ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS DE MÉIS CONSUMIDOS NO VALE DO AÇO/ MG PHYSICO-CHEMICAL PROPERTIES OF HONEY CONSUMED IN VALE DO AÇO/ MG Pinto, Carime Chamon de Oliveira Abdalla 1; Lima, Leonardo Ramos Paes de 2 RESUMO O mel é um produto alimentício produzido pelas abelhas melíferas, a partir do néctar das flores e pode também ser produzido a partir das secreções procedentes de partes vivas das plantas ou de excreções de insetos sugadores de plantas que ficam sobre as partes vivas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam com substâncias específicas próprias, armazenam e deixam madurar nos favos da colméia. O presente trabalho teve como objetivo realizar análises físicoquímicas de méis, produzidos e comercializados na região do Vale do Aço, a fim de verificar e avaliar a qualidade, de acordo com o que preconiza o Ministério da Agricultura e Abastecimento. Analisaram-se 26 amostras de méis (19 amostras fornecidas diretamente de um entreposto e 7 méis (amostras) adquiridos entre farmácias e supermercados do Vale do Aço), por meio de análises organolépticas, determinação de cor, umidade, cinzas, sólidos insolúveis em água, reação de Fiehe – hidroximetilfurfural qualitativo, pH, acidez, glicídios redutores em glicose e glicídios não redutores em sacarose. Apenas 11 (42%) amostras, apresentaram-se dentro dos padrões estabelecidos de qualidade, enquanto as outras foram reprovadas em pelo menos um parâmetro. As amostras coletadas em farmácias e supermercados do Vale do Aço foram todas reprovadas em pelo menos um dos itens, sendo a maioria no quesito Hidroximetilfurfural, enquanto os méis provenientes do entreposto tiveram 36,84% de reprovação, principalmente no teor de umidade. Palavras-chave: Produto natural, farmacovigilância, controle de qualidade, mel. ABSTRACT The honey is a nutritious product produced by the melliferous bees, starting from the nectar of the flowers and it can also be produced starting from the secretions coming from alive parts of the plants or of excretions of insects sugadores of plants that are on the alive parts, that the bees collect, they transform, they combine with own specific substances, they store and they let to ripen in the honeycombs of the beehive. This study aimed to perform physical-chemical analysis of honeys, produced and marketed in the region of the Steel Valley in order to verify and evaluate the quality, according to which advocates the Ministry of Agriculture and Supply. We analyzed 26 samples of honey (19 samples delivered directly from a warehouse and seven honeys (samples) purchased from pharmacies and supermarkets in the Steel Valley), through sensory analysis, color determination, moisture, ash, water-insoluble solids , reaction Fiehe - qualitative hydroxymethylfurfural, pH, acidity, reducing carbohydrates into glucose and sucrose in nonreducing carbohydrates. Only 11 (42%) samples, they came inside of the established patterns of quality, while the other ones they were reproven in at least a parameter. The samples collected at drugstores and supermarkets of the Vale do Aço had all, disapproval in at least one of the items, 1 Farmacêutica generalista pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais/UnilesteMG. Especialista em Farmacologia; Bacharel e Licenciado em Química, Mestre em Agroquímica e Doutor em Bioquímica Agrícola. Professor do Curso de Farmácia do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais/UnilesteMG. 