UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - UFCG UNIDADE ACADÊMICA DE LETRAS - UAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUAGEM E ENSINO - PÓSLE ENSINAR PORTUGUÊS É UM TRABALHO: UMA VISÃO ERGONÔMICA DA ATUAÇÃO DE PROFESSORES Thaís Nascimento Santana Santos Campina Grande, maio de 2011. Thaís Nascimento Santana Santos ENSINAR PORTUGUÊS É UM TRABALHO: UMA VISÃO ERGONÔMICA DA ATUAÇÃO DE PROFESSORES Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Linguagem e Ensino, da Universidade Federal de Campina Grande, como pré-requisito para obtenção do grau de mestre, na área de concentração “Ensino – aprendizagem de Língua e Literatura”. Orientador: Prof. Dr. Edmilson Luiz Rafael. 2011 FOLHA DE APROVAÇÃO Prof. Dr. Edmilson Luiz Rafael (Orientador - UFCG) Profª Drª Elizabeth Marcuschi (Examinadora Externa - UFPE) Profª Drª Denise Lino de Araújo (Examinadora - UFCG) Profª Dr. Marco Antonio M. Costa (Suplente - UFCG) Dedico este trabalho àquele que foi obrigado, sem consultas prévias, a viver este projeto comigo, e para isto, precisou ficar longe de seu papai, sua escolinha, sua pracinha e mudar toda sua amada rotina: Thales Dilon, meu grande amor! “Filho, é para você que a mamãe dedica este trabalho, porque se eu viesse sem você, não teria suportado a distância, a saudade,...” AGRADECIMENTOS Aos meus professores durante o Mestrado Profª Denise Lino, pelo acompanhamento e contribuições tão pertinentes nas aulas, na qualificação e na defesa, uma “co-orientadora” para todos da turma de 2009; Profª Maria Auxiliadora Bezerra, pela força, incentivo e pelas valiosas discussões nas aulas; Profª Williany Miranda, além dos saberes acadêmicos, ensina a lidar com a vida; Profª Rossana Delmar Arcoverde, pelas “interações” e pelo carinho; Profº Marco Antonio, pelas valiosas contribuições na qualificação, fizeram a diferença no texto. A outros Professores do POSLE Profa. Maria Marta Nóbrega, Profª Maria Augusta Reinaldo, Profº José Helder Pinheiro, Profª Maria Angélica Oliveira, ProfºAloísio de Medeiros Dantas. Ao meu orientador, Profº Edmilson Luiz Rafael, Que me guiou com tanta segurança nessa trajetória de formação e pelas vezes em que “pegou na minha mão”, me ensinou e ainda me fez acreditar que daria certo. Obrigada, professor!! Aos colegas da turma de 2009, que se tornaram amigos e por terem dispensado imenso carinho a “amiga baiana”, muito obrigada pelas aprendizagens partilhadas. Luciana Nery, pela cumplicidade, amizade, carinho, atenção. Obrigada “Lu”; Alcione Santos, pela atenção desde o primeiro dia; Alixandra Guedes, pela amizade e carinho; Bruno Alves e Carolina Nicácia, por aguentar meu jeito espaçoso, Danielle Núbia, pelo imenso carinho; Patrício Albuquerque, pelas maluquices compartilhadas, grande amizade; Carla Jeane, Dalvinha, Valéria e Sibéria, “meninas das línguas”, mais pareciam da nossa turma (Língua Materna) do que da turma de Língua Estrangeira. À Universidade do Estado da Bahia – UNEB Por ter me proporcionado esse tempo de formação; E à PPG, pela concessão da Bolsa PAC - Programa de Apoio a Capacitação Docente/Técnica. Aos colegas e amigos do DCH – IV da UNEB; À Profª Ione Jatobá e ao Profº José Carlos pela atenção; Sheila Catiúscia, Cáthia Souza e Carmem Carvalho, pela disponibilidade em ajudar sempre. Ao Colegiado de Letras e aos colegas-amigos Profº Antenor R. Gomes, Profª Girleide Ribeiro, Profª Jane Adriana, Profª Patrícia Vilela,ProfªMaria Iraídes, Profº Tadeu Luciano,Profº Rodrigo Reis, Profº Roberto Bueno, Profº José Carlos Félix, Profª Graciélia Novaes, Profª Ana Lúcia Gomes, Profª Graça Cavichiolli e Profª Celeste Freitas: Vocês foram e são: alguns meus professores, outros, colegas de graduação e especialização. O que têm em comum? Todos são amigos, nos quais enxergo grande apoio e credibilidade. AGRADECIMENTOS ESPECIAIS A DEUS, por realizar meus sonhos antes que eu mesma os tenha. Aos meus pais, início de tudo para mim, apoio incondicional às minhas escolhas, Dona Lourdes, mulher forte e corajosa, Sr. Pedro, amor e paciência, sempre acreditaram em mim mais que eu mesma. Ao meu esposo, Alexandre, pelo apoio e desprendimento, por ter aceitado ficar longe da mãe, esposa e filho para que eu pudesse realizar este projeto. Por ter viajado tantas vezes ao nosso encontro, sem hesitar, nem medir esforços físicos e financeiros. Pelos incentivos desde antes do curso. Obrigada, meu amor! Às minhas avós, lindas mulheres, que em seu tempo e do seu jeito souberam dar amor e exemplo de muita garra. À minha querida sogra, que mais parece uma mãe, D. Maria, pela atenção dedicada a Thales Dilon e a mim nessa trajetória, pelo apoio e pela coragem de deixar sua casa, sua rotina, para nos acompanhar durante um ano e meio aqui em Campina Grande, e mais, por assumir minhas vontades como suas e me ajudar a realizar cada uma delas. À minha irmã, Ilca Sinara, que do seu jeito tímido não mede esforços para me ajudar com Thales. Ao meu cunhado querido, Paulo Fernando, um “Gigante” amigo! Sr. Marcos, por ter sido e ainda é, um anjo da guarda em Campina Grande. D. Dilma, pelo carinho dispensado a Thales Dilon, a D. Maria e a mim, pelo esforço em fazer com que nos sentíssemos em casa, aqui em Campina Grande. Às amigas Paraibanas, que não hesitaram desde o início em caminhar comigo, principalmente depois que voltei para a Bahia, Elizabeth, Luciana e Carla, ainda não consegui imaginar minha trajetória sem o apoio de vocês, amigas-irmãs. Elizabeth (novamente) e Rinaldo, pela hospedagem sempre, por deixarem uma baiana se espalhar em sua casa. Obrigada! Aos amigos de sempre, Tio Reis e Geysa Suely, obrigada pela amizade, pela proteção e pela confiança. Aos compadres, Alex e Iara, Daniel e Milena, um carinho contínuo e apoio constante, antes e muito mais que compadres, AMIGOS! Às minhas amigas de sempre, em todas as horas, perto ou longe: Maristela (Maul) e Sidnei (Ney). Às amigas de todas as horas, de todos os momentos, pessoalmente, via e-mail, via msn, via facebook, telefone, enfim... Obrigada, Valéria Rios (Val), Conceição (Ceiça), Lenícia (Lenis) e Aline Novaes, vocês foram a minha força no momento em que eu já não a enxergava. Ao querido primo-irmão Pe. José Elton e ao grande amigo Pe. João Zacarias, pela amizade, carinho, sobretudo pelas orações. Não, o ensino não é um sacerdócio, mas um verdadeiro trabalho: não, os professores não são “iluminados”, dotados de um hipotético “dom”, ao contrário, são trabalhadores que têm, como outros, de aprender seu “métier”, de adquirir experiência sobre ele e, assim, tornarem-se profissionais cada vez mais. Jean-Paul Bronckart (2009) RESUMO Este trabalho apresenta resultados de uma pesquisa cujo objetivo central é investigar a prática do professor para comparar e refletir sobre a relação entre o trabalho prescrito, planificado e realizado durante as ações docentes no planejamento e na execução de aulas de português, tendo o texto como objeto de ensino. Nos pressupostos teóricos, para discutir “sobre o trabalho docente”, nos apoiamos nas discussões sobre: a ação reflexiva do professor (PERRENOUD, 2002), a análise das diversas abordagens das pesquisas sobre o trabalho docente (SAUJAT, 2004), os saberes e a abordagem ecológica do trabalho do professor (TARDIF, 2002 e BORGES, 2004); a dimensão da relação prescrito/planificado/real nos contextos educacionais (MACHADO, 2004; AMIGUES, 2004), o planejamento didático (ROJO, 2001). Na segunda parte deste capítulo teórico, “sobre o ensino de língua” recorremos às concepções de língua e linguagem (TRAVAGLIA, 1997; COSTA VAL, 2002), aos conceitos de gênero textual e texto (MAINGUENEAU, 2006; MARCUSCHI, 2008) e à discussão sobre objetivos e objetos de ensino (ROJO, 2004; MARCUSCHI, op. cit.; ZANINI, 2009). Quanto à geração dos dados, se deu através da observação participante, nos planejamentos e nas aulas, caracterizando-se como uma pesquisa qualitativa de caráter interpretativista. Na primeira fase da geração de dados, a pesquisadora propôs (e gravou) três sessões de planejamento, nas quais três professoras (sujeitos da pesquisa) de uma escola pública municipal do interior da Bahia planificaram as aulas destinadas ao 3º bimestre letivo do ano de 2009. Na segunda fase, gravamos as aulas realizadas pelas docentes para aplicarem os projetos didáticos planejados anteriormente. Nessas sessões, as professoras escolheram o projeto didático como modalidade organizativa do planejamento (também considerado um gênero textual) e um gênero textual para o ensino de texto no Ensino Fundamental, especificamente, 6ª, 7ª e 8ª séries. Assim, nossos dados são compostos pelas transcrições das sessões de planejamento, pelos projetos didáticos (planos) e pelas transcrições das aulas. Os resultados mostram que, do que é prescrito e planificado para o trabalho com texto, as docentes enfatizaram a leitura e a produção de textos, e na realização das aulas a ênfase está nas aulas de leitura, sendo as atividades de produção de texto propostas como consequência das aulas de leitura. Ao mesmo tempo, evidenciam que as ações docentes, tanto nos planejamentos quanto nas aulas, com propósito de atingir seus objetivos de ensino se valem de alguns dos objetos constitutivos da atividade, neste caso, os “coletivos”, as “ferramentas” e as “tarefas”. Palavras-chave: Planejamento. Aula. Trabalho docente. Relação prescrito/real. ABSTRACT This worksheet presents results of a study whose main objective is to investigate the performance of three teachers out during the teachers' actions in planning and accomplishment lessons in Portuguese, taking the text as object education. As theorists presupposed, we rely on in the two axes: (1) about “teaching work”, we search specifically the ideas of reflective action of the teacher (PERRENOUD, 2002) and of knowledge, discussed under and ecological approach the teacher's work (TARDIF, 2002; AMIGUES, 2004); (2) about the teaching of language, we stand out the ideas on this subject that are prescribed in theoretical studies arising from Linguistics and Applied Linguistics (TRAVAGLIA, 1997; COSTA VAL, 2002; MAINGUENEAU, 2006; MARCUSCHI, 2008; ROJO, 2004, among others). Concerning the generation of data was based on participant observation, in planning and in the classroom, which is characterized as a search qualitative interpretivist character. In the first phase of data generation, the researcher proposed (and recorded) three planning sessions, in which three teachers (search’s subjects) from a municipal public school in the interior of Bahia planned their lessons for the 3rd bimester of school year 2009. In the second phase, we recorded the classes realized by teaching, relating to educational projects planned earlier. So, the data are compound of transcripts of planning sessions, by didactic projects (planes) and of transcripts of lessons. The results show that, from what is prescribed and planned to work with text, the teaching emphasized reading and text production, and in the accomplishment of the classes the emphasis is on reading classes, and activities of text production proposals as consequence of reading classes. At the same time, it become evident that teachers' actions, as in planning as lessons with the purpose of reaching its objectives of education is worth some of the objects constitutive of the activity, in this case, the "collectives", the "tools" and the " tasks. Keywords: Language Teaching. Teaching work. Relation prescribed/real. LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Perfil profissional dos sujeitos 44 Quadro 2 – Calendário das sessões de planejamento 46 Quadro 3 – 1ª Sessão de planejamento 49 Quadro 4 – 2ª Sessão de planejamento 50 Quadro 5 – 3ª Sessão de planejamento 50 Quadro 6 – Projeto 1 – Poesia – Profª P1 52 Quadro 7 – Projeto 2 – Jornal na Escola - Profª P2 53 Quadro 8 – Projeto 3 – Quadrinhos na escola – Profª P3 54 Quadro 9 – Quantidade de aulas gravadas 56 Quadro 10 – Aulas – Projeto 1 – Profª P1 57 Quadro 11 – Aulas – Projeto 2 – Profª P2 58 Quadro 12 – Aulas – Projeto 3 – Profª P3 59 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 10 1. O TRABALHO DOCENTE NO ENSINO DE LÍNGUA: O QUE SE PRESCREVE? 14 1.1 Sobre o trabalho docente 15 1.2 Sobre o ensino de língua 28 2. METODOLOGIA DA PESQUISA 37 2.1 Definindo o tipo de pesquisa 37 2.2 O contexto escolar e os sujeitos 39 2.2.1 Os sujeitos 43 2.3 Fases da geração de dados 2.3.1 Etapa 1: Sessões de Planejamento e Projetos Didáticos 46 2.3.2 Etapa 2: As aulas 55 3. O TRABALHO DOCENTE NO ENSINO DE LíNGUA: O QUE SE PLANIFICA? O QUE SE REALIZA? 61 3.1 Os objetivos de ensino 63 3.2 Escolha do objeto de ensino 67 3.3 As atividades de ensino 73 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 80 5. REFERÊNCIAS 83 ANEXOS 86 Anexo 1 - 87 Anexo 2 - 91 Anexo 3 - 96 Anexo 4 - 100 10 INTRODUÇÃO O fazer do professor é um objeto de estudo que tem se tornado cada vez mais investigado, seja para refletir sobre as práticas docentes, seja para entender processos inerentes ao ensino e a aprendizagem dos alunos. Muitas pesquisas focalizam a prática docente no momento da aula, outras, em sua prática no planejamento. Este trabalho, porém, se interessa em analisar as ações docentes nas duas situações formativas, com vistas a desenvolver um estudo que confronte o que foi planejado com o que foi executado a partir do planejamento, considerando esse processo como um trabalho específico desse profissional, organizado por ações e atividades também específicas, orientadas por parâmetros ou diretrizes de origem teórica ou metodológica, pensamentos coletivos e regras do ofício, conforme defende a abordagem ergonômica sobre esse tipo de trabalho (veremos adiante). A respeito da contextualização do nosso interesse pelo(s) objeto(s) supracitado, duas situações foram decisivas: (1) A primeira foram as aulas dos componentes curriculares Estágio III e Estágio IV do curso de Letras da Universidade Estadual da Bahia, no Departamento de Ciências Humanas – Campus IV – Jacobina. Esses componentes são propostos pelo currículo nos últimos semestres do curso como um meio de viabilizar a experiência e a reflexão da prática do professor de português dentro da formação inicial. Assim, como professora de Estágio, precisava orientar os alunos nesta etapa do curso de Letras e percebi a necessidade de pensarmos sobre a relação planejamento/aula. (2) A segunda surgiu a partir da execução de um curso de extensão universitária, nesta mesma universidade, destinado a alunos do curso de Letras e professores das redes municipal e estadual. Foi proposto que se discutissem questões teóricas e práticas do ensino de Língua Portuguesa, no qual os conteúdos deste curso estavam relacionados aos conceitos de língua, linguagem e texto e ao planejamento de sequências didáticas para aulas de português. 11 Percebemos que tanto nas aulas de estágio quanto no desenrolar do curso de extensão, o planejamento, independente da modalidade organizativa escolhida (plano diário, projeto, sequência didática), não garantia que as aulas se efetivassem da mesma forma como haviam sido pensadas e organizadas nos planos. Os motivos poderiam ser diversos e de ordens diferentes, por isso as ações do professor, no planejamento e na aula, se constituíram situações passíveis de reflexão para entendermos o que está subjacente nestas tarefas inerentes à atividade docente. Propusemo-nos, então, a investigar a prática do professor, no planejamento e na execução de suas aulas para comparar e refletir sobre suas ações a partir da relação prescrito/planificado/realizado no ensino de Língua Portuguesa. E para nortear a investigação, a questão a ser respondida é: o que é planificado e o que é realizado, pelo professor, para o ensino de texto em aulas de Português? Tendo isso em vista, os objetivos a serem alcançados foram: a) Identificar, a partir dos objetivos de ensino, do objeto de ensino e das atividades expostos no trabalho de planejamento das aulas, o tratamento para “texto” como objeto de ensino; b) Identificar e comparar o tratamento do “texto” como objeto de ensino no trabalho de realização das aulas, a partir das mesmas categorias expostas em a). Estes objetivos nos levam a descrever, comparar e refletir sobre as ações docentes evidenciadas nos dados que foram gerados nas sessões de planejamento e realização das aulas. Acompanhamos e gravamos os dois momentos de atuação de três docentes (como os descrevemos no Capítulo II – Metodologia da pesquisa) que atuam como professoras de Português em uma escola pública municipal do interior da Bahia e vimos que, as aulas foram planificadas e realizadas a partir do que os professores entendiam sobre o trabalho com texto em sala de aula. 12 A partir disso, lançamos mão das discussões sobre o que está prescrito para o trabalho docente no ensino de língua, pois entendemos que a prescrição é estabelecida pela teoria e pelos documentos oficiais (neste trabalho, os Parâmetros Curriculares Nacionais, doravante PCN), que pretendem instrumentalizar o professor para seu trabalho; e a planificação e realização das aulas são ações do professor pretendendo atingir os objetivos da prescrição (MACHADO, 2009). Essa discussão foi conduzida a partir de dois eixos – o trabalho docente e o ensino de língua – para dar suporte às análises dos dados que tem como categorias os objetivos do ensino de língua, o objeto de ensino e as atividades de ensino, todas elas sendo analisadas a partir do que entendemos sobre o trabalho docente. Como breve esclarecimento, o trabalho docente, aqui, está sendo entendido a partir das contribuições da formação do professor reflexivo (PERRENOUD, 2002), por acreditarmos que as ações docentes no planejamento e nas aulas são, também, fruto da formação profissional, a partir da abordagem ecológica (TARDIF, 2002; BORGES, 2004), que considera o trabalho do professor diferente de outros trabalhos, como por exemplo, o trabalho do industrial, e, também, a partir das contribuições do ensino como trabalho, via abordagem ergonômica, (SAUJAT, 2004; AMIGUES, 2004; MACHADO, op. cit.) com vistas ao entendimento da prescrição/planificação/realização do ensino. Também faz parte do direcionamento teórico, o que se entende como prescrição para o ensino de língua (TRAVAGLIA, 1997; COSTA VAL, 2002; MARCUSCHI, 2008), este segundo eixo é essencial para as nossas constatações na análise dos dados, porque é através dos seus pressupostos que discutimos e esclarecemos o que se tem como prescrição para o ensino de língua com foco no texto. Some-se a isso, os conceitos de gênero textual e texto (MAINGUENEAU, 2008; MARCUSCHI, op. cit.), pois as professoras (sujeitos desta pesquisa) adotam o gênero textual/ texto como objeto de ensino das aulas de Língua Portuguesa. 13 Organização da dissertação Na Introdução, apresentamos o contexto desta pesquisa, as questões de investigação, os objetivos geral e específicos e alguns aspectos gerais que fazem parte do texto desta dissertação. No Capítulo 1, “O trabalho docente no ensino de Língua: o que se prescreve?” discutimos os pressupostos teóricos que fundamentam esta pesquisa, neste, trazemos para discussão as reflexões acerca do trabalho docente e do ensino de língua, como já falamos nesta primeira parte, nos apoiamos em Travaglia (1997), Costa Val (2002) Perrenoud (2002), Tardif (2002), Borges (2004), Saujat (2004) Amigues (2004), Maingueneau (2006) Marcuschi (2008), Machado (2009) e Zanini (2009). No Capítulo 2, “Metodologia da pesquisa”, explicitamos os aspectos relacionados à metodologia. Começamos definindo a natureza da pesquisa a partir de Bogdan e Bklen (1994), Moita Lopes (2006), Bortoni-Ricardo (2008), Moreira e Caleffe (2008). Em seguida, apresentamos a caracterização do local e dos sujeitos. Por último, descrevemos as duas etapas da geração de dados: (1) as sessões de planejamento e os projetos didáticos e (2) a realização das aulas. No Capítulo 3, “O trabalho docente no ensino de língua: o que se planifica? O que se realiza?”, apresentamos a análise dos dados norteados pelas categorias de análise e buscando responder às questões de pesquisa à luz dos pressupostos teóricos discutidos no capítulo 1. E, por fim, nas Considerações Finais, apresentamos os resultados e expomos algumas reflexões decorrentes da pesquisa e do tratamento dos dados a respeito do tema enfocado nesse trabalho: qual seja, a construção do trabalho docente no ensino de língua. 14 1. O TRABALHO DOCENTE NO ENSINO DE LÍNGUA: O QUE SE PRESCREVE? O título deste capítulo sugere pensar sobre as pesquisas atuais acerca da formação do professor e suas implicações para o ensino de língua portuguesa, considerando o que se prescreve como orientações acadêmicas e oficiais para esse ensino. O que estamos denominando como “orientações” recobre os conhecimentos e reflexões produzidas pelas instâncias formadoras (da produção do conhecimento científico sobre linguagem/língua às formações inicial e continuada). A presença desses dois objetos de estudo - formação de professor e ensino de língua – como específicos da Educação, da Linguística e da Linguística Aplicada, se justifica por termos como objetivos desta pesquisa a descrição e a análise de atividades eminentemente docentes, uma vez que observamos o que é prescrito/planificado e o que é realizado na aula de português. Some-se a isso o fato de as questões elaboradas para esta investigação direcionarem as escolhas teóricas que fizemos. Considerando que a pesquisa desenvolvida observava professores em atuação, desde o planejar até o executar, compreendemos as ações por nós realizadas como ações de formação. Daí, portanto, ser necessário apresentar um posicionamento teórico sobre “formação de professor”, como veremos adiante. Nesta direção, consideramos, nesta pesquisa, que os pressupostos teóricos aqui expostos contribuem para a explicação dos fatos detectados em nossos dados, o que nos conduz a tomar como categorias de análise os objetivos, o objeto e as atividades de ensino, prescritos na planificação e realizados nas aulas. Tendo isso em vista, este capítulo está organizado em duas partes que contemplam reflexões teóricas sobre a formação e o trabalho docente e sobre as concepções teóricas de “texto” e de “gênero textual” como objetos de ensino, por entendermos que aquilo que se apresenta como realização em sala de aula não apenas 15 produto de um trabalho, mas também reflexo de prescrições acadêmicas e oficiais sobre um determinado objeto. 