ARQUIVO CKC ESPECIAL / RETARDANTES DE CHAMA ATRASO NO INCÊNDIO Progressão das chamas pode ter sua velocidade reduzida com a adoção de substratos que agregam proteção a revestimentos em edificações 22 Emergência Emergência Especial_maior.p65 NOVEMBRO / 2014 22 27/10/2014, 16:16 O maior incêndio no Brasil em cinco décadas, a tragédia da boate Kiss, em Santa Maria/ RS, em janeiro de 2013, despertou a atenção da sociedade para a necessidade de proteger pessoas e edificações contra incêndios. Contudo, um aspecto em particular do sinistro, responsável direto pela dimensão catastrófica do desastre, ainda permanece pouco abordado em projetos arquitetônicos, normas e regulamentos. A escolha do revestimento em pisos, forros e paredes, que em Santa Maria se revelou desastrosa e cuja queima produziu uma fumaça tóxica que causou a maioria das 242 mortes, deve levar em conta o seu desempenho em termos de reação ao fogo. Quando materiais combustíveis são utilizados e, por isto, seu comportamento em um incêndio fica aquém do previsto nas normas, os chamados retardantes de chama podem ser aplicados em sua superfície e com alegada eficácia: possibilitam um tempo dez vezes maior para a fuga em segurança do local do incêndio, afirma Soraya Jericó, presidente da Abichama (Associação Brasileira da Indústria de Retardantes de Chamas). Com a criação das Normas de Desempenho na Construção Civil (NBR 15.575) e legislações estaduais que visam reduzir os riscos de incêndios em edificações, o Brasil passa hoje por um momento importante para retratar seus avanços nas áreas de retardantes de chamas. O problema é que o país ainda não acompanha o desenvolvimento mundial na área. Segundo especialistas ouvidos por Emergência, isto se deve a uma série de fatores, como pouco conhecimento de projetistas, baixo incentivo ao ensino e pesquisa, carências normativas, ausência de certificação nacional e escassez de laboratórios para ensaios de qualidade e desempenho. Se há deficiências no mercado, no entanto, elas não se explicam por uma baixa demanda. Ao contrário, a aplicação de agentes retardantes pode se dar não apenas no isolamento termo-acústico de um espaço de reunião de público, como a Kiss, mas aparece em itens presentes em residências e ambientes de trabalho, nos meios de transporte - automóvel, trem ou ônibus - e até mesmo no inte- rior de aviões. Onde há um item cuja reação ao fogo não acompanha o desempenho mínimo esperado, os retardantes podem ampliar a proteção. O engenheiro civil Antonio Fernando Berto, pesquisador e coordenador do LSF (Laboratório de Segurança ao Fogo) do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo), cita o exemplo da madeira, material combustível costumeiramente empregado como revestimento de teto. Segundo ele, embora tenha um comportamento ruim perante às chamas, a madeira obtém uma melhora suficiente para atingir os critérios mínimos de segurança caso nela seja aplicado um verniz retardante. “Se a madeira apresenta um comportamento inaceitável, você pode transformá-lo em aceitável”, diz. Com a aplicação superficial de produtos retardantes, a madeira utilizada em praticamente todos tipos de construções, passa de material combustível para ignífugo, ou seja, capaz de reduzir a propagação do fogo em situação de incêndio. Seu uso em forros é comum em ambientes residenciais, assim como ocorre com carpetes em pisos e tecidos em paredes - todos de característica combustível e que podem se favorecer em termos de desempenho em situação de incêndio com a aplicação de retardantes. Rogério Lin, especialista em proteção passiva contra o fogo e diretor na empresa CKC do Brasil, cita um cenário com estes três materiais empregados para enaltecer mais uma vantagem do uso de materiais antichamas: o retardo na ocorrência do fenômeno flashover termo em inglês que descreve uma súbita e generalizada combustão em incêndio. Conforme Lin, o flashover ocorre