation of the action of different root canal irrigants on facultative aerobic-anaerobic, obligate anaerobic, and microaerophilic bacteria. Journal of Endodontics, v. 25, n. 5, p. 351-353, 1999. DE-DEUS, G.; ZEHNDER, M.; REIS, C.; FIDEL, S.; FIDEL, R. A. S.; GALAN JÚNIOR, J.; PACIORNIK, S. Longitudinal co-site optical microscopy study on the chelating ability of etidronate and EDTA using a comparative single-tooth model. Journal of Endodontics, v. 34, n. 1, p. 71-75, 2008. DENIZ, D.; SAYIN, T. C.; ONUR, M. A.; CEHRELI, Z. C.; BAYOLKEN, M.; TASMAN, F. D. Influence of an antibacterial root canal cleanser (MTAD) on compound nerve action potentials. International Endodontic Journal, v. 40, n. 12, p. 981, 2007. EL KARIM, I.; KENNEDY, J.; HUSSEY, D. The antimicrobial effects of root canal irrigation and medication. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v. 103, n. 4, p. 560-569, 2007. ESTRELA C.; ESTRELA, C. R. A.; BARBIN, E. L., SPANÓ, J. C. E.; MARCHESAN, M. A.; PÉCORA, J. D. Mechanism of action of sodium hypochlorite. Brazilian Dental Journal, v. 13, n. 2, p. 113-117, 2002. ESTRELA C.; RIBEIRO, R. G.; ESTRELA, C. R. A.; PÉCORA, J. D.; SOUSA-NETO, M. D. Antimicrobial effect of 2% sodium hypochlorite and 2% chlorhexidine tested by different methods. Brazilian Dental Journal, v. 14, n. 1, p. 58-62, 2003. ESTRELA, C.; ESTRELA, C. R. A.; DERCUCIO, D. A.; HOLLANDA, A. C. B.; SILVA, J. A. Antimicrobial efficacy of ozonated water, gaseous ozone, sodium hypochlorite and chlorhexidine in infected human root canals. International Endodontic Journal, v. 40, n. 2, p. 85-93, 2007. GARBEROGLIO, R.; BECCE, C. Smear layer removal by root canal irrigants. A comparative scanning electron microscope study. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology, v. 78, n. 3, p. 359-367, 1994. GATOT, A.; ARBELLE, J.; LEIBERMAN A.; YANAI-INBAR, I. Effects of sodium hypochlorite on soft tissues after its inadvertent injection beyond the root apex. Journal of Endodontics, v. 17, n. 11, p. 573-571, 1991. GOMES B. P. F. A, FERRAZ, C. C. R.; VIANNA, M. E., BERBER, F. B.; TEIXEIRA, F. B.; SOUZA-FILHO, F. J. In vitro antimicrobial activity of several concentrations of sodium hypochlorite and chlorhexidine gluconate in the elimination of Enterococcus faecalis. International Endodontic Journal, v. 34, n. 6, p. 424-428, 2001. GOMES, B. P. F. A.; SATO, E.; FERRAZ, C. C. R.; TEIXEIRA, F. B.; ZAIA, A. A.; SOUZA-FILHO, F. J. Evaluation of time required for recontamination of coronally sealed canals medicated with calcium hydroxide and chlorhexidine. International Endodontic Journal, v. 36, n. 9, p. 604-609, 2003. GROSSMAN, L. I. Irrigation of root canals. Journal of the American Dental Association, v. 30, n. 12, p. 1915-1917, 1943. GUELZOW, A.; STAMM, O.; MARTUS, P.; KIELBASSA, A. M. Comparative study of six rotary nickel-titanium systems and hand instrumentation for root canal preparation. International Endodontic Journal, v. 38, n. 10, p. 743-752, 2005. HAAPASALO, M.; QIAN, W.; PORTENIER, I.; WALTIMO, T. Effects of dentin on the antimicrobial properties of endodontic medicaments. Journal of Endodontics, v.33, n.8, p. 917-925, 2007. HARRISON, J. W. Irrigation of the root canal system. Dental Clinics of North America, v. 4, p. 797-808, 1984. HÜLSMANN, M.; HECKENDORFF, M.; LENNON, A. Chelating agents in root canal treatment: mode of action and indications for their use. International Endodontic Journal, v. 36, n. 12, p.810-830, 2003. HUTH, K. C.; QUIRLING, M.; MAIER, S.; KAMERECK, K.; ALKHAYER, M.; PASCHOS, E.; WELSCH, U.; MIETHKE, T.; BRAND, K.; HICKEL, R. Effectiveness of ozone against endodontopathogenic microorganisms in a root canal biofilm model. International Endodontic Journal, v. 42, n. 1, p.3-13, 2009. INGLE, J. I.; LEVINE, M. The need for uniformity of endodontic instruments, equipments and filling materials. In: Transactions of the Second International Conference on Endodontics. Philadelphia: University of Pensylvania, 1958, p. 123. JAVAHERI, H. H.; JAVAHERI, G. H. A comparison of three Ni-Ti rotary instruments in apical transportation. Journal of Endodontics, v. 33, n. 3, p. 284- 286, 2007. JEANSONNE, M.; WHITE, R. A comparison of 2,0% chlorhexidine gluconate and 5,25% sodium hypochlorite as antimicrobial endodontic irrigants. Journal of Endodontics, v. 20, n. 6, p. 276-278, 1994. KALFAS, S.; FIGDOR, D.; SUNDQVIST, G. A new bacterial species associated with failed endodontic treatment: identification and description of Actinomyces radicidentis. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v. 92, n. 2, p. 208-214, 2001. KHADEMI, A.; YAZDIZADEH, M.; FEIZIANFARD, M. Determination of the minimum instrumentation size for penetration of irrigants to the apical third of root canal systems. Journal of Endodontics, v. 32, n. 5, p. 417-20, 2006. KAKEHASHI, S.; STANLEY, H. R.; FITZGERALD, R; J. The effects of surgical exposures of dental pulps in germ-free and conventional laboratory rats. Oral Surgery, v. 20, n. 3, p. 340-349, 1965. KIM, H. C.; CHEUNG, G. S. P.; LEE, C. J.; KIM, B. M.; PARK, J. K.; KANG, S. I. Comparison of forces generated during root canal shaping and residual stresses of three nickel–titanium rotary files by using a three-dimensional finite-element analysis. Journal of Endodontics, v. 34, n. 6, p. 743-747, 2008. KISHEN, A.; SUM, C. P.; MATHEW, S.; LIM, C. T. Influence of irrigation regimens on the adherence of Enterococcus faecalis to root canal dentin. Journal of Endodontics, v. 34, n. 7,p. 850-854, 2008. KOZOL, R. A.; GILLIES, C.; ELGEBALY, A. S. Effects of sodium hypochlorite (Dakin’s solution) on cells of the wound module. Archives of Surgery, v.123, n. 4, p. 420-423, 1988. KRAUTHEIM, A. B.; JERMANN, T. H. M.; BIRCHER, A. J. Chlorhexidine anaphylaxis: case report and review of the literature. Contact Dermatitis, v. 50, n. 3, p. 113-116, 2004. KUMMER, T. R.; CALVO, M. C.; CORDEIRO, M. M. R.; VIEIRA, R. de S.; ROCHA, M. J. de C. Ex vivo study of manual and rotary instrumentation techniques in human primary teeth. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v. 105, n. 4, p. e84-e92, 2008. LEE, Y.; HAN, S. H.; HONG, S. H.; LEE, J. K.; JI, H.; KUM, K. Y. Antimicrobial efficacy of a polymeric chlorhexidine release device using in vitro model of Enterococcus faecalis dentinal tubule infection. Journal of Endodontics, v. 34, n. 7, p. 855-858, 2008. LEE, J. K.; BAIK, J. E.; YUN, C. H.; LEE, K.; HAN, S. H.; LEE, W.; BAE, K. S.; BAEK, S. H.; LEE, Y.; SON, W. J.; KUM, K. Y. Chlorhexidine gluconate attenuates the ability of lipoteichoic acid from Enterococcus faecalis to stimulate toll-like receptor 2. Journal of Endodontics, v. 35, n. 2, p. 212-215, 2009. LOPES, H. P.; SIQUEIRA JÚNIOR, J. F.; ELIAS, C. N. Substâncias químicas empregadas no preparo dos canais radiculares. In: LOPES, H. P.; SIQUEIRA JÚNIOR, J. F. Endodontia: biologia e técnica. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2004. cap. 18, p. 535-579. LOPES, H. P.; SIQUEIRA JÚNIOR, J. F.; ELIAS, C. N. Substâncias químicas empregadas no preparo dos canais radiculares. In: LOPES, H. P.; SIQUEIRA JÚNIOR, J. F. Endodontia: biologia e técnica. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2010. cap. 13, p. 531-571. LUI, J. N.; KUAB, H. G.; CHEN, N. N. Efect of EDTA with and without surfactants or ultrasonics on removal of smear layer. Journal of Endodontics, v. 33, n. 4, p. 472475, 2007. MACHADO, M. E. de L. Preparo cirúrgico do canal em endodontia. In:______. Endodontia: da biologia à técnica. São Paulo: Ed. Santos, 2007. cap. 15, p. 229-252. MARENDING, M.; PAQUÉ, F.; FISCHER, J.; ZEHNDER, M. Impact of irrigant sequence on mechanical properties of human root dentin. Journal of Endodontics, v. 33, n. 11, p. 1325-1328, 2007. MENEZES, M. M.; VALERA, M. C.; JORGE, A. O. C.; KOGA-ITO, C.Y.; CAMARGO, C. H. R.; MANCINI, M. N. G. In vitro evaluation of the effectiveness of irrigants and intracanal medicaments on microorganisms within root canals. International Endodontic Journal,v. 37, n. 5, p. 311-319, 2004. MERCADE, M.; DURAN-SINDREU, F.; KUTTLER, S.; ROIG, M.; DURANY, N. Antimicrobial efficacy of 4.2% sodium hypochlorite adjusted to pH 12, 7.5, and 6.5 in infected human root canals. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v.107, n. 2, p. 295-298, 2009. MICKEL, A. K.; CHOGLE, S.; LIDDLE, J.; HUFFAKER, K.; JONES, J. J. The role of apical size determination and enlargement in the reduction of intacanal bacteria. Journal of Endodontics, v. 33, n.1, p. 21-23, 2007. MOHAMMADI, Z.; ABBOTT, P. V. The properties and applications of chlorhexidine in endodontics. International Endodontic Journal, v. 42, n. 4, p. 288-302, 2009. MOTTA, M. V.; CHAVES-MENDONCA, M. A.L.; STIRTON, C. G.; CARDOZO, H. F. Accidental injection with sodium hypochlorite: report of a case. International Endodontic Journal, v. 42, n. 2, p. 175–182, 2009. NAENNI, N.; THOMA, K.; ZEHNDER, M. Soft tissue dissolution capacity of currently used and potencial irrigants. Journal of Endodontics, v. 30, n. 11, p. 785-787, 2004. NEWBERRY, B. M.; SHABAHANG, S.; JOHNSON, N.; APRECIO, R. M.; TORABINEJAD, M. The antimicrobial effect of biopure MTAD on eight strains of Enterococcus faecalis: an in vitro investigation. Journal of Endodontics, v. 33, n.11, p. 1352-1354, 2007. NYGAARD-OSTBY, B. Chelation in root canal therapy: ethylenediaminetetraacetic acid for cleansing and widening of root canals. Odontol Tidskr, v. 65, p. 3-11,1957. OHARA, P.; TORABINEJAD, M.; KETTENRING, J. D. Antibacterial effects of various endodontic irrigants on selected anaerobic bacteria. Endodontics and Dental Traumatology, v. 9, n. 3, p. 95-100, 1993. OLIVEIRA, D. P.; BARBIZAM, J. V. B.; TROPE, M.; TEIXEIRA, F. B. In vitro antibacterial efficacy of endodontic irrigants against Enterococcus faecalis. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v.103, n. 5, p. 702-706, 2007. PAZ, L. E. C. de. Redefining the persistent infection in root canals: possible role of biofilm communities. Journal of Endodontics, v. 33, n. 6, p. 652-662, 2007. PAZ, L. E. C. de; BERGENHOLTZ, G.; SVENSÄTER, G. The effects of antimicrobials on endodontic biofilm bactéria. Journal of Endodontics, v. 36, n. 1, p. 70-77, 2010. PÉCORA, J. D.; SOUZA-NETO, M. D.; ESTRELA, C. Soluções auxiliares do preparo do canal radicular. In: ESTRELA, C.; FIGUEIREDO, J. A. P. Endodontia: princípios biológicos e mecânicos. São Paulo: Artes Médicas, 2001. cap. 16, p. 553-569. PELKA, M.; PETSCHELT, A. Permanent mimic musculature and nerve damage caused by sodium hypochlorite: a case report. