CAPÍTULO 2 – ANDAMENTO DO PROJETO BÁSICO AMBIENTAL DO COMPONENTE INDÍGENA Anexo 8.2-2 – Monitoramento dos sistemas agrícolas nas TIs Paquiçamba e Arara da Volta Grande do Xingu MONITORAMENTO DO SISTEMA AGRÍCOLA De acordo com o PBA-CI, “o levantamento do sistema agrícola deverá subsidiar ações para a segurança alimentar e visa principalmente caracterizar as etapas, as práticas e técnicas relacionadas ao manejo das roças”. O levantamento do sistema agrícola deverá subsidiar ações para a segurança alimentar e visa principalmente caracterizar as etapas, as práticas e técnicas relacionadas ao manejo das roças. No monitoramento do sistema agrícola, deverá ser realizado um levantamento anual das novas roças, sendo caracterizados os tipos de solo, a manutenção dos recursos cultivados (tipo varietal/espécie), bem como a manutenção da agrodiversidade pelas famílias produtoras em cada aldeia. Desta forma, o presente relatório apresenta uma breve contextualização teórica sobre roças indígenas e possíveis vetores de transformações ao longo do tempo; os métodos de coleta de dados empregados no atual levantamento, incluindo o conceito utilizado para etnovariedades; os resultados do levantamento do sistema agrícola realizado no início de 2015 nas Terras Indígenas Juruna e Arara da Volta Grande do Xingu, incluindo as etapas, as práticas e as técnicas de manejo das roças e, por fim, as principais conclusões e recomendações visando a segurança alimentar dos povos Juruna e Arara. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA O sistema agrícola indígena Povos indígenas possuem amplo conhecimento sobre a natureza e o manejo dos recursos naturais a partir de seus sistemas tradicionais e saberes. Não somente pelas táticas de caça, pesca e coleta, mas os povos tradicionais possuem técnicas que correspondem à diversidade de recursos manejados e aos processos de produção de materiais de sua cultura e dos alimentos produzidos localmente. Estes conhecimentos acumulados por gerações, legado de seus antepassados, são na maioria das vezes muito próximos aos conceitos ecológicos de sinecologia1 e autoecologia2 reconhecidos na ciência ocidental. Isto permite que estas populações contribuam para a manutenção da diversidade biológica, adequando a intensidade de manejo, ou a 1 Também conhecida como Ecologia Comunitária, é voltada para o estudo das comunidades de seres vivos, a Sinecologia foca a distribuição das populações, suas relações ecológicas, demografia, deslocamento e quantidades. Também se encarrega de examinar as estruturas das cadeias alimentares, sucessões ecológicas e inter-relações entre predadores e presas. (Fonte: http://www.todabiologia.com/ecologia/ramos_ecologia.htm). 2 Estuda as espécies a partir de suas relações com o meio ambiente. Ou seja, como cada espécie (animal ou vegetal) reage separadamente à determinados fatores ambientais (clima, vegetação, relevo, etc.). É o um ramo científico clássico e, atualmente, seguido por poucos cientistas. (Fonte: http://www.todabiologia.com/ecologia/ramos_ecologia.htm). magnitude do distúrbio, com a resiliência do ambiente, ou seja, a capacidade deste em absorver as perturbações e restabelecer o equilíbrio do sistema (Berkes & Folke, 1994; Balée, 1988; 1993; 1994). Florestas que muitas vezes foram consideradas “virgens”, sem indícios de alteração, ou primárias, passaram a ser vistas como secundárias em função da ocorrência de pedaços de carvão ou outros artefatos que evocam ocupação humana em períodos anteriores ao presente (Brown & Lugo, 1990). Estes sistemas, que muitas vezes foram considerados destrutivos, demonstram que as florestas tropicais, quando manejadas pelos povos e comunidades tradicionais, apresentam maior diversidade em espécies florestais (Padoch, 2010). Algumas pesquisas já têm apresentado evidências de que povos indígenas possuem um complexo sistema de conhecimentos que proporciona um conjunto de práticas, relacionadas principalmente ao seu modo de subsistência, que tem contribuído decisivamente para o aumento da biodiversidade das florestas tropicais e ao domínio das plantas cultivadas - domesticadas (Alcorn, 1981; Balée, 1988; Balée, 1989; 1993; 1994, Posey, 1983; 1987a;1987b). Os sistemas agrícolas tradicionais indígenas utilizam-se em geral de grandes áreas de florestas em adiantado estágio de desenvolvimento, nas quais é realizada a agricultura itinerante, na maioria das vezes muito adaptada às condições de solo e clima e à diversidade local. Estes podem ser também definidos a partir de uma estratégia de manejo de recursos nos quais as áreas de florestas são abertas de maneira rotacional, de forma a melhor explorar os diferentes nichos florestais e os recursos relacionados a estes ambientes (Pedroso Jr. et al., 2008). Esta forma de agricultura, itinerante, representa uma resposta às dificuldades de estabelecer um agroecossistema na floresta tropical, onde o ecossistema se caracteriza por solos geralmente pobres mas com extremo potencial em diversidade de flora e fauna (FAO, 1991). Trata-se de um sistema multidiverso, que em sua grande maioria contribui para o aumento da diversidade de espécies florestais locais e proporciona diversos recursos para a subsistência das populações locais no mundo todo (Padoch, 2010). Neste sentido, muitos estudos vêm demonstrando que a interferência humana através das atividades agrícolas no processo sucessional da floresta acaba atuando como fonte de variabilidade das paisagens tropicais, mantendo, ou mesmo promovendo, a biodiversidade regional (Pedroso Jr. et al., 2008; Padoch, 2010). A agricultura de corte e queima é atualmente a principal atividade produtiva para a maioria dos povos indígenas (Schröder, 2003). O tamanho das roças indígenas na Amazônia costuma variar entre 0,5 e 5 hectares (Diegues e Arruda, 2001) e seu ciclo geralmente envolve as etapas de escolha do local, abertura, queima, plantio, cuidados pós-plantio, colheita e abandono para sucessão (Warner, 1991). As roças indígenas amazônicas costumam apresentar grande variedade de cultivos, o que pode ser considerado como uma estratégia para minimizar riscos, por exemplo por ataque por pragas (Schröder, 2003). Ainda que a variedade de plantas cultivadas seja alta, há, em geral, a predominância da mandioca para a maior parte dos povos indígenas (Schröder, 2003), com algumas exceções em que o milho (Viveiros de Castro, 1986) ou a banana é preponderante (Schröder, 2003). Para alguns autores, o sistema de agricultura de corte e queima, quando praticado tradicionalmente, isto é, em grandes áreas florestadas que permitam um manejo rotacional adequado, em condições de baixa densidade populacional, pode ser ecologicamente sustentável, sem comprometer a fertilidade dos solos (Pedroso Jr. et al., 2008), ou até mesmo aumentar significativamente alguns de seus nutrientes (FAO, 1991; Denevan, 