decorridos de cinco a sete minutos de um sinistro, momento em que os gases quentes do ambiente - alcançam cerca de 400 graus e todos os materiais se autoinflamam, mesmo sem contato direto com as chamas. “Quando acontece o flashover, dificilmente alguém consegue sobreviver no ambiente”, diz. “Ao proteger o carpete, a parede e o forro com retardantes, você consegue postergar o Emergência NOVEMBRO / 2014 Especial_maior.p65 Reportagem de Rafael Geyger/ GHX Comunicação 23 27/10/2014, 16:16 23 APLICAÇÃO SUPERFICIAL Retardantes de chama não são aplicáveis à proteção de estruturas, como em construções em aço e concreto. Para a proteção destas estruturas, a exigência é de resistência ao fogo, ou seja, quanto o material ou sistema resiste ao calor e chamas sem perder as suas propriedades. Já quando se fala em reação ao fogo, significa definir quanto o material pode contribuir para a evolução do incêndio (leia Reação ao fogo). Conforme a professora Rosaria Ono, doutora em Arquitetura e Urbanismo, coordenadora do GSI (Grupo de Fomento à Segurança contra Incêndio), da Universidade de São Paulo, quanto a revestimentos e acabamentos, há dois tipos de situação de uso de retardantes de chama: basicamente, uma proativa e outra reativa. No primeiro caso, os materiais são desenvolvidos e já produzidos com produtos em sua composição que dificultam a ignição e o crescimento das chamas, ou mesmo o desenvolvimento de fumaça ou calor. A outra situação compreende o material não produzido com esta preocupação e que exige, diversas formas, tais como soluções aquosas à base de sais, revestimentos intumescentes que se assemelham muito a pinturas à base de água e em forma de vernizes para madeiras, mantendo sua estética natural. Outras formas de aditivos retardantes também podem ser encontradas para aplicações em processos produBerto: incorporar Jeffery Lin: durabilidade tivos na indústria, são proposteriormente, a incorporação de um dutos que podem ser acrescidos durante tratamento de superfície em que se agre- a produção de materiais plásticos por ga alguma propriedade ao material. Para exemplo. No entanto, o Brasil ainda caAntonio Berto, a melhor solução é sem- minha a passos lentos nesta área. Os produtos de tratamento antichapre incorporar à própria formulação. “Ao invés de pensar em usar o produto mas podem ser aplicados em praticaantichama aplicado posteriormente, já mente qualquer material para tratá-los definir na composição do material, por contra o fogo. “Acaba virando um subsmeio de produtos retardantes de cha- trato antichamas, o chamado material ma, e conferir ao material esta caracte- ignífugo”, diz. A aplicação pode se dar rística com formulações específicas”. O por pulverização ou outros métodos, pesquisador cita o exemplo do MDF, conforme o objetivo que se quer atinum derivado da madeira, que pode ser gir. “Há empresas em canteiros de obras encontrado no mercado com caracte- que utilizam a imersão da madeira por rísticas que atendem aos critérios de re- um período, para que ela possa absoração ao fogo. “Se você é um projetista ver todas as propriedades do material e quer usar um acabamento em MDF, retardante”, exemplifica. Conforme Soraya Jericó, da Abichanão é muito mais fácil especificar um que já atende as exigências do que arris- ma, cada tipo de material pede por um car para depois buscar um tratamento elemento específico para que os retarsuperficial? Eu tenho certeza que é uma dantes de chama mantenham sua funopção muito mais inteligente”, ponde- cionalidade. Ela cita que os produtos podem ser aplicados, por exemplo, em ra. Rogério Lin explica que retardantes cabos elétricos, eletroeletrônicos e linha de chamas são produtos oferecidos em branca, meios de transporte rodoviário, ferroviário, aéreo e marítimo, revestimento de pisos e carpetes, móveis estofados e espumas para colchões, painéis de isolamento acústico e térmico e forros de