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v. 106, n. 3, p. e80-e83, 2008. PRABHAKAR, J.; SENTHILKUMAR, M.; PRIYA, M. S.; MAHALAKSHMI, K.; SEHGAL, P. K.; SUKUMARAN, V. G. Evaluation of antimicrobial efficacy of herbal alternatives (triphala and green tea polyphenols), MTAD, and 5% sodium hypochlorite against Enterococcus faecalis biofilm formed on tooth substrate: an in vitro study. Journal of Endodontics, v. 36, n. 1, p. 83-86, 2010. RETAMOZO, B.; SHABAHANG, S.; JOHNSON, N.; APRECIO, R.M.; TORABINEJAD, M. Minimum contact time and concentration of sodium hypochlorite required to eliminate Enterococcus faecalis. Journal of Endodontics, v. 36, n. 3, p. 520-523, 2010. ROLLISON, S.; BARNETT, F.; STEVENS, R. H. Efficacy of bacterial removal from instrumented root canal in vitro related to instrumentation technique and size. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v. 94, n. 3, p. 366-371, 2002. RUFF, M. L.; MCCLANAHAN, S. B.; BABEL, B. S. In vitro antifungal efficacy of four irrigants as a final rinse. Journal of Endodontics, v. 32, n. 4, p. 331-333, 2006. SABALA, C.L.; POWELL, S. E. Sodium hypochlorite injection into periapical tissues. Journal of Endodontics, v. 15, n. 10, p. 490-492, 1989. SABET, N. E.; LUTFY, R. A.Ultrastructural morphologic evaluation of root canal walls prepared by two rotary nickel-titanium systems: a comparative study. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v. 106, n. 3, p. e59e66, 2008. SASSONE, L. M.; FIDEL, R.; FIDEL, S.; VIEIRA, M.; HIRATA JÚNIOR, R. The influence of organic load on the antimicrobial activity of different concentrations of NaOCl and chlorhexidine in vitro. International Endodontic Journal, v. 36, n. 12, p. 848-852, 2003. SASSONE, L. M.; FIDEL, R. A. S.; MURAD, C. F.; FIDEL, S. R.; HIRATA JÚNIOR, R. Antimicrobial activity of sodium hypochlorite and chlorhexidine by two different tests. Australian Endodontic Journal, v. 34, n. 1, p. 19-24, 2008. SCHILDER, H. Cleaning and shaping the root canal. Dental Clinics of North America, v. 18, n. 2, p. 269-296, 1974. SCHIRRMEISTER, J. F.; LIEBENOW, A. L.; PELZ, K.; WITTMER, A.; SERR, A.; HELLWIG, E.; AL-AHMAD, A. New bacterial compositions in root-filled teeth with periradicular lesions. Journal of Endodontics, v. 35, n. 2, p. 169-174, 2009. SENA, N. T.; GOMES, B. P. F. A.; VIANNA, M. E.; BERBER, V. B.; ZAIA, A. A.; FERRAZ, C. C. R.; SOUZA-FILHO, F. J. In vitro antimicrobial activity of sodium hypochlorite and chlorhexidine against selected single-species biofilms. International Endodontic Journal, v. 39, n. 11, p. 878-885, 2006. SERPER, A.; ÖZBEK, M.; ÇALT, S. Accidental sodium hypochlorite-induced skin injury during endodontic treatment. Journal of Endodontics, v. 30, n. 3, p. 180-181, 2004. SIQUEIRA JÚNIOR, J. F.; MACHADO, A. G.; SILVEIRA, R.M.; LOPES, H. P.; UZEDA, M. de. Evaluation of the effectiveness of sodium hypochlorite used with three irrigation methods in the elimination of Enterococcus faecalis from the root canal, in vitro. International Endodontic Journal, v. 30, n. 4, p.279-282, 1997. SIQUEIRA JÚNIOR J. F. Atividade antimicrobiana das águas sanitárias disponíveis no mercado nacional. Revista Brasileira de Odontologia, v. 56, n. 2, p. 57-60, 1999. SIQUEIRA JÚNIOR, J. F.; LIMA, K. C.; MAGALHÃES, F. A. C.; LOPES, H. P.; UZEDA, M. de. Mechanical reduction of the bacterial population in the root canal by three instrumentation techniques. Journal of Endodontics, v. 25, n. 5, p. 332-335, 1999. SIQUEIRA JÚNIOR, J. F.; RÔÇAS, I. N.; FAVIERI, A.; LIMA, K. C. Chemomechanical reduction of the bacterial population in the root canal after instrumentation and irrigation with 1%, 2.5%, and 5.25% sodium hypochlorite. Journal of Endodontics, v. 26, n. 6, p. 331-334, 2000. SIQUEIRA JÚNIOR, J. F. Endodontic infections: concepts, paradigms and perspectives. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v. 94, n. 3, p. 281-293, 2002. SIQUEIRA JÚNIOR, J. F.; RÔÇAS, I. N.; PAIVA, S. S. M.; GUIMARÃES-PINTO, T.; MAGALHÃES, K. M.; LIMA, K. C. Bacteriologic investigation of the effects of sodium hypochlorite and chlorhexidine during the endodontic treatment of teeth with apical periodontitis. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v. 104, n.1, p. 122-130, 2007. SIQUEIRA JÚNIOR, J. F.; RÔÇAS, I. N. Clinical implications and microbiology of bacterial persistence after treatment procedures. Journal of Endodontics, v. 34: n. 11, p. 1291-1301, 2008. SOUZA, A. D. S.; MACHADO, M. E. de L.; MASSARO, H. Substâncias químicas auxiliares utilizadas em endodontia-irrigação e aspiração. In: MACHADO, M. E. de L. Endodontia: da biologia à técnica. São Paulo: Ed. Santos, 2007. cap. 16, p. 253-267. STUART, C. H.; SCHWARTZ, S. A.; BEESON, T. J.; OWATZ, C. B. Enterococcus faecalis: its role in root canal treatment failure and current concepts in retreatment. Journal of Endodontics, v. 32, n. 2, p. 93-98, 2006. SUNDE, P. T.; OLSEN, I.; DEBELIAN, G. J.; TRONSTAD, L. Microbiota of periapical lesions refractory to endodontic therapy. Journal of Endodontics, v. 28, n. 4, p. 304310, 2002. SUNDQVIST, G. Ecology of the root canal flora. Journal of Endodontics, v. 18, n. 9, p. 427-430, 1992. SWEETMAN, S. C. (Ed.) Martindale: the complete drug reference. 34 ed. London: Pharmaceutical Press, 2004. 2756p. TORABINEJAD, M.; KHADEMI, A. A.; BABAGOLI, J.; CHO, Y.; JOHNSON, W. B.; BOZHILOV, K.; KIM, J.; SHABAHANG, S. A new solution for the removal of the smear layer. Journal of Endodontics, v. 29, n. 3, p. 170-175, 2003a. TURK, B. T.; ATES, M.; SEN, B. H. The effect of treatment of radicular dentin on colonization patterns of C. albicans. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v.106, n. 3, p. 457-462, 2008. VAUDT, J.; BITTER, K.; NEUMANN, K.; KIELBASSA, A. M. Ex vivo study on root canal instrumentation of two rotary nickel–titanium systems in comparison to stainless steel hand instruments. International Endodontic Journal, v. 42, n. 1, p. 27722-33, 2009. VIANNA, M. E.; GOMES, B. P. F. A.; BERBER, V. B.; ZAIA, A. A.; FERRAZ, C. C. R.; SOUZA-FILHO, F. J. de. In vitro evaluation of the antimicrobial activity of chlorhexidine and sodium hypochlorite. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics,v. 97, n. 1, p. 79-84, 2004. VIANNA, M. E.; GOMES, B. P. F. A. Efficacy of sodium hypochlorite combined with chlorhexidine against Enterococcus faecalis in vitro. Oral Surgery Oral Medicine Oral Pathology Oral Radiology and Endodontics, v. 107, n. 4, p. 585-589, 2009. WALKER, A. Definitive and dependable therapy for pulpless teeth. Journal of the American Dental Association, v. 23, p.1418-1424, 1936. WALTIMO, T. M. T.; DASSANAYAKE, R. S.; ORSTAVIK, D.; HAAPASALO, M. P. P.; SAMARANAYARE, L. P. Phenotypes and randomly amplified polymorphic DNA profiles of Candida albicans in a Finnsh population. Oral Microbiology and Immunology, v. 16, n. 2, p. 106-112, 2001. WILLIAMS, J. A.; PEARSON, G. J.; WILSON, M.; JOHN, C. M. Antibacterial action of photoactivated disinfection (PAD) used on endodontic bacteria in planktonic suspension and in artificial and human root canals. Journal of Dentstry, v. 34, n. 6, p. 363-371, 2006. WILLIAMSON, A. E.; CARDON, J. W.; DRAKE, D. R. Antimicrobial susceptibility of monoculture biofilms of a clinical isolate of Enterococcus faecalis. Journal of Endodontics, v. 35, n. 1, p. 95-97, 2009. WILLIAMSON, A. E.; SANDOR, A. J.; JUSTMAN, B. C. A comparison of three nickel titanium rotary systems, EndoSequence, ProTaper Universal, and Profile GT, for canal-cleaning ability. Journal of Endodontics, v. 35, n. 1, p. 107-109, 2009. ZEHNDER, M. Root canal irrigants. Journal of Endodontics, v. 32, n. 5, p. 389-398, 2006. ZEHNDER, M.; GUGGENHEIM, B. The mysterious appearance of enterococci in filled root canals. International Endodontic Journal, v. 42, n. 4, p. 277-287, 2009. ANEXOS ANEXO A ANEXO B ANEXO B ARTIGO 1 PBOCI DOI: 10.4034/1519.0501.2010.0101.0021 ISSN - 1519-0501 Soluções Irrigadoras Utilizadas para o Preparo Biomecânico de Canais Radiculares Irrigating Solutions Used in the Biomechanical Preparation of Root Canals Andréa Cruz CÂMARA1, Miracy Muniz de ALBUQUERQUE2, Carlos Menezes AGUIAR3 1 Doutoranda em Ciências Farmacêuticas do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife/ PE, Brasil. 2 Professora Doutora Associado do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife/PE, Brasil. 