XI C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI ON EI R O
Educar para a Emancipação:
a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico
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A ESTÉTICA DO FEIO SOB A ÓTICA DE KARL MARX
Meline Lopes Pinheiro
(PG – CLCA – UENP/CJ)
Marlon Sérgio da Silva
(G – CCHE – UENP/CJ)
RESUMO
O presente trabalho pretende ressaltar a importância da obra As ideias estéticas de Marx,
de Adolfo Sánchez Vázquez, organizada a partir dos estudos dos textos de Marx que
tratam de conceitos sobre o mundo da arte. As ideias estéticas de Karl Marx contribuem
para a superação das concepções dogmáticas e sectárias da proposta deformada do
stalinismo. Além desta quebra de paradigma, a estética marxista valoriza o caráter
humanista e sua relação estética com a realidade. Devido à amplitude da obra de
Vázquez, neste trabalho prevalece a discussão dos problemas de uma estética marxista e
as vicissitude das idéias estéticas de Marx partindo de Lênin, Plekhanov, Paul Lafargue
entre outros teóricos marxistas da arte. A necessidade de criar uma nova arte
correspondente à nova sociedade proposta após a Revolução de Outubro é discutida por
Vásquez assim como o realismo socialista, fundamental para a teoria marxista da arte.
Como exercício da práxis dialética, os participantes da oficina realizarão esculturas
contemporâneas para que se possa entender como é a arte desvinculada do conceito de
beleza clássica, que não procura imitar ou representar a natureza nem fazer juízo de belo
ou feio. Com esta produção de artes plásticas, levanta-se o questionamento: Qual o
sentido da arte?
1 INTRODUÇÃO
A sociedade burguesa além de controlar os meios de produção incide diretamente
na forma como as pessoas concebem a arte. Um exemplo disto é a arte massificada
expressa na música, na televisão que se utiliza fortemente do apelo sexual, ou não
possui mensagem alguma além de escancarar a alienação. Fazer parte da classe
desfavorecida não é sinônimo de arte alienada. A arte marginal tem se tornado um
marco na estética contemporânea, que além de servir como instrumento de luta, e de
reinvidicação social, trata da arte democrática, como direito de todos.
O ato de fazer arte muitas vezes está ligada á técnicas especiais, á instrumentos
requintados que pelo alto custo não facilita o acesso de todos.A maioria das pessoas que
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comumente fazem arte ou estão ligadas á alguma escola, ou possuem um nível cultural
propiciado pela família, dotados de poder aquisitivo.
Esta oficina procurou mostrar que, com materiais muitas vezes ignorados
podemos fazem esculturas expressivas. Uma cadeira, papel kraft, podem servir como
instrumento de reflexão. O trabalho realizado no curto período de duas horas e 30
minutos permitiram realizar uma série de discussões que propiciaram o embasamento
teórico para a atividade prática. Os dois tópicos á seguir serviram de embasamento
teórico metodológico para a realização da oficina, mas não puderam ser rigorasamente
debatidos devido ao curto período de tempo, e também pelo motivo de que esta oficina
estava aberta para todas as pessoas participantes do congresso. Com isto não foi
necessário experiência, nem bagagem alguma, as pessoas puderam fazer arte, discutir o
tema com os conteúdos apreendidos na instância da oficina.
Segue abaixo os textos utilizados pelos oficineiros, como objeto de estudo, e que
também foram debatidos no grupo de estudo em Estética marxista, vinculado ao grupo
(...), realizado nesta mesma universidade.
2 ARTE COMO FORMA DE CONHECIMENTO
Diferente do que se tem exposto até aqui, esta análise da arte como forma de
conhecimento fora analisada originalmente por Marx e Engels. Os pensadores fizeram
juízos de diferentes obras do século XIX, assim como Lênin o fizera na análise de Tolstoi.
Marx e Engels não ignoraram a presença da ideologia na arte como conhecimento,
mas reconheceram a especificidade de cada uma, como nas obras de Balzac,Goethe ou
Tolstoi, em que cada uma mantêm-se em um plano.
Algumas obras como “Os mistérios de Paris”, de Eugéne Sue, e Lessage Franz von
Sickingen demonstram que uma falsa concepção pode atuar como ideologia alienante
para com os leitores. Estas obras foram criticadas por Marx e Engels na obra A Sagrada
Família e demonstram que “uma perspectiva ideológica falsa pode afetar negativamente
a verdade artística e os méritos estéticos de uma obra”.
