ARQUIVO CKC
ESPECIAL / RETARDANTES DE CHAMA
ATRASO NO
INCÊNDIO
Progressão
das chamas pode ter sua velocidade reduzida com a adoção
de substratos que agregam proteção a revestimentos em edificações
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O
maior incêndio no Brasil em
cinco décadas, a tragédia da
boate Kiss, em Santa Maria/
RS, em janeiro de 2013, despertou a
atenção da sociedade para a necessidade de proteger pessoas e edificações
contra incêndios. Contudo, um aspecto
em particular do sinistro, responsável
direto pela dimensão catastrófica do
desastre, ainda permanece pouco abordado em projetos arquitetônicos, normas e regulamentos. A escolha do revestimento em pisos, forros e paredes,
que em Santa Maria se revelou desastrosa e cuja queima produziu uma fumaça tóxica que causou a maioria das
242 mortes, deve levar em conta o seu
desempenho em termos de reação ao
fogo. Quando materiais combustíveis
são utilizados e, por isto, seu comportamento em um incêndio fica aquém do
previsto nas normas, os chamados
retardantes de chama podem ser aplicados em sua superfície e com alegada
eficácia: possibilitam um tempo dez
vezes maior para a fuga em segurança
do local do incêndio, afirma Soraya Jericó, presidente da Abichama (Associação Brasileira da Indústria de Retardantes de Chamas).
Com a criação das Normas de Desempenho na Construção Civil (NBR
15.575) e legislações estaduais que visam reduzir os riscos de incêndios em
edificações, o Brasil passa hoje por um
momento importante para retratar seus
avanços nas áreas de retardantes de chamas. O problema é que o país ainda
não acompanha o desenvolvimento
mundial na área. Segundo especialistas
ouvidos por Emergência, isto se deve
a uma série de fatores, como pouco conhecimento de projetistas, baixo incentivo ao ensino e pesquisa, carências
normativas, ausência de certificação nacional e escassez de laboratórios para
ensaios de qualidade e desempenho. Se
há deficiências no mercado, no entanto,
elas não se explicam por uma baixa demanda. Ao contrário, a aplicação de agentes retardantes pode se dar não apenas no isolamento termo-acústico de
um espaço de reunião de público, como
a Kiss, mas aparece em itens presentes
em residências e ambientes de trabalho,
nos meios de transporte - automóvel,
trem ou ônibus - e até mesmo no inte-
rior de aviões. Onde há um item cuja
reação ao fogo não acompanha o
desempenho mínimo esperado, os
retardantes podem ampliar a proteção.
O engenheiro civil Antonio Fernando
Berto, pesquisador e coordenador do
LSF (Laboratório de Segurança ao
Fogo) do IPT (Instituto de Pesquisas
Tecnológicas de São Paulo), cita o
exemplo da madeira, material combustível costumeiramente empregado como revestimento de teto. Segundo ele,
embora tenha um comportamento
ruim perante às chamas, a madeira obtém uma melhora suficiente para atingir os critérios mínimos de segurança
caso nela seja aplicado um verniz retardante. “Se a madeira apresenta um comportamento inaceitável, você pode
transformá-lo em aceitável”, diz. Com
a aplicação superficial de produtos retardantes, a madeira utilizada em praticamente todos tipos de construções,
passa de material combustível para ignífugo, ou seja, capaz de reduzir a propagação do fogo em situação de incêndio. Seu uso em forros é comum em
ambientes residenciais, assim como
ocorre com carpetes em pisos e tecidos em paredes - todos de característica combustível e que podem se favorecer em termos de desempenho em situação de incêndio com a aplicação de
retardantes.
