A GEOMETRIA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL, SUAS APLICAÇÕES, EXPRESSÕES E RACIOCÍNIOS EM SALA DE AULA. Programa de Desenvolvimento Educacional Maria de Lourdes Rodrigues Pucci Orientadora: Professora Doutora Adriana Augusta Benigno dos Santos Luz RESUMO A elaboração deste artigo foi norteada pela procura de alternativas para tornar o ensino de Geometria mais efetivo nas aulas de Matemática. Nesse sentido o objetivo é relatar alguns aspectos metodológicos de atividades realizadas em sala de aula, para resgatar a importância do ensino da Geometria como um instrumento da formação humana e facilitador da aprendizagem de Matemática nas séries finais do Ensino Fundamental. Procurou-se utilizar seqüências didáticas que tinham por escopo possibilitar condições e a tomada de consciência das limitações sociais, culturais e ideológicas da nossa própria profissão como educadores e assim, foi desenvolvido um trabalho de experiências com modelagem e um trabalho de campo que possibilitou uma análise reflexiva e a identificação de dificuldades na construção da aprendizagem. Neste trabalho, procuramos descrever como a proposta de implementação do Programa de Desenvolvimento Educacional-PDE foi apresentada e quais as atividades trabalhadas junto aos alunos. Palavras-Chave – programa de desenvolvimento educacional – Geometria – formação humana – ensino fundamental - Matemática. ABSTRACT This article was guided by the search for alternatives to make education more effective geometry for mathematics. Its goal is to report some methodological aspects of activities in the classroom, to rescue the importance of education geometry as an instrument of training and facilitator Human Learning math in séries final core. It was use sequences didactic whose scope permit conditions and the awareness of the limitations social, cultural and ideological our own profession as educators and it was a experiences with modeling and a field work that has reflexiva analysis and identification of difficulties in the construction of learning. This work, we describe as the implementation of educational development - EDP has been tabled and which activities worked with students. Keywords – development programme educacional – geometria – training human – School Mathematics. 1 1 INTRODUÇÃO Este artigo tem o escopo de descrever os caminhos percorridos durante o Programa de Desenvolvimento Educacional, ofertado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná durante os anos de 2007 e 2008, à procura de alternativas, que podem tornar o ensino de Geometria mais presente nas aulas de Matemática. Nesse sentido, o objetivo principal deste trabalho é relatar alguns aspectos metodológicos de atividades que desenvolvemos junto com os alunos durante as aulas, para resgatar a importância do ensino da Geometria como um instrumento da formação humana e facilitador da aprendizagem de Matemática nas séries finais do Ensino Fundamental. Procurou-se utilizar seqüências didáticas que tinham por finalidade primeira possibilitar condições de os educandos aprenderem Matemática construindo seus próprios conceitos para então sistematizar o conhecimento de forma que os alunos pudessem se apropriar dos conteúdos que fazem parte do currículo da educação básica. Não menos importante a outra finalidade do trabalho, qual seja: tomar consciência das limitações sociais, culturais e ideológicas da nossa própria profissão como educadores. Assim o trabalho se desenvolveu, com incursões na modelagem matemática e também com um trabalho de campo que possibilitou uma análise reflexiva e a identificação de dificuldades na construção da aprendizagem. Nesse sentido Luz em seu artigo diz: O Desenho como ciência que integra os conhecimentos é um dos apoios filosóficos e epistemológicos que pode contribuir decisivamente na formação humana, levá-lo para a sala de aula, integrando conhecimento estar-se-á resgatando o pensamento crítico dos educandos do ensino médio e fundamental. Quando se pensa criticamente, consegue-se resolver problemas em qualquer área. Não existem limites para o pensamento. Um exemplo disso foram os primeiros temas ecológicos desenvolvidos por Hipócrates e Aristóteles, ambos considerados grandes geômetras, filósofos e pensadores. (LUZ, 2005, p.23). A autora nesse trecho do seu texto coloca de forma muito clara e coerente a importância do pensamento crítico na condução de aprendizagem e o papel do conhecimento para a formação humana. 