VIII Congresso Português de Sociologia
Secção/Área Temática: Educação, Sociologia da [ST]
Tipo de Comunicação: Comunicação
Título: Educação para o consumo no espaço da escola: os mercados solidários para crianças
como prática pedagógica
Autor: Luciane Lucas dos Santos
Resumo: O consumo, como prática social, não constitui um ato solitário. Uma vez que os
sentidos em circulação nos bens são sociais, pode-se dizer que o coletivo tem papel
importante nas decisões de consumo dos indivíduos, especialmente porque consolida
representações sociais dominantes acerca de conceitos como os de beleza, verdade, justiça,
entre outros. Problematizando estas questões no contexto do imaginário infanto-juvenil, este
artigo discute não só o papel da educação na reflexão sobre o consumo, mas também seu
lugar como espaço de encontro com outras práticas, capazes de estimular, na criança, um
olhar novo sobre o mundo que a envolve. Dentre estas práticas novas que a Educação tem
assimilado, ressaltamos os mercados solidários para crianças com recurso à moeda social, as
oficinas pegagógicas de criação de brinquedos colectivos e as práticas pedagógicas que
incorporam, nas diferentes disciplinas, um debate mais amplo sobre o modelo de
desenvolvimento, tais como fazem, atualmente, a etnomatemática ou a química crítica
(Knijnik, 2007; Santos, Schnetzler, 1996). Sendo o consumo, hoje, um dos principais
marcadores identitários e constituindo um mecanismo reconhecido de classificação social como já apontavam os estudos de Veblen, Simmel e Bourdieu -, espera-se que a escola,
comprometida com a valorização da democracia e com a justiça cognitiva (nos termos
propostos por Boaventura de Sousa Santos), fomente com criatividade outros modos de
construção e fortalecimento da identidade. Neste sentido, os mercados de troca - que vem se
disseminando em várias regiões de Portugal a partir do Mercado de Trocas para Crianças de
Coimbra -, têm iniciado um oportuno diálogo com as escolas. Interessa-nos, neste artigo,
analisar exatamente as possibilidades epistemológicas deste diálogo. Analisaremos, aqui,
não só a interação deste Mercado com as escolas da região, como também o potencial de
mudança nas práticas de consumo destas crianças a partir de três oficinas pedagógicas
promovidas pelo Mercado de Trocas em uma escola de Coimbra. Tais oficinas - Brincadeira
boa não precisa de brinquedo novo, Brinquedo parado não diverte e Dividir pode ser
Multiplicar: porque os brinquedos devem voltar ao circuito de trocas – propunham
mudanças no hábitos de consumo das crianças, trabalhando o desapego em relação aos
brinquedos e bens diversos consumidos, bem como a separação entre divertimento e
acumulação progressiva de objetos sempre novos. Tendo como pano de fundo o Mercado de
Trocas para Crianças em Coimbra (que utiliza como moeda social os jardins) e a feira de
trocas do Centro Marista Florescer no Brasil (que utiliza como moeda social os
florecos),discutiremos os mercados/feiras de trocas infantis como prática pedagógica dentro
das escolas, assim como os possíveis contributos de oficinas de consumo solidário para a
reformulação de padrões de consumo infantil.
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Educação para o consumo no espaço da escola