TROCAS GASOSAS E EFICIÊNCIA FOTOSSINTÉTICA EM VARIEDADES DE CANADE-AÇÚCAR SUBMETIDAS A DOIS REGIMES HÍDRICOS Laís Fernanda Melo Pereira1, Antonio Henrique Aquino Silva2, Eduardo Rebelo Gonçalves3, Valtair Verissimo4, Polyana Geysa da Silva Cavalcante5, Tadeu Patêlo Barbosa2, Weverton de Goés Duarte2, Sihélio Júlio Silva Cruz6; Israel Mariano da Silva Júnior2, Laurício Endres7 Introdução Devido à grande demanda mundial por energias limpas e renováveis, particularmente o etanol e o biodiesel, impulsionou-se a expansão e o uso da cana-de-açúcar destacando-se como uma das fontes bioenergéticas mais eficientes, Nóbrega & Dornelas [1]. Na agricultura, a disponibilidade hídrica é um dos grandes fatores que condicionam a produtividade e o sucesso de uma cultura, por estar envolvida direta ou indiretamente em todos os processos fisiológicos, Angelocci [2]. A deficiência hídrica provoca alterações no comportamento vegetal cuja irreversibilidade vai depender do genótipo, da duração, da severidade e do estádio de desenvolvimento da planta, Santos & Carlesso [3]. Existe uma grande variabilidade na adaptação à seca entre espécies e dentro da mesma, sendo assim, é preciso avaliar o comportamento de diferentes materiais genéticos, Blum [4]. As respostas das plantas frente ao déficit hídrico podem ser constatadas através de diversas variáveis, dentre as quais medições instantâneas de trocas gasosas entre a planta e a atmosfera, fazendo com que uma das primeiras respostas das plantas submetidas à deficiência hídrica seja o fechamento estomático, limitando a fixação de CO2 e, por conseguinte, a produtividade da cultura. Neste contexto, este trabalho teve por finalidade avaliar, através de parâmetros fisiológicos, seis variedades de cana-de-açúcar sob dois regimes hídricos (irrigado e sequeiro), em sua fase inicial de crescimento vegetativo. Material e métodos O experimento foi realizado na Usina Porto Rico, em Campo Alegre-AL, conduzido com delineamento em blocos ao acaso, em esquema fatorial 6 x 2 x 4, constituído de seis variedades, dois regimes hídricos e quatro blocos. As variedades foram escolhidas segundo características de tolerância (SP79-1011, RB92579, RB867515) ou sensibilidade (RB72454, RB855536, RB855113) à seca. Aos três meses após o plantio, foram realizadas as medições de trocas gasosas, entre 9 e 11:30 h, quantificados na folha +1, utilizando-se um analisador de gás a infravermelho IRGA para obtenção da taxa de fotossíntese (A), condutância estomática (gs), transpiração (E) e concentração interna de CO2 (Ci). Foram calculadas as seguintes relações: A/E (eficiência instantânea do uso de água), A/gs (eficiência intrínseca do uso de água) e A/Ci (eficiência instantânea de carboxilação). Foi realizado análises de variância e as médias foram comparadas pelo teste Tukey (P<0,05). Resultados e discussão A. Condutância estomática Verificou-se que houve importante redução na condutância estomática das plantas submetidas ao déficit hídrico, em todas as variedades avaliadas aos três meses do plantio (Figura 1A). A variedade RB867515 (tolerante) foi a que apresentou o maior percentual de queda (-62,5%) frente ao controle irrigado. Resultado similar foi obtido por Ennahli & Earl [5] trabalhando com algodão, onde reduções na gs foram superiores a 90% entre os níveis de 75 e 5% de disponibilidade hídrica do solo. Em adição, Smit & Singels [6] observaram reduções na condutância estomática em duas variedades de cana-de-açúcar sob estresse hídrico, afirmando