Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, 11(1):29-34, 1999. CONDUTÂNCIA ESTOMÁTICA, TRANSPIRAÇÃO E FOTOSSÍNTESE EM LARANJEIRA ‘VALÊNCIA’ SOB DEFICIÊNCIA HÍDRICA1 Camilo Lázaro Medina2, Eduardo Caruso Machado3 & Mara de Menezes de Assis Gomes4 Centro de Ecofisiologia e Biofísica, Instituto Agronômico de Campinas, C. P. 28,Campinas, SP, 13001-970, Brasil. RESUMO - Avaliou-se os efeitos da deficiência hídrica em laranjeira ‘Valência’ enxertada sobre limoeiro ‘Cravo’ e Trifoliata, cultivada em vasos sob condições de casa de vegetação. Mesmo sem deficiência hídrica no solo e em fluxo fotossintético de fotóns saturante, tanto a taxa de fotossíntese como a condutância estomática decaíram após as 9:00-10:00 h, quando o déficit de pressão de vapor e a temperatura aumentavam. A taxa de transpiração aumentou naqueles mesmos horários, apesar da queda da condutância, causando queda da eficiência instantânea do uso da água após as 8:00 h. Nas plantas sob deficiência hídrica, no oitavo dia após iniciado o estresse, a taxa de fotossíntese era praticamente nula às 8:00 h, quando o potencial da água atingiu os valores de –2,0 e –2,5 MPa, respectivamente, para as laranjeiras sobre ‘Cravo’ e Trifoliata. Nas plantas sobre Trifoliata o potencial da água na folha recuperou-se em 12 horas, enquanto que para as plantas sobre limoeiro ‘Cravo’ a recuperação ocorreu 36 horas após a reirrigação. Após três dias da reirrigação dos vasos, as plantas que sofreram a deficiência hídrica sobre o porta enxerto Trifoliata recuperaram a taxa de fotossíntese e a condutância estomática, em relação às plantas irrigadas, enquanto que aquelas sobre limoeiro ‘Cravo’ a recuperação foi parcial. Termos adicionais para indexação: Citrus limonia, Citrus sinensis, eficiência do uso da água, Poncirus trifoliata, trocas gasosas. STOMATAL CONDUCTANCE, TRANSPIRATION AND PHOTOSYNTHESIS RATES IN ‘VALENCIA’ ORANGE TREES SUBMITTED TO WATER STRESS ABSTRACT – Effects of water stress in ‘Valencia’ sweet orange trees on ‘Rangpur’ and Trifoliata rootstocks, cultivated in pots, were evaluated under greenhouse conditions. Regardless of the water deficit in the soil, both photosynthesis and stomatal conductance decreased after 9:00–10:00h, paralleling an increase in water vapour pressure deficit and temperature. The transpiration rate increased at this time, in spite of the drop in conductance, leading to a decrease in water use efficiency after 8:00 h. When water was withheld, photosynthesis rate was practically zero by 8:00 h, when leaf water potential reached –2,0 and –2,5 MPa in oranges grafted on ‘Rangpur’ and Trifoliata, respectively. Three days after rehydration, the plants on Trifoliata submitted to water deficiency recovered both photosynthesis and stomatal conductance, in relation to irrigated control, while the plants on ‘Rangpur’ showed a partial recovery. In the plants on Trifoliata the leaf water potential recovered in 12 hours, while for the plants on ‘Rangpur’ the recovery took place only 36 hours after rehydration. Additional index terms: Citrus limonia, Citrus sinensis, gas exchanges, Poncirus trifoliata, water use efficiency. 1 Recebido em 23/09/1998 e aceito em 10/03/1999. Projeto financiado pela FAPESP. 2 Eng. Agr. MS. - aluno de pós-graduação do Departamento de Fisiologia Vegetal da Unicamp, bolsista da FAPESP. 3. Eng. Agr. Dr. - Centro de Ecofisiologia e Biofísica do Instituto Agronômico de Campinas. Com bolsa de produtividade científica do CNPq. 4 Eng. Agr. MS. - aluna de pós-graduação do Departamento de Fisiologia Vegetal da Unicamp, bolsista da CAPES. 