No entanto, obras como a Comédia Humana de Balzac, representou para Engels
“um dos maiores triunfos do realismo” (ENGELS apud VAZQUEZ,1978), em que a
verdade artística superou a o horizonte ideológico alienante. Lênin também faz este
apontamento na obra de Tolstoi que mesmo influenciado pelo horizonte místico, foi o que
melhor retratou a revolução russa e o autor que melhor retratrou a classe burguesa para
que a classe operária da Rússia tazrista pudesse conhecê-los (Lênin apud Vazquez)
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È nos clássicos do Marxismo-leninismo que encontramos a arte como forma de
conhecimento,e por esse motivos alguns escritores realistas evidenciam a interpretação
ideológica em detrimento da função cognoscitiva da arte. È importante diferenciá-las,
pois enquanto na concepção ideológica o artista expressa sua visão de mundo, na
concepção cognoscitiva a aproximação com a realidade é ainda mais intensa, pois o
artista “aproxima-se dela a fim de captar suas características, a fim de refleti-la, mas
sem dissociar o reflexo artístico de sua posição diante do real, isto é, de seu conteúdo
ideológico. Nesse sentido a arte é um meio de conhecimento” (VAZQUEZ, 1978).
No entanto esta aproximação gnosiológica não permite reduzir a arte de forma
mecânica, nem como ciência, pois a arte existe fora e independente do homem. Um
exemplo elucidativo dado por Vazquez, está no fato de que uma arvore em uma tela, não
é a arvore em si, como aquela pesquisada pelo botânico, mas sim uma arvore
humanizada. Neste sentido fica claro a contribuição de Aristóteles e Platão quando estes
discutiram a arte como imitação, respectivamente nas obras A Poética e no capítulo X da
República de Platão.
A arte como verdade, deve sair do plano puramente filosófico e torna-se estético
respondendo as questões: Que conhecemos? Como se processa este conhecimento?
O problema da arte como forma de conhecimento esteve por muito tempo
atrelado no problema da arte como reflexo da realidade, e por muitas vezes reduzida a
esta forma. “Arte respondia-se, reflete a realidade em imagens; a ciência e a filosofia em
conceitos”. (Vazquez, 1987) Esta reflexão remete a Hegel para qual a arte carece de um
objeto tal como a religião ou a filosofia, naquilo que Hegel coloca como forma de Espírito
absoluto, que diferenciam-se apenas na forma de se autoconhecer, como se arte fosse
um conhecimento específico mas sem objeto próprio.
A .I Burov trata da arte com manifestação da consciência social, e não apenas da
realidade em imagens, pois se reduzirmos a arte pela sua forma, e excluirmos seu objeto
e conteúdo não haverá possibilidade de conceber a arte como conhecimento.
Desta forma Vazquez (1978) lança a questão: “Se a arte e a ciência são formas
distintas de conhecimento, que sentido tem esta duplicação da função cognoscitiva?” Ou
seja qual a diferença? “Será que a arte tem a intenção de rivalizar com a ciência?”
Em todo caso A. Yegórov (apud Vazquez), afirma que a arte em seu terreno
especifico enrique o homem com novos conhecimento, pois a arte como forma de
conhecimento diferenciada da ciência, não é apenas uma mera duplicação mas sim o que
A. I Burov
(apud Vazquez) tratou: A arte somente se justifica se tiver um objeto
especifico que condiciona, este objeto especifico é o homem, a vida humana.
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Neste trecho da obra encontramos o ponto culminante e diferencial da estética
marxista. Sempre ao discutir qualquer questão essencial da arte o fim último será o
homem e a vida humana, mesmo que nem em alguma obra de arte ou peça de teatro
que seja, o homem não seja representado artisticamente, pois tudo esta em relação com
o homem, revelando o que são para o homem, e não puramente em si, dotado de
significação social.
Terêncio mais uma vez, torna-se fundamental no marxismo “Nada que é humano me
parece estranho”. Se na sociedade de hoje tais concepções fossem adotadas, não só na
arte mas em todas as dimensões da realidade, a sociedade seria mais humanizada e não
unicamente capitalista.