que tal variável apresenta maior sensibilidade do que o potencial hídrico à medida que o solo torna-se mais seco. Por outro lado, Bergonci & Pereira [7] apesar de também encontrarem redução na condutância estomática em milho, afirmam que o potencial hídrico foliar diminui mais rapidamente frente à fração de água disponível no solo para as plantas. ________________ 1. Acadêmica de Agronomia, CECA/UFAL E-mail: laí[email protected] 2. Acadêmico de Agronomia, Laboratório de Fisiologia Vegetal, CECA/UFAL, Maceió-AL 3. Engº Agrº, bolsista DTI CNPq, Laboratório de Fisiologia Vegetal, CECA/UFAL, Maceió-AL 4. Engº Agrº, bolsista DCR CNPq/FAPEAL, Laboratório de Fisiologia Vegetal, CECA/UFAL, Maceió-AL 5. Acadêmica de Biologia, Laboratório de Fisiologia Vegetal, CECA/UFAL, Maceió-AL 6. Engº Agrº, mestrando em Produção Vegetal, Laboratório de Fisiologia Vegetal, CECA/UFAL, Maceió-AL 7. Engº Agrº, professor do Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Alagoas, Maceió-AL Apoio financeiro: FINEP e CNPq. B. Fotossíntese De modo geral, o déficit hídrico reduziu a taxa de fotossíntese (A) em 33% (Figura 1B). Todas as variedades tiveram menor taxa de fotossíntese em sequeiro. A variedade RB867515 (tolerante) também foi a que teve o maior percentual de redução da fotossíntese frente ao controle irrigado (-40%). Resultado semelhante também foi observado por Ghannoum et al. [8] em quatro diferentes espécies de gramíneas. Sob estresse hídrico, uma das primeiras respostas das variedades de cana-de-açúcar pode ser o fechamento estomático, a fim de minimizar a perda de água, reduzindo também a taxa de fotossíntese líquida [9,10]. C. Transpiração Verificou-se que a deficiência hídrica reduziu também a transpiração (E) (Figura 1C). As variedades consideradas tolerantes apresentaram as maiores reduções em E, sendo a RB867515 que apresentou maior redução (-55%). Por outro lado, a variedade sensível RB72454 apresentou o menor percentual de redução em E (-37%). Reduções significativas na transpiração foliar também foram observadas em genótipos de milho por Cruz [11], assim como em variedades de cana-de-açúcar submetidas à deficiência hídrica, Arias et al. [12]. Em sorgo e canade-açúcar, Nable et al. [13] encontraram reduções nas taxas transpiratórias, sendo que nesta última, foram mais severas à medida que a fração de água disponível no solo decrescia. De acordo com Basra et al. [14], variedade de cana-deaçúcar sensível à seca exibiu similar taxa de fotossíntese, porém com maior taxa de transpiração e condutância estomática comparado a uma variedade tolerante. A alta transpiração e condutância estomática são associadas com maior consumo de água do solo, Saliendra & Meinzer [15]. D. Eficiência instantânea e intrínseca do uso de água Verificou-se que, de modo geral, a deficiência hídrica aumentou a eficiência instantânea (A/E) e instrínseca (A/gs) do uso da água (Figuras 1D e 1E). Sob déficit hídrico, a relação A/E foi estatisticamente maior apenas para a variedade RB867515. Já para relação A/gs foi alterada em quase todas as variedades, exceto na RB72454. As variedades RB855536 (sensível) e RB867515 (tolerante) apresentaram os maiores percentuais de aumento, 96% e 80% respectivamente, em A/gs sob déficit hídrico. E. Eficiência instantânea de carboxilação Não foi observada diferença na eficiência de carboxilação, entre plantas submetidas aos tratamentos irrigado e sequeiro (Figura 1F). De modo geral, sob estresse hídrico as plantas adotam um mecanismo