2 Nesse sentido, a geometria pode ser um caminho para auxiliar os educandos a desenvolverem um pensamento crítico e autônomo, já que contribui de forma inegável para a análise de fatos e relações, e permite fazer ligações entre estes e a dedução. O projeto de implementação na escola foi voltado para a Educação Patrimonial e veio ao encontro da necessidade de conservação de nosso espaço escolar, que passou por um processo amplo de reforma entre 2006 e 2007. Entendo a reforma escolar como o resultado de um processo histórico e cultural de conquista coletiva, que deve, portanto, ser valorizado como parte de nossa própria identidade cultural. Podemos fortalecer sentimentos e auto-estima por meio da valorização e conquista do espaço escolar. Assim torna-se necessário o despertar de uma consciência crítica e de responsabilidade para com a preservação do patrimônio em toda a sua expressão, buscando a criação de uma identidade pessoal e cultural, indispensáveis no processo de preservação sustentável desses bens. Conservar nosso patrimônio possibilita um processo educativo de preservação do país e nos coloca frente a frente com o trabalho de melhoria da auto-estima e da valorização da nossa própria cultura. A Geometria ganha importância nesse cenário, pois as formas geométricas são facilmente encontradas na construção da escola, no pátio, nas calçadas, nos jardins, nos móveis, portas, janelas. Identificar, compreender os conceitos de aresta, face, vértice, perímetro, área e volume, investigando o espaço escolar, passa a ser uma tarefa fácil e agradável. A Matemática ganha significado e importância. Os objetivos do trabalho eram: entender o que é espaço público e espaço privado estabelecendo relações afetivas com o espaço escolar como patrimônio público a ser preservado em benefício da própria comunidade escolar; atuar com base numa visão abrangente do papel social do educador; elaborar propostas alternativas para dentro e fora da sala de aula; conservar o patrimônio público, a começar pelo espaço escolar prevendo um ambiente digno para a qualidade de vida; conscientizar a comunidade escolar a valorizar o espaço da escola, que não é apenas físico, mas o resultado de um processo histórico e cultural de conquista coletiva; elaborar propostas para o ensino e que sejam usadas na construção da cidadania; utilizar métodos para melhor preservação dos bens culturais que estejam ao alcance da comunidade escolar. 3 Num primeiro momento foi feito um levantamento para verificar o nível de entendimento, dos educandos do Colégio Estadual Paulo Leminski, de diversos conceitos de educação patrimonial, por meio de um questionário. A partir da tabulação dos dados obtidos com a pesquisa foram traçadas as atividades. Buscou-se então, a realização de uma prática, envolvendo desde o espaço físico, até aspectos epistemológicos do ensino, um trabalho que fosse além da teoria de conceitos relativos ao Patrimônio Cultural. Entende-se que o trabalho somente fará sentido se estiver comprometido com a realidade concreta dos estudantes, sendo, para isso, necessário perceber o conhecimento que os alunos já possuem em relação ao tema, promovendo a reflexão e não um simples repasse de informações. Tendo em vista o projeto de Educação Patrimonial, considera-se necessário que em matemática os alunos, muito além de perceber a geometria existente ao seu redor, saibam que podem contribuir com a sustentabilidade do meio ambiente, fazendo com que tudo aquilo que foi criado pela natureza e pelos homens seja preservado. Entende-se que quando o aluno tem consciência de que faz parte do meio onde vive, sente-se responsável por tal ambiente. O professor Ubiratan D’Ambrósio cita em seu artigo, uma das declarações de Nova Delhi (16 de dezembro de 1993): Os conteúdos e métodos de educação precisam ser desenvolvidos para servir as necessidades básicas da aprendizagem dos indivíduos e das sociedades, proporcionando-lhes o poder de enfrentar seus problemas mais urgentes – combate à pobreza, aumento da produtividade, melhora das condições de vida e proteção ao meio ambiente – e permitindo que assumam seu papel por direito na construção