2 28 being most in the requirement hidroximetilfurfural, while the coming honeys of the warehouse had 36, 84% of disapproval, mainly in the humidity tenor. Key words: Natural product, farmacovigilância, quality control, honey. INTRODUÇÃO O mel é um produto alimentício produzido pelas abelhas melíferas, a partir do néctar das flores (mel floral) ou das secreções procedentes de partes vivas das plantas ou de excreções de insetos sugadores que ficam sobre as plantas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam com substâncias específicas próprias, armazenam e deixam madurar nos favos da colméia (mel de melato) (BRASIL, 2000). Conforme citado por Lengler (2008), o mel possui alto valor nutritivo, é composto por vitaminas, ácidos e sais minerais. Além disso, apresenta as seguintes propriedades: anti- bacteriana, antiinflamatória, depurativa, laxante, regenerativo de tecidos, entre outras. De acordo com Silva et al. (2004), a composição físico-química do mel é variável, dependendo das condições climáticas, estágio de maturação, espécie de abelha, processamento, armazenamento e tipo de florada. Como o mel é um produto natural, de fornecimento limitado e freqüentemente, de alto preço, tem sido alvo de adulterações, causando extrema desconfiança nos consumidores tradicionais, sendo a principal barreira para a ampliação de seu consumo (AZEREDO et al., 1999). Não existe no país uma estrutura eficiente de informação que contabilize a produção real de mel de abelhas, assim como praticamente nada tem sido feito na fiscalização da qualidade do produto oferecido ao consumo (LEAL et al., 2001). Mas alguns levantamentos de qualidade já foram realizados, por exemplo, no estado de Rio de Janeiro (AZEREDO et al., 1999), São Paulo (KOMATSU et al., 2002), Piauí (SILVA et al., 2004), São Paulo e Minas Gerais (BARTH et al., 2005) e Ceará (ARAÚJO et al., 2006), por universidades ou centros de pesquisa e não pelos órgãos fiscalizadores. Há no Brasil uma legislação específica para mel, a qual estabelece parâmetros de controle de qualidade para o produto, com indicação das análises e métodos a serem empregados (BRASIL, 2000), que são: análises organolépticas, determinação de cor, umidade, cinzas, sólidos Farmácia & Ciência, v.1, p.27-40, ago./dez. 2010. 29 insolúveis em água, reação de Fiehe – hidroximetilfurfural qualitativo, pH, acidez, glicídios redutores em glicose e glicídios não redutores em sacarose. O presente trabalho teve como objetivo realizar análises físico-químicas de méis, produzidos e comercializados na região do Vale do Aço, a fim de verificar e avaliar a qualidade, de acordo com o que preconiza o Ministério da Agricultura e Abastecimento. MATERIAIS E MÉTODOS Foram realizadas análises organolépticas, glicídios redutores em glicose, glicídios não redutores em sacarose, umidade, teor de cinzas, determinação de pH, acidez, hidroximetilfurfural (reação de Fiehe) e sólidos insolúveis em água, segundo as técnicas descritas pelo LANARA (LABORATÓRIO NACIONAL DE REFERÊNCIA ANIMAL, 1981) e os dados obtidos foram comparados com o que preconiza o Ministério da Agricultura e do Abastecimento (BRASIL, 2000). As análises foram realizadas em triplicata. Coletou-se e analisaram-se 26 (vinte e seis) amostras de méis, sendo 19 (dezenove) fornecidas diretamente de um entreposto (local onde se processa o mel) e 07 (sete), de diferentes marcas, coletadas aleatoriamente entre farmácias e supermercados da região do Vale do Aço. As amostras foram preparadas homogeneizando o mel, quando fluido, porém, aqueles semi-cristalizados ou cristalizados foram colocados em banho-maria a 60 ºC, para serem liquefeitos. Nesse trabalho foi garantido o anonimato das marcas e dos produtores dos méis de acordo com os preceitos éticos da Resolução 196/96. Análises organolépticas As análises organolépticas foram realizadas de acordo com o Ministério da Agricultura e do Abastecimento (BRASIL, 2000), que preconiza as seguintes características sensoriais para o mel: 1 - Cor - é variável de quase incolor a pardo-escura. 