INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS Programa Integrado de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais Caracterização de locos microssatélites em duas espécies de abelhas da região amazônica: Melipona compressipes e Melipona seminigra (Hymenoptera: Apidae: Meliponina). Maria de Fátima Ferreira da Costa Pinto Manaus, Amazonas Junho, 2007 ii Maria de Fátima Ferreira da Costa Pinto Caracterização de locos microssatélites em duas de abelhas espécies da região amazônica: Melipona compressipes e Melipona seminigra (Hymenoptera: Apidae: Meliponina). Gislene Almeida Carvalho-Zilse Dissertação apresentada ao PIPG-BTRN como parte dos requisitos para obtenção do titulo de Mestre em Ciências Biológicas com ênfase em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva. Manaus, Amazonas Junho, 2007 iii iv Dedicatória Dedico este trabalho, A Deus; Aos meus pais, Nelson e Vera; Aos meus Irmãos, Nelson e Roberto; E a todos que me incentivaram a alcançar meus objetivos. v Agradecimentos A Deus, pelo dom da vida e por ter permitido que tudo pudesse se realizar conforme a sua vontade, sempre me iluminando e abençoando. Aos meus pais, que com seu amor e carinho, me deram força e incentivo para continuar realizando meus sonhos. À minha grande orientadora Gislene Carvalho-Zilse pelos ensinamentos, pela amizade, confiança e incentivo para continuar minha vida acadêmica. Aos amigos Hélio Vilas-Boas e Klilton Barbosa, pelos ensinamentos, pela amizade, companheirismo, pelas brincadeiras, por contribuírem para o desenvolvimento do trabalho, em especial na coleta dos espécimes e fotos cedidas e por todos os bons momentos que tivemos juntos. Ao meu grande amigo Márcio, pelo carinho, dedicação, zelo, pelas boas comidas, boas conversas, por ser meu grande irmão. Ao Luciano, que desde o início do mestrado foi meu amigo, confidente, conselheiro. Agradeço pela força, incentivo, carinho, paciência, pelo amor e por todos os inesquecíveis momentos que passamos juntos. Ao Carlos Schneider, pela amizade, cooperação, companheirismo, troca de informações e brincadeiras no laboratório. Às amigas Naiara, Gisele e Rosa, por contribuírem para o desenvolvimento do meu trabalho, pelas boas risadas no laboratório e pela amizade. Ao Laboratório Temático de Biologia Molecular, em especial a Jaqueline Batista e Kyara Formiga, por conceder apoio logístico e reagentes para a realização deste trabalho. Ao Professor Spartaco Astolfi Filho, por contribuir com este trabalho, emprestando a cuba de eletroforese vertical. Aos amigos Raimundo, Áureo, Stella e Tatiana pelos bons momentos, carinho e amizade durante esses dois anos. A Luzia e Terezinha, pelo cafezinho toda manhã, amizade e brincadeiras no laboratório. Ao Nelson Zilse, pela ajuda com fotos e computadores. Ao Jonilson, Jamil, Adilson, Francisco por contribuírem com meu trabalho, em especial nas coletas dos espécimes. vi Aos meliponicultores Valtino, Adilson, Francisco, Candango, João Bentes, Paulo, Lobato, Itamar, Neuzilena, Paulinho, por cederem amostras de abelhas para realização do trabalho. Aos professores Vera Scarpassa, Joselita Santos, Alexander Sibayev, Ana Waldschmidt e Tomas Hrbek pelas correções e sugestões feitas em meu plano de trabalho. Aos membros da banca julgadora do trabalho Drs. Ana Bonetti, Charles Roland Clement, Maria Cristina Arias, Marco Antonio Del Lama e Lúcio Antonio de Oliveira Campos. Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em especial ao Programa de Genética, Conservação e Biologia Evolutiva, pelo apoio logístico e financeiro e pela oportunidade de estudar, trabalhar e contribuir para a conservação desta magnífica floresta. Às agencias financiadoras FAPEAM, CNPq (bolsa de mestrado), SUFRAMA, ProVárzea, INPA-LTBM e Acelera Amazônia pelo auxílio financeiro dos projetos que deram suporte à realização deste trabalho. A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho. vii Resumo As abelhas sem ferrão, além de serem as principais responsáveis pela polinização da flora nativa, têm uma grande importância como fonte de renda para muitas famílias ribeirinhas do Amazonas. A exploração extrativista das abelhas jupará (Melipona compressipes) e jandaíra (M. seminigra) no estado vêm se desenvolvendo há décadas sem nenhum plano de manejo e conservação para populações naturais ou de cativeiro. A necessidade de conservação, manejo e recuperação de populações degradadas requer uma abordagem que envolva não somente aspectos demográficos e ecológicos, mas também a genética de populações. O enfoque genético, pela caracterização da estrutura genética e do tamanho efetivo, em populações com diferentes níveis de intervenção antrópica, constitui uma ferramenta adequada para ser utilizada neste tipo de estudo. Visando traçar planos de conservação e desenvolvimento sustentável, este trabalho objetivou caracterizar locos microssatélites em M. compressipes e M. seminigra, analisar a distribuição e as freqüências alélicas destes locos para ambas as espécies e comparar a variabilidade genética entre colméias naturais e manejadas em diferentes localidades dos municípios do Amazonas. Para caracterização dos locos, foram amostradas 13 colméias (5 operárias/colméia) de M. compressipes nos municípios de Jutaí, Manaus, Urucará e Parintins; e 18 colméias (5 operárias/colméia) de M. seminigra nos municípios de Alvarães, Manaus, Cacau Pirera, Careiro Castanho e Urucará. Para comparação entre colméias naturais e manejadas, foram amostradas 54 colméias (27 naturais e 27 manejadas) de M. compressipes (2 indivíduos/colméia) e 18 (10 manejadas e 8 naturais) de M. seminigra (5 indivíduos/colônia). Utilizando primers microssatélites heterólogos desenvolvidos para M. bicolor, foram amplificados cinco locos em M. compressipes, e quatro em M. seminigra. M. compressipes apresentou um total de 20 alelos diferentes, variando entre três a sete alelos/loco enquanto M. seminigra teve 19 alelos variando entre quatro a seis alelos/loco. As freqüências e distribuição dos alelos variaram tanto em nível inter quanto intracolonial para ambas as espécies, com M. compressipes apresentando maiores índices de heterozigosidade observada que M. seminigra. Percebeu-se uma clara hierarquia de variação genética: entre localidades, dentro da localidade e dentro da colméia. Ou seja, as colméias amostradas em uma mesma localidade apresentaram menor diversidade de alelos que colméias amostradas em diferentes localidades. A curta distância de dispersão e a presença de alelos exclusivos nas diferentes localidades, indicando um fluxo gênico restrito, sugerem que esteja ocorrendo uma estruturação genética em ambas as espécies no estado do Amazonas. M. compressipes apresentou um maior diversidade genética nas colméias manejadas que nas colméias naturais, o que pode ser reflexo de uma manipulação mais intensa das colméias por conta da troca de caixas e rainhas entre os meliponicultores no estado do Amazonas, aumentando a probabilidade de recombinações genotípicas e a heterozigosidade nas diferentes colméias. Em M. seminigra, ambos os tipos de colméias apresentaram índices de diversidade genética similares, indicando que a meliponicultura ainda tem pouca influencia na genética desta espécie no Amazonas. Considera-se, no entanto, que a exploração de seus recursos e as ações antrópicas (desmatamento, queimadas, dentre outras) ainda têm pouca influencia sobre as colméias de meliponíneos analisadas apesar de algumas colméias de M. seminigra apresentarem deficiência de heterozigotos que pode ser reflexo do pequeno número de amostras ou da presença de alelos nulos. viii Abstract Stingless bees, besides be main pollinators of the forest, have a great importance as source of income for many families in the Amazon. The exploration of stingless bees jupará (Melipona compressipes) and jandaíra (M. seminigra) comes developing without plan of handling and conservation for the species for decades. The necessity of conservation, handling and recovery of degraded populations requires a boarding that not only involves demographic and ecological aspects, but also the genetics populations. The genetic approach, through the characterization of the genetic structure in populations with different levels of intervention, constitutes a tool to be used in this type of study. To make a characterization of microsatellites loci and view allelic distribution and frequency of M. compressipes and M. seminigra in Amazon, we collect workers 13 colonies (5 workers/colony) of M. compressipes in Jutaí, Manaus, Urucará e Parintins; and 18 colonies (5 workers/colony) of M. seminigra in Alvarães, Manaus, Cacau Pirera, Careiro Castanho e Urucará. To compare the genetic divergence in natural and manipulated colonies, we collect 54 (27 naturals e 27 manipulated) of M. compressipes (2 workers/colony) and 18 (10 naturals e 8 manipulated) of M. seminigra (5 workers/colony). Using heterospecific primers originally designed for Melipona bicolor, five loci had been amplified in M. compressipes and four in M. seminigra. M. compressipes present 20 different alleles (3 to 7 alleles/locus) and M. seminigra had 19 alleles ( 4 to 6 alleles/locus). The frequencies and allele distribution varied among and within localities in both species, with M. compressipes presenting higher observed heterozygosity that M. seminigra. Both the species had presented greater intralocality genetic difference that interlocality. Short dispersion distance and the presence of exclusive alleles in the different localities, shows a restricted gene flow, suggest that a genetic structuration can being occur in the Amazonas. M. compressipes presented greater genetic variability in manipulated that natural colonies. It can be reflect of exchange of genetic material (colonies) among beekeepers. However, in M. seminigra both the types of beehives had presented similar genetic diversity, indicating that the meliponiculture still has little influences in the genetics of this species. We considered that resources exploration and antropic actions still have little influence on the analyzed species, although some beehives of M. seminigra to present heterozygous deficiency that can be reflected of the small number of samples or the presence of null alleles. ix Sumário Dedicatória ________________________________________________________ iv Agradecimentos _____________________________________________________ v Resumo __________________________________________________________ vii Abstract _________________________________________________________ viii Sumário __________________________________________________________ ix Lista de Tabelas _____________________________________________________ x Lista de Figuras ____________________________________________________ xi 1. Introdução______________________________________________________ 12 1.1 Caracterização das espécies ______________________________________ 14 14 1.1.2 Melipona seminigra ______________________________________________________ 16 1.1.1 Melipona compressipes __________________________________________________ 1.2 Marcadores moleculares__________________________________________ 18 1.2.1 Microssatélites _______________________________________________ 18 1.2.2 Estudos com microssatélites em abelhas ______________________________ 20 1.3 Estudos genético-populacionais e a conservação dos meliponíneos na Amazônia _ 22 2. Objetivo _______________________________________________________ 24 2.1 Objetivo geral _________________________________________________ 24 2.2 Objetivos específicos ____________________________________________ 24 3. Material e métodos _______________________________________________ 25 3.1 Coleta do material biológico ____________________________________________ 25 3.2 Extração de DNA _______________________________________________ 28 3.3 Amplificação dos locos microssatélites________________________________ 28 3.4 Análise de polimorfismo de DNA em regiões microssatélites ________________ 30 4. Resultados e discussão ___________________________________________ 31 4.1 Melipona compressipes __________________________________________ 36 4.2 Melipona seminigra _____________________________________________ 41 4.3 Comparação entre as espécies _____________________________________ 46 5. Conclusões _____________________________________________________ 49 6. Referências Bibliográficas _________________________________________ 50 7. Anexos ________________________________________________________ 59 Anexo A – Distancias geográficas entre localidades amostradas ________________ 59 Anexo B – Coordenadas geográficas das localidades amostradas _______________ 62 x Lista de Tabelas Tabela 1. Localização dos pontos de coleta dos espécimes de Melipona compressipes e Melipona seminigra, o tipo de colméia e a quantidade de ninhos amostrados para caracterização de locos microssatélites. 27 Tabela 2. Origem e seqüência dos primers testados para amplificação em Melipona compressipes e Melipona seminigra. 29 Tabela 3 - Concentrações dos reagentes da PCR para amplificação de locos microssatélites em Melipona compressipes e Melipona seminigra. 32 Tabela 4 - Temperaturas ótimas de anelamento dos primers heterólogos na amplificação de DNA de Melipona compressipes e Melipona seminigra. 33 Tabela 5 - Número (N) e tamanho dos alelos em pares de bases (A) amplificados em Melipona compressipes e M. seminigra e suas respectivas heterozigosidades observadas (Ho) por loco comparadas a M. bicolor (espécie de origem dos primers). 35 Tabela 6 - Tamanho de alelos em pares de bases (A) e freqüências alélicas (Fa) nos locos analisados em todas as colméias de Melipona compressipes no estado do Amazonas. 37 Tabela 7 - Heterozigosidade observada por loco microssatélite em Melipona compressipes em cada localidade analisada no estado do Amazonas. 38 Tabela 8 - Diversidade genética (valores médios), baseada no número de diferentes alelo/loco e número de locos polomórficos microssatélites encontrados nas localidades amostradas de Melipona compressipes (Mc) e Melipona seminigra (Ms) no estado do Amazonas. 40 Tabela 9 – Tamanho de alelos em pares de base (A) e freqüências alélicas (Fa) nos locos analisados em todas as colméias de Melipona seminigra no estado do Amazonas. 43 Tabela 10 - Heterozigosidade observada por loco microssatélite em Melipona seminigra nas localidades amostradas. 44 Tabela 11 - Heterozigosidade observada (Ho) e número de alelos (N) em diferentes espécies de abelhas sem ferrão utilizando os mesmos primers desenvolvidos para Melipona bicolor. 45 Tabela 12 - Distância geográficas (em Kilômetros) entre os pontos de coleta de amostras das populações de Melipona compressipes no estado do Amazonas. Tabela 13 - Distâncias geográficas (em Kilometros) entre os pontos de coleta de amostras das populações de Melipona seminigra nas localdiades do estado do Amazonas. 59 60 xi Lista de Figuras Figura 1. Ninho de Melipona compressipes alojado em caixa de madeira. 15 Figura 2. Entrada característica do ninho de Melipona compressipes, com operárias guardas. 15 Figura 3. Entrada característica do ninho de Melipona seminigra em caixa de criação racional, com operárias guardas. 17 Figura 4. Vista interna de colméia de Melipona seminigra alojada em caixa de criação racional. 17 Figura 5. Localização geográfica dos Municípios do Amazonas onde foram coletadas as amostras de Melipona compressipes (1, 3, 6, 7) e Melipona seminigra (2, 3, 4, 5, 6). 1 – Jutaí, 2 - Alvarães, 3 - Manaus, 4 Cacau Pirera, 5 - Careiro Castanho, 6 - Urucará, 7- Parintins. 25 Figura 6. Perfil de amplificação em gel de agarose 2% do loco Mbi 13 em Melipona compressipes. M – Marcador de peso molecular de 100 pb; 1 a 8 – amostras de colméias de Candango (Parintins-AM). 32 Figura 7. Gel de poliacrilamida 10% indicando padrão de bandas (alelos) dos produtos da PCR do loco Mbi 36 para Melipona compressipes. M – marcador de 10pb. 1 a 10: amostras de colméias de Lobato (UrucaráAM). Figura 8. Gel de poliacrilamida 10% mostrando polimorfismo intra e intercolonial a partir da amplificação do loco Mbi 13 em Melipona compressipes. 1 a 4: Candango (Parintins); 5 a 9: Bentes (Parintins); 10 a 14: Resex (Jutaí); 15 a 19: Klilton (Manaus). M – marcador de 10pb. Figura 9. Gel de poliacrilamida 10% evidenciando o monomorfismo do loco Mbi 28 , em Melipona compressipes. M - marcador de 10pb. 1 a 7: amostras Klilton (Manaus). Figura 10. Localidades amostradas para Melipona compressipes no Município de Jutaí, no estado do Amazonas. Figura 11. Localdiades amostradas para Melipona compressipes (Mc) e Melipona seminigra (Ms) nos Municípios de Manaus (pontos 1 a 4) e Cacau Pirera (ponto 5) no estado do Amazonas. 33 38 39 62 63 Figura 12.Localidades amostradas para Melipona seminigra no Município de Careiro Castanho. 64 Figura 13. Localidades amostradas para Melipona compressipes e Melipona seminigra no Município de Urucará. 65 Figura 14. Localidades amostradas para M. compressipes no Município de Parintins. 66 12 1. Introdução Há diversas razões para estudar e criar abelhas sem ferrão: são as principais responsáveis pela polinização da flora nativa, conforme o ecossistema; das 300 espécies de meliponíneos, mais de 100 estão em perigo de extinção (Kerr, 2002b); auxiliam diretamente nos programas de reflorestamento e de melhoria do pasto apícola; contribuem para melhores rendimentos da fruta e de semente (ImperatrizFonseca et al., 2006); representam uma importante fonte de renda para o produtor de pequeno porte, não só com a venda do mel, mas também com a reprodução e venda de colméias (Carvalho et al., 2003) e podem ser utilizadas em programas de educação ambiental (Kerr et al., 1996). Com uma flora rica em espécies fornecedoras de néctar, pólen e resina e com boa florada distribuída ao longo de quase todo o ano, a Amazônia é considerada a área de maior potencial do planeta para a produção de mel, pólen e criação de meliponíneos (Oliveira e Kerr, 2000). Nesta região, há um grande número de espécies nativas de abelhas sem ferrão, que podem ser manejadas racionalmente, contribuindo para o emprego de mão de obra familiar, uma vez que seus produtos têm crescente espaço no mercado interno e externo. Sendo as abelhas sem ferrão constituintes essenciais na manutenção da biodiversidade da floresta tropical da Amazônia como agentes polinizadores, há uma grande necessidade de implementação de projetos que visem a conservação dessas espécies em seu habitat natural (Imperatriz-Fonseca et al., 2005). As abelhas, assim como formigas e vespas, que pertencem à ordem Hymenoptera, apresentam diversidade genética menor do que a maioria dos outros insetos por serem organismos haplodiplóides (Graur, 1985; Pamilo e Crozier, 1981; Pamilo et al., 1978; Shoemaker et al., 1992), onde os machos desenvolvem-se a partir de ovos não fertilizados (indivíduos haplóides) e as fêmeas desenvolvem-se a partir de ovos fertilizados (indivíduos diplóides). Os alelos em genomas haplóides estão sujeitos a um maior nível de seleção, similar àqueles ligados aos alelos do cromossomo X em outros organismos diplóides. O pequeno tamanho efetivo da população resultante da haplodiploidia pode, também, conduzir à baixa variação genética (Carvalho, 2001). Lu e Rank (1996) consideram que a estabilidade ambiental conferida pelo microhabitat do ninho também pode ser a causa da baixa variabilidade genética. Essa menor diversidade pode ter implicações na conservação 13 biológica, pois torna estes organismos mais sensíveis a perturbações ambientais (Lasalle e Gauld, 1993). Outro grande problema enfrentado por esses insetos é o desmatamento. Embora a destruição de “habitats” ocorra em nível global, ambientes tropicais estão sendo, particularmente, devastados devido à expansão da agropecuária, exploração de madeira e as queimadas que ocasionam uma redução na disponibilidade de alimento e de local para nidificação, além da destruição direta dos ninhos. Erwin (1998) estimou que a Terra perde uma área de floresta tropical úmida do tamanho de Honduras todo ano. Entretanto, preservar remanescentes de “habitats” (em parques e reservas) não implica que todas as espécies nativas sobreviverão, já que a redução de 90% de um “habitat” poderá significar perda, em média, de 50% das espécies que nele habitam (Lasalle e Gauld, 1993). No Brasil, grande número de representantes de abelhas pertence à família Apidae, subfamília Apinae, tribo Apini cuja subtribo Meliponina, com 192 espécies de abelhas, apresenta com grande variação na preferência floral entre as espécies, sendo essenciais para a manutenção da flora original (Silveira et al., 2002). De 30% das espécies vegetais da caatinga e pantanal, até 90% em algumas manchas da Mata Atlântica (Serra do Mar no Espírito Santo) e algumas partes da Amazônia, necessitam dos meliponíneos para a polinização e frutificação (Kerr, 1997). As abelhas dessa subtribo, denominadas vulgarmente meliponíneos, se diferenciam das outras por características particulares como: atrofia de ferrão, redução e fragilidade de venação e pela ausência de pêlos nos olhos, com exceção da Trichotrigona extranea (Moure; 1961; Michener, 1990). Os meliponíneos possuem distribuição Pantropical, com maior diversidade de formas nas regiões Neotropical (principalmente na região da bacia Amazônica) e Indo-Malaia (Michener, 1990; Camargo e Pedro, 1992). O conhecimento e exploração