de sociedades democráticas e no enriquecimento de sua herança cultural (DAMBRÓSIO, 2004, p. 51) Nesse sentido, o papel da Educação Matemática é fundamental, pois por meio da compreensão das formas, medidas, estruturas, os alunos as relacionam com as construções e com os ambientes dos lugares onde vivem e freqüentam. Com um trabalhado direcionado e planejado, as aulas de geometria contribuem para que os alunos identifiquem e relacionem formas geométricas em diferentes locais e também em mídias impressas como, fotos revistas, jornais. As formas geométricas vêm sendo estudadas desde a antiguidade são perfeitamente localizadas na natureza e também identificadas nas obras construídas pelo homem. 4 2 DESENVOLVIMENTO 2.1. EM BUSCA DE REFERÊNCIAS PARA A PRÁTICA DOCENTE Ao iniciar o Programa de Desenvolvimento Educacional, ofertado pelo Estado do Paraná, em 2007 e 2008, optou-se por desenvolver o plano de trabalho e as pesquisas em educação tendo como norte o ensino de Geometria, mais especificamente na busca de alternativas para tornar o ensino da disciplina de Matemática mais atrativo e efetivo. Após a leitura dos teóricos e de discussões com a orientadora, passou-se a elaborar um roteiro de trabalho e organizar as atividades que seriam desenvolvidas, qual a fundamentação teórica adequada para o caso e, como este seria aplicado, o que resultou no plano de trabalho apresentado no primeiro semestre de 2007, um projeto de implementação desenvolvido ao longo do 2º semestre de 2007 e a respectiva sua implementação no estabelecimento de ensino no primeiro semestre de 2008. A proposta de trabalho foi apresentada para a equipe pedagógica da escola, para uma análise em conjunto, e na seqüência foi apresentada e discutida com destinatários, os meus alunos, estabelecendo assim o contrato pedagógico de trabalho. Descreve-se na seqüência uma atividade que foi apresentada e desenvolvida pelos alunos do ensino fundamental. Em princípio, a proposta foi efetuar a medição do comprimento do muro e calcular a área da calçada a ser construída num determinado espaço do colégio. A escolha do local onde seria construída a calçada foi fundada nas solicitações efetuadas quando os alunos responderam ao questionário, aplicado na primeira fase do projeto de implementação. Quando a proposta foi aceita firmamos um contrato de trabalho. Nesse contrato estabeleceu-se “a regra do jogo”, ou seja, delimitou-se qual seria o papel de cada um dos participantes. Quais seriam as tarefas que precisavam ser cumpridas, os objetivos a serem alcançados, os critérios de avaliação e o tempo que existia para que as atividades fossem desenvolvidas. Certamente não foi um trabalho fácil e 5 exigiu empenho e mediação. Vencida essa etapa passou-se para a atividade propriamente dita. Nos primeiros passos os alunos caminharam pelo colégio percebendo a geometria que existe nas construções, mediram o comprimento do contorno do colégio onde não há calçada construída (considerando o lado de fora), mediram a largura da calçada já existente, calcularam o comprimento e a largura de cada quadrado construído e fizeram uma comparação da parte construída com a área a construir identificando o espaço maior e menor, o comprimento (perímetro), a área e o volume. Pesquisaram quanto gastariam de cimento e pedra para a construção da calçada (sem considerar a estrutura)1. A identificação os levou a verificação e demonstração de propriedades geométricas, à análise de conceitos sobre área, perímetro e volume. Os educandos estudaram vértices, faces e arestas nos sólidos geométricos. Verificaram, ainda, que os ângulos são muito utilizados nas construções e que as relações métricas do triângulo retângulo são facilmente identificadas e utilizadas na engenharia. Com dados, anotações, fotografias nas quais são identificadas formas geométricas localizadas nas edificações do colégio e da comunidade pode-se perceber a importância e contribuição das respostas do aluno como elementos de reflexão. A partir dessa fase, juntos analisamos o resultado do “passeio” pelo espaço escolar e então passamos para uma nova fase, na qual novas tarefas surgiram e foram propostas, a saber: - Pesquisar sobre o custo de material para a construção de uma edificação/construção. - Analisar as diferentes formas geométricas utilizadas na construção e em embalagens. - Fazer uma relação do material utilizado na construção de uma edificação, pesquisar, em depósitos e casas especializados, quais as medidas utilizadas para a venda e o valor do material. 