Com isto Vazquez (1978) afirma: O artista ao refletir a realidade objetiva nos faz
penetrar na realidade humana, diferente da ciência que trata da essência objetiva da
realidade a arte trata da realidade e a essência humana. A ciência trata da análise
morfológica, biológica da arvore, mas quem irá tratar da arvore humanizada? È este
exatamente o objeto da arte na concepção marxista.
Vemos portanto a arte duplicando o trabalho das ciências sociais, tal como o fez
Dostoievski quando duplicou a função do psiquiatra, ou quando Balzac duplica as
relações econômicas quando retrata na obra A comédia Humana os conceitos da obra O
capital de Karl Marx e Engels.
A arte não generaliza os homens, mas evidencia suas manifestações individuais,
apresentando homens concretos, vivos na unidade e na riqueza de suas determinações.
O conhecimento que a arte pode nos dar acerca do homem só poderá ser atingido por
um caminho especifico, que não é de modo algum o da imitação ou reprodução do real,
arte para Vazquez (1978) vai “ vai do concreto real ao concreto artítico”.
Quem é o artista para o marxismo? O artista tem diante de si o concreto real, mas não
pode limitar-se a reproduzi-lo. A proposta da totalidade marxista, trata deste artista
como aquele que parte do individual, do imediato e eleva-se ao universal, para depois
voltar ao concreto.
Este movimento é a própria dialética da subjetividade fruto de um processo de
criação reflexiva e não de imitação, fazendo surgir uma nova realidade pela obra e arte
fazendo com que a arte somente seja conhecimento na medida em que é criação,
servindo desta forma, á verdade, descobrindo aspectos da realidade humana.
A arte que serve a verdade, como um meio especifica de conhecimento tanto pela forma
com pelo conhecimento é o realismo. Vazquez (1978) define como arte realista:
“...a toda arte que, partindo da existência de uma realidade objetiva,
constrói com ela uma nova realidade que nos fornece verdades sobre a
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realidade do homem concreto que vive numa determinada sociedade, em
certas relações humanas histórica e socialmente condicionadas e que, no
marco delas, trabalha, luta, sofre, goza ou sonha”
Para a estética marxista existem três tipos de realidade: realidade exterior,
realidade nova
ou
humanizada, que o homem
fez
emergir,
transcendendo
ou
humanizando a anterior, e por último a realidade humana, que transparece na realidade
criada. Com esta definição Vaszquez (1978) traça a linha divisória do realismo como
representação do real, no qual se reflete a essência de fenômenos humanos, e do outro
lado desta mesma moeda esta a arte como aquela que não quer cumprir a função
cognoscitiva. Ainda de acordo com estas subdivisões estão os falsos realismos que se
prendem a realidade exterior, ou ficam presos a realidade interior, demasiado
subjetivista. O problema esta no fato de que alguns estetas fazem da “representação das
coisas um fim e não um meio a serviço da verdade” (VAZQUEZ,1978).
O realismo não busca conhecer a realidade, mas sim representá-la, numa
tentativa de refleti-la, apresentando-a novamente, sem buscar qualquer idealismo, na
forma de como a realidade deva ser, que acabou sendo característica principal do período
stalisnista, que na verdade era um idealismo “socialista” e não realismo socialista.
No entanto alguns autores do período stalinista como Cholokhov não mistificou a
realidade, coadunando com a premissa de que a “verdade pode proporcionar legitima e
justifica sua existência” (VAZQUEZ,1978)
Ao longo da obra, Vazquez faz uma critica ferrenha á arte da vanguarda, ao
abstracionismo, futurismo, cubismo, expressionismo e surrealismo, pois estas correntes
se detêm ao cunho especificamente ideológico. Com isto o autor apresenta muitos
argumentos defendidos pela corrente e explica que para “demonstrar que alguém como
artista, não pertence aquele determinando mundo político e dado que sua personalidade
é essencialmente artística , que em sua visão íntima na vida que lhe é própria o mundo
em questão não existe, nem atua” (GRAMSCI apud VAZQUEZ,1978)
2.1 ARTE COMO IDEOLOGIA
Antes de discutir sobre a arte como ideologia, Adolfo Sanchez Vasquez nos
recorda que a arte não pode ser engessada em uma teoria, mesmo que se busque no
manancial marxista, as ideias originais de Karl Marx visto que não é permitido esquecer
que a arte se renova a todo momento por meio da própria prática. O próprio marxismo
discuti a respeito da função da criação artística, pois seria muito exclusivista emparedar a
arte apenas na relação homem e trabalho. Este é um momento em que o autor
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demonstra claramente a sua intenção de passar por todas questões essenciais da arte, já
que esta é propriamente a intenção dos estetas marxistas. Se nos perguntassem: Qual a
função do esteta marxista? Quem é este pesquisador que estuda arte sob a ótica de Karl
Marx: A resposta está clara: Trata-se daquele marxista com uma concepção aberta, que
não “mutila a riqueza, diversidade e dinamismo da arte ao longo de seu desenvolvimento
histórico e na atualidade” (VÀZQUEZ, 1978).