Rogério Lin, especialista em proteção
passiva contra o fogo e diretor na empresa CKC do Brasil, cita um cenário
com estes três materiais empregados
para enaltecer mais uma vantagem do
uso de materiais antichamas: o retardo
na ocorrência do fenômeno flashover termo em inglês que descreve uma súbita e generalizada combustão em incêndio. Conforme Lin, o flashover ocorre decorridos de cinco a sete minutos
de um sinistro, momento em que os gases quentes do ambiente - alcançam cerca
de 400 graus e todos os materiais se autoinflamam, mesmo sem contato direto com as chamas. “Quando acontece
o flashover, dificilmente alguém consegue
sobreviver no ambiente”, diz. “Ao proteger o carpete, a parede e o forro com
retardantes, você consegue postergar o
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Reportagem de Rafael Geyger/
GHX Comunicação
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APLICAÇÃO SUPERFICIAL
Retardantes de chama não são aplicáveis à proteção de estruturas, como em
construções em aço e concreto. Para a
proteção destas estruturas, a exigência é
de resistência ao fogo, ou seja, quanto o
material ou sistema resiste ao calor e
chamas sem perder as suas propriedades. Já quando se fala em reação ao
fogo, significa definir quanto o material
pode contribuir para a evolução do incêndio (leia Reação ao fogo).
Conforme a professora Rosaria Ono,
doutora em Arquitetura e Urbanismo,
coordenadora do GSI (Grupo de Fomento à Segurança contra Incêndio), da
Universidade de São Paulo, quanto a
revestimentos e acabamentos, há dois
tipos de situação de uso de retardantes
de chama: basicamente, uma proativa e
outra reativa. No primeiro caso, os materiais são desenvolvidos e já produzidos com produtos em sua composição
que dificultam a ignição e o crescimento das chamas, ou mesmo o desenvolvimento de fumaça ou calor. A outra situação compreende o material não produzido com esta preocupação e que exige,
diversas formas, tais como
soluções aquosas à base de
sais, revestimentos intumescentes que se assemelham muito a pinturas à base
de água e em forma de vernizes para madeiras, mantendo sua estética natural.
Outras formas de aditivos
retardantes também podem
ser encontradas para aplicações em processos produBerto: incorporar
Jeffery Lin: durabilidade
tivos na indústria, são proposteriormente, a incorporação de um dutos que podem ser acrescidos durante
tratamento de superfície em que se agre- a produção de materiais plásticos por
ga alguma propriedade ao material. Para exemplo. No entanto, o Brasil ainda caAntonio Berto, a melhor solução é sem- minha a passos lentos nesta área.
Os produtos de tratamento antichapre incorporar à própria formulação.
“Ao invés de pensar em usar o produto mas podem ser aplicados em praticaantichama aplicado posteriormente, já mente qualquer material para tratá-los
definir na composição do material, por contra o fogo. “Acaba virando um subsmeio de produtos retardantes de cha- trato antichamas, o chamado material
ma, e conferir ao material esta caracte- ignífugo”, diz. A aplicação pode se dar
rística com formulações específicas”. O por pulverização ou outros métodos,
pesquisador cita o exemplo do MDF, conforme o objetivo que se quer atinum derivado da madeira, que pode ser gir. “Há empresas em canteiros de obras
encontrado no mercado com caracte- que utilizam a imersão da madeira por
rísticas que atendem aos critérios de re- um período, para que ela possa absoração ao fogo. “Se você é um projetista ver todas as propriedades do material
e quer usar um acabamento em MDF, retardante”, exemplifica.
Conforme Soraya Jericó, da Abichanão é muito mais fácil especificar um
que já atende as exigências do que arris- ma, cada tipo de material pede por um
car para depois buscar um tratamento elemento específico para que os retarsuperficial? Eu tenho certeza que é uma dantes de chama mantenham sua funopção muito mais inteligente”, ponde- cionalidade. Ela cita que os produtos
podem ser aplicados, por exemplo, em
ra.
