UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM E FISIOTERAPIA
CURSO DE ENFERMAGEM
ADESÃO AO PRÉ-NATAL: A
REPRODUÇÃO DE UM CONCEITO
Orientadas: Milena Sales Costa
Thais Oliveira Sousa
Orientadora:Profª. Ms. Maria Aparecida da Silva
Goiânia
2002
2
MILENA SALES COSTA
THAÍS OLIVEIRA SOUSA
ADESÃO AO PRÉ-NATAL:
A REPRODUÇÃO DE UM CONCEITO
Monografia
apresentada
ao
Curso
de
Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da
Universidade Católica de Goiás como requisito
parcial para a obtenção do título de Graduação
em Enfermagem.
Orientadora:Prof. Ms. Maria Aparecida da Silva
GOIÂNIA
2002
3
Dedicamos este trabalho aos nossos pais, familiares e
amigos
pela
caminhada.
compreensão,
ajuda
e
incentivo
nesta
árdua
4
AGRADECIMENTOS
Nossa Gratidão à Deus, que nos
guia na estrada da vida dandonos inteligência, paciência e
saúde para podermos realizar
nossos sonhos.
À nossa orientadora professora
Ms. Maria Aparecida da Silva,
pela paciência e dedicação com
que nos mostrou o prazer de
realizar esta pesquisa.
Às gestantes que gentil mente
aceitaram
compartilhar
seus
pensamentos
e
conceitos
possibilitando,
assim,
a
compreensão
do
objeto
de
estudo.
À
Unidade
de
saúde
que
contribuiu
para
o
desenvolvimento desta pesquisa,
ao permitir o contato com as
participantes da pesquisa.
5
SUMÁRIO
RESUMO
1 – INTRODUÇÃO .................................................................... ....... 07
1.1. O problema de estudo ................................................................. 07
2 – FUNDAMENTOS TEÓRICO- METODOLÓGICOS........................... 11
2.1. Pesquisa qualitativa ................................................................... 11
2.2. Representações sociais ..............................................................
12
2.3.Pesquisa de campo ...................................................................... 12
2.3.1. Local ..........................................................................
12
2.3.2. Sujeito ..........................................................................
13
2.3.3. Instrumentos da co leta de informação ..............................
13
2.3.4.O processo de análise das entrevistas ...............................
15
3- ADESÃO DO PRÉ- NATAL: A REPRODUÇÃO DE UM CONCEITO..
17
3.1.Apresentação das participantes ............................... ....................
17
3.2.As representações sobre o pré- natal ............................................
18
3.3.Os motivos de adesão ao programa de pré- natal ...........................
23
3.4.O significado do acolhimento no pré- natal ..................................
28
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................
34
5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................
36
6- ANEXOS ...................................................................................
38
A- Solicitação de autorização de pesquisa
B- Autorização do comitê de ética
C- Termo de cosentimento livre e de esclarecimento
D- Ficha de Informação Complementar
6
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo compreender os motivos que levam as gestantes a
aderirem ao programa de pré-natal através das suas representações culturais, sociais e
familiares. O estudo tem caráter qualitativo com enfoque das representações sociais. As
informações foram obtidas por meio de entrevistas semi- estruturadas com gestantes que
aderiram ao programa de pré-natal em uma unidade básica de saúde de Goiânia, no mês de
março de 2002. A análise do material obtido possibilitou o surgimento de três categorias
temáticas, através das quais foi possível desvelar que um dos motivos que levam as
gestantes a aderir ao programa de pré- natal são as concepções e conceitos sobre o pré-natal
que outras pessoas têm e que são reproduzidas socialmente, através do senso comum. Esta
pesquisa revelou- nos, também, a importância do acolhimento da gestante no programa
pelos profissionais de saúde.
7
1 – INTRODUÇÃO
1.1. O problema de estudo
O desejo de fazer o curso de enfermagem, sempre se fez presente no nosso
sonho. Além disso, sempre existiu, também, uma certa curiosidade em relação à gravidez
e o seu desenvolvimento. Ao iniciar o curso, o que era desejo se transformou em realidade.
Ao realizarmos o estágio em obstetrícia, podemos perceber que a gravidez
estava inserida em um contexto maior e, a partir daí, o nosso encanto pela área ganhou
formas e significados mais definidos. Neste estágio, tivemos contato direto com gestantes
pelo fato de estar desempenhando atribuições de enfermagem no programa de pré-natal, o
que nos motivou a aprofundar o conhecimento sobre o pré-natal e sua importância na vida
da gestante.
Observamos, nesse período, que havia uma grande demanda e que esta
demonstrava interesse e assiduidade no programa, ou seja, as gestantes participavam das
palestras e compareciam às consultas sem falta e com grande interesse. Por isso,
começamos a nos questionar o que levava aquelas mulheres a procurarem esse tipo de
atendimento.
De acordo com BRASIL (1985), o pré-natal na sua essência:
“Constitui um conjunto de procedimentos
clínicos e educativos com o objetivo de
promover
a
saúde
e
identificar
precocemente os problemas que possam
resultar em risco para a saúde da gestante
e o concepto”. (BRASIL, 1985: 19-20)
8
No entanto, nem sempre o programa de pré- natal é visto dessa forma, já que ele
é relativamente novo no campo da medicina e da enfermagem.
Segundo GALLETA (2000), o pré-natal foi instituído no início do século XX e
chegou ao Brasil por volta das décadas de 20 e 30 e só se estabeleceu no pós guerra. Neste
período, pensava-se na mulher, em diminuir os agravos para sua saúde, sem se pensar no
feto. Nos anos 50 e 60, com a diminuição das taxas de morte materna, começou a
preocupação, decididamente, com o feto e sua saúde. Assim, com os avanços tecnológicos
e sociais, o pré-natal constituiu-se e se firmou, transformando-se na prática assistencialista
que acontece hoje.
Segundo OSAVA & TANAKA (1997), em termos históricos, a enfermagem
sempre esteve presente no acompanhamento e avaliação de mulheres em período
gestacional, vista que a enfermeira exerce papel fundamental na realização de parto e vem
recebendo várias designações no decorrer dos anos como parteira, obstetriz e enfermeira
obstetra.
Para ZIEGEL (1985), a enfermagem perinatal, em substituição à enfermagem
obstétrica, representa o termo mais recente para designar uma área especializada de
enfermagem materno- infantil. Esta área se concentra no diagnóstico e no tratamento das
respostas, tanto fisiológicas quanto psicossociais de todas as famílias, à procriação que se
estende desde o planejamento da gravidez até os três primeiros meses após o nascimento
da criança.