dos produtos das abelhas sem ferrão são muito antigos, tendo registros dessa prática desde os Maias. No Brasil, a prática começou com os índios e, mais tarde, com os caboclos do nordeste brasileiro, sendo este, o berço das duas espécies de meliponíneos primeiramente cultivadas no país: Melipona compressipes fasciculata Smith, 1854 e Melipona scutellaris Latreille, 1811 (Kerr, 1996). Dentre os meliponíneos, podemos destacar as abelhas do gênero Melipona, que sendo abelhas sociais, têm divisão de tarefas bem definida. A rainha fecundada: 14 responsável pela postura dos ovos; as operárias: realizam a maioria dos trabalhos dentro de uma colônia, desde a limpeza, ventilação, cuidado com as cria, defesa, forrageamento, desidratação de néctar e, eventualmente, postura de óvulos que originarão machos; e os machos: fecundam a rainha e realizam pequenas tarefas em algumas espécies (Bustamante, 2006). Assim como a maioria dos meliponíneos, as espécies do gênero Melipona fazem seus ninhos, principalmente, em ocos de árvores velhas, podendo também nidificar em cipós, bambus, ninhos de aves e formigas e no solo. Cada colônia é composta de um conjunto de favos de cria dispostos em placas horizontais, separados por pilastras de cera e protegidos por um invólucro. Os alimentos (pólen e mel) são armazenados em potes de cera e as margens superior e inferior do ninho são delimitadas com batume (barro e resina) (Kerr, 1996). Duas espécies de meliponíneos, Melipona compressipes e Melipona seminigra, se destacam na Amazônia Central por terem grande importância ecológica como polinizadoras e dispersoras de sementes (Bacelar-Lima et al., 2006), terem seus produtos (mel e pólen) utilizados na alimentação e na medicina popular e ainda serem vendidos para complementação da renda familiar (Carvalho-Zilse, 2006). Estas espécies vêm sendo criadas em cativeiro dentro de caixas de madeira com dimensões específicas e técnicas adequadas. Esta atividade foi denominada meliponicultura por Paulo Nogueira Neto em 1953, para diferenciar a criação racional de abelhas sem ferrão do manejo extrativista e artesanal (Nogueira-Neto, 1997). 1.1 Caracterização das espécies 1.1.1 Melipona compressipes A espécie Melipona compressipes se destaca por ter sido, juntamente com a Melipona scutellaris, a primeira a ser criada para produção de mel no Brasil. Esta espécie tem uma ampla distribuição geográfica, ocorrendo desde o Panamá até o estado do Maranhão (Kerr, 1996). Na Amazônia, M. compressipes é conhecida popularmente como jupará ou jandaíra preta da Amazônia, podendo ser encontrada desde Manaus, subindo o rio Branco até a Guiana Inglesa (Peralta et al., 1999). A 15 colônia dessa espécie é constituída, em média, por 5000 operárias, 250 machos e uma rainha (Figura 1). As operárias medem cerca de 1,3 cm e são pouco defensivas. A entrada do ninho desta espécie é feita de resina misturada com barro endurecido de cor esbranquiçada (Kerr, 2002a) (Figura 2). Carvalho-Zilse (2006) estima uma produtividade de 1 litro/colméia/ano em colméias racionais de M. Foto de Nelson Zilse. compressipes na região da Amazônia central. Foto de Hélio C. Vilas Figura 1. Ninho de Melipona compressipes alojado em caixa de madeira. Figura 2. Entrada característica do ninho de Melipona compressipes, com operárias guardas. 16 Dentre as flores que geralmente atraem as campeiras de M. compressipes, destacam-se as Myrtaceae (maçãs, Pitanga, Goiaba), Arecaceae (côco), Anacardiaceae (Tapirira), Caesalpiniaceae (Chuva de ouro), Euphorbiaceae (Mabea sp.), Dilleniaceae (Doliocarpus sp.), Cochlospermaceae (Cochlorpermum sp.), Fabaceae (Jacarandá), Lamiaceae (Hyptes sp.), Lythraceae (Murici), Melastomataceae (Miconia myrianthera, Bellucoa grossularicides), Mimosaceae (Ingá), Solanaceae (Solanum caavurana, S. juripeba), Cassia sp., Genipa americana, Morus sp., Tapirira guianensis, Zanthoxylum sp., Thysodium sp., Stryphnodendron guianense, Psidium sp., Spondias mombin (Marques-Souza, 1996; Marques-Souza et al., 2002). 1.1.2 Melipona seminigra No Estado do Amazonas, a M. seminigra Cockerell, 1919 pode ser encontrada desde Paricatuba (no baixo Purus), ao oeste até a região dos rios Camanaú e Curiaú; na região de Manaus; e ao norte ao longo do rio Negro – porém os limites não são conhecidos (Peralta et al., 1999). Esta espécie faz a entrada do seu ninho em forma de trombeta radiada e curta, dando uma característica bem peculiar à espécie, sendo conhecida popularmente como uruçú-boca-de-renda ou jandaíra (Portugal-Araújo, 1978; Peralta et al., 1999) (Figuras 3 e 4). O número de indivíduos presentes na colônia é de, aproximadamente, 1300 indivíduos adultos, são pouco agressivas, produzem mel de ótima qualidade e podem produzir até 3 litros mel/colméia/ano (Portugal-Araújo, 1978; Carvalho-Zilse, 2006). Estudos apontam a M. seminigra como potencial polinizadora de várias espécies vegetais, tais como tarumã (Vitex cymosa - Verbenaceae), Mouriria ulei (Melastomataceae), Aparisthmium cordatum, Bellucia grossularioides, Cassia grandis, Cecropia sp., Leucaena sp., Matayba sp., Miconia myrianthera, Myrcia amazonica, Tapirira guianensis, Stryphnodendron guianensei, dentre outras (Portugal-Araújo, 1978; Marques-Souza et al., 2002). Foto de Hélio C. Vilas Foto de Nelson Zilse. Foto de Hélio C. Vilas 17 Foto de Victor Paolineli. Paolineti Figura 3. Entrada característica do ninho de Melipona seminigra em caixa de criação racional, com operárias guardas. Figura 4. Vista interna de colméia de Melipona seminigra alojada em caixa de criação racional. Por ser uma espécie muito produtiva, é muito procurada por meleiros (extrativistas) e pode ser eliminada rapidamente de nossa floresta. Segundo Kerr (2002a), esta espécie é classificada como presumivelmente ameaçada de extinção, merecendo atenção conservacionista, sendo a criação em cativeiro uma boa estratégia para sua preservação. 18 1.2 Marcadores moleculares Aspectos biológicos e morfológicos de muitas espécies de abelhas sociais são conhecidos, entretanto, estudos sobre a organização de seu genoma foram iniciados recentemente. Estudos filogenéticos, evolutivos e ecológicos, assim como a citogenética, a bioquímica, a morfologia e, mais recentemente, a análise de DNA constituem ferramentas de grande importância para o conhecimento biológico e populacional das espécies (Waldschmidt, 1999). Segundo Avise (1994) e Silva e Russo (2000), marcadores moleculares são locos gênicos que apresentam variabilidade e podem ser utilizados para detectar diferenças entre dois ou mais indivíduos, duas ou mais populações. Eles apresentam altos níveis de polimorfismo, geralmente são marcadores neutros em relação a efeitos fenotípicos e, na maioria das vezes, são co-dominantes, contendo maior quantidade de informação genética por loco (Ferreira e Grattapaglia, 1998). Entre os diversos marcadores genéticos existentes, os marcadores microssatélites vêm sendo apontados como a classe de marcadores mais informativa em estimativas de parâmetros genético-populacionais (Gao et al., 2002; Conte, 2004). 1.2.1 Microssatélites Os SSR (Simple Sequence Repeats), como também são conhecidos os microssatélites, foram descobertos na década de 80 no genoma de eucariotos e, mais recentemente, em genomas de procariotos, embora com menor freqüência. São regiões constituídas por pequenas seqüências com 1 a 6 nucleotídeos de comprimento repetidas consecutivamente (in tandem), raramente excedem 200 pares de base no comprimento total, estão distribuídas ao acaso no genoma e possuem expressão co-dominante, isto é, ambos os alelos de um indivíduo heterozigoto são visualizados em geral, apresentando níveis mais altos de heterozigosidade que outros marcadores moleculares (Li et al., 2004). Os SSRs são marcadores multialélicos, onde cada loco apresenta muitos alelos, sendo considerados a classe mais polimórfica de marcadores moleculares 19 disponíveis hoje. Isso porque a taxa de mutação é mais freqüente em regiões de DNA repetitivo do que em outras regiões, sendo, também, mais alta quando comparada com a taxa de mutação pontual estimada em 10-9 a 10-10 (Goldstein e Schlötterer, 1999). Tanto a taxa de mutação de SSR como o padrão de distribuição deles diferem entre as espécies. Em Escherichia coli estima-se que a taxa de mutação de microssatélites esteja em torno de 10-2 eventos/loco/replicação (Levinson e Gutman, 1987), em leveduras essa taxa está entre 10-4 e 10-5 (Henderson e Petes, 1992), em humanos, foi sugerida como 10-3 eventos/loco/geração (Weber e Wong, 1993) e em Drosophila, este valor é relativamente baixo (se comparado com outras espécies), sendo 6x10-6 (Schung et al., 1997). Existem três hipóteses para explicar essa característica de muitos locos com grande quantidade de alelos: 1. Elementos de transposição - que são seqüências repetitivas dispersas no genoma cuja função é fazer cópias de si e reinseri-las no genoma em posições aleatórias, como por exemplo, em uma região adjacente a ele no genoma, formando um novo alelo com quantidade de repetições diferente (Nadir et al., 1996); 2. Crossing-over desigual - no qual ocorre erro no emparelhamento entre cromossomos homólogos causado pela grande quantidade de repetições, cujas cromátides erradamente emparelhadas causarão alterações no número de repetições de microssatélites em cada cromossomo. Essa hipótese justifica variações muito grandes no tamanho dos microssatélites (Smith, 1976); 3. Slipped strand mispairing – um erro de pareamento causando um “escorregão” da DNA polimerase da fita molde durante a replicação, que acaba por deixar de incorporar “repeats” ou adicionar novos “repeats”, formando uma nova fita de DNA com quantidade de repetições diferente da fita molde. Essa hipótese é a mais aceita pelo fato de explicar o surgimento de variações pequenas no número de repetições entre os diferentes alelos dentro do loco, o que é mais encontrado em regiões microssatélites (Streisinger et al., 1966; Oliveira et al., 2006). Os marcadores microssatélites apresentam vantagens tais como possuir o mais elevado conteúdo de informação de polimorfismo, podendo ser utilizados para estudos de ligação e mapeamento genético em toda e qualquer população segregante; ser abundante e encontrado aleatoriamente, o que permite a mais completa cobertura do genoma em eucariotos; permite a transferibilidade de primers heteroespecíficos para amplificação de regiões SSR em espécies do mesmo gênero 20 ou de gêneros diferentes, uma vez que foi observada a conservação de sítios de microssatélites entre espécies relacionadas (Ferreira e Grattapaglia, 1998). 