A MTV BRASIL E A FORMAÇÃO CULTURAL DOS JOVENS: DUAS REALIDADES DISTINTAS EM UM SÓ CANAL João Paulo Feliciano Fernandes1* Cristiano Alvarenga Alves** RESUMO: Este artigo visa discutir a dualidade ideológica da MTV Brasil. Por um lado algumas atrações incitam os jovens a refletir sobre seu papel quanto cidadão, e outras que por meio de valores capitalistas domesticam cada vez mais seus telespectadores, enchendo-lhes de produtos consumistas, assim pondo-lhes a mercê da passividade concernente ao sistema. E, além disso, levantar alguns pontos acerca de possíveis consequências, no futuro, desse tipo de produto midiático veiculado nos dias atuais para os jovens brasileiros. Palavras chave: MTV. Criticidade. Jovens. Educação. Capitalismo. O Papel da Televisão No Brasil, a indústria televisiva é grandiosa, uma vez que possui inúmeros canais abertos que disseminam informações de todo tipo para cada segmento da sociedade brasileira, para cada classe social. De programas infantis a jornais, aquele que habita o país tem um leque de opções gratuitas para escolher. Mas, muitas vezes o conteúdo apresentado em determinados programas não fazem referência ao que é proposto como ideal profissional do jornalismo, que é levar informação a sociedade e orientar cada indivíduo sobre as questões sociais, seus direitos e as próprias relações. “Vive-se numa época narcisista, em que os contornos do eu estão mais valorizados do que as questões sociais e de natureza geral. Caminha-se pelas cidades, cada qual com seu mundo, protegendo-se, evitando-se, perseguido por informações das mais variadas e que não dão acesso à centralização no conteúdo e as mensagens não representam muito no sentido de informar. São paisagens vagas, sem muito a dizer”. (LIPOVETSKY, 1993 – OLIVA, 2005) 1 * Estudante do 4° período de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Faculdade Católica de Uberlândia. ** Orientador: Graduado em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo pelo Centro Universitário do Triângulo, Especialista em Educação em Docência, professor do curso de graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Faculdade Católica de Uberlândia e jornalista da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Logo, o discernimento crítico deveria ser fundamentalmente trabalhado em alguns canais, essencialmente se esses forem direcionados a parcela mais jovem da população, e também nas instituições de ensino de qualquer nível. Uma vez que, às vezes, a televisão acaba por substituir a escola, tem-se um problema: A televisão é mais ágil do que a escola. Esses dois instrumentos de educação não são concorrentes, mas cabe a escola se mobilizar na busca de ações que possibilitem aos educadores preparar melhor o espectador para que ele não seja seduzido por necessidades artificiais. (MARINHO, 2002). No caso da MTV, canal direcionado aos jovens, é apresentado dois estilos diferentes inseridos em sua programação. Enquanto que por um lado há uma dedicação ao entretenimento com vídeo clipes e informações sobre o mundo da música, por outro se tem programas que priorizam instigar a criticidade de seus telespectadores. Mas, em meio a tanta informação qual o papel da televisão em relação ao homem? Álvaro Fernando Ferreira Marinho aponta em Educação e Televisão¹ que as emissoras nacionais se desprendem do dever de veicular conteúdo educativo, e se voltam mais para o lado da comercialização da informação, assim sendo visam somente audiência e, por conseguinte o lucro, “Só que a preocupação da maioria das emissoras tem sido com a audiência e não com o conteúdo educativo.” (Marinho, 2002, página 112). Conclui-se a partir da premissa de Marinho que nem sempre o conteúdo veiculado para o público confere com o que realmente beneficia o intelecto do homem. E o que torna mais relevante a preocupação com o discorrido neste último parágrafo é a substituição dos temas educacionais nas grades das redes de televisão por publicidade, material que apenas reafirma na mente de quem assiste o espírito do consumo: “Apesar de ser considerada um instrumento educativo, a televisão tem como prioridade a divulgação da publicidade. Dessa