Para se entender a relação da arte com as diversas formas de ideologia é
necessário entender do que se trata a redução da arte como essencialmente ideológica.
Primeiramente parte-se do entendimento de que o marxismo desde seus primeiros
estetas insistiu vigorosamente na natureza ideológica da criação artística. Isto significa
afirmar que dentre a relação proposta pelo marxismo de base, a economia, e
superestrutura representada pela cultura, filosofia, estética, religião, política, instituições,
leis, a arte faz parte desta última e por isto não deixa de estar ligada a certos interesses
sociais. Por este motivo o artista também possui seus interesses e dá forma á sua
expressão, por este motivo torna-se impossível reduzir a arte como fenômeno ideológico,
pois a obra possui coerência interna, possui o seu valor, a sua independência, é
autônoma ao contrário de rígida e engessada, não havendo um signo de igualdade entre
arte e ideologia.
Não diferente do homem comum, o artista faz parte da concepção ontológica
marxista e também é condicionado histórico e socialmente, mas a sua criação artística
possui aspectos característicos, como quando retrata em uma obra sua classe social, o
que não significa que, se esta classe não mais existir, esta obra perderá seu valor. Desta
forma, Vazquez (1978) define a arte como “expressão do dilaceramento ou divisão social
da humanidade”. È a própria expressão da universalidade, da totalidade em que este ser
particular está inserido, negando qualquer incentivo ao individualismo de classe,
segmentada, particular, típico desta sociedade de classe.
Assim como a arte grega fora analisada por Marx e Engels, como aquela que
perdurava acima de todos os condicionamentos, e atualmente superou a ideologia
escravista de seu período, também a arte de hoje transcenderá á sua ideologia, visto que
“as ideologias de classe vêm e vão, ao passo que a verdadeira arte permanece”
(VAZQUEZ, 1978), é por este motivo que nos dias atuais é possível conviver com a arte
renascentista, medieval, mesmo que neste períodos os homens que produziam esta arte
eram envoltos pela ideologia da época, mas o homem que buscar as técnicas, a
inspiração deste período não precisa necessariamente estar de acordo com a ideologia
daquele período.
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Fica claro que para Vazquez a contribuição do marxismo na discussão entre arte e
ideologia não permite reduzir a arte unicamente ao subjetivismo ou na sociologia vulgar,
retirando do eixo estético marxista qualquer tendência que negue o caráter ideológico da
arte.
Discutir arte e ideologia é um tema que exige certo cuidado pois corremos o risco de
incorrermos em uma visão apressada do ideológico ao artístico, ignorando as pontes que
existem entre elas como no conceito intermediários, da arte e decadência.
Franz Kafka, durante o período da ditadura stalinista fora considerado um
decadente, que não se enquadrava no realismo, pois sua obra possuía características
distantes do real, e que se tornou parte do famoso dilema lukacsiano, que discutia se a
arte era decadente quando expressa ou pinta uma sociedade decadente, deixando intacto
o pilar econômico e social, ou ainda quando os conteúdos ideológicos são decadentes, ou
se contém elementos de decadência.