Rogério Lin explica que retardantes cabos elétricos, eletroeletrônicos e linha
de chamas são produtos oferecidos em branca, meios de transporte rodoviário, ferroviário, aéreo e marítimo, revestimento de pisos e carpetes, móveis estofados e espumas para colchões, painéis de isolamento acústico e térmico e
forros de tetos.
eletroeletrônicos, como televisores, computadores,
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flashover de forma considerável, podendo obter de duas a cinco vezes mais
tempo antes do fenômeno ocorrer. O
incêndio generalizado vai acontecer
muito depois. Dá muito mais tempo
para as pessoas controlarem o fogo ou
conseguirem escapar com menos riscos
às suas vidas e permite o combate pelos
Bombeiros de forma eficaz”, explica.
DIVULGAÇÃO/IPT
ESPECIAL / RETARDANTES DE CHAMA
SAIBA MAIS SOBRE OS RETARDANTES
Os retardantes de chama são substâncias químicas utilizadas com o objetivo de retardar a ignição
e diminuir a velocidade de queima dos materiais aos
quais são incorporados. Eles podem ser adicionados
ou aplicados a diferentes tipos de materiais, como
têxteis e plásticos, e tornam a propagação do fogo
mais lenta.
Existem mais de 200 tipos diferentes de retardantes, sendo classificados pelos produtores de
acordo com seu constituinte químico. Estes elementos determinam sua reação química com o fogo
e, portanto, seu uso em diferentes aplicações. Os
elementos mais comumente usados em retardantes
de chama são bromo, fósforo, nitrogênio e cloro:
Bromo
Retardantes de chama com bromo em sua
composição são usados para equipamentos
rádios, geladeiras e máquinas de lavar. São usados
no transporte público e também em móveis estofados
e no isolamento acústico.
Fósforo
São usados em espumas de poliuretano em
mobílias, colchões e isolação térmica de materiais.
Nitrogênio
São usados em poliamidas, têxteis e papéis de
parede.
Cloro
Os retardantes que contêm cloro em sua composição são usados em couros, tintas, borrachas e
outros materiais.
Fonte: Abichama
DURABILIDADE
Para o especialista em proteção passiva contra o fogo, Jeffery Lin, também
diretor na CKC do Brasil, a durabilidade do efeito retardante aplicado sobre
os revestimentos depende de uma série
de condicionantes, que variam conforme o ambiente e o desgaste que ele sofre. O piso, por exemplo, é sempre um
local que sofre maior agressão, diferentemente de paredes e do forro. “Se estiver exposto a intempéries, o desgaste
acaba sendo muito maior do que um
material que está numa área interna”,
justifica. Segundo ele, em casos mais a-
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gressivos, o retardante é reaplicado a cada dois anos. Para outros ambientes, nova avaliação só é feita após oito anos período não definido em normas nacionais, mas que atende a recomendações
de fabricantes.
Rogerio Lin explica que este período
se refere aos chamados ciclos de manutenção do retardante de chama, que
é o tempo estabelecido para reaplicação
ou análise. “É um ciclo de manutenção
que evita que o substrato venha a sofrer
com a propagação de chamas ou perder eficiência em um eventual sinistro”,
diz. Como exemplo, ele cita um piso
de madeira tratado com verniz retardante. Apesar de o produto ser absorvido em parte pela madeira, grande
parte está na superfície - ele recebe um
top coat, uma proteção adicional na camada superficial que vai garantir resistência à abrasão. “Depois de um bom
período de tráfego intenso, vai desgastando este verniz retardante sobre a superfície e o que se recomenda é uma
manutenção preventiva”, completa.
De acordo com Antonio Fernando
Berto, do IPT (Instituto de Pesquisas
Tecnológicas), é preciso considerar que
grande parte dos produtos ignífugos
Aplicação de retardantes pode
se dar por pulverização
aplicados sobre tecidos são hidrossolúveis. Ou seja, quando aumenta a umidade no ambiente, o produto umedece
e, quando ela baixa, o produto seca.
“Quando seca, a água que está incorporada a ele sai e sai carregando parte
do produto retardante. Este processo,
ao longo do tempo, vai resultar em que?
