Prof.Hélder Mauad/EMESCAM Drogas usadas em desordens de coagulação Prof. Hélder Mauad Hemostasia Palavra originária do grego “haimostasis” = ação ou efeito de estancar uma hemorragia “Prevenção da perda de sangue” (Guyton) MECANISMOS DA HEMOSTASIA: 1. Espasmo Vascular 2. Formação de Tampão Plaquetário 3. Formação de Coágulo Sangüíneo 4. Crescimento Final de Tecido Fibroso 5. Fibrinólise 1 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM 1. ESPASMO VASCULAR: Ocorre imediatamente após um corte ou ruptura de um vaso sangüíneo Traumatismo da parede vascular → contração do vaso → ↓ instantaneamente o fluxo sangüíneo para o local de ruptura do vaso Mecanismos: reflexos neurais, espasmo miogênico local e fatores humorais locais provenientes dos tecidos traumatizados e das plaquetas Espasmo Miogênico Local é o principal fator: Vasos de menor calibre: as PLAQUETAS são responsáveis pela vasconstrição → liberam Tromboxana A2 (subst. Vasoconstritora) Quanto maior o trauma, maior o espasmo resultante. 2. Formação do Tampão Plaquetário: Se a ruptura no vaso sangüíneo é muito pequena, a oclusão é feita por um TAMPÃO PLAQUETÁRIO e não por um coágulo sangüíneo. 2 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM PLAQUETAS 3 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM Características físicas e químicas das plaquetas Trombócitos (thrombus = coágulo) Pequenos discos redondos ou ovais (1 a 4 µm de Ǿ) Formados na medua óssea (megacariócitos) Concentração normal no sangue : 150.000 a 300.000 por µL) Não possuem núcleo e não podem se reproduzir Meia-vida de 8 a 12 dias Remoção (>50%) por macrófagos teciduais no baço Características Funcionais das Plaquetas Citoplasma: Proteínas contráteis: Actina, Miosina e Trombostenina Resíduos do Retículo Endoplasmático e Aparelho de Golgi: sintetizam diversar enzimas e armazenam ↑↑ Ca++ Mitocôndrias e Sistema Enzimático: formam ATP e ADP Sintetizam Prostaglandinas Fator estabilizador da Fibrina Fator de crescimento: atua sobre células endoteliais vasculares, células musculares lisas e fibroblastos = REPARO DAS PAREDES VASCULARES LESADAS Membrana Celular: glicoproteínas e fosfolipídeos 4 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM 5 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM Coágulo Sangüíneo Começa a se desenvolver em 15 a 20 segundos se o traumatismo da parede vascular for intenso e em 1 a 2 minutos se foi de pouca importância. Em lesões menores, após 3 a 6 min., a extremidade do vaso é preenchida pelo coágulo. Depois de 20 a 60 min. o coágulo tem retração. 6 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM Fatores de Coagulação mais importantes 7 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM 8 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM As células endoteliais formam um revestimento nãotrombogênico nos vasos sangüíneos Manutenção de uma carga elétrica negativa transmural: importante para impedir a adesão das plaquetas circulantes Liberação de ativadores do plasminogênio: ativam a via fibrinolítica Ativação da proteína C (envolvida na degradação dos fatores de coagulação). Neste processo atuam a trombina e seu co-fator endotelial (trombomodulina). Produção de proteoglicanos, semelhantes à heparina, que inibem a coagulação Liberação de prostaciclina (PGI2), um potente inibidor da agregação plaquetária DROGAS ANTICOAGULANTES 9 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM 1. HEPARINA 2. ANTICOAGULANTES EFICAZES POR VIA ORAL 3. ANTICOAGULANTES INIBIDORES DIRETOS DA TROMBINA 4. DROGAS ANTIPLAQUETÁRIAS 5. DROGAS TROMBOLÍTICAS (Fibrinolíticas) 6. DROGAS ANTIFIBRINOLÍTICAS 10 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM 1. HEPARINA 2 tipos de Heparina são utilizados clinicamente: Heparina Padrão (não-fracionada) Heparina de baixo