RELATO DE ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM Diante da proposta do Curso de Ciências da Religião – Bacharelado e Licenciatura Plena em Ensino Religioso, do Centro Universitário Municipal de São José (USJ), em Santa Catarina, através da disciplina “Estágio Curricular Supervisionado II – Séries Finais do Ensino Fundamental”, os acadêmicos Cláudia Martins, Maria Helena Pedrini Walter e Matheus Maestri David planejaram e desenvolveram algumas práticas pedagógicas, que serão relatadas a seguir. O estágio foi, pois, realizado na Escola de Ensino Fundamental São Miguel, da Rede Estadual de Educação, que atende, aproximadamente, 380 educandos do Ensino Fundamental – Séries Iniciais e Finais. A turma em que ocorreram as intervenções foi a 8ª série (séries finais), com a qual se propôs tratar da temática “finitude humana”. Essa turma constituía-se de 13 educandos, na faixa etária de 14 anos. A proposta, então, para essa turma foi a de trabalhar o “Ser Humano” como conceito essencial, e como conteúdo a “Experiência religiosa na busca de superação da finitude humana”. Também, neste caso, serviu de suporte a Proposta Curricular de Santa Catarina para o Ensino Religioso – 2001, as sugestões da professora de Ensino Religioso da escola, e as análises fundamentadas nas observações feitas na turma em questão. O FONAPER (2009) deixa bem claro que, o conhecimento religioso, mesmo revelado, é igualmente um conhecimento humano, e é justamente a partir de reflexões que consideram também esse conhecimento que se poderá compreender o ser humano na sua totalidade e, portanto, na sua finitude. “Assim, o conhecimento religioso, enquanto sistematização de uma das dimensões [...] do ser humano [...] está ao lado de outros, que, articulados, explicam o significado da existência humana.” (FONAPER, 2009, p. 46). Concebendo o “Ser Humano” como um conceito essencial no Ensino Religioso, a Proposta Curricular de Santa Catarina para o Ensino Religioso – 2001 pressupõe a necessidade de se disponibilizar na escola informações básicas para a compreensão daquilo que dá “sentido à vida” – seja para um indivíduo, ou seja para um grupo social, cultural, religioso –, tendo como ponto de partida a finitude humana, e de que como as diferentes experiências religiosas buscam superar tal condição (conteúdo proposto para a presente “atividade de aprendizagem”). Sendo essa temática uma realidade que perpassa – cedo ou tarde – inevitavelmente a construção e a constituição de qualquer ser humano, faz-se salutar, ainda no âmbito escolar, ao menos, a apresentação e a partilha do que Cecchetti (2008-2010) denomina de fontes doadoras de sentido. “O conhecimento religioso compreende o ser humano numa perspectiva própria, entrando em discussão um elemento perene: a questão do sentido da existência [...].” (FONAPER, 2009, p. 60). Ora, estando a turma em questão em um período escolar caracterizado, de acordo com o FONAPER (2009), pela ampliação dos interesses e atividades, pela formulação de hipóteses, pelo desenvolvimento do que é ideal e o que é real, pela construção do juízo de certo e errado, e pelo desejo de uma formação da consciência moral, entre outros, a consideração acerca do “sentido da vida” parece integrar a “lista” de fundamentos necessários para a formação plena do ser humano. Cecchetti (2008-2010, p. 11-12, grifo do autor) esclarece, então, que, por sentido da vida compreende-se o processo desencadeado, a partir da percepção da finitude, no qual os sujeitos procuram uma razão de ser, estar e transcender o mundo e a si mesmos, atribuindo significados para a vida e a morte, a partir de respostas ou referenciais que justifiquem o seu agir, fazer, desejar, conhecer, construir, sonhar... [...]. Nesse processo, as diferentes práticas, vivências, percepções e elaborações em relação à finitude [...], manifestadas na diversidade do fenômeno religioso, contribuem significativamente na elaboração do sentido da vida de cada sujeito, seja de forma subjetiva ou coletiva. O objetivo principal, portanto, para tal intervenção, foi o de oportunizar aos educandos a reflexão e a compreensão das influências das diferentes tradições religiosas na assimilação e superação da finitude humana, como ponto de partida para a conscientização da vida e para a conformação de sentido da mesma. Elaborou-se, pois, três atividades para os quatro dias de intervenção, com conteúdos interligados entre si. Logo no início da primeira aula, procurou-se deixar claro aos educandos o tema geral das aulas: “Vida e Morte – Eis a questão!”