Vai desaparecer ou vai estar numa proporção baixa, reduzindo gradualmente, a ponto de não ser mais efetivo”,
argumenta.
Em sua análise, este é um ponto que
reforça a importância de escolha por
materiais cujo efeito retardante esteja incorporado já à sua formulação. É o caso da construção metroferroviária, por
exemplo. Para Antonio Berto, não haveria sentido reaplicar um produto em
todos os trens de uma cidade como São
Paulo, ainda que isto fosse feito a cada
dez anos. “Não significa que não se deva
usar produtos para conferir propriedades adequadas de reação ao fogo em
situação que não há opção, como no
caso da madeira natural”, pondera.
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Futuro na nanotecnologia
Inovações em retardantes de chama chegam ao Brasil,
mas mercado ainda se limita por série de entraves
ARQUIVO RECOMINTE
Durante muito tempo, o uso de materiais retardantes de chama tinha como
preocupação a suposta adoção em suas
fórmulas de compostos químicos que
poderiam desenvolver gases tóxicos ou
asfixiantes, de maneira a causar prejuízos à saúde humana. A exposição a riscos desnecessários relativos a substâncias químicas nocivas vem sendo enfrentada com a inclusão da nanotecnologia
no processo. O termo se refere à ciência
que desenvolve produtos a partir de minúsculas partículas, sendo capaz de organizar átomos e moléculas para dar
origem a um novo material. Pesquisas
do Instituto de Padrões e Tecnologia
dos Estados Unidos (NIST, na sigla em
inglês) vêm propondo o desenvolvimento de retardantes de chama baseados em nanomateriais como um substituto mais seguro e menos tóxico. Estudo recente do órgão identificou que materiais à base de nanotecnologia usam
30% menos produtos químicos, mas
mantêm a eficácia dos retardantes tradicionais. “O estudo da nanotecnologia
deve ser uma tendência no desenvolvimento de produtos químicos retardantes”, afirma o empresário Jacques de
Albuquerque, presidente da empresa
Recominte. Ele destaca que, embora dificultem a propagação de chamas e, assim, economizem vidas, patrimônio e
Pesquisas e normas são fatores
apontados como importantes para
o crescimento do mercado
esforços humanos e materiais na contenção de um incêndio, os retardantes
não podem exalar fumaças tóxicas. O
empresário menciona o exemplo do
setor aviação, que vem se favorecendo
com os avanços das pesquisas. “Trabalho muito com o mercado aeronáutico
e dele nascem muitas tecnologias que
posteriormente são adotadas em outras
indústrias quando a economia em escala de produção consegue baratear os
preços”, afirma.
Os estudos sobre nanotecnologia não
se restringem ao NIST, movimentam
ainda fabricantes europeus e já aparecem no Brasil. A empresa CKC do Brasil, por exemplo, fabrica parte dos produtos retardantes, possui indústria no
exterior e participação em laboratórios
de pesquisa e desenvolvimento, principalmente na Europa, em países como
Alemanha e Inglaterra. Recentemente, a
marca apresentou um produto para
aplicação em carpetes. Com o uso da
nanotecnologia, o material penetra nas
fibras de polipropileno do tecido e o
transforma em um carpete de classe 2A
- a melhor classificação que um material combustível pode ter. Conforme o
diretor da empresa, Rogério Lin, que é
especialista em proteção passiva contra
o fogo, a dificuldade residia na tentativa de conter a propagação de chamas e
a irradiação de calor do polipropileno,
que é um material extremamente combustível e persistente, pois queima por
muito mais tempo que um pedaço de
madeira, por exemplo e libera muito
mais fumaça. “No nosso ponto de vista, o mercado de retardantes pode evoluir para uma padronização. Hoje, já
existe solução para praticamente todo
o tipo de material”, avalia Lin.
Em sua análise, outra tendência do
mercado antichama é a oferta de soluções customizadas. Uma estratégia adotada da CKC foi justamente criar uma
divisão específica para este fim. É um
departamento que já fez projetos com
empresas de acústica, da área de aviação, robótica e da indústria avançada,
de modo geral, no sentido de encontrar solução para materiais que precisam desenvolver reação ao fogo.