29 30 Condutância estomática, transpiração e fotossíntese em laranjeira ‘valência’’ . . . INTRODUÇÃO A taxa de fotossíntese em citros é baixa, quando comparada a outras espécies arbóreas (Kriedemann, 1971) e freqüentemente sofre queda ao meio dia (Syvertsen & Lloyd, 1994; Brakke & Allen, 1995). A queda na taxa de fotossíntese está, em parte, relacionada com altas temperaturas e altos déficits de pressão de vapor na atmosfera, sendo mais acentuada quando há ocorrência de deficiência hídrica no solo (Khairi & Hall, 1976; Syvertsen & Lloyd, 1994; Brakke & Allen, 1995; Medina et al., 1998). Nas áreas cultivadas com citros no Brasil, é comum ocorrer deficiência hídrica no solo, associada a altos déficits de pressão de vapor, aumentando as limitações à expressão da produtividade potencial. Embora a queda da fotossíntese em citros sob deficiência hídrica seja devida primariamente ao fechamento dos estômatos (Syvertsen & Lloyd, 1994), sob condições mais severas de estresse, outros fatores relacionados ao metabolismo do carbono e às reações fotoquímicas são afetados (Vu & Yelenoski, 1988). Sua capacidade de recuperação após a ocorrência de deficiência hídrica é uma característica importante, estando relacionada com a recuperação do potencial da água, da abertura estomática, da condutividade hidráulica das raízes e do funcionamento dos processos bioquímicos e fotoquímicos (Vu & Yelenoski, 1988; Chaves, 1991, Syvertsen & Lloyd, 1994). As respostas da taxa de fotossíntese e das relações hídricas em laranjeiras são afetadas pelo porta-enxerto utilizado, tanto sob condições normais quanto sob estresse hídrico, com conseqüências sobre o vigor geral da planta (Syvertsen & Graham, 1985; Medina et al., 1998). Neste trabalho teve-se como objetivo analisar as respostas diárias de laranjeiras ‘Valência’ enxertadas sobre Limoeiro ‘Cravo’ e sobre Trifoliata, sob condições de casa de vegetação, em relação à taxa de fotossíntese, taxa de transpiração e condutância estomática, quando submetidas à deficiência hídrica . irrigadas diariamente e 2) plantas submetidas a deficiência hídrica crescente, por meio da suspensão da irrigação. A irrigação foi suspensa do dia 14 de janeiro até 18:00 h do dia 23 de janeiro, quando os vasos foram reirrigados até a capacidade de campo. Diariamente foram efetuadas medidas do potencial da água nas folhas, das trocas gasosas e da condutância estomática, na medida em que a terra perdia umidade, até que a taxa de fotossíntese atingisse valores próximos a zero na primeira medida feita ao redor das 8:00 h da manhã. As mesmas medidas foram feitas durante três dias após a reirrigação, isto é, no período de recuperação. O potencial da água nas folhas foi medido no período da manhã, entre 7 e 7:30 h, e no período da tarde, entre 13 e 13:30 h, com uma câmara de pressão, com técnica descrita por Kaufmann (1968), com quatro repetições por tratamento. As medidas de taxa de fotossíntese, taxa de transpiração, condutância estomática, temperatura da folha e fluxo de fotóns fotossinteticamente ativos (FFFA) foram feitas, sob condições naturais, com um aparelho portátil de medida de fotossíntese, em circuito fechado e com câmara de 0,25 L de volume interno (Li-6200, Licor Inc. Ltda., Lincoln-USA), em intervalos de aproximadamente duas horas, entre 8:00 e 16:00 h. Durante as medidas a concentração de CO2 no ambiente ficou entre 350 e 360 µmol CO2.mol-1. Tais medidas foram efetuadas em folhas totalmente desenvolvidas, com seis meses de idade, dispostas em posições semelhantes em relação à planta e à incidência de radiação solar. A eficiência instantânea do uso de água (WUE) foi calculada pelo quociente entre as taxas de fotossíntese e