1 A questão da estrutura não foi deixada de lado. Ocorre que esse não era exatamente o momento apropriado para tratar do tema. Mais tarde retomamos a questão da estrutura e das formas envolvidas na questão estrutural da escola. 6 - Identificar quais as formas geométricas existentes nas construções. Utilizar uma edificação para que os alunos identifiquem as formas e volumes. - Identificar quais sãos os tipos de habitações da localidade e do município. - Conhecer o espaço escolar, identificando as formas geométricas que fazem parte dele; - Calcular áreas, perímetros e volumes no ambiente escolar. - Sistematizar o conteúdo de geometria plana e espacial no ensino fundamental, permitindo assim que os educandos se apropriem do conhecimento matemático (geometria espacial e plana) construído pelo homem ao longo de seu desenvolvimento. Lista-se na seqüência aqui alguns dos objetivos desse trabalho; Com essas atividades busquei mostrar para os alunos que a geometria nos ajuda a perceber e visualizar o espaço, a reconhecer as formas, a adquirir capacidade de representar essas formas utilizando o desenho. Essas habilidades são importantes para a aprendizagem de matemática, mas não só para isso, são fundamentais em outras áreas de conhecimento como a geografia, as ciências, as artes. Ainda, não é possível deixar de considerar que a geometria se relaciona sobremaneira com o chamado “mundo real”, e é uma parte mais “concreta” da matemática, além de ser uma excelente forma de comunicação. Um dos objetivos também era o de utilizar a geometria como um caminho para a resolução de problemas, pois ela é uma excelente ferramenta para explorar, construir, representar, investigar, descobrir e descrever o mundo que nos rodeia. E que a geometria pode perfeitamente ser estudada junto com a aritmética e com a álgebra e que elas se complementam. Segundo George Polya: “Figuras são, não apenas objeto dos problemas geométricos, como também um importante auxílio para problemas de todos os tipos, que nada representam de geométrico na sua origem.” (POLYA, 2006, p.94) Nesse sentido, perfeitamente viável trabalhar álgebra integrada com a Geometria e, ou, utilizar a Geometria como um ponto de partida e de apoio para o desenvolvimento dos conceitos algébricos. A Formação humana e acadêmica não pode e não deve ser feita de forma estanque, “com compartimentos separados”. Ao trabalharmos com educação precisamos buscar opções de proporcionar aos educandos meios de aprenderem de forma a integrar os diferentes conteúdos e reconhecendo-os no seu dia a dia. 7 O trabalho envolvendo a geometria contribuiu para a identificação da parte algébrica existentes nas atividades propostas onde os estudantes tiveram oportunidade de envolvimento em cada etapa, reconheceram grandezas, compararam medidas, desenvolveram o pensamento de forma compreensível permitindo assim descrever e representar de forma organizada e valorizada a busca por soluções. O trabalho coletivo, as resoluções de cada atividade e a auto-avaliação fizeram parte do desenvolvimento da aprendizagem de cada aluno. O trabalho com a Geometria no Colégio Estadual Paulo Leminski, teve um momento de grande importância, que vale ser lembrado. Os educandos preparam e se organizaram para a Mostra Cultural, realizada em outubro. Na referida mostra, os educandos construíram modelos dos sólidos geométricos utilizando material reciclável, como paralelepípedos, pirâmides, embalagens, etc.. Todavia, o trabalho foi além da simples representação de formas geométricas, pois pudemos observar mudanças de hábitos e atitudes que possibilitam a melhoria da qualidade de vida por meio do cuidado com o meio ambiente. Ainda, cabe destacar que o trabalho com Geometria produziu resultados inesperados e muito interessantes, como os poemas que transcrevemos a seguir, de autoria da formanda Marissol Joslim, aluna do curso de Formação de Docentes do Colégio Estadual Paulo Leminski e foi apresentado como conclusão das aulas na disciplina de Matemática. MATEMÁTICA O mundo é engraçado tudo tem uma medida tem a sua forma é tudo uma alegria A história da