3 Professor Doutor Associado do Departamento de Prótese e Cirurgia Buco-Facial da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife/PE, Brasil. RESUMO Introdução: Os microrganismos desempenham um importante papel na etiologia e manutenção das infecções endodônticas. Esta população microbiana deverá ser eliminada durante o preparo biomecânico por meio da ação mecânica dos instrumentos endodônticos, das propriedades físico-químicas e antimicrobianas das soluções irrigadoras auxiliares e pela ação da medicação intracanal. Objetivo: O presente trabalho se propôs a avaliar, através de uma revisão da literatura, as principais soluções irrigadoras utilizadas na Endodontia para o preparo biomecânico do sistema de canais radiculares, bem como, a utilização de novas soluções irrigadoras. Conclusões: O hipoclorito de sódio (NaOCl) continua sendo a solução irrigadora de eleição na Endodontia. O NaOCl a 1% com 16% de cloreto de sódio (NaCl) deve ser utilizado durante o preparo biomecânico dos canais radiculares devido à sua atividade antimicrobiana, capacidade solvente de matéria orgânica e baixa citotoxicidade. A clorexidina a 1% e a 2% é utilizada apenas quando o único requisito é a atividade antimicrobiana, em casos de microrganismos resistentes ao tratamento endodôntico e em lesões refratárias. Uma solução de ácido etilenodiaminotetracético sal dissódico (EDTA) a 17% deverá ser utilizada como coadjuvante do preparo biomecânico de canais radiculares infectados, no tratamento de canais atresiados e calcificados e para remoção do smear layer contaminado. Todas as soluções irrigadoras apresentam limitações. A procura por uma solução irrigadora ideal deverá ser contínua. Isto apenas poderá ser alcançado com o desenvolvimento e pesquisas de novas substâncias. DESCRITORES Clorexidina; Hipoclorito de sódio; Quelantes; Soluções irrigadoras. ABSTRACT Introduction: Microorganisms play an important role in the etiology and persistence of endodontic infections. This microbial population should be eliminated during the biomechanical preparation by the mechanical action of the endodontic instruments, the physicochemical and antimicrobial properties of the auxiliary irrigating solutions, and the action of intracanal medications. Objective: This literature review addresses the main endodontic irrigating solutions used in the biomechanical preparation of the root canal system, as well as the use of irrigating solutions. Conclusions: Sodium hypochlorite (NaOCl) still is the endodontic irrigant of choice. The combination of 1% NaOCl with 16% sodium chloride (NaCl) should be used during biomechanical preparation of root canals due to its antimicrobial activity, organic matter solving capacity and low cytotoxicity. Chlorhexidine at 1% and 2% is used when only antimicrobial activity is required, in cases of microorganisms resistant to endodontic treatment and refractory lesions. A 17% disodium ethylenediaminetetraacetic acid (EDTA) should be used as an auxiliary in the biomechanical preparation of root canals, in the treatment of narrow and calcified canals, and for removal of contaminated smear layer. All irrigating solutions presented limitations. There must be a continuous search for the ideal solution endodontic irrigant, which will be reached only with the investigation and development of new substances. KEYWORDS Chlorhexidine; Sodium hypochlorite; Chelants; Root canal irrigants. Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, 10(1):127-133, jan./abr. 2010 127 Câmara et al. - Soluções Irrigadoras para o Preparo Biomecânico de Canais Radiculares INTRODUÇÃO Os microrganismos desempenham um importante papel na etiologia e na manutenção das infecções pulpares e periapicais. Sabe-se, atualmente, que mais de 300 espécies de bactérias habitam a cavidade oral, contudo, o número de espécies bacterianas presentes nos canais radiculares variam entre 1 a 12, com predomínio de anaeróbios estritos1. A utilização de soluções irrigadoras durante o preparo biomecânico é importante para a limpeza e eliminação de microrganismos presentes no interior do sistema de canais radiculares. Como o acesso aos mesmos é limitado, patógenos podem ficar confinados nos túbulos dentinários, ramificações e outras áreas inacessíveis, podendo proliferar e reinfectar o sistema de canais radiculares2. A solução irrigadora ideal deve exibir potente ação antimicrobiana, ter capacidade de dissolver material orgânico, ser lubrificante, apresentar baixa tensão superficial e não apresentar efeitos citotóxicos para os tecidos perirradiculares3. O hipoclorito de sódio (NaOCl) é um composto halogenado utilizado como solução irrigadora desde a sua introdução na Endodontia em 1936. É um efetivo agente antimicrobiano, solvente de matéria orgânica, desodorizante, possui baixa tensão superficial e sua efetividade torna-se maior quando se aumenta a sua concentração, porém, quanto mais elevada, maior o efeito tóxico para os tecidos periapicais4. A clorexidina também é um composto halogenado e possui propriedades antimicrobianas de amplo espectro, substantividade e baixa toxicidade, porém não possui a propriedade de dissolver matéria orgânica5. Embora o hipoclorito de sódio seja considerado a melhor solução irrigadora, não consegue dissolver partículas inorgânicas e prevenir a formação do smear layer durante a instrumentação dos canais radiculares. Agentes desmineralizantes como o ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) são recomendados como coadjuvantes no tratamento endodôntico do sistema de canais radiculares6. Em vista do exposto, o presente trabalho se propôs a avaliar, através de uma revisão da literatura, as soluções irrigadoras utilizadas na Endodontia para o preparo biomecânico do sistema de canais radiculares, bem como, a utilização de novas soluções irrigadoras. REVISÃO DE LITERATURA 128 Fazendo uma breve retrospectiva da história da Endodontia, pode-se observar que nos primórdios, o tratamento endodôntico era eminentemente químico, uma vez que não existiam instrumentos seguros e com bom poder de corte para realizar o esvaziamento do canal radicular. Assim, o esvaziamento era conseguido às expensas de substâncias químicas que dissolviam o conteúdo orgânico do canal radicular sem haver um preocupação com o grau de agressão aos tecidos periapicais. Neste período histórico eram utilizados ácidos fortes, como o ácido clorídrico e substâncias tóxicas como o arsênico a fim de conseguir a limpeza e a desinfecção dos canais radiculares7. Assim, a escolha de uma solução irrigadora não é aleatória. Ela deve estar relacionada com o caso em questão, para se obter melhor resultado quanto à limpeza e desinfecção. É muito importante que o profissional tenha conhecimento das propriedades químicas das soluções irrigantes para selecioná-la e utilizá-la da melhor maneira possível, em cada caso em particular8. As soluções irrigadoras devem apresentar: baixa tensão superficial, viscosidade, ter capacidade de dissolver material orgânico, atividade antimicrobiana, atividade lubrificante, atividade quelante, suspensão de detritos e biocompatibilidade3. As soluções comumente empregadas na Endodontia para a instrumentação dos canais radiculares são: os compostos halogenados, detergentes, quelantes, ácidos, peróxidos e associações ou misturas e outras soluções8. Hipoclorito de Sódio (NaOCl) Os hipocloritos são conhecidos como compostos halogenados e a sua utilização iniciou no final do século XVIII, em 1792, quando foi produzido pela primeira vez por Percy, em Javel, cidade próxima à Paris e recebeu o nome de Eau de Javel ou água de Javel3. O hipoclorito de sódio pode ser encontrado em uma séries de produtos contendo concentrações variáveis9: • Líquido de Dakin: solução de NaOCl a 0,5% neutralizada por ácido bórico. • Líquido de Dausfrene: solução de NaOCl a 0,5% neutralizada por bicarbonato de sódio. • Solução de Milton: solução de NaOCl a 1% estabilizada por 16% de cloreto de sódio. • Licor de Labarraque: solução de NaOCl a 2,5%. • Soda clorada: solução de NaOCl de concentração variável entre 4 e 6%. • Água sanitária: soluções de NaOCl a 2-2,5% De todas as substâncias utilizadas para a irrigação dos canais radiculares disponíveis, o NaOCl é a solução mais utilizada mundialmente, devido às suas propriedades, Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, 10(1):127-133, jan./abr. 2010 Câmara et al. - Soluções Irrigadoras para o Preparo Biomecânico de Canais Radiculares como potente ação antimicrobiana, capacidade de dissolver material orgânico, ser lubrificante, apresenta baixa tensão superficial, baixo custo, tem um bom tempo de meia vida e não apresenta efeitos citotóxicos para os tecidos perirradiculares3. A dissolução do tecido pulpar pelo hipoclorito de sódio é fundamental, pois o campo operatório na Endodontia é composto por um sistema de canais radiculares, sendo que boa parte desse sistema é inacessível aos instrumentos endodônticos devido à sua complexa anatomia. A dissolução do tecido acaba por ajudar na limpeza endodôntica pela transformação de substâncias insolúveis (tecido pulpar e restos necróticos) em substâncias solúveis como os sabões, cloraminas e sais de aminoácidos passíveis de serem aspirados10. Observa-se na literatura especializada muita controvérsia a cerca da concentração ideal do NaOCl utilizado em Endodontia, sua concentração pode variar de 0,5% a 5,5%. Em altas concentrações, como, por exemplo, o NaOCl a 5,25%, causam severas irritações aos tecidos periapicais no momento da irrigação dos canais radiculares, além de diminuir o módulo de elasticidade da dentina11. A biocompatibilidade das soluções de NaOCl está inversamente relacionada com sua concentração, ou seja, quanto menor a concentração tanto maior a biocompatibilidade dos NaOCl. Soluções com baixas concentrações, como o NaOCl a 1%, apresentam um aceitável comportamento biológico10, além de possuírem atividade antimicrobiana frente a microrganismos resistentes12. Baseado em pesquisas3,8, observa-se que a concentração ideal de uso clínico do NaOCl é a de 1%, com pH próximo a 11, pois concentrações superiores não apresentam melhor capacidade bactericida, ao passo que levam a um maior grau de agressão aos tecidos periapicais. A questão da instabilidade química do NaOCl é crítica. Uma solução de NaOCl apresenta decréscimos significativos de concentração quando armazenada em condições inadequadas ou, quando o recipiente, durante o uso é freqüentemente aberto. Por serem instáveis, perdem eficiência com a elevação da temperatura, com exposição à luz e quando armazenadas por longos períodos de tempo. O NaOCl deve ser manipulado, armazenado em vidro âmbar, ao abrigo de luz, à temperatura ambiente e tem validade por 3 meses13. A ingestão do NaOCl pode causar corrosão nas membranas mucosa, perfuração gástrica e esofágica e edema de laringe. A sua inalação pode causar irritação brônquica severa e edema pulmonar. O contato prolongado com a pele pode causar irritações13. Deve- se então, ter cuidado para não se injetar o NaOCl com muita pressão ou muito próximo ao forâmen apical para que não ocorra extravasamento deste para o periápice, principalmente em pré-molares e molares superiores, a fim de impedir que parte deste hipoclorito adentre o seio maxilar causando danos, muitas vezes, irreversíveis14. Os hipocloritos, devido às suas excepcionais propriedades físico-químicas e biológicas, estão indicados em todas as fases do preparo biomecânico de dentes com polpa vital ou necrosada8. Clorexidina A clorexidina foi desenvolvida nos anos 40 pela Indústria Química Imperial na Inglaterra e introduzida no mercado em 1954 como um anti-séptico para ferimentos na pele. Esta substância foi utilizada