peso molecular (LMWH, lowmolecular-weight heparin) Heparina Padrão (não-fracionada) Mais antiga, é um extrato animal = Heparina Sódica É uma mistura de mucopolissacarídeos ácidos altamente eletronegativos É produzida e liberada pelos mastócitos Encontrada em grandes quantidades no fígado, nos pulmões e no intestino Mecanismo de Ação: Sua ação anticoagulante depende da presença de um inibidor endógeno (sangue) da trombina = Antitrombina III Induz a uma alteração estrutural que acelera a interação da antitrombina III com os fatores de coagulação Também catalisa a inibição da trombina pelo co-fator II da Heparina, um inibidor circulante 11 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM Absorção, Metabolismo e Excreção: Prescrita mais em unidades (UI) do que em miligramas A dose deve ser determinada individualmente Não é absorvida V.O. Deve ser administrada de forma parenteral Administração IV produz efeito anticoagulante imediato Administração SC: observa-se um intervalo de 2 h para o início da ação da droga DEVE-SE EVITAR A ADMINISTRAÇÃO IM: taxa de absorção imprevisível, ocorrência de sangramento local e irritação Não se liga às proteínas plasmáticas Não é secretada no leite materno Não atravessa a placenta Sua ação é interrompida pela captação e metabolização pelo sistema retículo-endotelial e fígado e excreção renal da droga inalterada (principalmente). Ações Farmacológicas: Função fisiológica ainda não elucidada É encontrada em diminutas quantidades no sangue circulante normal Os proteoglicanos semelhantes à heparina produzidos pelas células endoteliais apresentam atividade ANTICOAGULANTE Diminui a aderência das plaquetas e das células inflamatórias às células endoteliais Reduz a liberação do fator de crescimento liberado das plaquetas Inibe a metástase de células tumorais Exerce efeito antiproliferativo sobre vários tipos de músculos lisos A terapia com heparina é feita com o paciente internado Inibe a coagulação do sangue tanto in vivo quanto in vitro O tempo de coagulação do sangue total e o tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa) são prolongados conforme a dose 12 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM Efeitos Adversos: Hemorragia é a principal reação adversa A incidência de hemorragia potencialmente letal é baixa, porém variável Em 3 a 30% dos pacientes pode ocorrer trombocitopenia induzida pela heparina de início imediato e tardio (produção de anticorpos antiplaquetários heparina-dependentes) Pode ocorrer sangramento no trato urinário e GI e nas glândulas supra-renais Contra-indicações: Absolutas: sangramento grave ou ativo; hemorragia intracraniana; cirurgia recente do cérebro, medula espinhal ou olho; hepatopatia ou doença renal grave; aneurisma dissecante de aorta e hipertensão maligna. Relativas: hemorragia GI ativa, AVC ou cirurgia de grande porte recente, hipertensão grave, ameaça de aborto e insuficiência renal ou hepática grave. Interações Farmacológicas: Drogas que inibem a função plaquetária (Aspirina) e anticoagulantes orais + Heparina aumentam o risco de sangramento e produzem efeitos sinérgicos Antagonistas da Heparina: A PROTAMINA é o antagonista específico da heparina Utilizada para neutralizar a heparina em casos de hemorragia grave PROTAMINA-HEPARINA: ligação imediata e forma um complexo inerte 13 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM Heparina de baixo peso molecular (LMWH, low-molecular-weight heparin) As moléculas de LMWH contêm a sequência pentassacarídica necessária para a ligação à antitrombina III, porém não a sequência 18-sacarídica necessária para a ligação à trombina Em comparação com a Heparina Padrão: Possui uma atividade de antifator Xa 2 a 4 vezes maior do que a atividade antitrombina Apresenta maior disponibilidade Efeito mais prolongado