1.1. Sobre o trabalho docente Para tratamento do objeto teórico “trabalho docente”, em função dos objetivos dessa pesquisa, decidimos por uma exposição que contemplasse, inicialmente, o entendimento do que se considera teoricamente como “formação de professor” (PERRENOUD, 2002), uma vez que se espera serem as ações de planejar e de executar resultados da formação. Em um segundo momento, apresentamos as perspectivas de análise do trabalho docente, conforme histórico apresentado por Saujat (2004). Isso nos possibilitará, além de conhecer as possibilidades de análise, indicar as abordagens ecológica (TARDIF, 2002 e BORGES, 2004) e ergonômica (AMIGUES, 2004 e MACHADO, 2009) como sendo as que focam os saberes (TARDIF, op. cit.) que são mobilizados na formação e na atuação do professor e as noções de prescrição, planificação e realização (AMIGUES, op. cit.) do trabalho docente. Considerando que nesta pesquisa a geração de dados aconteceu no planejamento e na aula, entendemos que estes momentos exigem do professor ações de formação e embora não tenhamos reservado um espaço posterior às aulas para a reflexão do que foi planejado e do que foi realizado, essas etapas foram propostas tomando o paradigma reflexivo da formação de professores como parâmetro para esta pesquisa-ação, ou seja, para as ações da pesquisadora, que assumiu o papel de formadora, e das docentes, que retomavam suas práticas e seus saberes para encaminhar as futuras aulas. Sabendo que a formação reflexiva prevê a construção e reconstrução de conhecimentos através da atividade pensada, também, por seus atores - formador e professor – num processo de auto-formação, de reelaboração dos saberes iniciais em 16 confronto com sua prática vivenciada, seus saberes vão se construindo a partir de uma reflexão na e sobre a prática. Como é próprio das ciências humanas, esta prática está recheada de imprevisões, porém o professor reflexivo se sente autônomo, capaz de tomar decisões e ter opiniões, inclusive para solucionar problemas próprios da docência, pois, como afirma Nóvoa (1997), existem situações conflitantes que se o professor for um profissional com auto-desenvolvimento reflexivo terá condições de enfrentá-los e resolvêlos. Sendo a reflexão tão importante para o professor, é nas formações que se procura desenvolver esta competência, seja na inicial ou na continuada, pretende-se que o sujeito crie condições de pensar na sua atuação. Assim, a formação inicial e a continuada são ao mesmo tempo diferentes e complementares, diferentes porque na inicial os sujeitos nem sempre têm a prática de longos anos de serviço para se alimentar e complementar porque as aprendizagens da formação inicial se fundem com a experiência e com novos saberes da formação continuada para produzir importantes momentos de reflexão. Sobre isso, Perrenoud (2002), afirma que A formação inicial destina-se a seres híbridos, estudantes-estagiários que se tornarão profissionais. Ela deve formá-los para uma prática que, na melhor das hipóteses, está nascendo ou foi sonhada. A formação contínua, por outro lado, trabalha com professores que estão exercendo sua função, que têm anos e mesmo décadas de experiência. Portanto, poderíamos imaginar que a formação reflexiva encontraria um terreno priveligiado entre eles; no entanto, isto é ao mesmo tempo verdadeiro e falso. (PERRENOUD, 2002, pp. 20 e 21) Essa, talvez, seja mais uma advertência que uma afirmação, uma vez que valoriza a prática docente esclarecendo que o uso dessa experiência pode não ser considerada se a formação continuada tiver o intuito de compensar as falhas da formação inicial, apenas acrescentando o que supostamente não foi bem trabalhado ou desenvolvido. Desta forma, a prática reflexiva se tornaria falha, uma vez que deixaria de lado o que o professor já faz, ao invés de tomá-lo como ponto de partida para a reflexão e planejamento de novas ações do ensino propondo que o professor exerça o real papel de 17 “prático-reflexivo”. Assim, entendemos que “para formar um profissional reflexivo deve-se, acima de tudo, formar um profissional capaz de dominar sua própria evolução, construindo competências e saberes novos ou mais profundos a partir de suas aquisições e de sua experiência” (PERRENOUD, 2002, p. 24). Desse modo, as professoras – sujeitos da pesquisa – pensaram em ações já realizadas para refletir acerca das ações futuras. Esse tipo de atividade pode, então, ser considerada como formação continuada, sendo a prática uma das fontes principais de alimentação para este processo formativo. Por isso, adotamos este pressuposto como base que possibilitasse o planejamento e a realização das aulas, e que estas ações acontecessem, reflexivamente, ancoradas nos conhecimentos teóricos e práticos do professor, pois, “parece importante reconhecer que o professor, para construir a sua profissionalidade, precisa recorrer a saberes da prática e da teoria. A prática cada vez mais vem sendo valorizada como um espaço de construção de saberes, quer na formação dos professores, quer na aprendizagem dos alunos. Ela é fonte de sabedoria e torna a experiência um ponto de reflexão (CUNHA, 2001, p 84). Enfim, a formação de professores, de acordo com o paradigma que tomamos como referência deve ser entendida como ações que tem o intuito de formar os docentes para sua prática como profissional da educação, sendo crítico e que possa perceber as necessidades do seu aluno, adaptando currículos, conteúdos e métodos a contextos e cenários que atendam seus objetivos (objetivos do aluno e do professor). Uma vez caracterizadas as ações desenvolvidas nessa pesquisa como ações formativas, passemos a expor a perspectiva a ser adotada nesse estudo sobre o “trabalho docente”. Segundo Saujat (2004), pode-se considerar três perspectivas de análise do trabalho docente, quais sejam a dos Estudos Processo-produto, a do Paradigma do Pensamento dos Professores e a da Ecologia dos Processos Interativos. Na primeira, observa-se o ensino que é veiculado pelos professores e o que os alunos aprendem com este ensino, respectivamente denominados processo e produto. Analisa-se o primeiro 18 através do resultado da aprendizagem dos alunos. Nessa abordagem, compreende-se que o parâmetro do ensino está na aprendizagem, e, portanto, para verificar se a prática do professor é eficaz, é preciso avaliar o que seus alunos aprenderam. Um exemplo que ilustra esta perspectiva de análise é a co-relação do que é ensinado com o que é aprendido; se o aluno não lê bem, é porque ainda não se fazem boas aulas de leitura. Por isso, para essa perspectiva, as formações de professores deveriam contribuir para que estes fossem capazes de, cada vez mais, ensinar melhor ou com mais eficácia. A segunda perspectiva, Paradigma do Pensamento dos Professores, constitui um campo vasto que abarca muitos estudos relacionados ao pensamento do professor, seja influenciado pela abordagem cognitiva, seja pela etnográfica, ou até a alimentação de outras bases como a fenomenologia, narrativa, psicanalítica, psicossocial, entre outras. E para caracterizá-la, Saujat (2004, p. 9) explicita os eixos de sua observação: (1) Os julgamentos do professor e o processo de decisão, segundo o qual, tudo que acontece na aula depende ou se faz a partir da decisão do professor; (2) A maestria no ensino, que foca a experiência do professor como sendo a base para obter dados para o tratamento da informação na sala de aula contrapondo-o ao professor novato; (3) As histórias pessoais da experiência, que procura explicar os vários componentes da experiência, se deslocando da procura da eficácia e da maestria docente; e (4) A reflexão-em-ação e o prático reflexivo, que observa a reflexão da e na ação, em determinado contexto. Em resumo, para a primeira o foco está na aprendizagem do aluno e para a segunda o foco está no “pensamento” do professor, sendo os dois tomados sem considerar, ainda, a interatividade e a significação dos sujeitos e de suas ações na aula, mas também fora dela. Esses importantes componentes da formação e da atuação do professor serão, então, contemplados pela terceira perspectiva, a da Ecologia dos Processos Interativos, representada, neste trabalho, pelos estudos desenvolvidos por Tardif (2002), tendo como principal noção teórica para nosso estudo a de “saberes 19 docentes”. Nessa perspectiva, o autor vê o professor como um sujeito constituído por diversos saberes, sendo, portanto, originários de sua formação acadêmica e profissional, classificados, inicialmente, como disciplinares, curriculares e experienciais, conforme explicaremos adiante. Discutir os saberes dos professores, a sua importância e a sua construção tem contribuído para o reconhecimento dos vários espaços formativos nos quais o docente constrói os conhecimentos que lhes são necessários para sua profissionalização. Os saberes docentes têm motivado muitas pesquisas em educação porque é importante entender os processos de construção dos conhecimentos do profissional que atua em uma área cujo foco primordial é o ensino e a aprendizagem de sujeitos que também precisam construir conhecimentos através da mediação do professor. Uma vez que, em nossa pesquisa, observamos a atuação de professores em planejamento e em aulas, acreditamos, orientados por esse postulado produzido por Tardif, segundo qual, no planejamento e na aula, constroem-se e reconstroem-se saberes docentes sobre os objetos de ensino (no caso, desta pesquisa, saberes sobre “texto” e “gêneros”). Daí, entendermos a aula como espaço que contribui para a formação do professor não apenas como lugar da prática, mas aliada a esta, um lugar para muitas reflexões. Por isso, é necessário pensar sobre os vários saberes docentes que são mobilizados durante as aulas e suas respectivas finalidades. Concordamos com Borges (2004) quando afirma que classificar esses saberes não é uma tarefa fácil porque implica estabelecer uma tipologia e isso não é simples. Mesmo afirmando ser complexo, há muitas classificações para os saberes de acordo com sua natureza e sua aplicação nas atividades docentes. Tomemos a classificação proposta por Tardif (op. cit., p. 63): 20 Como vemos, Tardif (2002) classifica os saberes docentes relacionando-os às fontes sociais de aquisição e aos modos de integração no trabalho docente através dos quais evidencia o pluralismo do “saber profissional”. Entendemos que todos os saberes demonstrados no quadro são utilizados pelos professores, uma vez que são percebidos nas suas ações docentes. Os saberes pessoais e saberes provenientes da formação escolar anterior, construídos sem intenção da formação pedagógica, também são relevantes, pois, como demonstra o quadro, não é apenas na academia ou nas formações inicial e continuada que os professores produzem os conhecimentos, assim, estes são igualmente necessários no cotidiano da sua atuação como professor. Os saberes provenientes da formação, dos programas e da própria experiência na escola estão diretamente ligados à sua formação docente, por isso, 21 geralmente, se espera que estes últimos sejam a base principal para a prática docente. Entendemos, em conformidade com Tardif (2002), que mesmo a diferença entre estes saberes estando explícita, considerando que são provenientes de fontes sociais e com modos de integração peculiares, são igualmente importantes para a prática-reflexiva. Provavelmente, retomando a questão investigada neste trabalho, nosso foco estará voltado, principalmente, para os saberes provenientes da formação, dos programas e livros didáticos e da própria experiência profissional e de como esses saberes se revelam nas escolhas feitas pelas professoras nas fases de planificação e de realização. Para o estudo dessas fases, nos apoiamos, como já dito, na abordagem ergonômica do trabalho docente (AMIGUES, 2004). Segundo essa abordagem, conforme podemos observar, o ensino (consideradas todas as suas etapas) é considerado um trabalho. Tendo em vista uma definição de “trabalho”, é necessário distinguir o trabalho do professor de outros profissionais. Para isso, tomemos a diferenciação proposta por Tardif (op. cit., pp.124-125) no quadro que segue: 22 Como se observa, Tardif (2002) diferencia o trabalho na indústria com objetos materiais e o trabalho na escola com seres humanos. É importante percebermos o quanto é diferente analisar o trabalho de um industrial e analisar o trabalho de um docente, visto que, considerando suas grandes diferenças, o autor mostra que o ser humano é o centro dos três eixos principais desta caracterização: objetivos, objetos e produtos. Entendendo a diferença entre os trabalhos expostos no quadro, sigamos com as reflexões sobre à abordagem ergonômica. Interessa-nos fazer referência, a estes estudos porque seu interesse está na análise e na compreensão da atividade de trabalho tendo em vista sua transformação. Esta perspectiva avança no sentido de produzir 23 conhecimentos relacionados ao trabalho, a atividade e a tarefa próprias do trabalho (ALVES, 2010). Adiante trataremos desses conceitos. A abordagem ergonômica, neste caso a vertente francesa, construiu dois conceitos-chave sobre o trabalho, o prescrito e o real, para se opor ao que propunha alguns ergonomistas americanos, por exemplo, o de prescrever em seus mínimos detalhes tarefas aos trabalhadores para que conseguissem maior e melhor resultado a partir do esforço de cumprir as determinações. A ergonomia francesa considerou o trabalhador como um “verdadeiro ator e não como um mero executor das prescrições” (MACHADO, 2009, p. 86). Este contexto deu abertura para que os estudos da linguagem (e também de várias outras áreas) tomassem o “trabalho prescrito” e o “trabalho real” como categorias de análise do trabalho docente, o que é o nosso caso, ao analisar os objetivos, os objetos e as atividades de ensino nas situações de prescrição/planificação e de realização. Neste trabalho estamos considerando as ações e as atividades diante do trabalho docente, por isso é importante esclarecer o conceito deste termo. Encontramos em Amigues (2004, pp. 39, 40) o conceito de atividade relacionando-a com a tarefa a ser desenvolvida e articulando com o trabalho prescrito e o trabalho real. Assim, define o autor: (...) A tarefa refere-se ao que deve ser feito e pode ser objetivamente descrita em termos de condições e de objetivo, de meios (materiais, técnicos...) utilizados pelo sujeito. A atividade corresponde ao que o sujeito faz mentalmente para realizar essa tarefa, não sendo portanto diretamente observável mas inferida a partir da ação concretamente realizada pelo sujeito. Logo, ela remete, classicamente, aos processos cognitivos, aos cálculos mentais ou estratégias a que o sujeito recorre para organizar os meios que lhe permitirão alcançar o objetivo da ação. O não observável é o que pode ser inferido a partir das ações, como a execução das atividades a que se propõe o sujeito, que precisa de um motivo para realizá-las. A respeito disso entendemos que, neste texto, o sujeito é o professor e seu trabalho o 24 ensino. E suas motivações são tanto a obrigação quanto a vontade de que seus alunos aprendam o que é ensinado em sala de aula. Amigues contextualiza a entrada da Teoria da Atividade nas análises do trabalho do professor quando diz que, (...) foi primeiro no campo da psicologia do trabalho e da ergonomia de língua francesa que a atividade passou a ter a função heurística, permitindo formular teoricamente a questão da articulação entre a tarefa e a atividade, de um lado, e a distância entre o trabalho prescrito e o trabalho real, de outro. (op. cit., p. 39) O trabalho prescrito e o trabalho real em situação de ensino são a causa principal de nos remetemos a esta teoria, pois não nos parece satisfatório entendermos o trabalho docente como meio para atingir um fim, nem defini-lo como certo ou errado. Assim, essa perspectiva tem ajudado a construir novos horizontes para a análise do exercício da profissão, seja na área da educação, seja em outras que se interessem pela análise do trabalho. Portanto, o ensino não será interpretado, aqui, como feito e não feito, no sentido de correto ou incorreto, mas como uma tarefa que está prescrita, que precisa ser planificada e realizada em sala de aula, em que o realizado servirá de dado para a análise de situações de ensino, servindo de indícios para entendermos as questões as quais nos propomos a responder. A respeito das pesquisas que assumem essa perspectiva de análise, aqui no Brasil, podemos citar o grupo ALTER, sediado na PUC-SP e coordenado pela Professora Drª Ana Rachel Machado. Os pesquisadores desse grupo, junto com seus colaboradores, têm contribuído para a construção dos pressupostos teórico-metodológicos de análise do trabalho do professor no uso da linguagem em situações de ensino. Tendo como ponto de vista o trabalho do professor, nos questionamos o que analisar desse trabalho que apresenta tantas variáveis a serem consideradas. O olhar é dedicado primordialmente às atividades, como estas não são observáveis, isso se faz via 25 ações do professor que são guiadas pelas prescrições de duas ordens, as hierárquicas e as suas próprias para efetuar o trabalho a que se propõe. Para Clot (1999, apud AMIGUES, 2004, p. 40) “(...) a atividade não se limitaria ao que é realizado pelo sujeito, mas compreenderia também o que ele não chega a fazer, o que se abstém de fazer, o que queria ter feito, etc.” Para nós, porém, interessa analisar o que é feito a partir da prescrição/planificação, não nos dedicando, nesta pesquisa, ao que o professor, poderia, deveria ou queria ter feito. Ao propor uma análise da atividade docente deve-se levar em consideração os objetos constitutivos desta para que possamos contextualizá-la dentro do universo do trabalho de ensino. Para Amigues (op. cit.) são: o As prescrições: O fazer do professor é mediado por tarefas prescritas. Estas são apresentadas por uma hierarquia – LDB, PCN, OCN, entre outras – pois “No domínio do trabalho, a tarefa não é definida pelo próprio sujeito; as condições e o objetivo de sua ação são prescritos pelos planejadores, pela hierarquia”. o Os coletivos: A prática docente abrange vários coletivos que influenciam nas atividades que são redefinidas a partir das prescrições iniciais: professores da disciplina, dos professores do mesmo nível de ensino, da escola, e outros mais. Isso tudo é considerado dentro da análise da atividade docente, “(...) mas cada professor pertence também a um coletivo mais amplo, o da profissão” (ESPINASSY, 2003, apud AMIGUES, op. cit., p. 43) o As regras do ofício: Entendemos as regras do ofício como um objeto, que pertencente a atividade docente, liga os professores pelo que a parte comum da profissão apresenta e pela parte específica relativas à disciplina. o As ferramentas: são os meios ou recursos que o professor lança mão para executar suas aulas, estas ferramentas podem ser os manuais, exercícios já existentes ou criados por ele mesmo, etc. Elas são transformadas por quem as usa – o professor – com o intuito de conseguir seu objetivo. “Assim, a análise da atividade ressalta a 26 importância das ferramentas na interação entre o sujeito e uma tarefa, não somente para aumentar a eficiência dos gestos, mas também como meios de reorganizar sua própria atividade” (AMIGUES, 2004, p. 44). Cabe, agora, orientar nossas interpretações acerca dos conceitos dos termos que serão utilizados durante a análise de situações de ensino, especificamente sobre as atividades e as ações do professor. O docente para atingir seu objetivo de ensinar estabelece um vínculo direto com o que se prescreve para tal atividade. Portanto, concordamos com Amigues (op. cit.) quando afirma que o trabalho prescrito ao professor é feito por hierarquias. Relacionamos essa hierarquia às instituições, aos documentos oficiais, ao livro didático, aos conteúdos previstos pela tradição escolar para cada série, entre outros. Isso se constitui uma prescrição por entendermos que antes de o professor planejar ele se regula por estes documentos, fazendo deles um guia de o que, e possivelmente, como ensinar aos alunos. Para Amigues (op. cit.), o trabalho prescrito e o trabalho real não estão exatamente em consonância, visto que a prescrição, tanto hierárquica como o próprio plano do professor, prescrito por ele, a ele mesmo e aos alunos, está na ordem do querer fazer, do pensar em fazer ou planejar. Já a aula está no campo das ações, do trabalho real, em que as atividades se constituirão organizações mentais, não palpáveis que viabilizarão e planejarão as práticas através dessas ações. Outro termo é inserido nesse mesmo contexto por Machado (2009) quando denomina o trabalho prescrito pelo professor para ele mesmo e para os seus alunos como planificação. Ela define como planificação a ação de programar o que quer ensinar na aula. Portanto, enquanto Amigues (op. cit.) considera como prescrição, tanto o contexto hierárquico, quanto o contexto específico de planejamento, Machado (2009) denomina esses contextos, respectivamente como prescrição e planificação. Conforme entendemos, correspondem a significados bem aproximados quando a variação é tão 27 somente terminológica, mas usaremos os termos e os significados adotados por Machado (2009) considerando que os professores, provavelmente, além de se regularem pela hierarquia, planificam suas ações para o trabalho real em sala de aula. Para isso, consideramos o planejamento e a aula como situações relacionadas diretamente ao trabalho docente: o ensino, no qual/para o qual o professor realiza atividades e ações. Para Amigues (2004, 41), a ação docente “remete a uma situação particular, a condições de realização e a um objetivo bem preciso” e a atividade “combina várias lógicas e várias temporalidades”, podem ser consideradas como o “reflexo e a construção de uma história: a de um sujeito que arbitra entre o que se exige dele e o que isso exige dele” (NOULIN, 1995, apud AMIGUES, op. cit., p. 41). A investigação acerca da relação planejamento/aula será pautada nessas reflexões teóricas nas quais a planificação da atividade que será realizada permitirá uma reflexão sobre o trabalho docente, como já dissemos, prescrito e real. Ou seja, a relação planejamento/aula que, às vezes, parece tão transparente passa a ser questionada em função das diversas ações e atividades que são realizadas a partir do que foi planejado para aula, ou do que as professoras acreditam que devem levar para a aula. Vale reforçar essa ideia com o que afirma Rojo (2001) sobre planejamento. Para a autora, o professor se encontra num ponto intermediário entre conceber o planejamento como ato burocrático e concebê-lo como instrumento de uma autonomia para a realização de um planejamento efetivo. A reflexão sobre o ensino deve considerar o que o professor entende ou como ele usa o planejamento, já que suas ações serão analisadas do planejamento até aulas. Por isso, o planejamento ou planificação do professor, aqui tomado como texto produzido pelo próprio actante e considerado um texto prescritivo que antecipa suas próprias ações e as dos seus alunos, evidencia também as concepções do trabalho com “texto” e “gênero” que são seus objetos de ensino na aula de português. 28 1.2. Sobre o ensino de língua Uma vez que, para analisarmos o trabalho planejado e o realizado pelas professoras, focalizaremos os objetivos, o objeto de ensino e as atividades nos planejamentos e nas aulas, neste item, apresentamos os pressupostos teóricos sobre ensino de língua, bem como a proposta dos PCN, tomados aqui como o que se prescreve para este ensino. Para tanto, estamos nos apoiando em autores como Travaglia (1997), Costa Val (2002), Rojo (2004), Maingueneau (2006), Marcuschi (2008) e Zanini (2009). Ao assumir que nossa pesquisa se insere no contexto do ensino de língua e não apenas nas teorias oriundas da formação do professor e do trabalho docente (item 1.1), pensamos que seja relevante explicitar o que a teoria apresenta como objetivo deste ensino e quais perspectivas têm embasado o trabalho do professor nos momentos do planejamento e da aula de língua. Isto se faz pertinente na medida em que precisamos situar as propostas esboçadas pelas professoras quando tomam o texto como objeto de ensino, considerando que este prevê um trabalho voltado para determinada perspectiva de ensino de língua, linguagem e de como as mesmas entendem texto e gênero. Travaglia (op. cit.) apresenta três concepções que representam o modo como podemos entender a linguagem: (1) como expressão do pensamento, (2) como instrumento de comunicação e (3) forma de interação. Embora sejam concepções bem conhecidas e às quais muitos trabalhos recorrem para se embasar, elas são, até o momento, uma das explicações mais didáticas de explicar essas tendências. Tomando as concepções de língua como explicita Costa Val (op. cit.), podemos recorrer a três “famílias teóricas” que correspondem, respectivamente, às perspectivas de linguagem explicitadas por Travaglia (op. cit.). Assim, conceitua Costa Val (op. cit.): “a primeira, composta pelos estudos que vêem a língua como estrutura; a segunda, pelos que vêem a língua como atividade mental; a terceira, pelos que pensam a língua como atividade social. Assim, neste trabalho o que levantamos como diferença entre os dois 29 autores é o modo como cada um lida com as correntes teóricas de língua(gem), posto que Travaglia (1997) opta por assegurar que a terceira concepção é a mais adequada para quem pretende trabalhar com os textos como forma de interação, e Costa Val (2002, p. 109) opta por tentar “integrar essas três vertentes, em razão de se considerar que cada uma delas contempla um dos subsistemas componentes de uma língua natural: o gramatical, o semântico-cognitivo e o discursivo”. Sobre essa integração nos PCNs consta que, [...] não é possível tomar como unidades básicas do processo de ensino as que decorrem de uma análise de estratos - letras/fonemas, sílabas, palavras, sintagmas, frases - que, descontextualizados, são normalmente tomados como exemplos de estudo gramatical e pouco têm a ver com a competência discursiva. Dentro desse marco, a unidade básica do ensino só pode ser o texto. (BRASIL, 1998, p. 23) Acerca dos objetivos do ensino de língua, Travaglia (op. cit., p. 17) defende que o objetivo principal é “desenvolver a competência comunicativa dos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), isto é, a capacidade do usuário de empregar adequadamente a língua nas diversas situações de comunicação”. Ele explica também que esta competência comunicativa requer o trabalho com duas outras competências, a gramatical ou linguística e a textual. Sendo a última dividida em três capacidades que a constituem: capacidades formativa, transformativa e qualificativa. Estas competências e capacidades compreendem um trabalho de ensino de texto, uma vez que convergem para o desenvolvimento e ampliação dos usos dos textos socialmente utilizados pelos usuários da língua (neste caso, os alunos). Compreendemos, a partir de Travaglia (op. cit) e Costa Val (op. cit), que considerando a linguagem como interação, o objetivo de ensinar língua é o desenvolvimento da competência comunicativa e que o ensino deve integrar as várias formas de se ver a língua para culminar numa proposta mais próximo possível do que se entende por um trabalho funcional da língua. Assim sendo, a expectativa quanto ao trabalho das professoras, sujeitos dessa pesquisa, é que este tenha sido planejado e 30 executado orientado por esses pressupostos, ou seja, que a elaboração e realização tenham como objetos determinados os textos. Como vemos, o que estes autores discutem está em consonância com o que os PCN do Ensino Fundamental (3º e 4º ciclos) indicam como proposta para o ensino de língua, pois este documento sustenta a idéia de que se deve ensinar língua para que os alunos tenham a oportunidade de aprender a ler e a escrever textos diversificados, assim como também instrui os professores a levarem os textos para as aulas e a considerar os gêneros orais e escritos no trabalho de leitura, produção e análise lingüística. O trecho abaixo revela a postura tomada pelo documento, PCN de Língua Portuguesa, quanto à orientação para o professor de português e comprova o que acabamos de dizer sobre as atividades discursivas na escola. Tomando-se a linguagem como atividade discursiva, o texto como unidade de ensino e a noção de gramática como relativa ao conhecimento que o falante tem de sua linguagem, as atividades curriculares em Língua Portuguesa correspondem, principalmente, a atividades discursivas: uma prática constante de escuta de textos orais e leitura de textos escritos e de produção de textos orais e escritos, que devem permitir, por meio da análise e reflexão sobre os múltiplos aspectos envolvidos, a expansão e construção de instrumentos que permitam ao aluno, progressivamente, ampliar sua competência discursiva. (BRASIL, 1998, p. 27) Os PCN seguem a mesma linha teórica dos autores que tomamos como referência neste item. Por isso, partindo do pressuposto de que estes referenciais incluem as práticas discursivas nas suas propostas, o objeto de ensino, consequentemente, serão os “gêneros textuais”, por isso, vamos situar os estudos do ensino de língua desta perspectiva e conceituar “texto” e “gênero textual” pretendendo esclarecer o que entendemos sobre estes termos, para, em nossa análise, podermos verificar que componente(s) do “texto” e do “gênero textual” foi(ram) realmente contemplado(s) como objeto a ser ensinado (trabalho planejado) e o objeto ensinado (trabalho realizado). 