A PERCEPÇÃO DOS DISCENTES DAS SÉRIES FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL SOBRE AS ALTERAÇÕES NA PAISAGEM URBANA DO
MUNICIPIO DE PIRAPORA-MG¹
KÊNIA RAYANE FONSECA DE CASTRO
Pós Graduanda pela Unimontes
[email protected]
DANIELLA SOUZA DE MENDONÇA
Pós Graduanda pela Unimontes
[email protected]
SILKY POLYANE P.S. GONÇALVES
Pós Graduanda pela Unimontes
[email protected]
MARIA DIONE DO NASCIMENTO OLIVEIRA
Graduada em Geografia pela Unimontes
[email protected]
RESUMO
A forma de estudar e pensar a cidade, moldada pela urbanização, está diretamente
relacionada ao uso de elementos da paisagem como instrumentos e caminhos para a
compreensão da concretude espacial. Tal temática contempla as formas de produção e
apropriação da cidade, sendo esta última considerada como uma construção proveniente
do processo histórico, refletida na forma da cidade, na paisagem visualizada. Sendo
assim a paisagem urbana está intimamente ligada às características culturais dos grupos
sociais ali presentes sendo impossível dissociar a cultura produzida pelos povos dos
significados expressos pelas cidades. Partindo desse pressuposto este trabalho tem como
objetivo primordial analisar a percepção dos discentes das series finais do Ensino
Fundamental em relação ao processo de formação e desenvolvimento do município de
Pirapora/MG e a importância da urbanização na transformação da paisagem. Para tal,
realizou-se pesquisa bibliográfica e aplicação de uma oficina didática onde os discentes
confeccionaram cartazes e maquetes retratando a evolução e alteração da paisagem
urbana do município. Constatou-se que os discentes percebem as transformações
ocorridas na paisagem urbana do município e as relacionam com o intenso processo de
urbanização que este sofreu.
Palavras-Chave: Paisagem Urbana, Transformações, Urbanização.
¹ Relatório de Pesquisa
INTRODUÇÃO
A paisagem urbana é o reflexo da relação entre o homem e a natureza, podendo
ser interpretada como a tentativa de ordenamento do entorno objetivando promover uma
melhor adaptação do homem ao meio. Assim, a cidade enquanto construção humana é
um produto histórico-social contendo ações passadas, ao mesmo tempo em que o futuro
é construído no presente (Carlos, 2007). Compreender a construção e transformação do
espaço em que se está inserido é de fundamental importância para que se possa valorizar
as relações existentes no mesmo.
Ainda segundo a autora a cidade pode ser compreendida a partir das relações
cotidianas e na forma como a sociedade se apropria do espaço e domina-o. A aparência
dela, a sociedade que ali vive e o modo como os seus espaços se organizam formam
uma base material a partir da qual é possível pensar, avaliar e realizar uma série de
possíveis sensações práticas e sociais. Desta forma verifica-se que a cidade é a forma
concretizada do processo de urbanização, e este nas palavras de Magalhães (2010 p. 14)
é:
O processo mediante o qual a população se instala e multiplica em dada
área, que aos poucos se estrutura como cidade. Fenômenos como a
industrialização e o crescimento demográfico são determinantes na
formação das cidades, que resultam da integração de diversas dimensões
sociais, econômicas e culturais.
Assim, a urbanização afeta cada aspecto da vida social e todos os setores da
sociedade sendo considerada uma mudança social em grande escala, implicando
transformações profundas e irreversíveis a mesma.
Neste sentido este trabalho objetiva analisar a percepção dos discentes das séries
finais do Ensino Fundamental em relação ao processo de formação e desenvolvimento
do município de Pirapora/MG e a importância da urbanização na transformação da
paisagem. Para tal realizou-se revisão bibliográfica, pesquisa documental e aplicação e
desenvolvimento de uma oficina relacionada ao assunto em questão com a elaboração
de maquetes e cartazes sobre o tema proposto.
A partir dos trabalhos realizados pode-se inferir que os discentes percebem as
transformações ocorridas na paisagem urbana e na vida dos citadinos associando-as ao
intenso processo de urbanização pelo qual o município passou.
A CIDADE E O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO
As cidades brasileiras sofreram intensas transformações ao logo do século XX
sendo que a partir da década de 1950 estas ficaram mais evidentes. A partir do processo
de industrialização e o inchaço das cidades novos valores culturais são adquiridos
modificando permanentemente a relação da sociedade com o espaço urbano. Assim, a
função da cidade altera-se uma vez que esta deixa de ser apenas o lócus de (re)
produção das culturas tornando-se um produto e reproduzindo os conflitos e interesses
da sociedade capitalista.