1.2.2 Estudos com microssatélites em abelhas Assim como em muitos organismos, microssatélites vem se mostrando ótimos marcadores em estudos genéticos de populações de insetos como abelhas, mosquitos, borboletas (Loxdale e Lushai, 1998). Vários marcadores microssatélites foram desenvolvidos para este grupo, o que tem permitido a realização de estudos de estrutura de populações, diversidade genética, teste de paternidade. Os estudos genéticos em abelhas com marcadores microssatélites foram iniciados com Estoup et al. (1993, 1995a 1995b) que desenvolveram vários primers microssatélites para Apis mellifera e mamangava (Bombus terrestris). Nestes estudos, os resultados apontaram os microssatélites dinucleotídeos (CT)n como os mais comuns no grupo das abelhas, diferentemente dos dípteros que apresentam o dinucleotídeo (GT)n como motifs mais comuns no grupo (Estoup et al., 1993; Bonizzoni et al., 2000). Em 1997, mais 18 primers microssatélites foram desenvolvidos para Apis mellifera, dos quais sete se mostraram polimórficos (Rowe et al.,1997). O gênero Apis tem sido bastante estudado por meio desses marcadores. Estoup et al. (1995b) encontram de 7 a 30 alelos em 12 locos SSR, analisando 9 populações (um indivíduo por colônia) com sete subespécies diferentes. Neste estudo, os autores observaram que as populações de abelhas africanas apresentaram mais heterozigotos que as européias e sugeriam ausência de ligação física entre os locos analisados. De la Rúa et al. (2004) analisando 48 colônias (1 indivíduo / colônia) de Apis mellifera iberica em 24 localidades, observaram alta diversidade genética e desequilíbrio de Hardy-Weinberg (H-WE) nos seis locos SSR analisados e uma grande afinidade genética entre as colônias provenientes do Norte e Oeste da África. Os autores atribuíram tais resultados à forte manipulação dessas abelhas por parte dos apicultores, com multiplicações sucessivas e introdução de rainhas e machos em colônias recém formadas. 21 Em Apis dorsata foi encontrada alta diferenciação genética entre as diferentes regiões da Tailândia (região norte-centro, Tailândia peninsular e Ilha Samui) e altos níveis de diversidade molecular para esta espécie nesta região (Ho= 0,68 – 0,74), baseado em 3 locos SSR comparando 154 colônias (1 indivíduo / colônia) (Insuan et al., 2007). Os primeiros 25 primers microssatélites específicos para o gênero Melipona foram desenhados por Peters et al. (1998) para a espécie M. bicolor. Destes, 18 locos se mostraram polimórficos para esta espécie. Utilizando esses primers, Paxton et al. (1999) derrubaram a teoria de monandria no grupo dos meliponíneos. A análise de sete locos microssatélites, evidenciaram freqüências de acasalamento com um a três machos para Melipona beecheii e de um a seis machos para Scaptotrigona postica, demonstrando poliandria no grupo dos meliponíneos. Soares (2001), analisando 7 locos, corroborou a poliandria também em M. scutellaris, evidenciando que mais de um macho se acasala com a rainha nesta espécie. Carvalho-Zilse e Kerr (2006) otimizaram a amplificação em M. scutellaris de 10 locos microssatélites desenvolvidos para M. bicolor, sendo sete usados para a análise genética. A partir deles foi observada uma boa frequência de heterozigotos, refletindo o comportamento de migração a curtas distâncias nesta espécie. Francisco (2002), a partir de sete locos polimorficos para M. bicolor e S. postica analisou 72 colônias (1 individuo / colônia), identificando uma moderada estruturação genética em Plebeia remota (Fst=0,239) entre as populações de Cunha (SP) e Prudentópolis (PR), sugerindo unidades evolutivas independentes. Shao et al. (2004), analisando populações de Bombus ignitus provenientes da China, Coréia do Sul e Japão, por meio de microssatélites, encontraram uma variação intrapopulacional muito maior que entre as populações, mostrando homogeneização gênica entre as diferentes populações, talvez pela alta capacidade de migração desta espécie a longas distâncias. Brito (2005), analisando 58 indivíduos (1 individuo / colônia) com nove locos microssatélites, revelou baixa variabilidade genética e uma moderada estruturação populacional em Partamona helleri e em P. mulata não relacionado com distribuição geográfica. A autora sugere que estes resultados sejam conseqüência da migração de machos entre populações, ou por isolamento recente das populações pela fragmentação de habitat devido a rápida degradação do cerrado e Mata Atlântica, ou 22 por alelos nulos causados pelo uso de primers heteroespecíficos. Neste mesmo estudo, Brito sugeriu monandria em P. mulata e poliandria em P. helleri. 1.3 Estudos genético-populacionais e a conservação dos meliponíneos na Amazônia Tanto o extrativismo indiscriminado em colméias de meliponíneos praticado há muitos anos por toda a Amazônia, como o desmatamento, a destruição de locais de nidificação, a ação dos meleiros que apenas retiram o mel e jogam fora o resto da colméia e o uso de inseticida em áreas agrícolas próximas à floresta vem fazendo com que haja diminuição no número de populações de abelhas sem ferrão na região (Kerr et al., 2001). Brown e Albrecht (2001), fizeram um estudo em Rondônia (no Sudeste da bacia Amazônica) para saber se o desmatamento afeta a incidência de melíponas na floresta Amazônica. Estudando sete espécies de melíponas, os autores revelaram que a riqueza e a abundância dos meliponíneos está diretamente relacionada com a área de cobertura vegetal e inversamente proporcional ao tamanho da área desmatada. O pequeno número de colméias nas florestas e em meliponários contribuem significativamente para a extinção de populações de abelhas, uma vez que as rainhas de meliponíneos se acasalam com um ou poucos machos e têm seu sistema complementar de determinação sexual baseado no gene csd (Complementary Sex Determiner). Quando, na população, decresce o número de alelos, há excesso de nascimento de machos que são homozigotos para este loco, os quais são estéreis e são eliminados pelas operárias que, também, podem matar a rainha fecundada, levando a colônia à morte. Esse fato evidencia a necessidade da manutenção de uma quantidade mínima de 44 colméias em populações naturais e em meliponários, assim como a introdução de rainhas inseminadas em colméias órfãs para que possa ser mantida a variabilidade genética dos alelos do gene csd nas populações e evitar o nascimento dos machos diplóides (Kerr e Vencovisky, 1982; Carvalho, 2001). Essa característica peculiar dos meliponíneos, aliada às ações antrópicas causam alterações das freqüências alélicas e da variabilidade genética dentro e entre populações, conseqüentemente, afetando a estrutura das populações, o que 23 pode levar ao desaparecimento destas espécies em poucas gerações (Carvalho, 2001). A necessidade de conservação, manejo e recuperação de populações degradadas requerem uma abordagem que envolva não somente aspectos demográficos e ecológicos, mas também a genética de populações. O enfoque genético, pela caracterização da estrutura genética e do tamanho efetivo, em populações com diferentes níveis de intervenção antrópica, constitui uma abordagem adequada para ser utilizada neste tipo de estudo (Kageyama, 1987; Moran et al., 1989; Hall et al., 1996 e Nason e Hamrick, 1997). Um estudo feito por Moyle et al. (2003) nos Estados Unidos, mostrou que o grupo dos invertebrados é muito pouco estudado tanto geneticamente quanto demograficamente, sugerindo uma particular necessidade de mais pesquisas básicas, sendo este o caso das abelhas nativas sem ferrão, incluindo as espécies Melipona compressipes e Melipona seminigra. 24 2. Objetivo 2.1 Objetivo geral Caracterizar locos microssatélites nas espécies de abelhas sem ferrão Melipona compressipes e Melipona seminigra do estado do Amazonas. 2.2 Objetivos específicos - Otimizar a amplificação de primers microssatélites desenvolvidos para M. bicolor e Apis mellifera em M. compressipes e M. seminigra; - Caracterizar os locos microssatélites quanto ao número de alelos, número de locos polimórficos e heterozigosidade observada e esperada nas duas espécies; - Analisar a distribuição alélica e calcular suas freqüências em diferentes localidades dos municípios do Amazonas: Jutaí, Alvarães, Manaus, Cacau Pirera, Careiro Castanho, Urucará e Parintins; - Comparar a variabilidade genética entre colméias naturais e colméias manejadas dessas espécies. 25 3. Material e métodos 3.1 Coleta do material biológico Para caracterização dos locos microssatélites, foram coletados cinco indivíduos adultos (operárias) de cada colônia de M. compressipes e M. seminigra, amostradas em 17 localidades dos Municípios do Amazonas: Jutaí, Alvarães, Manaus, Cacau Pirera, Careiro Castanho, Urucará e Parintins (Tabela 1, Figura 5). Fonte: www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br Figura 5. Localização geográfica dos Municípios do Amazonas onde foram coletadas as amostras de Melipona compressipes (1, 3, 6, 7) e Melipona seminigra (2, 3, 4, 5, 6). 1 – Jutaí, 2 - Alvarães, 3 - Manaus, 4 - Cacau Pirera, 5 - Careiro Castanho, 6 - Urucará, 7- Parintins. As abelhas foram coletadas com rede entomológica na entrada de ninhos, alojados em árvores vivas ou em troncos de árvores mortas mantidas em propriedades rurais, que não haviam sofrido nenhum tipo de manejo caracterizando colméias naturais; e em caixas de criação racional (meliponários) cujas colméias 26 haviam recebido material genético de outras colméias por cruzamento induzido ou troca de rainhas e discos de cria, caracterizando colméias manejadas. As amostras de Jutaí, Cacau Pirera e Urucará foram coletadas em propriedades particulares, cujas colméias estavam alojadas em troncos recém tirados da mata, sem nenhum tipo de manejo. As amostras de Parintins foram retiradas de tronco de árvore viva diretamente na mata (árvore em área de igapó) ou de ninhos recém transferidos para caixas de criação racionais, também sem sofrerem nenhum tipo de manejo. As amostras de Alvarães e Careiro Castanho foram retiradas de caixas racionais em meliponários recentes, com pouca manipulação. As amostras de Manaus (Klilton e Tarumã) foram coletadas de caixas intensamente manipuladas (troca de rainhas com outros meliponicultores e transporte das caixas órfãs para cruzamento da rainha virgem com machos de outras localidades, dentro do mesmo município; além de multiplicações induzidas). A amostra de Monte Pascoal foi proveniente de um fragmento de mata (bairro Monte Pascoal) dentro da cidade de Manaus e a de São Geraldo, de uma caixa de criação racional mantida há dez anos, sem manipulação, em local próximo a fragmento de mata na cidade de Manaus. Para análise comparativa dos índices de diversidade genética entre colméias naturais e manejadas foram amostradas 54 colônias (27 naturais e 27 manejadas) de M. compressipes (2 indivíduos/colônia) e 18 (10 manejadas e 8 naturais) de M. seminigra (5 indivíduos/colônia). As amostras de M. compressipes foram provenientes de 27 colméias manejadas do meliponário GPA (Grupo de Pesquisas em Abelhas / INPA) em Manaus e de 27 colméias naturais (em cortiços) em Parintins (2 de Candango, 3 de Álvaro, 3 de Bentes, 4 de Bigode, 2 de Ademir, 2 de Nilton Cezar, 2 de Enoqui, 2 de J. Félix, 4 do Abacateiro, 3 da Piranheira). Para M. seminigra, as amostras de colméias manejadas foram coletadas em Alvarães (2 colônias de Marajaí), em Manaus (2 de Klilton) e em Careiro Castanho (3 de Neuzilena, 2 de Paulinho, 1 de Panelão) e as colméias naturais vieram de Manaus (1 de São Geraldo e 1 de Monte Pascoal), de Cacau Pirera (3 de Valtino) e de Urucará (2 de Lobato e de 1 Paulo). 