. Na 1ª aula (Vida / Morte) procurou-se proporcionar a reflexão e a conceituação do que é “vida” e “morte”. Na dinâmica “Árvore da Vida, Árvore da Morte” cada educando recebeu dois pedaços de papel (vide ANEXO A), em um deveriam escrever o que é, o que significa e o que causa Vida, e em outro escrever o que é, o que significa e o que causa Morte; em seguida, os educandos partilharam o que escreveram, pendurando na “árvore verde” o que representa a Vida e nos “galhos secos” o que representa a Morte; os conceitos lidos foram anotados no quadro, e ao final fez-se uma análise geral. Como tarefa para casa, pediu-se aos educandos que trouxessem, na próxima aula, alguma coisa que lhes representasse o sentido de suas vidas. Na 2ª aula (Sentido da Vida) o objetivo foi propor uma auto-reflexão acerca daquilo que faz sentido na vida, com a dinâmica “A Vela”. Sentados em círculo, tendo ao centro a “árvore da vida” e a “árvore da morte”, pediu-se aos educandos – que haviam trazido algo que lhes representava o sentido da vida – que os colocassem nesse espaço ao centro; depois, cada educando recebeu uma vela velha e uma vela nova; com a vela velha em mãos, cada um deveria dizer qual a sua maior dúvida e/ou medo, e após apagar a vela; com a vela nova em mãos, cada um deveria dizer qual a sua razão de ser e viver, e após acender a vela, colocando-a em um grande castiçal ao centro da sala. Ao final, refletiu-se sobre as questões levantadas pela turma. A 3ª aula (Tradições Religiosas) buscou proporcionar o conhecimento e a identificação das orientações de vida das tradições religiosas. Primeiramente, disponibilizou-se a parte inicial de um filme com as temáticas: “vida”, “morte” e “sentido da vida”, de maneira a relembrar as discussões das aulas anteriores, e de fazer a ligação com a aula do dia. Após uma discussão sobre os pontos mais importantes do filme destacados pelos próprios educandos, passou-se à dinâmica “Óculos”, em que os educandos deveriam, através de um “óculos” (previamente confeccionado), escolher uma frase (dentre as diferentes denominações religiosas acerca da temática “Vida/Morte”) que lhes fazia mais sentido para a vida (vide ANEXO B); a frase escolhida deveria ser anotada no caderno para posteriormente ser compartilhada com toda a turma. Na 4ª aula (Tradições Religiosas) retomou-se, então, a partilha da aula anterior; os educandos leram suas frases anotadas, identificando as tradições religiosas a que pertenciam. Em seguida, distribuiu-se a letra de uma música, que trazia a questão da conscientização da vida, que foi ouvida, como um fechamento do conteúdo. Para finalizar, foi entregue um texto-síntese (vide ANEXO C) contemplando as temáticas de todas as aulas. Figura: Dinâmica “Árvore da Vida, Figura: Dinâmica “A Vela” Árvore da Morte” Fonte: Arquivo pessoal Fonte: Arquivo pessoal Figura: Dinâmica “Óculos” Fonte: Arquivo pessoal Os recursos utilizados para a realização da atividade de aprendizagem foram: quadro, giz/caneta, apagador; (1ª aula) planta em vaso, galhos secos, papéis para escrever, fita adesiva; (2ª aula) velas velhas e novas, fósforo/isqueiro, suporte/castiçal; (3ª aula) filme, data-show, notebook, “óculos”, frases (com a temática “vida/morte”) de diferentes denominações religiosas; (4ª aula) música, aparelho de cd; texto-síntese. REFERÊNCIAS CATEQUESE CATÓLICA. Dinâmicas. Disponível em: < http://www.catequisar.com.br/texto/dinamica/volume01/09.htm>. Acesso em: 25 abr.2012. CATEQUESE CATÓLICA. Dinâmicas. Disponível em: <http://www.catequisar.com.br/texto/dinamica/volume01/18.htm>. Acesso em: 25 abr.2012. CECCHETTI, Elcio (Org.). Reorganização curricular do ensino religioso: versão preliminar. Florianópolis: GEREDs, 2008-2010. FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Parâmetros curriculares nacionais: ensino religioso. São Paulo: Mundo Mirim, 2009. SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Educação e do Desporto. Proposta curricular de Santa Catarina: implementação do ensino religioso. Florianópolis: SED, 2001. SOUSA, Ana Maria Borges de; CARDOSO, Teresinha Maria. Organização escolar. Florianópolis: UFSC/EAD/CED/CFM, 2008. ANEXOS ANEXO A – ANEXO B – “Frases” “Você é pó, e ao pó voltará.” (Gn 3,19) (Judaísmo) “...porque não me abandonarás no túmulo, nem deixarás o teu fiel ver a sepultura.” (Sal 15,10) (Judaísmo) “...pois Deus não fez a morte, nem se alegra com a perdição dos seres vivos.” (Sab 1,13) (Judaísmo) “Jesus disse: „Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá.” (Jo 