de transpiração. O déficit de pressão de vapor foi calculado a partir de medidas de temperaturas do ar com termômetros de bulbo úmido e seco. RESULTADOS E DISCUSSÃO Plantas sem deficiência hídrica MATERIAL E MÉTODOS Laranjeiras ‘Valência’ (Citrus sinensis (L.) Osbeck) de 18 meses de idade com aproximadamente 1 m de altura e entre 0,60 e 0,69 m2 de área foliar, enxertadas em limoeiro ‘Cravo’ (Citrus limonia (L.) Osbeck) e Trifoliata (Poncirus trifoliata (L.) Raf.), foram cultivadas em casa de vegetação sem controle de ambiente, em vasos com 0,45 m de altura por 0,18 m de diâmetro, com substrato composto de três partes de terra e uma de areia, sobre uma camada de 0,02 m de pedras britadas. Antes do início dos tratamentos todas as plantas eram irrigadas diariamente, receberam macro e micro nutrientes e tratamentos sanitários, mantendo-as sadias e sem deficiências. Os vasos foram dispostos no espaçamento de 1,8 m entre linhas e 0,65 m entre plantas, em quatro blocos (repetições) com quatro vasos por bloco, isto é, um vaso para cada combinação possível de dois portaenxertos e dois tratamentos, que foram: 1) plantas Foram analisados e discutidos os resultados obtidos no 8º (22/01/96) e 9º dias (23/01/96) após a suspensão da irrigação e os obtidos no 2º (25/01/96) e 3º (26/01/ 96) dias após a reirrigação dos vasos. O padrão de resposta da fotossíntese e da condutância estomática em função das horas do dia, no tratamento irrigado, foi semelhante nas laranjeiras tanto sobre ‘Cravo’ como sobre Trifoliata. A fotossíntese aumentou até ao redor das 9:00 h, quando atingiu um máximo ao redor de 7-8 µmol de CO2.m-2.s-1, decrescendo em seguida e mantendo-se praticamente estável até as 16:00 h, quando foram feitas as últimas medidas (Figura 1). A condutância estomática também decresceu após as 9:00 h, porém ocorreu uma certa recuperação das 14:00 as 15:00 h, exceto para as plantas sobre Trifoliata no dia 25 de janeiro (Figura 1). Até 9:00 h, os aumentos da taxa de fotossíntese e da condutância estomática parecem estar relacionados com o aumento do FFFA. Após as 9:00-10:00 h o declínio R. Bras. Fisiol. Veg., 11(1):29-34, 1999. Medina et al. 31 FIGURA 1- Fotossíntese, condutância estomática, fluxo de fotóns fotossinteticamente ativos (FFFA), temperatura do ar e déficit de pressão de vapor (DPV) em função da hora do dia, em laranjeiras ‘Valência’ sobre duas espécies de porta-enxerto, limoeiro ‘Cravo’ e Trifoliata, submetidas a deficiência hídrica, pela suspensão da irrigação entre 14 e 23/01/96. No dia 23/01, às 18:00 horas, os vasos foram reirrigados. Barras indicam desvio padrão e US, umidade do solo em porcentagem massa/massa. da fotossíntese ocorreu independente do FFFA apresentar valores saturantes e da umidade do solo estar em níveis adequados. Esta queda, no entanto, coincidiu com o período de aumento do déficit de pressão de vapor (DPV) e da temperatura do ar. Outros autores relataram quedas semelhantes em diversas localidades em que se cultivam os citros, principalmente naquelas em que há um acréscimo significativo do DPV e da temperatura nos horários entre 11:00 e 13:00 h (Khairi & Hall, 1976; Machado et al., 1994; Syvertsen & Lloyd, 1994; Brakke & Allen, 1995; Medina & Machado, 1998). Especificamente, observou-se em citros, queda da fotossíntese em DPV acima de 1,5 a 2,0 kPa e temperatura acima de 31 oC (Khairi & Hall, 1976; Sinclair & Allen, 1982). A queda da fotossíntese, é mais intensa quando a quantidade de água disponível no solo diminui (Brakke & Allen, 1995; Medina et al., 1998). Por outro lado pode ocorrer recuperação parcial da fotossíntese à tarde, quando a temperatura e DPV