31 As discussões sobre o ensino de língua têm apresentado um quadro de análises cujo foco, como já dissemos, é o trabalho com “texto”, por isso, Rojo (2004, p. 7) declara que: 1 Não é de hoje que circula e é aceita, no Brasil, a ideia de que o texto seja como material concreto sobre o qual se exerce o conjunto dos domínios de aprendizagem, sobretudo leitura e produção de textos, seja como objeto de ensino propriamente dito – é base do ensinoaprendizagem de língua portuguesa no ensino fundamental. O fato de o “texto” ser protagonista de muitos estudos não nos permite saber, sem uma investigação, o que e como este objeto realmente está sendo tratado, nos contextos de ensino. Rojo (op. cit.) explicita quais direcionamentos são possíveis quando tomamos o texto como objeto a ser ensinado na sala de aula, tendo em vista que, depois que foram consideradas as mudanças de paradigmas, quando o propósito do ensino deixa de ser apenas as questões normativas e prescritivas da língua, o foco passou a ser o ensino de texto, considerando a produção de sentidos de um texto em contexto. Por isso, nesta direção, Rojo (op. cit.) entende que até o texto ser tomado como objeto de ensino, alguns procedimentos contribuíram para que fosse tomado como um material ou objeto empírico. São eles: (1) o fato de o texto ter sido trabalhado como propiciador de hábitos de leitura e um estímulo para a escrita, (2) o uso do texto como suporte para o desenvolvimento de estratégias necessárias ao seu processamento, aqui são tomadas, também “as estruturas dos gêneros escolares – a narração, a descrição e a dissertação –” (p. 8) considerando a forma global para, na produção, obter textos mais interessantes, coesos e coerentes, e, na leitura para desenvolver as estratégias de “seleção, checagem, inferência, resumo, etc.”. Zanini (2009), ao tratar dessa questão, denomina o objeto de ensino como objeto de conhecimento, afirmando que, 1 Grifo da autora 32 2 O objeto de conhecimento passa a ser o texto, que deixa de ser pretexto para o acesso à gramática – objeto de conhecimento e de ensino, no modelo tradicional – para tornar-se o próprio objeto, compreendido na sua completude e funcionalidade, explorável segundo a situação em que se deu a sua produção. Isso porque é por meio de textos que os sujeitos interagem nas práticas sociais de linguagem. (p. 15) A autora enfatiza a mudança de foco no ensino de língua em função da entrada do texto em sala de aula, não mais como pretexto, como já percebido quando os professores utilizam-no sem o devido conhecimento de como usá-lo no ensino. O PCN de Língua Portuguesa, complementa a explicação de Zanini (op. cit.) afirmando que “O objeto de ensino e, portanto, de aprendizagem é o conhecimento lingüístico e discursivo com o qual o sujeito opera ao participar das práticas sociais mediadas pela linguagem”. (p. 22) Entendemos que estes e outros estudiosos da área do ensino de língua materna têm apontado (ou prescrito), nos últimos anos, para a relevância de um trabalho que leve em consideração as situações reais de uso da língua, a partir da apropriação dos gêneros textuais que permeiam as mais diversas esferas sociais. É ao que se propõe também o PCN, que procura garantir uma orientação segura a esse respeito pretendendo ajudar ao professor a redefinir o objeto do ensino de língua portuguesa nas escolas brasileiras. Vejamos: Nessa perspectiva, necessário contemplar, nas atividades de ensino, a diversidade de textos e gêneros, e não apenas em função de sua relevância social, mas também pelo fato de que textos pertencentes a diferentes gêneros são organizados de diferentes normas. A compreensão oral e escrita, bem como a produção oral e escrita de textos pertencentes a diversos gêneros, supõem o desenvolvimento de diversas capacidades que devem ser enfocadas nas situações de ensino. É preciso abandonar a crença na existência de um gênero prototípico que permitiria ensinar todos os gêneros em circulação social. (BRASIL, 1998, pp. 23 e 24) 2 Grifo do autor 33 Desta forma, o documento orienta o professor a desenvolver um ensino que leve em consideração as práticas discursivas, considerando a preocupação com as possibilidades de apropriação dos gêneros textuais, uma vez que é nos textos, que por sua vez, apresentam-se em diferentes gêneros, assumindo características, temáticas, formais e composicionais específicas, de acordo com a situação discursiva, em que a linguagem se materializa. Embora a orientação dos PCN seja um avanço na prescrição do trabalho com “gênero”, encontramos em Marcuschi (2008) uma importante reflexão sobre o uso desse objeto em sala de aula. O PCN sugere o trabalho com gêneros voltado mais para a compreensão do que para a atividade de produção. Assim, o autor revela que, O que se nota é que há muito mais gêneros sugeridos para a atividade de compreensão do que para a atividade de produção. Isto reflete em parte a situação atual em que os alunos escrevem pouco e em certos casos quase não escrevem. Parece que produzir textos é uma atividade ainda pouco conhecida e mais conhecida é a que diz respeito à compreensão. As atividades relativas à compreensão são sempre em maior número. (p. 210) Marcuschi (2008) segue com a análise indicando que “Os PCNs não negam que haja mais gêneros, mas estes não são lembrados. Porque não trabalhar telefonemas, conversações espontâneas, consultas, discussões etc., para a fala? Porque não analisar formulários, cartas, documentos [...] e assim por diante, para a escrita?”. O autor defende que esses são muito mais conhecidos do que os sugeridos pelos PCNs. Ainda assim, os Parâmetros continuam exercendo o papel de prescritores do ensino de língua no Brasil e se propondo a direcionar o que professor planeja e realiza. Inserida na discussão do “texto como objeto de ensino”, cabe orientar nossa reflexão sobre os conceitos de “gênero”, “texto” e “discurso” para marcar os direcionamentos teóricos aos quais recorreremos quando na análise das atividades planificadas e realizadas pelo professor e entendermos o conceito de gênero e de texto, observando suas implicações nas situações didáticas. 34 Para Dominique Maingueneau (2006) e Marcuschi (2008), dizer que o discurso é produto da relação entre o texto e seu contexto, ou seja, texto + contexto = discurso, é limitar o conceito e o âmbito em que se inserem, tanto o discurso como o texto, mas apesar de muito criticada, essa forma de explicar discurso ainda é muito usada. Marcuschi (op. cit.) acredita, ainda, que não seja produtiva a tentativa de separar rigidamente os conceitos de gênero e texto por se relacionarem reciprocamente em função de suas práticas, embora seja necessário que entendamos a que campo pertence e quais os limites correspondentes a cada um. Assim, para explicitar melhor a ideia de discurso, gênero e texto tomamos o quadro abaixo criado por Coutinho (apud MARCUSCHI, op. cit., p. 81). (Objeto da figura) Discurso Gênero Texto (Objeto do dizer) TEXTO (objeto empírico) Como vemos no quadro, o discurso é o objeto do dizer, num determinado campo contextual e o texto o objeto da figura ou empírico, como materialização do gênero. Ao mesmo tempo em que este – o gênero) está no centro dessa relação que estabelece uma interdependência com o texto para constituir as condições necessárias de leitura e produção do mesmo. Marcuschi (op. cit.) diz ainda que, o gênero “(...) é aqui visto como prática social e prática textual-discursiva. Ele opera como a ponte entre o discurso como atividade mais universal e o texto enquanto a peça empírica particularizada e configurada numa determinada composição observável”. (p. 84) O texto é, portanto, essa “peça particularizada”, o observável, que viabiliza o acesso material do que se quer dizer a 35 partir de uma determinada situação de interação. Some-se a isto o que Costa Val (1999, p. 3) diz sobre o texto: “(...) um texto é uma unidade de linguagem em uso, cumprindo uma função identificável num dado jogo de atuação sócio-comunicativa (...)”. Tendo em vista a concepção de “texto” como objeto de sentido e o “gênero” como um elemento sócio-comunicativo na língua, este se constitui o objeto de ensino, e assim, é possível, através dele, organizar e classificar os textos de acordo com suas funções, características e usos, visto que, as atividades de ensino serão organizadas a partir de gêneros. Assim, o professor precisa atentar para dois fatores básicos em sala de aula: (1) o trabalho a partir dos gêneros surgidos numa situação de interação e (2) o trabalho com os textos como material concreto do gênero, para que as atividades sejam funcionais e aproximadas ao máximo das situações sócio-comunicativas vivenciadas pelos alunos dentro e fora da escola. Por isso os PCN preconizam que, No trabalho com os conteúdos previstos nas diferentes práticas, a escola deverá organizar um conjunto de atividades que possibilitem ao aluno desenvolver o domínio da expressão oral e escrita em situações de uso público da linguagem, levando em conta a situação de produção social e material do texto (lugar social do locutor em relação ao(s) destinatário(s); destinatário(s) e seu lugar social; finalidade ou intenção do autor; tempo e lugar material da produção e do suporte) e selecionar, a partir disso, os gêneros adequados para a produção do texto, operando sobre as dimensões pragmática, semântica e gramatical. (BRASIL, 1998, p. 49) Ao realizar as atividades de texto em sala de aula, é provável que as professoras (sujeitos desta pesquisa) tenham tomado como instrução estes direcionamentos dados pelos documentos oficiais para o ensino no Brasil. Eles têm a pretensão de dirigir as ações do professor quando explicitam que o trabalho com texto deve dar conta das situações sócio-comunicativas envolvidas nos gêneros em questão (o que produzir, para quem, em qual gênero, sobre o quê) e as atividades de ensino devem contemplar o que o PCNs apresentam levando em conta a importância do trabalho com situação de produção de um texto, já que não se produz do nada e para ninguém. 36 Assim, conhecer e reconhecer os diferentes gêneros que circulam cotidianamente no meio social e capacitar os alunos a usá-los em situações sóciocomunicativas específicas tem se tornado um (amplo) objetivo de ensino que os professores procuram projetá-lo nas atividades propostas em sala de aula. Em função disto, é que se pretende que os alunos criem textos levando em conta os gêneros a que pertencem, assim como deve-se levar em consideração a esfera discursiva e os conhecimentos sócio-histórico-culturais que construíram até o momento, tanto na escola como fora dela. Nesta direção, Bunzen (2006) enfatiza que são os gêneros do cotidiano do aluno que devem entrar na escola. (...) as práticas de leitura e de produção de textos em gêneros diversos que fazem parte do cotidiano dos alunos nos diversos espaços de socialização (famílias, igrejas, mídia, grupos de amigos, movimentos juvenis, associações comunitárias, trabalho etc.) podem ser legitimadas na escola (e não excluídas) (...) (2006, p. 158) Assim, as prescrições (teóricas e oficiais) sugerem que as atividades, vivenciadas no âmbito social, intermediadas pela linguagem, expressa de forma mais diversificada possível – conversas, bilhetes, aulas, e-mails, anúncios, jornais -, sejam levadas, através dos gêneros, para o trabalho em sala de aula, fazendo do ensino de língua uma aprendizagem do uso adequado do objeto em questão – o texto. 37 2. METODOLOGIA DA PESQUISA Neste capítulo, explicitaremos os aspectos relacionados à metodologia desta pesquisa. Iniciaremos com a teoria subjacente às escolhas da natureza da pesquisa, em seguida apresentaremos a caracterização do local e dos sujeitos, justificando as escolhas aqui explicitadas e por fim esboçaremos as etapas da geração de dados, que ocorreram em três momentos: na seleção e contato inicial com os sujeitos, nas sessões de planejamento e nas aulas. 2.1 Definindo o tipo de pesquisa Por muito tempo, as pesquisas, inclusive as relacionadas à educação, seguiram modelos positivistas de natureza quantitativa. Alguns epistemólogos, a exemplo de Thomas Kuhn (BORTONI-RICARDO, 2008), repensaram o modo de entender o fazer ciência, incitando novas formas de investigação nas Ciências Sociais, que resultaram na mudança de paradigma nas pesquisas educacionais. Para Bortoni-Ricardo (op. cit., p. 32) “(...) as escolas, e especialmente as salas de aula, provaram ser espaços privilegiados para a condução da pesquisa qualitativa, que se constrói com base no interpretativismo”. Acreditamos, assim, que fazer pesquisa requer um direcionamento, antes de tudo, paradigmático. Paradigma, para Bogdan e Biklen (1994, p. 52), “consiste num conjunto aberto de asserções, conceitos ou proposições logicamente relacionados e que orientam o pensamento e a investigação”. Tendo isso em vista, é necessário definir o tipo de pesquisa assumido para a geração e interpretação dos dados neste trabalho. Por se tratar de uma pesquisa em Linguística Aplicada, enveredamos pelo caminho da investigação qualitativa. Isso porque a LA não é, aqui, tomada ou conceituada como a aplicação da teoria linguística, mas como uma área com corpo e objetos próprios que assumem uma dimensão plural e bastante abrangente na pesquisa 38 social/educacional. Em função dessa abrangência e da recorrência a outras áreas dentro das suas perspectivas de análise, é, também, caracterizada como indisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar (MOITA LOPES, 2006). Dadas as mudanças ocorridas dentro do campo da Linguística Aplicada, a característica principal das pesquisas nessa área de estudos é a identificação do problema aplicado a um contexto em que se objetiva entendê-lo para apresentar as devidas contribuições sociais através da ação. Assim, este trabalho se assume como uma pesquisa com uma abordagem qualitativa de cunho interpretativista, que, segundo Moita Lopes (1994), tem como características gerais a observação de fatores sociais. Tais fatores sociais são verificados a partir da interação social através da linguagem e “...todo conhecimento em ciências sociais e humanas é uma forma de conhecer a nós mesmos e de criar possibilidades para compreender a vida social e outras alternativas sociais” (MOITA LOPES, 2006, p. 104). Para Bortoni-Ricardo, Sob a denominação interpretativismo, podemos encontrar um conjunto de métodos e práticas empregados na pesquisa qualitativa, tais como: pesquisa etnográfica, observação participante, estudo de caso, interacionismo simbólico, pesquisa fenomenológica e pesquisa construtivista, entre outros. Interpretativismo é uma boa denominação geral porque todos esses métodos têm em comum um compromisso com a interpretação das ações sociais e com o significado que as pessoas conferem a essas ações na vida social. (2008, p. 34) Diante do exposto, entendemos que é necessário identificar o procedimento utilizado para a geração dos dados. Esta se deu através da observação participante que é definida como método ou prática por Bortoni-Ricardo (op. cit.). Na tentativa de contribuir com o entendimento de como aconteceu a geração dos dados e, ao mesmo tempo, explicar mais especificamente o contexto de pesquisa, podemos dizer que na observação-participante, durante a geração de dados, a participação da pesquisadora no planejamento foi ativa e, nas aulas, passiva. Embora reconheçamos a participação nas duas situações de coleta de dados, ressaltamos que diferenciar a participação em ativa e 39 passiva é uma tentativa de explicar a postura do observador/pesquisador na situação e no nível de influência que ele exerce nas ações dos sujeitos. Encontramos em Moreira e Caleffe (2008) uma colaboração no sentido de definir mais especificamente a postura do pesquisador na geração de dados. Estes autores definem a observação como técnica e a distinguem em participante e sistemática. Esta distinção se aproxima da observação utilizada na geração de dados desta pesquisa, respectivamente no planejamento e nas aulas. A primeira é definida como “uma técnica que possibilita ao pesquisador entrar no mundo social dos participantes do estudo com o objetivo de observar e tentar descobrir como é ser um membro desse mundo” (MOREIRA & CALEFFE, op. cit., p. 201). Na segunda, na observação sistemática, O pesquisador não se envolve com os participantes do estudo... O objetivo do pesquisador é apenas observar o comportamento do participante ou dos participantes. Os comportamentos incluem o que as pessoas dizem e fazem, mas os observadores evitam interrompê-las para buscar esclarecimentos – um procedimento mais próprio dos métodos interativos de observação. (MOREIRA & CALEFFE, op. cit., p. 195) Portanto, a nossa pesquisa se deu através da observação participante – ativa e passiva – ou da observação – participante e sistemática – dentro do paradigma interpretativista. 2.2 O contexto escolar e os sujeitos Esta pesquisa nasceu da inquietação de querer entender a relação entre o que os professores planejam e o que realmente conseguem executar em sala de aula. Assim, quando os alunos, em formação inicial, do curso de Letras, em fase do Estágio Supervisionado, planejam suas atividades (seja na modalidade de projeto, sequência didática ou plano de aula) esboçam também uma expectativa de aplicação da atividade, em que posteriormente, no relatório de suas práticas de ensino, percebemos que nem 40 sempre o que foi programado é o que foi executado. Com professores não é tão diferente, pois não só deixam de trabalhar o que é planejado no sentido quantitativo, mas também qualitativo. Quantidade e qualidade aqui tomam sentidos paralelos, mas não opostos. O primeiro seria a quantidade de atividades que o professor propõe no plano em relação ao tempo que dispõe de aula, o segundo, o que ele propõe no plano e é realizado nas aulas, e o que é utilizado para que o objetivo seja alcançado. O caminho percorrido pelo professor, do planejamento à aula, tem alguns riscos a serem assumidos, por exemplo, quando ele prescreve uma atividade para ser executada por ele mesmo, algumas questões relacionadas à concepção entram em cena. As concepções de ensino, de gênero e de texto são as mais evidentes, e discutidas, neste trabalho porque a pesquisa é feita com professores de português. Então há possibilidades de que sejam planejadas atividades e estas não se efetivem nas aulas (totalmente ou parcialmente), que evidenciem uma concepção no plano e outra na aula, ou também, o contrário destas duas premissas. É a isso que este trabalho se dedica, a descobrir esta relação ou até outros fatores não citados que estejam diretamente relacionados à aula e ao propósito de cumprir seu planejamento. Antecipadamente, acreditamos que alguns fatores inerentes ao ensino, tanto no planejamento, quanto na aula, a exemplo do material de apoio no momento do planejamento, direcionamento do coordenador nas ações formativas, o perfil da turma, as concepções do professor, e outros fatores, influenciam diretamente na execução da aula. Quanto à escolha da escola que serviu de palco para essa pesquisa, se deu em função de ser uma instituição pública, de ser um estabelecimento já conhecido pela pesquisadora, portanto, com mais abertura para a geração de dados, considerando o acompanhamento dos planejamentos e das aulas, gravando-as, o que nem sempre é de fácil acesso. Outro motivo foi o que as professoras selecionadas como sujeitos da pesquisa atuavam nessa escola. 