11,25) (Cristianismo) “Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos receberão a vida.” (1Cor 15,22) (Cristianismo) “Nós sabemos: quando a nossa morada terrestre, a nossa tenda for desfeita, receberemos de Deus uma habitação no céu, uma casa eterna não construída por mãos humanas.” (2Cor 5,1) (Cristianismo) “Que é a vida terrena senão jogo e diversão frívola? A morada na Outra Vida é preferível para os tementes. Não o compreendeis?” (6:32) (Islamismo) “Não reparam, acaso, em que Allah, que criou os céus e a terra, sem Se esforçar, é capaz de ressuscitar os mortos? Sim! Porque é Onipotente.” (46:33) (Islamismo) “Será no dia em que Ele vos chamar e em que vós O atendereis, glorificando os Seus louvores; e vos parecerá que não permanecestes ali senão pouco tempo.” (17:52) (Islamismo) “Quando o ser orgânico morre, os elementos que o constituíam [...] participam na formação de novos seres, que por sua vez passam a tirar da fonte universal o princípio da vida e da atividade, [...] para novamente devolvê-lo a essa fonte quando deixarem de existir.” (p.1, cap.4, 70) (Espiritismo) “É a vida do Espírito que é eterna; porém, a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma retorna à vida eterna.” (p.2, cap.3, 153) (Espiritismo) “A cada nova existência, o Espírito dá um passo no caminho do progresso. Quando se libertar de todas as suas impurezas, não tem mais necessidade das provações da vida corporal.” (p.2, cap.4, 168) (Espiritismo) “Aqui nós esperamos Tupã, para segui-lo quando vier, para segui-lo ao céu quando vier.” (Religião Indígena) “Nosso pai Tupã relampeja no verão. Nós [nos] consagramos para vencer os obstáculos e atingir a terra sagrada.” (Religião Indígena) “Morremos para um lado e nascemos para outro lado da vida, o que nos aguarda do outro lado depende de nós mesmos.” (Umbanda) “Na Terra (Aìyê), o objetivo do homem é realizar o seu destino de maneira completa e satisfatória. Ao cumpri-lo estará pronto para a morte. O espírito será, então, encaminhado ao Céu (Òrun), uma dimensão eterna.” (Candomblé) “Nascemos para morrer, conhecemos pessoas para as deixar e ganhamos coisas para as perder.” (Budismo) “Após a morte, o espírito volta em outros corpos (homens ou animais), até libertar-se do karma e alcançar a iluminação ou o Nirvana. Para isso, é preciso evitar o mal, praticar o bem e purificar o pensamento.” (Budismo) “A vida na Terra é parte de um ciclo eterno de nascimentos, mortes e renascimentos, do qual só saímos após atingirmos a Iluminação.” (Hinduísmo) “Assim como pomos de lado uma roupa usada e vestimos uma nova, assim o espírito se desfaz da sua indumentária de carne e se reveste de uma nova.” (Hinduísmo) “Sendo a matéria a única fonte do ser, a morte é considerada o fim de tudo.” (Niilismo) “Juntas, as forças da vida são fortes [...]. Ao fim dessa obra, é possível ser um Imortal, se desejar.” (Taoísmo) “O céu e o inferno provêm do mesmo coração.” (Xintoísmo) “Os homens vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido.” (Confucionismo) ANEXO C – Texto-síntese ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL SÃO MIGUEL 8ª SÉRIE São José, ___ de _______ de _____. VIDA E MORTE – EIS A QUESTÃO! Você já parou para pensar seriamente nestas duas palavrinhas: VIDA e MORTE?! O que elas significam? O que as determinam? Na realidade, essas são questões com as quais, cedo ou tarde, todo ser humano irá se defrontar. E para cada uma dessas questões haverá diversas respostas, pois nossas realidades, nossas experiências, nossos jeitos de pensar e viver são diferentes. No entanto, uma coisa parece ser comum para todos: a busca por um “sentido da VIDA”. Muitas vezes, essa busca é despertada justamente quando nos deparamos com o medo ou a dúvida... principalmente, com relação à MORTE. A partir daí, então, passamos a procurar razões, valores, motivações ou objetivos que nos ajudem a entender e a superar esse processo natural, que constrói e constitui todo ser humano. Agora, é importante lembrar: suas decisões ou ações sempre terão conseqüências, de VIDA ou de MORTE, para você mesmo e para aqueles que estão ao seu redor. Temos, assim, a liberdade de fazer nossas próprias escolhas... Mas, nesse processo de “perguntas” e “respostas”, as religiões apresentam-se como uma das grandes fontes de sentido. As religiões nos dão um novo olhar sobre a VIDA e a MORTE... um olhar que refaz a VIDA, seja na terra ou na eternidade! Um grande abraço! Cláudia, Maria Helena e Matheus (Estagiários do Curso de Ciências da Religião da Universidade Municipal de São José – USJ)