2001; 200). Porém, situações adversas como a limitação aos territórios tradicionais de produção, a baixa mobilidade proporcionada por mudanças nos modos de ocupação, os novos hábitos alimentares ou mesmo a desconsideração das regras de acesso aos recursos que estejam no seu limite da capacidade de suporte e resiliência, podem trazer impactos na sustentabilidade e o sistema de corte e queima pode produzir efeitos nos modos de vida tradicionais. Sinais de esgotamento dos sistemas produtivos são prontamente reconhecidos pelos povos e comunidades localizados nestas áreas de florestas tropicais, que passam a buscar novas estratégias adaptadas às novas realidades enfrentadas. Processos de degradação dos solos agrícolas podem necessitar mudanças nos modos de produção, o que pode acabar tornando maior o esforço de produção em novas áreas de florestas maduras, localizadas mais distantes. Mas nem sempre estas condições são possíveis, pois os solos tropicais são diversos e muitas vezes as terras mais férteis são escassas. Neste caso, as mudanças podem levam a uma “intensificação” dos sistemas, onde os períodos de pousio necessários à recuperação das características edáficas importantes para o plantio, principalmente dos recursos mais exigentes, tornam-se inviáveis no contexto ambiental e sociocultural, levando a perdas da diversidade agrícola cultivada e dos recursos antes mais presentes nos ambientes regenerativos. Esta situação acaba trazendo impactos diretos na dieta alimentar, como também na cultura material (FAO, 1991). Situações como estas são comumente observadas em diferentes contextos culturais amazônicos, como também em outras comunidades agroextrativistas habitantes de regiões tropicais. Processos que contribuem para estas mudanças podem ser provocados por diversos vetores, como será visto a seguir, e a forma pelas quais as comunidades respondem a estas situações de escassez ou limitação de recursos pode seguir por caminhos diferentes. Vetores de transformações no uso dos recursos naturais e nos sistemas agrícolas indígenas O tamanho da área cultivada, assim como a forma como os povos indígenas usam os recursos naturais e sua dedicação às atividades de subsistência podem sofrer alterações ao longo do tempo. Estas transformações resultam de diversos vetores externos ou internos à unidade doméstica, muitas vezes havendo sinergia entre mais de um vetor. Com relação aos vetores externos, a literatura3 elenca principalmente: as características ambientais locais (Bilsborrow e Pan, 2001; Schröder, 2003); o crescimento populacional (Alcorn, 2006; Boserup, 1965); a sedentarização (Funai/PPTAL, 2004; Moran, 1993; Sirén, 2007); a incorporação de novas tecnologias ou bens de consumo (Alcorn, 2006; Funai/PPTAL, 2004); as características do contato com a sociedade mais abrangente (Moran, 1993) e o envolvimento com a economia de mercado (Diegues e Arruda, 2001; Funai/PPTAL, 2004; Schröder, 2003). Dentro do envolvimento com o mercado, pode-se diferenciar ainda sete vetores que podem determinar os efeitos que esse envolvimento pode gerar nas atividades de subsistência indígenas: (i) o tipo de atividade de mercado (Schröder, 2003); (ii) o nível do envolvimento do povo indígena com a economia de mercado (Demmer e Overman, 2001; Schröder, 2003); (iii) a regularidade da renda gerada pela atividade comercial (Morsello, 2002; Shepard et al., 2004); (iv) a disponibilidade de outras formas de trabalho (Bilsborrow e Pan, 2001); (v) a sazonalidade da atividade comercial (Demmer e Overman, 2001; Morsello, 2002); (vi) o tempo empregado nas atividades de mercado (Morsello, 2002) e (vii) o gênero das pessoas envolvidas na atividade comercial (Shepard et al., 2004). Há também vetores internos que podem influenciar a forma como cada unidade doméstica ou cada indivíduo utiliza os recursos naturais, que também podem influenciar a área aberta para agricultura, como o grau de escolarização dos indivíduos e as características demográficas da unidade doméstica. A maior escolaridade de uma unidade doméstica indígena pode estar associada à redução da área aberta para agricultura (Morsello, 2002). Já a estrutura demográfica da unidade doméstica pode interferir tanto no tamanho das áreas de roça (Hammond, Dolman e Watkinson, 1995; Morsello, 2002) quanto nas características da atividade agrícola (Moran e McCracken, 2004). Como a mão-de-obra, em geral, é fornecida dentro da própria unidade doméstica (Moran e Mccracken, 2004), o trabalho na agricultura depende da relação 3 Para revisão da literatura sobre as transformações nas atividades de subsistência indígenas e os vetores que as influenciam, ver Faria (2007). entre o número de produtores (i.e. força de trabalho) e o número de consumidores a serem alimentados (Netting, 1993). Alterações na proporção entre produtores e consumidores ao longo do tempo podem levar a transformações na área cultivada. Segundo Moran e McCracken (2004), em unidades domésticas com maior número de homens adultos ou com maior taxa de dependência (i.e. maior proporção entre produtores e consumidores) tende a ocorrer o aumento da área aberta para agricultura. No caso do povo Araweté, por exemplo, que habita a mesma região que os povos Juruna, unidades domésticas com maior número de indivíduos estavam associadas a roças maiores, enquanto a taxa de dependência não se mostrou significativa (Faria, 2007). A literatura apresenta outros vários fatores que podem afetar o tamanho das áreas cultivadas resultando tanto no seu aumento como em sua redução (Faria, 2007). Em alguns casos, demonstrou-se que o envolvimento com a economia de mercado pode ser um fator de redução do tamanho das áreas cultivadas, especialmente quando aumenta a disponibilidade de trabalho remunerado fora da comunidade (Godoy, Wilkie e Franks, 1997) ou quando os indígenas possuem uma fonte de renda regular, que possibilita a compra de outros tipos de alimentos (Morsello, 2002). Podem ocorrer também alterações não lineares no tamanho das roças de um ano para outro, podendo haver aumento em um ano e redução em outro, devido a diferentes fatores. Por exemplo, quando o verão é muito curto e não permite a queima de uma roça grande ou há presença de formigas na área, a roça aberta pode ser menor do que de costume. Já quando há maior risco de perdas, por exemplo por predação por animais, a área aberta pode ser maior. Ainda, se em um ano sobrou alimentos, a unidade doméstica pode escolher reduzir a área de roça, enquanto que, se houve falta no ano anterior, a nova roça será maior (Faria, 2007). Efeitos das transformações no sistema agrícola indígena e a importância do pousio Conforme descrito anteriormente, a prática de agricultura de corte e queima se baseia na rotatividade de áreas de cultivo e depende de áreas florestadas em diferentes estágios de sucessão (pousio) para sua sustentabilidade. Situações