tetos. eletroeletrônicos, como televisores, computadores, ARQUIVO CKC flashover de forma considerável, podendo obter de duas a cinco vezes mais tempo antes do fenômeno ocorrer. O incêndio generalizado vai acontecer muito depois. Dá muito mais tempo para as pessoas controlarem o fogo ou conseguirem escapar com menos riscos às suas vidas e permite o combate pelos Bombeiros de forma eficaz”, explica. DIVULGAÇÃO/IPT ESPECIAL / RETARDANTES DE CHAMA SAIBA MAIS SOBRE OS RETARDANTES Os retardantes de chama são substâncias químicas utilizadas com o objetivo de retardar a ignição e diminuir a velocidade de queima dos materiais aos quais são incorporados. Eles podem ser adicionados ou aplicados a diferentes tipos de materiais, como têxteis e plásticos, e tornam a propagação do fogo mais lenta. Existem mais de 200 tipos diferentes de retardantes, sendo classificados pelos produtores de acordo com seu constituinte químico. Estes elementos determinam sua reação química com o fogo e, portanto, seu uso em diferentes aplicações. Os elementos mais comumente usados em retardantes de chama são bromo, fósforo, nitrogênio e cloro: Bromo Retardantes de chama com bromo em sua composição são usados para equipamentos rádios, geladeiras e máquinas de lavar. São usados no transporte público e também em móveis estofados e no isolamento acústico. Fósforo São usados em espumas de poliuretano em mobílias, colchões e isolação térmica de materiais. Nitrogênio São usados em poliamidas, têxteis e papéis de parede. Cloro Os retardantes que contêm cloro em sua composição são usados em couros, tintas, borrachas e outros materiais. Fonte: Abichama DURABILIDADE Para o especialista em proteção passiva contra o fogo, Jeffery Lin, também diretor na CKC do Brasil, a durabilidade do efeito retardante aplicado sobre os revestimentos depende de uma série de condicionantes, que variam conforme o ambiente e o desgaste que ele sofre. O piso, por exemplo, é sempre um local que sofre maior agressão, diferentemente de paredes e do forro. “Se estiver exposto a intempéries, o desgaste acaba sendo muito maior do que um material que está numa área interna”, justifica. Segundo ele, em casos mais a- 24 Emergência Especial_maior.p65 NOVEMBRO / 2014 24 27/10/2014, 16:16 ARQUIVO CKC gressivos, o retardante é reaplicado a cada dois anos. Para outros ambientes, nova avaliação só é feita após oito anos período não definido em normas nacionais, mas que atende a recomendações de fabricantes. Rogerio Lin explica que este período se refere aos chamados ciclos de manutenção do retardante de chama, que é o tempo estabelecido para reaplicação ou análise. “É um ciclo de manutenção que evita que o substrato venha a sofrer com a propagação de chamas ou perder eficiência em um eventual sinistro”, diz. Como exemplo, ele cita um piso de madeira tratado com verniz retardante. Apesar de o produto ser absorvido em parte pela madeira, grande parte está na superfície - ele recebe um top coat, uma proteção adicional na camada superficial que vai garantir resistência à abrasão. “Depois de um bom período de tráfego intenso, vai desgastando este verniz retardante sobre a superfície e o que se recomenda é uma manutenção preventiva”, completa. De acordo com Antonio Fernando Berto, do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), é preciso considerar que grande parte dos produtos ignífugos Aplicação de retardantes pode se dar por pulverização aplicados sobre tecidos são hidrossolúveis. Ou seja, quando aumenta a umidade no ambiente, o produto umedece e, quando ela baixa, o produto seca. “Quando seca, a água que está incorporada a ele sai e sai carregando parte do produto retardante. Este processo, ao longo do tempo, vai resultar em que? Vai desaparecer ou vai estar numa proporção baixa, reduzindo gradualmente, a ponto de não ser mais efetivo”, argumenta. Em sua análise, este é um ponto que reforça a importância de escolha por