Semelhanças e diferenças
entre o Peru e o Brasil
relacionadas à iniciativa da
erradicação da poliomielite
Eduardo Ponce Maranhão
ENSP/Fiocruz
Dilene Raimundo do Nascimento
COC/Fiocruz
junho/2005
Semelhanças
●
Política- ambos os países passaram por governos autoritários (ditaduras
militar - civis)
●
Agências internacionais (OPAS, Rotary) estimularam a ação interna
governamental. A OPS com o PAI e com a iniciativa de erradicação deu
passos significativos no desenvolvimento de um modelo de cooperação
técnica horizontal. Buscou promover a geração de informação, formação
de recursos humanos, a política de tecnologia em saúde e elaboração de
uma metodologia de cooperação técnica em saúde pública.
●
Mudança na visão da população relacionada a imunização (uma “cultura
da vacinação”).
●
Ambos os Ministérios da Saúde acreditaram na importância do Programa
de imunização e implementaram e proveram suporte.

Ambos os países participaram do curso internacional da erradicação da
poliomielite promovido pela OPS (epidemiologistas).
Diferenças

No Brasil, a estrutura geral de saúde já existia (muito antes de 1980). No
Peru, uma pequena infra-estrutura estava começando a se desenvolver
(na década de 1980) e as campanhas de vacinação serviram para a
construção da infra-estrutura da imunização – enquanto a estrutura geral
da saúde começou a declinar (mais a partir de 1985);

No Peru não houve oponentes à estratégia de campanha de pólio por
parte de médicos e sanitaristas, já no Brasil houve oposição (disputa por
espaço político;visão técnica; rotina X campanha; centralização X
descentralização; verticalização X horizontalização)

No Peru, epidemiologistas e educadores não trabalharam juntos. De fato o
sistema epidemiológico entrou em colapso na segunda metade dos anos
1980 devido à crise econômica e à violência política (Sendero Luminoso;
MRTA e outros). No Brasil, os educadores e epidemiologistas trabalharam
em conjunto e em dupla e desde o início (1980) percorreram o país para
convencer as equipes locais de V.E e de vacinação, assim como
autoridades estaduais e municipais quanto a viabilidade e a necessidade
de manutenção e permanência da proposta.
Diferenças

No Peru a guerra (“guerra suja”) contra a guerrilha
(Sendero
Luminoso-1980 – maior atividade do S.L. de 1985-1992, Tupac
Amaru -1984, Puka Llacta) ocorreu com toda a sua força
principalmente na década de 1980. O que foi um fator de
grande dificuldade para a implementação da iniciativa da
erradicação.

Já no Brasil na década de 1980 o país iniciava a “ abertura
lenta, gradual e progressiva” , e não havia mais guerrilha.
Diferenças
Quanto a política de saúde:

No Brasil, a fase de ataque para o controle da pólio iníciou (em
1980) com razoável grau de centralização e verticalização.
Progressivamente ao ir avançando e ultrapassando a fase de
controle em direção à iniciativa da erradicação (em 1986) foi
progressivamente se horizontalizando e descentralizando. Já no
Peru a iniciativa da erradicação se manteve, com alto grau de
centralização e verticalização durante todo o processo.

O Brasil tem maior tradição de programa de imunização. Em 1973
criou o PNI e em 1975 o SNVE, onde se incluem as doenças
imunopreveníveis. O Peru só começa 6 anos após, em 1979 [PAIPeru].

No Brasil, o processo de erradicação da poliomielite ocorreu
concomitantemente ao processo de reforma sanitária.
A reforma
do setor saúde no Peru só começa a ocorrer após a certificação da
erradicação em 1994.
Outras diferenças
Quanto aos recursos humanos:
O Peru somente começa a capacitação/ treinamento de seus
recursos humanos para a iniciativa da erradicação da poliomielite,
com o apoio da OPS, após 1985.
O Brasil com o apoio da OPS, desde 1980, teve um programa de
capacitação de pessoal para vários componentes do Programa de
Imunização (CBVE,CIVE, rede de frio)
Quanto aos recursos financeiros:
O Brasil fez grande investimento em imunização a partir de 1980,
enquanto o Peru este só vai ocorrer a partir de 1986.
A iniciativa da erradicação da pólio no Brasil foi
predominantemente com recursos nacionais, enquanto que o Peru
teve grande apoio de recursos internacionais, predominando os
fundos do Rotary Internacional e AID.
Outras diferenças
Quanto a tecnologia:
O Brasil produzia a OPV a partir do concentrado viral importado, que atendia
parte da demanda nacional; a outra parte era comprada diretamente em
laboratórios estrangeiros (no mercado aberto).
O Peru comprava a vacina OPV através do Fundo Rotatório (OPS), com
recursos disponibilizados pelo Rotary.
O Brasil tinha laboratório para o diagnóstico da poliomielite e outras doenças
imunopreveníveis.
O Peru enviava suas amostras de fezes (isolamento viral) para o Laboratório
de Enterovírus da Fiocruz no Brasil.
O Brasil implementou e desenvolveu a sua rede de frio, a partir de 1973 e o
Peru somente a partir de 1985 (maior impulso em 1982 e 1983).
O Peru utilizou dentro da estratégia de campanha prioritariamente a tática de
vacinação casa-casa (operación barrido sanitario, mop-up, operações
limpeza) nos DNVs (VANs, JNVs).
Já no Brasil predominou a tática de postos fixos (concentração) nos DNVS.
Outras diferenças
Quanto a mobilização social:
O Brasil , já em 1973, no seu Programa Nacional de Imunização
propunha “informação e mobilização da comunidade para
assegurar a adesão informada da população”. As estratégias e
esforços para mobilização social no Peru só começam a existir a
partir de 1986
(antes a atitude do governo e da população era bastante passiva)
Quanto a política de recursos humanos após 1985:
O Brasil criou o GT-Pólio em 1986, sendo todos os técnicos desse
grupo do Ministério da Saúde e pagos pelo país. No Peru todos os
5 técnicos de sua força tarefa (task force) foram pagos e suas
atividades financiadas pela OPS.
Quanto ao alcance da meta:
Brasil, último caso, em Souza, na PB - 1989.
Peru, último caso, em Junin - 1991
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