Volume 4 Número 29 17 de setembro de 2006 GBETH Newsletter de Tumores Hereditários de Estudos o r i e l i s Uma o Bra publicação semanal do Grup www.gbeth.org.br GBETH Newsletter é uma publicação semanal distribuída aos sócios do Grupo Brasileiro de Estudos de Tumores Hereditários. Sede R José Getúlio, 579 cjs 42/43 Aclimação São Paulo - SP CEP 01503-001 E-mail [email protected] [email protected] Editor Erika Maria M Santos Ligia P Oliveira Diretoria Presidente Benedito Mauro Rossi Vice-Presidente Gilles Landman Diretor Científico André Vettore Secretário Geral Fábio de Oliveira Ferreira Primeira Secretária Erika Maria M Santos Tesoureiro Wilson T Nakagawa Conselho Científico Beatriz de Camargo José Claúdio C Rocha Maria Aparecida Nagai Maria Isabel W Achatz Samuel Aguiar Jr Conselho Fiscal Titulares André Lopes Carvalho Gustavo Cardoso Guimarães Stênio de Cássio Zequi Suplentes Fábio José Hadad Mariana Morais C Tiossi Milena J S F L Santos Metanálise: Impacto Psicológico do Aconselhamento Genético Erika Maria Monteiro Santos Registro de Câncer Colorretal Hereditário - Hospital do Câncer Braithwaite D, Emery J, Walter F, Prevost AT, Sutton S. Psychological impact of genetic counseling for familial cancer: a systematic review and meta-analysis. Fam Cancer 2006;5:61-75. Com a disponibilidade de teste de predisposição para alguns genes relacionado com o desenvolvimento de tumores, e o maior conhecimento da genética do câncer há uma demanda crescente pelo aconselhamento genético. O aconselhamento genético tem como objetivo facilitar a compreensão do indivíduo sobre seu risco de uma doença herdada e sobre as opções de manejo do risco sem causar ansiedade desnecessária. Dada a complexidade de comunicar informações sobre o risco genético, não está claro como os indivíduos entendem o risco da doença ou se o aconselhamento genético pode gerar ansiedade e angústia que podem interferir com a adesão recomendações de seguimento e detecção precoce. Esta revisão sistemática tem como objetivo examinar o impacto do aconselhamento genético para câncer de mama, ovário, e colorretal em resultados cognitivos, afetivos e comportamentais. Este estudo tem como objetivo testar a hipótese de que o aconselhamento genético resulta em melhora dos resultados cognitivos (percepção de risco e conhecimento sobre genética do câncer) sem impacto negativo em resultados afetivos (angústia, ansiedade, depressão, e preocupação com o câncer). Além disso, busca-se verificar se o aconselhamento genético leva à mudanças no comportamento, no qual o indivíduo adequa as recomendações de seguimento ao nível do risco, e se estes resultados são mantidos ao longo do tempo. Métodos Seleção dos estudos Foram realizadas buscas por artigos no MEDLINE, PsycINFO, CancerLit, CINAHL, EMBASE, e o Web of Science publicados até dezembro de 2001. Também foram realizadas buscas nas revistas da área e foram enviadas cartas as clínicas de genética do Reino Unido em busca de dados não publicados. Metanálise: Impacto Psicológico do Aconselhamento Genético Critérios de inclusão O aconselhamento genético foi definido como o aconselhamento individual que forneceu subsídios ao indivíduo para discutir o risco de câncer e a forma de vigilância e teste genético de predisposição. Foram incluídos estudos que avaliaram o impacto psicológico do aconselhamento genético em indivíduos com uma história familiar de câncer de mama, ovário ou colorretal. Foram incluídos estudos controlados ou prospectivos. Resultados Foram identificados 43 artigos, e 18 foram excluídos. A falta de dados prospectivos foi à razão mais comum para exclusão. Dos 21 estudos incluídos, 16 examinaram o impacto do aconselhamento genético no câncer de mama, um no câncer de mama e ovário, um no câncer de mama e colorretal, um no câncer colorretal, e um no câncer de ovário. Quatro foram estudos randomizados e um estudo era controlado não randomizado. Foram incluídos 16 estudos prospectivos não controlados em razão do número reduzido de estudos randomizado. Resultados cognitivos Percepção de risco Dois estudos controlados relataram o impacto do aconselhamento genético no nível de percepção de risco, mas nenhum relatou efeito estatisticamente significativo. Nestes dois estudos, o efeito em curto prazo foi pequeno (diferença padronizada = -0.10, IC 95% -0.23–0.04). (diferença padronizada=0.70 U, IC 95%=0.15-1.26 U). O efeito em longo prazo foi investigado em único estudo, no qual também foi observado efeito no conhecimento (diferença padronizada=0.80 U, IC 95% =0.10-1.50 U), Resultados afetivos Foram investigados ansiedade, angústia geral, depressão, preocupação com o câncer. Ansiedade geral Dois estudos controlados não encontraram efeito do aconselhamento genético sobre a ansiedade. Em um destes estudos, foi observada uma redução da ansiedade significativa em curto prazo no grupo intervenção e controle. Em contraste, quatro de seis estudos prospectivos foi observada uma redução significativa em curto prazo, mas os níveis retornaram aos níveis de base em longo prazo. Angústia geral Um estudo controlado não mostrou diferença significativa entre os grupos, com um pequeno aumento em ambos os grupos. Dois de seis estudos prospectivos relataram redução significativa em curto prazo, mas não informou nenhum efeito em longo prazo. Depressão Apenas um único estudo controlado e três