diminuem (Syvertsen & Lloyd, 1994). O potencial da água na folha decresceu de –0,5 MPa as 7:00 h, até valores ao redor de –1,0 MPa e –1,5 MPa, às 13:00 h, respectivamente, para as plantas sobre ‘Cravo’ e Trifoliata, recuperando-se totalmente, porém, na manhã seguinte (Figura 2). No período diurno, a queda do potencial da água na folha ocorreu em função do aumento da transpiração sem que houvesse restituição correspondente da água. A condutância estomática, nas plantas irrigadas, atingiu um valor máximo, ao redor de 8:00 h (Trifoliata) e 9:00 h (Cravo), decrescendo até as 12:00 h. Após as 12:00 h, houve recuperação da abertura estomática, porém sem correspondente recuperação da taxa de fotossíntese, sugerindo que outros fatores, talvez como a temperatura ou déficit interno de água, poderiam estar afetando os processos bioquímicos ou fotoquímicos, como foi constatado por Quick et al.( 1992). As taxas de fotossíntese e os valores da condutância na parte da manhã foram significativamente maiores que no período da tarde, quando tanto os valores de tempe- R. Bras. Fisiol. Veg., 11(1):29-34, 1999. 32 Condutância estomática, transpiração e fotossíntese em laranjeira ‘valência’’ . . . FIGURA 2- Potencial da água nas folhas de laranjeiras ‘Valência’ sobre duas espécies de porta-enxerto, limoeiro ‘Cravo’ e Trifoliata, submetidas à deficiência hídrica, pela suspensão da irrigação entre os dias 14 e 23 de janeiro de 1996. SEMDH indica plantas sem dificiência hídrica e COMDH representa plantas submetidas à deficiência hídrica pela suspensão da irrigação. No dia 23/01, as 18:00 horas, os vasos foram reirrigados. ratura quanto do DPV eram maiores que os da manhã. A Figura 3 mostra uma tendência de a condutância e a fotossíntese decrescerem com o aumento da temperatura, no período em que os valores do FFFA eram saturantes para a fotossíntese e a condutância, isto é acima de 700 µmol.m-2.s-1. Hall et al. (1975) e Khairi & Hall (1976) verificaram que as respostas da fotossíntese e da condutância à temperatura, sob condições constantes de FFFA e de DPV, foram pequenas mas significativas numa faixa entre 20 e 35 oC. No caso presente, possivelmente além da temperatura outros fatores, como DPV e FFFA acima de 700 µmol.m-2.s-1 variaram e também afetaram a fotossíntese. No entanto, é importante considerar que a variação do DPV entre a folha e a atmosfera, que tem um efeito significativo sobre a condutância (Khairi & Hall, 1976) é função, principalmente, das mudanças na temperatura da folha (Syvertsen & Lloyd, 1994). Foi demonstrado, em citros, que a condutância estomática apresenta um valor máximo ao redor de 30 oC, enquanto que o valor máximo de fotossíntese ocorreu em 25 oC (Kriedemann, 1971; Hall et al., 1975; Khairi & Hall, 1976 a,b). Sob condições naturais e em casa de vegetação à medida que a radiação solar aumenta a temperatura se eleva e a umidade atmosférica diminui. Assim, as respostas dos diversos processos metabólicos da planta refletem a integração de todos estes fatores, e cada um deles, individualmente, tem sua ação sobre o processo considerado. O padrão de resposta aqui observado sugere que os citros em condição natural, no período de verão, são submetidos a um certo grau de estresse hídrico, no período entre 10:00 e 14:00 h, quando a temperatura do ar e o DPV são mais elevados, mesmo quando o solo está próximo à sua capacidade de campo (Figuras 1, 2 e 3). Syvertsen & Lloyd (1994) citam diversos autores que obtiveram resultados semelhantes para outras localidades. Presume-se que o fechamento parcial dos estômatos, em citros, em resposta ao aumento do DPV e da temperatura, seja uma