“Quando se fala em aeronáutica, por
exemplo, o tratamento de carpetes e de
toda a parte de tecidos do avião tem
que ser ignífugo, não pode propagar
chamas de modo algum, ou pode haver uma catástrofe”, afirma.
A CKC participou do desenvolvimento de uma tecnologia no Brasil de um
componente não inflamável para tela de
cristal líquido, em atendimento à legislação e fabricante do Japão. “Não foi
destinado ao mercado nacional, infelizmente”, relata, acrescentando que soluções customizadas podem ser empregadas na indústria de forma que o mercado antichama se torne massificado, o
que o torna mais acessível ao público
final. “É importante que as indústrias
invistam em tecnologia, pois isto vai
salvar vidas e facilitar o combate por
parte dos bombeiros”, completa.
DESAFIOS AO MERCADO
Na visão de Jacques de Albuquerque,
o mercado brasileiro de retardantes de
chama é limitado por uma série de fatores, entre os quais se inclui a dificuldade de inovações adentrarem o país.
Para ele, faltam incentivos à pesquisa em
universidades e escolas profissionalizantes, normalização de novos produtos e
facilitação de instalação de fabricantes
estrangeiros no Brasil. “Nós trabalhamos com um gel bloqueador de fogo
e nossa maior dificuldade é que não há
normalização para um produto novo
como este e, por consequência, muitas
instituições não podem pensar em ad-
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quiri-los por falta desta normalização e
consequente criação de edital de concorrência”, afirma.
As normas que determinam critérios
de desempenho de reação ao fogo são
elaboradas no CB 24 (Comitê Brasileiro de Segurança contra Incêndio), da
ABNT. Coordenador da Comissão de
Estudo que propõe diretrizes sobre o
tema, o engenheiro civil Antonio Berto,
também pesquisador do IPT, adianta
que uma norma de classificação de materiais está sendo preparada. “É uma
norma de desempenho. Estamos preocupados com o desempenho do produto”, adianta.
Para Rosaria Ono, doutora em Arquitetura e Urbanismo e coordenadora do
GSI, há dois aspectos principais de carência no mercado brasileiro: falta conhecimento geral dos profissionais sobre as especificações de materiais de acabamento e revestimento necessárias para garantir a segurança contra incêndio
das edificações e, por outro lado, há ausência de produtos certificados por ensaios de desempenho ao fogo no mercado brasileiro - o que dificulta o acesso dos projetistas a eles. A certificação
de produtos antichama é defendida tam-
O QUE VEM POR AÍ
Desde 2011, o mercado antichama vem comercializando alternativas para substituir o hexabromociclododecano (HBCD) nas aplicações em poliestireno
expandido (EPS) e extrudado (XPS). Em 2012, peritos químicos da ONU (Organizações das Nações
Unidas) recomendaram o fim do uso e comercialização do HBCD em todo o mundo para proteção da
saúde humana e do meio ambiente. O produto, que
aparece na fórmula de retardantes de chamas, é
também usado como solvente industrial, para o combate de pragas e outras aplicações.
Segundo Soraya Jericó, presidente da Abichama,
empresas na Europa e nos Estados Unidos já utilizam
e outros países também estão migrando para produtos
alternativos classificados como “retardante à chama
polimérico bromado”. “O produto é bastante estável”,
afirma, indicando que o poliestireno que contém este
retardante permanece protegido à chama durante
todo o seu ciclo de vida. “As autoridades regulatórias
na Europa e nos Estados Unidos aprovaram este
bém por Jeffery Lin, especialista em
proteção passiva contra incêndio da
CKC. Para ele, a falta de critérios de
qualidade e processos prejudica o mercado de retardantes, que poderia contar com uma espécie de certificação - já
existente em países mais avançados no
novo retardante de chama para uso comercial.