matemática é uma grande confusão Cada qual com seu igual Natural, Inteiro ou não 8 Tudo com a sua forma e a sua dimensão Ângulos e arestas o triângulo e o quadradão A massa e o peso são tratados como irmãos Quando alguém confunde o outro eles não ligam não O melhor da matemática com certeza é a fração que ensinou a todos a dividir com o irmão Todo o dia, toda hora no ônibus ou calçadão Dinheiro, medida, forma tudo na mesma proporção A ESCOLA DOS MEUS SONHOS A escola dos meus sonhos ainda é uma utopia um lugar distante no reino da fantasia. Na escola dos meus sonhos não há inclusão nem exclusão pois todos os alunos são aceitos como são 9 Na escola dos meus sonhos o professor é valorizado seu trabalho é reconhecido e seus direitos respeitados Infelizmente os sonhos Não passam apenas disso Fragmentos de um desejo de um desejo e apenas isso Ubiratan D’Ambrósio em Etnomatemática - elo entre as tradições e a modernidade, ao falar sobre a paz, diz que a nossa prática em Educação e a Educação Matemática podem ajudar a atingir uma nova organização da sociedade, “Atingir essa nova organização da sociedade é minha utopia. Como educador, procuro orientar minhas ações nessa direção, embora utópica. Como ser educador sem ter utopia?” (D’Ambrósio, 2005, p. 87) Assim, não há como conceber a Matemática de forma desconectada da arte, das outras disciplinas e a educação Matemática deve ter como norte a formação do ser humano, para que interaja de forma positiva no mundo em que vive. Os poemas produzidos pela educanda durante as aulas de Matemática mostram que a disciplina contribui para o pensamento crítico e, ainda, o gosto pela Geometria facilita a matematização do mundo que nos cerca. 2.2 ABORDAGENS DO GRUPO DE TRABALHO EM REDE Uma das atividades obrigatórias do Programa de Desenvolvimento Educacional era trabalhar com um Grupo de Trabalho em Rede, com o objetivo de socializar o conhecimento produzido durante o curso com aqueles professores que não faziam parte do programa, mas que estavam trabalhando na rede pública de ensino do Estado do Paraná. O Grupo de Trabalho se desenvolveu num ambiente virtual, no qual foi utilizada a plataforma Moodle. 10 Num primeiro momento recebemos orientações de como trabalhar com a plataforma, a maneira como deveria ser formatado o curso, os encaminhamentos para cada módulo e como se comunicar com os integrantes da rede. O Grupo de Trabalho em Rede foi uma experiência interessante que possibilitou a troca de conhecimentos entre professores de todo o Estado. Após a apresentação de todos os integrantes do grupo, passamos para a discussão sobre; “Que escola que queremos e o que podemos fazer para atingir esse ideal?” Discutimos em princípio que a escola que queremos é uma escola com democracia e igualdade para todos, com a construção do conhecimento onde professores e alunos interagem, respeitam e são respeitados, onde o professor é valorizado, onde a família e o aluno têm um compromisso com a aprendizagem. E para alcançar esse ideal há necessidade de resgatar valores perdidos tais como a família, educação, sociedade, respeito, religião, políticas públicas de qualidade, e vontade para mudar. Na segunda etapa lemos e discutimos os textos indicados pela Secretaria de Estado da Educação. Com o pensamento voltado para o eixo do trabalho, ciência e cultura houve certa unanimidade entre os educadores do grupo sobre a necessidade de uma metodologia que faça o estudante compreender e aplicar o seu conhecimento. Essa relação entre teoria e prática facilita a compreensão do mundo que nos cerca, mas não se pode permitir que a educação seja somente números, tão pouco considerar que desenhar as letras significa ser alfabetizado, porém, considerar sim que os profissionais da educação estão preocupados com a qualidade do ensino e que são muitos os obstáculos enfrentados, no entanto excelentes aulas são produzidas. Há necessidade de um olhar para esta prática e perceber os obstáculos, tentar superálos, e reconhecer nossos alunos nas universidades, no mercado de trabalho, enfim, construindo dia a dia seu conhecimento, e claro que cada um a seu modo. O objetivo do professor é que todos sejam vitoriosos e não simplesmente mais um número. Em outro módulo discutimos sobre a importância da Geometria para cada participante do grupo e refletimos sobre os textos de Adriana Benigno dos Santos Luz, orientadora deste trabalho durante o Programa de Desenvolvimento Educacional, e textos da Professora Regina Pavanello. 