inicialmente na Odontologia para desinfecção pré-cirúrgica e na Endodontia15. A clorexidina pode ser adquirida em farmácias de manipulação sob a forma de uma solução aquosa de digluconato de clorexidina nas concentrações de 0,2 a 2,0%, contudo as soluções mais concentradas possuem ação antibacteriana mais efetiva3,9. Esta substância vem sendo utilizada na Endodontia como solução irrigadora e medicação intracanal devido à sua atividade antibacteriana de amplo espectro, baixa citotoxicidade e por apresentar substantividade, isto é, ela se liga à hidroxiapatita do esmalte ou dentina e a grupos aniônicos ácidos de glicoproteínas, sendo lentamente liberada à medida que a sua concentração no meio decresce, permitindo desse modo um tempo de atuação prolongado9. A clorexidina é a solução irrigadora de eleição quando há relato, por parte do paciente, de alergia ao NaOCl. Está indicada no tratamento de dentes com polpa necrosada associada à rizogênese incompleta, onde observa-se grande risco de extravasamento apical da solução química, nos casos em que os microrganismos são resistentes ao tratamento endodôntico e nas lesões refratárias3. Esta substância pode ser utilizada como solução de escolha para irrigação dos canais radiculares apenas quando o único requisito é a atividade antimicrobiana, pois esta solução apesar de ser tão efetiva, sob o espectro de atividade antimicrobiana, quanto o NaOCl, não apresenta capacidade para dissolver tecido pulpar16. Soluções com uma alta concentração de clorexidina podem causar irritação na pele e na conjuntiva ocular. A utilização da clorexidina como creme e enxaguatório dental pode causar descoloração na língua, nos dentes e nas restaurações, além de ocorrer excesso de salivação13. Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, 10(1):127-133, jan./abr. 2010 129 Câmara et al. - Soluções Irrigadoras para o Preparo Biomecânico de Canais Radiculares Quelantes Os quelantes são substâncias que fixam os íons metálicos dos complexos moleculares. Embora o NaOCl seja a solução irrigadora que mais se aproxima do ideal, não consegue dissolver partículas inorgânicas de dentina e prevenir a formação de smear layer durante a instrumentação dos canais radiculares. Foi proposto o uso de um sal derivado de um ácido fraco e orgânico17, o etilenodiaminotetracético sal dissódico (EDTA), pois, pela sua ação quelante, permite formular uma solução auxiliar para a instrumentação dos canais radiculares atresiados. Essa solução na concentração e no pH indicado pelo autor é biologicamente compatível aos tecidos da polpa e do periápice. O efeito antimicrobiano de soluções de EDTA é limitado. Todavia, alguns autores relataram que no tratamento endodôntico de dentes infectados nos quais houve o uso combinado de uma solução de EDTA com a de NaOCl a 5%, observou-se atividade antibacteriana mais eficaz do que quando se usava apenas a solução de NaOCl18. Ao contrário do NaOCl, o EDTA não possui atividade bactericida ou bacteriostática significativa. O que ocorre é que os quelantes, devido à sua propriedade de limpeza, podem destacar o biofilme bacteriano que fica aderido às paredes dos canais radiculares3. Recomenda-se a utilização de soluções de EDTA combinadas com soluções de NaOCl na remoção do smear layer, durante o preparo biomecânico de canais radiculares infectados11. Apresentando o smear layer em sua composição, componentes orgânicos e inorgânicos, o uso alternado de EDTA a 17% e NaOCl a 1% promove a sua remoção. O EDTA quela a porção calcificada e expõe o colágeno, o NaOCl atua removendo o material orgânico, inclusive o colágeno da matriz e possui atividade antimicrobiana19. O EDTA está indicado como coadjuvante do preparo biomecânico, por ser um quelante específico para os íons cálcio, em canais atresiados e calcificados, para remoção do magma dentinário superficial e combinado com o NaOCl durante o preparo biomecânico de canais radiculares infectados8,11. detergente apresente, ele pode ser classificado em aniônico, neutro ou catiônico. De maneira geral, os detergentes dotados de carga são mais eficazes, devido à formação de uma interface de mesma carga entre a superfície e a sujidade, fazendo com que, por repulsa da cargas de mesmo sinal, as partículas englobadas não consigam depositar-se novamente7. Detergentes Os detergentes, também conhecidos como tensoativos, estão em desuso na Endodontia, pois, apesar de possuírem boa capacidade de limpeza e uma ótima biocompatibilidade com os tecidos periapicais, não são bactericidas. Sua indicação é exclusivamente em dentes com polpa vital onde se observou os rigorosos critérios de antissepsia e assepsia20. Dependendo da polarização que a molécula do Peróxidos Os peróxidos se caracterizam por apresentarem ligação entre duas moléculas de oxigênio. O peróxido mais conhecido é o H2O2, popularmente chamado de água oxigenada. 130 Detergentes Aniônicos São compostos nos quais a cadeia graxa hidrofóbica está anexada a um grupo hidrófilo carregado negativamente. Como exemplo destacam-se o Lauril sulfato de sódio, Laurill dietilenoglicol éter sulfato de sódio. Detergentes Catiônicos Apresentam o grupo polar com carga positiva. O cloreto de benzalcônio, dehyquart A, cloreto de cetil piridina, salvizol, Cetavlon são exemplos deste grupo. Detergentes Neutros São compostos nos quais a cadeia graxa hidrofóbica está anexada a grupo hidrófilo sem carga. Como é o caso do Tween 80 e do Tween 20. Ácidos O ácido cítrico é um sal orgânico (ácido 2-hidroxi propano tricarboxílico), sólido, cristalino, quando à temperatura ambiente é muito solúvel em água, que atua sobre os tecidos mineralizados do dente, promovendo a sua desmineralização, podendo ser empregado na remoção do smear layer, após o preparo biomecânico do canal radicular3. Quanto à concentração do ácido cítrico, não há consenso entre autores, que indicam a concentração entre 1 e 50%. Quanto ao seu uso, dá-se preferência às soluções de menores concentrações8. O efeito antibacteriano do ácido cítrico está relacionado ao seu baixo pH (1,45 a 1,5), que promove a desnaturação de proteínas e enzimas. Porém esse pH ácido pode tem efeito adverso ao tecido perirradicular, devido ao seu efeito citotóxico21. Peróxido de Hidrogênio O peróxido de hidrogênio (H2O2) é um potente agente oxidante; apresenta-se sob a forma de um Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, 10(1):127-133, jan./abr. 2010 Câmara et al. - Soluções Irrigadoras para o Preparo Biomecânico de Canais Radiculares NaOCl + H2O2 Hipoclorito Peróxido de Hidrogênio de Sódio → → líquido incolor, transparente e altamente instável9. Diante de matéria orgânica, apresenta uma atividade antibacteriana limitada, além de ser ineficaz como solvente de tecido necrosado e como solução irrigadora na limpeza do sistema de canais radiculares22. Esta solução ainda é utilizada alternada com o NaOCl conforme foi descrito previamente23, a qual consistia no uso alternado do NaOCl a 5% com o peróxido de hidrogênio. Ao se associarem estas duas substâncias, há o desenvolvimento de efervescência, oriunda da liberação de oxigênio nascente, conforme a reação química: + H2O + O2 NaCl Cloreto de Água Oxigênio Sódio A justificativa para se utilizar o método descrito por Grossman (1943) é que a efervescência gerada iria maximizar a limpeza do sistema de canais radiculares, favorecendo a remoção de detritos e a eliminação de microrganismos. No entanto, estudos não evidenciaram maiores benefícios, no que diz respeito à limpeza e à desinfecção do canal radicular com o emprego deste método, quando comparado ao uso isolado do NaOCl4. Peróxido de Uréia O peróxido de uréia foi proposto como solução auxiliar da instrumentação de canais radiculares24. Verificou-se que o peróxido de uréia é mais efetivo que o peróxido de hidrogênio, porque suas moléculas ao entrarem em contato com exsudato purulento e o sangue, rompem-se mais lentamente, liberando oxigênio nascente por mais tempo. As pesquisas com peróxido de uréia foram desenvolvidas entre as décadas de 50 a 70 e essa solução foi introduzida associada a outras substâncias como RC-Prep® e Endo-PTC®. Associações e Misturas As associações e misturas são modos de obtenção do máximo proveito das propriedades químicas que as soluções apresentam25. Na Endodontia existe a possibilidade do preparo de várias misturas e associações. Dentre as associações preconizadas para o preparo biomecânico do sistema de canais radiculares destaca-se a água de cal. A água de cal é uma solução saturada de hidróxido de cálcio p.a. em água fervida ou resfriada, soro fisiológico ou água destilada (cerca de 0,14g de hidróxido de cálcio em 100mL de água), é límpida e apresenta o pH 11. A solução aquosa de hidróxido de cálcio apresenta uma alta tensão superficial, de 66,82 dinas, ausência de atividade solvente de tecido pulpar e atividade antibacteriana extremamente baixa. É recomendada nos casos de hemorragia pulpar, como substância hemostática, que atua por vasoconstricção, eliminando, assim, a possibilidade de hemorragia tardia. Com o objetivo de reduzir as propriedades negativas da solução aquosa de hidróxido de cálcio, foi realizada a associação hidróxido de cálcio + detergente aniônico (lauril dietilenoglicol éter sulfato de sódio). Esta associação apresenta pH alcalino e baixa tensão superficial, favorecendo a ação do hidróxido de cálcio para entrar em contato com as paredes dos canais radiculares20. Desenvolvimento de Novas Soluções Irrigadoras MTAD (Mistura de um Isômero de Tetraciclina, Ácido Cítrico e Detergente) Uma nova solução irrigadora foi proposta com a finalidade de promover a ação antimicrobiana juntamente com o aumento da permeabilidade dentinária, combinando-se os componentes: isômero de tetraciclina, ácido cítrico e o detergente Tween 8026. Estudos de citotoxicidade do MTAD em comparação com outras soluções irrigadoras e medicação intracanal demonstraram que o MTAD é menos citotóxico que o eugenol, peróxido de hidrogênio a 35%, pasta de hidróxido de cálcio, NaOCl a 5% e EDTA, e mais citotóxico que NaOCl a 2,63%, 1,31% e 0,66%; além de possuir efeitos neurotóxicos, causando parestesia transitória ou irreversível dos tecidos nervosos periapicais, caso esta