41 Esta escola está situada em um dos bairros adjacentes da cidade de Jacobina, cidade do interior baiano, e atende a aproximadamente 700 alunos oriundos tanto do bairro em que se localiza, quanto da zona rural (povoados) relativamente próximos da escola. Segundo a direção, durante anos esta escola sofreu com o impasse de ser uma instituição estadual em processo de municipalização. Isso desencadeou uma situação de desinteresse dos poderes estadual e municipal. A escola, no período da geração dos dados, ainda contava com grande parte do corpo docente ligado a rede estadual, mas era de responsabilidade do município, naquele momento de transição e sem nenhuma oficialização, fornecer o apoio relacionado a merenda escolar, materiais didáticos para as aulas e para o uso individual dos alunos – cadernos, lápis e caneta – distribuição dos livros didáticos, entre outros. Em função desta transição a reforma e ampliação, muito necessária na escola, só aconteceu depois da oficialização da situação da escola, agora como um órgão oficialmente municipal. A respeito do espaço físico, o terreno da escola tem uma área aproximada de 1000m². Em função desse grande espaço alunos e professores há muito lutam junto à Prefeitura Municipal e à Secretaria Municipal de Educação pela construção de uma quadra poliesportiva, pois as aulas de educação física se revezam entre a quadra do bairro e uma praça que se localiza na frente da escola sem estrutura para tal atividade. O espaço físico construído dessa escola é composto por 11 (onze) salas de aula, sendo uma delas improvisada para dar conta da demanda discente, e na qual aconteceu parte da geração dos dados. Há também um espaço que funciona como secretaria e setor administrativo, pois conjugada à secretaria estão um pequeno depósito de materiais escolares e a sala da direção. Sendo, portanto, três ambientes divididos e interligados num pequeno espaço de mais ou menos 4 m². A escola tem, ainda, uma biblioteca cujo acervo, em sua maior parte é composto por livros didáticos. Ali se guardam livros didáticos em uso e em desuso também, pois por 42 não existirem livros suficientes para todos os alunos das turmas. É o caso inclusive da disciplina de Língua Portuguesa, na qual o professor se obriga a recolher os livros no final da aula para serem reutilizados por outras turmas de mesma série, por vezes com os alunos organizados em duplas. A sala dos professores também funciona como sala da coordenação e onde acontece o cumprimento das ACs (Atividades Complementares). Os momentos de estudo dos docentes são, geralmente os Grupos de Estudos, transferidos para uma sala de aula, porque nesse momento todos os professores estão no mesmo ambiente para tal atividade. Além dos espaços já descritos, existe uma área que fica entre as quatro primeiras salas, chamada de pátio, onde acontecem os eventos da escola, palestras, reuniões de pais, culminância dos projetos, entre outros. A cozinha, também nomeada cantina, faz e distribui os lanches ou refeições da escola. Em seu interior tem-se uma dispensa utilizada para guardar os mantimentos e os utensílios utilizados na cozinha e na distribuição do lanche, como panelas, pratos, talheres e copos. Quanto ao quadro administrativo da escola estava organizado, no ano de 2009, em torno de seu funcionamento e da quantidade de alunos que atende, portanto faz parte a diretora geral, 2 vice-diretoras, 2 coordenadoras, 3 secretários administrativos, 4 agentes de portaria e 1 porteiro. O quadro docente é composto por 32 professores distribuídos nos três turnos de seu funcionamento. A escola funciona nos três turnos (matutino, vespertino e noturno) e oferece da Educação Infantil ao Ensino Fundamental II. Pela manhã oferece apenas o Ensino Fundamental II, a tarde Educação Infantil e Ensino Fundamental I e a noite EJA – Educação de Jovens e Adultos – correspondente ao Ensino Fundamental I e II organizado por ciclos. Nossa geração de dados, na fase das aulas, aconteceu no turno matutino, pois as turmas selecionadas eram do Ensino Fundamental II. As sessões de 43 planejamento aconteceram fora da escola, pelos motivos que explicito mais adiante (item 2.3.1) 2.2.1 Os sujeitos São considerados Sujeitos desta pesquisa uma amostra dos professores de português da 5ª à 8ª séries (6º ao 9º ano) do Ensino Fundamental da escola caracterizada inicialmente. A escolha aconteceu em função dos sujeitos terem participado de um curso de extensão universitária, o qual foi ministrado pela própria pesquisadora quando em exercício de suas funções na Universidade do Estado da Bahia - UNEB. O curso pretendia discutir os objetivos do ensino de português e os seus objetos de ensino, assim como, planejar propostas didáticas que pudessem ser aplicadas em suas aulas, nos seus contextos de ensino. A partir dessa situação de formação docente e percebida a relação desses profissionais com a disciplina em questão, aconteceu a escolha dos sujeitos, e o mais importante, levando em consideração a aceitabilidade deles para com a proposta de pesquisa. Assim, os sujeitos são três professoras de português licenciadas em Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Departamento de Ciências Humanas – Campus IV, que estavam atuando como professoras de Português na escola onde aconteceu a pesquisa, sendo duas especialistas em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Literatura e uma em Psicopedagogia Institucional. Segue abaixo um quadro do perfil profissional das três docentes: 44 Quadro 1: Perfil profissional dos sujeitos3 D O C E N T E P1 FORMAÇÃO ATUAÇÃO Ensino Médio Graduação Especialização Tempo de atuação como docente Magistério Letras Vernáculas Psicopedagogia Institucional 18 anos P2 Ensino Médio Letras Vernáculas P3 Magistério Letras Vernáculas Metodologia do E. de Língua Port. e Literatura Metodologi a do Ens. de Língua Port. e Literatura Níveis escolares onde já tiveram experiência profissional Infantil Fundamental Médio Superior Série na qual atuaram durante a pesquisa Tempo de atuação nesta escola 5ª série 8 anos 2 anos Fundamental 7ª série 1 ano e 6 meses 20 anos Infantil Fundamental Médio 6ª Série 5 anos 2.3 Fases da geração dos dados A geração dos dados ocorreu em duas fases subseqüentes. A primeira aconteceu na proposição das sessões de planejamento pela pesquisadora, ou seja, participação e gravação do planejamento das professoras e a segunda, aconteceu no acompanhamento e gravação da realização das respectivas aulas. De acordo com o que já foi dito no item em que descrevemos os sujeitos (item 2.2.2), eles foram selecionados a partir de uma situação de formação fora da escola (na universidade) e em função da relação desses profissionais com a disciplina Língua 3 O quadro foi construído a partir das informações obtidas até dezembro de 2009. 45 Portuguesa, além de contar com a aceitabilidade deles ao ser apresentada a proposta de pesquisa dentro de suas salas de aula. Após o acerto inicial, foi estabelecido o primeiro contato via e-mail. Essa interação nos possibilitou o reconhecimento da realidade a ser pesquisada, incluindo as propostas dos professores para o segundo semestre, além de receber algumas informações técnicas que nos ajudaram a definir os procedimentos das sessões de planejamento, a exemplo do horário, das turmas, dos turnos de trabalho, da disponibilidade dos professores, entre outros. Assim, ficou firmado nesse contato que teríamos algumas reuniões para planejarmos a III Unidade letiva, que correspondia ao 3º bimestre do ano de 2009. Antes do contato presencial com os professores, houve necessidade de marcar uma conversa com a coordenadora pedagógica, com o objetivo de receber a autorização para propor as sessões de planejamento, ou acompanhá-las se esse fosse o caso e a coordenadora preferisse. Ela preferiu que a pesquisadora propusesse as reuniões de planejamento e, em função dos horários dela na escola, não teve oportunidade de participar de todas as sessões de planejamento, também porque essa parte da geração dos dados – as sessões - foi feita em um ambiente fora da escola. Foi uma preferência dos sujeitos que os planejamentos acontecessem fora do ambiente escolar. Segundo as professoras, na escola não havia um ambiente que possibilitasse um trabalho concentrado e duas das três professoras moravam no centro da cidade, que fica um pouco afastado do bairro onde se localiza a escola. Isso facilitaria organizar os horários para que as três estivessem presentes nas mesmas sessões. Assim, os planejamentos aconteceram na casa de P1 (1ª sessão) e na casa de P2 (2ª sessão). Depois de um primeiro contato via e-mail e um segundo presencial, foi então solicitado que as professoras autorizassem a gravação tanto do planejamento quanto das aulas. Assim, os termos de consentimento foram assinados e não havendo nenhuma 46 recusa, as datas foram marcadas, compondo um calendário que foi cumprido na medida do possível. 2.3.1 Etapa 1: Sessões de Planejamento e Projetos Didáticos O planejamento foi proposto em três reuniões (sessões), cujos os encontros serviram para decidirmos sobre os direcionamentos a serem seguidos, tanto daqueles momentos quanto das aulas a serem executadas. Durante as reuniões abrimos discussões acerca do ensino de língua e do conhecimento das turmas nas quais seriam executados os planejamentos. Depois da exposição, por cada professor, da situação das turmas, dos conteúdos previstos e das aprendizagens esperadas para a unidade em questão, partimos para a efetivação do planejamento, que não aconteceu nas sessões. Segue abaixo o calendário das reuniões de planejamento proposto junto às professoras sujeitos da pesquisa para melhor visualização e sistematização do que foi programado. Quadro 2: Calendário das sessões de planejamento EVENTO DIA INÍCIO DURAÇÃO Conversa com a coordenação 08/07 20 horas 1 hora 1ª Sessão de planejamento 13/07 14 horas 2 horas 2ª Sessão de planejamento 17/07 14 horas 2 horas 3ª Sessão do planejamento 24/07 14 horas 2 horas Esse calendário foi organizado tentando acolher as necessidades da pesquisadora, dos sujeitos professores e do calendário escolar, pois precisavam planejar tendo em vista o bimestre seguinte, cuja duração era determinada pela Secretaria Municipal da Educação que exige seu cumprimento. Além disso, ainda precisávamos equilibrar a disponibilidade dos horários dos professores em função de outras atribuições 47 e instituições em que eles trabalhavam. As sessões, portanto, aconteceram no mês de julho, concomitante com o encerramento das atividades do 2º bimestre, visto que o calendário letivo das escolas na Bahia não prevêem férias para esse mês, apenas recesso nos feriados das festas de São João. Acerca do modelo de planejamento, apesar de ter sido sugerido pela pesquisadora que organizassem o plano em Sequências Didáticas as professoras escolheram o Projeto Didático como modalidade organizativa do planejamento das aulas de português. O principal argumento das professoras ao optarem pelo Projeto Didático4 para trabalhar com os gêneros textuais que selecionaram para cada turma foi o de que o projeto pode ser feito com uma sequência mais longa de atividades que possibilitava sanar algumas dificuldades dos alunos na leitura e na escrita de textos. Depreendemos com isto, que as professoras não conheciam as Sequências Didáticas ou não tinham total conhecimento deste modelo, pois estas também são organizadas com o propósito de trabalhar a produção de gêneros textuais. Aceitamos a proposta para possibilitar que as professoras ficassem a vontade para fazer as escolhas que achassem pertinentes e que usassem o modelo de plano que se sentissem seguras em produzir, pois, percebemos, nas falas delas, que o Projeto Didático já é uma prática anterior a este trabalho por ser indicada pela formação que a Secretaria Municipal da Educação viabiliza aos professores e, portanto, um modelo de plano mais conhecido. As professoras apresentaram um conceito de projeto baseado em Regina Scarpa5 (2001). Para esta autora, um projeto se constitui um trabalho com o objetivo de resolver um problema, explorar uma idéia ou construir um produto que se tenha planejado ou imaginado. Dessa maneira, os projetos didáticos constituem-se em uma 4 Os professores já trabalhavam com Projetos Didáticos e o faziam tomando a unidade como referência da duração do plano. 5 Em entrevista à Revista Nova Escola Nº146, Outubro de 2001. 48 modalidade organizativa indicada para desenvolver comportamentos leitores e escritores – afinal, ao criar um produto final com público definido, os alunos aprendem a focar em um gênero e saber o quê, por que e para quem escrever. Ainda segundo Scarpa (op. cit.) o trabalho com projetos constitui uma proposta diferenciada, pois parte da intenção para a ação, envolve o aluno como participante ativo de sua aprendizagem, valorizando seus interesses, ampliando conhecimentos, além de ressignificar o espaço escolar e orientar as atividades de forma a produzir um trabalho interdisciplinar. Para cada Projeto Didático, foi selecionado um gênero textual de acordo com o perfil e com as expectativas de aprendizagens que os professores tinham para suas turmas. Foram três projetos, cada um com um gênero diferente, cuja metodologia foi organizada e dividida por etapas que correspondiam a 2 horas/aulas, que geralmente eram geminadas. Para a 6ª série (7º Ano), foi escolhido o gênero História em Quadrinhos (doravante HQs), por sua dinâmica visual, seu trabalho com linguagem e sentido diversificados contidos nesses textos. Esta turma trabalhou entre outras HQs, as de Cedraz, artista que, embora morasse em Salvador, é filho da região de Jacobina e já ganhou vários prêmios nacionais e internacionais pelas suas produções em HQs e Tirinhas. Para a 7ª série (8º Ano), foram selecionados gêneros da esfera jornalística, especificamente a notícia e a reportagem, pois a professora tinha o objetivo de ensinar os alunos a produzirem textos informativos para serem publicados num jornal editado pelos próprios alunos. Segundo a professora, os alunos estavam precisando conhecer outros gêneros além dos literários. 49 Para a 5ª série6 (6º Ano), a professora escolheu os poemas, pois queria propiciar um espaço de leitura com mais prazer aos alunos, que, segundo esta, estavam muito desmotivados e precisavam conhecer um pouco de poesia para se sentirem mais livres e interessados durante a escolha e a leitura dos textos. As sessões de planejamento foi, portanto, momento de muita discussão e troca de experiência entre as professoras e a própria pesquisadora. Esta situação fez com que as professoras esboçassem seus saberes e suas perspectivas tanto para o planejamento quanto para as aulas que iriam ministrar. No quadro a seguir, descrevemos as sessões de planejamento. Nelas, não produzimos os projetos, mas discutimos e decidimos por quais caminhos teórico-práticos seguir visando a elaboração dos mesmos que ocorreu em momentos individuais sem o acompanhamento da pesquisadora. Quadro 3: 1ª sessão de planejamento PROFª GÊNERO OBJETIVO (S) A Poesia 1. Ler poesias para Leitura e produção Livros de poesia, desenvolver o gosto pela textual biografia de leitura; autores, 2. Conhecer os poetas/ Letra de escritores músicas, B Gêneros jornalísticos Quadrinhos Ler e escrever textos Leitura e Produção jornalísticos textual 1. Ensinar a ler e produzir Leitura; textos; Produção textual; 2. Estudar a variação Variação linguística linguística; C 6 CONTEÚ DO (S) MATERIAL DIDÁTICO Jornais diversos HQs: Gibis Xaxado e Chico Bento No ano de 2009, a escola ainda utilizava a nomenclatura série, por isso a utilizo e faço a referência da nova nomenclatura ao lado entre parênteses. do do 50 Quadro 4: 2ª sessão de planejamento PROFª GÊNERO OBJETIVO (S) A Poesia B Gêneros jornalísticos Quadrinhos Conhecer e discutir a estrutura Leitura e Produção Livros de poesias do gênero poema textual Ensinar a ler e a produzir Leitura e Produção Jornais gêneros jornalísticos textual -Leitura Revistas de HQ C CONTEÚ DO (S) MATERIAL DIDÁTICO Quadro 5: 3ª sessão de planejamento PROFª GÊNERO OBJETIVO (S) CONTEÚDO (S) MATERIAL DIDÁTICO A Poesia Leitura e produção Textos: poemas textual B Gêneros jornalísticos C Quadrinhos 1. Conhecer a vida dos escritores; 2. Relacionar a vida dos escritores com suas obras; 3. Despertar o prazer de ler poemas. 1. Reconhecer os diferentes gêneros que compõem o jornal; 2. Inserir os alunos nas diferentes práticas de leitura e escrita a fim de que possam desenvolver integralmente suas atividades sociais. Trabalhar a linguagem regional; Leitura e produção Jornais diversos textual Leitura e produção Textos: tirinhas e textual; HQs Variação Linguística Estes quadros revelam o que as professoras discutiram e programaram durante as sessões, posteriormente documentadas através dos projetos didáticos. Algumas das intenções foram levadas adiante, outras não tiveram mais sentido em função das mudanças, e outras ainda, foram substituídas por idéias diferentes. Na última sessão, as professoras manusearam muitos livros, materiais que serviriam às aulas durante a execução dos planejamentos, escolheram textos e discutiram a adequação deles aos alunos, pois trabalharam com os mesmos durante dois 51 bimestres e isto deu respaldo para que elas tentassem prever o que melhor teria aceitação e eficácia. Como já foi dito, o planejamento aconteceu em dois momentos: sessões e posterior produção dos projetos. Assim, sentimos necessidade de descrever, também, o que as professoras elaboraram como plano para as aulas em seus projetos didáticos. Nos quadros abaixo, podemos observar descritivamente o que, como e qual o objetivo de cada projeto elaborado pelas professoras: 52 Quadro 6: Projeto 1 - Poesia – Profª P1 ETAPA GÊNERO OBJETIVO (S) 1ª Poema Sensibilizar os alunos para o trabalho com Leitura poesia Apresentação do projeto; Manuseio de livros de poesia; Dinâmica 2ª Poema/ música Conhecer preferências alunos acerca gênero poesia Levantamento do conhecimento prévio dos alunos acerca da poesia, usando a música como gênero aproximado. 3ª Poema/ Música Despertar o interesse Leitura pela leitura do gênero 1. Leitura de poesias e escolha de Caderno do uma para declamar; aluno, livros de 2. Registro de poesias e músicas poesia. preferidas no caderno. Poema 1. Enfocar os elementos que compõem a poesia; 2. Motivar os alunos a Leitura expressarem seus sentimentos acerca da poesia 1. Leitura e declamação de poesias escolhidas pelos alunos; 2. Propor a leitura observando os Textos: poemas títulos, os temas, as ilustrações, a estrutura. Falar dos autores. Acróstico 1. Apresentar a modalidade de texto acróstico para os Leitura alunos; produção 2 Estimular os alunos a textual produzirem seus acrósticos. 1. Apresentação do acróstico e sua forma; e Textos: 2. Levar livros de poesias para um Acróstico momento de poesia sem poemas compromisso, leitura por prazer. 3. Fazer uma produção em trio. Apresentar outra Leitura modalidade de texto produção poético: paráfrase. textual 1. Apresentação da paráfrase: esquema de texto que retoma a e estrutura original de outro, mas com Texto: paráfrase reflexões ou idéias próprias. 2. Produção de paráfrases em quartetos 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª Paráfrase CONTEÚDO (S) as dos Leitura do 1. Estimular o hábito da leitura; 2. Apresentar as devolutivas das paráfrases produzidas; 3. Analisar as Paráfrase; produções fazendo as Poesia alterações com a intervenção da professora; 4. Estimular os alunos a produzirem suas próprias poesias 1. Registrar as poesias no caderno de edição de textos; Poema 2. Dividir os alunos para apresentação do sarau. Poema Apresentar o sarau PROCEDIMENTO(S) MATERIAL DIDÁTICO Quadro; Livros. Caderno do aluno; ivros de poesia; cópia de música em folhas de papel ofício. e Produção textual 1. Distribuição de poesias para ler por prazer; Textos: poemas 2. Revisão das paráfrases; 3. Produção de poemas. Produção textual 1. Registrar os poemas revisados e reescritos no caderno e entrega de uma cópia para a professora; 2. Avaliação da aprendizagem durante o projeto. Apresentação e exposição dos Textos: poemas Publicação dos poemas através do sarau e no produzidos poemas mural de poesias. pelos alunos 53 Quadro 7: Projeto 2 - Jornal na escola – Profª P2 ETAPA 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª 11ª GÊNERO OBJETIVO (S) CONTEÚ DO (S) Gêneros jornalísticos (identificaçã o) Identificar o conhecimento que os alunos têm sobre a Leitura organização do jornal e sua funcionalidade PROCEDIMENTO(S) MATERIAL DIDÁTICO 1. Leitura do poema: Jornal, longe”; 2. Distribuição de jornais para livre manuseio; Cópia 3. Identificação dos cadernos e dos poema; gêneros que compõem o jornal e suas Jornais; funções; 1. Seleção das notícias para leitura e discussão em grupo e discussão das Conhecer as características do gênero; Notícia características do Leitura 2. Localização de respostas para seis gênero perguntas chaves: Quem? O que? Onde? Quando? Como? Por que? 1 Leitura das respostas das seis Socializar as leituras e Leitura e perguntas; Notícia propor atividade de produção 2 Leitura do texto imagético-verbal para a produção de uma notícia textual produção do lead e de notícia; 1. Leitura de jornais; Conhecer as 2. Identificação das principais manchetes características da do dia e exposição de manchetes, fotos e Notícia manchete jornalística e Leitura legendas; as relações 3. Execução de uma dinâmica: Manchete texto/imagem no jornal engraçada 1. Exposição de fotos de jornais sem as manchetes e leitura das mesmas; Ler as imagens de um 2. Reconhecimento de legendas nas Produção Notícia jornal e produzir fotos; textual manchetes 3. Produção de uma manchete para cada uma das imagens e comparação destas com as manchetes originais Apresentar um jornal 1. Estruturação e definição das tarefas escolar e compará-lo Leitura para a elaboração do jornal escolar; com um jornal de 2. Sugestões de nomes para o jornal. circulação regional 1. Leitura e revisão das produções anteriores com auxílio da professora; Demonstrar e produzir 2. Caracterização da primeira página do os aspectos estruturais Produção jornal: aspectos formais e estruturais; 3. da primeira da primeira textual Cada grupo deve produzir uma primeira página dos jornais; página levando em conta as estruturas e diagramação 1. Leitura de textos sobre assuntos Socializar as últimas escolhidos pelos alunos para a produção Notícia e produções; de manchetes, notícias e reportagens; Leitura reportagem Orientar as produções 2. Orientação e intervenção da para o jornal da escola professora no passo a passo das produções Socializar as produções; Leitura e 1. Leitura dos textos produzidos; Notícia e Revisar e reescrever os Produção 2. Escolha e revisão dos textos que farão reportagem textos coletivamente. textual parte do jornal. Orientar os grupos 1. Leitura dos textos a serem publicados quanto a estrutura do Leitura no jornal; jornal 2. Organização do jornal. Estimular e incentivar os alunos para o momento Avaliação Avaliação geral do processo de de culminância do geral do construção do jornal por parte dos alunos projeto: o lançamento do processo e da professora. jornal do Notícias veiculadas em jornais Jornal; Cópia do texto: “A balsa de Medusa” Jornais; Fotos e Legendas; Jornais; Fotos jornais de Jornal Escolar e Jornal “A tarde” Jornais diversos Jornais diversos Textos produzidos pelos alunos Textos alunos dos 54 Quadro 8: Projeto 3 - Quadrinhos em sala de aula – Profª 3 ETAPA GÊNERO OBJETIVO (S) 1ª HQs/ Tirinha Apresentar o gênero HQ 2ª HQs/ Tirinha Proporcionar a aproximação dos alunos com o gênero HQs/ Tirinha Conhecer a “Turma do Xaxado”, histórias e personagens de histórias em quadrinho; 4ª HQs/ Tirinha Analisar as histórias observando características peculiares do gênero HQ 5ª HQs/ Tirinha Ler e interpretar histórias em quadrinhos sem balões de fala 6ª HQs/ Tirinha Produzir uma história em quadrinho a partir do texto imagético. 7ª HQs/ Tirinha Produzir histórias em quadrinhos a partir da imaginação do grupo. 8ª HQs/ Tirinha Revisar os produzidos 3ª textos CONTEÚDO (S) PROCEDIMENTO(S) 1. Apresentação da proposta de trabalho; 2. Levantar o conhecimento dos alunos acerca do gênero; Distribuição de várias revistas em quadrinhos para Leitura os alunos fazerem leitura para deleite Apresentação da “Turma do Xaxado” e investigação sobre seus personagens Leitura para aproximar os alunos de um modelo de quadrinho com circulação social. Leitura de várias Histórias em quadrinhos da “Turma do Xaxado” discutindo sobre Leitura e os desenhos, as falas, os produção textual elementos visuais que complementam a compreensão da história Leitura e interpretação de histórias em quadrinhos sem balões de fala, onde o Leitura recurso usado é o não verbal (gestos e expressões faciais) Produção de uma história em quadrinho a partir do texto imagético, no qual os Produção textual alunos devem produzir o texto verbal a partir dos personagens, expressões, lugar onde os fatos ocorrem. Produção de histórias em quadrinhos, dividindo as Produção textual tarefas entre eles e organizem os quadrinhos Correção dos textos produzidos pelos alunos, Produção textual escolha dos textos para serem expostos e publicar no jornal da escola. MATERIAL DIDÁTICO Propagandas em HQ; Revistas de HQ Revistas de HQ Revistas HQ Revistas de HQ Revistas de HQ Texto imagético em folha fotocopiada Textos produzidos pelos alunos 55 Os quadros 6, 7 e 8 apresentam as propostas dos projetos didáticos planificados pelos professores. Neles percebemos que entre as sessões de planejamento e a elaboração dos planos acrescentaram-se informações desde os gêneros até o material didático. Os gêneros sugeridos nas sessões, no caso das Profªs P1 e P3 eram um por turma, porém, nos planos elas evidenciaram o uso de outros gêneros na tentativa, talvez, de aproximar ou comparar o gênero para entender suas estruturas. Nos conteúdos, percebemos que a alteração não foi tão significativa, pois tanto nas sessões como nos projetos a intenção era enfocar o trabalho com a leitura e a produção textual. Quanto aos objetivos, a diferença está no detalhamento do que se pretendia, pois nos projetos as professoras esboçavam de maneira genérica o que explicitaram de forma mais específica nos planos. Nos três quadros descritivos dos projetos didáticos consideramos importante acrescentar a coluna “Procedimentos”, que diz respeito à metodologia ou estratégia de ensino, porque estas informações serão importantes no momento de confrontação com as aulas. 