11 O ensino da Geometria é de tal importância e deve ser priorizado desde os primeiros anos de escolarização. Todos os participantes do grupo deram seus depoimentos mostrando a importância da geometria desde a antiguidade, na história, nas artes, na arquitetura, na engenharia, nas expressões humanas, na natureza, na música e não só na matemática como também em geografia, química, biologia, educação física, e outras, enfim, todas as ciências representam a sua história usando alguma imagem. Durante o desenvolvimento do módulo no qual se estudou a importância da Geometria para a disciplina de Matemática os integrantes do Grupo de Trabalho em Rede sugeriram a utilização do jogo “Mancalas” nas aulas de Geometria, observando que o referido jogo é bastante interessante, cheio de possibilidades, porém pouco conhecido e utilizado pelos professores de Matemática. 2.4 O MATERIAL DIDÁTICO – OBJETO DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA Outra atividade relevante durante o Programa de Desenvolvimento Educacional foi a pesquisa para a construção do Objeto de Aprendizagem Colaborativa - OAC, ou seja, o desenvolvimento de novas atividades a serem aplicadas em sala de aula. Tal pesquisa foi de real importância para planejar o projeto de intervenção na escola. Essa atividade não foi fácil de ser desenvolvida, exigiu muita criatividade e pesquisa ao mesmo tempo observou-se que é mais fácil desenvolver novas atividades quando trabalhamos em conjunto e não de forma isolada. Para criar o ambiente era preciso integrar as diferentes mídias, além de extrapolar o campo da Matemática, ou seja, era necessário criar meios de aprendizagem de forma que os educandos e os educadores pudessem desenvolver um trabalho interdisciplinar. Apresenta-se na seqüência uma atividade que faz parte do material didático elaborado durante o programa de desenvolvimento educacional. 12 2.5 GEOMETRIA E ARTE 2.5.1 Os poliedros platônicos e a arte Ao longo da história do ser humano os poliedros têm estado diretamente relacionados com o mundo da arte. Um dos pontos altos dessa ligação foi o Renascimento. Para alguns artistas renascentistas os poliedros forneciam modelos que os desafiavam a demonstrar o seu conhecimento sobre a perspectiva, para outros, os poliedros eram símbolos de uma profunda verdade filosófica e religiosa. Por exemplo: a associação de Platão no "TIMAEUS", entre os sólidos platônicos e os elementos, fogo, terra, ar água (e o universo) foram muito importantes no Renascimento. - a terra, o elemento mais imóvel, Platão associa ao cubo, o único poliedro com faces quadradas, e deste fato, o mais apto a garantir estabilidade; - o fogo ele atribui ao tetraedro, que é o poliedro mais "pontudo", com arestas mais cortantes, com menor número de bases, portanto, o de menor mobilidade; - a água e o ar, que são de mobilidade crescente e intermediária entre a terra e o fogo, ele atribui respectivamente o octaedro e o icosaedro. No entanto, com o tempo, surge o quinto e último poliedro: o dodecaedro. Platão explicita suas idéias sobre o quinto elemento: o éter, que segundo ele seria a "alma do mundo". 13 Imagem disponível em http://mathematikos.psico.ufrgs.br/disciplinas/ufrgs/mat01039032/webfolios/grupo1/poliedros/platonico s.html Ao longo da história do ser humano os poliedros têm estado diretamente relacionados com o mundo da arte. Um dos pontos altos dessa ligação foi o Renascimento. Para alguns artistas renascentistas os poliedros forneciam modelos que os desafiavam a demonstrar o seu conhecimento sobre a perspectiva, para outros, os poliedros eram símbolos de uma profunda verdade filosófica e religiosa. Por exemplo: a associação de Platão no "TIMAEUS", entre os sólidos platônicos e os elementos, fogo, terra, ar água (e o universo) foram muito importantes no Renascimento. Nessa época surgiu uma fundação matemática para artistas racionalistas compreenderem os seus símbolos e explorarem a questão da perspectiva. A ciência do renascimento explorou fundações matemáticas e visuais para compreender o mundo físico, astronomia, anatomia. No entanto, para outros artistas, os poliedros transmitiam inspiração ao mesmo tempo em que se afiguravam como um armazém de formas com diversas simetrias que serviam de fonte de inspiração para desenhar e representar nas suas obras. Isso ocorreu em especial no séc. XX, período em que se apresenta uma maior liberdade na utilização de materiais e os antigos conceitos das regras de representação da escultura, já praticamente são inexistentes.2 Diversos artistas podem ser estudados, desde Vitrúvio até Escher, que expressam a sua arte através da geometria. Sendo M.C. Escher o melhor exemplo. 