Esperamos que futuramente estes produtos sejam
adotados e propriamente regulamentados para uso
no Brasil”, afirma.
Já para Jeffery Lin, diretor na empresa CKC do
Brasil, uma novidade utilizada no exterior e que pode
chegar ao Brasil em breve são as tiras intumescentes, aplicadas nas laterais de portas. “É um sistema
que garante uma segurança maior para evitar a
passagem de gases quentes, fumaça e chamas em
locais de reuniões de público ou de hospedagem,
como hotéis e pousadas”, explica. Para Lin, a tendência para o mercado é de produtos com maior eficácia
e viabilidade financeira. “A pesquisa e desenvolvimento tem sido alvo de altos investimentos no
exterior e isto tem resultado em produtos que também
sejam práticos. O desafio é sempre desenvolver um
produto que alia ótimas propriedades de segurança
contra o fogo com viabilidade para o mercado”,
conclui.
segmento. Seu colega, Rogério Lin, lembra que circulam no mercado nacional
produtos certificados no exterior, como
é o caso de um revestimento intumescente para estrutura metálica fabricado
em território alemão. “Isto significa que
na Alemanha ele passa por um proces-
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so de auditoria, pelos ensaios de um laboratório para garantir que é um produto que mantém as mesmas características de lote em lote, com base em
normas europeias”, diz. Já no Brasil, acrescenta Rogério Lin, a ABNT faz um
trabalho de certificação da mão de obra
para aplicação de revestimentos intumescentes em aço estrutural. “É um avanço, mas não houve grande adesão,
pois o processo de certificação tem um
custo elevado e as empresas que fazem
a aplicação ainda não visualizam o mercado como se já estivesse decolando”,
lamenta.
A criação da Abichama, em 2011, é
tida como um marco para o crescimen-
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ESPECIAL / RETARDANTES DE CHAMA
Albuquerque: tecnologias
Rosaria: certificação
to do setor. “O que buscamos como
associação é contribuir para que o mercado local se inspire em normas e regulamentações internacionais no senti-
REAÇÃO AO FOGO
Materiais de revestimento e de acabamento de
edificações precisam ter seu desempenho ao fogo
avaliado quando utilizados em situação na qual a sua
combustão pode contribuir de forma decisiva e favorável à rápida evolução do incêndio. Conforme a professora Rosaria Ono, doutora em Arquitetura e Urbanismo e coordenadora do GSI, a reação ao fogo
inclui propriedades como a incombustibilidade, a facilidade de ignição, a velocidade de propagação superficial de chamas, a densidade da fumaça, a toxicidade dos produtos da combustão (gases e fumaça) e a quantidade de calor desenvolvido. “Idealmente, as regulamentações de segurança contra incêndio deveriam estabelecer as situações em que é
necessário o controle dos materiais de revestimento
e acabamento em nível nacional”, afirma. A avaliação
destas propriedades, segundo Rosaria, deve ser
realizada para a classificação dos materiais quanto
ao seu desempenho ao fogo, considerando o tipo de
superfície de aplicação (piso, forro ou teto ou parede,
por exemplo), finalidade de uso (estético, isolamento
térmico ou acústico, absorvedor acústico) e sua forma
de exposição a um eventual princípio de incêndio.
“Os materiais ditos retardantes também devem ser
classificados dentro dos mesmos critérios e, desta
forma, ter sua eficiência comprovada em relação
àquelas propriedades”, diz.
De acordo com o engenheiro civil Antonio Berto,
pesquisador do IPT, os ensaios de reação ao fogo
seguem os critérios de normas e regulamentos, como
a Instrução Técnica 10, do Corpo de Bombeiros de
São Paulo. Para cada situação avaliada, explica, há
uma metodologia própria e específica. Participante
ativo da criação do regulamento paulista, Berto
sinaliza que este trabalho não foi iniciado em reação
à tragédia de Santa Maria. “Já vínhamos acompanhando incêndios e mais incêndios nos quais se
percebia claramente este papel importante que os
materiais de revestimento, especialmente, de isolamento térmico e acústico, podem desempenhar na
evolução do incêndio”, explica.