Pelo que foi descrito nos trechos anteriores e o que foi evidenciado por nós,
percebemos que a enfermeira tem um estreito contato com as gestantes e suas
preocupações no periodo gestacional. Nesse sentido, o Ministério da Saúde, no texto
9
assistência pré-natal do Manual Técnico, alerta que:
“...a adesão das mulheres ao pré-natal está
relacionado com a qualidade da assistência
prestada
pelos
serviços
e
pelos
profissionais de saúde, o que, em última
análise, será essencial para a redução dos
elevados índices de mortalidade materna e
perinatal, verificada no Brasil”. (BRASIL,
2000:09)
Segundo NEME (2000), o caráter preventivo do pré-natal é fundamental para
diminuir os índices de mortalidade materna e perinatal, pois um pré-natal bem feito previne
patologias, tais como anemias, doenças hipertensivas gestacional (pré-eclampsia,
eclampsia); também favorece o preparo psicológico para o parto, além de garantir a
perfeita estruturação do organismo fetal, prevenção do abortamento e o risco de parto
prematuro e óbito perinatal dentre outras vantagens.
No sentido da prevenção, esse mesmo autor ressalta:
“A instalação da prenhez representa razão
obrigatória para exigir que as pacientes
procurem assistência médica. Nessas
condições, ao salientar a importância da
segurança fetal, o tocólogo1 sensibiliza as
gestantes, que se tornam receptíveis, a ser
assíduas em suas visitas médicas e a
atender as recomendações dietéticas e
terapêuticas, mesmo quando incômodas”.
(NEME, 2000: 118)
Esse autor destaca a importância do pré-natal para a mãe e para o bebê, mas a
1
Tocólogo, significa parteiro ou obstetra – segundo o dicionário Escolar da Língua Portuguesa, 11ª
ed., 10ª tiragem, Francisco da Silveira Bueno, Rio de Janeiro:FAE, 1986, pág. 1127.
10
nossa preocupação reside no fato de compreender quais os motivos que levam a mulher a
aderir ao pré- natal uma vez que pressupomos, que algumas delas aderem ao programa por
recomendação médica e não espontaneamente, por exemplo. Assim, perguntamos: Quais
são os motivos que levam as mulheres a aderirem, com tanto interesse, ao programa de
pré-natal? Será que elas conhecem
a importância do programa? Será que aderem ao
programa por indicação médica? Que outro motivo as levariam à adesão ao pré-natal?
Assim, esses questionamentos nos impulsionaram a buscar compreender os
motivos que levam as gestantes a aderirem ao programa de pré -natal, por meio das
representações culturais e subjetivas,
incluidas no comportamento delas para
aderirem ou não ao programa.
Com esse estudo, esperamos contribuir para uma melhor assistência à gestante,
bem como melhorar os níveis de informações sobre o pré- natal e, assim, contribuir com a
equipe de enfermagem desta área, no esclarecimento das dúvidas relacionadas á gestante e
ao pré-natal assim como mostrar aos profissionais a importância de sua assistência a essa
população.
Acreditamos que esta pesquisa responda a questionamentos que possam ser
úteis aos profissionais dessa aréa a fim de que melhorem e aperfeiçoem o programa de prénatal, a partir da visão do objeto encontrado no grupo participante desta pesquisa.
11
2 – FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
2.1. Pesquisa qualitativa
Ao buscar a compreensão deste objeto de estudo, encontramos na pesquisa
qualitativa as características básicas que correspondem a esse tipo de estudo, uma vez que
a pesquisa qualitativa tem por princípios privilegiar a consciência do sujeito e entender sua
realidade social como uma construção humana, buscando, assim, as explicações dos
fenômenos.
Segundo TRIVINÕS (1987), vários autores entendem a pesquisa qualitativa
como uma expressão genérica e compartilham o ponto de vista de que ela tem suas raízes
nas práticas desenvolvidas pelos antropólogos e, em seguida, pelos sociólogos em seus
estudos sobre a vida em comunidade.
Dessa forma, podemos dizer que a pesquisa qualitativa é um entender e não um
mensurar, ou seja, ela busca a essência do fenômeno através da compreensão, observação e
pesquisa dos mesmos. Portanto, este estudo está centrado na pesquisa qualitativa cujo
objetivo é compreender os motivos (reações, emoções e significados) que levam a mulher a
aderir ao programa de pré- natal.
2.2. Representações sociais
Para compreendermos os motivos que levam a mulher a aderir ao programa de
12
pré-natal, fundamentamos nosso estudo no enfoque das representações sociais, pois elas
são construídas nas interações cotidianas entre as pessoas.
Segundo MINAYO (1992), representação social é um termo filosófico que
significa a reprodução de uma percepção retida na lembrança ou no conteúdo do
pensamento. Ressalta ainda a autora que, nas ciências sociais, as representações são
definidas como categorias de pensamento que podem ser entendidas como ações e
sentimentos que expressam a realidade em que vivem as pessoas, servindo para
explicarem, justificarem e questionarem a realidade. São elas: manifestações em palavras
mediadas pela linguagem que é considerada forma de conhecimento e intervenção social.
Segundo a mesma autora, as representações sociais são consideradas “matéria
prima” numa pesquisa qualitativa para análise do social, pois retratam a realidade segundo
determinado segmento da sociedade.
2.3. Pesquisa de campo
2.3.1. Local
Esta pequisa foi realizada no município de Goiânia-Goiás, no mês de março de
2002 com gestantes que aderiram ao pré-natal em uma unidade básica de saúde deste
município. Após solicitação (ANEXO A) e autorização pelo Comissão de Ética (ANEXO
B) para realização deste estudo, foi feito contato inicialmente com esta unidade de saúde
(da rede municipal de saúde) para permitir que fosse feito o convite às gestantes (que
aderiram ao pré- natal) a fazer parte da pesquisa como sujeito a ser entrevistado.
13
2.3.2. Sujeito
Os sujeitos desta pesquisa foram gestantes primíparas independentes da idade
gestacional, cor, classe social ou escolaridade, considerando-se, apenas, a procedência que
deveria ser de Goiânia, uma vez que fora desta área de abrangência poderia inviabilizar a
realização da entrevista. Tais gestantes deveriam estar cadastradas no programa de prénatal da unidade de saúde citada.
2.3.3. Instrumento de coleta das informação
O instrumento de coleta das informações foi a entrevista individual semiestruturada que continha questões norteadoras sobre o assunto.
Optamos pela entrevista porque ela permite ao entrevistado a livre expressão
de suas ideias, seus conceitos e suas representações.
Segundo TRENTINI (1999), a entrevista é uma conversa na qual dois
elementos são fundamentais: o pesquisador e o entrevistador e se caracteriza por meio de
fazer perguntas e de ouvir o outro, obtendo, assim, informações e constituindo uma
interligação com o outro.