forma, e num ritmo alucinante, a televisão fala e mostra cenas e fotografias que possibilitam ao telespectador se deter em alguma coisa específica.” (MARINHO, 2002). O problema apresentado anteriormente está diretamente ligado ao jovem. Não existe tanta programação educativa no Brasil, e mesmo quando se tem acesso, a preferência da juventude é trocar de canal, isso por sua vez, leva os jovens justamente àquela emissora onde se transmite os comerciais e os programas mais interessantes, aquela que mais possui imagens ligadas aos seus anseios, ou seja, aquela que é mais atrativa, instalando e firmando consequentemente modos de pensar consumistas. “A mensagem televisionada trabalha para conquistar o telespectador através das emoções oferecendo um cotidiano diferente. E justamente nessa conquista que esse meio de comunicação de massa explora os sentimentos do telespectador para divulgar os valores”.(MARINHO, 2002) Mas tais ideologias não se restringem às publicidades vendidas durante os intervalos dos programas, mas também nas próprias atrações, as roupas usadas pelos apresentadores, a maneira como falam e sua moral apresentada em forma de comportamento. A MTV (Music Television) A MTV (Music Television), canal de entretenimento norte-americano do conglomerado de mídia americano Viacom, deu inicio a suas operações no dia 1º de agosto de 1981. No início, a programação era voltada a clipes musicais, apresentados e comentados de maneira irreverente pelos VJ’s (nome dado aos apresentadores em qualquer filial do canal), coberturas de shows de rock, documentários sobre bandas e etc. Desde seu surgimento nos Estados Unidos, a MTV tem priorizado a atitude, atribuição básica aos jovens do século XX. Logo, percebe-se que tudo o que é veiculado por este canal tem seu foco na juventude, que é seu público-alvo, e por isso se preocupa tanto em ser atual, lançar e estar na moda, agradando seus telespectadores. Aqui no Brasil, o nascedouro da MTV nacional data de 20 de outubro de 1990, a partir de um acordo entre a TV Abril e a MTV Networks, que era uma das precursoras do canal norte-americano. No território brasileiro, a estética da programação não era diferente, havia apresentação de clipes musicais, e os VJ’s eram cheios de atitude e juventude correndo por suas veias, assim como ainda são hoje. A partir daí, muitos jovens foram se identificando com o que surgira na televisão do Brasil, ali estava sua linguagem, seus comportamentos, tudo o que fazia parte de sua realidade fora oferecido pelo novo canal. Segundo Rodrigo Oliva, em “O Intervalo Comercial da MTV pelo Viés da Fragmentação e Pós-modernidade”, a MTV é um canal pós-moderno e para entender sobre ela e o porquê de sua influência, é imprescindível se fazer uma reflexão sobre tal: A MTV é considerada uma televisão pós-moderna, sendo assim, é necessário compreender os conceitos que envolvem a pós-modernidade e todo o espectro que caracteriza os clipes, a programação, e como a comunicação publicitária dialoga com as características peculiares desses modos de ver. (OLIVA, 2005) Segundo Gilles Lipovetsky, filósofo francês, professor de filosofia da Universidade de Grenoble e teórico da Hipermodernidade, em entrevista ao site Moda Brasil (www2.uol.com.br/modabrasil), a pós-modernidade concerne a valores e atitudes ligados a moda, a uma tendência forte, onde se enaltece mais o corpo, e se adquire a autonomia individual: A pós-modernidade pode se definir por todo um conjunto de traços e não somente pelo fracasso das ideologias. Coincide também com o culto da autonomia individual, o culto do corpo com o código psicológico e relacional. Todos esses fatores fazem com que passemos para um outro tipo de sociedade democrática e que não é mais organizada pelo que Foucault chamou de forma disciplinar. É, doravante, a diversificação, o self-service que organiza a vida na democracia avançada. Então, de certo modo, a lógica da moda cria um conformismo e, ao mesmo tempo, cria mais autonomia e paixão para governar-se a si mesmo. E esta extensão do self-service e da autonomia individual, em todos os aspectos da existência, coincide com a