1
Dora
Título do trabalho:
Agência Experimental de Publicidade Focada no Terceiro Setor e Projetos de
Trabalho
Autora: 1Dora Djanira Bragança Castagnino, ESPM-RS
Palavras- chave: Ensino de Comunicação, Publicidade, Terceiro Setor, Agência
Experimental.
RESUMO: Este paper busca descrever o modelo de agência experimental de
publicidade adotado pela ESPM-RS, relacionando sua metodologia ao Projetos de Trabalho
de Hernandéz (1998). A função deste trabalho é demonstrar o papel sócio- educativo da
Agência Social ESPM.
Agência Experimental como espaço de ensino-aprendizagem
Uma exigência do MEC, a Agência Experimental no Curso de Publicidade e
Propaganda é um espaço de extensão e projetos multidisciplinares ainda pouco explorado
em estudos educativo-comunicativos.
Sem seguir um modelo único, em cada faculdade do Brasil ela tem um modelo
adaptado ao perfil dos alunos e do curso onde está inserida. Está liberdade na formatação
tem trazido às faculdades projetos inovadores de ensino através das práticas desenvolvidas
na Agência Experimental.
Na ESPM- RS há um modelo bastante inovador: a Agência Social ESPM, voltada
ao atendimento exclusivo de OGNs.
Em quatro anos de existência, já foram atendidas cerca de 120 ONGs, que atuam
em diferentes segmentos sociais. Estas ONGs, configuram-se como redes sociais diretas
que assessoram movimentos populares, ou como forma associativa de bairro voltada à
comunicação, ou ainda, grupos comunitários que operam em torno de uma causa comum,
1
Dora Castagnino é publicitária e coordenadora da Agência Social ESPM
2
de uma identidade própria, como desigualdade e/ou discriminação. Sendo sempre um
mediador entre seus públicos de interesse e o Estado.
Frente a este contexto, a Agência Experimental configura-se em um espaço de
ensino-aprendizagem através dos projetos de trabalho, definidos assim por Hernandéz
(1998). Este trabalho descreverá como a Agência utiliza-se dos projetos de trabalho como
metodologia.
PROJETOS DE TRABALHO
A metodologia de “Projetos de Trabalho” é um convite a transgressão das amarras
que impedem o indivíduo de pensar por si mesmo, de construir uma nova relação educativa
baseada na colaboração em sala de aula, na escola e com sua comunidade, é um convite a
soltar a imaginação, a paixão e o risco para explorar novos caminhos que permitam que as
escolas sejam formadas por compartimentos fechados, e passem a converter-se em uma
comunidade de aprendizagem, onde a paixão pelo conhecimento seja a divisa, e a educação
de melhores cidadão, o horizonte ao qual se dirigir.
Segundo Bordenave (1999), o método dos projetos é um dos métodos de educação
sistemática, talvez o mais completo de todos, inspirado nas idéias de J. Dewey.
Há um distância considerável entre a teoria e a prática no ensino superior. Cada vez
mais os alunos têm dificuldade em
relacionar a fundamentação teórica com projetos
concretos na sociedade onde vivem. Na área da comunicação, em particular na publicidade,
o lugar para realizar esta ligação pode ser a Agência Experimental de Propaganda. É neste
espaço que há o convívio de alunos e professores com soluções práticas de problemas do
mercado, dando a ambos a condição de articular a teoria com a prática. O modelo
implantado na ESPM-RS busca resgatar no aluno o componente cidadão, atendendo apenas
Instituições Sem fins lucrativos, com projetos voltados à comunidade. Juntando extensão
com interdisciplinaridade, a Agência cumpre funções educativas e sociais.
O sistema de ensino superior, local onde a Agência esta inserida, vive hoje uma
crise paradigmática no que tange a sua função dentro da sociedade: onde as atividades de
extensão estão cada vez mais distantes das comunidades.