solução ultrapasse acidentalmente no ápice radicular27. O valor clínico desta solução é questionável, pois a resistência à tetraciclina é comum em bactérias isoladas dos canais radiculares, sendo questionada então, a atividade antimicrobiana desta solução. O MTAD tem sido proposto como solução alternativa na irrigação final de canais radiculares após o preparo biomecânico com NaOCl e EDTA28. Mais pesquisas são necessárias para que esse material seja utilizado como solução irrigadora8. HEBP (Hidroxietilideno Bifosfonado) O hidroxietilideno bifosfonado, também chamado etidronato, é um agente descalcificante que demonstra pouca interferência nas propriedades do NaOCl quando utilizado com o mesmo. Foi recentemente sugerido como uma possível alternativa ao EDTA e ácido cítrico3. Por ser uma solução nova, faz-se necessário mais estudos sobre as suas propriedades e utilizações3,29. ECA (Soluções Eletroquimicamente Ativadas) São produzidas a partir de água de torneira e soluções salinas em baixas concentrações. A natureza química e física ainda não foi totalmente explicada. Sabe-se que dois tipos de compostos são produzidos: o anionlítico e o cationlítico. O anionlítico tem um alto Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, 10(1):127-133, jan./abr. 2010 131 Câmara et al. - Soluções Irrigadoras para o Preparo Biomecânico de Canais Radiculares potencial de oxidação e possui atividade antimicrobiana contra Mycobacterium tuberculosis, Escherichia coli, Enterococcus faecalis, Pseudomonas aeruginosa, vírus, fungos e protozoários. O cationlítico é uma solução alcalina com um grande potencial de redução e tem atividade detergente e de limpeza8. A ECA pode ter potencial como solução irrigadora, contudo, mais estudos são necessários. Desinfecção Fotoativada A desinfecção fotoativada é uma nova tecnologia que pode ser uma alternativa menos tóxica do que as soluções irrigadoras químicas. Utiliza a combinação de uma infiltração fotosensibilizante e uma luz de comprimento de onda específico. Esta combinação eliminou uma grande população de bactérias em suspensões planctônicas, colágeno e em dentina infectada. Também mostrou-se efetiva em bactérias comumente encontradas nos canais radiculares30. Água Ozonada Também tem sido investigada como solução irrigadora, pois o ozônio é conhecido por ser um forte agente antimicrobiano e mostrou-se efetivo em desinfectar túbulos dentinários em dentes de boi8. CONCLUSÕES 1) O NaOCl continua a ser a solução irrigadora de eleição na Endodontia; 2) O NaOCl a 1% deve ser utilizado durante o preparo biomecânico dos canais radiculares devido à sua atividade antimicrobiana, capacidade solvente de matéria orgânica e baixa citotoxicidade; 3) A clorexidina 1 a 2% é utilizada apenas quando o único requisito é a atividade antimicrobiana, em casos de microrganismos resistentes ao tratamento endodôntico e em lesões refratárias; 4) Uma solução de EDTA a 17% deve ser utilizada como coadjuvante do preparo biomecânico de canais radiculares infectados, no tratamento de canais atresiados e calcificados e para remoção do smear layer superficial; 5) Todas as soluções irrigadoras mencionadas neste trabalho apresentam limitações. A procura por uma solução irrigadora ideal continua com o desenvolvimento e pesquisas de novas substâncias. REFERÊNCIAS 1. Sundqvist G. Ecology of the root canal flora. J Endod 1992; 18(9):427-30. 132 2. Sassone lM, Fidel R, Vieira M, Hirata Júnior R. The influence of organic load on the antimicrobial activity of different concentrations of NaOCl and chlorhexidine in vitro. Int Endodod J 2003; 36(12):848-52. 3. Zehnder M. Root canal irrigants. J Endod 2006; 32(5):38998. 4. Siqueira Júnior JF, Machado AG, Silveira RM, Lopes HP, Uzeda M. de. Evaluation of the effectiveness of sodium hypochlorite used with three irrigation methods in the elimination of Enterococcus faecalis from the root canal, in vitro. Int Endodod J 1997; 30(4):279-82. 5. Jeansonne M, White R. A comparison of 2,0% chlorhexidine gluconate and 5,25% sodium hypochlorite as antimicrobial endodontic irrigants. J Endod 1994; 20(6):276-8. 6. Lui JN, Kuab HG, Chen NN. Efect of EDTA with and without surfactants or ultrasonics on removal of smear layer. J Endod 2007; 33(4):472-5. 7. Souza ADS, Machado MEL, Massaro H. Substâncias químicas auxiliares utilizadas em endodontia-irrigação e aspiração. In: Machado MEL. Endodontia: da biologia à técnica. São Paulo: Santos, 2007. p. 253-67. 8. El Karim I, Kennedy J, Hussey D. The antimicrobial effects of root canal irrigation and medication. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2007; 103(4):560-9. 9. Lopes HP, Siqueira Júnior JF, Elias CN. Substâncias químicas empregadas no preparo dos canais radiculares. In: Lopes HP, Siqueira Júnior JF. Endodontia: biologia e técnica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2004. p. 535-79. 10. Estrela C, Estrela CRA, Barbin EL, Spanó JCE, Marchesan MA, Pécora JD. Mechanism of action of sodium hypochlorite. Braz Dent J 2002; 13(2):113-7. 11. Marending M, Paqué F, Fischer J, Zehnder M. Impact of irrigant sequence on mechanical properties of human root dentin. J Endod 2007; 33(11):1325-8. 12. Kalfas S, Figdor D, Sundqvist G. A new bacterial species associated with failed endodontic treatment: Identification and description of Actinomyces radicidentis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2001; 92(2):208-14. 13. Sweetman S C. Martindale: the complete drug reference. London: Pharmaceutical Press, 2004. 2756p. 14. Becking AG. Complications in the use of sodium hypochlorite during endodontic treatment. Report of three cases. Oral Surg 1991; 71(4):346-8. 15. Addy M, Moran JM. Clinical indications for the use of chemical adjuncts to plaque control: chlorhexidine formulations. Periodontol 2000 1997; 15(1):52-4. 16. Naenni N, Thoma K, Zehnder M. Soft tissue dissolution capacity of currently used and potencial irrigants. J Endod 2004; 30(11):785-7. 17. Nygaard-Ostby B. Chelation in root canal therapy: ethylenediaminetetraacetic acid for cleansing and widening of root canals. Odontol Tidskr 1957; 65:3-11. 18. Byström A, Sundqvist G. The antibacterial action of sodium hypochlorite and EDTA in 60 cases of endodontic therapy. Int Endodod J 1985; 18(1):35-40. 19. Hülsmann M, Heckendorff M, Lennon A. Chelating agents in root canal treatment: mode of action and indications for their use. Int Endodod J 2003; 36(12):810-30. 20. Pécora JD, Souza-Neto MD, Estrela C. Soluções auxiliares do preparo do canal radicular. In: Estrela C, Figueiredo JAP. Endodontia: princípios biológicos e mecânicos. São Paulo: Artes Médicas, 2001. p. 553-69. 21. Garberoglio R, Becce C. Smear layer removal by root canal irrigants. A comparative scanning electron microscope study. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1994; 78(3):359-67. 22. Harrison JW. Irrigation of the root canal system. Dent Clin North Am 1984; 4:797-808. Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, 10(1):127-133, jan./abr. 2010 Câmara et al. - Soluções Irrigadoras para o Preparo Biomecânico de Canais Radiculares 23. Grossman LI. Irrigation of root canals. J Am Dent Assoc 1943; 30(12):1915-7. 24. Blechman H, Cohen M. Use of aqueous urea solution in the field of Endodontia: preliminary report. J Dent Res 1951; 30(4):503-4. 25. Baumgartner JC, Johal S, Marshall JG. Comparison of the antimicrobial efficacy of 1.3% NaOCl/BioPure MTAD to 5.25% NaOCl/15% EDTA for root canal irrigation. J Endod 2007; 33(1):48-51. 26. Torabinejad M, Khademi AA, Babagoli J, Cho Y, Johnson WB, Bozhilov K, Kim J, Shabahang S. A new solution for the removal of the smear layer. J Endod 2003; 29(3):170-5. 27. Deniz D, Sayin TC, Onur MA, Cehreli ZC, Bayolken M, Tasman FD. Influence of an antibacterial root canal cleanser (MTAD) on compound nerve action potentials. Int Endodod J 2007; 40(12):981. 28. Newberry BM, Shabahang S, Johnson N, Aprecio RM, Torabinejad M. The antimicrobial effect of biopure MTAD on eight strains of Enterococcus faecalis: an in vitro investigation. J Endod 2007; 33(11):1352-4. 29. De-Deus G, Zehnder M, Reis C, Fidel S, Fidel RAS, Galan Júnior J, Paciornik S. Longitudinal co-site optical microscopy study on the chelating ability of etidronate and EDTA using a comparative single-tooth model. J Endod 2008; 34(1):71-5. 30. Williams JA, Pearson GJ, Wilson M, John CM. Antibacterial action of photoactivated disinfection (PAD) used on endodontic bacteria in planktonic suspension and in artificial and human root canals. J Dent 2006; 34(6):363-71. Recebido/Received: 03/11/08 Revisado/Reviewed: 03/08/09 Aprovado/Approved: 12/10/09 Correspondência: Andréa Cruz Câmara Rua Nadir de Medeiros, 51 - Piedade Jaboatão dos Guararapes-PE Telefone: (81) 3361 5269 E-mail: [email protected] Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, 10(1):127-133, jan./abr. 2010 CEP: 54410-110 133 ANEXO C In vitro antimicrobial activity of 0.5%, 1%, and 2.5% sodium hypochlorite in root canals instrumented with the ProTaper Universal system Andréa Cruz Câmara, BDS, MSc,a Miracy Muniz de Albuquerque, MSc, PhD,b Carlos Menezes Aguiar, BDS, MSc, PhD,c and Ana Cristina Regis de Barros Correia,d Recife, Brazil FEDERAL UNIVERSITY OF PERNAMBUCO Objective. The purpose of this in vitro study was to evaluate the antimicrobial activity of 0.5%, 1% and 2.5% sodium hypochlorite in root canals instrumented with the ProTaper Universal system. Study design. Fifty human mandibular premolar teeth with single root canals were infected with a mixture of C. albicans, P. aeruginosa, E. faecalis, and S. aureus. The specimens were randomly divided into 5 groups with 10 root canals each according to the irrigant used: group 1: 0.5% NaOCl; group 2: 1% NaOCl; group 3: 2.5% NaOCl; group 4 (positive control): 0.85% sterile saline solution; group 5 (negative control, without microorganisms): 0.85% sterile saline solution. All root canals were instrumented with the ProTaper Universal system. The assessment of the antimicrobial action of the irrigant was performed before the biomechanical preparation (0), and after instrumentation with S1 (1), S2 (2), F1 (3), F2 (4), and F3 (5) files. Results. All positive control samples showed microbial