A IT 10 estabelece o CMAR (Controle de Materiais
de Acabamento e de Revestimento), com exigências
para pisos, paredes e divisórias, tetos e forros e
coberturas. O texto estabelece as condições exigidas
para que os materiais empregados nas edificações
restrinjam a propagação do fogo e o desenvolvimento
da fumaça quando em incêndios. O texto, inclusive,
serviu de parâmetro para que outros estados criassem suas regras, lembra Rogério Lin, diretor da
empresa CKC e especialista em proteção contra
incêndio. Ele explica que todo o material combustível
empregado em edificações deve receber uma
classificação de reação ao fogo, considerando o
índice de propagação de chamas superficial e a
densidade óptica de fumaça. É esta classificação
que, ao final, resultará na necessidade ou não de
aplicação de um retardante de chama. “Se ele propaga chamas por ser um material combustível, tem
que ser tratado e, para isto, pode utilizar um verniz
retardante ou um revestimento intumescente. Todas
alternativas podem funcionar muito bem”, explica.
Vale ressaltar que a reação ao fogo e resistência ao
fogo, são conceitos bem diferentes e que usualmente
são confundidos pelo mercado. Enquanto um visa
avaliar o comportamento ao fogo, o outro visa avaliar
questões como estanqueidade, isolamento, e estabilidade em ensaios técnicos realizados em laboratórios reconhecidos mundialmente. A resistência
ao fogo define o tempo como parâmetro para compartimentação e resistência estrutural por exemplo,
já na reação ao fogo, o objetivo é minimizar a combustibilidade e emissão de fumaça de materiais empregados nos ambientes de uma edificação.
Rosaria Ono destaca ainda que, se o produto
retardante é uma resina ou pintura a ser aplicada
sobre algum material de base, sugere-se que os
ensaios laboratoriais para avaliação de desempenho
sejam realizados no conjunto e de forma comparativa.
“Isto é, a eficácia poderia ser comprovada com ensaios em amostras com e sem a aplicação do produto
retardante”, conclui.
do de evoluir na adoção de padrões de
inflamabilidade”, afirma sua presidente, Soraya Jericó. Para ela, o Brasil conta com estrutura para ensaios de muitos materiais e aplicações, mas para a
evolução do setor é inevitável que a demanda por novos laboratórios cresça.
No entanto, faz um alerta: a inexistência
de laboratórios para determinados testes ou aplicações não pode ser um
impeditivo para a inserção do controle
de inflamabilidade em novas normas ou
na atualização das já existentes. Rogério
Lin é outro que vê na carência de laboratórios um entrave para o mercado de
retardantes de chama. Os investimentos que a CKC faz em pesquisas e desenvolvimento no exterior, explica ele,
poderiam ser realizados no Brasil, mas
há uma série de impeditivos que iniciam pelo pouco número de laboratórios de ensaios de reação ao fogo. “Na
Europa, há muito mais laboratórios e
se consegue fazer vários tipos de ensaios”, conta.
Sem certificação e consequente padronização de qualidade, Lin vê o mercado nacional enfraquecido por produtos
que nem sempre atendem às necessidade de segurança. “Fazemos testes em
nossos laboratórios e conseguimos notar que alguns materiais tratados com
estes produtos no mercado até prejudicam a performance de reação ao fogo
de materiais combustíveis, por isto é
essencial que o cliente exija os ensaios e
laudos realizados em laboratórios de
credibilidade e pesquise bem quais empresas comercializam produtos que efetivamente funcionam. Isto prejudica a
imagem no Brasil e nos deixa bastante
preocupados, justamente porque prezamos tanto pela qualidade do produto e, infelizmente, a gente não vê a mesma correspondência na indústria”, lamenta.
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Progressão das chamas pode ter sua velocidade reduzida com a