2 - Sabor e aroma - deve ter sabor e aroma característicos de acordo com a sua origem. 3 - Consistência - variável de acordo com o estado físico em que o mel se apresenta. Farmácia & Ciência, v.1, p.27-40, ago./dez. 2010. 30 Glicídios redutores em glicose A análise de glicídeos redutores em glicose foi realizada de acordo com as técnicas descritas pelo LANARA (LABORATÓRIO NACIONAL DE REFERÊNCIA ANIMAL, 1981). Inicialmente preparou-se uma solução de mel a 20%, mediu-se com uma pipeta volumétrica 2 mL desta solução e a transferiu para um balão volumétrico de 100 mL. O volume foi completado com água destilada. A solução foi transferida para uma bureta de 25 mL. Foram pipetados 10 mL de cada uma das soluções de Felhing A e B, com uma pipeta volumétrica, para um erlenmeyer de 250 mL e adicionou-se 40 mL de água destilada. Aqueceu-se o erlenmeyer até a ebulição e gotejou a solução presente na bureta até que o líquido sobrenadante ficasse levemente azulado. Mantendo a ebulição, adicionou-se três gotas de solução de azul de metileno a 1% e continuou-se gotejando até descoloração do indicador. Cuidou-se para que o tempo da titulação não ultrapassasse 3 minutos. Os cálculos foram feitos da seguinte maneira: % glicídios redutores em glicose = (100 x 100 x T) / V x P Em que: T = concentração da solução de Fehling. V = volume em mL de amostra gasta na titulação. P = massa da amostra em gramas na solução (0,4g). Glicídios não redutores em sacarose A análise de glicídeos não redutores em glicose foi realizada de acordo com as técnicas descritas pelo LANARA (LABORATÓRIO NACIONAL DE REFERÊNCIA ANIMAL, 1981). A amostra foi preparada medindo com uma pipeta volumétrica 2 mL da solução a 20% e a transferiu para um becker de 100 mL. Adicionou-se 50 mL de água destilada e 1 mL de HCl concentrado. A solução foi deixada em banho-maria a 60 °C por 1 hora. Foi esfriada e neutralizada com solução de NaOH a 10%. A solução foi transferida quantitativamente para um balão volumétrico de 100 mL e completado o volume com água destilada, para logo em seguida ser transferida para uma bureta de 25mL e então procedeu-se do mesmo modo como na determinação dos açúcares redutores em glicose. Os cálculos foram feitos da seguinte maneira: Farmácia & Ciência, v.1, p.27-40, ago./dez. 2010. 31 % glicídios totais = (100 x 100 x T) / V x P % sacarose = (glicídios totais – glicídios redutores) x 0,95 Em que: T = concentração da solução de Fehling V = volume em mL de solução de amostra gastos P = massa em gramas da amostra na solução Umidade A análise de umidade foi realizada de acordo com as técnicas descritas pelo LANARA (LABORATÓRIO NACIONAL DE REFERÊNCIA ANIMAL, 1981). O método realizado foi o de refratometria e sua interpretação foi feita através da tabela de Chataway, utilizando como equipamento o refratômetro Quimis®. A análise foi realizada colocando uma gota de mel no local específico do refratômetro e procedeu-se a leitura da amostra. A leitura na escala Brix foi transformada de acordo com a tabela de Chataway. Teor de cinzas A porcentagem de cinzas presente no mel expressa a riqueza do material mineral, e se constitui em