growth, whereas negative control samples showed no microbial growth before the biomechanical preparation and after the instrumentation with S1, S2, F1, F2, and F3 files. The microorganisms were eliminated after the instrumentation with S1 file in all tested irrigants, except for 1 sample in S1 at 0.5% NaOCl which showed positive growth. There was no significant statistical difference (P ⫽ 1.000) among the tested irrigants. Conclusion. Sodium hypochlorite, at all tested concentrations, was effective in eliminating C. albicans, P. aeruginosa, E. faecalis, and S. aureus in combination with the NiTi rotary instrumentation with the ProTaper Universal system. (Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2009;108:e55-e61) Microorganisms play a fundamental role in the etiology of pulp and periapical diseases.1-3 More than 300 different microbial species can be found in infected root canals,4 and their control and elimination are important during endodontic treatment.5 The periapical microbiota of teeth with refractory apical periodontitis have been investigated. Approximately 51.0% of the bacterial strains were anaerobic. Gram-positive species constituted 79.5% of the flora. Facultative organisms, such as Staphylococcus, Enterococcus, Enterobacter, Pseudomonas, StenotrophomoSupported by grants from Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, Brazil. a Student of PhD Course in Pharmaceutical Sciences, Department of Pharmaceutical Sciences. b Associate Professor, Department of Pharmaceutical Sciences, Faculty of Pharmaceutical Sciences. c Associate Professor, Department of Prosthetics and Oral and Facial Surgery, Faculty of Dentistry. d Department of Pharmaceutical Sciences. Received for publication Jan 27, 2009; returned for revision Mar 20, 2009; accepted for publication Mar 22, 2009. 1079-2104/$ - see front matter © 2009 Published by Mosby, Inc. doi:10.1016/j.tripleo.2009.03.037 nas, Sphingomonas, Bacillus, and Candida species were recovered from 75% of the lesions.6 Ideally, endodontic treatment procedures should eliminate all living microorganisms present in the entire root canal system.7 Bacterial elimination from the root canal is performed by the instrument’s mechanical action and irrigation as well as the antibacterial effects of the irrigants.7-9 Because access to the root canal system is limited and the anatomy is complex, microorganisms may remain in the dentinal tubules and in other irregular spaces. When these microorganisms find a supporting environment, they can proliferate and reinfect the root canal system.5,8,10 Although several irrigants have been proposed over the years, sodium hypochlorite (NaOCl) remains the most widely used.7 It is an effective antimicrobial agent and an excellent organic solvent for vital, necrotic, and fixed tissues.11 However, it is highly irritating to periapical tissues, especially at high concentrations,12-14 and therefore it should be used at the lowest effective concentration and should not be forced beyond the apex. No general agreement exists regarding its optimal concentration, which may range from 0.5% to 5.25%.15 Its antimicrobial property is proportional to the concene55 e56 Câmara et al. tration.16 However, the irritant effect of NaOCl might be minimized by the short period that the solution remains in contact with the periapical tissue during instrumentation. It has been recognized that the NiTi rotary systems reduce the time required for biomechanical preparation as well as diminish the failures related to instrumentation.17,18 Since their introduction, numerous NiTi rotary systems have been added to the arsenal of endodontic tools. The same manufacturer may produce several designs, trying to improve the performance of such systems, ProTaper Universal being a clear example. The ProTaper NiTi rotary system has been upgraded to the ProTaper Universal system, which includes shaping, finishing, and retreatment instruments. It incorporates a shallow U-shaped groove at each of its convex triangular sides in cross section, supposedly to improve the flexibility of the larger instruments. The modified design has also been suggested to reduce the subjective feeling of the instrument being “pulled” into the canal, the so-called screw-in effect.19 With the reduced working time made possible by the advent of rotary techniques for root canal preparation compared with manual instrumentation,20,21 the irrigant solution should be one that exerts its antimicrobial activity quickly against the microorganisms found in the root canal and dentinal tubules. Therefore, the purpose of the present in vitro study was to evaluate the antimicrobial activity of 0.5%, 1%, and 2.5% NaOCl against some endodontic pathogens in root canals instrumented with the ProTaper Universal system. MATERIAL AND METHODS Sample selection and preparation Fifty freshly intact human mandibular premolar teeth (length 20-21 mm), straight, with a single root canal, checked by radiographs, and with complete apex formation that were extracted for orthodontic reasons from patients aged 16-18 years, obtained from the Tooth Bank of the Department of Prosthetics and Oral and Facial Surgery of the Federal University of Pernambuco, were selected with the approval of the Ethics in Research Committee of the University’s Center of Health Sciences. The teeth were stored in 10% formalin until use. The coronal access was performed. To determine the working length (WL), a #10 K-file (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Switzerland) was inserted into the root canal until it was visible at the apical foramen. The working length was calculated to be 1 mm less than the length obtained with this initial file. The specimens were stored in glass test tubes and were individually sterilized in an autoclave at 121°C for 30 minutes. Ten samples were randomly chosen and immersed totally in bottles containing 10 mL auto- OOOOE August 2009 Fig. 1. A, Experimental system. B, Experimental system filled with brain heart infusion. C, Turbidity of the medium indicating bacterial growth. claved brain heart infusion (BHI; Acumedia, Lansing, MI). They were kept in an incubator at 37°C for 96 hours to check the sterilization’s efficacy. Experiment preparation The methodology used was adapted from Gomes et al.22 Glass vials with rubber stoppers were adjusted for use in this experiment. Using a heated instrument, a hole was made through the center of every rubber stopper in which each tooth was inserted under pressure up to its cementoenamel junction, so that its crown would lie outside and its root inside the vial (Fig. 1, A). The interface between the tooth and rubber stopper was sealed with 3 layers of cyanoacrylate (Henkel, Sao Paulo, Brazil). The experimental systems were sterilized in an autoclave at 121°C for 30 minutes, and inside a laminar flux chamber (Veco, Piracicaba, Brazil) they were filled with BHI (Fig. 1, B). The experimental systems were kept in an incubator at 37°C for 96 hours and no turbidity of the medium was observed. Bacterial strains Microorganisms with different characteristics were used: gram-positive cocci and gram-negative rods and yeast. The microorganisms strains used in this experiment were obtained from the American Type Culture Collection (ATCC, Rockville, MD): Candida albicans (ATCC 10231), Pseudomonas aeruginosa (ATCC 9027), Enterococcus faecalis (ATCC 19433), and Staphylococcus aureus (ATCC 6538). Bacterial cultures and infection of the root canal The following procedures were performed inside a laminar flux chamber (Veco) using sterilized instruments and materials. OOOOE Volume 108, Number 2 Isolated 24-hour colonies of pure cultures of C. albicans, P. aeruginosa, E. faecalis, and S. aureus grown on 10% sheep blood plus BHI (Newprov, Paraná, Brazil) agar plates were suspended in a sterile 0.85% NaCl solution. The suspensions of the microorganisms had the optical density adjusted spectrophotometrically to approximately 3.0 ⫻ 108 colony-forming units (CFU)/mL (equivalent to 1.0 on the McFarland scale). From each experimental suspension, 1 mL was removed and a mixture of the 4 selected microorganisms was prepared. The sterilized experimental systems were then opened. The root canals were infected, except for the negative control, with 10 L of the suspension containing the microorganisms using an automatic micropipette (Gilson, Villiera-le-Bel, France) placed into the access cavity of each tooth. After introduction of the suspension, sterile #10 K-files (Dentsply Maillefer) were used to carry the bacterial suspension to the WL. The infected teeth were incubated at 37°C for 48 hours. The turbidity of the medium during the incubation period indicated bacterial growth (Fig. 1, C). The teeth considered to have positive bacterial growth were those which presented medium turbidity matching the turbidity of McFarland 4 (12 ⫻ 108 CFU/mL) during the incubation period.15 The purity and the identification of the cultures were confirmed by Gram staining, the colony morphology, and the growth on Petri dishes with the following media: Cetrimide Agar (Acumedia), Vogel and Johnson Agar (Acumedia), Saboraud Dextrose Agar (Acumedia), Candida Elective Agar according to Nickerson (Merck, Darmstadt, Germany), Blood Agar (Newprov, Paraná, Brazil), and Chromocult Enterococci Agar (Merck). If the 4 microorganisms were not identified, the experimental system was discarded. The efficiency of the method for the infection of the root canal was observed in a pilot study. All assays were conducted in triplicate under aseptic conditions. Root canal biomechanical preparation Freshly prepared 0.5%, 1%, and 2.5% NaOCl solutions (Farmácia Escola Carlos Dumont de Andrade, Recife, Brazil) were used for root canal irrigation. The infected teeth were removed from the experimental systems with the contaminated medium and transfered to glass vials without the medium, for the teeth to remain fixed at the beginning of the instrumentation. The specimens were randomly divided into 3 experimental groups and 2 control groups with 10 root canals each according to the irrigant used during root canal preparation as follows: group 1: 0.5% NaOCl; group 