pósmodernidade. (MODABRASIL, acesso em 07 e novembro de 2010). Lipovetsky também aponta que esse novo contexto de pós-modernidade acaba por gerar na sociedade um conformismo tamanho, que as pessoas aceitam, mais do que passivamente, aquilo que recebem pelos veículos de comunicação, como o popular dito “pão, pão, queijo, queijo”. O intuito da MTV brasileira a princípio era entreter. Inicialmente ela transmitia quatorze horas de programação, contudo, com o passar do tempo ela modificou parte da sua programação, adquirindo um lado mais jornalístico, apresentando alguns documentários, e desenvolvendo programas de debate e reflexão, como o MTV Debate. Esse estilo de programa oferece a quem assiste pontos diferentes sobre os assuntos discutidos, geralmente assuntos polêmicos que estão em pauta na sociedade. Discuti-los se torna importante, pois gera nos jovens, discernimento para enxergarem as coisas do mundo. De certo modo, é possível garantir uma sociedade maduramente mais reflexiva com programas desse tipo. O Pop Popularmente Dominante A palavra que incorporou um estilo música, o pop, tem origem no vocábulo popular, que significa algo comum, algo partilhado por muitos. Assim é a música pop, algo que é consumido em massa. Com ritmos que refletem o que dita a tendência musical, a música pop é o que mais leva os jovens, militantes desse movimento nada político, a consumirem. A popularização da música, bem como de toda e qualquer arte remete ao que fora nomeado de Indústria Cultural, termo criado pelos pensadores da Escola de Frankfurt, grupo o qual se limitou a estudar e entender como a cultura erudita se confundiu com a popular e juntas se tornaram um produto só, a Cultura de Massa (Mass Media). A teoria desenvolvida por essa escola foi chamada de Teoria Crítica, que se baseia em analisar os frutos dos processos de comunicação midiáticos, como a indústria cultural. A expressão indústria cultural sisa substituir a expressão cultura de massa, pois essa induz ao engodo que satisfaz aos interesses dos detentores dos veículos de comunicação de massa. A indústria cultural é o responsável pela produção cultural em série ou industrializada, ou seja, o produto cultural industrializado ou produzido em série, ou “em massa”, mediante a utilização de técnicas de reprodução, por uma classe diferente daquele que vai consumir. Ou ainda, “produtos culturais manufaturados apenas para o mercado de massa” (GOMES, 1997). Fazem parte da indústria cultural os meios de produção e difusão ligados ao mercado internacional de consumo, direcionados para um público de massa. Abrange o disco (CD), livro cinema, rádio e televisão. (NERY e TEMER, 2009) E quando se pensa em algo que atende a uma maior camada da sociedade, logo é possível concluir que, isso se torna mais rentável mercadologicamente falando, pois seus consumidores são segmentados, pelo contrário, seus clientes possuem muitas características diferentes umas das outras. Partindo disso, percebe-se que quanto mais adeptos um produto, nesse caso um programa, ou canal, mais fácil será a disseminação de suas ideias, logo visualiza mais uma vez o problema citado anteriormente, se não for trabalhado com qualidade e buscando a excelência na formação dos indivíduos pode se tornar caótico o futuro do Brasil, como semi-cidadãos preparados para comer, trabalhar, dormir e procriar, sem saberem o porquê disso. Talvez considerações como essa sejam levadas ao extremo, mas o que a mídia faz é exatamente isso, só que de uma forma sutil. Sem que ninguém perceba, são alvejados com mais e mais informações livres de qualquer agregação intelectual, posicionando-os em um transe conceitual irreal da vida, acreditando que tudo é simplesmente aquilo. Cada vez mais informações sobre novidades, tecnologia e entretenimento tem tornado as pessoas mais tecnológicas e autônomas, tão autônomas que se encontram sozinhas para tudo, ficando assim mais vulnerável para serem coagidas pelas ideias capitalistas de que aquela roupa é necessária, que essa ou aquela gíria é legal e da moda, e quem não a segue é só mais um tolo na sociedade, pobre desses que assim pensam, pois eles são os únicos tolos da