parâmetro bastante utilizado nas determinações que visam verificar a qualidade do mel. O método utilizado fundamenta-se na combustão que ocorre quando o produto é incinerado a 600°C, com destruição da matéria orgânica, sem apreciável decomposição dos constituintes do resíduo mineral ou perda por volatilização. A análise do teor de cinza foi realizada de acordo com as técnicas descritas pelo LANARA (LABORATÓRIO NACIONAL DE REFERÊNCIA ANIMAL, 1981). Foram pesados analiticamente 2g de amostra em um cadinho de porcelana, previamente aquecido em forno mufla por meia hora, esfriado em dessecador com sílica gel e pesado. A amostra foi carbonizada em bico de Bunssen e levada ao forno mufla a 600 °C. Calcinou-se até cinzas brancas, deixando a amostra por 4 horas. Esfriou-se em dessecador e pesou-se. A operação foi repetida por mais uma hora até o peso ficar constante. O teor máximo tolerado de cinzas é 0,6%. Os cálculos foram feitos da seguinte maneira: Farmácia & Ciência, v.1, p.27-40, ago./dez. 2010. 32 % resíduo mineral fixo = (P x100) / P” Em que: P = massa das cinzas em gramas P” = massa da amostra em gramas Determinação de pH A determinação de pH foi realizada de acordo com as técnicas descritas pelo LANARA (LABORATÓRIO NACIONAL DE REFERÊNCIA ANIMAL, 1981). Foram pesados 10 g de mel em uma balança analítica e diluídos com 75 mL de água destilada e deionizada recentemente e realizou-se a leitura da amostra com pHmetro. Acidez A análise da acidez foi realizada de acordo com as técnicas descritas pelo LANARA (LABORATÓRIO NACIONAL DE REFERÊNCIA ANIMAL, 1981). Utilizou-se a solução de mel preparada para a determinação de pH e titulou-se com solução de Hidróxido de sódio 0,1mol/L até a viragem do indicador, registrando o volume gasto. Os cálculos foram feitos da seguinte maneira: Acidez em meq / Kg = V x f x10 Em que: V = volume em mL de solução de NaOH 0,1N gastos na titulação F= fator de solução de NaOH 0,1N Hidroximetilfurfural O hidroximetilfurfural no mel é um indicador de aquecimento, armazenamento inadequado ou adulteração com açúcar invertido. O hidroximetilfurfural (produto da desidratação da frutose que ocorre quando houver inversão da sacarose em meio ácido) reage com a resorcina em meio ácido, dando um composto de condensação de coloração vermelha. A reação também ocorre em menor intensidade em mel estocado em temperatura ambiental elevada. As provas qualitativa e quantitativa do hidroximetilfurufural foram realizadas de acordo com as técnicas descritas pelo LANARA (LABORATÓRIO NACIONAL DE REFERÊNCIA ANIMAL, 1981). Farmácia & Ciência, v.1, p.27-40, ago./dez. 2010. 33 Prova qualitativa: reação de Fiehe Para a realização do método foram agitados em um tubo de ensaio10 mL de solução de mel a 50% com 5 mL de éter etílico. Foi deixado em repouso até tornar-se clara a camada etérea. Em seguida foi transferido 2 mL da camada etérea para outro tubo de ensaio e adicionadas 5 gotas de solução recente de resorcina a 1% em HCl concentrado. Agitou-se e observou a coloração que adquiriram as gotas de resorcina no fundo do tubo de ensaio. A coloração vermelha cereja imediata ou salmão pode indicar a presença de açúcar invertido por tratamento ácido, aquecimento intenso ou estocagem prolongada em temperatura ambiente elevada. Sólidos insolúveis em água O método utilizado fundamenta-se na insolubilidade da cera na água e grãos de pólem e outros componentes normais do sedimento do mel. A análise dos sólidos insolúveis em água foi realizada de acordo com as técnicas descritas pelo LANARA (LABORATÓRIO NACIONAL