27 Tabela 1. Localização dos pontos de coleta dos espécimes de Melipona compressipes e Melipona seminigra, o tipo de colméia e a quantidade de ninhos amostrados para caracterização dos locos microssatélites. Município Jutaí Alvarães Manaus Cacau Pirera Careiro Castanho Urucará Parintins Tipo de M. compressipes M. seminigra colméia N (C) N (C) Nova Esperança Natural 5 (1) - São Sebastião Natural 5 (1) - Resex Natural 5 (1) - Marajaí Manejada - 10 (2) Klilton Manejada 5 (1) 10 (2) Tarumã Manejada 5 (1) - São Geraldo Natural 5 (1) 5 (1) Monte Pascoal Natural - 5 (1) Valtino Natural - 5 (3) Neuzilena Manejada - 15 (3) Paulinho Manejada 10 (2) Panelão Manejada 5 (1) Lobato Natural 5 (1) 10 (2) Paulo Natural 10 (2) 5 (1) Candango Natural 10 (2) - Bentes Natural 5 (1) - Piranheira Natural 5 (1) - 65 (13) 100 (18) Localidade Total de indivíduos e colônias amostradas N = numero de indivíduos analisados por colméia; C = número de colméias amostradas por localidade. 28 3.2 Extração de DNA As extrações de DNA foram realizadas no Laboratório Temático de Biologia Molecular do INPA. O DNA foi extraído segundo o protocolo usado por Carvalho (2000), como segue: O tórax dos adultos foi macerado, após congelamento, dentro de microtubos de 1,5mL e adicionado 500µL de tampão SET (NaCl 0,15M; Tris 0,02M; EDTA 1mM pH 8,0), 18µL de proteinase K e 22µL de SDS (25%), invertendo os tubos por três vezes. As amostras foram, então, incubadas em banho maria por 2 horas a 55ºC, agitou-se levemente a cada 30 minutos e, posteriormente à adição de 2µL de RNAse (1µg/ µL), foram incubadas novamente a 37ºC durante 1 hora. Foi adicionado 430µL de NaCl 5M, invertendo os tubos delicadamente e centrifugando-os por 10 minutos a 13.000rpm. Os sobrenadantes foram transferidos para novos microtubos de 1,5mL, e adicionados 215µL de Tris-HCl (0,01M pH 8,0) – invertendo os tubos por três vezes. Completou-se o volume dos microtubos com etanol absoluto (gelado) para precipitação do DNA em freezer a –20ºC durante toda a noite. Depois de centrifugado e lavado com etanol 70%, os pellets foram ressuspendidos em 100µL de TE (Tris 10mM, EDTA 1mM) e estocados em freezer a - 20ºC. A integridade e pureza dos DNAs extraídos foram verificados em gel de agarose 0,8%, corados com brometo de etídeo e fotodocumentados no sistema Eagle Eye II . A quantificação foi baseada na intensidade de banda quando comparadas com um marcador de peso molecular de DNA fago Lambda de 50 ng, em gel de agarose 0,8%. 3.3 Amplificação dos locos microssatélites Inicialmente, utilizando cinco indivíduos de cada espécie provenientes do meliponário do GPA/INPA, foi testada a amplificação de DNA usando-se dez primers de regiões microssatélites, variando a temperatura de anelamento, e as concentrações dos reagentes na reação em cadeia da polimerase (PCR) (Mullis e Fallona, 1987). Os primers escolhidos para teste, 8 desenvolvidos para M. bicolor e 2 para Apis mellifera (Tabela 2) já haviam sido utilizados para amplificação em 29 outras espécies que não as de origem, e se mostraram polimórficos (Peters et al., 1998; Carvalho-Zilse e Kerr, 2006; Francisco et al., 2006). Tabela 2. Origem e seqüência dos primers testados para amplificação em Melipona compressipes e Melipona seminigra. Loco Primers (5' → 3') Origem do primer Mbi 11 CGTTCGTTCTTCCCAAT GATCGAATTTAACCGGC M. bicolor 1 Mbi 13 CCCCTAACAGCCAAAGCTAT CGATGCCCACTTTCGAC M. bicolor 1 Mbi 28 TTTTATCGCTCCTATCCTCC AATCCAACAGGACGGTGT M. bicolor 1 Mbi 32 CTTTATCCGGTGCGTCGAA GAAGGCATTCCGGGTTGTT M. bicolor 1 Mbi 36 GCATCGGCGTCAGCCAG GCGTGTCAGGCGGTGAAG M. bicolor 1 Mbi 88 GCCGCCGTACGTTCTGA GCGCTCGAGCAGCGTT M. bicolor 1 Mbi 103 CCCCACAGTGTAACCAGAAAG TTATGGTGATAAACGGCGAAG M. bicolor 1 Mbi 213 CCCTCATCCCTTCGTTTCTT CGTGAACAGGAAGTCCGTCTAA M. bicolor 1 A 76 GCCAATACTCTCGAACAATCG GTCCAATTCACATGTCGACATG A. mellifera 2 A 107 CCGTGGGAGGTTTATTGTCG GGTTCGTAACGGATGACAACC A. mellifera 2 1. Peters et al., 1998 2. Estoup et al., 1993 Os locos microssatélites foram amplificados por PCR, em termociclador Eppendorf Gradiente. Os produtos das amplificações foram submetidos à eletroforese em gel de agarose 2%, a 120V, utilizando 3 µL de amostra adicionado a 3 µL de load (azul de bromofenol + xileno cianol) e para determinação do tamanho dos fragmentos amplificados, usou-se um marcador molecular Ladder de 100pb. Após a separação eletroforética, os géis foram corados com brometo de etídeo, em banho, por 20 minutos e fotografados em sistema de fotodocumentação digital. A partir das amplificações positivas, visualizadas em gel de agarose, procedeu-se à corrida destes produtos (2µL de amostra adicionado a 3 µL de load 30 juntamente com marcador de peso molecular de 10pb (3µL) em gel de poliacrilamida (19:1) 15% a 80V por 16 horas. Em seguida os géis foram corados com nitrato de prata usando-se o protocolo: imersão do gel na solução I (etanol 10% + ácido acético 0,5%) por 20 minutos. Após descartar a solução I, colocou-se o gel na solução II (nitrato de prata 0,17%) por 30 minutos. O gel foi lavado com água destilada por 2 minutos e colocado em solução III (NaOH 3% + formaldeído 0,1%), mexendo suave e continuamente até aparecerem as bandas. Após o processo de coloração, a reação foi neutralizada com ácido acético 10%. 3.4 Análise de polimorfismo de DNA em regiões microssatélites A determinação do tamanho dos alelos foi feita a partir da digitalização dos géis com scanner de mesa, e medição usando-se o programa ImageJ 1.36b por comparação com o marcador de peso molecular Ladder de 10 pb. Conhecendo o tamanho dos alelos, foi construída uma matriz com as informações dos genótipos dos indivíduos de todos os locos para proceder as análises de polimorfismo. A caracterização de locos microssatélites envolveu a quantificação do número de alelos por loco e o cálculo da heterozigosidade observada (Ho = No. de indivíduos heterozigotos / No. total de indivíduos analisados). O estudo de polimorfismo genético foi baseado na análise da distribuição dos alelos e no cálculo das freqüências gênicas, e o índice de diversidade molecular no número de diferentes alelos dentro de cada colméia. Estas análises foram feitas por meio do programa estatístico Arlequin desenvolvido por Schneider et al. (2000). 31 4. Resultados e discussão A conservação de sítios que flanqueiam os microssatélites entre espécies relacionadas permite a transferência destes marcadores entre espécies ou mesmo gêneros diferentes utilizando-se primers heterólogos. A transferibilidade de primers facilita o uso deste marcador, pois reduz o tempo de execução e o custo do trabalho (Ferreira e Grattapaglia, 1998). Atualmente, muitos marcadores microssatélites estão disponíveis na literatura para as mais diversas espécies de animais e vegetais. Trabalhos abordando aspectos da biologia das espécies, comportamento reprodutivo, dinâmica de populações, evolução, análise, parentesco, variação intraespecífica, hibridização e mapeamento genético envolvendo regiões microssatélites, tem sido realizados a partir da utilização de primers heterólogos. Colevati et al. (1999) conseguiram transferibilidade em 100% dos dez locos SSR desenvolvidos para Caryocar brasiliense em cinco outras espécies do mesmo gênero, indicando alto nível de homologia do genoma entre as espécies deste gênero, permitindo estudos comparativos de estrutura genética nas espécies do gênero. Primers desenvolvidos para Eucalyptus spp. (Brondani et al., 1998) foram transferidos para Eugenia dysenterica (Zucchi et al., 2002), sendo espécies da mesma família, porém de gêneros diferentes. Em animais, Kuehn et al. (2003) avaliaram a estrutura genética de populações de cervos ameaçados de extinção na Bavária por meio de 19 locos microssatélites oriundos de carneiros e bovinos. Luís et al. (2002), por meio de otimização de amplificação de primers heterólogos, realizaram análise de parentesco para cavalos, separando três raças a partir de seis loci SSR heteroespecíficos. Em abelhas, muitos trabalhos vem sendo realizados por transferência de primers microssatélites (Paxton et al., 1999; Soares, 2001; Francisco, 2002; Shao et al., 2004; Carvalho-Zilse e Kerr, 2006; Arias et al., 2006; Insuan et al., 2007) para caracterização de locos microssatélites, determinação da estrutura genética de populações e estudo de paternidade. Porém, a utilização deles está sujeita a contratempos como a não amplificação e a amplificação de bandas inespecíficas. Ambos os casos ocorreram durante este trabalho para amplificação dos locos nas duas espécies. 32 Dos dez primers testados, cinco foram escolhidos para M. compressipes e quatro para M. seminigra, pela qualidade dos produtos apresentados permitindo seu uso no presente estudo (Figura 6). M 1 2 3 4 5 6 7 8 100pb → Figura 6. Perfil de amplificação em gel de agarose 2% do loco Mbi 13 em Melipona compressipes. M – Marcador de peso molecular de 100 pb; 1 a 8 – amostras de colméias de Candango (Parintins-AM). As concentrações ótimas dos reagentes para a PCR de todos os locos foram idênticas para M. compressipes e M. seminigra (Tabela 3), à exceção das temperaturas de anelamento dos primers (Tabela 4). Tabela 3 - Concentrações dos reagentes da PCR para amplificação de locos microssatélites em Melipona compressipes e Melipona seminigra. Reagentes Concentração Tampão da enzima Taq 1X Cloreto de Magnésio (MgCl2) 2 mM Enzima Taq DNA polimerase 1 unidade deoxinucleotídeos (dNTPs) 300 µM Primers (Foward e Reverse) 3 pmol DNA molde 50 ng 33 Tabela 4 - Temperaturas ótimas de anelamento dos primers heterólogos na amplificação de DNA de Melipona compressipes e Melipona seminigra. Temperaturas de anelamento Primers M. compressipes M. seminigra Mbi 11 49,6ºC 51ºC Mbi 13 56ºC 57ºC Mbi 28 54,5ºC - Mbi 32 59ºC 58ºC Mbi 36 58ºC - Mbi 213 - 57ºC Para M. compressipes os primers Mbi11, 13, 28, 32 e 36 amplificaram satisfatoriamente (Figura 7). No entanto, os primers Mbi103, Mbi213, A76 e A107 não amplificaram e o Mbi88 apresentou bandas inespecíficas. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 M ← 100pb Figura 7. Gel de poliacrilamida 10% indicando padrão de bandas (alelos) dos produtos da PCR do loco Mbi 36 para Melipona compressipes. M – marcador de 10pb. 1 a 10: amostras de colméias de Lobato (Urucará-AM). Para M. seminigra os locos Mbi11, 13, 32 e 213 apresentaram padrões de bandas considerados satisfatórios para análise. Os locos Mbi28 e 36 apresentaram bandas inespecíficas quando analisadas em gel de poliacrilamida 10%; e os locos Mbi 88, Mbi 103, A107 e A76 não amplificaram. O sucesso de amplificação declina de acordo com a distancia genética entre os taxa (Primmer e Merilä, 2000), ou seja, a proximidade filogenética é o principal fator no sucesso da transferência para uso de primers heterólogos. Porém, outros fatores 34 como o tamanho e a complexidade do genoma e a localização do microssatélite (se está em região codificante ou não) também influenciam no processo de transferibilidade (Oliveira et al., 2006). Tentativa de amplificação de regiões microssatélites com primers desenvolvidos para o gênero Apis também foi fracassada para M. scutellaris (Carvalho-Zilse e Kerr, 2006). Porém, Francisco et al. (2006) e Brito (2005) conseguiram amplificar locos microssatélites em abelhas do gênero Partamona com primers de Melipona e Scaptotrigona. Os locos microssatélites analisados, com base na amostragem de 65 indivíduos de 13 colméias oriundas de 11 localidades para M. compressipes e 100 indivíduos de 18 colméias oriundas de 10 localidades para M. seminigra geraram alelos de tamanhos diferentes em M. compressipes e M. seminigra, variando de 86pb a 225pb e 100pb a 142pb, respectivamente (Tabela 5). A utilização de primers heterólogos pode resultar em amplificações de locos de seqüências com tamanho e/ou composição diferentes de bases entre as espécies. Locos com alelos de tamanhos diferentes para as mesmas regiões microssatélites também foram encontrados nas espécies M. quadrifasciata, Tetragonisca clavipes e Scaptotrigona postica (Peters et al., 1998), M. scutellaris (Carvalho-Zilse e Kerr, 2006), Plebeia remota (Francisco, 2002), Partamona mulata e Partamona helleri (Brito, 2005). Os alelos microssatélites encontrados nas espécies estudadas neste trabalho serão submetidos a sequenciamento, para confirmar esta questão. M. compressipes apresentou um total de 20 alelos diferentes, variando entre três a sete alelos por loco enquanto M. seminigra teve 19 alelos variando entre quatro a seis alelos por loco. M. scutellaris apresentou uma maior variação no número de alelos (2 a 10) para os mesmos locos analisados (Carvalho-Zilse e Kerr, 2006), o que sugere uma maior homologia nas seqüências de DNA entre M. bicolor e M. scutellaris. Quando comparamos o número de alelos amplificados com os mesmos locos em espécies de outros gêneros, o número de alelos encontrados para elas é menor. Por exemplo, Francisco et al. (2006) encontraram apenas 1 alelo para o loco Mbi 28 em P. mulata e P. helleri; para o loco Mbi 32 encontraram 1 e 2 alelos, respectivamente; e para P. remota não houve amplificações positivas. 35 Tabela 5 - Número (N) e tamanho dos alelos em pares de bases (A) amplificados em Melipona compressipes e M. seminigra e suas respectivas heterozigosidades observadas (Ho) por loco comparadas a M. bicolor (espécie de origem dos primers). Loco Mbi 11 Mbi 13 Mbi 28 M. compressipes A Ho 225 192 4 0,55 186 164 171 165 153 7 150 0,38 144 120 105 92 3 89 0,11 86 N Mbi 32 3 166 154 145 Mbi 36 3 171 159 108 Mbi 213 - - Heterozigosidade média * Peters et al. (1998) M. seminigra A Ho 142 139 4 0,00 136 133 N N M. bicolor* A Ho 5 152 0,63 6 121 115 109 106 103 100 0,42 4 129 0,88 - - - 3 108 0,25 0,16 4 154 0,63 0,39 5 129 126 123 117 102 0,42 - - - 5 125 0,75 4 132 129 126 123 0,52 6 123 0,75 0,37 0,28 0,65 É interessante notar que os alelos apresentados para M. seminigra foram sempre de menor tamanho quando comparados aos alelos em M. compressipes e M. bicolor. Nessa espécie também se observou menores índices de heterozigosidade para a maioria dos locos analisados. O loco Mbi 13 apresentou o maior número de alelos nas duas espécies: sete em M. compressipes e seis em M. seminigra (Tabela 5). Sendo considerado um microssatélite perfeito - (GTC)10 - na espécie de origem e extrapolando essa característica para as duas espécies em estudo, este dado reforça a idéia de que microssatélites perfeitos tendem a ter mais alelos que os imperfeitos e interrompidos. Isto porque as bases que interrompem o microssatélite diminuem a possibilidade de erro na leitura da polimerase durante a replicação do DNA, dando maior estabilidade ao mesmo (Webber, 1990; Chung et al., 1993). 36 Carvalho-Zilse e Kerr (2006) encontraram, em M. scutellaris, seis alelos para o loco Mbi 13 e o maior número de alelos (dez) foi encontrado no loco Mbi 213, outro microssatélite considerado perfeito - (CTT)8 - na espécie de origem (M. bicolor). Porém, estes mesmos autores encontraram oito alelos para o loco Mbi 28 e Francisco et al. (2006) também encontraram os maiores números de alelos (seis) nos locos Mbi 259 e Mbi 278 em Plebeia remota, todos microssatélites imperfeitos em M. bicolor. 4.1 Melipona compressipes As freqüências e distribuição dos alelos variaram tanto em nível inter quanto intracolonial, com as colméias de Parintins (extremo leste do Amazonas) sendo as mais polimórficas para a maioria dos locos e as colméias de Jutaí (quase extremo oeste do estado) as menos polimórficas, apresentando apenas um alelo para o loco Mbi 28 (Tabela 6). No loco Mbi 11, o alelo 186pb está presente na maioria das colméias naturais (Parintins, Urucará, Jutaí) com alta freqüência (> 0,40). O alelo 225pb apareceu apenas em Bentes e Piranheira (Parintins) e de Paulo e Lobato (Urucará), situadas na margem esquerda do rio Amazonas. O alelo 192pb foi exclusivo de Resex (Jutaí), situada no lado direito do rio Amazonas, e de São Geraldo (Manaus) (Tabela 6). Também é válido destacar que o índice de heterozigosidade observada neste loco variou de Ho=1,00 para as colméias Bentes e Piranheira (Parintins) e Paulo (Urucará) a Ho=0,00 para as colméias da Resex (Jutaí) e de Klilton e São Geraldo (Manaus) (Tabela 7). O Loco Mbi 13 foi o mais polimórfico dentre os locos analisados (Figura 8) apresentando maior número de alelos (sete) sendo que três (171pb, 165pb e 105pb) foram exclusivos das localidades de Parintins, com 100% de heterozigotos (Tabelas 6 e 7). Apesar do maior número de alelos encontrados neste loco, todos os indivíduos das colméias de Tarumã e São Geraldo (Manaus), Lobato e Paulo (Urucará), Nova Esperança e São Sebastião (Jutaí) se mostraram homozigotos. O loco Mbi28, com apenas três alelos, apresentou-se monomórfico em todas as localidades (Figura 9) exceto em Parintins (quatro indivíduos heterozigotos em Candango, um em Bentes e dois na Piranheira) e Urucará (1 indivíduo heterozigoto em Lobato) (Tabela 7). O alelo 86pb foi exclusivo das colméias de Jutaí (Tabela 6). 37 Tabela 6 - Tamanho de alelos em pares de bases (A) e freqüências alélicas (Fa) nos locos analisados em todas as colméias de Melipona compressipes no estado do Amazonas. Município Localidade Candango (2) natural Parintins (4) Bentes (1) natural Piranheira (1) natural Klilton (1) manejada Manaus (3) Tarumã (1) manejada São Geraldo (1) natural Paulo Urucará (2) (2) natural Lobato (1) natural N. Esperança (1) natural Jutaí (3) S. Sebastião (1) natural Resex (1) natural Mbi 11 (4 alelos) A Fa Mbi 13 (7 alelos) A Fa 171 0,05 165 0,20 150 0,25 144 0,25 120 0,25 171 0,20 165 0,30 150 0,20 144 0,30 150 0,50 105 0,50 153 0,10 150 0,20 144 0,60 120 0,10 186 164 0,83 0,16 225 186 0,50 0,50 225 186 0,50 0,50 164 1,00 186 164 0,80 0,20 144 192 1,00 225 186 164 225 186 186 164 186 164 0,30 0,50 0,20 0,50 0,50 0,50 0,50 0,40 0,60 192 1,00 (N) número de colméias amostradas Mbi 28 (3 alelos) A Fa Mbi 32 (3 alelos) A Fa Mbi 36 (3 alelos) A Fa 92 89 0,23 0,77 154 145 0,50 0,50 171 108 0,50 0,50 92 89 0,10 0,90 154 145 0,50 0,50 171 1,00 92 89 0,20 0,80 154 145 0,60 0,40 171 1,00 89 1,00 166 154 0,25 0,75 171 108 0,70 0,30 1,00 89 1,00 0,50 0,50 1,00 89 1,00 171 1,00 120 1,00 89 1,00 171 159 0,50 0,50 153 1,00 92 89 0,77 0,23 159 1,00 120 1,00 86 1,00 120 1,00 86 1,00 0,50 0,50 0,30 0,70 0,55 0,25 0,20 0,60 0,40 0,90 0,10 0,20 0,80 171 108 144 166 154 166 154 166 154 145 166 145 154 145 154 145 171 108 171 108 0,50 0,50 0,50 0,50 150 144 120 0,30 0,40 0,30 86 1,00 154 1,00 171 1,00 38 Tabela 7 - Heterozigosidade observada por loco microssatélite em Melipona compressipes em cada localidade analisada no estado do Amazonas. Município Localidade 1,00 0,44 0,60 1,00 Bentes 1,00 1,00 0,20 1,00 0,00 Piranheira 1,00 1,00 0,40 0,00 0,00 Klilton 0,00 0,60 0,00 0,00 0,60 Tarumã 0,60 0,00 0,00 1,00 1,00 São Geraldo 0,00 0,00 0,00 0,20 0,00 Paulo 1,00 0,00 0,00 0,66 0,00 Lobato 0,20 0,00 0,20 0,40 0,00 N. Esperança 1,00 0,00 0,00 0,20 1,00 S. Sebastião 0,40 0,00 0,00 0,20 1,00 Resex 0,00 0,60 0,00 0,00 0,00 0,51 0,38 0,11 0,39 0,42 Urucará Ho média 2 Mbi 36 0,44 Manaus 1 Heterozigosidade observada Mbi 13 Mbi 28 Mbi 32 Candango Parintins Jutaí Mbi 11 3 4 5 6 7 8 9 M 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 100pb Figura 8. Gel de poliacrilamida 10% mostrando polimorfismo intra e intercolonial a partir da amplificação do loco Mbi 13 em Melipona compressipes. 1 a 4: Candango (Parintins); 5 a 9: Bentes (Parintins); 10 a 14: Resex (Jutaí); 15 a 19: Klilton (Manaus). M – marcador de 10pb. 39 M 7 1 2 3 4 5 6 7 100p b Figura 9. Gel de poliacrilamida 10% evidenciando o monomorfismo do loco Mbi 28 , em Melipona compressipes. M - marcador de 10pb. 1 a 7: amostras Klilton (Manaus). O alelo 154pb foi encontrado em todas as colméias de M. compressipes, exceto na localidade de Lobato (Urucará) para o loco Mbi 32, quase sempre com alta freqüência (Tabela 6). Também o alelo 145pb se mostrou freqüente em todas as colméias amostradas, exceto as de Manaus, porém com freqüências variadas. Não foram encontrados heterozigotos para este loco nas localidades de Piranheira (Parintins), Klilton (Manaus) e Resex (Jutaí) (Tabela 7). Para o loco Mbi 36, o alelo 171pb, que não foi observado apenas em Lobato (Urucará), apresentou altas freqüências nas demais localidades. O alelo 159pb apareceu apenas nas colméias de Lobato e Paulo (100% de homozigotos) (Tabelas 6 e 7). A variação genética encontrada dentro e entre as localidades, com base na distribuição dos alelos nos diferentes locos, sugere que esteja ocorrendo uma estruturação genética em M. compressipes no estado do Amazonas. Percebe-se uma clara hierarquia de variação genética: entre localidades, dentro da localidade e dentro da colméia. Ou seja, as colméias amostradas em uma mesma localidade apresentam menor diversidade de alelos que colméias amostradas em diferentes localidades, provavelmente refletindo a migração a curtas distancias em Melipona (Carvalho-Zilse e Kerr, 2004). Analisando cada localidade separadamente, as colméias de Parintins apresentaram número de indivíduos heterozigotos observados maior que o esperado para todos os locos, variando de Ho = 1,00 a Ho = 0,20 (Tabela 7) e maior diversidade genética (0,48) (Tabela 8). 