Farmacocinética de depuração independente da dose Não a necessidade de testes laboratoriais: devido a relação previsível entre o efeito anticoagulante e a dose Mais eficaz no tratamento da trombo-embolia venosa A incidência de trombocitopenia é menor Superdosagem também é tratada com PROTAMINA Disponível para a administração subcutânea como: ENOXAPARINA (Lovenox) DALTEPARINA (Fragmin) ARDEPARINA (Normiflo) TINZAPARINA (Innohep) DANAPARÓIDE (Orgaran) é composto de sulfato de heparina, sulfato de dermatano e sulfato de condroitina. Apresenta maior especificidade para o fator Xa que o LMWH Sangramento não revertido pela protamina 14 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM 2. ANTICOAGULANTES EFICAZES POR VIA ORAL As drogas anticoagulantes geralmente eficazes são derivados lipossolúveis da 4-hidroxicumarina (agentes cumarínicos) e indan-1,3-diona (indandiona), que se assemelham à vitamina K. Anticoagulantes da indandiona apresentam maior toxicidade A Varfarina é o anticoagulante oral de escolha Os anticoagulantes orais induzem hipocoagulabilidade apenas in vivo São antagonistas da Vitamina K: Vitamina K é necessária para catalisar a conversão dos precursores dos fatores da coagulação vitamina K-dependente, os fatores II, VII, IX e X A regeneração da Vitamina K1 (K1H1) por uma epóxido redutase é bloqueada pelos anticoagulantes orais Estes agentes induzem a hipocoagulabilidade ao induzir a formação dos fatores de coagulação estruturalmente incompletos 15 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM Absorção, Metabolismo e Excreção da VARFARINA: Sofre absorção rápida e quase completa Liga-se extensamente (>95%) às proteínas plasmáticas O efeito anticoagulante é produzido pela droga não-ligada Não atravessam a barreira hemato-encefálica Atravessam a placenta e causam teratogenicidade e hemorragia no feto É inativada pelas isozimas P450 hepáticas Metabólitos hidroxilados são excretados na bile, e a seguir, no intestino Ações Farmacológicas da VARFARINA: É utilizada em paciente internado e ambulatorial (tratamento a longo prazo) O efeito anticoagulante só se torna evidente nos testes de coagulação após o catabolismo dos fatores normais já presentes no sangue: 5 horas (fator VII), 2 a 3 dias para a protrombina (fator II) 16 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM Efeitos Adversos: Hemorragia é o principal A terapia prolongada com cumarínicos é relativamente isenta de efeitos adversos Pode ocorrer sangramento visível (pele, mucosas) ou oculto (GI, renal, cerebral, hepático, uterino ou pulmonar) Mais raramente: diarréia, necrose do intestino delgado, urticária, alopécia, necrose cutânea, dedos dos pés roxos e dermatite) Contra-indicação: Presença de ulceração GI ativa ou pregressa, trombocitopenia, hepatopatia, doença renal, hipertesnão maligna, cirurgia recente do cérebro, olho ou medula espinhal, alcoolismo crônico e gravidez Superdosagem: Interrupção da administração do fármaco; administração oral ou parenteral de Vitamina K1 (fitonadiona). Hemorragia grave: administração de plasma fresco congelado ou concentrados de plasma contendo fatores de coagulação vitamina K-dependentes 17 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM 3. ANTICOAGULANTES INIBIDORES DIRETOS DA TROMBINA Foram aprovadas 2 drogas Não envolvem a antitrombina III ou a Vitamina K para proporciona anticoagulação intravenosa em pacientes com trombocitopenia induzida por heparina: LIPIRUDINA (Refludan) BIVALIRUDINA (Angiomax) São análogos da IRUDINA (anticoagulante peptídeo da sanguessuga) Ligam-se a trombina num complexo 1:1 para inibir a sua atividade protease Não se dispõe de antagonistas para estas drogas INDICAÇÕES CLÍNICAS DA TERAPIA ANTICOAGULANTE COM HEPARINA E VARFARINA Proporciona um tratamento profilático para