DE REFERÊNCIA ANIMAL, 1981). Foram pesados em uma balança analítica 20 gramas da amostra, em um béquer de 250 mL, e diluídos com um pouco de água aquecida a 60 °C. Em seguida foram filtrados em papel de filtro previamente seco em estufa a 105°C por uma hora, esfriado em dessecador (com sílica gel) e pesado. Depois lavou-se o béquer e o filtro com água morna até a ausência de açúcares e secouse em estufa a 80 °C, até peso constante. Os cálculos foram feitos da seguinte maneira: % insolúveis = (P x 100) / P’ Em que: P = peso dos insolúveis em gramas P’ = peso da amostra em gramas Além dos métodos descritos anteriormente, essas amostras foram submetidas à análise dos rótulos, conforme preconiza o Regulamento técnico MERCOSUL para rotulagem de produtos embalados (BRASIL, 2004). Farmácia & Ciência, v.1, p.27-40, ago./dez. 2010. 34 Para a análise dos dados foram utilizadas as médias das repetições adotadas com o respectivo desvio padrão. RESULTADOS E DISCUSSÃO Como pode ser verificado na Tabela 1, entre os méis fornecidos pelo entreposto verificouse a presença de Hidroximetilfurufral apenas em uma amostra. Duas outras amostras apresentaram valor de sólidos insolúveis acima do recomendado na Legislação (Tabela 2) e seis amostras apresentaram teor de umidade superior ao adequado. Quanto aos méis comercializados em farmácias e supermercados, 100% foram reprovados quanto à reação de Fiehe (teste qualitativo de Hidroximetilfurfural) e um destes méis também apresentou teor de sólidos insolúveis em água superior a 0,1%. Uma amostra apresentou glicídios redutores em glicose com valor inferior ao recomendado e apenas uma amostra apresentou umidade superior ao permitido. Tabela 1: Parâmetros físico-químicos das amostras analisadas. PARÂMETROS AMOSTRAS GRG1 GNRS2 Umidade (%) Cinzas (%) pH Acidez HMF3 S.ins.4 (%) 1 Entreposto 74,72 ±2,65 0,32±0,00 19,8±0,00 0,17±0,09 3,91±0,02 33,60±1,13 P 0,04±0,00 2 Entreposto 65,80±0,84 ND 20,0±0,11 0,32±0,08 3,77±0,00 44,40±0,57 N 0,005±0,004 3 Entreposto 67,69±0,13 0,62±0,00 19,0±0,58 0,45±0,02 3,8±0,01 40,80±5,66 N 0,01±0,02 4 Entreposto 66,70±1,37 ND 20,6*±0,28 0,05±0,05 3,83±0,00 40,00±5,66 N 0,02±0,01 5 Entreposto 70,66±0,28 ND 20,2*±0,28 0,18±0,10 4,27±0,00 23,87±4,36 N 0,03±0,02 6 Entreposto 71,28±0,00 ND 20,2*±0,00 0,22±0,05 2,41±0,02 38,11±1,63 N 0,05±0,02 7 Entreposto 64,92±0,00 5,17±0,00 20,4*±0,00 0,10±0,03 3,82±0,01 31,57±2,78 N 0,13*±0,00 8 Entreposto 69,88±0,55 ND 20,0±0,11 0,09±0,06 3,76±0,01 33,88±1,09 N 0,05±0,00 9 Entreposto 71,05±0,87 0,26±0,00 20,0±0,00 0,39±0,07 4,06±0,05 18,99±1,18 N 0,01±0,0003 10 Entreposto 68,19±0,65 ND 20,2*±0,00 0,35±0,01 4,09±0,02 20,02±0,77 N 0,32*±0,00 11 Entreposto 70,75±0,71 ND 21,0*±0,00 0,23±0,04 4,19±0,04 17,45±1,18 N 0,04±0,00 12 Entreposto 66,89±0,13 ND 20,0±0,00 0,19±0,16 4,21±0,01 17,71±0,77 N 0,06±0,00 13 Entreposto 70,49±1,54 ND 20,0±0,00 0,17±0,22 4,21±0,03 19,25±5,44 N 0,02±0,001 14 Entreposto 71,91±0,73 ND 20,0±0,11 0,23±0,03 4,15±0,02 17,97±1,18 N 0,03±0,00 15 Entreposto 67,57±2,99 ND 18,8±0,28 0,26±0,02 4,14±0,01 21,05±1,60 N 0,04±0,00 16 Entreposto 85,61±16,45 2,20±0,00 19,0±0,61 0,03±0,02 4,07±0,01 18,48±0,77 N 0,05±0,00 17 Entreposto 66,08±3,64 1,46±0,00 19,4±0,00 0,23±0,02 4,02±0,01 20,02±2,78 N 0,04±0,00 Farmácia & Ciência, v.1, p.27-40, ago./dez. 2010. 