Por este motivo fica claro que Kafka não é um decadente já que retrata em sua
obra o caráter abstrato, alienado e absurdo das relações humanas na sociedade
capitalista, um autor que não retrata conscientemente os pilares da sociedade mas que
em suas analogias não permite que a sociedade burocratizada fique intacta. Nas
correspondências entre Engels e Minna Kautsky, Engels afirma que:
“Creio que a tendência deve decorrer da própria situação e da própria
ação, sem que esteja explicitamente formulada, e que o poeta, ou o
artista em geral (grifo nosso) não tem por que fornecer ao leitor, pronta e
acabada, a solução histórica futura dos conflitos sociais que descreve”
(ENGELS apud VAZQUEZ, 1978).
Cabe ressaltar que Kautsky foi um socialdemocrata que via que não concebia o
marxismo como filosofia, mas apenas como uma concepção específica da sociedade. Via
o marxismo como filosofia emprestada que se convertia apenas em simples doutrina
econômica e política, e que fora convocada apenas para dar razão ao reino dos valores
ao qual pertencia a arte. Kautsky ao reduzir o marxismo em doutrina, propunha que uma
filosofia idealista como de Kant preenchesse o vazio que o materialismo histórico
deixava, castrando o verdadeiro conteúdo humanista e revolucionário do marxismo. Por
estes contrapontos Engels passou a se corresponder com Kautsky, assim como outrora
Marx se correspondera com Bruno Bauer.
A discussão do conceito de decadência não pode ser aplicado a toda forma forma
ideológica, ou a um período artístico ou social. Vazquez (1978) explica que “arte
decadente não é igual a arte de uma sociedade decadente; decadência em sentido
artístico não é o mesmo que em sentido social”. Um movimento artístico que tenha
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esgotado suas possibilidades e deixe de estar em voga, pode ser concebido como
decadente. Segundo o autor nada permite afirmar que uma sociedade em decadência
engendre uma arte decadente.
No seio desta discussão Vazquez aproveita para ressaltar que esta discussão se
aplica aos que afirmam que a arte socialista é superior, precisamente por ser uma fase
superior do desenvolvimento social (na ótica marxista).
A decadência artística aparece apenas quando uma vanguarda artística cessa suas
possibilidades criadoras. No entanto uma arte pode conter elementos decadentes como:
pessimismo, perda da energia vital, atração pelo anormal e pelo mórbido, o que expressa
uma atitude decadente perante a vida. È neste momento que encontramos um ponto
difusor da teoria marxista e seus princípios: o da negação da negação. Visto que estes
elementos
decadentes
são
tão
poderosos
que
esgotam
o
impulso
criador,
ou
transcendem a obra de arte, ou se encontram integrados na obra. O que importa é que
este príncipio afirma o poder criador do homem, enquanto aquele que nega a própria
negação de uma atitude vital decadente.
Esta
discussão fora
amplamente discutida por Zhdánov
e que Vaszquez
considerou muito mais sutil do que Lukács, mas que ambos demonstram a necessidade
de se ter um cuidado no exame da arte e ideologia, para que se possa caminhar rumo a
superação do velho erro sociologista de identificar a decadência artística com a
decadência social. Ao mesmo tempo esta preocupação reaviva a necessidade de buscar a
natureza específica da arte, num plano muito mais profundo do que o ideológico.
Esta discussão de decadência na arte faz parte de uma questão essencial, que no
início deste texto fora incitada como proposta de Vaszquez em fazê-la. A importância
deste tema provocou autores como J. P. Sartre, E. Fischer, J. Hajek, em um colóquio
marxista, onde o debate principal revela uma atitude contrária ao emprego dogmático e
mecânico do conceito de decadência:
“Fischer: Se os escritores descrevem a decadência sem nenhuma
consideração e denunciam-na moralmente, isto não é decadência. Não
deveríamos abandonar Proust, Joyce e Beckett e menos ainda, Kafka ao
mundo burguês”. E, Goldstucker: “ Deve-se distinguir os elementos de
decadência na “ filosofia de vida”, examina-los criticamente e apreciar, em
alto grau, as novas técnicas de criação artística trazidas por esta visão
decadente e pessimista da vida e do mundo.” M. Kundera: “ Chegamos a
uma posição verdadeiramente dialética a respeito do que se chama
literatura decadente, e compreendemos que a luta ideológica não reside
na recusa dos obstáculos, mas em sua superação”. ( La Nouvelle Critique,
nums. 156-157, págs. 71-84, Paris, junho-julho de 1964 apud VAZQUES,
1978).