40 Tabela 8 - Diversidade genética (valores médios), baseada no número de diferentes alelos/loco e número de locos polimórficos microssatélites encontrados nas localidades amostradas de Melipona compressipes (Mc) e Melipona seminigra (Ms) no estado do Amazonas. Município Jutaí Alvarães Manaus Cacau Pirera Careiro Castanho Urucará Parintins Média / Ms Localidade Mc N. Esperança 0,26 S. Sebastião 0,18 Resex 0,15 Marajaí - Klilton 0,27 Tarumã 0,32 São Geraldo 0,09 0,31 Monte Pascoal - 0,05 Valtino - Neuzilena - Paulinho - Panelão - Lobato 0,28 localidade localidade 0,19 - - - 0,34 0,34 0,37 0,23 - - 0,49 0,24 0,49 0,34 - 0,35 0,29 0,18 0,24 0,19 Paulo 0,20 Candango 0,65 Bentes 0,40 Piranheira 0,40 - 0,29 0,32 Média geral Média / 0,53 0,36 0,48 - - (-) localidades não amostradas O menor índice médio de diversidade (0,19) foi obtido em Jutaí. Porém, analisando cada colméia separadamente, São Geraldo (Manaus) foi a que apresentou o menor índice de diversidade (0,09), com grande deficiência de heterozigotos: quatro dos cinco locos analisados foram monomórficos e apenas o loco Mbi 32 apresentou um indivíduo heterozigoto (Ho=0,20). A colméia de São Geraldo foi mantida isolada, sem nenhum tipo de manejo, dentro da cidade de Manaus por mais de dez anos. Possivelmente, esta colônia esteja sofrendo processo de depressão endogâmica por conseqüência de acasalamento entre irmãos. Comparando-se os índices de polimorfismo entre colméias naturais e manejadas de jupará no Amazonas para as quais se analisou os locos Mbi 13 e 32, 41 as colméias manejadas apresentaram maiores índices de Ho (Ho=0,31 para o loco Mbi 13 e Ho=0,63 para Mbi 32) e de diversidade genética (0,31) que as colméias naturais (Ho=0,27 para Mbi 13 e Ho=0,47 para Mbi 32; diversidade genética=0,00). Este resultado pode ser justificado pelo fato das colônias manejadas serem provenientes do meliponário do GPA que foi fundado em 1999 por colônias de diferentes localidades e desde então recebem manejo intenso com trocas de rainhas e discos de cria entre colméias do próprio meliponário e de outros meliponários de Manaus e de municípios do Amazonas. Já as colônias naturais, oriundas de Parintins, nunca haviam sido manejadas e, portanto podem estar representando a estabilidade dos seus microhabitats. Numa análise geral, M. compressipes apresentou nível de diversidade genética razoável (0,29) no estado do Amazonas, tendo seus alelos bem distribuídos entre as colônias e entre as localidades e com índices de heterozigosidades observadas entre os maiores valores quando comparados a outras espécies de melíponas (Tabela 11). 4.2 Melipona seminigra As abelhas jandaíra apresentaram padrão de distribuição e freqüência de alelos variáveis entre as colméias, tendo alguns alelos exclusivos e/ou fixados em determinadas localidades do estado do Amazonas (Tabela 9). A exemplo, temos para o loco Mbi 11 a fixação do alelo 133pb em Marajaí (Alvarães) e Paulo (Urucará) e a presença do alelo 142pb exclusivo em São Geraldo (Manaus) para o mesmo loco. Na maioria das colméias foi encontrado apenas um alelo (dos 4 presentes neste loco), exceto Valtino (Cacau Pirera) e Neuzilena (Carreiro Castanho) onde apareceram dois alelos. Em nenhuma colônia foram encontrados indivíduos heterozigotos para este loco. Alelos exclusivos também foram encontrados para o loco Mbi 13 em Marajaí (Alvarães) (121pb) e Valtino (Cacau Pirera) (103 pb). Apenas em Monte Pascoal (Manaus) encontrou-se alelo (106pb). A exemplo de M. compressipes, este loco apresentou o maior número de alelos (seis) dentre os locos analisados. A maioria das localidades apresentou Ho > 0,20, exceto Monte Pascoal (Manaus) e Paulinho (C. Castanho) (Tabela 10). 42 Também, para o loco Mbi 32 observou-se alelos exclusivos de 117pb em Marajaí (Alvarães) e de 102pb em Urucará. O alelo 126pb foi o único comum a todas as localidades exceto Panelão (C. Castanho) e S. Geraldo (Manaus). Mesmo com cinco alelos presentes neste loco, a maioria das colméias apresentou Ho=0,00. O loco Mbi 213 (4 alelos) foi o mais polimórfico para as abelhas jandaíra, tendo a maior heterozigosidade média observada (Ho=0,52) em relação aos outros locos analisados para a espécie (Tabela 10), porém menor que em M. bicolor (Tabela 11). As colméias de Manaus (São Geraldo e Klilton) foram diferenciadas para este loco, sendo as únicas em que apareceu o alelo 132 pb. A análise por localidade indicou que, a exemplo de jupará, jandaíra apresentou uma maior variação de alelos entre as localidades que dentro de cada localidade. As colméias de Cacau Pirera apresentaram o maior nível de diversidade genética (0,49) enquanto em Manaus foi encontrada a menor diversidade genética (0,24), com o menor índice na colméia de Monte Pascoal (0,05) (Tabela 8). Uma análise conjunta das colméias amostradas de M. seminigra no Amazonas, mostrou que a maioria dos locos apresentaram menor número de indivíduos heterozigotos que os encontrados em M. compressipes e em M. bicolor para os mesmos locos (Tabela 11). Buscando saber se a exploração comercial da jandaíra vem afetando a variabilidade genética desta espécie no estado, baseado nos resultados de heterozigosidade e diversidade genética nos locos Mbi 13 e 32, os resultados da comparação entre colméias naturais e manejadas para a M. seminigra mostraram níveis de Ho média e diversidade genética semelhantes. As colméias naturais apresentaram Ho média= 0,276 e diversidade genética= 0,618 e as colméias manejadas, Ho média= 0,284 e diversidade genética= 0,612. Este resultado sugere que as técnicas de manejo na meliponicultura ainda não afetaram a diversidade genética da jandaíra, seja promovendo a homogeneização gênica por seleção de colméias mais produtivas e sucessivas multiplicações, seja aumentando a variabilidade por troca de rainhas e discos de cria entre os meliponicultores. 43 Tabela 9 – Tamanho de alelos em pares de base (A) e freqüências alélicas (Fa) nos locos analisados em todas as colméias de Melipona seminigra no estado do Amazonas. Município Localidade Alvarães (2) (2) manejada Marajaí S. Geraldo (1) natural Manaus (4) Klilton (2) manejada M.Pascoal (1) natural C. Pirera (3) Valtino (3) natural Neuzilena (3) manejada C. Castanho (6) Paulinho (2) manejada Panelão (1) manejada Paulo Urucará (3) (1) natural Lobato (2) natural Mbi11 (4 alelos) A Fa Mbi 13 (6 alelos) A Fa 121 0,40 109 0,60 Mbi 32 (5 alelos) A Fa 126 0,70 117 0,30 133 1,00 142 1,00 106 100 0,60 0,40 123 1,00 139 1,00 115 106 0,25 0,75 126 123 0,50 0,50 136 1,00 106 1,00 126 1,00 136 133 0,33 0,66 115 106 103 0,07 0,60 0,33 126 123 0,33 0,66 139 133 0,33 0,66 109 100 0,60 0,40 126 1,00 136 1,00 109 106 0,50 0,50 129 126 0,50 0,50 136 1,00 109 100 0,40 0,60 129 1,00 133 1,00 136 1,00 109 100 115 109 100 0,90 0,10 0,20 0,70 0,10 126 102 126 123 102 0,80 0,20 0,30 0,40 0,30 (N) número de colméias amostradas Mbi 213 (4 alelos) A Fa 129 0,70 123 0,30 132 0,30 129 0,50 126 0,20 132 0,15 129 0,50 126 0,20 129 0,10 126 0,90 129 0,36 126 0,60 123 0,04 129 0,20 126 0,75 123 0,05 129 0,80 126 0,20 129 0,50 126 0,40 123 0,10 126 0,60 123 0,40 126 123 0,80 0,20 44 Tabela 10 - Heterozigosidade observada por loco microssatélite em Melipona seminigra nas localidades amostradas. Heterozigosidade Observada Município Alvarães Manaus C. Pirera C. Castanho Localidade Mbi 11 Mbi 13 Mbi 32 Mbi 213 Marajaí 0,00 0,80 0,60 0,50 S. Geraldo 0,00 0,80 0,00 0,60 Klilton 0,00 0,50 0,00 0,40 M. Pascoal 0,00 0,00 0,00 0,20 Valtino 0,00 0,20 0,00 0,60 Neuzilena 0,00 0,35 0,00 0,33 Paulinho 0,00 0,00 0,00 0,42 Panelão 0,00 0,80 0,00 1,00 Paulo 0,00 0,20 0,40 0,75 Lobato 0,00 0,60 0,60 0,40 0,00 0,42 0,16 0,52 Urucará Ho média 45 Tabela 11 - Heterozigosidade observada (Ho) e número de alelos (N) em diferentes espécies de abelhas sem ferrão utilizando os mesmos primers desenvolvidos para Melipona bicolor. Loco Ho (N) Melipona scutellaris** 0,14 (2) Mbi 11 Melipona seminigra 0,00 (4) Melipona compressipes 0,51 (4) Melipona bicolor* 0,63 (5) Melipona quadrifasciata* 0,00 (2) Mbi 13 0,42 (6) 0,38 (7) 0,88 (4) _ 0,11 (6) Mbi 28 _ 0,11 (3) 0,25 (3) 0,00 (1) 0,95 (8) 0,00 (1) Mbi 32 0,16 (5) 0,38 (3) 0,63 (4) 0,00 (1) 0,06 (2) Mbi 36 _ 0,42 (3) 0,75 (5) _ Mbi 213 0,52 (4) _ 0,75 (6) Ho média 0,27 (19) 0,37 (20) 0,65 (27) * Peters et al. (1998) ** Carvalho-Zilse e Kerr (2006) *** Franscisco et al. (2006) Scaptotrigona Plebeia postica* remota*** 0,00 (1) _ _ _ Partamona mulata*** _ Partamona helleri*** _ _ _ _ 0,00 (1) 0,00 (1) 0,00 (1) _ 0,00 (1) 0,04 (2) 0,00 (2) _ _ _ _ _ 0,51 (10) _ _ _ _ 0,00 (4) 0,29 (30) 0,00 (3) 0,00 (2) 0,02 (3) 46 4.3 Comparação entre as espécies Dentre as espécies de melíponas estudadas, até o momento, cujos locos foram amplificados com primers heterólogos de M. bicolor, todos os índices de Ho se mostraram menores que da espécie de origem dos primers (Ho= 0,65) (Tabela 11). Em ordem decrescente, M. compressipes apresentou maior índice de Ho média (=0,37) seguida por M. scutellaris (Ho=0,30) (Carvalho-Zilse e Kerr, 2006), M. seminigra (Ho=0,27) e M. quadrifasciata (Ho=0,00) (Peters et al., 1998). Os índices de polimorfismo não são idênticos entre as espécies após o processo de transferibilidade de primers. As principais causas para tal fato são a presença de alelos nulos (a não amplificação dos alelos devido à mutação na seqüência do DNA) e a homoplasia de tamanho de fragmentos (amplificação de fragmentos diferentes, porém de mesmo tamanho). Outro fato a ser considerado é que, segundo Kerr (1946) e Velthius et al. (2006), Melipona bicolor é a única espécie em que se observou a presença de até 5 rainhas fisogástricas ativas na colméia. Isto promove variabilidade genética dentro da colônia já que significa a distribuição de alelos de, pelo menos, cinco diferentes machos (considerando o acasalamento de cada rainha com apenas um macho) entre as operárias filhas. O índice de Ho em Apis mellifera, é ainda maior (Ho=0,69) (Estoup et al., 1993). Sabe-se que as rainhas de Apis podem cruzar com 15 a 17 machos (Adams et al., 1977; Lobo e Kerr, 1993), o que implica no aumento de diferentes alelos microssatélites (de origem paterna) presentes na população de operárias da colméia. Em melíponas, até 1999 se acreditava, com base na comparação do número de espermatozóides produzidos pelo macho e o encontrado na espermateca da rainha, que a rainha de meliponíneos se acasalava com um único macho. No entanto, Paxton et al. (1999) usando microssatélites, demonstraram a existência de poliandria em M. beecheii (cruzamento com 1 a 3 machos) e Scaptotrigona postica (1 a 6). Também Carvalho (2001), com base em análise de progênie, confirmou que 34,5% dos acasalamentos em M. scutellaris ocorrem com pelo menos dois machos e 65,5% com apenas um macho. 