A partir da segunda metade do século XX a relação homem/meio através da
apropriação do espaço urbano ficou mais intensa e agressiva devido à busca de
melhores condições de vida pelo homem do campo, principalmente nas cidades
industriais. Se antes a cidade tinha a função de receptora e distribuidora dos produtos
que vinham do campo, a partir do processo de industrialização ela passa a ter a função
de construir a economia do país com a produção em massa de bens e serviços.
A paisagem se transforma rapidamente nas cidades industriais e a singeleza que
conferia às mesmas aquele ar romântico e bucólico cede lugar ao intenso fluxo de
pessoas, bens e serviços característicos das economias capitalistas. Neste sentido,
Santos (1994, p. 127) aponta a mudança em relação à função da cidade: “Os valores de
uso são mais frequentemente transformados em valores de troca, ampliando a
economização da vida social, mudando a escala de valores culturais, favorecendo a
alienação de lugares e de homens”.
A cidade do século XXI é palco de intensas manifestações sociais. É nela que
acontecem todos os eventos não importando qual âmbito (cultural, social, político,
religioso, etc.) ele represente. Sendo então, a cidade o lugar onde se concretizam todas
as manifestações sociais, e considerando que a sociedade desenvolve ao longo do tempo
hábitos e costumes que moldam suas práticas cotidianas, será constituída não apenas de
práticas capitalistas ou produtivas, mas refletirá também os hábitos e costumes dos
grupos que ali se instalaram, ou seja, sua cultura. Neste sentido Silva (2000, p.01)
aponta que:
As relações sociais que produzem o espaço urbano não resultam
apenas em formas materiais e funcionais que sustentam o processo de
produção capitalista. Elas também são marcadas pelos códigos e
símbolos que se constroem na vida cotidiana e que estabelecem um
sentido particular no processo de produção da cidade.
A cidade não é construída, portanto, apenas de estruturas físicas e materiais. As
relações sociais e os símbolos desenvolvidos no espaço urbano influenciam diretamente
em sua caracterização e na significação que esta vai expressar àqueles que por ela passar
ou nela habitar. Enfim, pode-se inferir que o espaço urbano é extremamente dinâmico,
pelo fato de ser visto por seus agentes modeladores sob diferentes óticas, seja, o espaço
de se relacionar, habitar, consumir, transitar, entre outras ações, as quais em maior
abrangência referem-se ao lugar de vivência.
A PAISAGEM URBANA DA CIDADE DE PIRAPORA-MG
A forma de estudar e pensar a cidade, moldada pelo processo de urbanização,
tem estreita relação com o uso de elementos da paisagem como instrumentos e
caminhos para a compreensão da dinâmica espacial. As formas de produção e
apropriação da cidade são resultado da construção proveniente do processo histórico,
refletida na forma da cidade e na paisagem visualizada. Assim, a paisagem resultante
da urbanização pode ser um ponto de partida para a compreensão da cidade.
Porém existem resistências culturais, heranças do processo histórico, inerentes à
paisagem, indicadores de acontecimentos passados, as quais podem ser também formas
de olhar a cidade. Buscando compreender como o processo de urbanização pode
modificar a paisagem de uma cidade, pode-se destacar o município de Pirapora-MG
localizado na microrregião norte de Minas Gerais na margem direita da zona do alto
médio São Francisco.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010)
possui em média 53.368 habitantes, cuja população é predominantemente urbana. O
processo de uso e ocupação do espaço urbano de Pirapora esteve relacionado às
bandeiras e impulsionado pela navegação comercial no rio São Francisco, construção da
Estrada de Ferro Central do Brasil, inclusão do município na área de atuação da
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e criação do distrito
industrial em 1967 (PMP, 2011).
A partir de então Pirapora inaugurou uma nova fase de desenvolvimento
econômico, fato que contribuiu para o crescimento do município e das cidades
circunvizinhas. Tais atividades foram de fundamental importância para o acelerado
processo de urbanização que se desencadeou no município.
REALIZAÇÃO DA OFICINA:
CONHECENDO O ESPAÇO URBANO DE PIRAPORA – MG ATRAVÉS DA
CONFECÇÃO DE CARTAZES E MAQUETES
A oficina foi aplicada e desenvolvida nas turmas das séries finais do Ensino
Fundamental da Escola Municipal Dona Cândida Mendes Álvares no intuito de
promover uma melhor compreensão sobre a construção e transformação do espaço
urbano no município de Pirapora-MG. Para tal, utilizaram-se os temas propostos pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN e pelo Currículo Básico Comum – CBC
enfatizando o processo de urbanização da cidade e a categoria paisagem como
principais norteadores para o desenvolvimento do trabalho proposto. A execução da
oficina foi estruturada em duas etapas:
A primeira constou de aulas teóricas (expositivas e dialogadas) abordando o
desenvolvimento socioeconômico do município ao longo dos anos. Para tal realizou-se
uma pesquisa bibliográfica sobre a história do município. Essa aula foi desenvolvida em
sala, tendo como material de apoio recurso visual (cartazes) contendo imagens do
município de Pirapora em diferentes épocas.