história. Logo, essas se veem reféns de algo muito maior do que elas. Esse comportamento de dependência e servidão do homem, que busca na indústria cultural a sensação confortável, dá a impressão de que o mundo está absolutamente em ordem. Mas as transformações do homem mostram que muitas conquistas são falsas. O homem contemporâneo experimenta muito mais as novas sensações e acompanha com mais facilidade a evolução tecnológica. Mesmo assim, e em muitos momentos, ele acaba sendo dominado pela própria falta de consciência; os meios de comunicação de massa têm grande parcela de responsabilidade nesse processo. (MARINHO, 2002) E se tratando disso, pode-se aqui citar e alocar bem os jovens a essa categoria. Os jovens vivem numa fase de imediatismo e modismo, onde tudo que é novo é legal, e aquilo que é retrógrado é obsoleto, ou ineficaz para seus anseios. Ou seja, o vídeo-game lançado essa semana, não será o mesmo que na semana que vem, mesmo que o mesmo seja de uma única companhia de eletrônicos, afinal um é mais novo do que o outro. É essa inconstância dos jovens que os fragilizam, e os deixam abertos a receberem aquilo que sacia suas vontades. Portanto, depois de fragilizados eles estão prontos para irem para frente da TV, onde é encontrado um mundo novo, um mundo daquilo que eles não possuem, um mundo lúdico e distante, mas ao mesmo tempo perto, pois basta comprar para ser como aqueles ali dentro daquela caixa que transmite imagem. Como exemplo, do que fora referido anteriormente, temos o programa Scrap MTV, apresentado pela VJ e estilista Marimoon, Mariana de Souza Alves Lima. No ar desde 28 de janeiro de 2008, o programa traça como linha editorial abordar temas como moda, música, jogos eletrônicos e internet. Em muitas cores, os temas abordados pelo programa sempre estão em repercussão, seja a banda da moda, o vídeo mais assistido, ou mais interessante da internet, blogs engraçados ou de futilidade juvenil. Os seja, aquilo que os jovens e adolescentes mais procuram, e que fazem parte de sua rotina diária, afinal hoje em dia é muito difícil encontrar um jovem que não possua nenhum tipo de perfil em alguma rede social, ou que jogue um jogo super atual, ou que seja fanático em uma banda tendência do momento. O programa O programa Scrap MTV possui uma linha editorial que tem como foco o entretenimento informativo, já que o mesmo apresenta notícias do mundo jovem, jogos, músicas e internet. Dentro desses assuntos, se vê colocado em pauta para discussão os temas mais atuais como as aparelhagens mais tecnológicas e inovadoras para as plataformas de vídeo-games, os sites mais interativos, independente do idioma, em algumas edições onde são abordadas páginas internacionais, a apresentadora tem o cuidado de explicar passo a passo como se divertir no site. O carisma e a estética daquela que conduz o Scrap MTV, Marimoon, referem-se bem ao que os jovens se identificam. Ela é uma mulher bonita, e, além disso, possui piercings e sempre está com o cabelo colorido. Essas características satisfazem a atenção dos jovens. A linguagem da VJ também familiariza o ambiente e a informação para o telespectador. Os quadros do programa firmam por fim seus interesses. Em um deles, o #euri, curiosidades engraçadas sobre estrelas nacionais, e internacionais, são postas em discussão, geralmente acompanhadas por vídeo ou foto, ou até mesmo, os dois. Em outro os games são a base das pautas. Os jogos são apresentados, analisados e criticados por uma especialista, a jornalista Flávia Gasi, que demonstra ter bastante conhecimento daquilo que fala. o Scrap Mtv também possui algumas dicas de moda e entrevistas. É importante ressaltar que todo o conteúdo apresentado é atual. Discernindo Jovens Mas a programação da MTV Brasil possui outro lado, algo totalmente diferente do que foi apresentado anteriormente, que se opõe a ideia passiva massivamente trabalhada e repassada por outros programas. Trata-se de materiais que visam abordar assuntos dotados de um cunho crítico maior. São documentários e atrações de debate que sustentam essa outra característica da emissora, o discernimento crítico. Mas desenvolver esse