2.3.2 Etapa 2: As aulas As aulas que foram realizadas pelas professoras, a partir dos Projetos Didáticos, também foram observadas e gravadas pela pesquisadora nos meses de julho e agosto, algumas em áudio outras em áudio e vídeo (ver quadro 9). Durante a gravação das aulas, a pesquisadora se manteve todo tempo apenas filmando e observando, como indicamos na sessão 2.1 deste trabalho, houve uma observação participante passiva ou ainda como defende Moreira e Caleffe (2008) foi utilizada a técnica de observação sistemática. Utilizamos o termo observação participante por acreditarmos que mesmo se posicionando a margem dos acontecimentos da sala de 56 aula, a presença da pesquisadora, de alguma forma, influencia o direcionamento da mesma. Embora tenhamos observado que a maior parte dos alunos não se intimidou com a câmera no momento de escrever algo solicitado pela professora, no momento de responder oralmente ou de participar, um ou outro aluno se mostrou tímido. A 5ª série foi a turma que mais demonstrou estar à vontade com a câmera e a pesquisadora na sala. Eles queriam recitar as poesias e, ao mesmo, tempo rever a gravação. Queriam se ver falando e não se envergonharam em demonstrar seus saberes e se apresentar para a turma. Em um dos dias da gravação das aulas, houve um choque de horários entre duas turmas e, nesse momento, houve necessidade de colocar a câmera num tripé fazendo a gravação numa turma e nos dirigirmos à outra sala com uma câmera manual para não perder a sequência das atividades e não comprometer o confronto com o planejamento no momento futuro das análises. Segue abaixo um quadro demonstrativo da quantidade de aulas gravadas em cada série com as três professoras. Quadro 9: Quantidade de aulas gravadas PROFESSORAS TURMAS QUANTIDADE DE AULAS A 5ª série 4 hora/aulas (áudio e vídeo) B 7ª série 8 hora/aulas (6 em áudio e vídeo e 2 em áudio) C 6ª série 8 hora/aulas (6 em áudio e vídeo e 2 em áudio) Finalizamos as gravações com 20 horas/aulas gravadas em três turmas diferentes e com três professoras distintas e para uma maior descrição e visualização dos dados construímos três quadros a partir do que foi gravado e transcrito destas aulas. 57 Quadro 10: Aulas – Projeto 1 – Profª P1 AULAS GÊNERO OBJETIVO(S) CONTEÚDO(S) 1ª e 2ª Poema 1. Levantar o Leitura conhecimento prévio dos alunos acerca do gênero; 2. Despertar o interesse pela leitura de poesias. 3ª e 4ª Música Comparar a Leitura música com o poema enfatizando as características comuns e incentivando a leitura. PROCEDIMENTO(S) MATERIAL DIDÁTICO 1. Dinâmica para saber o que os alunos entendem sobre poesia. Eles a definem em uma frase ou palavra e a professora vai anotando ao redor da palavra poesia no quadro; 2. Os alunos declamam poesias de autores já estudados ou conhecidos; 3. A professora fala da importância de conhecer os autores e fala sobre alguns superficialmente. 4. Pede para os alunos escolherem um dos livros de poesias que estão dispostos no chão e que leiam; 5. Aprofª explica o que e como vai trabalhar o projeto de poesias, fala da pontuação das avaliações, da culminância do projeto através de um sarau; 6. A professora solicita que os alunos copiem para o caderno o que ela registrou no quadro sobre o que os alunos falaram sobre poesia. 1. A professora leva algumas músicas para serem comparadas às poesias, acerca de versos, estrutura e outras características; 2. Professora e alunos contam as estrofes de uma das músicas e discutem o que são versos e estrofes; 3. Alguns alunos lêem e declamam poesias diversas; 4. Alunos e professora confeccionam um cartaz/mural, colam as poesias lidas e escolhidas pelos alunos e inventam um nome para o mesmo. Quadro Pincel Livros Cópias de Músicas Mural - Poesias retiradas (recortadas) de livros 58 Quadro 11: Aulas – Projeto 2 – Profª P2 AULAS GÊNERO OBJETIVO(S) CONTEÚDO(S) PROCEDIMENTO(S) 1ª e 2ª Gêneros jornalístic os Apresentar e Leitura manusear um jornal Jornais 3ª e 4ª Notícia Apresentar a função e a estrutura da notícia num jornal. Textos: Notícias jornalísticas 5ª e 6ª Notícia Apresentar a função e a estrutura da notícia num jornal. 7ª e 8ª Notícia: manchete 1. Associar um Produção texto imagético texto ao verbal; 2. Produzir manchetes 1. Leitura e interpretação de um poema cujo tema é jornal; 2. Manuseio e conhecimento do jornal e suas partes constituintes; (cadernos e textos) / Atividade: anotação sobre os cadernos e os temas dos textos do jornal; 3. Socialização da atividade através da fala da professora sobre os cadernos e outros divisores do jornal; 4. Apresentação de amostras das anotações de cada grupo; 5. A professora junto com a turma vai passando de caderno em caderno para que possam entender e conhecer melhor o jornal. 1. Leitura; 1. A professora apresenta o 2.Produção gênero notícia e suas textual características e funções; 2. Os alunos devem escolher uma noticia nos jornais que estão manuseando e responder às perguntas: O que? Quem? Quando? Onde? Como? Por que? 3. A professora faz intervenções para que a atividade tenha êxito; 1. Leitura; 1. Os grupos socializam a 2. Produção de atividade do dia anterior, texto respondendo as seis perguntas, a professora foi intervindo para tirar as possíveis dúvidas e corrigir as respostas equivocadas; 2. Produção de uma notícia a partir de um texto imagéticoverbal; MATERIAL DIDÁTICO Textos: Notícias publicadas em jornais e notícias produzidas pelos alunos. de 1. Produção de manchetes Imagens jornalísticas a partir de imagens jornais; retiradas de jornais diversos; 2. A professora ajuda fazendo intervenções durante a atividade; 3. Os grupos apresentam as manchetes produzidas; 4. Confronto das manchetes produzidas pelos alunos com as manchetes originais que correspondem às imagens de onde foram retiradas. de 59 Quadro 12: Aulas – Projeto 3 – Profª P3 AULAS GÊNERO OBJETIVO(S) CONTEÚDO(S) 1ª e 2ª Gêneros jornalístic os Apresentar os gêneros que compõem o jornal 3ª e 4ª HQ; Tirinha Apresentar o Leitura; gênero HQ, diferenciandoo dos outros 5ª e 6ª HQ; Tiras Apresentar e Leitura; se familiarizar mais com a Turma do Xaxado; Diferenciar HQ de Tira; 7ª e 8ª Tira Produzir uma Leitura tira a partir Produção das gravuras textual; Identificação dos gêneros contidos no jornal PROCEDIMENTO(S) 1. Apresentação do projeto de HQ; 2. Distribuição de jornais de circulação estadual e regional, identificação dos gêneros que compõem o jornal junto aos alunos; 3. Seleção do quadrinho, dentre os vários gêneros jornalísticos, para subsidiar as próximas aulas do projeto. 1. Disposição de vários livros, revistas e outros materiais apresentados em forma de Quadrinhos para que os alunos selecionem o que mais chamam atenção e escolham algum para posterior leitura; 2. Discussão sobre as temáticas tratadas em cada material lido; 3. Discussão sobre a estrutura e a organização do gênero HQ; 4. Discussão sobre a importância dos desenhos para o entendimento do texto; 5. Leituras possíveis a partir das expressões faciais dos personagens que estão no material lido, dos sons, dos símbolos dentro dos balões, do tamanho e forma dos balões, entre outros recursos que servem para dar o sentido pretendido pelo autor; 6. A professora fala da Turma do Xaxado e promete trazer nas próximas aulas, apresenta alguns personagens e fala sobre a semelhança das histórias desta turma com a vida dos alunos, que moram no nordeste. 1. Distribuição de jornaizinhos com história da Turma do Xaxado; 2. A professora reapresenta a Turma do Xaxado que será oco de muitas leituras nas aulas; 3. A professora lê algumas informações específicas sobre cada personagem e sobre a própria trajetória da Turma do Xaxado e suas publicações; 4. Diferenciação dos gêneros História em Quadrinho e Tira; 5. Leitura de uma história em quadrinho apenas imagética; 6. Interpretação e discussão dos recursos usados para compor o sentido da história; e Os alunos produziram uma história que deve ser colocada nos balões da tira que receberam da professora já com os desenhos da Turma do Xaxado; MATERIAL DIDÁTICO Jornais; Revistinhas e livros de HQ e tirinhas; Jornais cujos textos são HQ e tiras; Textos imagéticos Texto imagético (atividade) 60 Entre as sessões de planejamento e as aulas muitas atividades foram inseridas, outras retiradas, alguns procedimentos reelaborados para atingir os propósitos (ler e escrever) outros mantidos porque estariam de acordo com o que as professoras pretendiam ensinar. Ao confrontar os projetos com as descrições das aulas percebemos que, embora os projetos tivessem entre 9 e 11 etapas (cada etapa correspondendo a 2 aulas geminadas), nossa observação aconteceu em um quantitativo bem menor. Portanto, não existe aqui uma correspondência fiel entre a quantidade de aulas planejadas e a quantidade de aulas gravadas. Apesar disto, entendemos que este quantitativo é suficiente para nos fornecer os dados que permitirão analisar as ações e as atividades docentes nos dois momentos: planejamento e aula. Os quadros demonstrativos das sessões de planejamento, dos projetos didáticos e da realização das aulas, apresentam as ações das professoras nessas situações formativas, assim, percebemos que são imprescindíveis para a compreensão e confronto do que as professoras planificaram e do que elas realizaram em sala de aula. No próximo capítulo, discutiremos e apresentaremos exemplos das práticas docentes procurando refletir sobre o que elas propõem como objetivo para o ensino de língua, como objeto de ensino e o que é proposto, também, como atividade de ensino. 61 3. O TRABALHO DOCENTE NO ENSINO DE LÍNGUA: O QUE SE PLANIFICA? O QUE SE REALIZA? Neste terceiro capítulo, como no primeiro, apresentamos o título em forma de pergunta, pois desta forma ele nos encaminha às respostas que nossa análise revela a partir do que objetivamos para esta pesquisa, e, mesmo apresentando duas perguntas não é nossa pretensão tomá-las como categorias isoladas. Assim, não responderemos uma de cada vez, mas as duas simultaneamente, ao passo em que analisaremos dados oriundos tanto dos documentos planificadores – transcrição das sessões de planejamentos e projetos didáticos – quanto da realização das aulas. O que se planificou e o que se realizou, como trabalho docente, está explícito através da discussão de três categorias de análise, surgidas a partir do levantamento teórico e do que os dados evidenciam. São elas: os objetivos, o objeto e as atividades de ensino. Por isso, pretendemos com este capítulo responder a seguinte questão de pesquisa: o que foi planificado e o que foi realizado, por três professoras, para o ensino de texto em aulas de Português? Norteados por estas questões de pesquisa analisaremos a atuação das três professoras, desde o planejamento feito por elas até a execução das aulas. Assim, para organização do texto deste capítulo escolhemos refletir sobre o que é proposto (sessões de planejamento e projeto didático) e o que é feito (aulas) para as categorias já descritas. Com isso, teremos condição de descrever e analisar o que é proposto como trabalho de texto, observando desde os objetivos do ensino de língua portuguesa, perpassando pelos objetos escolhidos até as atividades de ensino. Especificamente sobre o(s) planejamento(s), podemos dizer que, se genericamente atribuímos conceitos próximos da organização de uma atividade futura e executável, no ensino, este conceito é particularmente atribuído à tarefa que objetiva organizar e prever a realização das aulas. E, em função de não haver predeterminações acerca da modalidade a ser seguida, as professoras se encontram na posição de 62 definidoras, ou até autoras, do instrumento que usariam como documento escrito que prescreveria suas ações e as dos alunos com vistas às aulas, e sendo o planejamento fruto de uma ação em que o professor programa as atividades para serem executadas na aula, este é um texto prescritivo, ou ainda, auto prescritivo. Nas sessões de planejamento, as professoras esboçaram suas pretensões e depois as materializaram através dos projetos didáticos, os quais apresentam justificativa e contexto da situação de ensino numa introdução, alguns pressupostos teóricometodológicos, os objetivos gerais e os objetivos específicos de cada procedimento ou etapa do plano, além de prescrições mais específicas como gênero e atividades a serem realizadas (cf. Metodologia, Capítulo 2). De um modo geral, analisando as sessões de planejamento, os projetos e as aulas, percebemos que as professoras contemplam o ensino de texto exclusivamente nos eixos de leitura e produção textual, e não apresentam em suas ações, situações de ensino voltadas para a análise linguística. Isto se confirma nos objetivos de ensino produzidos pelas docentes nos projetos - objetivos geral e específicos - e nas sessões quando revelam o que querem atingir com as aulas, pois são estas ações que evidenciam suas propostas de ensino. No que diz respeito ao ensino de texto com foco na leitura, as professoras pretendem levantar conhecimento prévio sobre o gênero, despertar o interesse dos alunos pela leitura, apresentar o suporte no qual o gênero se insere, conhecer a estrutura de cada texto apresentado, entre outros. Já em relação à produção textual fica visível que o propósito é, principalmente, estimular os alunos a produzirem textos e produzir textos com base nas discussões de leitura, considerando as estruturas de cada gênero. Percebemos, então, que se no planejamento se esboça a pretensão de trabalhar a leitura e a escrita de textos dando ênfase à primeira. Nas aulas, isso se comprova quando percebemos que predomina o ensino de leitura. 63 Chegamos a essas constatações através da análise das ações docentes no ensino de texto, a partir do que disseram que iam fazer (objetivos de ensino), o que iam usar para atingir o que queriam fazer (objeto), visualizados nas sessões de planejamento e nos projetos didáticos, e o que fizeram em sala de aula, com o objeto escolhido. Para seguir nesta direção, precisamos, do ponto de vista do ensino como trabalho, considerar os elementos da atividade docente, recorrendo aos elementos constitutivos desta atividade. Deste modo, passemos agora, para a análise propriamente dita, quando faremos um caminho de descrição, interpretação/análise e comprovação das nossas constatações a partir do corpus selecionado. 3.1. Os objetivos de ensino Os objetivos de ensino estabelecidos pelas professoras (sujeitos) como metas gerais para as situações didáticas são apresentados, mais explicitamente, nas sessões de planejamento e nos projetos didáticos. Tais objetivos, como já dissemos, têm em vista predominantemente o ensino de leitura, em primeiro plano, e da produção escrita, em segundo plano. Comprovemos essa constatação com os exemplos que seguem: (1) P1: eu to dizendo assim... eu ainda acho que todo esse problema está na leitura é como nós poderíamos estar trabalhando... desenvolvendo é... projeto... sequencia didática... plano... ações pra que pudesse é... transformar o nosso aluno em um leitor porque na verdade é isso eles não são leitores (...) P2: é porque a partir daí... da leitura o resto ele vai ( ) P1: eles decodificam.... eles acham que eles pega aqui ( ) eles sabem que eu digo... vocês estão decodificando mas quando pergunta e aí o quê quer dizer eles ficam assim... (Sessão de Planejamento 1) (2) 64 P2: Ontem eu disse... os meninos não estão conseguindo ler e interpretar.... ou seja ler.... e a.... e os de os meus estão com muita dificuldade na escrita.... não é?... então vai ter duas envergaduras... um para a escrita e outro pra leitura.... porque com os gêneros textuais.... vou usar essa folha viu?... e eu sei que.... o problema é justamente por causa desse primeiro problema que você colocou. (Sessão de Planejamento 2) Nos exemplos (1) e (2), as professoras (P1 e P2) demonstram que sua preocupação tem em vista o ensino da leitura, pois, segundo elas, os alunos ainda têm muita dificuldade de entender o que decodificam. Em decorrência disso, esboçam seu interesse em trabalhar leitura e explicam que para atingir este objetivo (assim como o de melhorar a escrita) devem produzir seus planejamentos com vistas a solucionar esta dificuldade discente. Assim, como vemos no exemplo (1), a professora sugere que elas mesmas façam isso numa ação conjunta e para isso ela recorre ao coletivo do qual participa – o das professoras de português desta escola. Coletivo, aqui, é entendido como um dos elementos constitutivos da atividade docente (AMIGUES, 2004) conforme discutimos no nosso capítulo teórico e, para a docente, funciona como uma das estratégias para atingir o objetivo de ensino. Assim, a ação de ensino a ser desenvolvida está orientada, como vemos, por essa preocupação coletiva inquestionável, para elas. Percebemos também que, embora nas sessões de planejamento, as professoras deixem claro que vão trabalhar com leitura e produção de texto, o exemplo (3), retirado do “Projeto 1”, mostra que o foco principal é a leitura, neste caso, a leitura “por prazer”. Vejamos: (3) Aproximação com a linguagem poética, no sentido de familiarizar o aluno com a poesia, para que tenham prazer em ler e ouvir poemas e, sobretudo, para que se sinta motivado a expor suas emoções, dar liberdade de criar, brincar com as palavras, fluir sua imaginação. (Projeto 1) 65 Assim, fica evidente que o propósito do trabalho com o gênero poesia é estimular os alunos a lerem e reconhecerem os textos do gênero escolhido. O que converge para a mesma necessidade de ensinar leitura apontada no exemplo 1. A partir do que observamos no objetivo de ensino explicitado no projeto de P1 (exemplo 3) e no exemplo 4, a seguir, entendemos que a produção de texto e a análise lingüística não são contemplados em todos os momentos da planificação. A produção de texto se apresenta no detalhamento das estratégias a serem seguidas, mas não no objetivo geral, e a análise lingüística aparece apenas na sessão como um relato do que se faz geralmente com este eixo durante a aplicação do projeto. Daí, entendemos que algumas ações, apesar de não contempladas na planificação, podem acontecer nas aulas, confirmando, assim, que o trabalho de ensino, independente do planejado, só se efetiva na sala de aula. A professora justifica isso em função de ministrar apenas a disciplina redação, o que se configura como um tipo de prescrição, nesse caso, institucional, como vemos abaixo: (4) P1: ô... ô... [...] porque o meu trabalho... quando eu faço meu trabalho ( ) embora eu só esteja com redação... né mas eu não deixo de trabalhar... é... é... trabalhar análise linguística (com eles) (...) [...] porque é a partir dos textos né? [...] então eu peguei do que eles escreveram... outra coisa... quando eu fiz esse... o primeiro texto coletivo com eles... o segundo texto eu fiz uma reescrita eu peguei um texto deles pra a público fazer... a gente fazer a correção juntos certo.... (do exercício deles) (Sessão de Planejamento 3) Além disso, podemos observar, também, neste excerto (4), que as professoras, novamente, recorrem a um dos objetos constitutivos da atividade docente - as “ferramentas” (o texto do aluno e o exercício de correção) - para elaborar e reelaborar seus objetivos de ensino. Neste caso, a professora reflete sobre ações já vivenciadas em sala de aula (bimestre anterior) para servirem de base para a produção do planejamento atual. Aqui, as ferramentas estão representadas pela ação de pensar no exercício de 66 fazer os alunos escreverem e reescreverem os textos, “pois são transformadas por quem as usa – o professor – com o intuito de conseguir seu objetivo”. (Amigues, 2004) Nestes próximos exemplos, os objetivos de ensino para os projetos 2 e 3, evidenciam claramente as pretensões das professoras em ensinar leitura e produção de texto, não aparecendo a análise lingüística nem nas sessões, nem nos projetos. Portanto, este eixo não é contemplado na planificação destes dois sujeitos. Observemos a seguir o que eles propõem para o ensino dos gêneros escolhidos. (5) Ler, analisar e produzir textos jornalísticos, observando a relevância da prática de leitura de jornais para uma reflexão crítica da realidade social de que participam. (Projeto 2) (6) Os alunos trabalharão a leitura e a escrita, analisando os possíveis caminhos para se interpretar o contexto de cada história e suas principais características; depois disto, os mesmos produzirão sua própria HQ, onde poderão expor suas emoções fazendo uso dos recursos lingüísticos ( discurso direto, onomatopéia, expressões populares) e não verbais ( gestos e expressões faciais). (Projeto 3) Como está comprovado, nos exemplos (5) e (6), referente aos projetos (2 e 3), os objetivos de ensino evidenciam as propostas de ensino para leitura e produção de texto. Ao escolher os gêneros como objeto de ensino e estabelecer as metas para suas aulas do bimestre, as professoras (P2 e P3) esperam conseguir fazer com que os alunos leiam vários textos destes gêneros (ou contidos no suporte, no caso do jornal). Além disso, P3 espera que os alunos se apropriem das características do gênero e após as aulas de leitura produzam uma HQ. O que nos faz compreender que, na planificação, o lugar da produção de texto para esta docente é uma conseqüência das aulas de leitura. Os objetivos de ensino das professoras (P1, P2 e P3), sujeitos desta pesquisa, são entendidos como uma proposta de trabalho de leitura e produção de texto a partir do gênero escolhido (para o bimestre). Assim, é pretensão delas que exista uma maior 67 aproximação (projeto 1 e 2) dos alunos com os gêneros para, conhecendo os gêneros e suas características poderem produzir os textos solicitados em aula. 3.2. Escolha do objeto de ensino Sabendo que o “gênero textual” foi eleito, por parte das professoras, como objeto de ensino para as aulas de língua, observa-se que as docentes propõem sequências de atividades voltadas para a aprendizagem de aspectos a ele relacionados, como a leitura e a produção de textos a partir dos gêneros escolhidos. Nos trechos abaixo, retirados das sessões de planejamento, as professoras demonstram o porquê de escolherem o “gênero” como objeto de ensino. Vejamos: (7) P1: porque eu acho que é uma forma de você contextualizar... não dá pra você começar sem o texto a coisa fica fragmentada... P3: acho que a gente nem devia fazer nada sem o texto... eu ia tirar de onde isso?... como é que eu ia saber.... acho que tudo que a gente quer ver.... a interpretação a parte gramatical tá tudo dentro do texto.... P1: e eu tenho que saber que até mesmo quando né? é::.. é... ( ) cuidado pra não usar o texto como pretexto... (Sessão de Planejamento 1) (8) P3: [...] eu mesmo quando trabalho determinado texto eu quero que eles façam a utilização... desse texto... certo?... porque qualquer texto que eu traga em relação a uma receita ou um texto institucional... o que for... mas eu quero mostrar pra eles a relação daquele texto com a vida deles... (Sessão de Planejamento 2) Nos exemplos (6) e (7), assim como no (8), as professoras evidenciam a preocupação em contextualizar as atividades de sala de aula, através dos textos, para que as mesmas possam viabilizar uma relação destes com a vida dos alunos. Percebemos, assim, o impacto da prescrição oficial, ou seja, o pensamento das professoras parece repetir o que é proposto, por exemplo, pelos PCN, com uma 68 orientação teórica que defende o ensino contextualizado e significativo para o aluno. Observemos: (9) P2: quando eu pego um texto eu acho que além do conteúdo tem que ser algo que não foge da realidade deles certo?... tem que ter algo a mais.... ( ) tem que ter algo a mais... tem que ter uma relação com a vida deles... mas ao mesmo tempo também eu percebo a função daquele texto na sociedade... pra quê... que serve o texto como um conto?... pra que serve um texto como uma crônica?... em que meio circula ele?... pra quê que vai servir?... porque que importância tem pra produzir um texto como ele? (Sessão de Planejamento 2) Lendo o exemplo (9), verificamos que o sujeito P2, além de concordar com as colegas, amplia a justificativa do uso do texto na aula, trazendo os aspectos que constituem a situação sócio comunicativa do gênero textual (prescrição teórica), o qual é tomado como objeto de ensino. Essa constatação nos remete à discussão das noções de “gênero” e “texto”, ao percebermos que, nas sessões de planejamento e nos projetos didáticos, P1 e P2 demonstram orientar suas ações por conceitos teóricos, amplamente divulgados nas formações, de “texto” e “gênero”, como veremos adiante. Vejamos: (10) P1: eu