estudos prospectivos avaliaram a depressão, e não encontraram efeitos em curto e longo prazo. Acurácia do risco Preocupação com o câncer Apenas um estudo avaliou a acurácia do risco, e tratou a variável como binária. Não foi observada diferença significativa entre os grupos. A porcentagem de indivíduos com compreensão de risco precisa no seguimento foi 14,6% no grupo que recebeu aconselhamento e 9,4% no grupo controle. Três estudos controlados investigaram o efeito do aconselhamento genético na preocupação com o câncer. Um estudo observou uma redução significativa na preocupação com o câncer 3 meses. Porém, o efeito agrupado não identificou nenhuma associação entre o aconselhamento e a preocupação de câncer. Conhecimento sobre a genética do câncer Evidências de três estudos controlados indicaram um aumento no conhecimento sobre genética do câncer no grupo que sofreu intervenção comparado ao grupo controle, com efeito de grande magnitude Resultados sobre comportamento de saúde Poucos estudos avaliaram o efeito do aconselhamento genético sobre comportamento GBETH Newsletter 2006; volume 04 número 29 Metanálise: Impacto Psicológico do Aconselhamento Genético de saúde, através da realização de mamografia e freqüência de exame clínico das mamas, que foram relativamente altas na avaliação de base. A adesão ao auto-exame das mamas foi investigado em um estudo controlado, com aumento significativo no grupo intervenção e controle. Teste genético Nenhum estudo avaliou o impacto do aconselhamento sobre a aceitação do teste genético. Apenas um estudo prospectivo, avaliou a aceitação do teste genético. Neste estudo (n = 60), 92% dos participantes desejavam um teste preditivo antes do aconselhamento genético, e 60% se submeteram ao teste. Discussão Evidências sobre estudos controlados sugerem que o aconselhamento genético leva a um aumento no conhecimento sobre genética do câncer, mas sem influenciar a percepção de risco e sem evento adverso nos resultados afetivos. Especificamente, o aconselhamento genético melhorou o conhecimento sobre a genética do câncer em três estudos, mas não influenciou a ansiedade em dois estudos, a angústia geral em um, depressão em um, e preocupação com o câncer em três estudos. Estudos prospectivos demonstraram um aumento estatisticamente significativo na acurácia do risco, documentado em metanálise anterior. Também há evidência da redução na preocupação com o câncer e ansiedade geral. Os escores médios na ansiedade geral, angústia, depressão, e preocupação com o câncer atingiram níveis normais e não aumentaram após o aconselhamento genético. Os resultados comportamentais foram investigados em poucos estudos, com efeitos pequenos. Este resultado pode indicar que a adesão ao rastreamento não é influenciada pelo aconselhamento genético. Há desafios metodológicos e teóricos consideráveis para testar a efetividade do aconselhamento genético. Um aspecto importante é a heterogeneidade das medidas utilizadas para um mesmo construto, tornando a metanálise difícil. Outro problema é o número limitado de medidas para avaliar as informações sobre risco e opções de seguimento, que são fundamentais no aconselhamento genético. Poucos estudos publicados usam teorias de comportamento e de comunicação de risco para guiar a escolha e operationalização das medidas. As pesquisas devem usar desenhos randomizados, com amostra com poder adequado, grupos controle apropriados, e intervenções dirigidas por teorias de comportamento e de comunicação de risco. Escalas para avaliação do impacto da avaliação genética Uma das maiores dificuldades metodológicas do artigo apresentado, foi à identificação de medidas heterogêneas para a avaliação do impacto psicológico do aconselhamento genético. Abaixo são apresentados dois artigos que apresentam instrumentos validados para medir este fenômeno. Cella D, Hughes C, Peterman A, Chang C-H, Peskin BN, Schwartz MD et al. A brief assessment of concerns associated with genetic testing for cancer: The Multidimensional Impact of Cancer Risk Assessment (MICRA) Questionnaire. Health Psychologu 2002;21:6:564-72. O MICRA é um instrumento para medir o impacto do resultado do teste de predisposição. O instrumento, com três escalas, contém 25 questões, auto-aplicativas, na qual para cada afirmação, o indivíduo escolhe entre quatro respostas (nunca, raramente, frequentemente, sempre) organizadas em escala tipo Likert. O processo de validação ocorreu com 158 mulheres submetidas ao teste BRCA1/BRCA2. Todas as três escalas diferenciaram participantes com teste positivo, negativo ou inconclusivo. Read CY, Perry DJ, Duffy ME. Design and psychometric evaluation of the Psychological Adaptation to Genetic Information Scale. J Nur Scholarship 2005;37:203-8. A PAGIS (Psychological Adaptation to Genetic Information Scale) é um instrumento para avaliar as múltiplas dimensões da adaptação psicológica à informação genética, para facilitar a avaliação da eficácia do aconselhamento e de medidas de suporte, e para identificar indivíduos sob risco de enfrentamento inadequado. Muitos dos itens são similares às dos instrumentos Impact of Events Scale (IES), Perceived Personal Control (PPC) e MICRA. O instrumento contém cinco escalas, e foi validado através de uma pesquisa com 323 participantes que responderam o questionário via Web. GBETH Newsletter 2006; volume 04 número 29