Pôr isso associar educação e formação cidadã no ensino superior pode ser uma
alternativa de mudança desse quadro nefasto que ora se apresenta, e é nesse cenário que
3
encontramos espaço para questionar como podemos formar cidadãos mais responsáveis
socialmente dentro do ensino superior. A universidade tem um papel social fundamental na
gestão da qualidade de vida de seus egressos e da sociedade onde eles irão atuar.
Talvez seja importante ter sempre em vista que o ser humano é um projeto em
constante construção e que podemos gradativamente mudar hábitos e pensamentos que não
forem mais condizentes com nossa ética e nossos anseios.
Como funcionam os projetos de trabalho na Agência Social ESPM:
Esta metodologia caracteriza-se por algumas especificidades:
1-
Parte-se de um tema ou de um problema negociado com o grupo:
neste caso, as ONGS trazem os briefings para que a equipe da agência elabore
soluções, dentro do resgate da teoria vista na sala de aula. Neste momento o
aluno mescla teoria e prática, de forma criativa.
2-
Inicia-se um processo de pesquisa: a pesquisa vai desde visitar a
instituição para fazer fotos e conhecer sua problemática mais de perto, até
pesquisas de campo que possam ampliar a visão sobre o problema e sua solução.
3-
Buscam-se e selecionam-se fontes de informação: referências, textos,
livros, poemas, entrevistas, tudo pode transformar-se em material para a criação
de um projeto de comunicação para uma ONG.
4-
Estabelecem-se critérios de ordenação e de interpretação das fontes:
para criar uma peça ou projeto de comunicação, os alunos definem repertórios
dentro do contexto da ONG. Por exemplo, ao atender uma instituição ligada ao
combate ao preconceito contra os portadores do vírus HIV é necessário conhecer
o contexto onde este preconceito se desenvolve, os porquês da questão.
5-
Recolhem-se dúvidas e perguntas: este é o momento mais produtivo,
há uma intensa interação entre o grupo de alunos e o professor que coordena os
trabalhos na Agência, como não há divisão dos alunos por nível, as experiências
são variadas; alunos de vários semestres convivem trocando informações.
6-
Estabelecem-se relações com outros problemas: a vida
real, as
dificuldades das instituições são a matéria prima de ensino para os alunos da
4
agência- ampliam-se as possibilidades de terem uma visão de problemas que vão
além dos muros da faculdade e de suas casas.
7-
Recapitula-se e avalia-se o que se aprendeu: cada projeto atendido
pelo grupo é uma experiência nova e rica de aprendizagem da técnica
comunicativa, mas muito mais, de cidadania.
Os projetos de trabalho na Agência Experimental vão além dos conteúdos
curriculares formatados, indo direto para ações concretas de aprendizagem. Os temas
trazidos pelas ONGS são incorporados pelos alunos em suas vivências cotidianas.
São realizadas experiências de primeira mão como visitas, presença de convidados
no espaço da Agência, através do atendimento integrado (todos os alunos atendem e
coletam o briefing na agência). Como o trabalho é realizado em grupo e o professor é
um orientador da aprendizagem, não há uma visão monolítica do conhecimento, nem
o certo e o errado, mas a solução adequada para aquele problema de comunicação.
Não, há, portanto, uma visão única da realidade. É uma forma de aprendizagem que
considera que todos os alunos podem aprender, desde que tenham lugar para isso.
Entra neste momento a concepção da aprendizagem vinculada ao fazer, à atividade
manual e à intuição também é uma forma de aprendizagem.
Segundo Hernandéz (1998) um dos mitos que reina na educação é de que sua
finalidade é de que os alunos aprendem o que os professores lhes ensinam. A
avaliação tenta garantir esta premissa. Nos projetos de trabalho, os alunos
reinterpretam os conteúdos, buscando caminhos alternativos para chegar na solução
de um problema de comunicação. Amplia-se o conteúdo curricular tradicional,
formatado, filtrado. Cada novo projeto trazido pelas ONGs é um novo ponto de
contato com conteúdos amplos e abertos, além do conteúdo curricular oficial.