As entrevistas, geralmente, têm um aspecto formal, pois determinam-se data,
horário e local combinados a priori, com entrevistador e entrevistado, sendo sua duração
dependente da interação entre o pesquisador e o entrevistado.
14
Fez-se o registro das informações por via de gravações em fita K7, mediante
autorização do entrevistado que assinou um termo livre e esclarecido (ANEXO C) de
acordo com as orientações da lei 196/96 e acompanhada de observações gerais sobre o
entrevistado no momento do depoimento.
As entrevistadas que aceitaram participar da pesquisa foram esclarecidas sobre
o objetivo e a finalidade deste estudo e que também teriam seu nome, endereço e telefone
em sigilo e no anonimato.
Assim propusemos como questões norteadoras:
1- O que você entende por pré- natal?
2- Por que você procurou o programa? (Q ual o motivo?).
3- Qual o significado do programa para você?
4- O que espera do pré-natal?
5- Como você vê a equipe de enfermagem que atua no pré-natal?
O número de entrevistas não foi definido a priori e o critério de encerramento
da coleta de informações aconteceu mediante a saturação dos dados2 , quando novos
depoimentos não foram mais incluídos. Após coleta dos depoimentos, os mesmos foram
transcritos, na íntegra, para buscar a compreensão da experiência do grupo em relação ao
objeto de estudo.
2.3.4. O processo de análise das entrevistas
Obtidas as informações necessárias na coleta de dados, iniciou-se o processo de
análise do material de campo.
2
Saturação de dados significa, nesta metodologia de análise, a repetição dos dados em
mais de 50% dos entrevistados.
15
Com base em MINAYO (1992), existem quatro finalidades para esta fase:
estabelecer uma compreensão dos dados coletados, confirmar ou não os pressupostos da
pesquisa, responder às questões formuladas e ampliar o conhecimento sobre o assunto
pesquisado, articulando-o ao contexto cultural de que faz parte.
Dessa forma, os dados coletados foram analisados de forma indutiva através de
leitura e releitura do material, agrupando as idéias semelhantes, buscando, nos relatos, a
compreensão do objeto em estudo.
Para a análise deste objeto de estudo, buscamos referências em LÜDKE &
ANDRÉ (1996) que orientam a elaboração de categorias descritivas a partir de leituras e
releituras dos depoimentos a fim de que retirassem temas e temáticas mais freqüentes para
culminarem na construção das categorias analíticas.
Para alcançar esta finalidade, fez-se a leitura vertical, buscando o conteúdo
global de cada entrevista, seguida de leitura horizontal para fazer emergir os temas mais
abordados pelo entrevistado e, finalmente, uma leitura transversal onde as conjunções e as
disjunções de cada entrevista foram comparadas e fundamentaram a elaboração das
categorias significativas da experiência social do grupo.
Assim, através das informações obtidas nos depoimentos, foi possível
estabelecer algumas categorias, tais como:
1- As representações sobre o pré- natal;
2- Os motivos de adesão ao programa de pré- natal;
3- O significado do acolhimento no pré-natal.
16
3- ADESÃO AO PRÉ-NATAL: A REPRODUÇÃO DE UM CONCEITO
3.1. Apresentação das participantes
As entrevistas foram realizadas com gestantes primíparas, inscritas no
programa de pré- natal de uma unidade básica de saúde de Goiânia, considerando, somente,
sua procedência, sendo todas elas do município de Goiânia. As entrevistadas foram em
número de sete (07) e todas elas optaram em conceder a entrevista na própria residência o
que permitiu maior interação entre entrevistador e entrevistada.
A faixa etária das entrevistadas está entre 15 e 34 anos, e foram escolhidas,
aleatoriamente, de acordo com as fichas das gestantes, inscritas no programa de pré-natal
do citado centro de saúde. A idade gestacional estava entre o terceiro e oitavo mês, e as
atividades profissionais são diversas. O grau de escolaridade das gestantes vai do ensino
fundamental ao ensino médio, sendo que a maioria destas possui somente o ensino
fundamental incompleto.
Para garantir o anonimato das entrevistadas, estas foram denominadas de E1,
E2, E3, E4, E5, E6 e E7.
No Quadro I, podem-se
verificar
mais
claramente
as
informações
complementares (ANEXO D) que mostram o perfil de cada gestante entrevistada:
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Quadro I -Apresentação das participantes
Sujeitos
entrevistados
Atividade
Profissional
Idade Gestacional
Gravidez
Planejada
amasiada
estudante
6 meses
não
amasiada
doméstica
3 meses
não
amasiada
estudante
4 meses
não
amasiada
manicure
8 meses
não
casada
auxiliar de
enfermagem
8 meses
não
amasiada
do lar
8 meses
não
solteira
do lar
4 meses
não
Idade Estado civil
15
anos
19
anos
18
anos
33
anos
23
anos
23
anos
34
anos
E1
E2
E3
E4
E5
E6
E7
Escolaridade
ensino fundamental
incompleto
ensino fundamental
incompleto
ensino fundamental
incompleto
ensino fundamental
incompleto
ensino médio
completo
ensino fundamental
incompleto
ensino fundamental
incompleto
Fonte: Informações provenientes das entrevistas, realizadas no mês de março de 2002 com as gestantes
que aderiram ao programa de pré-natal na unidade de saúde citada.
Apesar de características diferentes, as gestantes têm pontos comuns que se
convergem na sua visão sobre o pré-natal, ou seja, mesmo tendo idades variadas e grau de
instrução educacional também diferentes, elas têm, em comum, os mesmos motivos que as
levaram ao programa de pré-natal como veremos nas categorias temáticas no decorrer
desse trabalho.
3.2- As representações sobre o pré-natal.
