Efeitos do Bloqueio do Receptor GRPR, sobre a Preferência pelo
Odor Materno e o Condicionamento Olfativo em Filhotes Machos
de Ratos
XI Salão de
Iniciação Científica
PUCRS
Luisa Alcalde1, Vanessa Athaíde Garcia, Arethuza Dornelles, Juliana Presti-Torres, Luís Henrique
Halmenschlager, Rafael Roesler e Nadja Schröder1 (orientadora)
1
Faculdade de Biociências, PUCRS, 2 Laboratório de Biologia e Desenvolvimento do Sistema Nervoso.
Introdução
O receptor do peptídeo liberador de gastrina (GRPR) tem sido considerado como um novo
alvo molecular em desordens do desenvolvimento neurológico (Roesler et al., 2004). Estudos prévios
realizados em nosso laboratório demonstraram que o bloqueio farmacológico do GRPR durante o
período neonatal em ratos produz alterações comportamentais características que podem ser
relacionadas com distúrbios autistas, tais como déficits de comportamento de interação social. Neste
estudo, Ratos Wistar machos que receberam diferentes doses do antagonista do GRPR, RC3095,
durante o período pós-natal (PN1-10), ao serem submetidos à tarefa de comportamento social,
reconhecimento do objeto novo e esquiva inibitória, na fase adulta, apresentaram um pronunciado
isolamento social, além de importantes déficits cognitivos relacionados à memória de longa duração.
Tais evidências da correlação entre o bloqueio desse receptor e as alterações provocadas podem
corroborar com as hipóteses que o GRP e o GRPR estão relacionados ao desenvolvimento neurológico
(Presti-Torres et al., 2007).
Alterações no comportamento de estabelecimento de vínculos podem desempenhar um papel
importante na disfunção de comportamento social apresentada por crianças autistas. A função olfativa
é bem conhecida e desempenha um importante papel na sobrevivência dos animais recém nascidos,
bem como em seres humanos. Lactantes humanos são capazes de detectar diferentes odores logo após
o nascimento, além de reter algumas memórias destes odores. Essa informação é de extrema
importância para a interação mãe-bebê. Ainda não está claro se estas atrações olfativas são
determinadas geneticamente ou se as aprendemos através da experiência (So et al., 2008). Uma vez
que ratos tratados com RC3095 no período neonatal apresentam déficits de interação social, no
presente trabalho tivemos como objetivo investigar os efeitos do bloqueio do GRPR, utilizando seu
antagonista RC3095, sobre a preferência ao odor materno (comportamento relacionado ao
estabelecimento de vínculos na infância) e o aprendizado olfativo em ratos jovens.
Metodologia
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Ratas Wistar prenhes foram obtidas da Fundação Estadual de Pesquisa e Produção em
Saúde, Porto Alegre, Brasil. Cada ninhada foi ajustada em 8 filhotes de ambos os sexos e mantida com
sua respectiva mãe em sua caixa de moradia em ambiente climatizado com ciclos claro/escuro de 12
horas, recebendo alimentação comercial e água ad libitum. Os ratos foram pesados 24 horas após o
nascimento e, em seguida, receberam injeções intraperitoneais (ip), duas vezes ao dia, de RC-3095 (DTipi6, Leu 13 psi[CH2NH]-Leu 14) na dose de 1,0 mg/kg de peso corporal do 1º ao 10º dia de vida
pós-natal. O fármaco foi diluído em solução salina (Presti-Torres et al., 2007).
Tarefa de Preferência pelo Odor Materno: Foi utilizada uma caixa de acrílico de 34 cm de
largura x 40cm de comprimento x 24 cm de altura, a qual foi dividida em 2 áreas de 19 cm por uma
zona neutra de 2 cm. No início de cada teste, 300 ml de maravalha limpa, considerada como odor
neutro; e maravalha do ninho da caixa de moradia, sendo esta considerada como odor familiar, foram
colocadas no canto de cada área. O filhote foi colocado na linha que determina a zona neutra. O
comportamento de cada filhote foi filmado por 1 minuto, ao fim dessa filmagem a caixa foi limpa com
álcool 70% e as maravalhas trocadas de lado. Cada teste consistiu de 5 trials com 1 minuto de
intervalo entre cada trial (Raineki et al., 2009).