47 Analisando as freqüências dos alelos de M. compressipes e M. seminigra nos diferentes locos entre as colméias, pode-se notar que alguns alelos estão presentes em todas ou na maioria das colméias amostradas com altas freqüências. CarvalhoZilse e Kerr (2006) também encontraram alelos com alta freqüência em todos as colméias analisadas de M. scutellaris. Apesar de locos microssatélites estarem em regiões intergênicas e serem considerados marcadores neutros, esses dados reforçam a idéia de que estes locos parecem estar ligados a genes importantes à sobrevivência das espécies, como genes de adaptação ao ambiente ou ao metabolismo. Também de observa a baixa freqüência de alguns alelos pouco comuns em ambas as espécies, o que sugerem duas situações: que estes estejam sendo eliminados ou podem ser alelos novos, sendo mais recentes dentro da colméia. Foi possível detectar a presença de alelos exclusivos com altas freqüências em algumas colméias tanto em M. compressipes como em M. seminigra. A presença de alelos exclusivos pode indicar um fluxo gênico restrito entre as colméias, levando a uma divergência genética devido à seleção ou deriva genética. Segundo Kerr (1996), a distância de dispersão das colônias de meliponíneos se dá pela soma do raio de vôo dos machos em busca de rainhas virgens, e do raio de enxameagem do novo ninho. Essa enxameagem ocorre em curtas distâncias devido à dependência da colônia-filha em cera e alimento da colônia-mãe. Conforme Carvalho-Zilse e Kerr (2004) para M. compressipes fasciculata e M. scutellaris, a distância de enxameagem é de, aproximadamente, 200 metros e o raio de vôo dos machos é de 1000 metros (menor que o raio de vôo das operárias), totalizando 1.200m de distância de migração. Sabe-se que a distância de vôo para forrageamento é maior que a distância de enxameagem para M. compressipes fasciculata, segundo Kerr (1996), que registrou 2.500m e 200m, respectivamente. Considerando que a distância máxima de vôo das operárias de jupará e da jandaíra é de 1.100m e 750m, respectivamente (Nunes e Carvalho-Zilse, 2005), e extrapolando a distância de vôo do macho de M. scutellaris para estas espécies, chegamos que a distância de dispersão deve ser, no máximo, de 2.100m para M. compressipes e 1.750m para M. seminigra. Os pontos de coleta entre as colméias amostradas neste trabalho distam no mínimo, de 5.400m para M. compressipes (Anexo A – Tabela 12) e de 1.700m para M. seminigra (Anexo A – Tabela 13), limitando, assim, o fluxo gênico entre indivíduos 48 de tais colméias. Portanto, a variação de alelos encontrada entre as colméias de diferentes localidades parece estar relacionada à estabilidade regional (estabilidade ambiental do microhabitat) de cada localidade. Isto concorda com Futuyma (1992) que afirma que a estruturação espacial ocorre por limitação física de cruzamento ou por tendência de cruzamentos entre indivíduos próximos, formando demes panmíticas. Além disso, as variações ambientais existentes podem agir a favor da seleção de alguns alelos ligados a genes com maior valor adaptativo local (Conte, 2004). Além das comparações entre colméias, buscou-se entender se há diferença significativa quanto à variabilidade genética (referente ao número de diferentes alelos microssatélites) quando se compara as amostras de colméias naturais (sem nenhum tipo de manipulação) e colméias manejadas (manejadas em meliponários). Os resultados mostraram que em M. compressipes, as colméias manejadas apresentaram maior diversidade genética que as colméias naturais. Isto pode ser reflexo de uma manipulação mais intensa das colméias por multiplicações sucessivas das colméias e troca de caixas e rainhas entre os meliponicultores no estado do Amazonas, aumentando a probabilidade de recombinações genotípicas e a heterozigosidade nas diferentes colméias, o que não se dá na mesma velocidade em colônias naturais, já que se espera apenas um evento de substituição natural de rainha, com conseqüente acasalamento da nova rainha eleita, em Melipona a cada 22 meses (Carvalho-Zilse e Kerr, 2004). Em M. seminigra, os índices de diversidade genética foram semelhantes, indicando que a meliponicultura ainda não afetou a variabilidade genética das colméias desta espécie no Amazonas. Em geral os índices de Ho e freqüência dos alelos mostraram satisfatórios para as duas espécies no estado do Amazonas. Isto sugere que a exploração de seus recursos e as ações antrópicas (desmatamento, queimadas, dentre outras) ainda tem pouca influencia sobre as colméias de meliponíneos analisadas apesar de algumas colméias de M. seminigra apresentarem deficiência de heterozigotos. Vale salientar que este é o primeiro trabalho registrado para estas espécies no Amazonas cujos dados podem refletir o tamanho amostral ou a presença de alelos nulos. Dando continuidade a este trabalho, outro projeto já está em andamento no GPA a fim de aumentar o numero de colméias amostradas, o número de locos para comparação entre colméias manejadas e naturais, bem como sequenciar os alelos encontrados a fim de pesquisar estas hipóteses. 49 5. Conclusões Assim como para outras espécies, foi possível amplificar regiões microssatélites em M. compressipes e M. seminigra com o uso de primers heterólogos, sendo indicados para uso como marcador em estudos genéticos dessas espécies; O loco Mbi 13 foi o mais polimórfico em M. compressipes e o Mbi 213 em M. seminigra; O loco Mbi 11 foi o único 100% monomórfico em M. seminigra, todos os demais mostraram-se polimórficos em ambas as espécies; Verificou-se a existência de alelos exclusivos e/ou fixados em ambas as espécies para todos os locos analisados; Houve uma menor variação de alelos dentro da colméia, que entre colméias e entre localidades em ambas as espécies; Há uma evidente estruturação genética em M. compressipes e M. seminigra no Amazonas, ocasionada, possivelmente, pelo limitado fluxo gênico entre as colméias como conseqüência de baixas distâncias de dispersão destas espécies; As duas espécies apresentaram variabilidade genética, revelando que os efeitos da exploração de seus recursos e as ações antrópicas tiveram pouca influencia até o momento sobre as freqüências alélicas e níveis de heterozigosidade. As colméias manejadas apresentaram maior variabilidade genética que as colméias naturais em M. compressipes, o que pode ser reflexo da ação antrópica atuando quanto a troca de material genético entre os colméias. Em M. seminigra, as ações antrópicas ainda não estão alterando a variabilidade genética nas colméias manejadas. 50 6. Referências Bibliográficas Adams, J.; Rothman, E.D.; Kerr, W.E.; Paulino, Z.L. 1977. Estimation of number of sex alleles and queen mating from diploid male frequencies in a population of Apis mellifera. Genetics, 86: 583-596. Arias, M.C.; Brito, R.M.; Francisco, F.O.; Moretto, G.; Oliveira, F.F.; Silvestre, D.; Sheppard, S. 2006. Molecular markers as a tool for population and evolutionary studies of stingless bees. Apidologie, 37: 259-274. Avise, J. C. 1994. Molecular Markers, Natural History and Evolution. Chapman & Hall, New York, 528p. 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Candango Bentes Candango Piranheira Klilton Tarumã S.Geraldo Paulo Lobato N.Esperança S.Sebastião RESEX 0 Bentes 7,09 0 Piranheira 6,82 5,6 0 Klilton 400,9 395,4 394,1 0 Taruma 404,2 397,8 395,4 10,3 0 398,75 393,2 391,8 5,4 15,4 0 Paulo 142,6 135,8 135,2 260,8 261,9 258,8 0 Lobato 141,1 134,3 134,6 263,1 264,1 261,8 7,46 0 N.Esperança 1.124,60 1.114,70 1.118,10 730,2 726,3 732,9 982,6 983,4 0 S.Sebastião 1.121,30 1.123,40 1.114,80 727,4 723,50 730,90 979,5 980,4 7,42 0 RESEX 1.187,10 1.181,30 1.180,50 788,90 786,40 791,70 1.045,10 1.046,80 86,19 93,4 S. Geraldo 0 61 Tabela 13 - Distâncias geográficas (em Kilometros) entre os pontos de coleta de amostras das populações de Melipona seminigra nas localdiades do estado do Amazonas. Marajaí Marajaí S. Geraldo Klilton M.Pascoal C.Pirera Neuzilena Paulinho Panelão Paulo Lobato 0,0 S. Geraldo 533,3 0,0 Klilton 530,6 5,4 0,0 M.Pascoal 536,7 11,9 9,1 0,0 C.Pirera 526,8 7,8 9,9 18,7 0,0 Neuzilena 496,2 89,5 92,6 101,8 82,6 0,0 Paulinho 500,5 85,5 88,6 97,9 78,7 5,4 0,0 Panelão 500,7 86,9 90,2 99,4 80,3 5,2 1,7 0,0 Paulo 787,4 258,8 260,8 254,3 267,0 326,1 320,5 321,2 0,0 Lobato 789,2 261,8 263,1 256,2 269,2 329,9 324,8 325,4 7,46 0,0 62 ANEXO B – Coordenadas geográficas das localidades amostradas. 1 2 3 Figura 10. Localidades amostradas para Melipona compressipes no Município de Jutaí, no estado do Amazonas. 1 - Comunidade São Sebastião (propriedade do Sr. Davi) (2° 29' 31.67" S; 66° 34' 51.28" W), 2 - Comunidade Nova Esperança do Genipapo (2° 33' 13.97" S; 66° 36' 36.00" W), 3- Resex (Reserva Extrativista) (3° 6' 13.68" S; 67° 9' 37.37" W). 63 1 2 3 4 5 Figura 11. Localidades amostradas para Melipona compressipes (Mc) e Melipona seminigra (Ms) nos Municípios de Manaus (pontos 1 a 4) e Cacau Pirera (ponto 5) no estado do Amazonas. 1 - Tarumã (Mc) (02º 58’ 14.35” S; 60º 5’ 8.89” W), 2 - Monte Pascoal (Ms) (3° 0' 28.43" S; 60° 0' 2.19" W), 3 - Klilton (Mc e Ms) (3° 4' 11.09" S; 60° 3' 13.50" W), 4 - São Geraldo (Mc e Ms) (3° 6' 45.19" S; 60° 1' 43.26" W), 5 - Propriedade do Sr. Valtino (Município de Cacau Pirera) (Ms) (3° 9' 9.79" S; 60° 5' 11.80" W). 64 1 3 2 Figura 12. Localidades amostradas para Melipona seminigra no Município de Careiro Castanho. 1 - Paulinho (Propriedade do Sr. Paulo) (3° 48' 33.00" S; 60° 21' 45.70" W), 2 - Comunidade do Panelão (3° 49' 28.61" S; 60° 21' 44.22" W), 3 - Neuzilena (Propriedade da Sra. Neuzilena) ( 3° 49' 23.59" S; 60° 24' 34.38" W). 65 1 2 Figura 13. Localidades amostradas para Melipona compressipes e Melipona seminigra no Município de Urucará. 1 - Propriedade do Sr. Lobato (2° 28' 27.90" S; 57° 45' 19.37" W ), 2 - Propriedade do Sr. Paulo (2° 32' 26.09" S; 57° 45' 56.90" W). 66 1 3 2 Figura 14. Localidades amostradas para M. compressipes no Município de Parintins. 1 - Bentes (Comunidade Menino Deus) (2° 29' 23.50" S; 56° 32' 22.99" W), 2 - Piranheira (2° 32' 24.29" S; 56° 32' 38.33" W), 3 - Candango (2° 31' 22.30" S; 56° 29' 6.18" W).