entendi que o gênero textual... que o tipo textual pode estar dentro do gênero... P3: então o gênero é o todo... P1: hã... não porque é assim... o tipo textual... aí vem o argumentativo... né... é:::... o descritivo... o narrativo (...) é:: o indutivo... e que dentro de uma mesma modalidade... de um gênero textual... a carta eu posso colocar todos esses (Sessão de planejamento 1) (11) P3: não tem... que diferença vai ter?... que não vai ter de discursivo e textual... P1: durante muito tempo eu tive uma dúvida né... é::... conversei com ( ) várias vezes em relação a isso... entre gênero e tipo... né... gênero textual e tipo textual... a gente lia em alguns (....) autores que... que trazia né... essa nomenclatura essa divisão [...] pra mim ficou mais claro em relação a isso... então ficou mais fácil pra mim o que seria gênero e tipo... e o tipo textual é onde a gente encontra todas é::: como é que eu vou dizer pra vocês... a narrativa ... a descritiva... né... 69 dissertativo... indutivo... e que is... todos eles podem estar dentro de um gênero... né? (Sessão de planejamento 1) A professora (P1) não consegue conceituar o gênero, isoladamente ou de acordo com a caracterização situação sócio comunicativa, mas consegue diferenciar gênero textual de tipologia textual. Segundo ela, este conhecimento “vem de algumas leituras”. O que não fica aparente é se ela realmente sabe diferenciar “gênero” de “texto”, pois os dados das sessões não evidenciam e nos projetos didáticos e nas aulas não ocorrem equívocos dessa natureza. Já P3 demonstra insegurança na aplicação desses conceitos durante a aula, pois, utiliza os termos “gênero textual” e “texto” de forma equivocada. Afirmamos isso, ao tomarmos como referência os conceitos apresentados por Marcuschi (2008) que conceitua o texto como “objeto empírico” do “gênero”, e este, por sua vez, pertence ao objeto do dizer - o “discurso”. Demonstramos a seguir, o excerto que comprova esta constatação: (12) P3: então dentro de um único jornal... de um único gênero... de um gênero textual que é o jornal nós encontramos aquela variedade de gêneros também.... porque eles cabem naquele espaço... (é do mesmo gênero comparamos ele ao) nosso livro didático... nosso livro didático se nós formos olhar nós temos diferentes gêneros textuais... então jornal funciona mais ou menos como esse livro... lá tem de tudo uma variedade imensa de texto que a gente viu classificados.... anúncios... é:::: artigo de opinião que é aquelas reportagens falando sobre algo relacionado a saúde ou a política.... economia entendeu? então dali vai sair o nosso gênero que a gente vai trabalhar no nosso projeto... que hoje é que a gente vai colocar as mãos realmente nele... (Aula 3 – P3) A compreensão das docentes varia, conforme demonstra o exemplo acima, entre o confronto dos termos para conceituá-los (sessões), o uso adequado dos termos (projetos) e o uso adequado (P1 e P2) e equivocado (P3) durante as aulas cujo objeto 70 escolhido por elas é o gênero textual. Depreendemos que o fato de apresentarem algumas dúvidas no campo conceitual, isto não impede que as docentes programem atividades nas quais o trabalho com “gênero” e/ou “texto” seja o foco do ensino para elas. Entendemos que o fato de os professores tentarem conceituar os objetos trabalhados é um avanço em relação a utilização do gênero/texto na escola, e ao ensino de língua, que podem estar pautados tanto na concepção de linguagem como interação (TRAVAGLIA, 1997), quanto na tentativa de integração das várias concepções de língua/linguagem (COSTA VAL, 2002). Embora este não seja o foco de nossa análise, atribuímos a esta tentativa a defesa que as professoras fazem em escolher e ensinar os gêneros nas aulas de língua. Por isso, demonstraremos nos excertos abaixo, exemplos (13) e (14), como elas mostram aos alunos o gênero textual que vão estudar, ou seja, qual o objeto de ensino para as próximas aulas durante o bimestre: (13) P3: eu vou colocar aqui no centro da sala o material e vocês vão de um por um... levanta e vem aqui... olha::: manuseia e pega alguma coisa e volta pro lugar... [...] podem ir dois três alunos... vá ao centro... umbora... quem já pegou olha o material... cada um olha o que recebeu... manuseie o material... leiam pra gente discutir aí acerca do que se trata... a partir do momento que eu coloquei o material aqui vocês já tavam... já sabia do que se tratava ok? alguém tem alguma dúvida? do que vamos trabalhar no projeto? quando eu coloquei o material aqui alguém já... já sabia o que a gente ia trabalhar? Al: historinhas em quadrinho P3: seria o que então Al(x): histórias em quadrinhos (Aula 4 – P 3) (14) P1: vocês disseram poesia é... ó agora ouçam... vocês começaram com amor não foi? Al: foi... P1: poesia é amor.... é virtude... interesse.... pensamento... liberdade... emoção.... utilidade.... ensino...diversão... brincadeira... romantismo... imaginação.... criação.... é arte... é aprendizagem.... é orientação... é organização... é rima.... é alegria... é história... é talento... é felicidade... a gente já descreveu o que aí? uma? Al(x): música... Al(y): poesia.... P1: a gente descreveu uma poesia... não é? veja só... com o nome poesia nós descrevemos uma poesia... depois todo mundo vai registrar aí em seu caderninho... tá vendo como é FÁcil compor?não é? lógico 71 que depois a gente vai estudar isso dentro da poesia né? desse gênero textual poesia.... aí a gente vai ver como é toda estrutura... (Aula 1 – P1) Como vemos, em (13) e (14), as professores apresentam aos alunos o objeto de ensino, o gênero textual a ser ensinado/estudado nas aulas de português. Há, explicitamente, a apresentação da terminologia teórica (principalmente, o termo “gênero”), demonstrando, assim, que o que está prescrito, ou seja, que o ensino de língua deve ter o gênero, e não apenas o texto, como objeto de ensino, parece comandar as ações de ensino, mesmo que estas estejam sendo realizadas de forma superficial e não contemplem todos os eixos do ensino de texto – leitura, produção textual e análise linguística. No entanto, tal procedimento – apresentação do objeto de ensino – é um aspecto importante de seu trabalho. Para isso, vejamos mais um exemplo: (15) P2: quando eu vou lendo a reportagem... que é uma::: outro gênero.... eu to o tempo todo aqui trocando... mas a notícia.... a noticía cabe a ela o que? informar ao leitor sobre um determinado fato né? Que pode ser exposto de uma maneira mais curta do que na reportagem... na reportagem a gente vai ter a notícia e vai ter ela bem mais ampliada porque a gente vai ter a voz do jornalista... a gente vai ter a voz de pessoas que são entrevistadas sobre aquele assunto... a gente vai ter versões diferentes sobre a mesma notícia... então isso é o que diferencia mais reportagem desse gênero que a gente ta estudando agora que é a notícia... certo? Eu vou ver cada um individualmente depois.... mas agora tem uma atividadezinha que a gente vai fazer [...] (Aula 3 – P2) Fica evidente que as professoras acham importante apresentar para os alunos qual o objeto de estudo. Para isso, P1 e P3 utilizam atividades diferentes (distribui livros e textos variados, entre outras ações) como meio de induzir o aluno a descobrir qual é o gênero a ser explorado e o que vai ser feito com ele nas aulas (excertos 14 e 15). Como podemos verificar no trecho abaixo, em que a professora planifica a aula que será realizada: (16) Execução da dinâmica da palavra imã. Pedir aos alunos que complete a frase. POESIA É... Distribuir no centro da sala livros de poesia para que 72 os alunos manuseiem livremente. Apresentar a proposta aos alunos ressaltando a importância de conhecer e ser capaz de apreciar e produzir poesias, mostrar credibilidade no potencial e na capacidade de cada um, de forma a trabalharem intensamente, produzindo e aprendendo. (Projeto 1) Assim, tomando como base os exemplos, ora apresentados, tanto das sessões e projetos, quanto das aulas, verificamos que, além de apresentar o objeto de ensino para os alunos, as professoras deixam claro, também, que o intuito de ensinar texto em sala de aula está relacionado a um objetivo principal - o de ensinar aos alunos a ler e escrever os textos apresentados, ou seja, o objeto empírico dos gêneros trabalhados. Essa constatação também pode ser observada quando o objeto de ensino passa a ser a produção escrita, o que será verificado nos exemplos que seguem: (17) 5ª Etapa: 09 de setembro Objetivos: Apresentar a modalidade de texto, acróstico, para os alunos. / Estimular os alunos a produzirem seus acrósticos. Procedimentos: Apresentação para o aluno das atividades relacionadas a poesia que serão trabalhadas. Primeiro o acróstico (tipo de poema (rimado ou não) em que se coloca o nome de alguém é colocado na vertical, sendo que cada letra o início de um verso). Mais uma vez trarei livros de poesias para a sala para que tenham outra aula de leitura, sem compromisso, ler por prazer, por distração, por gostar de poesias. Divisão da turma em trio para realização de sua produção. (Projeto 1) (18) 3ª Etapa: 20/08/2009 Objetivo: Socializar as leituras dos grupos e propor uma atividade de produção de notícia. Estratégias: Leitura partilhada dos registros dos grupos na última etapa; Leitura de texto imagético e verbal “A balsa da Medusa” para produção de lead e notícia; Localização das informações no texto escrito com intervenção da professora; Momento de produção textual em trios. (Projeto 2) Percebemos que no Projeto 1, a professora, nesta etapa, propõe uma produção de texto, seguida de uma atividade de leitura. Ao compararmos o exemplo (3), na página 65, também relacionado ao mesmo projeto, vimos no objetivo geral do projeto, o qual 73 evidencia o objetivo de ensino, que não traz como proposta produzir textos e sim ler textos variados. Mais uma vez observamos que nem sempre o que está planificado no projeto didático é o que encaminha as aulas durante as etapas que elencam as atividades a serem feitas em aula. Ou que, a exemplo de P2, no excerto (14), a atividade é programada, mas não é detalhadamente planejada, aparecendo apenas como uma conseqüência das leituras feitas de textos pertencentes ao gênero trabalhado. Entendemos que as professoras recorrem à produção de texto, previsto e não planificado (14), ou não planificado, porque este tipo de exercício faz parte das regras do ofício da disciplina de língua portuguesa, ou seja, é esperado que os alunos produzam textos. Embora as professoras saibam que é uma atividade, importante e recomendada pela “teoria” e pela “hierarquia” (PCN), seu uso parece acontecer em função do cumprimento das “regras deste ofício”. Não queremos, com isso, dizer que as professoras realizam bem ou mal o ensino. Nossa pretensão é mostrar que, quando submetemos esses dados ao que Amigues (2004) denomina de regras do ofício, as ferramentas desse trabalho podem ser exercícios já existentes ou criados por ele mesmo para uma situação nova; neste caso não é um exercício novo, mas, as professoras fazem uma adequação à situação de ensino em questão. 3.3. As atividades de ensino Neste item, analisamos o que se mostra como propostas de atividades, que as professoras planificaram nas sessões de planejamento e nos projetos didáticos, confrontando com as atividades propostas nas aulas. Assim, os primeiros exemplos que apresentaremos são os das atividades que as professoras esboçaram nas sessões, ou seja, o que elas pretendiam registrar nos projetos como planificação para o trabalho com texto. Vejamos: 74 (18) P1: apresentar a proposta aos alunos destacando a importância de conhecer pra ser capaz de apreciar e produzir textos e demonstrar a credibilidade no potencial e na capacidade de cada um de forma a trabalhar intensamente produzindo e aprendendo...(a professora lê um trecho do projeto); propor que participe das atividades... e mostre que sabe e são capazes de transformar as palavras em arte... levar o leitor a um mundo criado por ele.... porque nesse primeiro momento aqui... como eu disse.... é::... é.... o que eu quero... eu... eu.... eu quero que eles conheçam o gênero poesia... (Sessão de planejamento 2) (19) P2: (uma coisa que eu sempre faço assim quando eles produzem) antes de eu pegar pra corrigir eu coloco um grupo (pra corrigir o do outro grupo) olha... mas não sobre ( ) gramaticais mas apontam assim sugestões... o que que você acha que faltou no texto do seu colega?... (Sessão de planejamento 3) (20) P1: é nesse,... nesse trabalho de redação eles tem um trabalho que é assim... edição de rascunho e edição de texto então eles fazem primeiro o rascunho aí eu peço que eles mesmos lêem... eles lêem tudo direitinho... passam pra edição de texto... na edição de texto eles vão fazer um texto que é aquele que eles me entregam certo?... eles me dão... é:::: eles passam pra mim eu olho faço as cobranças... considerações.... chamo mostro aponto... levam de volta aquele texto... porque é em grupo né?... tudo é em grupo... aí eles reescrevem na edição de texto.... o grupo todo já com a consider... as intervenções feitas por mim depois disso é que eles fazem aquele que tá comigo é::: é::: que não deixa de realmente né... porque ali sempre tem alguma coisa... mas já foram feitas três edições... porque se a gente não chamar o grupo todo... e outra coisa todo mundo tem que registrar em seu caderno... porque a pesar de ser em grupo.... pra não forçar o aluno a trabalhar (....) (Sessão de planejamento 3) Nestes três exemplos as professoras planificam o trabalho de produção textual, pretendendo ensinar aos alunos a escrita de textos. Nessas atividades, elas enfatizam a importância da revisão e edição como etapas do processo de elaboração de textos escritos, cujo produtores, são os alunos. Por isso, propõem a produção e revisão dos textos, incentivando, inclusive, os alunos a corrigirem os seus próprios textos e os textos dos colegas. Além disso, essa forma de pensar, já exposta nos projetos, se aproxima do que se prescreve sobre ensino de língua, especialmente quando se tem como objeto o texto escrito do aluno. 75 Extraímos esses três excertos (18), (19) e (20), para compararmos com as propostas que se seguem, exemplos (21), (22) e (23), nos quais as professoras registram o que propuseram/disseram nas sessões de planejamento sobre as atividades de ensino. Observemos nestes próximos trechos as atividades de leitura e de produção de texto: (21) 1ª etapa Objetivo: Sensibilizar os alunos para o poder da sedução do gênero textual , poesia. Execução da dinâmica da palavra imã. Pedir aos alunos que complete a frase. POESIA É... Distribuir no centro da sala livros de poesia para que os alunos manuseiem livremente. Apresentar a proposta aos alunos ressaltando a importância de conhecer e ser capaz de apreciar e produzir poesias, mostrar credibilidade no potencial e na capacidade de cada um, de forma a trabalharem intensamente, produzindo e aprendendo. Propor que participem das atividades e mostrem que sabem, são capazes e podem transformar as palavras em arte, levar o leitor a um mundo criado por eles. (Projeto 1) Neste exemplo (21), está evidente que é uma aula de apresentação, mas como atividade específica de texto a professora apresenta a proposta de fazer uma dinâmica sobre o que é poesia e a distribuição de vários livros de poesia para que os alunos leiam livremente. Assim, as atividades que se destacam são: a dinâmica, tarefa coletiva, tendo a professora como escriba, no quadro branco, e a leitura individual de livros de poesias escolhidos por eles mesmos, dentre os que a professora oferece. Neste próximo exemplo (22), o que aparece como planificação de atividade para texto também é leitura, neste caso, a leitura de um gênero jornalístico, a notícia. Ao que parece, a professora ao mesmo tempo em que programou uma atividade que, possivelmente incentiva a leitura dos alunos, encadeia uma atividade que pode ajudar numa futura produção de textos, seria a atividade de buscar informações, através da leitura de notícia, baseando-se em perguntas-chave. (22) 2ª Etapa Objetivo: 76 Conhecer alguns aspectos formais necessários para a iniciação à leitura do gênero notícia, a partir da leitura e estudo de suas características. Estratégias: Leitura de jornais; Seleção de notícias para leitura em grupo, conforme a preferência dos alunos; Exposição das características do gênero notícia; Composição: aspectos formais; Significação: aspectos semânticos - atividade proposta: localizar na notícia selecionada as respostas das seis perguntas básicas: Quem? O quê? Onde? Quando? Como? Por quê? (Projeto 2) Percebemos também que, neste trecho (22), a professora dá atenção às características do gênero, e por isso reserva uma atividade de caracterização do gênero notícia. O excerto seguinte (23) demonstra as atividades planejadas para três etapas consecutivas do Projeto 3, e neste, como nos Projetos 1 e 2, as atividades propostas enfatizam a leitura: (23) 1- Apresentar aos alunos a proposta, perguntando se os mesmos já tinham contato com os quadrinhos, ressaltando sua importância como meio de divulgação de campanhas educativas e não apenas como lazer. 2- Expor vários quadrinhos na sala de aula com os mais variados temas e convidar os alunos para se deleitarem com sua leitura. 4- Analisar as histórias passo a passo com os alunos, pedindo que observem cada quadrinho, os desenhos, as falas, os elementos visuais que complementam a compreensão da narrativa. (Projeto 3) Até aqui, os exemplos das sessões de planejamento deste item, mas também dos outros anteriores, e os dos projetos didáticos revelam que, nas sessões, as professoras pretenderam planejar o ensino com os eixos de leitura e produção de textos, apenas em um momento P1 fala da análise lingüística em uma das sessões, mas não propõe nenhuma atividade para este eixo. Observemos, agora, como as atividades, que foram planificadas, foram realizadas em sala de aula: 77 (24) P1: ninguém sabe o que... que eu vou fazer... olha só um minutinho antes vamos a... a - - presta atenção aqui ... e os outros ali vamos prestar atenção - - nessa unidade durante esse projeto nós vamos trabalhar... manusear bastante livro porque eu vou tá sempre trazendo... e vô ver se eu consigo outros emprestados pra trazer pra vocês... vou pedir também que vocês tragam alguns livros pra sala... agora a gente preCISA ó::: ter::: alguns cuidados com nosso amigo... [...] eu não quero devolver os livros pra biblioteca em estados.... né? então eu não quero falar que esses livros estavam deplorável... de jeito nenhum... eu quero todo mundo trabalhando com o livro com responsabilidade... e agora vocês poderão ler... eu quero agora que vocês leiam ok?..... (Aula 1 – P1) (25) P1: então vamos lá ó::: psiu:::: ó::: assim.... só um minutinho ó ((a professora e alunos começam a cantar a música aquarela)) P1: então olhe só... perceberam aí? ó::: nós lemos a poesia não é isso?.... depois nós colocamos a melodia e nós cantamos..... agora vamos ver o seguinte olhe..... eu gostaria que vocês pegassem o lápis aí... e nós vamos contar nesta... nesta música né? Quan-tos VER-SOS TEM... olha lembrem que quando vocês leram vocês leram os versos mesmo a palavra estando lá onde tem assim ó::: e se faço chover com dois riscos tem um.... guarda-chuva.... guarda chuva tá na outra... linha ... mas pertence ao verso... P1: - anterior Al: - primeiro P1: então eu quero todo mundo aí enu-merando:::: (Aula 3 – Projeto 1) Estes dois exemplos foram retirados das aulas da mesma professora, porém em dias diferentes de aula. Verificamos aqui que os dois exemplos mostram que a professora ao fazer seu trabalho com texto dá maior atenção a atividades de leitura. Então, as atividades confirmam, assim como se apresenta em relação aos objetivos e aos objetos de ensino, o percurso pretendido na planificação – da leitura para a produção. Comprovemos esta constatação a partir da observação dos dois próximos excertos: (26) P2: é... você pode colocar na frente as respostas a partir daí vocês vão pegar no texto a resposta à essas perguntinhas aqui... vocês pegaram uma notícia... cada um tá com uma notícia... então o que aconteceu? sobre o que fala essa notícia? quem está envolvida.... quem são as pessoas envolvidas nesse fato? quando? em que momento aconteceu? onde? e como ? toda notícia ela precisa responder a essas perguntinhas aqui pra que ela seja considerada uma notícia... certo? então procure se no texto que vocês selecionaram 78 aí vocês não conseguiram responder a essas questõeszinhas aqui provavelmente você não escolheu a notícia... você pode ter escolhido um outro tipo de texto... quem escolheu por exemplo... uma carta ao leitor não vai conseguir responder a essas perguntinhas.... uma charge não vai responder a essas perguntas... tentem responder essas perguntinhas aí com o texto que vocês estão em mãos... (Aula 4 – P2) (27) P2: é uma imagem... certo? É uma::: uma obra de arte que a gente vai analisar e dessa obra de arte nós vamos criar uma notícia... certo?... vejam só.... morrer afogado no mar é o pesadelo de quase todo mundo mas quando se acrescenta a esse cenário fome e canibalismo o horror é ainda maior.... foi o que ocorreu quando uma fragata francesa a medusa afundou a caminho de Senegal no dia dois de julho de mil oitocentos e dezesseis... [...] aí vocês vão ler vão observar essa imagem... vão ler isso aqui novamente com calma... e vão transformar esse texto essa imagem em uma repor.... em uma notícia.... a notícia como vocês sabem deve responder a essas seis perguntas certo? Vocês vão fazer isso em dupla ou em trio... certo?... em dupla ou em trio não mais que isso... certo? Transforme a balsa de medusa texto e pintura em uma notícia... primeiramente redija o lead... o que é o lead? O que é o lead galera? [...] lembre-se de adaptar a linguagem a uma linguagem jornalística... que é uma linguagem direta.... uma linguagem clara... objetiva certo? Leiam releiam a notícia que vocês tem em mãos (....) (Aula 5 – P2) Conforme esses exemplos (26) e (27), observamos que as atividades cumprem o percurso planificado (da leitura para a produção escrita), fazendo uso de ferramentas apropriadas para esse ensino. Ela propõe, assim como as outras professoras, uma atividade de leitura e, em seguida, a produção de texto escrito; neste caso, uma notícia. Os alunos deveriam responder a seis perguntas de leitura, que serviriam como roteiro para a escrita do gênero ensinado. Vale salientar que, nesse caso, como em muitos outros, conforme dados de nossa observação, a ferramenta principal era o livro didático de onde a professora retirou esse exercício para aplicá-lo em sala de aula. Assim, comparando o que vimos nos exemplos de atividades planificadas e realizadas, retirados das sessões, dos projetos e das aulas, percebemos que os três momentos propostos, evidenciaram ações diferentes das professoras, a saber, dizer o que iriam fazer (sessões), registro do que disseram que iam fazer (projeto didático) e realização dessa planificação (aulas). Depreendemos que, do que se espera (prescrição 79 teórica e prescrição oficial) que seja feito nas atividades do trabalho de ensino de texto, a leitura e a produção de texto, também, são os eixos priorizados tanto no planejamento quanto nas aulas. E que diante disso, percebemos ainda que, a leitura é o principal foco das atividades de ensino propostas pelas professoras para o ensino/estudo do texto. Quanto à análise lingüística, que, como dissemos, só foi citado uma vez na Sessão 2, não tivemos como perceber, porque os dados nada evidenciaram sobre isso: se as professoras a trabalham separadamente, em aulas que não sejam destinadas a aplicação do projeto, ou se entendem que é suficiente, para o ensino de texto, elaborar atividades que abranjam apenas leitura e produção de texto escrito. Assim, da leitura e da produção de texto, a primeira foi a que se tornou o foco da planificação produzida pelos professores. Percebemos que predominou uma expectativa por parte das professoras que os alunos passem a ler (interpretem, entendam, compreendam) melhor os textos levados para a sala de aula. 80 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando o ensino como trabalho, esta pesquisa pretendeu investigar o que foi planificado e o que foi realizado, por três professoras, para o ensino de texto em aulas de Português. Para responder a esta questão de pesquisa, tivemos como objetivo central investigar a prática dessas professoras, no planejamento e na execução de suas aulas para comparar