35 1 18 Entreposto 72,33±4,14 ND 18,8±0,00 0,21±0,07 3,96±0,02 23,10±0,00 N 0,04±0,00 19 Entreposto 78,72±0,36 ND 15,6±0,85 0,15±0,11 4,53±0,02 19,50±2,12 N 0,07±0,02 20 Comércio 63,33*±0,57 3,89±0,00 20,0±0,14 0,18±0,21 4,21±0,01 26,25±1,06 P 0,01±0,00 21 Comércio 68,79±1,73 ND 19,6±0,00 0,26±0,10 4,22±0,06 22,00±1,56 P 0,19*±0,03 22 Comércio 70,07±3,59 ND 20,0±0,00 0,12±0,004 3,82±0,02 34,25±2,41 P 0,04±0,05 23 Comércio 70,89±0,85 ND 20,2*±0,00 0,04±0,00 4,31±0,01 27,50±3,77 P 0,01±0,00 24 Comércio 69,32±0,55 0,37±0,00 19,0±0,14 0,27±0,00 4,27±0,02 24,75±1,30 P 0,01±0,00 25 Comércio 65,66±0,86 1,96±0,00 19,4±0,00 0,13±0,14 3,91±0,03 22,87±2,65 P 0,02±0,00 26 Comércio 68,30±0,54 ND 20,0±0,14 0,29±0,10 4,18±0,02 24,75±1,50 P 0,06±0,03 2 3 4 Glicídeos redutores em glicose; Glicídeos não redutores em sacarose; Hidroximetilfurfural; Sólidos insolúveis em água; N = Negativo; P = Positivo; ND = Não detectável pelo método aplicado; *Valores fora das especificações. Tabela 2 – Valores de referência segundo a instrução normativa nº 11 de 20 de Outubro de 2000. Parâmetros Concentração Umidade (%) max. 20,0 Açúcares redutores/invertido (%) min. 65,0 Sacarose (%) max. 6,0 Cinzas (%) max. 0,6 Hidroximetilfurfural (mg/kg) max. 60,0 Acidez (meq/Kg) max. 50,0 Sólidos insolúveis em água (%) max. 0,1 Fonte: Instrução Normativa n° 11 de 20 de outubro de 2000. Segundo LANARA (LABORATÓRIO NACIONAL DE REFERÊNCIA ANIMAL, 1981) o hidroximetilfurfural é um produto da desidratação da frutose que ocorre quando houver inversão da sacarose em meio ácido. Essa substância no mel é um indicador de aquecimento, armazenamento prolongado e adulteração com açúcar invertido (MARCHINI et al., 2005). O mel do entreposto que apresentou Hidroximetilfurfural adquiriu uma coloração rosaclaro. A presença desta substância nesta amostra descarta a possibilidade do Hidroximetilfurfural ter sido produzido devido ao longo tempo de armazenamento, uma vez que o período de armazenamento neste local foi pequeno. A causa mais provável pode ter sido o aquecimento, que é uma prática utilizada para retirar a umidade do mel e evitar a cristalização do mesmo. Conforme Araújo et. al, 2006, o teor dessa substância se eleva com o armazenamento prolongado em temperatura ambiente alta e/ou superaquecimento, dessa forma o mel tem seu valor nutricional alterado, podendo ocorrer perda de algumas enzimas. Na estocagem do mel deve se observar a temperatura do local de estocagem, temperaturas Farmácia & Ciência, v.1, p.27-40, ago./dez. 2010. 36 acima de 30º C por períodos superior a seis meses ocorre o desdobramento da frutose do mel em uma molécula de Hidroximetilfurfural e 3 moléculas de água. A apresentação do mel ficará com uma camada superficial líquida e escurecida. Pesquisas realizadas, na UFSM, fornecendo esse líquido escurecido para as abelhas provocou a morte de 100% dos enxames (LENGLER, S., 2008). Os méis comercializados em farmácias e supermercados foram todos reprovados quanto à reação de Fiehe. Todos eles apresentaram uma coloração vermelho-cereja, o que pode indicar tempo e condições inadequadas de armazenamento, como exposição ao sol e ao calor ou até mesmo adulterações com açúcar invertido. Uma pesquisa realizada por Azeredo et al. (1999) no município São Fidélis - RJ mostrou que o teor de Hidroximetilfurfural foi maior nos méis após 180 dias de estocagem em relação aos que não foram armazenados e os que foram armazenados até 90 dias. No presente trabalho também notou-se uma relação entre o tempo de armazenamento e presença de Hidroximetilfurfural, relacionada com a intensidade da cor na reação de Fiehe. O mel coletado no entreposto, que praticamente não foi estocado, apresentou coloração rosa-claro enquanto os comercializados nas farmácias e supermercados apresentaram coloração