Este bloco de informações das falas das entrevistadas traz as representações
das mesmas frente ao pré-natal e, neste contexto, emergem também, as expectativas das
gestantes para com este programa, como podemos ver em alguns recortes dos
depoimentos:
18
“Eu acho que é uma maneira de saber como está o neném, (...)
maneira, também, de você saber se você tá bem se não tá (...) eu
acho que ele cuida de você e da criança enquanto tá gestante
(...) que a criança nasça saudável, que tipo assim, se tiver
alguma coisa assim, aí eles vai saber (...) eu espero que não
aconteça nada, (...) eu espero que corra tudo bem e que eles
achem uma maternidade boa pra mim ganhar neném”. (E1)
“(...) faz o pré -natal pra criança nascer com mais saúde (...) a
gente tem que fazer pelo menos três vezes na gravidez e pelo
menos seis vezes durante os nove meses, (...) é um tipo de
tratamento pra mim e pro meu filho (...) espero que seja bem
(...) que termine tudo bem, que eu tenha um parto normal ou
cesareano”. (E2)
“O pré-natal eu entendo que é pra ajudar a gestante, (...) pra
saber de alguma coisa (...) pra cuidar de mim e do neném (...)
porque pré -natal é bem-estar (...) espero que nasça com saúde,
que dê tudo certo nas outras consultas, (...) ah! não sei não, vai
me trazer muito benefício”. (E3)
“(...) só sei que a gente faz todo mês pra ver como é que tá,
exame, aqueles trem de rotina (...) vai lá tira alguma dúvida,
muita coisa vai aprendendo (...) quero tira minhas dúvidas de
muitas coisas que eu não sei (...) ah! tem tanta coisa que não sei
ainda, as vezes os outros fazem perguntas eu nem sei como
responder”. (E4)
“(...) é acompanhamento que a mãe tem junto ao médico, pra
saber do seu neném, sobre o estado de saúde dele, como ele está
(...). Na hora do meu parto, eu acho que vou tá mais preparada
por ser muito inexperiente (...) com orientação do médico pra
mim (...) a posição que o neném tá (...) muita orientação”. (E5)
“(...) acho que pra prevenir as doenças que causa no bebê, ter
uma gravidez saudável, ter acompanhamento, tudo certinho
(...) é acompanhar todo mês (...) uma gravidez saudável com
orientação médica, eu acho que por isso tem que fazer pré natal, acompanhar tudo direitinho pra não vir causar qualquer
problema mais tarde”. (E6)
“Pré-natal, pra mim, é tirar dúvidas sobre uma gravidez, pra
gente saber como que tá a saúde da pessoa e do bebê (...) a
gente faz o pré -natal para que tenha orientação (...) é um
segmento assim que se tem que fazer do começo até o final da
gravidez (...) ah! muitas coisas boas, como cuidar de mim,
19
assim igual tem que tomar vacina, tomar remédio essas coisas
(...) como eu cuidar de mim, pra mim tá em boa forma, boa
saúde, sem prejudicar nada, fazendo direitinho”. (E7)
Assim, encontramos em cada fala das entrevistadas o seu conceito de pré-natal.
Com a análise, podemos perceber que elas definem o pré-natal como um acompanhamento
que deve ser realizado do início ao final da gravidez e percebe-se, também, um conceito de
que o pré- natal proporciona uma gestação saudável o que demonstra uma preocupação
com a sua saúde e a do bebê.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a assistência pré-natal é um
conjunto de cuidados médicos, nutricionais, psicológicas e sociais, destinados a proteger o
binômio mãe-feto durante a gravidez, parto e puerpério, tendo como principal finalidade a
diminuição da morbidade e da mortalidade materna e perinatal.
Seguindo a mesma idéia, o Ministério da Saúde, no Manual dos Comitês de
Mortalidade Materna, adverte que “a morte de mulheres em idade fértil por causas ligadas
á gravidez, ao parto e ao puerpério, atualmente, é, em sua maioria, prevenível e evitável”.
(BRASIL,1994:11) Isso reafirma a importância de se manter o pré-natal.
Desse modo, observamos que o pré-natal é fundamental para a redução da
mortalidade materna, ao mesmo tempo em que se torna um chamariz para as gestantes,
pois é nele que elas encontram a segurança de uma gestação saudável e bem assistida.
Lembramos, aqui, que o conceito de saúde vai além da ausência da doença; é
sim, uma somatória de fatores e condições que levam o ser humano a ter melhor qualidade
de vida, o que nem sempre é percebido por estas gestantes, já que ora ou outra, conceitos e
expectativas sobre o pré- natal convergem-se nas expressões destas gestantes.
Neste contexto, encontramos que algumas gestantes confundem pré-natal, a
20
promoção da saúde, com realizações de exames e com a ausência da patologia, o que
também é afirmado GALLETA:
“Infelizmente, muitas mulheres confundem prénatal com check-up e se tranqüilizam ao
realizarem mil e um exames de sangue, urina e
ultra-sonografia. É muito importante afirmar que
nenhum exame pode, ao início do pré-natal,
assegurar a boa evolução da gravidez”.
(GALLETA: 2000:01)
Nesse enfoque, E2 afirma: “é um tipo de tratamento pra mim e pro meu filho” e
também E4 reforça: “só sei que a gente faz todo mês pra ver como que tá, exame,
aqueles trem de rotina”. A esse respeito podemos dizer que o pré-natal representa para
estas gestantes uma forma de “tratamento” curativo, fugindo de algumas diretrizes do
programa, como da sua finalidade psicológica, educacional e social denotando, pois, uma
certa desinformação sobre o programa.
Outro enfoque encontrado nesta categoria é a preocupação da gestante em
proteger seu bebê e a si própria contra doenças, como podemos observar na fala de E1:
“(...) eu acho que ele cuida de você e da criança enquanto tá gestante”.
Nesse trecho, está implícita a preocupação que a gestante tem em proteger a si
e a seu filho de doenças. Neste sentido, o Ministério da Saúde ressalta:
“A atenção básica na gravidez inclui a
prevenção, a promoção da saúde e o tratamento
dos problemas que ocorrem durante o período
gestacional e após parto”. (BRASIL, 2000:05).
Compreendemos que a percepção das gestantes frente ao pré- natal vem mostrar
que os conceitos elaborados por elas se convergem em um mesmo sentido quando
associa m à finalidade do mesmo como possibilidade “pra saber de alguma coisa”, “tirar
21
alguma dúvida”, “tirar dúvidas sobre uma gravidez”.
Esta visão mostra que o pré-natal para a gestante está relacionado com a
possibilidade de aprender, ou melhor, de “tirar dúvidas” que ocorrem no decorrer da
gestação.
A assistência pré- natal, em seu caráter preventivo e promotor de saúde,
acarreta esperanças, como foi possível observar nos depoimentos das gestantes.
Diante das expectativas encontradas, observamos que as gestantes esperam que
o programa traga uma gestação “saudável e tranqüila”, vista que essas expectativas
correspondem com um dos principais objetivos do pré- natal que é acolher a mulher desde o
início de sua gravidez, quando ela passa por um
período de mudanças físicas e
emocionais, que cada gestante vivencia de forma distinta, além de dar assistência em todas
as suas necessidades. BRASIL (1999)
Assim sendo, acolher a gestante no programa, implica repassar-lhe
tranqüilidade, conforto e segurança, conscientizando-a do valor da saúde preventiva e
contínua no decorrer desse período.
As expectativas das gestantes frente ao pré- natal se fundem com o seu conceito
do mesmo, causando as mesmas uma ansiedade para obter retorno do que está sendo
realizado, ou seja, serem recompensadas, porque
cada uma delas espera “que não
aconteça nada de ruim, porque a gestante vai lá todo mês e depois se ainda nascer
doente...”