adversas têm levado a mudanças significativas nas práticas de subsistência, com impactos diretos nos processos de produção, como na perda da fertilidade dos solos e consequentemente a perda da agrodiversidade, o que resultaria numa simplificação destes sistemas, com impactos na segurança alimentar e nutricional das populações. Em muitos casos podem acontecer processos que se caracterizam como uma “intensificação” destes sistemas (Pedroso Jr., 2008). Conforme Styger (2006), citado em Pedroso e et al. (2008), o processo de intensificação agrícola tem como uma das suas consequências principais a diminuição do período destinado ao pousio, necessitando alternativas de manejo por parte dos agricultores para que se ajustem às mudanças e garantam a sustentabilidade do sistema. Um dos resultados causados pela redução do período de pousio nas formações secundárias seria a alteração na paisagem local com possível diminuição da biodiversidade, ocorrendo perdas de recursos utilizáveis, estratégicos ou prioritários às comunidades, com possíveis substituições por recursos de menor importância cultural. Estas trazem impactos na própria eficiência destes sistemas e na sua sustentabilidade no médio e longo prazo, como um todo. Alguns autores têm estudado os efeitos da agricultura de corte e queima na dinâmica do estoque de nutrientes em estágios subsequentes de recomposição das florestas secundárias, concluindo que a disponibilidade de nutrientes remanescentes não chega a comprometer o desenvolvimento das florestas. Brow & Lugo (1990) consideram que os estoques de nutrientes podem retornar com o acúmulo de material orgânico no solo entre 40 e 50 anos, para que se aproximem das condições que são características das florestas maduras das áreas adjacentes à intervenção. Como dados gerais, para florestas tropicais, a mais alta produtividade em crescimento se daria entre os primeiros 20 anos, mas a disponibilização de nutrientes nos solos só seria mais significativa após este período, quando os estoques seriam repostos ao solo com maior eficiência conforme a decomposição da matéria orgânica acumulada. Assim, conforme estes estudos, o solo tropical só irá se recuperar e acumular matéria orgânica após os 20 primeiros anos de sucessão, quando a taxa de crescimento da capoeira diminui e os estoques de nutrientes do solo são repostos com maior eficiência (Juo & Manu, 1996, apud Pedroso Jr. et al., 2008). O corte e a queima da vegetação seguido do cultivo por muitas vezes, acaba por desestabilizar a dinâmica da ciclagem de nutrientes, resultando na consequente perda de fertilidade do sistema solo-vegetação, e podem resultar também em processos erosivos e de degradação do solo, uma das principais causas de insegurança alimentar na África (Pedroso Jr. et al., 2008). A redução drástica no período de pousio em Laos apresenta uma situação que possivelmente seja muito próxima da realidade de muitos agricultores das regiões tropicais. A diminuição progressiva do período de pousio que, nos anos 1950, a média era de 38 anos, passou a 5 anos em 1992, sendo novamente reduzido para dois ou três anos em 2002 (Roder; Trosch, apud Pedroso Jr. et al., 2008). Para o povo Tuyuka, do alto rio Tiquié (AM), o uso demasiado das capoeiras agrícolas sem esperar o tempo certo da derrubada para o cultivo acaba ameaçando a sustentabilidade do ambiente e do sistema agrícola em geral. Para estes, o tempo certo para a derrubada das capoeiras era definido a partir do florescimento de algumas árvores indicadoras, entre outros indicadores que eram reconhecidos a partir de regras de acesso. É provável que isso indique um estágio mais avançado da regeneração das formações secundárias, no qual as árvores típicas de capoeira já estariam mais desenvolvidas e as sementes teriam sido dispersas na terra. Assim, quando a área for outra vez derrubada para abertura dos novos roçados, não apenas estas árvores, mas provavelmente vários outros tipos também poderiam se regenerar em maior abundância, contribuindo para o processo de recuperação das capoeiras (Schmidt, 2011). Para o povo Sarayaku, no Equador, a escassez de terras férteis obriga-os a cultivar a maiores distâncias de suas casas, e a depender cada vez mais das áreas de florestas mais antigas para compensar a perda dos ambientes em períodos de pousio. Com a diminuição da fertilidade do solo, distâncias mais longas são necessárias ao acesso dos terrenos mais férteis, trazendo um aumento da carga de trabalho e uma diminuição do rendimento na produção (Sirén, 2007). A atual escassez de terra para este povo estaria diretamente relacionada aos efeitos de sedentarização, o qual só poderia ser avaliado a partir de uma estratégia de dispersão para outras áreas do território. Mas dada a atual demanda por serviços, tais como escolas, mercados e pista de pouso, um retorno ao padrão de assentamento do passado não seria mais uma opção. Uma forma de se adaptar-se à escassez de terra seria a partir de uma divisão dos grupos ou o aumento da mobilidade entre as aldeias mais antigas, visando acessar áreas de floresta mais desenvolvidas no território (Sirén, 2007). Para os índios Bora, do Peru, o sistema de pousio prevê aproximadamente mais de 35 anos para que as características de fertilidade dos solos sejam reestabelecidas. Neste sistema, o tempo de pousio necessita ser no mínimo de 10 anos, sendo que a maioria dos agricultores prefere deixar por não menos do que 20 anos antes de derrubar e abrir novamente as roças. A importância do pousio não significa apenas a recuperação da fertilidade para os futuros cultivos, mas também se caracteriza num importante nicho de recursos característicos de ambientes secundários e de plantas úteis que acabam se desenvolvendo de maneira espontânea, ou induzida, no processo de sucessão florestal. Neste contexto, foram identificados 133 tipos de recursos úteis nas capoeiras Bora, o que se confirma como um processo de enriquecimento, o que contribui para a denominação de um pomar de pousio (Denevan et al., 1984). Para os Gwarayo da Bolívia, existe uma preferência para a abertura das roças em áreas de florestas maduras, e em menor escala para os pousios mais velhos. Isto porque os ambientes mais antigos proporcionam condições melhores à produtividade agrícola, e baixa infestação de ervas daninhas. No entanto, alguns também preferem as áreas de pousios porque as árvores menores exigem menores esforços para derrubar e por estarem localizadas mais próximas das áreas de habitação. Costumam deixar pousios curtos entre 5-10 anos antes do próximo ciclo de cultivo, onde algumas culturas permanecem, especialmente árvores frutíferas como manga, cítricos, espécies de ingá, banana e cana. Consideram estes ambientes importantes para o fornecimento de plantas utilizadas na cultura material, outras espécies úteis de madeira ou para a preparação de novas roças (Toledo & Salik, 2006). Considerando a importância do tempo adequado de pousio, a crescente escassez de terras para exploração agrícola em Terras Indígenas pode corresponder a um sério problema socioeconômico. A regeneração da floresta é crucial para a produtividade a longo prazo e para a sustentabilidade do agroecossistema de roça. Muitos povos que praticam a agricultura de corte e queima já não são capazes de manter o pousio em seus campos pelo período de tempo necessário e muitas vezes suas técnicas tradicionais já não respondem a esta nova realidade. 