materiais cujo efeito retardante esteja incorporado já à sua formulação. É o caso da construção metroferroviária, por exemplo. Para Antonio Berto, não haveria sentido reaplicar um produto em todos os trens de uma cidade como São Paulo, ainda que isto fosse feito a cada dez anos. “Não significa que não se deva usar produtos para conferir propriedades adequadas de reação ao fogo em situação que não há opção, como no caso da madeira natural”, pondera. Emergência NOVEMBRO / 2014 Especial_maior.p65 25 27/10/2014, 16:16 25 ESPECIAL / RETARDANTES DE CHAMA Futuro na nanotecnologia Inovações em retardantes de chama chegam ao Brasil, mas mercado ainda se limita por série de entraves ARQUIVO RECOMINTE Durante muito tempo, o uso de materiais retardantes de chama tinha como preocupação a suposta adoção em suas fórmulas de compostos químicos que poderiam desenvolver gases tóxicos ou asfixiantes, de maneira a causar prejuízos à saúde humana. A exposição a riscos desnecessários relativos a substâncias químicas nocivas vem sendo enfrentada com a inclusão da nanotecnologia no processo. O termo se refere à ciência que desenvolve produtos a partir de minúsculas partículas, sendo capaz de organizar átomos e moléculas para dar origem a um novo material. Pesquisas do Instituto de Padrões e Tecnologia dos Estados Unidos (NIST, na sigla em inglês) vêm propondo o desenvolvimento de retardantes de chama baseados em nanomateriais como um substituto mais seguro e menos tóxico. Estudo recente do órgão identificou que materiais à base de nanotecnologia usam 30% menos produtos químicos, mas mantêm a eficácia dos retardantes tradicionais. “O estudo da nanotecnologia deve ser uma tendência no desenvolvimento de produtos químicos retardantes”, afirma o empresário Jacques de Albuquerque, presidente da empresa Recominte. Ele destaca que, embora dificultem a propagação de chamas e, assim, economizem vidas, patrimônio e Pesquisas e normas são fatores apontados como importantes para o crescimento do mercado esforços humanos e materiais na contenção de um incêndio, os retardantes não podem exalar fumaças tóxicas. O empresário menciona o exemplo do setor aviação, que vem se favorecendo com os avanços das pesquisas. “Trabalho muito com o mercado aeronáutico e dele nascem muitas tecnologias que posteriormente são adotadas em outras indústrias quando a economia em escala de produção consegue baratear os preços”, afirma. Os estudos sobre nanotecnologia não se restringem ao NIST, movimentam ainda fabricantes europeus e já aparecem no Brasil. A empresa CKC do Brasil, por exemplo, fabrica parte dos produtos retardantes, possui indústria no exterior e participação em laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, principalmente na Europa, em países como Alemanha e Inglaterra. Recentemente, a marca apresentou um produto para aplicação em carpetes. Com o uso da nanotecnologia, o material penetra nas fibras de polipropileno do tecido e o transforma em um carpete de classe 2A - a melhor classificação que um material combustível pode ter. Conforme o diretor da empresa, Rogério Lin, que é especialista em proteção passiva contra o fogo, a dificuldade residia na tentativa de conter a propagação de chamas e a irradiação de calor do polipropileno, que é um material extremamente combustível e persistente, pois queima por muito mais tempo que um pedaço de madeira, por exemplo e libera muito mais fumaça. “No nosso ponto de vista, o mercado de retardantes pode evoluir para uma padronização. Hoje, já existe solução para praticamente todo o tipo de material”, avalia Lin. Em sua análise, outra tendência do mercado antichama é a oferta de soluções customizadas. Uma estratégia adotada da CKC foi justamente criar uma divisão específica para este fim. É um departamento que já fez projetos com empresas de acústica, da área de aviação, robótica e da indústria avançada, de modo geral, no sentido de