Federação Nacional dos Professores www.fenprof.pt “A dimensão pública da Universidade, a sua responsabilidade social e o seu compromisso com o país” Intervindo na 3ª Conferência Nacional do Ensino Superior e da Investigação, realizada pela FENPROF, nos dias 4 e 5 de Novembro, o Professor António Nóvoa caracterizou como “tempo difícil” estes cinco anos em que tem trabalhado como Reitor da Universidade de Lisboa. Foi um tempo em que “o País se afastou das suas Universidades”, comentou o prestigiado académico, que desde logo alertou para as consequências das políticas que “retiram vitalidade e independência “às instituições do ensino superior. Ainda neste momento da sua intervenção, atentamente seguida pelos participantes na Conferência realizada auditório da Faculdade de Farmácia, António Nóvoa identificou “três fracturas” ocorridas nestes últimos cinco anos: 1ª – Entre a Universidade e a Ciência – uma “narrativa de divisão”. 2ª- Ao nível da governo das Universidades. A participação e a democracia foram vistas como empecilhos, numa aposta clara em “órgãos mais manejáveis”. “Pobre ideologia”, nas palavras do Reitor da UL. 3ª - A tendência privatizante das Universidades, recheada de “provincianos oportunismos”… Nóvoa criticou a ideologia economicista da chamada “3ª via”, com os seus reflexos na vida universitária e apontou como expressiva a designação do Ministério que no Reino Unido abarca as questões do ensino superior: Ministério dos Negócios da Inovação e das Competências. Aqui se tutela a aprendizagem ao longo da vida, a ciência, as universidades… Mais adiante, referindo-se às políticas de asfixia financeira das Universidades portuguesas, lembrou que entre 2006 e 2012 a Universidade de Lisboa, a preços constantes, perdeu 50 por cento das suas verbas. É “o empobrecimento da instituição e dos seus profissionais”, observou. Estratégias de controlo Criticou o “desinteresse dos governos pelas Universidades” e garantiu que não há estratégias de mudanças mas sim de controlo”. Noutra passagem, Nóvoa estranhou “a forma resignada como as comunidades universitárias viveram esta ofensiva”, lamentando ainda as fragilidades da “nossa cultura de liberdade” e o silencia da discussão das matérias que afectam o ensino superior no nosso país . Ao longo da sua intervenção, salientaria a importância da instituição universitária como espaço de liberdade. O Reitor referiu ainda que a conflitualidade passou do espaço da política para o interior das instituições e que as lógicas de intensificação do trabalho docente criam situações de mal estar, deixando um repto: “Como transformar esse malestar num debate público, político, sobre o futuro das Universidades?” Para António Nóvoa,” nem tudo são espinhos”. Afirmou que não tem saudades da Universidade do antigamente – nem da ditadura nem dos anos 80/90, que se abriu pouco à ciência, fechada e impedindo o acesso de muitos jovens. “Hoje temos instituições mais fortes”, sublinhou. Nóvoa valorizou, a propósito, a dinâmica das universidades como instituições que apostam na entrada de jovens, no desenvolvimento das suas capacidades e na prestação de contas à sociedade. “Falta-nos uma cultura académica mais forte”, sublinhou o Reitor da UL, que chamaria a atenção para uma preocupação que, aliás, tem manifestado em múltiplas ocasiões: “O futuro não passa por pequenas universidades mas sim por grandes universidades na sua massa crítica”. Há que “juntar a melhor ciência ao melhor ensino”. As universidades, referiu, “são instituições ligadas à sociedade e são da sociedade” e devem ter a capacidade de se abrir às novas gerações. Mostrou ainda sua mágoa pelas dificuldades impostas à contratação de jovens professores, de mérito, pelas universidades. São necessárias, frisou, novas formas de recrutamento de jovens docentes e de jovens investigadores. Trabalhando à altura das suas responsabilidades, as universidades devem recusar qualquer lógica de controlo, salientou António Nóvoa que, “por último e sempre”, destacou a dimensão pública da Universidade, a sua responsabilidade social e o seu compromisso com o país. O investigador terminou com duas interrogações, em jeito de desafio: Que Universidades queremos para o século XXI? Quem está disposto a bater-se por elas? / JPO