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3 CONCLUSÃO: RELATO DE EXPERIÊNCIA
No dia onze de maio, partindo do tema proposto pelo evento “Emancipação e a
Educação”, realizou-se a oficina “A estética do feio sob a ótica de Karl Marx”. No primeiro
momento iniciamos uma explanação acerca do método que utilizamos para elaborar a
oficina.
Um slide com perguntas fora apresentado: O que pretendemos fazer?Que método
é este?Para que serve este método?Onde pode ser usado? Com estas perguntas iniciais,
explicamos que pretendíamos mostrar aos participantes que a arte como práxis
transformadora deve possuir um embasamento teórico e não ser simplesmente arte pela
arte, mas arte com um objetivo de transformação social. Além disto esclarecemos que o
método utilizado poderá ser seguido em todas as disciplinas, não só em artes ou filosofia.
A explanação seguinte partiu para a significação dos termos indivíduo e
consciência.Para isto utilizamos na oficina o vídeo “Son smeshnogo cheloveka”, com a
direção de
Aleksandr Petrov, Roteiro de Alexandr Petrov, baseado na obra de Fiódor
Dostoievski. Neste vídeo a personagem sabe-se ridícula desde a infância e já não tem
mais nenhum interesse em continuar a viver. Num dia inútil como todos os outros, em
que mais uma vez esperava ter encon- trado o momento de se matar, é abordado por
uma menina que clamava por ajuda. Ele não só recusa o apoio à criança, como a espanta
aos berros. Ao voltar para casa, não consegue dar fim à sua existência. Adormece e
sonha. Ele narra como conheceu a verdade em toda a sua glória e mostra como tudo
aquilo deve ter sido real, pois as coisas terríveis que sucederam não poderiam ter sido
engendradas num sonho.
Com este recurso passamos para a discussão: Como o capitalismo influência a
sociedade? O Vídeo “Violentamente Pacífico” apresentado por Mc Lo Carlos.
Após esta fase em que os recursos audiovisuais serviram como embasamento teórico
para os participantes poderem fazer a atividade prática, chegamos em um ponto crítico
em que a escola é tratada no debate como aquela que também reproduz o sistema
capitalista.
A história da educação no Brasil é marcada por preceitos religiosos cristãos
advindos do sistema catequizante europeu. Segundo Mészáros o cristianismo é “o
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espírito judaico prático tornou-se o espírito prático das nações cristãs” (MÉSZÁROS,
2006, p. 35) ambos são aspectos complementares dos esforços das sociedades para lidar
com suas contradições internas em que ambos representam tentativas de uma
transcendência imaginária dessas contradições, de uma reapropriação ilusória da
essência humana por meio de uma substituição fictícia do estado de alienação
(MÉSZÁROS,
2006,
p.
34)
projetando
as
aspirações
econômicas,
sociais
como
consequências desta atividade religiosa, alienante que é exatamente o debate de Marx
com o seu contemporâneo Bruno Bauer na obra “A questão judaica”.
Marx concorda com Bauer afirmando que há uma alienação religiosa, já que esta é
incompatível com a ciência, pois a religião tem como origem a ignorância do homem
frente à natureza, mas discorda da proposta que ela seja a alienação fundamental do
homem, e que existem outras formas de alienação (MARX, 2003 apud SOUZA, 2007)
Esta forma religiosa de alienação é a raiz da pedagogia brasileira que se opõe aos
processos emancipatórios, visto que o Brasil possui como proponente educacional, os
jesuítas, grupo religioso que permaneceu no Brasil e em sua proposta e ação trouxeram
consigo o sistema dominante “o espírito capitalista”, (MÉSZÁROS, 2006) com destruição,
e negação da cultura indígena de forma repressiva, impondo padrões europeus á uma
cultura estranha, que segundo os jesuítas era selvagem e primitiva que apregoavam uma
educação com ensinamentos:
[...] repressivos sobre a educação da criança, próprios da cultura
européia, tiveram as crianças que negar sua cultura, assumindo formas
tão diferentes e agressivas á cultura indígena; os jesuítas aplicavam a
“pedagogia do medo”. Atribuíam aos pecados a causa das epidemias
(talvez trazidas aos índios pelos próprios brancos) e os fenômenos
naturais como muita seca ou muita chuva. Por isso, era comum imporem
aos meninos índios sacrifícios físicos. Dias inteiros e orações até que o mal
sanasse. [...] Frequentemente eram aplicados castigos aos meninos que
não queriam participar das atividades escolares. Esses castigos, muitas
vezes, faziam com que os meninos fugissem das escolas, pois na cultura
indígena não se tinha o hábito de bater nem falar alto com as crianças:
“Qualquer resistência física é cultural aparecia sempre aos olhos dos
jesuítas como tentação demoníaca, como assombração ou visão terrível”.