vermelhocereja. Segundo Leal et. al, 2001, a cor vermelha persistente na reação de Fiehe, indica positividade ou presença elevada de Hidroximetilfurfural, possivelmente mais de 200 mg/Kg. A amostra 20 apresentou um teor de glicídio redutor abaixo do recomendado (Tabela 01), podendo ter uma relação direta com a detecção da presença do Hidroximetilfurfural, uma vez que a frutose pode ser convertida no referido composto, devido ao aquecimento excessivo. O teor máximo de sólidos insolúveis, segundo o Ministério da Agricultura e Abastecimento (BRASIL, 2000), deve ser 0,1 %. Os sólidos insolúveis são sedimentos normais presente nos méis ou possíveis contaminações provenientes do processo de colheita e processamento do mel (ARAUJO et al., 2006). Entre os méis, dois do entreposto e um do comércio obtiveram valor superior a 0,1 %. Quanto ao teor de cinzas, o permitido pela Legislação é 0,6g/100g (Tabela 02). Entre os elementos químicos inorgânicos encontrados no mel, estão o cloro, cobre, ferro, manganês, magnésio, fósforo, boro, potássio, silício, zinco, nitrogênio, iodo, radio, estanho, alumínio, ósmio, titânio e chumbo (PAMPLONA, 1989). Teores de cinzas acima dos especificados sugere adulteração por materiais inorgânicos, provenientes de objetos não especificados na descrição dos Farmácia & Ciência, v.1, p.27-40, ago./dez. 2010. 37 méis, como terra, areia, pólen em excesso, etc. Nesta análise todos os méis, tanto os do entreposto, quanto os méis comercializados em farmácias e supermercados foram aprovados. Valores de pH baixos e de acidez altos indicam processos fermentativos do mel. De acordo com Araújo et al. (2006) a análise de pH não é obrigatória para avaliação da qualidade do mel, mas é um parâmetro auxiliar para avaliação da acidez total. Na presente pesquisa, todas as amostras analisadas apresentaram pH ácido, sendo esses valores próximos. Conforme o Ministério da Agricultura e Abastecimento (BRASIL, 2000), a acidez não deve ser superior a 50 meq/Kg mel. A acidez do mel deve-se a diversos fatores: à variação dos ácidos orgânicos causada pelas diferentes fontes de néctar, atividade enzimática da glicoseoxidase que origina o ácido glucônico, ação das bactérias durante a maturação e aos minerais presentes na sua composição (Alves, 2008).Todas as amostras analisadas apresentaram valores inferiores a 50 meq/Kg, portanto não foi constatado processos fermentativos. A umidade é outro parâmetro importante no controle de qualidade do mel, pois valores elevados facilitam a ação de enzimas que hidrolisam a sacarose, produzindo glicose, que é um carboidrato menos solúvel, favorecendo o processo de cristalização do mel. Este fato pode explicar, de certo modo, o motivo pelo qual cinco amostras de méis, dos 7 méis (amostras 4, 5, 6, 7, 10, 11 e 23) que apresentaram valores de umidade superiores ao recomendado (tabela 01), estavam cristalizados. A umidade deve ser no máximo 20%, entre as amostras analisadas apenas uma apresentou valor superior (21%). Em razão de sua característica higroscópica, o mel apresenta alta capacidade de absorver a umidade do ambiente. Assim, o apicultor deve evitar sua colheita em dias chuvosos ou com umidade elevada, alem de apenas colher os quadros onde o mel se apresente operculado (com uma fina camada protetora de cera nos alvéolos), sinal de sua maturação em relação à quantidade de água presente. Quantidades elevadas de água no mel favorecem a proliferação de leveduras, provocando assim sua fermentação e, consequentemente, inutilizando-o para o consumo humano (CAMARGO, 2003 apud PAULINO e MARCUCCI, 2009). As análises organolépticas dos méis analisados estão de acordo com o Ministério da Agricultura e do Abastecimento (BRASIL, 2000). Nas amostras 2 e 3 (Tabela 01) foi observada a presença de pequena quantidade de espuma na superfície, o que indica presença de proteína. De Farmácia & Ciência, v.1, p.27-40, ago./dez. 2010. 