e refletir sobre suas ações a partir da relação prescrito/planificado/ realizado no ensino de língua. Assim, o que se constituiu como caminho para responder à questão de pesquisa e atingir o objetivo geral, foram os seguintes objetivos específicos: Identificar, a partir dos objetivos de ensino, do objeto de ensino e das atividades expostos no trabalho de planejamento das aulas, o tratamento para “texto” como objeto de ensino; Identificar e comparar o tratamento do “texto” como objeto de ensino, a partir das mesmas categorias expostas em a), no trabalho de realização das aulas. Na análise dos dados, pudemos verificar que, tanto nas sessões de planejamento/projetos quanto nas aulas, as professoras conduziram suas práticas de ensino de texto, partindo da leitura para a produção de texto escrito, sem contemplar o componente “análise linguística”. Nesse sentido, podemos afirmar que o “texto” realmente se apresenta como um objeto de ensino, a ser lido e produzido. Porém, percebemos que o ensino de leitura é limitado a pouca exploração da compreensão. Em relação à produção escrita, esta é tomada como consequência da leitura, como uma espécie de “imitação”, de modelo, do gênero estudado. Outra constatação importante é que “gênero” se apresenta predominantemente como terminologia (nos projetos e nas aulas), mas seu tratamento é limitado. Esse resultado, quando comparado aos objetos constitutivos da atividade docente (AMIGUES, 2004), pode ser considerado como um produto típico do trabalho do professor de português, orientado pelos seguintes componentes: (1) a relação do dito e 81 do feito com as prescrições teóricas (Linguística e Linguística Aplicada) e metodológicas (Parâmetros Curriculares Nacionais, por exemplo), quando as professoras expõem seus objetivos de ensino e enunciam o objeto de ensino, deixando evidente o conhecimento que têm sobre o que se defende para o ensino de língua, ou seja, explicitam, por exemplo, que todas as atividades de ensino deverão ter o “texto” como ponto de partida; (2) a preocupação com o que as professoras julgam serem as necessidades dos alunos, o que se configura como uma forma de pensar coletivamente, fazendo funcionar certas regras de ofício, quando, por exemplo, afirmam e realização atividades de produção escrita, pois percebem que “em aulas de português, se deve ensinar o aluno a escrever” e (3) a busca por atividades adequadas aos objetivos por elas planificados, desenvolvidas com apoio de ferramentas, igualmente adequadas, como uso do livro didático, oferta aos alunos de textos variados pertencentes ao gênero em foco (por exemplo, notícias), além de exercícios já conhecidos, reelaborados para uma situação nova. Assim sendo, evidentemente, trata-se de um trabalho específico que precisa ser analisado sob a ótica dessas condições, minimizando-se, desse modo, quaisquer críticas sobre o que não foi feito e sobre o que, por ventura, poderia ser considerado um erro por parte do professor. É válido ressaltar que percebemos uma coerência entre o que elas disseram que iam fazer (planificado) e o que fizeram (realização das aulas), pois, assumem desde o planejamento que o “texto” será tratado como objeto para o ensino de leitura. Desse modo, podemos afirmar que elas propuseram realmente o que sabiam e/ou podiam fazer. Essas constatações nos garantem, considerando os limites da pesquisa, defender que o ensino precisa ser visto como trabalho, submetido a condições como as que aqui foram discutidas. Pensando sobre a importância desta pesquisa, concordamos com Branckart (2009), quando diz que ser professor não é exercer um sacerdócio, nem são, os professores, seres iluminados, são sim, profissionais, e devem ser tratados como tais, por 82 isso acreditamos que esta pesquisa poderá contribuir para que os possíveis leitores, profissionais de educação, que estão constantemente envolvidos nas formações, pesquisas e orientações, possam melhor visualizar o professor de língua, neste caso de português, como um profissional. 83 REFERÊNCIAS AMIGUES, René. Trabalho do professor e trabalho de ensino. In MACHADO, A. R. (Org.) O Ensino Como Trabalho: uma abordagem discursiva. Londrina, PR: Eduel, 2004. pp.35 54. ANDRÉ, Marli Eliza D. A. de. Etnografia da Prática Escolar. Campinas: Papirus, 1995. Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental. 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P1: por unidade... projeto no qual eu já estruturei todas as minhas aulas né? tudo passo a passo o que vou fazer olho o calendário tudo direitinho já passo a passo o que eu vou fazer nessas aulas... é:::: eu achei melhor assim... até mesmo porque pelo ( ) o tema para cada projeto... trabalhamos na primeira unidade com fábula... então demanda um certo tempo né? não dá pra você trabalhar somente uma aula... duas... (então tem que ter toda uma estrutura) como é... qual a funcionalidade... e eles foram produzindo... então foi uma unidade toda... né... e nessa segunda unidade também... com contos... e a terceira a gente tá atrasa... ( ) que eu já tinha em mente pra trabalhar seria a poesia... Thaís: hum... hum.. P1: e é a primeira vez que eu estou trabalhando com projeto... eu sempre trabalhava assim... é::: o meu planejamento né... eu escolhia os conteúdos para serem trabalhados.. essa... essa foi a primeira vez que eu estou trabalhando e eu gostei Valéria: (o meu é assim) eu escolho um gênero conforme a gente conhece e a partir daí eu vou planejando as aulas... mas eu não deixo to... totalmente planejado a unidade... que eu vou abrindo né.. e conforme vai andando (diferente) do que eu estava pensando eu vou modificando... e assim muitas vezes nem sempre no final acontece o que eu esperava ( ) tudo isso... isso e isso não foi como eu esperava... não foram tão (...) Pesquisadora: você costuma fazer então projeto? P2: é como projeto... Pesquisadora: porque na oitava eu vi uma sequência de didática sua P2: é... eu faço assim (...) Pesquisadora: mas você... mas essa sequência didática nasce do projeto ou não? como é que você faz? Valéria: não... na verdade eu planejo como uma sequência didática... eu escolho o gênero ( sequência didática desse gênero ) não necessariamente como manda em alguma ( ) Pesquisadora: hum... tem sempre uma produção no final? P2: tem sempre uma produção... eu sempre coloco assim durante... e para o final às vezes ( ) Pesquisadora: ( ) P3: não... até agora eu não fiz especificamente um projeto... pra unidade... eu preferiria é (...) Coordenadora pedagógica: até agora você não me entregou nem o planejamento... ((risos)) P3: mero... são ... como é que diz? São mero detalhes... ((risos)) P2: ( ) é diferente também porque Lenícia ela não trabalha (....) P3: eu não trabalho redação... eu trabalho com a língua portuguesa,,, no caso de Valéria ela trabalha também com redação ( junto) entendeu? Pesquisadora: é... mas em língua você trabalha também com texto.. né? 88 P3: é trabalha com texto... é mas é assim como eu to dizendo a você... eu não especifiquei nenhum projeto até porque como eu disse a você desde o início quando eu já fiz o meu diagnóstico... e fui percebendo essa... esses entraves nos meninos... então é uma coisa assim que é muito flexível... como (nome da professora) disse não tem como você fazer assim... uma determinação para a unidade toda... porque a gente tem que tá sempre tendo que... mudar alguma coisa... e como eu já disse até então o que eu pensei não foi concluído... Pesquisadora: certo... mas se fosse pra você trabalhar agora nessa próxima unidade... qual a modalidade você escolheria? P3: aí nós ( ) pensar... agora eu vou começar com eles... hum... hum... diante de ... como eu disse a você eu passei essas duas unidades pra perceber todas essas dificuldades... e a partir de agora eu vou escolher é... uma modalidade... eu ainda tenho.... como eu disse a você... de ver (...) Pesquisadora: então você tem que escolher duas coisas o gênero e a modalidade P3: é... Pesquisadora: e o planejamento P3: porque no caso deles... pela condição que eu falei a vocês de que eles mudaram alguns textos que eu dei pra eles que eles tinham que fazer a escrita (assim a atitude) de P2: ( ) só trabalha texto de português não tem uma parte assim de redação que deveria ter uma produção ( ) P1: é complicado né... redação separado(...) P2: as vezes quem trabalha redação não tem a mesma... Pesquisadora: eu acho que não deveria nem em se pensar ( ) como se redação fosse texto e português... gramática... como se gramática pudesse se ter (...) P3: e agora como vamos trabalhar a língua portuguesa sem fazer a escrita? sem pensar a escrita se vai se tornar uma produção de texto? (...) Pesquisadora: não existe... tem que fazer a produção nas duas (...) P2: tanto que quando eu levo os textos... quando eu to usando o mesmo gênero nas aulas de língua portuguesa... nas aulas de redação que eu levo a pró mas isso aqui é da aula de redação... hoje é aula de português... Pesquisadora: já está até nos alunos... já pegou neles... P2: já pegou... Pesquisadora: os alunos também percebem isso né? P2: claro Pesquisadora: o problema tá no currículo... P2: eu acho que é quem primeiro percebe Pesquisadora: problemas no nosso currículo P2: porque quando a gente começa... porque nas minhas aulas eu não deixo fixo assim... só esse dia... porque quando eu to trabalhando (...) Pesquisadora: quando eu falei disso em Campina Grande todo mundo estranhou porque segundo minhas colegas lá não é separado P3: por exemplo Thaís... no São João... há vamos trabalhar algumas coisas do São João... eu escolhi as simpatias... casou com minha... com variedade linguística... foi muito interessante... porque eles fizeram pesquisas... trouxeram CA-da simpatia... que eu mesmo não conhecia... eu fiz a minha pesquisa eles fizeram as deles e surgiu assim... é::: cada uma... é::: forma diferente de mostrar a simpatia ( ) aquela coisa toda... só que no final ele usava aquela piadinha... ele tinha alguma coisa pra dizer sobre aquela simpatia... 89 Pesquisadora: eu sei P3: quer dizer foi um trabalho bastante interessante e lá também tinha a questão da linguagem... a forma... porque é uma festa caipira... que teve sua origem né... (nós vimos todas as origens) de qualquer maneira não trabalha redação? Agente trabalhou esse texto eles produziram eles escreveram essas quadinhos todos... hô... essas simpatias todas de São João nós fizemos uma exposição no pátio da escola... Pesquisadora: hum... hum... P3: fica meio estranho você... não tem como você dizer assim que vai trabalhar português com redação... ali não cabe escrever... Pesquisadora: não existe isso... P1: ( ) redação é justamente isso.... dentro da redação é que eu reparo... eu percebo esses aspectos linguísticos que devem ser trabalhados... e aí onde eu vou trabalhar a questão da ortografia com eles... o uso inadequado dos... dos porquês... porque eu percebi dentro do texto... uma das coisas assim que é incrível... como essa semana eu vou ter que fazer um trabalho com eles é porque muito eles usam o ene.. né? P3: eu pensei no cordel... porque o cordel já está atrelado ao que eu já venho puxando... P1: tudo que eles ( ) aí eu já vou percebendo e eu vou anotando... na hora das produções é que eu percebo e aí eu já dou uma aula geral antes de começar a aula em relação a isso... Pesquisadora: tem uma estagiária que fez um projeto muito bom... - - inclusive ela mora ali perto da tua casa - - Haidê... ela é policial... ela trabalhou com cordel na escola... levou ( ) o projeto que ela tava... era muito bom.... [...] Pesquisadora: então assim a gente precisa definir algumas coisas.. certo? eu preciso entrar na vida de vocês...é que a gente precisa definir algumas coisas... então assim... é::: nós precisamos definir... se cada um vai usar uma modalidade de planejamento diferente... você vai continuar com seu plano... ela com sequência... você com projeto se a gente vai todo mundo trabalhar com sequência ou com projeto? P2: ( ) P3: também que a gente vai fazer a mesma coisa... acho até porque são séries diferentes Pesquisadora: hum.... hum... P3: assim... então vai tá uma coisa diferenciada mesmo sendo sequência... vai tá cada qual sua.... Pesquisadora: e você acha o quê? que deve cada um.... P3: não... eu acho que deve ser todo mundo a mesma coisa... P1: eu já ( ) eu fiquei justamente assim... primeira unidade é::: foi fábula... segundo conto... terceiro é::: poesia e quarta unidade eu quero trabalhar com::: é::: não... não vou abranger todo mas eu quero começar com jornalismo... eu quero trabalhar com propaganda... com classificado... então... Pesquisadora: então Conceição... poesia P3: eu... eu também (...) P2: o ano passado eu fiz com jornal e deu muito certo P3: eu queria gibi... (vivo pensando) no gibi e Chico Bento... mas aí o problema é o material pra gente consegui essas revistas eu até já tentei na secretaria... pra ver se eu conseguia as revistas... de Chico Bento... Pesquisadora : porque você não trabalha com tira? você tem a oportunidade de trabalhar com essas... e com outras tiras ( pra não ficar exatamente) só com as tiras de Chico Bento P1: desde a outra unidade que eu já vinha com essa ideia do gibi 90 coordenadora: (tem aquelas) histórias de Xaxado que eu te mostrei tu lembra Ceição? Pesquisadora: Xaxado é um cara daqui né? cê sabe ? Cedraz é daqui... ele casou com uma menina de Antônio Gonçalves... inclusive os filhos dele são muito meus amigos... tem o site e tudo... ele hoje só trabalha com isso... ele trabalhava na Caixa Econômica... o Cedraz que faz o Xaxado... ele tá tendo uma repercussão imensa no Brasil inteiro... [...] 91 Amostra de transcrição das aulas Aula 1 da Profª P1 P1: (( a professora distribui alguns livros pelo chão)) bom dia né meninos?.... Al: bom dia:::::: P1: era pra co... pra ter começado nossa aula semana passada né..... estava aqui todo mundo em clima de gincana... e afinal de conta quem ganhou mesmo? Al: a sétima A::::::: P1: agora eu fiquei assim triste porque a quinta A do jeito que é em produção... que se destaca em tudo e na gincana ficaram todo mundo apático::::: dis... disseram que não queriam participar::: o que foi que aconteceu? Al: porque ninguém queria ajudar professora.... e ficava tudo com vergonha... P1: uma turma com quarenta e três alunos.... Al: ( ) tava participando P1: e olhe que eu cheguei aqui e ainda dei uma injeçãozinha e ainda participaram de duas tarefas e ainda conseguiram concluir não foi? Al: foi::::::: P1: não pode não....hã? Al: ( ) P1: sim mais se desde o início tivesse com a garra que... daquele dia teria... certo? Al: ô pró::::: se tivesse alguma coisa aqui uma da sétima vinha olhava e pegava.... P1: foi? então pronto.... mais aí a gincana passô... né? Al: passô...... P1: e nós vamos agora dar início a nossa terceira unidade.... (( a aula neste momento é interrompida por um breve instante)) então vamos lá...na aula anterior eu disse a vocês que na terceira unidade..... a primeira unidade nós trabalhamos com gênero textual? Al: fábula.... P1: o gênero textual fábula .... qual é a característica da fábula? Al: animais... P1: esse texto tem sempre o que... uma? Al(x): animais... Al(y)moral.... P1: tem sempre uma mo... Al: moral:::: P1: P1: em geral ela por... ela... os personagens são o que? Al: animais... 92 P1: animais... muito bem... na segunda uni... gostaram de trabalhar com esse projeto não foi? Al: foi.... P1: porque as produções de vocês foram assim fantásticas... na segunda unidade nós trabalhamos com outro gênero textual que foi? A(x)l: fábula... Al(y): música... P1: segunda? Al: contos.... P1: contos... e aí nós trabalhamos com os contos só que vocês fazendo o que? a reescrita desses contos numa versão moderna e eu vou dizer a vocês a pró Thaís leu alguns e ficou encantada... certo?.. com os textos de vocês... então prova que vocês tem potencial mesmo...então... veja só e nesta unidade nos vamos trabalhar com? Al: poesias.... P1: poesias... certo? Al: certo P1: mas agora eu queria fazer uma dinâmica com vocês... vocês já ouviram falara a dinâmica de a palavra ímã... ímã... vocês sabem o que é ímã? Al: ( ) P1: o que é ímã? Al: (ímã) P1: não... ímã? Al: ímã é:::: o que gruda na geladeira P1: isso que gruda na geladeira... gru ímã ele a-trai né? se eu colocar de junto do ferro do metal ele vai a-trair... pronto nós vamos fazer esta brin... essa... essa dinâmica aqui agora que a palavra é ímã... poesias digamos que é o ímã... certo? e nós vamos atrair palavras para a poesia... então vocês vão dizer... aí vocês vão falando e espontaneamente poesias pra vocês.... poesia é... quem quer ir dizer que aí eu vô ó.... completando... o que é poesia pra vocês? quando vocês diz assim poesia... vocês podem me dizer uma frase... podem dizer em uma palavra só o que é poesia pra vocês... é o que? Al: utilidade P1: utilidade... utilidade foi que falaram? Al: foi P1: por que... que a poesia é uma utilidade? Al: ( ) ensino também professora? P1: né? poesia é ensino... vamos colocar as palavras depois a gente vai dá uma né?... todo mundo vai falar um pouco sobre essas palavras que colocaram aqui... poesia ensino.... poesia é o que mais? vamo lá... Al: diversão P1: diver-são né? poesia é diversão... que mais? Al: brincadeira P1: brincadeira.... a gente vai brincar com as palavras né? brincadeira... o que mais gente? é o que? 93 Al: romantismo P1: poesia é romantismo.... olha... poesia é romantismo... Al: é imaginação pró... P1: é imaginação.... vamos lá poesia é imaginação.... é o que? Al: ( criação ) P1: ( a criação ) Al: arte pró P1: é arte.... Al: o pró P1: pêra aí....é o que mais? Al: orientação P1: orientação... é orientação.... Al: importância também professora P1: é importância Al: aprendizagem P1: é aprendizagem.... que mais? Al: a importância do estudo P1: é a gente já tem ( ) parecido... que mais? Al: organização P1: a poesia é organização Al: criação professora P1: já tem ó vão vendo.... poesia é rima.... Al: poesia é alegria P1: poesia é alegria.... que mais? que mais gente? o que que vocês pensam mais poesia é o que? Al(x): talento professora Al(y) história pró P1: hã? poesia é história.... em que sentido você quer dizer que poesia é história? Al: porque pode contar uma história ( ) P1: hum... poesia é história Al: talento também professora P1: é um talento Al: companheirismo P1: heim? vamos ver... Al: talento pro... 94 P1: poesia é talento? depois vocês vão dá... me dizendo aqui viu( ) Al: felicidade P1: poesia é felicidade.... tem felicidade? Al: não... P1: heim poesia é o que mais? Al: diversão P1: já tem diversão Al: amor P1: poesia é amor?.... o que mais? Al: virtude P1: é uma virtude.... tão aí colocando as palavras depois eu quero ver é explicar.... é:::: é uma virtude.... o que mais que que é poesia heim? Al: interesse P1: é interesse Al: pensamento P1: poesia é pensamento... Al: raciocínio pró P1: em que sentido assim raciocínio? vamo lá explique como é que a poesia... que essa palavra o que ela liga... ( mais aí ) pra gente dizer né? Al: ( ) pensamento... P1: então seria... já tem aí imaginação? Al: tem..... P1: tem não tem? Al: é a mesma coisa.. P1: né... o que mais vamos aí poesia.... Al: liberdade pró? P1: poesia ser liberdade? Al: é... P1: é né? a gente pode escrever o que agente..... Al: quer P1: quer::::: não é? heim... e o que mais? poesia é o que? Al: (felicidade) P1: já está por aí.... Al: felicidade pró? P1: já tem 95 Al(x): carinho professora Al(y): emoção P1: emoção..... pronto eu agora ó gente quero de vocês o seguinte... eu quero que vocês agora comentem... vocês botaram que poesia é felicidade... amor.... vamo lá...vão lendo aí.... Al: felicidade ... amor...virtude...( ) pensamento.... liberdade... emoção... utilidade.... ( ) criação.... arte... ( ) organização...rima... ( )história.... P1: vocês disseram poesia é... ó agora ouçam... vocês começaram com amor não foi? Al: foi... P1: poesia é amor.... é virtude... interesse.... pensamento... liberdade... emoção.... utilidade.... ensino...diversão... brincadeira... romantismo... imaginação.... criação.... é arte... é aprendizagem.... é orientação... é organização... é rima.... é alegria... é história... é talento... é felicidade... a gente já descreveu o que aí? uma? Al(x): música... Al(y): poesia.... P1: a gente descreveu uma poesia... não é? veja só... com o nome poesia nós descrevemos uma poesia... depois todo mundo vai registrar aí em seu caderninho... tá vendo como é FÁcil compor?não é? lógico que depois a gente vai estudar isso dentro da poesia né? desse gênero textual poesia.... aí a gente vai ver como é toda estrutura.... 96 Amostra de transcrição das aulas Aula 3 da Profª P3 P3: (( a professora inicia a aula fazendo a chamada)) olha só gente... eu disse a vocês... vamos... vamos prosseguir de onde paramos ontem... ê:::: presta atenção aqui guarde todos os materiais... ( ) vamos agora hoje saber realmente no que vamos colocar as nossas mãos para trabalhar nesse projeto... lembre-se que eu disse a vocês que o que vamos trabalhar estaria... estava lá... é um dos gêneros textuais que estavam naquele jornal de ontem... ok?... e aprofundando mais as leituras de gêneros... eu peguei ontem à noite é:::: está lá também o horóscopo que a gente viu no jornal... também como um.... classificado como um gênero textual também... então a gente acaba descobrindo que tudo isso que tá (naquele) jornal gente... desde as minúcias até os textos mais elaborados até as reportagens maiores inclusive toda aquela parte ali de passatempo e lazer... tudo ali são textos... e texto diferente um do outro... e que são chamados gêneros textuais cada um daquele... cada gênero textual tem a sua especificidade... Al: professora (( aluna chega atrasada e pede para entrar)) P3: então dentro de um único jornal... de um único gênero... de um gênero textual que é o jornal nós encontramos aquela variedade de gêneros também.... porque eles cabem naquele espaço... (é do mesmo gênero comparamos ele ao) nosso livro didático... nosso livro didático se nós formos olhar nós temos diferentes gêneros textuais... então jornal funciona mais ou menos como esse livro... lá tem de tudo uma variedade imensa de texto que a gente viu classificados.... anúncios... é:::: artigo de opinião que é aquelas reportagens falando sobre algo relacionado a saúde ou a política.... economia entendeu? então dali vai sair o nosso gênero que a gente vai trabalhar no nosso projeto... que hoje é que a gente vai colocar as mãos realmente nele... eu vou colocar aqui no centro da sala o material e vocês vão de um por um... levanta e vem aqui... olha::: manuseia e pega alguma coisa e volta pro lugar... (pra vê se a gente dá uma olhada) deixe-me separar aqui ((a professora distribui alguns livros no chão para que os alunos escolham)) ordenadamente começando daqui... vocês vão aqui ao centro da sala onde tá o material que eu coloquei aí e peguem o que vocês quiserem e botem na cadeira... de um por um por favor.... vamos ( ) aí... ( ) pelo nome não eu só não quero que vão todos de uma vez... podem ir dois três alunos... vá ao centro... umbora... quem já pegou olha o material... cada um olha o que recebeu... manuseie o material... leiam pra gente discutir aí acerca do que se trata... a partir do momento que eu coloquei o material aqui vocês já tavam... já sabia do que se tratava ok? alguém tem alguma dúvida? do que vamos trabalhar no projeto? quando eu coloquei o material aqui alguém já... já sabia o que a gente ia trabalhar? Al: historinhas em quadrinho P3: seria o que então Al(x): histórias em quadrinhos Al(y): leitura P3: sim leitura nós fazemos a todo momento... aqui nessa sala se a gente olhar ao redor está aí inúmeras leituras que a gente tá fazendo aqui né? com tudo que tá aqui exposto nestas paredes... então um projeto não é só leitura é centrado em que? aqui de acordo com o material que vocês tão na mão? o que... que vocês acham que a gente vai trabalhar? Al: ( ) a senhora falou que a gente que ia escolher né? a gente escolheu histórias em quadrinho ( ) P3: é ou é alguma sugestões... muito bem você lembrou do que ontem eu perguntei... se nós fossemos ler o jornal todos os dias na sala de aula... e eu colocasse aqui que parte vocês escolheriam pra ler? aí houve algumas indicações aí eu disse a vocês o que? nosso projeto vai estar... que a gente vai trabalhar é um desses textos que tá aí no jornal... e hoje o material está voltado pra esse... pra essa:::: pra esse gênero textual... seria o que de acordo com as revistas... com o material que vocês pegaram? o que... que nós vamos trabalhar aí quem sabe me dizer? Al: histórias em quadrinho P3: vamos trabalhar os quadrinhos ok? todo material que vocês pegaram aí não tá se referindo a quadrinhos? 