Condicionamento Olfativo: O condicionamento dos animais consistiu de quatro sessões de
treino no 15º, 16º, 17º e 18º dia de vida. Durante o treino, o animal foi colocado na caixa de Skinner,
onde recebeu sucessivos choques (estímulo incondicionado) na presença de odor cítrico (estímulo
condicionado). Foram, ao todo, três choques de 0,5 mA de duração de 0,4 segundos com intervalos de
30 segundos, totalizando 2 minutos de treino por dia. No 19° dia de vida foi realizado o teste onde os
animais foram colocados novamente à caixa de Skinner por cinco minutos com a presença do estímulo
condicionado (odor cítrico), porém sem a presença do estímulo incondicionado (choque) (Sevelinges
et al., 2007). As sessões de treino e teste foram filmadas e posteriormente analisadas, e a porcentagem
do tempo em que o animal realizou o comportamento de freezing foi registrada utilizando-se o
programa computacional Noldus® (Holanda).
Análise Estatística: No teste de preferência pelo odor materno as comparações entre os grupos
foram realizadas através do teste T de Student para amostras independentes.
Para o teste do
condicionamento olfativo as comparações entre os grupos foram realizadas utilizando-se ANOVA,
seguida pelo teste de Tukey.
Resultados
Os resultados apresentados neste trabalho demonstram que os filhotes que receberam
o tratamento neonatal com RC-3095 durante o 1° ao 10º dia de desenvolvimento pós-natal (PN1-10) e
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foram submetidos à tarefa de preferência pelo odor materno apresentaram um prejuízo de
comportamento relacionado à preferência pelo odor da mãe, sugerindo que o bloqueio do receptor
GRPR reduz o vínculo entre os filhotes e a mãe. Este prejuízo é provavelmente devido a uma
disfunção específica no comportamento de apego, mais do que um prejuízo no aprendizado do odor,
pois, em relação à tarefa de condicionamento aversivo ao odor, observamos que tanto os filhotes que
receberam o tratamento com o antagonista do GRPR quanto àqueles que receberam solução salina,
apresentaram níveis similares de freezing. Esses resultados sugerem que o bloqueio do GRPR no
período neonatal não interfere na memória de condicionamento ao odor.
Conclusão
A deficiência no comportamento de estabelecimento de vínculo dos filhotes com a
mãe encontrada no presente trabalho pode estar relacionada com resultados publicados anteriormente
por nosso grupo de pesquisa indicando que o tratamento com RC-3095 no período neonatal resulta em
prejuízos significativos na tarefa de interação social (Presti-Torres et al., 2007). É provável que a
dificuldade de estabelecimento de vínculos com a mãe no período neonatal seja refletida na
dificuldade de interação social apresentada posteriormente na idade adulta.
Estes resultados fornecem a primeira evidência de que o GRPR regula o comportamento de
preferência materno e são consistentes com a visão de que o GRPR está envolvido com mecanismos
comportamentais associados a perturbações do desenvolvimento neurológico.
Referências
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RAINEKI C, DE SOUZA MA, SZAWKA RE, LUTZ ML, DE VASCONCELLOS LF, SANVITTO GL,
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ROESLER, R.; HENRIQUES, J. A.; SCHWARTSMANN, G. Neuropeptides and anxiety disorders: bombesin
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SEVELINGES Y, MORICEAU S, HOLMAN P, MINER C, MUZNY K, GERVAIS R, MOULY AM,
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SO, K.; MORIYA, T.; NISHITANI, S.; TAKAHASHI, H.; SHINOHARA, K. The olfactory conditioning in the
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neurogenesis in the olfactory bulb of rats. Neuroscience, v. 151, n. 1, p. 120–8, 2008.
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