distúrbios trombo-embólicos venosos e arteriais São ineficazes para os trombos já formados, embora possam impedir sua propagação Principais indicações: Trombose Venosa Profunda Embolia Arterial Fibrilação Atrial Angina Instável e Infarto do Miocárdio Coagulação Intravascular Disseminada 18 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM 4. DROGAS ANTIPLAQUETÁRIAS A formação de agregados plaquetários no sangue e de trombos no sangue arterial pode causar vasoespasmo e oclusão coronarianos, infarto do miocário e AVC, contribuindo para o desenvolvimento da placa aterosclerótica Drogas antiplaquetárias tem função profilática na trombose arterial e função profilática e de tratamento farmacológico no infarto do miocárdio e AVC Aspirina: inibe a agregação plaquetária (baixas doses) e prolonga o tempo de sangramento. Promove inibição irreversível da COX TICLOPIDINA (Ticlid) e o CLOPIDOGREL (Plavix): inibem de modo irreversível a ativação das plaquetas ao bloquear os receptores purinérgicos específicos de ADP na membrana plaquetária ABCIXIMAB (ReoPro), EPTIFIBATIDA (Intergrillin) e TIROFIBANA (Aggrastat) interrompem a interação do fibrinogênio e do fator de von Willebrand com o complexo GPIIb/IIIa plaquetário Via do Ácido Araquidônico 19 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM SISTEMA FIBRINOLÍTICO: a lise dos Coágulos Sangüíneos Agentes Fibrinolíticos 20 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM 21 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM 5. DROGAS TROMBOLÍTICAS (Fibrinolíticas) Causam a lise dos coágulos formados nas artérias e veias e restabelecem a perfusão tecidual Mecanismo de ação: São ativadores do plasminogênio O agente ideal é aquele que pode ser adm. IV para produzir fibrinólise seletiva do coágulo sem ativar o plasminogênio plasmático Agentes de 1ª geração: não são seletivos do coágulo Agentes de 2ª geração: ligam-se a fibrina do coágulo e ativam mais a fibrinólise que a fibrinogenólise Agentes de 3ª geração: apresentam seletividade para a fibrina e propriedades farmacocinéticas superiores Agentes de 1ª geração: Estreptoquinase (Streptase, Kabikinase) Uma proteína não-enzimática produzida por estrecptococos βhemolíticos do grupo C de Lancefield: é um ativador de plasminogênio de ação indireta Adm. Sistêmica: pode produzir lise significativa de êmbolos pulmonares e venosos profundos agudos e trombos arteriais agudos Adm IV ou intracoronariana: efetiva para recanalização após Infarto do Miocárdio, bem como para aumentar a sobrevida a curto prazo Complicações do uso: hemorragia, febre e reações alérgicas ou anafiláticas Possui 2 Meias-vidas: 11 a 13 min (distribuição da droga e à inibição por anticorpos circulantes) e 23 a 29 min (perda da atividade enzimática) Uroquinase:não se liga avidamente à fibrina. Ativa diretamente o plasminogênio circulante e o ligado à fibrina Meia-vida: 10 a 20 min Deriva de células humanas. Não é antigênica. Uso: Embolia pulmonar recente 22 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM Agentes de 2ª e 3ª gerações: Principal ativador fisiológico do plasminogênio no sangue = “ativador de plasminogênio de tipo tecidual (t-PA, alteplase)” = obtida pela tecnologia do DNA recombinante Apresenta alta afinidade de ligação pela fibrina. Após adm. IV, produz uma ativação do plasminogênio seletiva para a fibrina O plasminogênio circulante também pode ser ativado em altas doses de t-PA ou tratamento prolongado É MAIS EFICAZ QUE A ESTREPTOQUINASE PARA A REPERFUSÃO CORONARIANA A retrombose com t-PA é maior, possivelmente devido à rápida depuração (meia-vida: 5 a 10 min.) Torna-se necessário a administração de várias doses Variantes do t-PA humano: RETEPLASE e TENECTEPLASE 6. DROGAS ANTIFIBRINOLÍTICAS Regulador 23 Prof.Hélder Mauad/EMESCAM & Tranexamic acid 24