2: 1% NaOCl; group 3: 2.5% NaOCl; group 4 (positive control): 0.85% sterile saline solution; and group 5 (negative control, without microorganisms): 0.85% sterile saline solution. Câmara et al. e57 For irrigation of the root canal, the 3-mL FCF syringe system (FCF, São Paulo, Brazil) with a 30-gauge needle (Injecta, Diadema, Brazil) was used. The irrigation was performed at the start of the instrumentation, between changes of instrument, and at the end of the biomechanical preparation. All root canals were instrumented with the ProTaper Universal using an electric motor (Driller Endo-Pro Torque, Säo Paulo, Brazil) at a speed of 300 rpm as follows: 1) SX file was used to one-half of the WL; 2) S1 file was used up to 4 mm short of the apex; 3) S1 and S2 files were used to the full WL; and 4) F1, F2, and F3 files were used to the full WL. A single operator instrumented all root canals. After the instrumentation with each instrument and before drying the root canal, in groups 1, 2, and 3, irrigation with 5% sodium thiosulphate solution was used to neutralize NaOCl. The shaping time was recorded, excluding the assessment of the antimicrobial action of the irrigant solutions. Irrigant solutions: assessment of antimicrobial action To assess the antimicrobial action of the irrigant solutions, sterile paper points were consecutively placed in the root canal. Each paper point was left in the root canal for 1 minute as follows: 0: initial (before biomechanical preparation); 1: after instrumentation with S1 file to the full WL; 2: after instrumentation with S2 file; 3: after instrumentation with F1 file; 4: after instrumentation with F2 file; 5: after instrumentation with F3 file. The paper points were transfered to Petri dishes containing the following media: Cetrimide Agar (to verify the presence of P. aeruginosa), Vogel and Johnson Agar (to verify the presence of S. aureus), Saboraud Dextrose Agar and Candida Elective Agar according to Nickerson (to verify the presence of C. albicans), Chromocult Enterococci Agar (to verify the presence of E. faecalis), and Blood Agar (to verify the hemolytic activity). The plates were then incubated at 37°C for 48 hours. After incubation, bacterial growth was assessed with light microscopy at ⫻400. All assays were conducted in triplicate under aseptic conditions to ensure the reliability of this study. Statistical analysis The categoric data were summarized by means of absolute frequency and relative percentage, and the numeric data by means of the usual descriptive statistics of location and dispersion. The results were statistically analyzed using the chi-squared test, and the Fisher exact test was used when the conditions for the use of the chi-squared test were not verified (statistical inference). A level of significance of .05 was adopted. e58 Câmara et al. Fig. 2. Positive control showing: A, P. aeruginosa growth. B, S. aureus growth. The Statistical Package for the Social Sciences, version 13 (SPSS, Chicago, IL) was used. RESULTS Irrigant antimicrobial efficacy Microbial growth was found in all initial samples (0: before biomechanical preparation), except for the negative control group, demonstrating that the contamination was effective in all root canals of all groups. All positive control samples showed microbial growth before the biomechanical preparation and after the instrumentation with S1, S2, F1, F2, and F3 files (Fig. 2), whereas negative control samples showed no microbial growth before the biomechanical preparation and after the instrumentation with S1, S2, F1, F2, and F3 files (Table I). The irrigants’ antimicrobial efficacy against S. aureus, P. aeruginosa, C. albicans, and E. faecalis is shown in Table II. Table II demonstrates that between the experimental groups, the microorganisms were already eliminated after the instrumentation with S1 file to the full WL in all tested irrigants (Fig. 3), except for 1 sample in S1 at 0.5% NaOCl which showed positive growth. The 0.5%, 1.0%, and 2.5% NaOCl concentrations in combination with the NiTi rotary instrumentation with the ProTaper Universal system were similarly effective and allowed for complete elimination of the microorganisms. There was no significant statistical difference (P ⫽ 1.000) among the tested irrigants. Root canal preparation time The mean preparation time for the ProTaper Universal system was 4.2 ⫾ 1.5 minutes. DISCUSSION Various methodologies can be used to assess the antimicrobial activity of endodontic irrigants, such as direct contact method, agar diffusion method, and artificial infection of extracted teeth with the selected microorganism and in situ irrigation with the test antimi- OOOOE August 2009 crobial agents.5,11,16 The infection methodology adopted for the present study was adequate, because after 48 hours of incubation, all initial samples were recovered with pure cultures of viable microorganisms. Microbial sampling is another important step that varies among the different methodologies. In the present research, the microbial samples collected within the root canals with sterile paper points were obtained before, during, and after the biomechanical preparation with the ProTaper Universal system to evaluate the antimicrobial activity of 0.5%, 1%, and 2.5% NaOCl. The use of paper point technique has the advantage that it can be performed in vitro and in vivo.5,23 On the other hand, bacteriologic sampling with paper points is limited, because only the microorganisms that are present in the main root canal can be sampled, and the ones that are located inside the dentin tubules are inaccessible. The method of obtaining dentinal samples using burs of different diameters can evaluate the presence of bacterial cells inside the dentinal tubules; however, it was not included in this study. The microorganisms and their products are considered the main cause of pulpal and periapical diseases.1 The pathogens used in the present study were selected because of their clinical importance and association with endodontic infection.6 Microorganisms such E. faecalis and C. albicans have been reported to be of particular interest in cases of persistent periradicular lesions.2,4,24,25 Staphylococcus aureus and P. aeruginosa have also been associated with persistent infections.7,26,27 Among the procedures involved in the control of endodontic infection, instrumentation and irrigation are important agents in eliminating the microorganisms from the root canal system.8,9,11 Sodium hypochlorite solution is, to date, the most commonly used root canal irrigant. However, no general agreement exists regarding its optimal concentration, which may be from 0.5% to 5.25%.15,28 Kozol et al.29 evaluated the toxic effects of NaOCl and observed that 0.025% was a safe concentration for clinical use, maintaining the antimicrobial action without harmful effects on the periapical tissues, agreeing with the present study and others,3,10 because even at low concentrations NaOCl solution showed antimicrobial activity against resistant microorganisms such as E. faecalis, C. albicans, S. aureus, and P. aeruginosa. On the other hand, some authors15,16,28,30 have reported that microorganisms, such as E. faecalis, are resistant to NaOCl at low concentrations but susceptible to concentrations up to 5.25%.26,28,31 The present study reinforces the importance of using irrigant solutions with antimicrobial activity during the biomechanical preparation, because in the positive control group, a 0.85% saline solution was used and showed no antibacterial activity, which is in accordance OOOOE Volume 108, Number 2 Câmara et al. e59 Table I. Microbial growth of the positive and negative control groups Positive Negative Total Instrument Group n % n % n % P value* S1 Positive control Negative control Total Positive control Negative control Total Positive control Negative control Total Positive control Negative control Total Positive control Negative control Total 10 — 10 10 — 10 10 — 10 10 — 10 10 — 10 100.0 — 50.0 100.0 — 50.0 100.0 — 50.0 100.0 — 50.0 100.0 — 50.0 — 10 10 — 10 10 — 10 10 — 10 10 — 10 10 — 100.0 50.0 — 100.0 50.0 — 100.0 50.0 — 100.0 50.0 — 100.0 50.0 10 10 20 10 10 20 10 10 20 10 10 20 10 10 20 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 ⬍.001† S2 F1 F2 F3 ⬍.001† ⬍.001† ⬍.001† ⬍.001† *Chi-squared test. †Statistically significant difference at .05. Table II. Antimicrobial efficacy of 0.5%, 1%, and 2.5% NaOCl in root canals infected by S. aureus, P. aeruginosa, C. albicans and E.faecalis Positive Negative Total Instrument NaOCI n % n % n % P value* S1 0.5% 1.0% 2.5% Total 0.5% 1.0% 2.5% Total 0.5% 1.0% 2.5% Total 0.5% 1.0% 2.5% Total 0.5% 1.0% 2.5% Total 1 — — 1 — — — — — — — — — — — — — — — — 10.0 — — 3.3 — — — — — — — — — — — — — — — — 9 10 10 29 10 10 10 30 10 10 10 30 10 10 10 30 10 10 10 30 90.0 100.0 100.0 96.7 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 10 10 10 30 10 10 10 30 10 10 10 30 10 10 10 30 10 10 10 30 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 100.0 1.000 S2 F1 F2 F3 † † † † *Fisher exact test. †Could not be determined because of the absence of one of the categories. with previous work.11 However, Siqueira Júnior et al.3 and Berber et al.16 showed that saline solution could remove microorganisms from the main root canal, although bacterial reduction was significantly superior when NaOCl solutions were used as irrigant. Because chemomechanical preparation is a shorttime procedure, it would appear that the antibacterial effectiveness of the irrigant inside the root canal might be highly dependent on its concentration. Research15,32 has demonstrated that 0.5% and 1% NaOCl showed antimicrobial activity, but these concentrations need at least 20-30 minutes to inhibit bacterial growth; in contrast, 5.25% NaOCl killed microorganisms in seconds. In the present research, the mean instrumentation time e60 OOOOE August 2009 Câmara et al. Fig. 3. Antimicrobial efficacy of 1% NaOCl: A, Cetrimide. B, Vogel and Johnson. C, Candida Elective Agar according to Nickerson. D, Saboraud Dextrose Agar. E, Blood Agar. F, Chromocult Enterococci Agar. was 4.2 ⫾ 1.5 minutes and no difference in antibacterial