1. MÉTODOS DE COLETA DE DADOS Entre os meses de janeiro, fevereiro e março de 2015 foi realizado o levantamento do sistema agrícola junto aos povos Juruna, da TI Paquiçamba, e Arara, da TI Arara da Volta Grande do Xingu (VGX). Nas duas Terras Indígenas foram empregados os mesmos métodos de coleta de dados, incluindo métodos qualitativos (entrevistas semiestruturadas e informais) e quantitativos (medição das roças). As informações qualitativas foram coletadas por meio de entrevistas informais e semiestruturadas (Anexo I) realizadas com os donos das roças e com informantes-chave (Figura 1.1). Também foram realizadas visitas a todas as roças junto com alguns dos informanteschave. Figura 1.1: Entrevista realizada com Dona Alvina, informante-chave na aldeia Paquiçamba A área de todas as roças abertas no ano de 2013 e no ano de 2014/15 foram medidas com o uso de aparelho de GPS e o resultado encontra-se apresentado, a seguir, em hectares. A percepção indígena com relação ao tamanho dessas roças também foi considerada durante as entrevistas com os donos das roças. Os indígenas informavam o tamanho sempre apresentado em linhas, unidade de medida de área cultivada utilizada na região (Anexo II). Segundo eles, uma linha equivale a 25 braças e 16 linhas correspondem a um alqueire. De acordo com um dos técnicos do Programa de Atividades Produtivas – PAP do PBA-CI, uma linha/ tarefa é equivalente a 3.025 m2 (comunicação pessoal). As etnovariedades de cada roça foram levantadas considerando a definição de Emperaire (2005): “Uma variedade é um conjunto de indivíduos considerado suficientemente homogêneo e suficientemente diferente de outros grupos de indivíduos para receber um nome específico e ser objeto de um conjunto de práticas e conhecimentos, ao longo de seu ciclo, ou em uma etapa particular deste, que lhe serão específicos. Trata-se da unidade mínima de percepção e manejo da diversidade agrícola, o que pode ser traduzido em língua vernácula como qualidade ou tipo de uma dada planta. As espécies e as variedades cultivadas são objetos biológicos que atendem a critérios culturais de produção, de denominação e de circulação, em constante interação com as sociedades e os indivíduos que os produzem e modelam. São objetos cuja existência se insere em tempo e em espaço definidos por exigências biológicas, mas que são também partes da vida cotidiana e constantemente readaptados a um contexto ecológico, econômico e sociocultural. ” Essa definição, que evidencia a dimensão cultural da percepção da diversidade, não corresponde exatamente ao que um geneticista reconhece como variedade (Emperaire, 2005, 2002). A mesma autora também chama a atenção de que não é a variedade que é a unidade de manejo da diversidade e sim a coleção de mandiocas, carás, bananas, etc. No presente relatório, as etnovariedades foram relatadas pelos próprios donos das roças e, portanto, nomes diferentes podem ter sido empregados para uma mesma variedade. 2. O SISTEMA AGRÍCOLA DOS JURUNA DA TI PAQUIÇAMBA Primeiramente vale ressaltar que, no presente trabalho, procurou-se caracterizar e diagnosticar os sistemas agrícolas, a partir da perspectiva indígena local e a partir de metodologias e referenciais teóricos de outros trabalhos com sistemas agrícolas indígenas. Portanto, a metodologia empregada, bem como suas análises, partem dessa perspectiva. Dessa forma, consideraram-se as informações relatadas pelos próprios indígenas com relação às datas de colocação das roças, as etnovariedades e percepções sobre os tipos e qualidade das sementes e manivas. O ciclo das roças Juruna da TI Paquiçamba A abertura das roças Juruna da TI Paquiçamba envolve nove etapas: - Escolha da área; - Brocagem; - Derrubada; - Queimada; - Coivara; - Plantio; - Limpeza; - Colheita; - Desmanche. A escolha da área envolve uma vistoria do local para se verificar se a terra e a mata são adequadas para a abertura de uma roça e se esta será uma área boa produtora de “legumes”. A vegetação boa para a abertura de roça é a mata localizada em área que não tenha pedra nem gorgulho, um tipo de besouro, e que apresente solo composto por barro vermelho ou terra roxa. A mata deve apresentar árvores grossas, mas se houver muita árvore de acapu, a área não é boa. Mata de coco babaçu é boa para roça, mas dá muito trabalho para roçar pois é preciso cortar o pé de coco em vários pedaços, senão não seca, e muitas vezes depois de roçar ele cresce novamente bem rápido. A brocagem consiste na limpeza da vegetação e das árvores mais finas do subbosque com o uso de facão e foice, deixando passar de uma a duas semanas para essa parte da mata secar. Após a brocagem se derrubam as árvores maiores com o uso de uma motosserra (antes se usava machado). Após a derrubada, se deixa a mata derrubada secar pelo período de um mês a 40 dias, dependo da intensidade do sol. A derrubada da mata virgem deve ser realizada de setembro a outubro, para que haja tempo para as árvores mais grossas secarem ao sol para que possam queimar bem. Quando a roça é muito grande, a roçada é iniciada em agosto, para que toda a área esteja derrubada em setembro, assim por volta de 15 a 20 de outubro a vegetação derrubada esteja secando já há pouco mais de um mês. Áreas de capoeira são roçadas em outubro ou novembro para que no dia 15 a 20 de novembro a vegetação já esteja seca. Tudo depende também da chuva no período. Depois que a vegetação derrubada está seca, ela é queimada. Dois a três dias depois de queimar é realizada a coivara, que consiste na retirada dos troncos grandes e das galhadas que não queimaram, juntando-os em montes. O ideal é realizar a coivara depois de uma chuva, para evitar a poeira gerada pela cinza. Esses montes de troncos, chamados de coivara, são queimados novamente depois. Essa segunda queima se concentra somente na coivara. Em seguida já começa a etapa do plantio. Os “legumes” de rama (cará, melancia e abóbora) são os primeiros a serem plantados, de outubro a novembro, principalmente a melancia, que não pode pegar muita umidade e precisa de um solo mais seco, pois se pega muita chuva suas ramas enrolam. Antigamente os mais velhos já estavam dentro da roça plantando melancia no dia seguinte depois da queima. Hoje em dia os mais novos não seguem mais isso tão