encontrar solução para materiais que precisam desenvolver reação ao fogo. “Quando se fala em aeronáutica, por exemplo, o tratamento de carpetes e de toda a parte de tecidos do avião tem que ser ignífugo, não pode propagar chamas de modo algum, ou pode haver uma catástrofe”, afirma. A CKC participou do desenvolvimento de uma tecnologia no Brasil de um componente não inflamável para tela de cristal líquido, em atendimento à legislação e fabricante do Japão. “Não foi destinado ao mercado nacional, infelizmente”, relata, acrescentando que soluções customizadas podem ser empregadas na indústria de forma que o mercado antichama se torne massificado, o que o torna mais acessível ao público final. “É importante que as indústrias invistam em tecnologia, pois isto vai salvar vidas e facilitar o combate por parte dos bombeiros”, completa. DESAFIOS AO MERCADO Na visão de Jacques de Albuquerque, o mercado brasileiro de retardantes de chama é limitado por uma série de fatores, entre os quais se inclui a dificuldade de inovações adentrarem o país. Para ele, faltam incentivos à pesquisa em universidades e escolas profissionalizantes, normalização de novos produtos e facilitação de instalação de fabricantes estrangeiros no Brasil. “Nós trabalhamos com um gel bloqueador de fogo e nossa maior dificuldade é que não há normalização para um produto novo como este e, por consequência, muitas instituições não podem pensar em ad- 26 Emergência Especial_maior.p65 NOVEMBRO / 2014 26 27/10/2014, 16:16 quiri-los por falta desta normalização e consequente criação de edital de concorrência”, afirma. As normas que determinam critérios de desempenho de reação ao fogo são elaboradas no CB 24 (Comitê Brasileiro de Segurança contra Incêndio), da ABNT. Coordenador da Comissão de Estudo que propõe diretrizes sobre o tema, o engenheiro civil Antonio Berto, também pesquisador do IPT, adianta que uma norma de classificação de materiais está sendo preparada. “É uma norma de desempenho. Estamos preocupados com o desempenho do produto”, adianta. Para Rosaria Ono, doutora em Arquitetura e Urbanismo e coordenadora do GSI, há dois aspectos principais de carência no mercado brasileiro: falta conhecimento geral dos profissionais sobre as especificações de materiais de acabamento e revestimento necessárias para garantir a segurança contra incêndio das edificações e, por outro lado, há ausência de produtos certificados por ensaios de desempenho ao fogo no mercado brasileiro - o que dificulta o acesso dos projetistas a eles. A certificação de produtos antichama é defendida tam- O QUE VEM POR AÍ Desde 2011, o mercado antichama vem comercializando alternativas para substituir o hexabromociclododecano (HBCD) nas aplicações em poliestireno expandido (EPS) e extrudado (XPS). Em 2012, peritos químicos da ONU (Organizações das Nações Unidas) recomendaram o fim do uso e comercialização do HBCD em todo o mundo para proteção da saúde humana e do meio ambiente. O produto, que aparece na fórmula de retardantes de chamas, é também usado como solvente industrial, para o combate de pragas e outras aplicações. Segundo Soraya Jericó, presidente da Abichama, empresas na Europa e nos Estados Unidos já utilizam e outros países também estão migrando para produtos alternativos classificados como “retardante à chama polimérico bromado”. “O produto é bastante estável”, afirma, indicando que o poliestireno que contém este retardante permanece protegido à chama durante todo o seu ciclo de vida. “As autoridades regulatórias na Europa e nos Estados Unidos aprovaram este bém por Jeffery Lin, especialista em proteção passiva contra incêndio da CKC. Para ele, a falta de critérios de qualidade e processos prejudica o mercado de retardantes, que poderia contar com uma espécie de certificação - já existente em países mais avançados no novo retardante de chama para uso comercial. Esperamos que futuramente estes produtos