A
agência Experimental é realmente um espaço lúdico de ensino
aprendizagem, onde cada aluno é responsável pelo seu saber e pelo sucesso da
campanha publicitária criada em grupo. Concretamente os alunos vêm os problemas
serem solucionados e percebem a relação entre conhecimento teórico e prático.
5
A ESPM é a mais antiga escola de Propaganda do Brasil, foi criada, segundo
Francisco Gracioso, há mais de 50 anos, pelos próprios publicitários, para oferecer aos
jovens a oportunidade de ingressar na carreira da propaganda.
É neste contexto que vamos encontrar a Agencia Júnior ESPM/RS - Escola Superior
de Propaganda e Marketing de Porto Alegre, criada em setembro de 2000, com o objetivo
de proporcionar aos alunos do curso de Comunicação Social, o aprendizado prático das
ações desenvolvidas dentro de uma agencia de propaganda.
Em setembro de 2001, a Agencia Júnior ESPM criou um segmento que chamamos
“Agencia Social ESPM”, uma agencia que teve como mote principal atender a uma
demanda de causas sociais que foram chegando a agência de forma espontânea e acabaram
dando a direção para uma segmentação dentro do espaço da mesma, onde os alunos
trabalham durante 6 meses de forma voluntária para o desenvolvimento e a organização da
comunicação de ONGs, este espaço dá ao aluno não só o seu desenvolvimento profissional,
mas a oportunidade de exercer sua plena cidadania. Agências experimentais atenderem
eventualmente ONGs não é algo novo, mas uma agência especializada, inclusive com o
nome Agência Social é algo bastante inovador.
Depois de 04 anos de intensa atuação junto as ONGs, há evidências de que várias
pessoas estão sendo beneficiadas pelo projeto, como entidades, alunos, professores, e a
própria escola que apoia o projeto. Este paper tenta estabelecer relações entre ensino
superior, ensino de comunicação e o papel da Agência Experimental na formação dos
alunos.
Em nível de atualidade, o tema Ensino de comunicação, está na pauta de vários
pesquisadores do campo comunicativo, em linhas de pesquisa chamadas Educação e
Comunicação, sob várias formas. A inserção do tema é fator fundamental para aprimorar o
ensino de comunicação e realizar uma leitura mais crítica do que é ensinado e aprendido no
curso. É portanto de interesse da comunidade acadêmica , avaliar as ações educativas da
Agência Experimental no seu trabalho cotidiano junto aos alunos e professores.
Segundo Santos (1994) o século XX é o ápice do projeto da modernidade. Tal
contextualização faz-se necessária para a compreensão das transformações que atingem as
relações que se dão nas diferentes esferas, quer sejam elas globalizadas, transnacionais, ou
subjetivadas e limitadas por micropoderes pessoais e institucionais.
6
A fase atual da universidade indica a possibilidade de uma transição paradigmática
em direção a uma forma de fazer ciência que é dialética por excelência, na sua preocupação
de ver-se em relação a alguma coisa, e esta alguma coisa não é o paradigma da normalidade
e sim o da nova ciência futurante ou revolucionária, ou ainda, uma ciência prudente para
uma vida decente.
Boaventura de Souza Santos (1994) coloca que a desconstrução da ciência,
empreendida nesta perspectiva, insere-se numa totalidade orientada para a criatividade e a
emancipação individual e social, e talvez por isso possa estar sujeita a alguns princípios de
orientação, para construirmos instituições democráticas e democratizantes da sociedade do
ponto de vista econômico, político e cultural, é necessário atenuar o desnivelamento dos
discursos, a fim de que eles possam se falar e orientar novas práticas efetivas e dinâmicas,
produtos da interpenetração das linguagens dos sujeitos.
Atualmente, o ensino de nível superior na área de comunicação social é visto, ainda,
como lugar de aprender a ser profissional do mercado. Isso está transformando os cursos
em treinamento para o trabalho, completamente desconectados de um projeto pedagógico
que leve em conta o aluno como pessoa e que contextualize sua produção do ponto de vista
crítico e social. A universidade para cumprir sua função social deve ser um espaço
fundamental de transmissão de valores e cultura, desenvolvimento de afetividade e
habilidades cognitivas.