a risca e esperam de uma a duas semanas depois de queimar para plantar. Um informante mais velho afirmou plantar o cará antes mesmo de queimar a roça assim, após a queima, este já brota. Após as ramas, os Juruna plantam a mandioca e o milho, alguns plantam a mandioca primeiro, outros o milho. Quando o milho e mandioca são plantados, a melancia já está enramando e florescendo. Para um dos informantes, quando o milho cresce, se sua flor cair em cima da rama da melancia, mata tudo. O milho deve ser plantado nas primeiras chuvas, idealmente em novembro, mas se a chuva atrasar, os Juruna esperam. A mandioca é plantada em dezembro e janeiro, principalmente em dezembro, assim quando caírem as primeiras chuvas em janeiro, a mandioca já estará toda plantada. Quando está chovendo demais, os Juruna plantam a mandioca primeiro e depois o milho, porque ele cresce mais rápido. Um informante afirmou preferir plantar a mandioca quando o milho já estiver com uns 40 cm de altura. Depois plantam a macaxeira e a banana. O plantio também possui uma “ciência”, de acordo com os informantes Juruna, os cultivos devem ser plantados entre a lua crescente e a cheia. Se forem plantados na lua nova, a mandioca cresce, mas não dá raiz. Quando a lua começa a nascer depois da meia-noite, param de plantar porque a lua já “está fraca”. Um informante Juruna também afirmou não realizar plantio na sexta-feira pelo mesmo motivo. A banana muitas vezes é plantada junto com a mandioca mas ela tem a época certa de plantar, que é o verão, nos meses de agosto, setembro e outubro. Depois de plantada, começam a cair as primeiras chuvas e ela cresce. Se ficar faltando na roça algum pedaço de terra para plantar, este só deve ser limpo em maio, para ser plantado de maio a junho, quando a terra já não esta mais encharcada, ocorrendo então o segundo período propício ao plantio. Nesse segundo período pode-se plantar mandioca e feijão, os outros cultivos não. Após o plantio, a roça precisa ser “zelada” porque senão não é produtiva. Se não for limpa, a “batata” da mandioca ficará abafada pelo mato e não se desenvolverá, vai ser pequena e fina. Se a roça for aberta em mata primária, a limpeza deve ocorrer de quatro em quatro meses, e se for área de capoeira, de dois em dois meses. Para outro informante, as roças feitas em área de mata virgem precisam de duas roçadas ao longo do ano e a roça na capoeira precisa de três. Para este informante, se tudo for plantado no tempo certo, até dezembro, se for na mata virgem, em junho/julho deve se realizar a primeira limpeza, pois o mato não cresce, o que nascem são mais os brotos das árvores cortadas. Se for área de capoeira, em abril, após quatro meses se faz a primeira limpeza, pois nas capoeiras além dos brotos das árvores tem o capim. No período do verão o mato não cresce tanto e quando caírem as primeiras chuvas de outubro e novembro, deve-se realizar a segunda limpeza e em janeiro se realiza a terceira, para poder colher na roça limpa. O primeiro cultivo a ser colhido é a melancia, com 40 a 50 dias, depois o milho, seguido pela mandioca (seja a de ciclo de seis meses ou de um ano). O desmanche de uma roça envolve uma grande produção de farinha, quando cortam tudo e tiram a maniva para ser plantada em outra roça. O desmanche de uma roça sempre ocorre na época de plantar a roça nova e não necessariamente ocorre inteiro ao mesmo tempo, podendo ser realizado por partes. Depois do desmanche da roça, se não decidirem plantar banana ou cacau nela, deixam a capoeira tomar conta e depois de quatro a cinco anos de pousio, retornam para plantar no mesmo lugar que, segundo eles, produzirá bem novamente, às vezes até melhor. A roça é uma atividade basicamente masculina, a participação da mulher ocorre na etapa do plantio, quando os homens cavam as covas e elas plantam e também podem ajudar na colheita. Na linguagem deles, tem mulher que é “danada” e enfrenta tudo, ajudando na coivara e na limpeza, mas é difícil, porque é considerada uma atividade muito pesada. As crianças, desde pequenas, acompanham a família na roça, mas só com nove anos em diante é que ajudam a plantar. Depois dos 13 anos, os meninos já podem usar o facão e ajudar a encoivarar e a roçar, mas devagar, para não forçar muito e, quando eles chegam aos 15 a 16 anos, já sabem como fazer a roça. Levantamento das roças atuais Durante a realização do presente levantamento, o povo Juruna possuía as roças abertas em 2013, que se encontravam em produção, e estavam abrindo as novas roças de 2014/15. Em 2013, foram reportadas e visitadas 21 roças na TI Paquiçamba, sendo 13 (treze) na aldeia Paquiçamba, 07 (sete) na aldeia Mïratu e 01 (uma) roça na aldeia Furo Seco. Deste total de 21(vinte e uma),18 (dezoito) roças tiveram suas etnovariedades relatadas por seus donos. Em 2014/15 foram abertas 19 roças: 13 (treze) na aldeia Paquiçamba; 02 (duas) na Mïratu e 04 (quatro) na aldeia Furo Seco. Entre 2013 e 2015, todas as roças eram do tipo familiar, com exceção da roça do ano de 2013 da aldeia Furo Seco, que era comunitária, pertencendo a todas as famílias. Os resultados das roças são apresentados organizados por ano: 2013 e 2014/15. As roças de 2014/15 foram abertas com o auxílio do trator fornecido pela Executora do Programa de Atividades Produtivas - PAP e, como este chegou apenas no início de 2015, a maioria das roças de 2014 teve sua abertura concluída somente em 2015. Salienta-se que esta demanda partiu dos indígenas e o atraso ocorreu devido ao tempo de espera do parecer da Funai sobre o projeto. Desta forma, estas roças ainda não haviam sido plantadas durante o presente levantamento do sistema agrícola e, portanto, foram considerados neste relatório somente os dados de cultivos e etnovariedades das roças de 2013. Roças de 2013 No ano de 2013, 96% de todas as áreas de roça da TI Paquiçamba (equivalente a 17,54 hectares) foram abertas de forma mecanizada, com utilização de trator. Em toda a TI Paquiçamba somente duas roças, 01 (uma) na aldeia Paquiçamba com 0,35 ha e outra na aldeia Mïratu com 0,42 ha não foram abertas de forma mecanizada. Na aldeia Furo seco a mecanização atingiu 100% das áreas plantadas, na aldeia Paquiçamba 97% e no Mïratu 93%. Nas áreas de capoeira em estágio recente de regeneração, o trator é utilizado para derrubar e limpar a área que será cultivada. Em áreas de capoeira mais avançada ou de mata virgem, o dono da roça primeiro faz a derrubada das árvores usando motosserra e depois o trator é empregado para fazer a limpeza, juntando as árvores derrubadas em montes acumulados em locais específicos da roça. A área total de roças de 2013 na TI Paquiçamba foi de 18,31 hectares, sendo a aldeia Paquiçamba com a maior área, 10,40 ha, seguida pela Mïratu com 6,24 ha e a Furo Seco, com 1,66 hectares (Quadro 2.1). Dividindo-se a área total de roças pela população total da terra