sejam adotados e propriamente regulamentados para uso no Brasil”, afirma. Já para Jeffery Lin, diretor na empresa CKC do Brasil, uma novidade utilizada no exterior e que pode chegar ao Brasil em breve são as tiras intumescentes, aplicadas nas laterais de portas. “É um sistema que garante uma segurança maior para evitar a passagem de gases quentes, fumaça e chamas em locais de reuniões de público ou de hospedagem, como hotéis e pousadas”, explica. Para Lin, a tendência para o mercado é de produtos com maior eficácia e viabilidade financeira. “A pesquisa e desenvolvimento tem sido alvo de altos investimentos no exterior e isto tem resultado em produtos que também sejam práticos. O desafio é sempre desenvolver um produto que alia ótimas propriedades de segurança contra o fogo com viabilidade para o mercado”, conclui. segmento. Seu colega, Rogério Lin, lembra que circulam no mercado nacional produtos certificados no exterior, como é o caso de um revestimento intumescente para estrutura metálica fabricado em território alemão. “Isto significa que na Alemanha ele passa por um proces- Emergência NOVEMBRO / 2014 Especial_maior.p65 27 27/10/2014, 16:16 27 DIVULGAÇÃO/ASSESSORIA ARQUIVO PESSOAL so de auditoria, pelos ensaios de um laboratório para garantir que é um produto que mantém as mesmas características de lote em lote, com base em normas europeias”, diz. Já no Brasil, acrescenta Rogério Lin, a ABNT faz um trabalho de certificação da mão de obra para aplicação de revestimentos intumescentes em aço estrutural. “É um avanço, mas não houve grande adesão, pois o processo de certificação tem um custo elevado e as empresas que fazem a aplicação ainda não visualizam o mercado como se já estivesse decolando”, lamenta. A criação da Abichama, em 2011, é tida como um marco para o crescimen- ARQUIVO PESSOAL ESPECIAL / RETARDANTES DE CHAMA Albuquerque: tecnologias Rosaria: certificação to do setor. “O que buscamos como associação é contribuir para que o mercado local se inspire em normas e regulamentações internacionais no senti- REAÇÃO AO FOGO Materiais de revestimento e de acabamento de edificações precisam ter seu desempenho ao fogo avaliado quando utilizados em situação na qual a sua combustão pode contribuir de forma decisiva e favorável à rápida evolução do incêndio. Conforme a professora Rosaria Ono, doutora em Arquitetura e Urbanismo e coordenadora do GSI, a reação ao fogo inclui propriedades como a incombustibilidade, a facilidade de ignição, a velocidade de propagação superficial de chamas, a densidade da fumaça, a toxicidade dos produtos da combustão (gases e fumaça) e a quantidade de calor desenvolvido. “Idealmente, as regulamentações de segurança contra incêndio deveriam estabelecer as situações em que é necessário o controle dos materiais de revestimento e acabamento em nível nacional”, afirma. A avaliação destas propriedades, segundo Rosaria, deve ser realizada para a classificação dos materiais quanto ao seu desempenho ao fogo, considerando o tipo de superfície de aplicação (piso, forro ou teto ou parede, por exemplo), finalidade de uso (estético, isolamento térmico ou acústico, absorvedor acústico) e sua forma de exposição a um eventual princípio de incêndio. “Os materiais ditos retardantes também devem ser classificados dentro dos mesmos critérios e, desta forma, ter sua eficiência comprovada em relação àquelas propriedades”, diz. De acordo com o engenheiro civil Antonio Berto, pesquisador do IPT, os ensaios de reação ao fogo seguem os critérios de normas e regulamentos, como a Instrução Técnica 10, do Corpo de Bombeiros de São Paulo. Para cada situação avaliada, explica, há uma metodologia própria e específica. Participante ativo da criação do regulamento paulista, Berto sinaliza que este trabalho não foi iniciado em reação à tragédia de Santa Maria. “Já vínhamos acompanhando incêndios e mais incêndios nos quais se percebia claramente