A VISÃO DE UM CIDADÃO COMUM VI
( A Importância de uma Boa Comunicação )
Nuno Melo
Tal como enunciei no primeiro texto
que publiquei nesta colaboração com
a AOFA, faço questão que aquilo que
escrevo, traduza tanto quanto
possível a opinião do cidadão
anónimo numa tentativa de criar
uma ponte entre a Sociedade Civil e
a Sociedade Militar, esbatendo se
possível as suas diferenças.
Este texto não pretende de forma alguma pôr em causa a legitimidade das
reivindicações apresentadas pelas três Associações Militares - as reivindicações
são mais que legítimas e justas e enquanto cidadão têm o meu apoio
incondicional, pretende sim alertar que a comunicação das Associações carece
de algum melhoramento.
A semana que antecedeu a presente foi particularmente mediática para as
Associações Militares. Primeiro com a concentração frente ao Palácio de São
Bento convocada pela Associação Nacional de Sargentos, que permitiu que se
realizassem várias intervenções na imprensa escrita, entrevistas radiofónicas e
televisivas antes e durante a concentração. Na sexta-feira, no rescaldo do dia
anterior foram publicadas novas entrevistas e noticias. Para culminar, na sextafeira à noite o Presidente da AOFA Coronel Pereira Cracel foi o convidado do
jornalista Mário Crespo na SIC Noticias, num entrevista que gerou alguma
polémica, justificada na minha opinião, nas redes sociais.
No entanto, toda esta exposição mediática não foi aproveitada da melhor
forma. Para aqueles que como eu têm acompanhado toda a problemática que
envolve as reivindicações agora trazidas a público, os representantes das
Associações Militares estiveram muito bem nas suas declarações. Porém para o
cidadão comum e desinformado as declarações proferidas não só não geram
simpatia ou respeito pelas Forças Armadas, como também levam a população
civil a indagar se as Associações Militares não estarão somente a tentar forçar o
executivo a arranjar um regime de excepção para aqueles que servem nas
Forças Armadas.
Peço desculpa se esta afirmação choca os honrados leitores mas face a
declarações televisionadas que se limitam a falar de cortes salariais, perdas de
regalias e cortes no orçamento do sector, o povo será pouco sensível pois está
a passar pelo mesmo e existe sempre a tendência de pensar que a sua situação
pessoal é sempre pior que o dos outros e isto acaba por provocar um fosso
entre os Militares que protestam legitimamente e cobertos de razão e o Povo
que também protesta pelas mesmas razões e com a mesma legitimidade, mas
que não consegue sentir empatia pelos primeiros motivadas por falhas de
comunicação e alguma manipulação dos media.
Antes de apontar onde a comunicação falha será útil fazer um pequeno
preâmbulo histórico, onde começou o cisma entre a Sociedade Civil e a
Sociedade Castrense em Portugal. Até meados dos anos noventa do século
passado com a existência do Serviço Militar Obrigatório (SMO), os mancebos da
Nossa Nação eram obrigados por Lei a servir o País nas suas Forças Armadas
durante um período de alguns meses. O SMO tinha duas virtudes que para mim
eram inquestionáveis: a primeira era a formação pessoal e cívica dada aos
jovens, que os acompanhava ao longo da vida e, a segunda era o de
estabelecer um laço afectivo e de respeito entre civis e militares, dado que em
todos os agregados familiares, existia pelo menos um elemento que tinha
servido nas Forças Armadas. O SMO fazia com que na Sociedade Portuguesa os
Militares fossem indissociáveis da restante população. Claro que esta simbiose
não servia aos interesses neoliberais, aqueles que hoje vendem a Pátria, e
optou-se por abolir o SMO. E como se isso não bastasse, para aprofundar mais
o fosso criado e ostracizar ainda mais a Instituição Militar e os Militares na
sociedade Portuguesa, os órgãos de comunicação social instrumentalizados por
interesses sinistros começam a veicular a ideia que as FA são um sorvedouro de
dinheiros públicos, sem um retorno para o País e neste momento já dizem que
são insustentáveis... no futuro dirão que desnecessárias como já se começa a
insinuar!