indígena, obtém-se uma área cultivada de 0,14 hectares/habitante, sendo 0,19 ha/habitante para a aldeia Paquiçamba, 0,13 ha/ habitante para a Mïratu e 0,06 ha/ habitante para a aldeia Furo Seco. Roças de 2014/15 Durante a realização do presente levantamento, no início de 2015, os Juruna estavam no processo de abertura de suas roças novas (do ano de 2014), que estavam atrasadas devido à espera pelo maquinário necessário. Da acordo com os indígenas que acompanharam o estudo, um total de 19 roças foram indicadas como roças referentes ao período 2014/2015, totalizando 14,58 hectares4 (Quadro 2.12), sendo 13 na aldeia Paquiçamba, duas no Mïratu e quatro no Furo Seco. Estes valores podem sofrer alterações quando comparados aos dados do Programa de Atividades Produtivas em função de que algumas das roças visitadas podem ter sido cultivadas de maneira independente do PAP. A aldeia Furo Seco apresentou a maior área cultivada, com 6,87 hectares, seguida pela Paquiçamba, com 6,79 hectares e pela Mïratu com 0,92 hectares. o Do total de roças de 2014/15, na aldeia Paquiçamba 10 roças foram abertas com o uso de tratores, totalizando 5,44 hectares, o que corresponde a 80% da área de roças abertas no período (apenas 1,344 hectares não foram mecanizados). Na aldeia Furo Seco, 5,87 hectares foram abertos de forma mecanizada, correspondendo a 85,5% da área das roças (apenas 1,00 hectare não foi mecanizado). Na Mïratu nenhuma roça foi mecanizada neste período. Assim, em toda a TI Paquiçamba, foram abertos de forma mecanizada 11,31 hectares de roças (77,6% da área total). 4 Ressalta-se que os tamanhos das roças pode apresentar variações em função dos erros usuais intrínsecos dos aparelhos de GPS. Para o cálculo da área cultivada per capita, dividiu-se a área total de roças por toda a população da TI Paquiçamba, que já estava maior do que em 2013. Obteve-se uma média de 0,09 hectares/habitante, sendo 0,17 hectares/habitante na aldeia Furo Seco; 0,10 hectares/habitante na Paquiçamba; 0,02 hectares/ habitante na Mïratu. Os valores encontrados para as aldeias Furo Seco e Paquiçamba se assemelham aos encontrados para o povo Araweté, que ocupa a mesma região. Em 2005, a área cultivada per capita pelos Araweté5 foi de 0,17 hectares/habitante (Faria, 2007). Quadro 2.12: As áreas de roças abertas em 2014/15 nas três aldeias da TI Paquiçamba Aldeia População (indivíduos) * Tamanho total medido com o GPS (hectares) Paquiçamba 66 6,79 Mïratu 49 0,92 Furo Seco 41 6,87 Total 156 14,58 *População levantada em março de 2015. As etnovariedades cultivadas Quinze grupos de cultivos, pertencentes a 14 espécies e subdivididos em 51 etnovariedades, foram plantados nas roças do ano de 2013 (Quadro 2.2). Três cultivos correspondem a 49% de toda a agrobiodiversidade das roças Juruna: a mandioca, o milho e a banana. A mandioca e o milho são os cultivos mais frequentes nas roças Juruna de 2013, aparecendo em 17 das 21 roças (Figura 2.1). As roças da aldeia Paquiçamba apresentaram maior agrobiodiversidade cultivada: com presença de 82% de todas as 51 etnovariedades dessa terra indígena. Na aldeia Mïratu esse valor caiu para 53% e no Furo Seco para 24%. Os detalhes de cada roça da TI Paquiçamba com o nome do seu respectivo dono, área da roça e número de cultivos e etnovariedades cultivados podem ser vistos no Anexo 2. 5 Produto da divisão da área de cultivo da unidade doméstica pelo número de habitantes desta. Quadro 2.1: As áreas das roças abertas em 2013 nas três aldeias da TI Paquiçamba Aldeia Paquiçamba Mïratu População (indivíduos) * 56 48 Tamanho total das roças medidas com GPS (hectares) 10,41 6,24 Tamanho total das roças de acordo com os donos (linhas) Cultivos N total de etnovariedades 43,0 Mandioca, macaxeira, milho, banana, abóbora, melancia, abacaxi, maxixe, pepino, cará e mamão 42 23,5 Mandioca, macaxeira, milho, banana, abóbora, melancia, maxixe, abacaxi, feijão, quiabo, pepino, abacate, cacau 27 12 o Furo Seco 29 1,66 4 Mandioca, milho, banana, melancia, abóbora, maxixe, feijão, mamão Total para a TI 133 18,31 70,5 15 *População em agosto de 2014. Figura 2.1: Frequência (número de roças) dos cultivos presentes nas roças abertas em 2013 na TI Paquiçamba Quadro 2.2: Os cultivos e número de etnovariedades cultivados pelos Juruna da TI Paquiçamba nas roças abertas em 2013 Nome do cultivo em português Mandioca Macaxeira o N de etnovariedades Nome científico Manihot esculenta Paquiçamba Mïratu Furo Seco TI Paquiçamba 8 4 2 8 3 2 0 4 Milho Zea mays 7 2 1 8 Banana Musa spp. 7 6 2 9 Melancia Citrullus lanatus 5 3 2 4 Abóbora Curcubita máxima 4 2 2 5 Maxixe Cucumis anguria 2 2 2 2 Cará Dioscorea trifoliata 2 0 0 2 Abacaxi Ananas comosus 1 1 0 3 Mamão Carica papaya 1 0 1 1 Pepino Cucumis sativus 0 1 0 1 Quiabo Abelmoschus esculentus 1 1 0 1 Feijão branco Phaseolus vulgaris 0 1 1 1 Abacate Persea americana 0 1 0 1 Cacau Theobroma cacao 1 1 0 1 Total 14 espécies 42 27 13 51 Das 21 roças registradas para o ano de 2013 na TI Paquiçamba, 18 delas possuem informações sobre as etnovariedades cultivadas. No total foram relatadas oito etnovariedades de mandioca (Quadro 2.3; Figura 2.3). A variedade Seis meses, uma mandioca de ciclo curto, foi a mais frequente estando em 11 dessas 21 roças, seguida pela Tachizona presente em 08 dessas roças (Figura 2.2). Na aldeia Mïratu a etnovariedade Folha fina e a Seis meses foram as mais cultivadas nas roças abertas em 2013. Quadro 2.3: As etnovariedades de mandiocas cultivada nas roças das aldeias da TI Paquiçamba Nome da etnovariedade Paquiçamba Mïratu Tachizona X Tachizinha X Seis meses X X Sacaí X X Najá X Olho roxo X X Folha fina X X Fornecida pela Executora do Programa de Atividades Produtivas X Total 8 Furo Seco X X 4 2 Figura 2.2: Frequência (número de roças) com que diferentes etnovariedades de mandioca aparecem nas roças abertas em 2013 na TI Paquiçamba Figura 2.3: Folhas das etnovariedades Folha Fina, Sacaí e Seis meses Quatro etnovariedades de macaxeiras foram registradas para a TI Paquiçamba, porém 08 (oito) dos entrevistados que afirmaram terem plantado macaxeira em sua roça não souberam dizer o nome da variedade que cultivavam (Quadro 2.4). Dos que souberam responder o tipo de variedade, três afirmaram terem plantado a etnovariedade Cacau. As variedades Da Bahia, Juriti e Pau torto tiveram cada uma apenas um registro (uma roça). Quadro 2.4: As etnovariedades de macaxeiras cultivada nas roças das aldeias da TI Paquiçamba Nome da etnovariedade Paquiçamba Mïratu Cacau X X Da Bahia X Juriti X Pau torto Total Furo Seco X 3 2 0 Oito etnovariedades de milho foram levantadas durante o monitoramento do sistema agrícola da TI Paquiçamba (Quadro 2.5), contudo, em 13 das 18 roças (que possuem informações sobre as etnovariedades cultivadas), predominou a variedade entregue pelo Programa de Atividades Produtivas - PAP. Todas as outras sete