este papel importante que os materiais de revestimento, especialmente, de isolamento térmico e acústico, podem desempenhar na evolução do incêndio”, explica. A IT 10 estabelece o CMAR (Controle de Materiais de Acabamento e de Revestimento), com exigências para pisos, paredes e divisórias, tetos e forros e coberturas. O texto estabelece as condições exigidas para que os materiais empregados nas edificações restrinjam a propagação do fogo e o desenvolvimento da fumaça quando em incêndios. O texto, inclusive, serviu de parâmetro para que outros estados criassem suas regras, lembra Rogério Lin, diretor da empresa CKC e especialista em proteção contra incêndio. Ele explica que todo o material combustível empregado em edificações deve receber uma classificação de reação ao fogo, considerando o índice de propagação de chamas superficial e a densidade óptica de fumaça. É esta classificação que, ao final, resultará na necessidade ou não de aplicação de um retardante de chama. “Se ele propaga chamas por ser um material combustível, tem que ser tratado e, para isto, pode utilizar um verniz retardante ou um revestimento intumescente. Todas alternativas podem funcionar muito bem”, explica. Vale ressaltar que a reação ao fogo e resistência ao fogo, são conceitos bem diferentes e que usualmente são confundidos pelo mercado. Enquanto um visa avaliar o comportamento ao fogo, o outro visa avaliar questões como estanqueidade, isolamento, e estabilidade em ensaios técnicos realizados em laboratórios reconhecidos mundialmente. A resistência ao fogo define o tempo como parâmetro para compartimentação e resistência estrutural por exemplo, já na reação ao fogo, o objetivo é minimizar a combustibilidade e emissão de fumaça de materiais empregados nos ambientes de uma edificação. Rosaria Ono destaca ainda que, se o produto retardante é uma resina ou pintura a ser aplicada sobre algum material de base, sugere-se que os ensaios laboratoriais para avaliação de desempenho sejam realizados no conjunto e de forma comparativa. “Isto é, a eficácia poderia ser comprovada com ensaios em amostras com e sem a aplicação do produto retardante”, conclui. do de evoluir na adoção de padrões de inflamabilidade”, afirma sua presidente, Soraya Jericó. Para ela, o Brasil conta com estrutura para ensaios de muitos materiais e aplicações, mas para a evolução do setor é inevitável que a demanda por novos laboratórios cresça. No entanto, faz um alerta: a inexistência de laboratórios para determinados testes ou aplicações não pode ser um impeditivo para a inserção do controle de inflamabilidade em novas normas ou na atualização das já existentes. Rogério Lin é outro que vê na carência de laboratórios um entrave para o mercado de retardantes de chama. Os investimentos que a CKC faz em pesquisas e desenvolvimento no exterior, explica ele, poderiam ser realizados no Brasil, mas há uma série de impeditivos que iniciam pelo pouco número de laboratórios de ensaios de reação ao fogo. “Na Europa, há muito mais laboratórios e se consegue fazer vários tipos de ensaios”, conta. Sem certificação e consequente padronização de qualidade, Lin vê o mercado nacional enfraquecido por produtos que nem sempre atendem às necessidade de segurança. “Fazemos testes em nossos laboratórios e conseguimos notar que alguns materiais tratados com estes produtos no mercado até prejudicam a performance de reação ao fogo de materiais combustíveis, por isto é essencial que o cliente exija os ensaios e laudos realizados em laboratórios de credibilidade e pesquise bem quais empresas comercializam produtos que efetivamente funcionam. Isto prejudica a imagem no Brasil e nos deixa bastante preocupados, justamente porque prezamos tanto pela qualidade do produto e, infelizmente, a gente não vê a mesma correspondência na indústria”, lamenta. 28 Emergência Especial_maior.p65 Soraya: laboratórios NOVEMBRO / 2014 28 27/10/2014, 16:16