novo estilo de programação não foi fácil, já que a realidade do jornalismo no Brasil não é tão satisfatória assim. Existe um monopólio evidente que acaba por inibir as outras emissoras que tentam alavancar no estilo. Em consequência a isso, o jornalismo brasileiro se vê totalmente dependente das agências internacionais, no eu se refere à cobertura de casos estrangeiros. A cobertura jornalística brasileira é extremamente pobre, se comparada ao modelo americano e europeu. A única emissora que consegue realizar uma cobertura nacional efetivamente é a Globo - o projeto jornalístico do SBT nunca vingou e o da Cultura claudica em função de problemas de sobrevivência e de estrutura. A cobertura internacional veiculada no Brasil é quase sempre adquirida das agências internacionais. Outro problema diz respeito à aferição de pesquisas e à questão da classificação das camadas ABC, citadas com insistência em qualquer pesquisa hoje. (LUSVARGHI, 2005) As marcas do novo estilo da MTV brasileira se evidenciaram quando a mesma, em 2002, lança a campanha “Tome conta do Brasil”, que visava incitar os jovens, por meio de vinhetas, comerciais e pelos próprios programas da casa, sobre sua responsabilidade quanto cidadão, nas eleições do mesmo ano, as quais escolheriam o representante da federação, o presidente, na época foi eleito para o cargo Luis Inácio Lula da Silva, vulgo Lula. Todavia, mesmo em meio as transformações o canal não perdeu sua irreverência. Adquiriu-se mais conteúdo jornalístico, mas sem perder as características únicas que diferenciam a emissora de qualquer outra nacional. Uma característica interessante da MTV Brasil, possibilitada pela sua estrutura enxuta, é que os assuntos jornalísticos são debatidos não somente com os repórteres e entrevistados, ou no núcleo de jornalismo. , uma característica do jornalismo sob a globalização, o infotenimento, nem sempre evidente nas redes abertas. Por exemplo, se o núcleo de jornalismo pautar os riscos da pílula do dia seguinte, em função do problema que o País tem com jovens mães solteiras, o jornalismo se reúne com a programação musical e não-musical. (LUSVARGHI, 2005) Entre os programas que foram surgindo a partir dessa nova onda ideológica da emissora, cria-se o MTV Debate, programa dedicado a discutir temas atuais e pertinentes, acredita-se que este programa possa ser exemplo claro de jornalismo, afinal, ele se baseia em colocar um tema em cheque e apresentar opiniões sobre o mesmo, geralmente, aqueles que se opõe. As discussões propostas pelo MTV Debate estão intimamente ligadas à atualidade, e ao jovem. Tecnologia, valores, consumo, futuro e comportamento são temas básicos. Por exemplo, em anos de eleição o canal se preocupa em mostrar ao jovem qual o seu papel na sociedade, ainda refletindo na antiga campanha “Tome conta do Brasil”. E ainda leva o telespectador a se auto questionar com perguntas do tipo, o voto deve continuar obrigatório? Isso expõe mais ainda a preocupação do canal em discernir a criticidade dos jovens. Mas, a preocupação da emissora não se volta unicamente para os temas políticos, tem se falado muito em sustentabilidade e ética em determinados casos, que são analisados em programas como o MTV Debate. O programa O programa MTV Debate, que vai ao ar às 22h30, vem sendo apresentado desde 2007 pelo músico e roqueiro João Luiz Woerdenbag Filho, mais conhecido como Lobão. O apresentador não representa o estereótipo americano. O mesmo não segue um padrão de beleza comum aos demais VJ da casa. Apesar disso, sua maneira de conduzir a atração é única, com o uso de linguagem predominantemente culta, o músico e apresentador, que domina os assuntos abordados, opina e guia o debate que envolve especialistas e pessoas comuns. Os temas discutidos são vários, segue uma lista com alguns recentemente apresentados: • Bullying virou diversão? (02 de novembro de 2010) • A privacidade está em risco? (26 de outubro de 2010) • Quem vence o 2° turno das eleições? (05 de outubro de 2010) • A televisão tem futuro? (14 de setembro de 2010) Discutir tais temas se torna relevante na situação vivida atualmente já que a grande maioria dos jovens