Além disso, elas esperam, também, que o serviço lhes dê atenção necessária
para garantir um bom parto em uma boa maternidade, na certeza de poder usufruir do
“benefício” que o pré-natal lhe pode proporcionar.
22
Dessa forma, podemos afirmar que as expectativas relacionadas ao parto são,
também, de certa forma, ligada ao medo que cerca esse momento.
O medo, mencio nado, vem de fatores sócio-culturais que se fazem presentes
em vários momentos do ciclo gestacional, chegando até mesmo ao pós-parto, o que nos
leva a afirmar que a cultura influencia grandemente nos fatores emocionais, contribuindo
para o medo e a angústia relacionados à gestação e à parturição.
Nesse aspecto, BRASIL (2000) ressalta que a assistência pré-natal é o primeiro
passo para um parto e nascimento saudável, ou seja, ele faz a promoção e a manutenção do
bem-estar físico e emocional ao longo do processo da gestação, parto e nascimento, além
de trazer informação e orientação sobre a evolução da gestação e do trabalho de parto à
parturiente.
Diante disso, as expectativas das gestantes em relação ao pré-natal, assim como
o conceito de pré- natal encontram-se fundamentados no conceito de saúde preventiva e
curativa que a própria política do programa preserva e emprega na sua implementação.
3.3. Os motivos de adesão ao programa de pré-natal
Essa categoria temática refere-se aos motivos que levaram as gestantes a
aderirem ao programa de pré-natal. A análise dos depoimentos aponta para a importância
do programa, mediante a percepção de outrem e não de si próprias, como podemos
perceber nos fragmentos de discursos transcritos a seguir:
“Porque todo mundo ficava falando que tinha que fazer (...) a
mãe do meu marido, que é minha sogra, minha cunhada, ele
(...) pessoas que já tinham filho, pessoas experientes.” (E1)
23
“Porque eu fiquei grávida mesmo (...) quero que meu filho
nasça sadio (...) eu já sabia desde os dez anos ,minha mãe já
explicava pra nós como era, então, por isso, na hora que a gente
casou ela explicou também (...) falou que a gente tem que fazer
pra criança nascer mais sadia, tem que fazer todo tipo de
exame pra saber como que está a mãe também, como é que tá
a criança , como é que tá indo a gravidez (...)”. (E2)
“Porque dizem que é muito bom a gente ter um pré -natal pra
saúde também (...) todo mundo fala pra fazer o pré -natal
porque é pro bebê e pra mulher (...) eu procurar o pré -natal foi
porque tem quatro meses que eu estou grávida e nunca tinha
procurado (...) muitas pessoas me empurrando mesmo pra mim
fazer pré -natal; as pessoas falavam pra eu ir que é melhor pra
mim, que vai ser melhor pra mim cuidar da minha saúde;
minha mãe falava, meus familiares todos, meus amigos até
mesmo meu marido (...) eu nunca tinha ouvido falar em pré natal, quando minha mãe ficou grávida da última vez também
eu não sabia que ela fazia, não sabia mesmo, aí agora que eu
vim saber”. (E3)
“Foi uma menina ali que falou pra mim ir lá fazer, ‘ah!
não,você tem que fazer pra ter orientação’, aí eu fui lá (...) a
enfermeira do programa, ela trabalha lá no posto também, aí
ela falou pra mim fazer, eu fui lá e fiz meu cartãozinho”. (E4)
“Pra saber como é que o neném tava, curiosidade de saber
como é, o que há em mim também junto com a ultra-sonografia
(...) saber como é que ele tava, saber se tava bem, a posição
dele, estava crescendo gradualmente conforme o padrão do
neném (...) pra ter um acompanhamento (...) eu fiz um curso de
auxiliar de enfermagem e através do curso eu aprendi muitas
coisas inclusive que a mulher tem que fazer pré -natal (...)
excelente pra tirar algumas duvidas (...)”. (E5)
“É complicado, a gente tem que acompanhar todo mês,
certinho (...) caso venha ter algum problema tem que ter a
orientação do médico (...) porque todas as grávidas têm que
procurar (...) os amigos, as pessoas, as mulheres que já ficaram
grávidas que informa”. (E6)
“Eu acho que é porque toda as gestantes têm essa obrigação de
fazer um pré -natal, assim, tem direito de fazer, eu fui procurar
os direitos (...) eu fiquei sabendo depois da minha primeira
consulta, que eu tava grávida, ai eu fui procurar os meus
direitos (...) a medica, mas eu já sabia através de outras
24
pessoas, meus parentes falavam que eu teria que fazer um pré natal (...)”. (E7)
Nestes fragmentos de discurso, é possível perceber que o que levam as
gestantes a aderirem ao programa são as concepções e conceitos sobre o pré-natal que
outras pessoas têm no seu cotidiano sendo reproduzido socialmente, pois já se consagrou
na sociedade como um “benefício para o bebê”.
Assim, é perceptível a forma de adesão ao programa quando as gestantes falam
que buscam o pré-natal: “porque todo mundo ficava falando...” ou “...porque dizem
que é muito bom...” e, ainda, ”...porque foi uma menina que falou pra mim fazer...”e
também porque “toda grávida tem que procurar”, “toda gestante tem essa obrigação”,
“pessoas experientes falam”.
Dessa forma, seja qual for o motivo, compreendemos que estas mulheres não
aderiram ao programa por iniciativa própria, mas porque se viram “obrigadas” pela
imposição das pessoas do seu convívio, com exceção de E5 que aderiu ao programa por
“curiosidade de saber como é”.
Por outro lado, segundo NEME (2000),o próprio estado de prenhez representa
razão obrigatória para exigir que as pacientes procurem assistência médica; esta afirmativa
aparece na fala de E7 que diz: “toda gestante tem obrigação de fazer um pré -natal”.
No sentido de obrigatoriedade, torna-se relevante discutir a questão do direito e do dever
da mulher em seu período gestacional, pois o pré-natal, no seu contexto de assistência, é
um direito que toda gestante adquire a partir do momento em que engravida, por isso,
segundo BRASIL (2000), é um dever do município dispor de sistema para a assistência
pré-natal, parto, puerpério e neonatal devidamente organizados assim como fazer a
25
captação precoce e cadastramento das gestantes .