A segunda etapa contou com a participação ativa dos alunos na confecção de
cartazes e maquetes de forma lúdica e criativa. Os discentes foram incentivados a
escolher as paisagens que mais sofreram alterações ao longo dos anos, fazendo assim,
um paralelo entre a “nova e a antiga Pirapora”. Os recursos utilizados para a oficina
foram: Data show, placas de isopor, papel cartão, giz, cartolinas, cola, lápis de cor,
tesouras, réguas, papel crepom e pincéis.
Dentre as paisagens escolhidas pode-se citar o Centro de Convenções, a Ponte
Marechal Hermes, a construção do IFNMG (Instituto Federal do Norte de Minas
Gerais), o novo prédio da Fundação Hospitalar entre outras, conforme evidenciado nas
figuras 01 e 02.
Foto 01: Momento de Confecção dos cartazes.
Fonte: CASTRO, K.R.F. 2011
Foto 02: Confecção de Maquetes, retratando o Centro de Convenções e a Fundação
Hospitalar Dr. Moisés Magalhães Freire em Pirapora/MG.
Fonte: TORRES, J.S. 2011
Considerando a articulação teoria-prática fundamental para a assimilação dos
conteúdos trabalhados a oficina foi aplicada e desenvolvida no intuito de promover uma
melhor compreensão sobre a construção e transformação do espaço no município de
Pirapora-MG.
Neste sentido vale ressaltar que a paisagem não é uma figura fixa no espaço,
pelo contrario ela implica ir além da estética, necessitando ser interpretada, vivida e
percebida como fração indissociável da história do ser humano. Assim, compreender a
construção e transformação do espaço em que estamos inseridos é de fundamental
importância para que possamos valorizar as relações existentes no mesmo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Interpretar a paisagem no meio educacional é fazer com que os alunos
enxerguem no seu cotidiano as transformações que ocorreram, percebendo-se como
integrantes da mesma.
Educar de modo que se percebam como além de meros
espectadores, e sim, como agentes modeladores do espaço, assim, certamente serão
capazes de intervir naquela realidade, moldando assim uma nova paisagem.
Por esta razão, um dos desafios de trabalhar na educação a categoria paisagem é
promover a integração do aluno e a paisagem estudada, salvaguardando a importância
de que há um dinamismo naquele espaço, porém caberá ao aluno obter a gama de
informações contidas na paisagem.
Neste sentido, os principais objetivos da oficina foram: analisar o processo de
formação e desenvolvimento do município e a importância da urbanização neste
contexto, conhecer a história da cidade a fim de promover nos discentes a curiosidade e
o interesse em conhecer o espaço em que habitam levando-os a valorizarem as relações
existentes no mesmo. Constatou-se que os discentes percebem as transformações
ocorridas na paisagem urbana do município e as relacionam com o intenso processo de
urbanização que este sofreu. Desta forma pode-se concluir que as atividades práticas
realizadas em sala de aula são de suma importância para a compreensão dos conceitos
estudados.
REFERÊNCIAS
CASADO, T.C.; Cidade – Paisagem: Novas Perspectivas Sobre a Preservação da
Paisagem Urbana no Brasil. Dissertação de Pós Graduação. Vitória/ES, 2010.
CARLOS, A. F. A. O Espaço Urbano: Novos Escritos sobre a Cidade. São Paulo.
Labur Edições, 2007, 123p.
CORREA, R. L. O Espaço Urbano. 3ªed. São Paulo. Editora Ática, 1995.
LEFEBVRE, H. A Cidade do Capital. Rio de Janeiro: DP&A editora, 1999.
MAGALHÃES, T. G. C.; Dinâmica Espacial e Ambiental: Estudo dos Problemas
Socioambientais no Perímetro Urbano do Município de Pirapora – MG. Trabalho
de Conclusão de Curso-UNIMONTES, 2010.
RODRIGUES, N. M. A Organização Do Espaço Urbano, Segregação Socioespacial
E Plano Diretor Na Cidade De Viçosa, MG (1996-2005): O Caso Do Bairro Maria
Eugênia E Centro. Monografia. UFV, 2008.
SANTOS, M.; A Urbanização Brasileira. São Paulo: Hucitec, 1994.
SILVA, J. M. Cultura E Territorialidades Urbanas - Uma Abordagem Da Pequena
Cidade . 2000.
SPOSITO, M. E. B.; Capitalismo e Urbanização. São Paulo. Ed. Contexto, 1988.
http://www.pmppirapora.com.br/index.php?page=paginas&idPagina=3
Acesso
27/07/2012.
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 Acesso em 08/08/2012.
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