conservativo, reduzindo a condutância estomática e a transpiração e aumentando a eficiência do uso da água. Nessas condições, a taxa de fotossíntese também acaba sendo reduzida. Agradecimentos Agradecimento aos colegas e professores do Laboratório de Fisiologia Vegetal do Centro de Ciências Agrárias, da Universidade Federal de Alagoas. Aos órgãos financiadores da pesquisa: CNPq e FINEP. Referências [1] NÓBREGA, J.C.M. de & DORNELAS, M.C. Biotecnologia e melhoramento da cana-de-açúcar. In: SEGATO, S.V.; PINTO, A.S.; JENDIROBA, E. et al. Atualização em produção de cana-de-açúcar. Piracicaba: Livroceres, 2006. p.39-56. [2] ANGELOCCI, L.R. Água na planta e trocas gasosas/energéticas com a atmosfera: Introdução ao tratamento biofísico. Piracicaba: Esalq/USP, 2002. 272p. [3] SANTOS R. F. CARLESSO R. Déficit Hídrico e os processos morfológicos e fisiológico das plantas. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.2, n.3, p.287-294, 1998 Campina Grande, PB, DEAg/UFPB. [4] BLUM, A. Crop reponses to drought and the interpretation of adaptation. In: BELHASSEN, E. Drought tolerance in higher plants. Genetical, physiological and molecular biological analysis. Dordrecht: Kluwer Academic. P.5770, 1997. [5] ENNAHLI S.; EARL H. J. Physiological limitations to photosynthetic carbon assimilation in cotton under water stress. Crop Science, v. 45, p. 2374–2382, 2005. [6] SMIT, M. A.; SINGELS, A. The response of sugarcane canopy development to water stress. Field Crops Research, v. 98, p. 91-97, 2006. [7] BERGONCI, J. I.; PEREIRA, P. G. Comportamento do potencial da água na folha e da condutância estomática do milho em função da fração de água disponível no solo. Revista Brasileira de Agrometeorologia, v. 10, p. 229235, 2002. [8] GHANNOUM, O. et al. Nonstomatal limitations are responsible for drought-induced photosynthetic inhibition in four C4 grasses. New Phytologist, v. 159, p. 599-608, 2003. [9] LARCHER, W. A planta sob estresse. In: LARCHER, W. Ecofisiologia vegetal. São Carlos, SP: RiMa, p. 341-478, 2000. [10] TAIZ, L; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. Porto Alegre: Artmed, 2004, 719 p. [11] CRUZ, R. F. D. DA. Indução e recuperação do stresse hídrico em variedades portuguesas de milho. 2006. 182 p. Dissertação Mestrado-Universidade do Minho, Portugal, 2006. [12] ARIAS, M. I. B.; DELGADO, E. O.; CARMENATE, R. V. Cambios fisiológicos de la caña de azúcar ante el déficit hídrico. 1. ed. México: Universidad Autónoma Chapingo, 1996. 135 p. [13] NABLE, R. O.; ROBERTSON, M. J.; BERTHELSEN, S. Response of shoot growth and transpiration to soil drying in sugarcane. Plant and soil, v. 207, p. 59-65, 1999. [14] BASRA, S.M.; AHMAD, N.; KHALIQT, A. Water relation studies in water stressed sugarcane (Saccharum officinarum L.). Int. J. Agri. Biol., vol.1, n.1/2, 1999. [15] SALIENDRA, N.Z.; MEINZER, F.C. Symplast volume, turgor, stomatal conductance and growth in relation to osmotic and elastic adjustament in droughted sugarcane. J. Exp. Bot., 42:1251-1259, 1991. Figura 1 – A) Fotossíntese, B) condutância estomática, C) transpiração, D) eficiência instantânea do uso da água, E) eficiência intrínseca do uso da água e F) eficiência de carboxilação, em plantas de cana-de-açúcar submetidas a dois regimes hídricos (irrigado e sequeiro). Médias sobrepostas de * diferem entre os regimes hídricos em cada variedade e médias seguidas pela mesma letra minúscula entre variedades em cada regime hídrico não diferem entre si pelo teste Tukey (P<0,05).