(CÉSAR NUNES E EDNA SILVA, 2000, p.57).
Mesmo com o desenrolar da história nossa sociedade atual não evoluiu em termos
de igualdade, pois continua segregada em classes. A contradição é evidente e reflete
diretamente no sistema educacional que ainda carrega os resquícios de uma pedagogia
excludente, submetida aos dominadores, aos detentores do poder, visto que aceita
escolas públicas e escolas particulares, mesmo quando o artigo 205 da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 atribui o direito de todos á educação de qualidade
e no artigo 208 reforça a efetivação deste direito incongruente com a existência da
escola particular (MARTINES apud JUNIOR EDUARDO, 2006, p. 90).
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Mas e a arte, como ela expressa a realidade do capitalismo? Por isto o texto: Se
os tubarões fossem homens de Bertolt Brecht serviu como exemplo.
No final da fase teórica explicamos que a proposta dos vídeos a seqüência da
discussão, a oficina em si seguiu o método da pedagogia histórica Crítica, que Gasparin
traduziu em cinco passos que foram amplamente esclarecidos no livro Uma didática para
a pedagogia histórico crítica:
•
PRÁTICA SOCIAL INICIAL
•
PROBLEMATIZAÇÃO
•
INSTRUMENTALIZAÇÃO
•
CATARSE
•
PRÁTICA SOCIAL FINAL
A classe hegemônica exerce uma ininterrupta atividade para não perder sua
hegemonia e se utiliza de estratégicas de adesão da população ao projeto político
neoliberal ou se necessário, como a histórica comprova, lança mão da força para pregar
que não existe outro caminho para a humanidade diferente, a não ser se render aos
padrões mundiais, de pensamento e ação dentro do estereotipo em moda, em uma
sociedade que prega liberdade, autonomia, criatividade, mas que enfatiza padronização,
ao passo que empobrece a cultura, vista pelo rebaixamento da mesma. Por este motivo
as políticas educacionais utilizam-se de posicionamentos valorativos.
A experiência da oficina pode comprovar que a proposta marxista é aceita por
aqueles que se encontram excluídos socialmente. Os participantes desta oficina tiveram
suas reinvidicações ouvidas e descobriram que fazem parte da massa proletária, muito
pode ser discutido, e as reflexões tornaram-se definições.
4 REFERÊNCIAS
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ra d i cal d a s o ci ed ad e ca p i t al i st a e a s m e d i aç õ e s p ol í t i cas p a ra c on st ru çã o
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XI C ON G R ES SO D E E D U C AÇ Ã O DO NORT E PI ON EI R O
Educar para a Emancipação:
a Reorganização da Escola e do Espaço Pedagógico
U E NP -C C H E -C L C A– C A M PU S J A C AR E ZI N HO
A N AI S – 2 0 1 1
I SS N – 1 8 0 8 -3 5 7 9
d a e m an ci p aç ã o h u m an a , Ca m p i n as , S P: [ s .n .] , 2 007 . T e s e ( d ou t o rad o) ,
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p r op o st as p r át i ca s p a ra u m a ab o rd a g e m d a s e xu al i d ade p a ra al é m d a
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VAS QU E Z, A. S. A s Id éi as E st ét i ca s d e Ma r x. R i o d e Jan ei r o: Paz e T e r ra ,
1968 .
Para citar este artigo:
PINHEIRO, Meline Lopes; SILVA, Marlon Sérgio da. A estética do feio sob a ótica de
Karl Marx. In: XI CONGRESSO DE EDUCAÇÃO DO NORTE PIONEIRO Jacarezinho. 2011.
Anais...UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Ciências Humanas
e da Educação e Centro de Letras Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2011. ISSN –
18083579. p. 28 - 39.
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Meline Lopes Pinheiro