Nesse mesmo sentido, a Portaria n°570 de 1° de junho de 2000 do Mistério da
Saúde, artigo quarto diz que é dever do Estado e do Município proporcionar- lhe esta
adesão
Ao discutirmos este aspecto, observamos que a política de saúde adotada no
programa de pré-natal está voltada para a garantia dos direitos das gestantes neste período
tão peculiar de suas vidas. Dentre esses direitos, destacam-se o direito ao acesso ao
programa,
ao atendimento digno e de qualidade no decorrer da gestação, direito de
conhecer e ter assegurado o acesso à maternidade em que será atendida, direito à
assistência ao parto e ao puerpério.
Apesar de ser assegurada às gestantes usufruirem dos “beneficios” que o prénatal lhes proporciona, compreendemos que o que as leva a procurarem o pré- natal não é a
busca dos direitos, mas uma certa obrigatoriedade que a família, amigos e parceiros lhes
impõem, mostrando que ainda é predominante a reprodução de um conceito elaborado no
senso comum.
Para essas gestantes, as informações sobre o pré-natal vêm em forma de
orientação familiar, imposta a elas, como vemos na fala de E3 “...todo mundo falava pra
fazer o pré -natal (...) muitas pessoas me empurrando mesmo pra mim fazer pré -natal
(...) minha mãe falava,meus familiares todos, meus amigos até mesmo meu marido”.
Esta obrigatoriedade, inicialmente, imposta por “pessoas experientes”, traz
informações que são reproduzidas, socialmente, no cotidiano das pessoas, o que nem
sempre garante o entendimento sobre o programa. Esses conceitos trazem as
representações de outras pessoas que não são as gestantes. Assim sendo, a gestante passa a
26
procurar o programa de pré-natal porque foi “empurrada” por outras pessoas e não
porque elas quiseram procurar os direitos que lhe são garantidos por meio de uma política
de saúde.
Todavia, este método de comunicação do senso comum vem ajudar na
promoção do pré-natal, ou seja, chamar a atenção da gestante para que o procure, mas não
esclarece o motivo por que ela deve aderir a esse programa, causando assim uma certa
dificuldade da gestante compreender o significado do pré-natal em si.
Quando falamos da dificuldade, entramos no contexto histórico do pré-natal
porque vivemos, hoje, o avanço tecnológico da informação, mas, mesmo com essa
tecnologia, ainda no s deparamos com mulheres leigas nesse assunto, como podemos
observar na fala de E3 “...eu nunca tinha ouvido falar em pré -natal...”, ficando explícito
a densinformação sobre o pré- natal, reforçando, portanto, a idéia de que não se adere ao
pré-natal por ter conhecimento da importância dele e sim pela imposição de outras pessoas.
Apesar da evolução deste programa, muitas mulheres mantêm-se ligadas a
mitos do passado, como afirma GALLETA (2000:01)
“Como o pré-natal, na estrutura que temos
atualmente é aquisição recente da obstetrícia
nacional, muitas das atuais avós ou bisavós não
fizeram nenhum tipo de assistência pré-natal (...)
assim, todos nós ainda temos contato com
mulheres para as quais o pré-natal vem a ser
uma perda de tempo, pois elas mesmas não
passaram por isso e sobreviveram.”
Nesse enfoque, o contexto histórico do pré-natal està relacionado com a forma
como a informação sobre o assunto é passada à gestante, pois este foi instituído com o
objetivo de diminuir a taxa de mortalidade materna sem se preocupar com informações que
27
esclareçam sobre o programa no seu contexto geral, isto é, não se repassa questões que
justificam sua adesão tais como: sua importância, seus benefícios e o risco que a falta deste
pode acarretar a ela e ao bebê.
Compreendemos, então, que toda mulher tem direito a uma gravidez saudável,
e que a saúde é um direito de todos conforme diz a Constituição Federal. Mesmo existindo
esses direitos, compreendemos que o motivo que leva a gestante a aderir ao programa de
pré-natal são as concepções e conceitos que outras pessoas têm e que são reproduzidos,
socialmente, através do senso comum.
3.4- O significado do acolhimento no programa de pré-natal.
Nessa categoria, as gestantes expressam suas opiniões a respeito do acolhimento
pela equipe de pré- natal e expõem aspectos relacionados a esse acolhimento pelo
profissional de enfermagem, e de medicina, além de avaliar o programa como um todo,
evidenciando a falta de interação entre a equipe, como se percebe nos seguintes trechos:
“Ah! não é muito boa não (...) pra eu conseguir a primeira
consulta foi a maior... assim lá é muito bagunçado (...) porque eu
fui lá uma vez, eu tava lá no colégio passando mal, fui lá
chorando até de dor e elas nem, não conseguiram consulta pra
mim, aí falou que eu tinha que dormir lá pra poder consultar (...)
eu só acho errado assim o jeito deles quando você vai ganhar
neném, que sua bolsa estoura, você vai pra lá, se você não tiver
dilatado lá os dez centímetros, você tem que voltar pra casa de
novo sentindo dor, de lá te mandam pra outro hospital, se tiver
vaga, acho isso muito errado. (...) eu não gosto do pré -natal do
postinho, eles nem conversam com a gente (...) o médico só fala lá
que remédio que tem que tomar, só isso; às vezes a gente
pergunta eles nem e responde direito, quer atender todo mundo
muito rápido, ele não dá nem tempo nem pras pacientes”. (E1)
28
“(...) gosto das duas meninas (...) porque elas atendem bem
atendem com educação. (...) tem Dr. que Deus me livre (...) o
médico falou pra mim que era pro meu marido me levar para o
hospital das clínicas que eles iam tirar essa criança, porque essa
gravidez minha não ia pra frente não (...)”. (E2)
“Ótima mesmo, principalmente a enfermeira do programa,
super bem educada sabe, me explicou muita coisa. (...) eu estava
esperando os exames e Nossa Senhora, é muito difícil, fui lá no
posto mesmo passei 14 dias pra pegar um exame, aí eu fiz
particular,se fosse depender de mim mesmo, eu não ia não (...)”.
(E3)
“Ótima, pra mim não tem defeito nenhum; elas atendem muito
bem, atenciosas com a gente, até agora não tenho que falar nada.
(...) tinha uma Drª. esquisita lá, até eu dei uma bronca nela, fui
fazer uma pergunta pra ela, ela veio com. (...) não vou consultar
com essa mulher aqui não, não gostei dela de jeito nenhum (...)
ela já veio com ignorância, eu falei pra ela: se eu tô te
procurando é porque não sei nada (...) aí ela até achou ruim,
peguei meus trem e saí da sala do consultório e vim embora (...)”.
(E4)
“(...) excelente a equipe de enfermagem; o pessoal comenta que a
equipe de enfermagem pelo SUS não presta; pra mim, até hoje
me atenderam muito bem, porque a mulher fica muito carente,
muito sensível, (...) me passaram tranqüilidade, me trataram
super bem (...) me orientaram (...) algumas dúvidas me tiraram e
me tiram até hoje, por isso acho que elas atendem bem (...)”.