adaptação evolutiva para conservar água, principalmente em regiões onde há alta demanda atmosférica (Quick et al., 1992; Syvertsen & Lloyd, 1994). Nas condições de São Paulo, maior produtor nacional de citros, o ar com baixa umidade num período do dia ocorre freqüentemente durante o verão, sem que haja, no entanto, déficit de umidade no solo. Talvez o fechamento parcial dos estômatos, com abundância de radiação solar e de água resulte em uma diminuição da fotossíntese, com implicações sobre a produção. A taxa de transpiração (Figura 4), nas plantas sem deficiência, por outro lado, aumentou até as 15:00 h em função do aumento da demanda atmosférica, apesar de os estômatos se fecharem parcialmente (Figura 1). No entanto, nesses mesmos horários houve queda na taxa de fotossíntese e na eficiência instantânea do uso da água ( WUE) (Figura 5), como também foi relatado por Brakke & Allen (1995). FIGURA 3- Resposta da taxa de fotossíntese e da condutância estomática à temperatura, sob condições de casa de vegetação, em laranjeira ‘Valência’ sobre duas espécies de porta-enxerto, limoeiro ‘Cravo’ e Trifoliata. Incluiu-se somente dados de fotossíntese observados em FFFA acima de 700 µmol.m-2.s-1. R. Bras. Fisiol. Veg., 11(1):29-34, 1999. Medina et al. 33 as 8:00 h era baixa, ao redor de 3,0 e 5,5 µmol CO2.m-2.s-1, respectivamente para plantas sobre ‘Cravo’ e sobre Trifoliata, em seguida decaiu para valores próximos a zero, ao redor das 11:00 h para ‘Cravo’ e das 14:00 h para Trifoliata. A condutância já era baixa ao redor das 8:00 h e diminuiu mais nos horários mais quentes e em nenhum momento do dia chegou a recuperar-se, ao contrário do que ocorreu com as plantas irrigadas (Figura 1). Apesar do fechamento parcial dos estômatos, a taxa de transpiração foi relativamente alta para todos tratamentos até ao redor das 11:00 h, quando as plantas sobre Trifoliata apresentaram queda acentuada (Figura 4). No nono dia (23/01/96, Figura 1) já na primeira medida feita ao redor das 8:00 h, a fotossíntese era aproximadamente nula. A mesma resposta foi observada em relação à condutância estomática, que decresceu paralelamente à fotossíntese, durante o estresse. A transpiração foi praticamente nula às 8:00 h, em função do fechamento dos estômatos. FIGURA 4. Taxa de transpiração em função da hora do dia, em laranjeira ‘Valência’ sobre duas espécies de porta-enxerto, limoeiro ‘Cravo’ e Trifoliata. Os valores pontuais representam a média de quatro repetições, com medidas efetuadas nos dias 22, 23 (plantas com DH), 25 e 26 (reirrigação) de janeiro de 1996. Plantas sob deficiência hídrica Nas plantas submetidas à deficiência hídrica os potenciais da água nas folhas medidos às 7:00 e às 13:00 h decresceram progressivamente em função do número de dias sem irrigação. Foram necessários nove dias sem irrigação para a fotossíntese atingir valores negligíveis durante grande parte do dia, quando os potenciais da água nas folhas, às 7:00 h, foram ao redor de –2,0 e –2,5 MPa, respectivamente para as laranjeiras sobre Limoeiro ‘Cravo’ e Trifoliata e os estômatos estavam praticamente fechados (Figuras 1 e 2). Nesta condição de fotossíntese negligível, os vasos foram reirrigados e o período de medidas da recuperação das plantas iniciou-se. No oitavo dia após a suspensão da irrigação (22/ 01), a fotossíntese das plantas sob deficiência hídrica FIGURA 5. Eficiência do uso da água (taxa de fotossíntese/ taxa de transpiração, A/E), em laranjeira ‘Valência’ sobre duas espécies de porta-enxerto, durante o dia. Os valores pontuais representam média de quatro repetições, com medidas efetuadas nos dias 22, 25 e 26 de janeiro de 1996. R. Bras. Fisiol. Veg., 11(1):29-34, 1999. 