CLÁUDIA REGINA TELLES/ DIVULGAÇÃO QUINTA-FEIRA, 17 DE FEVEREIRO DE 2011 A arte da cerâmica Artista plástico Silvestre João de Souza Júnior participa de exposição coletiva em Itajaí RUCA SOUZA mão dos artistas, pois quando estão ainda no ateliê, são só objetos. [email protected] T udo começou na doutrina católica. As freiras contavam que Jesus fazia bichinhos de barro e, ao assoprar, dava vida às esculturas. Com seis anos, o artista plástico Silvestre João de Souza Júnior usava o barro para também fazer bichinhos. Na sua imaginação de criança, ele queria dar vida às sua obras. Mas a arte ficou por muito tempo só nas lembranças infantis. Souza se formou em Direito e atuou por dois anos na profissão. Somente aos 30, notou que aquilo não era nada do que queria para a vida. Começou a investir em estudos artísticos e partiu para a Argentina. Lá, o artista, que a partir de hoje expõe na Galeria de Artes de Itajaí, conheceu o udu, um instrumento aerófono, feito em cerâmica, que vibra apenas com a passagem de ar, sem a necessidade de outros acessórios. – Ele é original da Nigéria e antigamente era um utensílio usado para carregar água. Batucando no instrumento, o povo de lá descobriu que o utensílio produzia som. Levei dois anos para conseguir a sonoridade perfeita – conta Souza. Seu espírito viajante se explica na busca pelo conhecimento. Ele tem apreço por saber tudo sobre o instrumento; ir direto à fonte para aprender a técnica e a história de sua origem. Outra viagem internacional do ceramista trouxe da Índia mais um instrumento aerófono, o gathan. Silvestre foi ao país e por lá ficou durante dois anos. Descobriu como fazer o instrumento e também sua história: ele era Silvestre investe em cerâmica alquímica Além de criar instrumentos, Silvestre desenha, pinta e faz esculturas. As reminiscências de infância são representadas em quadros com imagens de festas tradicionais da cidade natal, Itajaí. Há também painéis espalhados na cidade em que nasceu e em Blumenau. A cerâmica alquímica, técnica árabe rara, passada de boca a boca há mil anos, é outro foco da atual produção. Segundo Souza, quando se conhece como a cerâmica é feita, descobre-se o quanto ela é uma ciência que necessita de tempo e muito conhecimento. – Os árabes, na Idade Média, esmaltavam o cobre. Ficava tão dourado que os europeus achavam que era ouro. Hoje, com 60 anos, Silvestre divide sua arte com a companheira, Cláudia Regina Telles. Ele atribui à ela o impulso para a criação, dizendo que hoje ela é praticamente sua alma. Serviço originalmente feito para guardar serpentes. Hoje, a música dá a vida que ele sempre desejou para sua arte. Os instrumentos feitos por Silvestre João levam a marca Vozes do Barro e são procurados por músicos de todo o Brasil. O percussionista Naná Vasconcelos, nacionalmente reconhecido, já teve em seu show um udu de Silvestre. Os instrumentos demoram de um dia a uma semana para ficarem prontos e, segundo o artista, logo são vendi- dos. Eles custam entre R$ 30 a R$ 200. – Só entrego o instrumento quando ele alcança a sonoridade perfeita – diz. E não é só Silvestre que viaja por aí. Seus instrumentos, também. Segundo o artista, já aconteceu de ligar a TV e ver personalidades do Rio ou de São Paulo com suas obras. – Os instrumentos viajam para onde não se sabe. E esse é meu grande prazer: ver meus instrumentos ganhando vida na Viver e Morrer em Itajaí - Galeria Municipal de Artes, Rua Lauro Müller, 53, Centro, Itajaí. Obras de Silvestre João de Souza Júnior, Cláudia Regina Telles, Coletivo Terceira Margem, Lilian Martins, Roberto Bocchino, Rudi Scaranto Dazzi, e Sociedade dos Pintores do Ângulo Insólito da Foz do Rio Itajaí-Açu. Visitação: hoje e amanhã, 7h30 às 13h30. A partir do dia 21, seg a sex, 8h às 12h e 14h às 20h, até dia 31 de março. Abertura hoje, 20h.