(E5)
“(...) super atenciosa as meninas, gostei muito do atendimento
delas (...) pela atenção delas (...) informa a gente o que tem que
fazer durante a gravidez ou depois, gostei bastante do
atendimento”. (E6)
“Eu achei muito bom, fui muito bem atendida, assim tudo que a
gente quer saber sobre a gravidez eu tô assim, a gente sempre
tem que ir, então elas sempre tá ali orientando a gente. Por
enquanto, tá indo bem, não tenho nada a reclama r não”. (E7)
Os fatos relatados apontam para uma análise crítica de um atendimento
sistematizado em que existe uma falta de interligações entre as várias atividades
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desenvolvidas pelo programa de pré-natal, vista que a equipe do programa é formada por
agentes comunitários, auxiliares de enfermagem, enfermeiros e médicos. Esta realidade
nos mostra que este grupo de gestantes espera que a equipe trabalhe em sintonia, ou seja,
que tenha um bom atendimento por parte de todos os membros da equipe do programa para
que haja qualidade no atendimento prestado pelo serviço de saúde e que elas possam
usufruir deste serviço com “tranqüilidade”.
Neste sentido, BRASIL (2000) destaca que a adesão das gestantes ao pré-natal
está diretamente ligada à qualidade dos serviços prestados pelos profissionais de saúde,
assim como é indispensável a integração dos profissionais neste programa.
Em referencia ao que foi dito, podemos destacar:
“A consulta de pré-natal envolve procedimentos
bastante simples, podendo o profissional de
saúde dedicar-se a escutar as demandas da
gestante, transmitindo, nesse momento, o apoio e
a confiança necessários para que ela se fortaleça
e possa conduzir, com mais autonomia, a
gestação e o parto”. (BRASIL, 2000:09)
Nesse aspecto, podemos ressaltar que o diálogo entre profissional e paciente é
de importância ímpar pelo fato de auxiliar no processo educativo, pois uma escuta aberta
sem julgamento e sem preconceito permite à mulher falar de sua intimidade com
segurança, além de fortalecê- la no seu caminho até ao parto e ajudá- la a construir seu
conhecimento sobre o assunto, favorecendo um nascimento tranqüilo e saudável para o
bebê.
O diálogo é tão importante e tão necessário que, quando não acontece, corre-se
o risco de ter uma avaliação errônea de todo o programa, como se pode ver na fala de E1:
“(...) às vezes a gente pergunta eles nem respondem direito, quer atender todo mundo
30
muito rápido, ele não dá nem tempo pras pacientes”.
DANIEL (1983:126), nos lembra que:
“A arte do relacionamento de ajuda inclui não só
conhecer as regras técnicas e a aplicação das
mesmas, mas também possuir maturidade
emocional,
sinceridade
no
contato,
autenticidade; ser capaz de aceitar a pessoa com
suas necessidades e não sentir culpado quando
aos resultados esperados deixam de ser
alcançados, apesar de se ter enviado todos
esforços e, sobretudo ser capaz de ouvir
atentamente”.
Para estas gestantes que aderiram ao pré-natal, o acolhimento tem sido bom por
parte dos enfermeiros; têm correspondido as suas expectativas quanto às orientações
recebidas, de modo que o programa tem oferecido a atenção necessária a suas necessidades
básicas neste período.
Segundo BUENO (1986), a palavra acolher significa receber, agasalhar,
escutar, atender, ter em consideração. Nesse sentido, a experiência dessas gestantes, que
participam do programa, evidencia o significado e o valor de um bom acolhimento pelos
profissionais que atuam nele.
Sendo assim, BRASIL (2000) ressalta que o acolhimento da gestante deve ser
feito de forma favorável para que se estabeleça um diálogo franco, pois a sensibilidade e a
capacidade de percepção de quem acompanha o pré- natal são condições básicas para que o
saber em saúde seja colocado à disposição da gestante. Além do que, a assistência pré-natal
torna-se um momento privilegiado para discutir e esclarecer questões que são únicas para
cada gestante, mesmo que estas tenham outros filhos.
Diante disso, percebe-se que o papel da equipe de enfermagem tem sua
31
relevância dentro do programa, pois exerce uma de suas principais atividades que é a
orientação, onde se destaca, como afirmam várias aderentes do programa, “a enfermeira
explicou muitas coisas”, “passou tranqüilidade”, “orientaram”, “tiraram algumas
dúvidas”.
A orientação vem, nesse contexto, como um ato de educar, mas salientando
alguns pontos importantes como PINHO (2000:83 e 84) diz:
“Todavia, o profissional não pode ser o único
responsável por acreditar que o educar em saúde
consiste em um repasse de informações
generalizadas. Neste momento, está apenas
reproduzindo o que aprendeu durante sua formação
profissional”.
PINHO (2000) nos esclarece no trecho citado que não basta apenas repassar
informações, mas que os profissionais devem atender sua clientela individualmente, pois
cada indivíduo é único e carrega consigo vivências, medos, dúvidas, angústias,
curiosidades e expectativas.
A gravidez, por sua vez, independente de idade, classe social e nível intelectual
é caracterizada por ser um período de forte conteúdo emocional, uma vez que as mudanças
ocorridas no corpo da mulher, nos seus sentimentos e na sua dinâmica familiar são fatores
geradores de anseios e medos, segundo SZYLIT & SCHVARTZ (1984). Nesse caso, é de
fundamental importância a participação da enfermagem nesse processo.
Assim, de acordo com o que foi descrito nessa categoria, compreendemos que,
muitas vezes, a falta de integração e até mesmo a falta do conhecimento sobre os objetivos
do programa, ou a falta de disposição e disponibilidade de alguns profissionais do
programa, impedem e prejudicam a relação gestante e profissional, sendo necessário o
32
preenchimento de lacunas deixadas por outros profissionais que, também, atuam no prénatal.
Dessa forma, a análise do significado do acolhimento da gestante dentro do
programa de pré-natal nos propiciou mostrar a importância de sua participação quando se
pretende um atendimento integral da totalidade humana, já que esse, é um instrumento
precioso e deve ser cada vez mais compreendido em toda a sua abrangência para que
possa, cada vez mais, ser utilizado, de maneira eficaz, propiciando uma atenção de
qualidade às clientes.
33
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao iniciarmos esta pesquisa, buscávamos compreender os motivos que
levavam as mulheres a aderirem ao programa de pré-natal. Questionamos-nos em vários
aspectos, buscando respostas que nos esclarecessem tais questões.