effects was observed between the 3 NaOCl concentrations used in the infected root canals, in accordance with earlier studies.3,33 Various brands of NiTi rotary systems have been introduced in the market. Most of them come with a regularly tapered shaft, whereas the ProTaper Universal system has a varying taper along the length of the instrument.19 The use of rotary NiTi files for root canal preparation helped to significantly reduce the time required to instrument canals, with minimal deviation from the original canal path compared with hand instrumentation.17,18,34 However the cleaning of the endodontic system is not always effective, especially in flattened root canals. Rollison et al.35 reported that only the instrumentation with rotary systems without irrigating solutions with antimicrobial activity was unable to remove all the bacteria within the root canal, which is consistent with the results of the present study, where the instrumentation with the ProTaper Universal system with a 0.85% saline solution was not effective in eliminating C. albicans, P. aeruginosa, E. faecalis, and S. aureus. Chuste-Guillot et al.36 and Siqueira Júnior et al.37 evaluated the bacterial reduction of in vitro infected root canals after instrumentation by NiTi rotary files and showed that despite extensive instrumentation and antiseptic irrigation, bacteria could remain in the root canal, maintaining the infection inside the canal. Nevertheless, in the present research, all microorganims were eliminated after the instrumentation with the ProTaper Universal system and irrigation with all tested solutions. With the reduced working time made possible by the advent of rotary systems, the irrigant of choice should be one that exerts its microbial activity quickly against microorganisms found in the root canal and dentinal tubules. The purpose of this in vitro study was to evaluate the antimicrobial activity of 0.5%, 1%, and 2.5% NaOCl against some endodontic pathogens in root canals instrumented with the ProTaper Universal system. Under the tested conditions and within the limitations of this in vitro study, it may be concluded that NaOCl at all tested concentrations was effective in eliminating C. albicans, P. aeruginosa, E. faecalis, and S. aureus in combination with the NiTi rotary instrumentation with the ProTaper Universal system. Further investigations are necessary to evaluate its clinical significance, because of the dynamic biologic environment with mixed bacterial cultures that usually occurs in vivo. REFERENCES 1. Kakehashi S, Stanley HR, Fitzgerald RJ. The effects of surgical exposures of dental pulps in germ-free and conventional laboratory rats. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 1965;20:340-9. 2. Sundqvist G. Ecology of the root canal flora. J Endod 1992;18:427-30. 3. Siqueira Júnior JF, Rôças IN, Favieri A, Lima KC. Chemomechanical reduction of the bacterial population in the root canal after instrumentation and irrigation with 1%, 2.5%, and 5.25% sodium hypochlorite. J Endod 2000;26:331-4. 4. Turk BT, Ates M, Sen BH. The effect of treatment of radicular dentin on colonization patterns of C. albicans. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008;106:457-62. 5. Menezes MM, Valera MC, Jorge AOC, Koga-Ito CY, Camargo CHR, Mancini MNG. In vitro evaluation of the effectiveness of irrigants and intracanal medicaments on microorganisms within root canals. Int Endod J 2004;37:311-9. OOOOE Volume 108, Number 2 6. Sunde PT, Olsen I, Debelian GJ, Tronstad L. Microbiota of periapical lesions refractory to endodontic therapy. J Endod 2002;28:304-10. 7. Siqueira Júnior JF, Rôças IN. Clinical implications and microbiology of bacterial persistence after treatment procedures. J Endod 2008;34:1291-1301. 8. Barato-Filho F, de Carvalho Júnior JR, Fariniuk LF, Sousa-Neto MD, Pécora JD, da Cruz-Filho AM. Morphometric analysis of the effectiveness of different concentrations of sodium hypochlorite associated with rotary instrumentation for root canal cleaning. Braz Dent J 2004;15:36-40. 9. Siqueira Júnior JF, Rôças IN, Paiva SSM, Guimarães-Pinto T, Magalhães KM, Lima KC. Bacteriologic investigation of the effects of sodium hypochlorite and chlorhexidine during the endodontic treatment of teeth with apical periodontitis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2007;104:122-30. 10. Sassone LM, Fidel RAS, Murad CF, Fidel SR, Hirata Júnior R. Antimicrobial activity of sodium hypochlorite and chlorhexidine by two different tests. Aust Endod J 2008;34:19-24. 11. Sena NT, Gomes BPFA, Vianna ME, Berber VB, Zaia AA, Ferraz CCR, Souza-Filho FJ. In vitro antimicrobial activity of sodium hypochlorite and chlorhexidine against selected singlespecies biofilms. Int Endod J 2006;39:878-85. 12. Pelka M, Petschelt A. Permanent mimic musculature and nerve damage caused by sodium hypochlorite: a case report. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008;106:e80-3. 13. Bowden JR, Ethunandan M, Brennan PA. Life-threatening airway obstruction secondary to hypochlorite extrusion during root canal treatment. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2006;101:402-4. 14. Serper A, Özbek M, Çalt S. Accidental sodium hypochloriteinduced skin injury during endodontic treatment. J Endod 2004;30:180-1. 15. Gomes BPFA, Ferraz CCR, Vianna ME, Berber VB, Teixeira FB, Souza-Filho FJ. In vitro antimicrobial activity of several concentrations of sodium hypochlorite and chlorhexidine gluconate in the elimination of Enterococcus faecalis. Int Endod J 2001;34:424-8. 16. Berber VB, Gomes BPFA, Sena NT, Vianna ME, Ferraz CCR, Zaia AA, Souza-Filho FJ. Efficacy of various concentrations of NaOCl and instrumentation techniques in reducing Enterococcus faecalis within root canals and dentinal tubules. Int Endod J 2006;39:10-7. 17. Câmara AC, Aguiar CM, de Figueiredo JAP. Assessment of the deviation after biomechanical preparation of the coronal, middle, and apical thirds of root canals instrumented with three Hero rotary systems. J Endod 2007;33:1460-3. 18. Aguiar CM, Câmara AC. Radiological evaluation of the morphological changes of root canals shaped with ProTaper for hand use and the ProTaper and RaCe rotary instruments. Aust Endod J 2008;34:115-9. 19. Kim HC, Cheung GSP, Lee CJ, Kim BM, Park JK, Kang SI. Comparison of forces generated during root canal shaping and residual stresses of three nickel-titanium rotary files by using a three-dimensional finite-element analysis. J Endod 2008;34:743-7. 20. Guelzow A, Stamm O, Martus P, Kielbassa AM. Comparative study of six rotary nickel-titanium systems and hand instrumentation for root canal preparation. Int Endod J 2005;38:743-52. 21. Kummer TR, Calvo MC, Cordeiro MMR, Vieira R de S, Rocha, MJ de C. Ex vivo study of manual and rotary instrumentation techniques in human primary teeth. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008;105:e84-92. 22. Gomes BPFA, Sato E, Ferraz CCR, Teixeira FB, Zaia AA, Souza-Filho FJ. Evaluation of time required for recontamination Câmara et al. e61 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. of coronally sealed canals medicated with calcium hydroxide and chlorhexidine. Int Endod J 2003;36:604-9. Mercade M, Duran-Sindreu F, Kuttler S, Roig M, Durany N. Antimicrobial efficacy of 4.2% sodium hypochlorite adjusted to pH 12, 7.5, and 6.5 in infected human root canals. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2009;107:295-8. Ruff ML, McClanahan SB, Babel BS. In vitro antifungal efficacy of four irrigants as a final rinse. J Endod 2006;32:331-3. Stuart CH, Schwartz SA, Beeson TJ, Owatz CB. Enterococcus faecalis: its role in root canal treatment failure and current concepts in retreatment. J Endod 2006;32:93-8. Huth KC, Quirling M, Maier S, Kamereck K, Alkhayer M, Paschos E, et al. Effectiveness of ozone against endodontopathogenic microorganisms in a root canal biofilm model. Int Endod J 2009;42:3-13. Siqueira Júnior JF. Endodontic infections: concepts, paradigms, and perspectives. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2002;94:281-93. Oliveira DP, Barbizam JVB, Trope M, Teixeira FB. In vitro antibacterial efficacy of endodontic irrigants against Enterococcus faecalis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2007;103:702-6. Kozol RA, Gillies C, Elgebaly AS. Effects of sodium hypochlorite (Dakin’s solution) on cells of the wound module. Arch Surg 1988;123:420-3. Estrela C, Estrela CRA, Dercucio DA, Hollanda ACB, Silva JA. Antimicrobial efficacy of ozonated water, gaseous ozone, sodium hypochlorite and chlorhexidine in infected human root canals. Int Endod J 2007;40:85-93. Williamson AE, Cardon JW, Drake DR. Antimicrobial susceptibility of monoculture biofilms of a clinical isolate of Enterococcus faecalis. J Endod 2009;35:95-7. Vianna ME, Gomes BPFA, Berber VB, Zaia, AA, Ferraz CCR, de Souza-Filho FJ. In vitro evaluation of the antimicrobial activity of chlorhexidine and sodium hypochlorite. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2004;97:79-84. D’Arcangelo C, Varvara G, de Fazio P. An evaluation of the action of different root canal irrigants on facultative aerobicanaerobic, obligate anaerobic, and microaerophilic bacteria. J Endod 1999;25:351-3. Sabet NE, Lutfy RA. Ultrastructural morphologic evaluation of root canal walls prepared by two rotary nickel-titanium systems: a comparative study. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2008;106:e59-66. Rollison S, Barnett F, Stevens RH. Efficacy of bacterial removal from instrumented root canal in vitro related to instrumentation technique and size. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2002;94:366-71. Chuste-Guillot MP, Badet C, Peli JF, Perez F. Effect of three nickel-titanium rotary file techniques on infected root dentin reduction. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2006;102:254-8. Siqueira Júnior JF, Lima KC, Magalhães FAC, Lopes HP, de Uzeda M. Mechanical reduction of the bacterial population in the root canal by three instrumentation techniques. J Endod 1999; 25:332-5. Reprint requests: Andréa Cruz Câmara Rua Nadir de Medeiros, 51 Piedade, Jaboatão dos Guararapes PE 54410-110 Brazil [email protected]