2.6 AS DIFICULDADES ENCONTRADAS DURANTE O PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL Embora o programa de desenvolvimento educacional tenha se mostrado uma excelente oportunidade de aprimoramento e aperfeiçoamento, além de permitir 14 a troca de experiência com professores de diferentes disciplinas e de diferentes lugares, é necessário reconhecer que durante o curso alguns problemas surgiram, tais como: a ausência de uma programação no início do curso, dificuldades de trabalhar na plataforma Moodle em decorrência de exíguo tempo de ambientação, cursos que não guardavam relação com a Disciplina de Matemática. Dificuldades essas que só foram superadas com o auxílio de alguns colegas de curso, que se mostraram abertos ao trabalho em grupo e também aos orientadores que se mostraram sensibilizados com a proposta e ofereceram cursos que contribuíram sobremaneira para o trabalho de pesquisa. Cabe destacar que uma das dificuldades encontradas durante o desenvolvimento do trabalho foi a constatação de que muitos professores deixam a Geometria em segundo plano, ficando os conteúdos para o final do ano letivo e raras vezes é ensinada de forma integrada com a aritmética e com a álgebra. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho, procurou-se descrever como foram desenvolvidas as principais atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional, com destaque para a elaboração do plano de trabalho, a condução do grupo de trabalho em rede, a elaboração do material didático e a proposta de implementação na escola de atuação. Ainda, com o intuito de mostrar os resultados das pesquisas e materiais produzidos, apresentou-se algumas das atividades trabalhadas junto aos alunos durante a fase de implementação na escola. As atividades desenvolvidas foram de grande proveito e alcançaram seus objetivos, proporcionaram reflexões e a participação dos alunos de maneira mais intensa, tentaram fazer o melhor, discutiram os resultados e observaram seu próprio ambiente escolar. Cabe ressaltar que foi possível constatar o planejado no plano de trabalho, ou seja, as atividades desenvolvidas com os educandos mostraram que o planejamento da seqüência didática deve propiciar ao aluno momentos de 2 Saiba mais consultando o sitio http://joanario.no.sapo.pt/poliedros.htm#a%20arte 15 participação de situações de ação, formulação, validação e institucionalização, envolvendo elementos da geometria plana e espacial. Objetivando uma nova dinâmica em sala de aula para trabalhar com os alunos tópicos da Geometria, foram realizadas leituras preliminares sobre métodos e técnicas de pesquisa em Educação Matemática que levaram a escolha de elementos da Engenharia Didática como metodologia de trabalho. Metodologia essa que já foi aplicada em outras seqüências do ensino médio, e constata-se, agora, que o resultado a cada a nova atividade nesses moldes é igual, ou melhor, que as anteriores. Participar do Programa de Desenvolvimento Educacional depois de trinta anos de trabalho na rede pública de ensino, tendo a oportunidade de dedicar um ano exclusivamente aos estudos, foi uma experiência única e enriquecedora em todos os sentidos e acredita-se que todos os professores deveriam ter igual oportunidade. REFERÊNCIAS D’AMBROSIO, U. A responsabilidade dos Matemáticos em busca da Paz. In: http://vello.sites.uol.com.br/responsabilidade.htm. Capturado em 2008. ______________. Etnomatemática: Elo entre as tradições e a modernidade. São Paulo: UNESP, 2005. ______________. Paz, educação matemática e etnomatemática: Teoria e Prática da Educação, Maringá, junho 2001; pp.15-33. FREITAS, José Magalhães. Situações Didáticas. In: MACHADO, S. D. A. et al (ed). Educação Matemática: uma introdução. 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