Os cursos de comunicação social deveriam estar mais abertos para as questões de
cidadania em seus projetos.
Sem essa contextualização, o ensino da comunicação deixa de ser social para ser
apenas uma questão do mercado das mídias, sendo os jovens estudantes meros reprodutores
dos monopólios, altamente comprometidos com o poder e com a classe dominante. Para
Giroux (1997), o poder é multifacetado e precisamos compreender melhor como ele
funciona, não somente como uma força de opressão, mas também como uma base de
autocapacitação e resistência. Os educadores precisam adotar um conceito pós-moderno de
autoridade, um conceito que descentralize os apelos essencialistas ao poder, ao mesmo
tempo em que combata as relações de autoridade e poder que permitem que muitas vozes se
expressem para iniciar os alunos em uma cultura que multiplique - em vez restringir- as
7
práticas democráticas e as relações sociais como parte de uma luta mais ampla pela vida
pública democrática.
As disciplinas do curso de comunicação social possuem um alto grau de expectativa
dos alunos, mas que pela forma como se estruturam acabam decepcionando. Muitos
estudantes não conseguem ainda ver a relação entre o que aprendem na universidade e uma
visão mais crítica da sociedade. Os estudantes podem ser capazes de repetir os fatos e os
princípios, porém, não os conseguem usar para explicar os acontecimentos, eles também
fracassam se tentam usar esses princípios diante de situações problemáticas, novas e
relevantes, produzem mensagens publicitárias sem pensar sobre o que foi produzido,
anúncios racistas, sexistas, discriminatórios, matérias com informações fragmentadas fazem
parte do discurso da produção discente e, depois, no mercado de trabalho, os ex- alunos
seguem este modelo.
Num discurso pasteurizado e massivo, as escolas de comunicação tornam-se um
espaço pouco adequado para discutir cidadania, alteridade, gênero, raça e classe social,
então, investigar os discursos que formam tais profissionais é fundamental. Toda
comunicação de massa é um ato que reflete ideologias da fonte a serem transmitidas a
determinados receptores. A agência Experimental, como um projeto do curso de
publicidade, sendo inclusive obrigatório pelo MEC, incorpora funções educativas extracurriculares, que podem ajudar a construir cidadania e visão de mundo ampliada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ensino deveria levar a uma ação concreta de mudança social, para compreender o
mundo e agir de forma cidadã, é necessário proporcionar ao aluno de comunicação uma
visão crítica e responsável do seu fazer. A agência experimental pode ser um
potencializador de cidadania, ampliando a visão de mundo dos alunos através da
metodologia de projetos de trabalho. Como opção metodológica ela nos fornece uma
estrutura sólida de encaminhamento dos processos de ensino-aprendizagem. Mas é uma
opção, o fundamental é que cada Agência Experimental de Publicidade nas faculdades
brasileiras possam despertar nos alunos o desejo de realmente experimentar.
8
BIBLIOGRAFIA
ENGUITA, Mariano. A face oculta da escola. Educação e trabalho no capitalismo.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
FERNANDES, Rubem César. Terceiro Setor, desenvolvimento social sustentado.
São Paulo: Paz e Terra, 1997.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia, Saberes Necessários ‘a Pratica
Educativa. 14ª edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
HERNANDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação- os projetos de
trabalho. POA, Artmed, 1998
KOTLER, P. Administração de Marketing: a edição do novo milênio. 10 ed. São
Paulo: Prentice Hall, 2000.
KOTLER. Philip. Marketing social, Estratégias para alterar o comportamento
público. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização, O do pensamento único à
consciência universal. 2ª edição, Rio de Janeiro: Record, 2000.
SOUZA SANTOS, Boaventura de. Pela Mão de Alice: o social e o político na pósmodernidade, São Paulo:Cortez, 1999.
Download

Dora Título do trabalho: Agência Experimental de Publicidade