etnovariedades tiveram apenas um único registro, com exceção da Hibra, que apareceu em duas roças. Dois donos de roça não souberam informar o nome da etnovariedade plantada. Um agricultor da aldeia Furo Seco demonstrou interesse em obter etnovariedades de milho indígena, que não existem na aldeia atualmente. Quadro 2.5: As etnovariedades de milho cultivado nas roças das aldeias da TI Paquiçamba Nome da etnovariedade Furo Seco Frequência (número de roças) na TI Paquiçamba Mïratu Fornecida pela Executora do Programa Atividades Produtivas X X Comum X 1 Hibra X 2 Caboclo X 1 Baixinho X 1 Canelão X 1 De massa (tradicional) X 1 Canela roxa 13 X Total 7 1 2 1* * Cultivam somente um tipo que não foi possível identificar. A banana foi o cultivo mais diverso registrado entre os Juruna da TI Paquiçamba, apresentando nove etnovariedades (Quadro 2.6). As bananas nem sempre estão associadas diretamente com as roças, podendo existir em roças ou plantações específicas de bananeiras, os bananais6. As etnovariedades de bananeiras plantadas na estrada de acesso à aldeia Mïratu foram consideradas nesse levantamento, contudo, foi impossível calcular sua área, pelo fato de os cerca de 350 pés terem sido plantados ao longo da estrada. As etnovariedades Comprida e Branca/maçã foram as mais frequentes, aparecendo em seis roças (Figura 2.4). Quadro 2.6: As etnovariedades de banana cultivadas nas roças das aldeias da TI Paquiçamba Nome da etnovariedade Paquiçamba Mïratu Furo Seco Comprida X X X Branca/maçã X X X Peruá X X Regindeira/engana ladrão X Sapo X Prata X Trezentas X Roxa X Casada X Total 6 X 7 6 2 Não se garante que todos os bananais foram registrados no presente estudo. Figura 2.4: Frequência (número de roças) com que as diferentes etnovariedades de banana aparecem nas roças abertas em 2013 na TI Paquiçamba Das cinco etnovariedades de abóboras registradas nos sistemas de cultivo da TI Paquiçamba, a Redonda foi a mais frequente, aparecendo em 08 (oito) das 18 (dezoito) roças que se tem registro das etnovariedades (Quadro 2.7). A Pescoçuda foi a segunda mais frequente, com seis registros, seguida pela Comprida e Abobrinha, com três registros cada, e a Caboclo, com um registro. Quadro 2.7: As etnovariedades de abóbora cultivadas nas roças das aldeias da TI Paquiçamba Nome da etnovariedade Paquiçamba Mïratu Furo Seco Redonda (rajada) X X X Comprida X Pescoçuda X X X Caboclo X Abobrinha X X 5 3 Total 2 Das quatro etnovariedades de melancias cultivadas pelos Juruna, a Redonda (rajada) é a mais frequente, presente em 10 das 18 roças, seguida pela Comprida, presente em nove roças (Quadro 2.8). A Brasileirinha e a Moscatel foram registradas em duas roças cada uma. Quadro 2.8: As etnovariedades de melancia cultivadas nas roças das aldeias da TI Paquiçamba Nome da etnovariedade Paquiçamba Mïratu Furo Seco Redonda (rajada) X X X Comprida (branca) X X X Brasileirinha X Moscatel X 2 2 Total 4 O maxixe é o cultivo mais disseminado nas roças da TI Paquiçamba, possuindo duas etnovariedades que estão presentes em todas as três aldeias (Quadro 2.9). A etnovariedade Cabeluda, ou Peluda, é a mais comum, tendo sido registrada em nove roças. A etnovariedade Lisa, ou Careca, foi registrada em seis roças. Quadro 2.9: As etnovariedades de maxixe cultivadas nas roças das aldeias da TI Paquiçamba Nome da etnovariedade Paquiçamba Mïratu Furo Seco Cabeludo X X X Liso/careca X X X 2 2 2 Total O cará apresentou apenas duas etnovariedades, o Branco e o Roxo. Os carás só foram registrados em três roças, todas da aldeia Paquiçamba. Em duas roças a única variedade plantada era o Roxo e na terceira roça estavam plantados o Roxo e o Branco (Quadro 2.10). Quadro 2.10: As etnovariedades de cará cultivadas nas roças das aldeias da TI Paquiçamba Nome da etnovariedade Paquiçamba Branco X Roxo X Total 2 Mïratu Furo Seco 0 0 Cultivos com uma única etnovariedade se encontram no Quadro 2.11. O cacau, cultivado muitas vezes para comercialização, é comumente plantado em roças velhas, que não foram objeto do presente levantamento, focado nas roças dos anos 2013 e 2014/15. Quadro 2.11: Outros cultivos plantados nas roças das aldeias da TI Paquiçamba Nome da etnovariedade Paquiçamba Mïratu Abacaxi X X Mamão X Feijão branco Quiabo X X X X Abacate X Total X X Pepino Cacau Furo Seco X X X 4 6 3 Comparação temporal da área cultivada Comparando-se os dados de 2013 e 2014/15, percebe-se uma redução da área total cultivada, de 18,31 para 14,58 hectares. Nota-se, ainda, uma redução na área cultivada per capita nas aldeias Paquiçamba e Mïratu. Na Paquiçamba, essa redução foi de 47% em relação ao ano anterior e, na Mïratu, foi de 85%. A única aldeia que teve um aumento em sua área foi a Furo Seco, apresentando uma taxa de área cultivada per capita quase três vezes maior do que no ano anterior. A análise comparativa entre o levantamento apresentado no Componente Indígena do EIA da UHE Belo Monte e o momento presente demonstra redução na área cultivada per capita (i.e. área cultivada por número de habitantes) ao longo dos anos: de 0,26 hectares/habitante em 2008/09 para 0,14 hectares/habitante em 2013 e 0,09 hectares/habitante em 2014/15, um terço da proporção de sete anos atrás (Figura 2.4). Conforme apresentado na Contextualização teórica do presente relatório, essa redução pode ser devida a diversos vetores ou, ainda, à combinação de mais de um vetor, entre eles: a disponibilidade de renda regular que permite a compra de outras fontes de alimento, a alocação de tempo em atividades de mercado ou outras atividades, a estrutura da unidade doméstica e etc. Contudo, independente do vetor causador da transformação, essa queda acentuada na área cultivada per capita demonstra menor disponibilidade de alimentos cultivados para o consumo na TI Paquiçamba. 7 Figura 2.4: Relação área cultivada/habitante na TI Paquiçamba de 2008/09 a 2014/15 Percepção dos Juruna com relação às transformações nas roças ao longo do tempo Segundo os moradores mais velhos da TI Paquiçamba, as roças do povo Juruna, passaram por vários processos de mudanças. Uma das principais alterações é nas tecnologias de abertura das roças. Antigamente, quando estes moradores eram crianças, todo o trabalho era braçal, seus pais roçavam no facão e derrubavam a mata no machado. Atualmente, além do facão, usam a foice para a roçada e não mais o machado para a derrubada, usam somente motosserra. Antigamente, gastavam de uma a duas semanas para derrubar a mata e, se fosse mata de troncos pesados, levavam de 15 a 20 dias. Roças de quatro linhas, que antes demorava uma semana para serem derrubadas, hoje são gastos apenas dois dias com a motosserra. O tempo gasto para fazer a coivara também se reduziu, antes levavam quase um mês para encoivarar quatro linhas de roça e hoje, com a motosserra gastam apenas uma semana O ritmo da abertura de roças Juruna da Volta