97 Al: tá P3: são diferentes as revistas... não são todas iguais e::: mas a temática é a mesma... que são os quadrinhos... material que vocês pegaram aí que foi diferente... quem a aqui já tem o acesso direto à histórias em quadrinhos ou seja tem o hábito de ler... que conhece... que tem costume de manusear os quadrinhos? Alguém aqui já está.... familiarizado com os quadrinhos? Al: não... ( ) P3: Daniel diz que já né... Daniel? quando eu pergunto isso gente... é quem já tá assim habituado a ler constantemente os quadrinhos... como somente Daniel a... é::: sinalizou e (Lavínia) também sinalizou que conhece os quadrinhos que tá habituado a manusear essas revistinhas pra ler e também de acordo com o que vocês tá na mão... é um texto? Al: é P3: é.... já que nós sabemos que os quadrinhos é um texto... vamos ver agora... esses quadrinhos de acordo com a que vocês receberam aí... cada qual olhando o seu material específico... porque como eu disse a vocês são diferentes não são iguais quando... é::: o criador desse... dessa modalidade de texto... desse tipo de texto que é o quadrinho é::: idealizou é::: esses quadrinhos será que foi apenas pra mostrar uma única coisa? pra transmitir uma única mensagem? Eu posso dizer que os quadrinhos.... tudo que a gente pega pra ler nos quadrinhos tem a mesma... é o mesmo tipo de história? Al: não P3: é o mesmo caminho a seguir... porque olha as revista que estão na mão... não são iguais e cada uma se refere a uma coisa diferente... então diante do material que tá aí esses quadrinhos tá direcionado pra que? pra mostrar o que? pelo material que tá na mão de vocês... Al: alimentação P3: Lucas ali disse que o material que tá na mão dele está se referindo a nossa alimentação... quem mais tem algo a dizer sobre o que tá na mão aí?.... tá falando sobre o que esses quadrinhos? Al(x): pescaria Al(y): professora as vitaminas e minerais P3: o outro Lucas Santos diz que a dele que ele estava na mão está falando sobre as vitaminas e os minerais... quem mais? Al: ( ) P3: como Gabriel? fala mais alto porque a pró tá gravando ali ela que ouvir essas falas todas que é importante pro trabalho dela.. Al: o meu tá falando sobre o exército brasileiro P3: a de (Elizana) tá falando sobre o exército brasileiro... Gabriel::: repete aí o teu Gabi... Al: da festa de São João P3: a de Gabriel ele disse que tá falando ali sobre uma festa de São João.... Al(x): pescaria professora Al(y): a minha também P3: pescaria... a de ( ) também sobre São João... bom diante dessas falas aqui agora a gente pode dizer que os quadrinhos só está veí-culando uma única informação? Al: não P3: não.... é importante isso gente? Al: é 98 P3: já que nós temos aqui uma que fala sobre alimentação... especificamente Lucas... Gomes a sua tá falando que tipo de alimentação? olhe na capa... Al: é a fome zero P3: sim... aqui em cima tá dizendo o que? Al: fome zero P3: a tá... como um todo... porque o outro Lucas disse que a dele é as vitaminas não é isso? então veja só... nas aulas de ciências vocês escutam tudo acerca disso né? da nossa alimentação e das vitaminas quanto o texto que tá aqui na nossa mão o que seria melhor pra gente ler? as vitaminas e alimentação numa revista em quadrinhos ou em um texto do livro? o que seria mais interessante pra ler? Al: revista em quadrinho P3: e aí eu pergunto a vocês qual a diferença por que? Al(x): porque por causa das paisagens e é mais divertido também... Al(y): (porque a revista em quadrinhos tem desenho) P3: pode até ter uma ilustração né? no conteúdo do livro... muito bem agora eu quero ouvir mais vozes gente.... vamo falar é hora de falar Al: os personagens P3: então é mais interessante eu ler sobre as vitamina no meu livro didático ou em uma revista em quadrinhos? Al: revista em quadrinhos P3: a gente pode dizer então que esses quadrinhos tem uma importância? Al: pode P3: podemos... a que (Elizana) tá na mão ela disse que se refere ao exército falando o que (Elizana)? tu deu pra ler um pouquinho o que tá falando essa revista sobre o exército? Al: é sobre o::: que aconteceu com o exército ( ) P3: ela diz que fala um pouco da nossa história e do papel do exército no fato de proteger e defender o nosso país.... então diante dessa leitura que a gente viu até agora dessas revistinhas o que... que a gente pode ver... além dessas duas que nós comentamos temos aqui Sávio e quem foi o outro que disse que fala sobre pescaria sobre o São João.... Al: não... o meu é sobre o São João professora P3: São João... mas tem um que fala sobre pescaria quem foi? Al: Daniel P3: é de Daniel... a de vocês que fala sobre o São João e sobre a pescaria está contando alguma coisa acerca... aqui nós trabalhamos o São João muito bem trabalhado aqui na nossa sala então quem trata do São João enquanto festa... as suas modalidades o que acontece com o São João ou é apenas uma história que se refere ao São João? Al: uma história que ( ) São João aí o balão cai e queima a floresta ( ) P3: muito bem Gabriel... e isso quer dizer o que? o que... que essa história em quadrinho tá passando pra gente? que a gente deve soltar os balões no São João? Al: não P3: por que? Al: porque é::: 99 P3: destrói pode causar acidentes inclusive mortes não é isso? então diante disso tudo gente vamos pensar aqui o por quê de criar essas histórias em quadrinhos? já vimos que.... eu acho mais interessante ler sobre vitamina sobre alimento na minha revista em quadrinhos e não no livro didático... por que alguém diz porque a única que é ilustrada tem mais colorido... prende mais a nossa atenção... então temos um motivo... pra preferir quadrinhos e não o texto do livro... alguém está com alguma revista que trata de outra coisa... até agora nós vimos o que? coisas que está também nos nossos livros que são ensinamentos... sobre alimentos... a questão do exército... a questão do perigo de soltar balão no São João... alguém tá com outra que tenha um outro sentido o texto? que passe uma outra mensagem? Al: o natal P3: o que... que (tem) o natal aí é::: Bruno? Al: ( ) P3: apenas como uma comemoração natalina ou tem alguma coisa... alguma... algo a passar... algum ensinamento pra nós tirarmos dessa historinha? Al: (( o aluno não consegue responder)) P3: quem mais tem alguma coisa das historinhas do que tá na mão aí pra pontuar? Al: grupo de amigos P3: hã? Al: grupos de amigos P3: Cida está com uma que diz que se refere a grupos de amigos a amizade... a troca de informações entre amigos... olha só os temas que a gente tá aqui percebendo nesse pouco material que eu dei a vocês pra manusear... o tanto de coisas que a gente descobriu que num um... num único gênero textual ele é transmitido.... coisas importantes e que a gente vai perceber que os quadrinhos não é apenas pra você se divertir... você também tem o que? o aprendi-zado... tem ensinamentos... agora eu queria mais alguma coisa que também tem nos quadrinhos que é bem legal e que eu também adoro... porque eu gosto muito de quadrinho... quando eu fiz a escolha pra trabalhar com quadrinhos com vocês foi uma escolha que eu fiz por conta de eu gostar muito de quadrinhos... apesar de não ser mais nenhuma menina pequena... mas até hoje eu leio e adoro as min... as revistas em quadrinhos... tenho lá as minhas preferências por alguns personagens específicos... mas gosto como um todo... então eu achei que seria interessante pra gente trabalhar com isso... e::: também por conta de que esses quadrinhos nos transmite tudo isso que a gente tá vendo aqui... não é apenas o brincar o passar o tempo porque quando a gente fala em quadrinhos assim a primeira... a primeira vez a gente pensa logo que é pra passar o tempo é distrair mas ess... esse passar o tempo tá carregado de informações importantes e de coisas que são relevantes no nosso dia-a-dia... como a gente viu aqui nesse pouco material alimento... proteção do nosso::: do nosso... do nosso::: país.... ler aí ( ) Al: ( ) P3: pronto Laís ali descobriu em uma das revistinhas que ela pegou que fala dos pedagogos que é uma... é um... uma área da educação específica que a pessoa tem essa formação em pedagogia e que eles hoje estão é:::: muito bem indicando os quadrinhos para sala de aula como uma modalidade ( ) e é isso que nós vamos passar esse... essa unidade manuseando esses quadrinhos... mas eu quero gente... tem uma outra forma de quadrinhos que ele aparece que é bem interessante que essa daí a gente pode dizer que é realmente uma diversão que é.... tão lembradas das simpatias? Al: tamos [...] 100 AMOSTRA DE PROJETO DIDÁTICO PROJETO 1 - PROFª P1 ESCOLA XXXX XXXX XXXXX Professora: XXXX XXXX Coordenadora: XXXXX XXXXXX PROJETO: JORNAL NA ESCOLA Jacobina 2009 101 1. APRESENTAÇÃO/JUSTIFICATIVA A prática da produção de textos escritos na escola constitui-se num grande obstáculo para a grande maioria dos alunos. Isso se dá pelo fato de que em nome da apropriação do código, o ensino da língua descuidou-se de outros objetivos importantes inerentes ao aprendizado da linguagem. Se gasta muito tempo em exercícios estruturais de decodificação, deixando de lado a prática da leitura e da escrita contextualizadas. O ensino de Língua Portuguesa nas escolas, muitas vezes, não tem dado aos alunos a possibilidade de apropriar-se da linguagem em sua dimensão social. A teoria estruturalista, que norteia a prática em sala de muitos dos professores de Português, limita muito o conceito de língua, de forma que os alunos facilmente associam seu estudo apenas às regras gramaticais. Tomando como base os pressupostos teóricos do ensino produtivo da língua, - inspirados pela teoria sociointeracionista da linguagem - cujos enfoques dirigem o ensino da língua para seu uso e funcionamento contextualizados -, propomos um projeto didático de leitura e produção textual a partir de gêneros. Acreditamos que o estudo da língua a partir dos gêneros textuais constitui-se numa ferramenta importante para a exploração dos múltiplos caminhos possíveis à linguagem. E é munido desta ferramenta que pretendemos levar o nosso público alvo – alunos do 8º ano do Ensino Fundamental da escola Municipal Yêda Barradas Carneiro, situada na cidade de Jacobina - a conhecer e reconhecer os diferentes gêneros que circulam cotidianamente no meio social, mais especificamente os que compõem o jornal, capacitando-os a usá-los em situações comunicativas específicas. O projeto “Jornal na escola” será executado pela professora de Língua Portuguesa e Redação da turma durante a III Unidade Letiva de 2009. Neste período de aplicação do projeto, os alunos deverão ser inseridos na prática de leitura de jornais escolares, locais e regionais com o objetivo de conhecer alguns dos diversos gêneros textuais que os compõem. O produto final esperado é a produção de um jornal escolar. 2. OBJETIVO GERAL o Ler, analisar e produzir textos jornalísticos, observando a relevância da prática de leitura de jornais para uma reflexão crítica da realidade social de que participam. 3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS o Identificar os principais gêneros que aparecem nos jornais: editorial, notícias e reportagens; o Conhecer a organização de alguns jornais; o Diferenciar reportagens de outros gêneros encontrados nos jornais; o Localizar as informações principais numa reportagem; o Relacionar as imagens e as legendas numa reportagem; o Observar e distinguir os aspectos formais que diferenciam os gêneros; o Pensar a relevância destes textos em sua dimensão social; o Elaborar um jornal manuscrito ou impresso, ou ainda, painéis de leitura com os textos produzidos pelos alunos. 102 4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA Atualmente, vivemos em uma sociedade permeada pela escrita. As nossas mais variadas atividades em todos os setores da vida, no âmbito social, são intermediadas pela palavra - bilhetes, e-mails, anúncios, jornais -, uma infinitude de textos compõem o nosso dia-a-dia sendo impossível ignorá-los. Em uma civilização altamente letrada - como a que hoje se experiencia - faz-se necessário uma inserção dos indivíduos nas diferentes práticas de leitura e escrita, a fim de que possam desenvolver integralmente suas atividades sociais. O domínio da escrita é o ponto de partida para esta inserção, uma vez que esta modalidade de linguagem se constitui numa das principais vias de comunicação em nossos dias. Para Platão & Fiorin (2001), a responsabilidade pelo ensino da leitura e da produção de textos não é a única do professor de Língua Portuguesa, mas é seu compromisso prioritário. Para isso, não é suficiente prover o aluno de um estoque de conhecimentos gramaticais, nem habilita-lo a analisar e produzir frases isoladas; é necessário dar um passo além, já que a construção de um texto envolve mecanismos mais complexos que a mera justaposição de uma frase ao lado da outra. O passo além consiste em descrever os mecanismos de construção textual e capacitar o aluno a operar com eles. É nos textos e pelos textos que o aluno vai adquirir a competência necessária para operar criativamente com as novas informações e o conhecimento que já possui. Até bem pouco tempo, as aulas de redação limitavam-se ao ensino das seqüências tipológicas narração, descrição e dissertação-, ignorando os diversos gêneros discursivos/textuais que permeiam as situações cotidianas de interação verbal. Nas últimas décadas os estudos lingüísticos têm apontado para o uso dos gêneros como ferramenta no ensino de língua, por ampliar a competência comunicativa dos alunos, uma vez que, nessa perspectiva, seus textos passam a ser produzidos, o mais próximo possível, de situações reais de comunicação. O ensino de redação, que por muito tempo negligenciou as condições de produção do texto e seu resultado, foi responsável por produzir estudantes com grandes dificuldades de escrita, uma vez que o ensino das estruturas não garante ao aluno a apropriação de competências necessárias para o uso adequado dos textos que produz em situações de comunicação específicas. O trabalho com gêneros textuais é uma extraordinária oportunidade de se lidar com a língua em situações comunicativas reais, uma vez que, os alunos poderão refletir e se apropriar dos usos efetivos da linguagem nos mais variados contextos. Para tanto, as aulas de redação não podem se restringir aos aspectos estruturais ou formais dos textos, é preciso considerar os aspectos comunicativos e interacionais, seus usos e funções, conforme as situações reais de produção dos gêneros. Kleiman & Moraes (1999), sugerem o uso da notícia ou reportagem de revista semanal como ponto de partida para o desenvolvimento de projetos interdisciplinares, entendendo que, em um texto como este, estão presentes elementos que possibilitam inúmeras relações de sentido, permitindo a prática social da leitura e não uma atividade escolar fragmentada e desconexa da vida diária do aluno. Nesse particular, entendemos que as propostas de produção textual na escola não podem ser dissociadas das reais necessidades de produção cotidianas. Como afirma BUNZEN (2006): “as práticas de leitura e de produção de textos em gêneros diversos que fazem parte do cotidiano dos alunos nos diversos espaços de socialização (famílias, igrejas, mídia, grupos de amigos, movimentos juvenis, associações comunitárias, trabalho etc.) podem ser legitimadas na escola ( e não excluídas). A visão que o aluno tem de produzir texto reduz-se à produção escolar e não remete a diversidade de práticas sociais e suas múltiplas funções. A ênfase em atividades 103 de produção de texto que visam apenas à correção gramatical para obtenção de uma nota constrói normalmente uma identidade para este aluno como um nãoprodutor de textos, como um sujeito incapaz de escrever”. (BUNZEN: 2006, p. 158) Com este projeto, pretendemos, a partir da leitura, análise e produção de textos jornalísticos (verbais e imagéticos), favorecer o desenvolvimento dos alunos enquanto leitores e escritores capazes de ler e produzir textos com proficiência. Além disso, acreditamos que o trabalho com jornais suscita o cultivo de uma consciência crítica e cidadã, uma vez que traz em seu bojo uma gama de textos de diversos gêneros que tratam do cotidiano, do mundo que nos rodeia. 5. CRITÉRIOS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO Entendemos que a avaliação não deve ter o papel de promover ou punir o aluno, deve ser um instrumento para o direcionamento dos objetivos e estratégias envolvidos no processo de ensinoaprendizagem. Sobre avaliação, tomamos como principio norteador as considerações sobre a avaliação mediadora de Hoffmann (2003) para quem “não se trata de considerar a avaliação como fórmula mágica, ou seja, de se imaginar a possibilidade de uma ação avaliativa mediadora por si só, impulsionadora de saltos mecânicos de um nível de conhecimento a outro”. Pelo contrário, há de considerar as relações concretas que se travam entre os elementos da ação educativa em nome da avaliação e buscar uma consciência coletiva do significado desse processo. No ponto de vista da avaliação mediadora, faz-se necessária a negação de algumas práticas cristalizadas na escola pelo seu caráter de terminalidade, de obstrução, de constatação de erros e acertos. Para tanto, adotando essa perspectiva de mediação, os alunos deverão ser avaliados continuamente quando da execução do projeto, sendo o professor o mediador no processo de ensino-aprendizagem. As atividades de produção de textos orais, escritos e imagéticos permitirão coletar um rico material para avaliação. Vale ressaltar que a ênfase será dada à fluência da escrita no que concerne à coerência, seqüência lógica e criatividade nos textos e apresentações orais, e não apenas aos aspectos gramaticais. A avaliação das produções textuais levará em conta critérios como a adequação do conteúdo, da estrutura e da linguagem ao próprio gênero, ao interlocutor e à situação como um todo no cumprimento das finalidades que motivaram a produção dos alunos. As produções textuais realizadas em grupo ou individualmente terão peso 4,0 no total, os registros das atividades propostas terão peso 2,0 e a confecção do jornal peso 4,0, totalizando 10,0 pontos ao final da unidade letiva. 6. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES 1ª Etapa: 13/08/2009 Objetivo: Identificar o conhecimento que os alunos têm sobre a organização do jornal e dialogar sobre a funcionalidade dos jornais. Estratégias: Leitura do poema “Jornal, longe” de Cecília Meireles; 104 Distribuição de jornais para que os alunos manuseiem livremente; Identificação dos cadernos que compõem o jornal em grupo; Localização de informações; Interlocução acerca da infinidade de gêneros que circulam no jornal e suas funções; Releitura do poema e discussão em torno da pergunta: “O jornal serve apenas para fazer embrulhos?”. 2ª Etapa: 17/08/2009 Objetivo: Conhecer alguns aspectos formais necessários para a iniciação à leitura do gênero notícia, a partir da leitura e estudo de suas características. Estratégias: Leitura de jornais; Seleção de notícias para leitura em grupo, conforme a preferência dos alunos; Exposição das características do gênero notícia; Composição: aspectos formais; Significação: aspectos semânticos - atividade proposta: localizar na notícia selecionada as respostas das seis perguntas básicas: Quem? O quê? Onde? Quando? Como? Por quê? 3ª Etapa: 20/08/2009 Objetivo: Socializar as leituras dos grupos e propor uma atividade de produção de notícia. Estratégias: Leitura partilhada dos registros dos grupos na última etapa; Leitura de texto imagético e verbal “A balsa da Medusa” para produção de lead e notícia; Localização das informações no texto escrito com intervenção da professora; Momento de produção textual em trios. 4ª Etapa 27/08/2009 Objetivo: Conhecer as características da manchete jornalística e as relações texto/imagem no jornal. Estratégias: Leitura de jornais; Identificação das principais manchetes do dia; Exposição de manchetes, fotos e legendas; Aspectos estruturais; Execução de dinâmica: Manchete engraçada. Dividir a turma em grupos de quatro pessoas. O primeiro componente deverá escrever o nome do personagem da notícia, evitando que seus companheiros leiam. Para isso, deverá dobrar o espaço escrito da folha. Em seguida, devem passála ao colega do lado que deverá escrever um verbo para indicar o acontecimento; o local em que o acontecimento se desenvolveu; o momento do fato. Ao terminar a rodada, cada grupo terá quatro manchetes que serão lidas e uma eleita para socializar com a classe. 105 5ª Etapa: 31/08/2009 Objetivo: Ler as imagens de um jornal e produzir manchetes para elas. Estratégias: Exposição para a classe fotos recortadas de matérias jornalísticas sem suas respectivas manchetes; Leitura das fotos e descrição do que vêem nas imagens; Reconhecimento de legendas nas fotos jornalísticas; Atividade proposta: produzir uma manchete para cada uma das imagens apresentadas, tentando chegar o mais próximo possível da manchete original; Socialização dos resultados e leitura das manchetes originais. 6ª Etapa: 03/09/2009 Objetivos: Apresentar um jornal escolar para a classe; Envolver a classe nos detalhes da organização do jornal; Estratégias: Apresentação de um jornal escolar para a turma; Comparação entre o jornal escolar e os jornais anteriormente explorados na classe; Definição dos temas e seções do jornal escolar; Divisão dos grupos por tarefas; Levantamento dos possíveis nomes para o jornal escolar que deverá ser produzido ao final do projeto. 7ª Etapa: 14/09/2009 Objetivo: Apresentar as devolutivas das atividades produzidas pelos alunos; Conhecer os aspectos estruturais da primeira página dos jornais; Produzir uma “primeira página” de jornal. Estratégias: Leitura com os alunos das suas produções e intervenção da professora para fazer os ajustes necessários; Caracterização da primeira página do jornal: aspectos formais e estruturais; Atividade proposta: Cada um dos grupos deverá planejar e produzir uma primeira página do jornal levando em conta os aspectos estruturais e diagramação. 8ª Etapa: 17/09/2009 Objetivos: Socializar as produções do último encontro; Orientar as novas produções para o jornal definitivo. Estratégias: Definidos os temas, proporcionar momentos de leitura de textos sobre os assuntos escolhidos pelos alunos para a produção de manchetes, notícias e reportagens; 106 Intervenção da professora no passo a passo da produção dos textos que deverão ser escritos e reescritos após revisão com a colaboração dos alunos. 9ª Etapa: 24/09/2009 Objetivos: Socializar as produções de cada grupo; Revisar e reescrever os textos selecionados coletivamente. Estratégias: Leitura dos textos produzidos pelos alunos; Seleção dos textos que entrarão no jornal definitivo; Reescrita dos textos. 10ª Etapa: 28/09/2009 Objetivos: Realizar os últimos ajustes dos textos para publicação; Orientar os grupos responsáveis pela organização estrutural dos textos no jornal. Estratégias: Leitura dos textos jornalísticos dos alunos já revisados para publicação; Escolha dos conteúdos de cada uma das páginas do jornal, levando em conta as produções das outras turmas que entrarão no jornal. 11ª Etapa: 01/10/2009 Objetivos: Estimular e incentivar os alunos para o momento de culminância do projeto, o lançamento do jornal escolar. Estratégias: Retomada de todas as etapas do projeto, revendo o percurso até a finalização das tarefas; Conversa com os alunos sobre as dificuldades, os avanços e aprendizado com a leitura de jornais na sala de aula; Valorização da contribuição de cada aluno para o desenvolvimento do projeto; Avaliação da professora REFERÊNCIAS BUNZEN, Clecio. “Da era da composição à era dos gêneros: o ensino de produção de texto no ensino médio”. In: BUNZEN, clecio & MENDONÇA, Márcia [orgs.] Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo: Parábola editorial, 2006. CEREJA, William Roberto & MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação: uma proposta de produção textual a partir de gêneros e projetos. São Paulo: Atual, 2000. 107 FARIA, Maria Alice. O jornal na sala de aula. 10ª ed. São Paulo: Contexto, 2000. Série: Repensando a língua portuguesa. KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2003. SILVA, Maria Stella Rangel da. O jornal é um hipertexto? Disponível http://www.alb.com.br/anaisjornal/jornal1/comunicacoes/HIPERTEXTO.htm. Acesso em 31 ago. 2009. em