A realização do trabalho não foi uma tarefa fácil, principalmente, por causa dos
nossos conceitos pré- formados que dificultou a nossa escuta, pois, por diversas vezes, não
conseguíamos fazer a le itura das informações dadas pelas gestantes.
Na busca da compreensão das representações culturais, sociais e familiares das
gestantes, deparamo-nos com opiniões diversificadas sobre o assunto, mas que, na sua
essência, se fundiam numa mesma linha de pensamento.
Na análise do conjunto das entrevistas, observou-se que as gestantes procuram
o pré-natal por vários motivos, mas sendo o principal deles o de uma certa obrigatoriedade,
inicialmente imposta por familiares e amigos através do conhecimento adquirido no senso
comum, vindo de um conceito de pré-natal construído ao longo dos anos.
Tais fatos nos despertaram para uma melhor compreensão da gravidez no
contexto em que cada gestante se encontra inserida, vista que as gestantes têm seus direitos
garantidos por lei, mas esses direitos às vezes, não são respeitados pelo fato delas não os
conhecerem.
Consideramos que, se as gestantes tivessem mais informações a respeito das
leis, do funcionamento dos serviços e sobre as atribuições dos profissionais de saúde no
programa de pré- natal, isso poderia ajudá- las a compreender a importância não só para elas
como, também para o bebê, levando-as a aderirem ao programa por conhecerem seus
direitos a uma gestação saudável e bem assistida, e não por ter sido “convencidas” ou
34
“empurradas” para o programa.
O trabalho mostrou-nos que a enfermagem tem um papel importante dentro do
programa de pré- natal, já que ela esclarece dúvidas e contribui para a educação das
gestantes nesse período de sua vida, além de ser um ponto de divulgação dos objetivos e
finalidades do programa.
Assim, esse estudo despertou-nos para uma reflexão, no sentido de apontar a
necessidade de melhoria no atendimento às gestantes, bem como chamar a atenção dos
profissionais de saúde sobre a importância de seu desempenho no programa assim como a
maneira de acolhimento da gestante pode influenciar, positivamente ou negativamente, na
sua adesão e na sua adaptação ao mesmo.
Todavia, não pretendemos concluir ou finalizar o estudo, pois esperamos que, a
partir dele, outras pessoas possam procurar compreensão dos fatos aqui relatados para a
possibilidade de novas pesquisas.
35
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36
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Rev. Esc. Enf. USP. São Paulo, 18(3): 263 – 269, 1984.
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TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a
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ZIEGEL, E.E. e CRANLEY, M. S. Enfermagem obstétrica. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1985.
37
ANEXOS
38
ANEXO A
Goiânia, 30 de novembro de 2001
Prezado(a) Sr(a):
Dr(a). Presidente do Comitê de Ética da UCG
Assunto: Solicitação de autorização de pesquisa.
Nós, Milena Sales Costa e Thaís Oliveira Sousa, na qualidade de graduandas
do curso de enfermagem da Universidade Católica de Goiás, vimos, através desta, solicitar
de V.Sª. que nos autorize para realizar uma pesquisa científica no CIAMS – Urias
Magalhães.
O referido projeto intitulado, provisoriamente, de “As representações do pré natal na visão da gestante que adere ao programa”, tem como orientadora a professora
Maria Aparecida da Silva, enfermeira e professora da faculdade de Enfermagem da
Universidade Católica de Goiás. Este projeto tem por objetivo compreender os motivos
que levam as gestantes a aderirem ao programa de Pré-natal e, como finalidades, contribuir
para uma melhor assistência pré- natal para gestantes, assim como contribuir com os
profissionais de enfermagem que atuam diretamente no programa de Pré-natal.
Dessa forma, será realizada entrevista com a gestante para a obtenção de dados,
esclarecendo que as informações obtidas serão utilizadas, apenas, para cunho científico, e
que os dados pessoais das entrevistadas serão mantidos em anonimato conforme a lei
196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Esclarecemos, também, que a pesquisa não trará custos para o entrevistado e
nem para a instituição CIAMS Urias Magalhães, sendo as despesas custeadas pelas
graduandas.
Antecipadamente, colocamo- nos à disposição para qualquer eslcarecimento.
Atenciosamente,
Pesquisadoras:
Milena Sales Costa______________________________ 210-6260 / 9614-1991
Thaís Oliveira Sousa_____________________________210-1528 / 9603-5418
Orientadora: Profª. Ms. Maria Aparecida da Silva
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ANEXO C
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E DE ESCLARECIMENTO
“As representações do pré -Natal na visão da gestante que adere ao programa”
(Título Provisório).
Esta pesquisa tem como objetivo compreender os motivos que levam as
gestantes a aderirem ao programa de pré- natal, já que este é um programa que visa
promover a saúde e identificar, precocemente, problemas que possam causar risco à saúde
da gestante e à do feto. Sendo assim, a Senhora está convidada a participar da pesquisa “As
representações do Pré-natal na visão da gestante que adere ao programa”.
A pesquisa tem como finalidade contribuir para uma melhor assistência prénatal à gestante bem como esclarecer dúvidas de enfermagem que atuam no Programa de
Pré-Natal.
Tal pesquisa é realizada por nós, graduandas, Milena Sales Costa e Thaís
Oliveira Sousa do Curso de Enfermagem da Universidade Católica de Goiás sob orientação
da professora Ms. Maria Aparecida da Silva, enfermeira e professora da Faculdade de
Enfermagem da UCG.
As informações, por nós obtidas, por meio das entrevistas gravadas, serão
utilizadas, apenas, para fins científicos; informações como nome, endereço e telefone serão
mantidas em sigilo e anonimato conforme determinações da lei 196/96.
Consentimento
Como entrevistada, afirmo que fui devidamente orientada sobre a finalidade e o
objetivo da pesquisa, bem como da utilização dos dados exclusivamente para fins
científicos, sendo que meus dados pessoais serão mantidos no anonimato. Para os devidos
fins, declaro que aceitei participar da pesquisa por livre e espontânea vontade.
Nome do entrevistado:
Data:
Assinatura:
Pesquisadoras:
Milena Sales Costa: Ass.: _______________ Telefone - 210-6260 / 9614-1991
Thaís Oliveira Sousa: Ass.: ______________ Telefone - 210-1528 / 9603-5418
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ANEXO D
FICHA DE INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR
Entrevista nº: ____________ Data: _____/_____/____ Horário ______
Duração: ____:_____ h Local: ________________________________
Nome: ____________________________________________________
Idade: ____________________ Data de Nascimento: ___/____/_____
Endereço: __________________________________________
Telefone: __________________________________________
Escolaridade: ______________________________________
Profissão: _________________________________________
Estado Civil: ______________________________________
Idade gestacional: _________________________________
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adesão ao pré-natal: a reprodução de um conceito