Voltando à questão da comunicação nos dias que correm não basta que a
mensagem a transmitir seja legítima de conteúdo, tem que ser bem
formalizada. Ou seja, é tão importante a forma da mensagem como o seu
conteúdo. Não ponho, nem nunca poderia pôr em causa a legitimidade e
justeza das reivindicações das Associações Militares (que apoio
incondicionalmente) mas, para que não possam ser mal percepcionadas pelo
povo ou deturpadas por terceiros, é importante que sejam enquadradas num
discurso onde se fale sobre a inconstitucionalidade de muitas das medidas que
este governo está a tomar, sobre a perda de soberania, sobre o défice
democrático que existe no nosso país, sobre as medidas erradas que estão a
ser tomadas e que irão levar a uma ruptura financeira e social igual à Grécia.
Poderão alguns afirmar que as associações não devem fazer política. Mas
estarão errados, devem fazer política, política no sentido Nacional e colectivo,
evitando um discurso que possa ser confundido com o de sindicalista sectário.
Pelas entrevistas e comunicados que tenho lido e ouvido na Rádio, os dirigentes
associativos têm uma visão semelhante à defendida neste artigo nos seus
discursos, e fazem-na de uma forma leal, eloquente, honrada e com rectidão.
No entanto, dada a forma como os discursos são construídos e por vezes
verbalizados, são facilmente alvos de um “copy-paste” na montagem das peças
televisivas que deturpam a mensagem aos olhos do cidadão civil, gerando
pouca empatia e um sentimento de orfandade em relação às Forças Armadas.
Importa também fazer uma breve incursão nas entrevistas televisivas, estas
terão que ser melhor preparadas a nível de discurso, antecipando as respostas
a perguntas que envolvam questões mais polémicas. Devem os entrevistados
conduzir a entrevista evitando desta forma que a mesma possa ser
encaminhada para uma qualquer armadilha que prejudique a Causa das
Associações.
Além da forma da comunicação, seria também útil desmontar a ideia que os
Militares nada fazem em prol da população. A meu ver a melhor forma de
conseguir isto será a divulgação das actividades em prol da população através
de publicidade paga se necessário. É claro que a divulgação destas actividades
competirá ao MDN, mas dado o desinteresse deste em o fazer devem as
Associações avançar em defesa da Instituição Militar.
Neste momento negro da nossa História colectiva os Portugueses (Militares e
Civis) têm de estar mais unidos que nunca, contra um inimigo comum que
ameaça esta Nação quase milenar pondo a nossa Soberania em causa. Não
podemos continuar a pôr esta união que é crucial para a nossa sobrevivência
colectiva em risco, por erros de comunicação.
Para terminar e de forma a ilustrar a percepção que uma parte da população
tem à cerca destas matérias termino este texto com o feedback que uma Amiga
me deu depois de lhe ter pedido uma opinião crítica sobre a validade deste
artigo aos olhos da população em geral antes de enviar para publicação.
“Olá Bom dia amigo!
Enquanto cidadã civil, se é que é legitimo enquadrar-me desta maneira (por
oposição aos militares) achei o artigo muito pertinente. Isto porque tenho
estado atenta, muito pela tua intervenção, aos meandros do que se tem dito e
escrito sobre os militares nestes últimos dias (incluindo a desastrosa entrevista
do Crespo). Ainda ontem revi a entrevista do Aguiar Branco onde dizia que não
sentia qualquer tipo de convulsão nas forças militares, mas dando mais ênfase
à questão das reivindicações dos mesmos, e menos à questão de soberania do
País. E aí residam as minhas questões….ou seja, estão os militares a reivindicar
por via de questões que se prendem apenas com a questão
remuneratória/carreira, ou é algo mais abrangente e que engloba o seu papel
cívico enquanto cidadãos e o que juraram defender?? Não sei como é que o
artigo vai ser recebido na esfera onde se contextualiza, mas para mim, leiga
que sou nessas andanças vem de encontro às minhas dúvidas.”
Um abraço e até para a semana,
N. Melo
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