se vê imersa neste emaranhado de corrupção psicológica, que é a programação desprendida de qualquer cunho educacional ou discernitivo. Logo, cabe refletir sobre que tipo de cidadãos estão sendo formados neste século. O entretenimento televisivo vem ficado cada vez mais presente, enquanto que programas educativos, que falam sobre sociedade, respeito, cultura, têm se tornado obsoletos, e passíveis ao descarte tão comum na atualidade. Apresentado o problema, é possível encontrar sua solução, ou uma possível, no próprio contexto que encabeça a discussão, que se refere a possibilidade de mudar os jovens, até então passivos frente aos impasses da vida. É importante entender que se tratam de jovens correspondentes a uma maioria ligada diretamente ao mundo do consumo. Esses vivem por esse mundo, habitam e se tornam ele, e não é errôneo afirmar que podem morrer nele, sem que tenha havido quaisquer mudanças de comportamento ou pensamento. Quadro Comparativo – Duas Faces em Uma Só Cabeça Scrap MTV Apresentador Linguagem Temas Horário Reprise Twitter MTV Debate Marimoon Lobão Linguagem com gírias, bem Linguagem que varia da formal à peculiar aos jovens culta Mundo jovem, internet, música, e Política, educação, jovem, drogas, entretenimento em geral sexo, influências, etc. Terça-feira, 20h00 Terça-feira 22h30 Sexta às 17h00, Sábado às 19h00, Quinta à 01h30 e às 14h00, Domingo às 18h30 Sábado às 13h00 145.464 seguidores (acesso em 25.955 seguidores (acesso em 22/11/2010 – 17h38) 22/11/2010 – 17h40) Interatividade Sim Sim É possível identificar bem as diferenças entre os estilos opostos adotados na programação da MTV Brasil. Dois quesitos a serem destacados, Reprise e Twitter, contata-se a partir da análise que, o programa Scrap MTV, de ideologia mais pop e consumista ganha um dia a mais na semana quando reprisado, ainda que ambos tenham a mesma quantidade de horários. Além disso, nota-se que o número de seguidores, no Twitter, do MTV Debate é equivalente a 17,84% em relação a quantidade de seguidores do programa comandado pela VJ Marimoon. Considerações finais Visto que a emissora analisada, a MTV Brasil, possui uma dualidade ideológica em sua grade de programas, foi possível constatar e analisar como ela atua na sociedade e como ela pode, a certo modo coagir o jovem tornando-o mais passivo perante a sua própria realidade. Realidade essa, evidenciada pela outra face do canal, um lado que é responsável pela orientação e discernimento do jovem, aquele que se preocupa com a formação cultural da nova sociedade constituída até então pelos semi-cidadãos em crescimento e evolução. Para que seja solucionado o problema do retardamento que acontece de maneira nãoprogressiva, mas gentilmente sutil na mente dos jovens, sugere-se que haja um investimento maior de materiais que envolvam algum tipo de incitamento à criticidade da juventude, e que essa não seja apenas parasita da televisão, ou seja, que não fique em estado estático absorvendo de maneira natural e crua aquilo que é proferido por ela. Quanto aos programas mais rentáveis à rede, não se faz necessário a exclusão dos mesmos ou seu esquecimento, talvez, se fossem lhes dado uma boa dose de crítica e preocupação com a sociedade e com o mundo de maneira geral, ainda haveria coisas boas para se extrair deles. Vale ressaltar mais uma vez que a sociedade de hoje, se assim continuar, será a mesma de amanhã, e assim constantemente. REFERÊNCIAS LUSVARGHI, Luiza, MTV no Ar: Tome Conta do Brasil, 2005; MARINHO, Álvaro Fernando Ferreira, Educação e Televisão: A Intencionalidade PolíticoPedagógica de Programas Voltados Para o Público Jovem, 2002; NERY, Vanda Cunha Albieri & TEMER, Ana Carolina Rocha Pessoa, Para Entender as Teorias da Comunicação, Edufu, 2ª edição, 2009; OLIVA, Rodrigo, O Intervalo Comercial da MTV Pelo Viés da Fragmentação e PósModernidade, 2005; <www2.uol.com.br/modabrasil/entrevista/gille/index2.htm> - Acesso em sete de novembro de 2010; <www.mtv.uol.com.br> - Acesso em sete de novembro de 2010; <http://twitter.com/#!/mtvdebate> - Acesso em 21 de novembro de 2010; <http://twitter.com/#!/scrap_mtv> - Acesso em 21 de novembro de 2010.