38 acordo com Silvio Lengler (2008) a presença de proteína no mel provoca espuma na superfície. Quanto mais espuma na superfície mais rico em proteína, cuja variação é de 0,25 a 0,80%. A quantidade de aminoácidos livres no mel é pequena e quase não tem nenhuma importância do ponto de vista alimentício. Os aminoácidos mais comuns são: prolina, ácido glutâmico, alanina, fenilalanina, tirosina, leucina e isoleucina. Além dessas análises, os rótulos também foram avaliados, de acordo com o Regulamento Técnico MERCOSUL (BRASIL, 2004) para rotulagem de alimentos embalados. Segundo este regulamento a rotulagem deve apresentar, obrigatoriamente a denominação de venda do alimento, lista de ingredientes, conteúdos líquidos, identificação da origem, nome ou razão social e endereço do importador, no caso de alimentos importados, identificação do lote, prazo de validade e instruções sobre o preparo e uso do alimento, quando necessário. Todas as amostras, exceto a 23, apresentaram registro no Ministério da Agricultura. As amostras 21 e 22 não apresentaram informação nutricional. Na amostra 23 não havia o número do lote, além disso, tinha informação errada sobre o uso, já as outras amostras não apresentaram nenhuma informação sobre o uso do mel. De um modo geral, das 26 amostras analisadas, apenas 11 (42 %) apresentaram-se dentro dos padrões estabelecidos de qualidade, enquanto que as outras foram reprovadas em pelo menos um dos parâmetros. Um fato mais preocupante ainda é verificar que das amostras coletadas em farmácias e supermercados 100 % foram reprovadas, em pelo menos um dos quesitos analisados. CONCLUSÃO De acordo com as análises realizadas, os méis comercializados nas farmácias e supermercados do Vale do Aço foram todos reprovados em pelo menos um dos itens, sendo a maioria no quesito Hidroximetilfurfural, o que pode indicar um mau armazenamento dos produtos que chegam à mesa do consumidor, enquanto os méis provenientes do entreposto, 36,84 % foram reprovados, principalmente no teor de umidade, que pode ocasionar hidrólise da sacarose e precipitação da glicose, influenciando na cristalização deste. Diante do exposto, é necessário que esses méis, comercializados e consumidos no Vale do Aço, tenham um controle sistemático da qualidade, pelos órgãos competentes, para a proteção da saúde do consumidor. Farmácia & Ciência, v.1, p.27-40, ago./dez. 2010. 39 REFERÊNCIAS ALVES E. M. Identificação da flora e caracterização do mel orgânico de abelhas africanizadas das ilhas floresta e laranjeira do alto Rio Paraná. 2008. 77f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia)- Universidade Estadual do Maringá, Maringá, 77p. 2008. ARAÚJO, R. D; SILVA, R. H. D.; SOUZA, J. S. Avaliação da qualidade físico-química do mel comercializado na cidade de Crato, CE. Revista de Biologia e Ciências da Terra, Campina Grande, v. 6, n. 1, p. 51-55, jan./jul. 2006. AZEREDO, M. A. A.; AZEREDO, L. C.; DAMASCENO, J. G. Características físico-químicas dos méis do município de São Fidelis-RJ. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 19, n.1, p. 3-7, jan..1999. BARTH, O.M.; MAIORINO, C.; BENATTI, A. P. T.; BASTOS, D. H. 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