34 Condutância estomática, transpiração e fotossíntese em laranjeira ‘valência’’ . . . Valores relativamente altos da eficiência instantânea do uso da água (WUE) ocorreram somente até ao redor das 8:30 h, quando a temperatura e o DPV eram relativamente menores que nos horários próximos ao meio-dia (Figura 5). Posteriormente, WUE diminuiu devido a queda da fotossíntese e aumento da transpiração (Figuras 1 e 4). A queda da WUE ficou mais acentuada quando, também ocorreu deficiência hídrica no solo, além da diminuição da condutância. No oitavo dia sob deficiência, a queda da fotossíntese foi mais acentuada que da transpiração e, consequentemente, o WUE foi menor que nas plantas irrigadas, porém com um padrão semelhante de comportamento (Figura 5). Depois da reirrigação dos vasos o potencial da água na folha recuperou-se totalmente em 12 e 36 horas, respectivamente, nas plantas sobre Trifoliata e sobre ‘Cravo’. A recuperação total da taxa de fotossíntese, da transpiração, da WUE e da condutância estomática nas laranjeiras sobre Trifoliata ocorreu somente no terceiro dia após a reirrigação. No entanto, nas plantas sobre limoeiro ‘Cravo’ a recuperação até o terceiro dia foi parcial. Tais resultados dão uma indicação de que o porta-enxerto Trifoliata possibilitou uma maior demora para que tivesse início o efeito da deficiência hídrica sobre a taxa de fotossíntese e que sua recuperação também foi mais rápida. A recuperação mais rápida da fotossíntese parece estar relacionada à recuperação da abertura estomática (Figura 1). Em geral sob deficiência hídrica a queda da taxa de fotossíntese inicialmente é devida ao fechamento dos estômatos. Dependendo da espécie, da natureza e da intensidade da desidratação, a taxa de fotossíntese pode atingir valores próximos a zero sem significativo declínio da capacidade fotossintética do mesofilo (Chaves, 1991). No presente caso a recuperação da fotossíntese pareceu estar ocorrendo em paralelo à recuperação da condutância estomática (Figura 1). A permanência do fechamento parcial dos estômatos pode ter sido devida à manutenção de alto teor de ABA, após a reidratação da planta, o qual age sobre o mecanismo de abertura e fechamento de estômatos sob deficiência hídrica (Kriedmann et al., 1975; Liang et al., 1997; Gomes et al., 1997 e 1999). Gomes et al. (1999) relataram que em laranjeira ‘Valência’ sob estresse hídrico o teor de ABA nas folhas aumentou até 7 vezes quando o potencial da água na folha atingiu –2,5 MPa e que após a reirrigação o teor de ABA das plantas sob estresse foi semelhante ao das testemunhas no décimo quinto dia. Estes autores também verificaram uma relação bem definida entre teor de ABA e condutância estomática e taxa de fotossíntese. GOMES, M.M.A.; LAGÔA, A.M.M.A.; MACHADO, E.C. & FURLANI, P.R. Deficiência hídrica em duas cultivares de arroz de sequeiro: trocas gasosas e relações hormonais. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, 9: 177-183, 1997. GOMES, M.M.A.; MEDINA, C.L.; MACHADO, E.C.; LAGÔA, A.M.M.A. & MACHADO, M.A. Quantificação do ácido abscísico em laranjeiras ‘Pêra’ infectadas pela Xylella fastidiosa e submetidas a deficiência hídrica. Summa Fitopatológica, 25 (1), 1999 (no prelo). HALL, A.E.; CAMACHO-B., S.E. & KAUFMANN, M.R. Regulation of water loss by citrus leaves. Physiologia Plantarum, 33: 62, 1975. KAUFMANN, M. Evaluation of the pressure chamber method for measurement of water stress in citrus. Proceedings of American Society for Horticultural Science, 93: 186-198, 1968. KHAIRI, M.M.A. & HALL, A.E. 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