Grande antigamente era determinado pela combinação com outras atividades que dominavam sua vida econômica. Nessa época se dedicavam muito ao trabalho com a seringa e, em agosto todos “davam um tempo” e iam brocar e derrubar sua roça e quando chegava o mês de setembro e 7 Dados de 2008/09 segundo Vieira et al., 2009 outubro, que já haviam voltado para a seringa, queimavam a roça. O “ritmo era esse”. Deixavam um mês para secar e em outubro começavam a encoivarar. Em dezembro a roça estava limpa e com tudo plantado. Os cultivos de antes são os mesmo de hoje: mandioca, macaxeira milho, banana, cará, etc. O arroz eles também plantavam, mas este cultivo não foi encontrado em nenhuma roça de 2013 e ninguém demonstrou interesse em plantar em 2014/15. Dois cultivos que plantavam antes e que agora não plantam mais, um é a cabaçona (a etnovariedade que cresce no chão), que antes utilizavam para colocar água e levar para a roça e também como recipiente para comer; o outro é a fava, que um agricultor afirmou ter sido perdida. Antigamente, a etnovariedade de mandioca preferida para plantar era a Najá seguida pela Tachi. A primeira teve seu cultivo muito reduzido, tendo sido substituída pela Seis meses, que cresce mais rápido e é atualmente a etnovariedade de mandioca mais plantada na TI Paquiçamba. A Tachi é hoje a segunda etnovariedade de mandioca mais plantada nessa terra indígena. O tamanho das roças e a própria decisão de realizar roça ou não também foi passando por transformações ao longo dos tempos. Há cerca de 60 anos, quando um dos moradores da aldeia Paquiçamba tinha apenas nove anos de idade, quando o trabalho era todo braçal, as roças eram pequenas, com duas linhas somente, e as roças grandes tinham no máximo quatro linhas. Na época da caça de felinos para a venda de peles (atividade que foi de 1966 a 1977 de acordo com Patrício et al., 2009), alguns moradores começaram a ter roças de 10 linhas, com o apoio de patrões que pagavam pessoas para ajudar a roçar e derrubar a mata e, mais tarde, com o crescimento dos filhos, estes começaram a ajudar a abrir roças grandes, nas quais plantavam arroz. As roças dos Juruna da Volta Grande também já diminuíram de tamanho em outros momentos. Segundo os Juruna, o trabalho pesado que envolve o cultivo de uma roça, o pouco retorno que o seu cultivo proporciona e a demora para se ter esse retorno, que só acontece depois de um ano, são os principais fatores que influenciaram a troca da atividade de roça por outras atividades mais promissoras e de retorno imediato que surgiram em vários momentos da história de vida dos Juruna da Volta Grande. Uma das atividades que concorreu com o trabalho na roça, provocando o seu abandono ou diminuição por muitos moradores, foi a pesca de peixes ornamentais. A captura de peixes ornamentais é uma atividade de fácil retorno, o pescador obtém uma boa renda em pouco tempo de trabalho. Uma roça, para dar renda, demora um ano inteiro e nunca dá um retorno financeiro competitivo com a pesca ornamental. Assim, muitos moradores preferiram trabalhar com a pesca ornamental e comprar a farinha e o arroz de fora. Outra atividade que competiu com a roça foi o garimpo. As pessoas que estavam envolvidas acabaram deixando de fazer sua roça. O envolvimento com atividades comerciais, isto é, com trabalho remunerado, também reduzem o tempo disponível para a atividade de roça, pois, como disse um dos agricultores da aldeia Paquiçamba, “ se você for sobreviver só de outra coisa você não cuida da roça. (...) Se tiver emprego, é ou a roça ou o emprego”. Outro momento em que houve redução das roças, segundo os Juruna, foi durante o Plano Emergencial, quando as roças também diminuíram de tamanho com algumas famílias, inclusive, deixando de fazer sua roça. Foi percebido também, durante as visitas às roças, que algumas delas se encontravam com aspecto de abandono, não tendo si capinadas e estando tomadas pelo mato alto. Segundo um dos agricultores Juruna da aldeia Paquiçamba, “a roça ficou pra todo mundo, mas nem todo mundo ficou pra roça”. O fato de que a roça só produza retorno de ano em ano, mas demandando muito trabalho ao longo do ano todo pode ser um dos fatores que faça com que algumas pessoas se desanimem, já que as pessoas precisam “arrumar um jeito de sobreviver até a produção dela chegar pois se for sobreviver só da roça não consegue”. Mas também “se for sobreviver de outra coisa você não cuida da roça, e (...) se deixar o mato crescer quando for lá se desamina e a mandioca não presta”. 3. O SISTEMA AGRÍCOLA DOS ARARA DA TI ARARA DA VOLTA GRANDE DO XINGU O ciclo das roças Arara A roça dos Arara da TI Arara da VGX segue basicamente as mesmas etapas detalhadas para a roças do Juruna da TI Paquiçamba. Para eles, o formato da lua ou sua claridade também são marcadores de tempo de plantio, sendo o período da lua crescente até a cheia considerado de claridade da lua ideal para o plantio do milho, da mandioca e de todos os cultivos. Os Arara dizem que, se os legumes de roça forem plantados na lua minguante, geralmente não ficam bons. Na lua minguante costumam plantar somente o arroz, porque assim ele não cresce muito, facilitando a colheita. Novembro e dezembro é a época correta do plantio para que o milho de fevereiro tenha boa produtividade, mas estes não têm resistência, isto é, suas sementes não prestam para serem plantadas no próximo ano. As plantas de rama são também as primeiras a serem plantadas. Antigamente, os Arara queimavam a roça e no dia seguinte já iam plantar, “antes do calango passar por dentro da roça”, porque se ele passasse por dentro, as “árvores de rama não dão bom fruto”. Hoje já não tem mais isso. O arroz é plantado em novembro e dezembro para ser colhido no final de abril ou plantado em fevereiro para ser colhido de maio para junho. O milho pode ser plantado duas vezes ao ano, sendo o segundo plantio realizado até dia 19 de março, dia de São José, para que no dia 19 de junho possam colher comer milho assado na fogueira de São João. A mandioca é plantada em novembro e dezembro e, às vezes, os Juruna podem deixar uma parte da roça para ser limpa em maio e então plantar mais um pouco de mandioca, pois o plantio em maio também é “saudável”. Hoje em dia, poucas pessoas plantam arroz. Durante o levantamento não foi encontrada nenhuma roça com arroz, porque segundo eles dá muito trabalho, portanto plantam mais mandioca e milho. Até macaxeira estão plantando pouco porque se plantarem longe da casa a cutia preda tudo, “mas nem sempre dá para plantar perto”. Algumas pessoas fazem roças grandes demais, não conseguem cuidar e o mato acaba tomando conta da roça. Situação que foi muito observada nas roças de 2013. As mulheres e crianças também participam da atividade da roça. As crianças, a partir dos cinco anos, acompanham o pai, que cava a terra, enquanto a criança planta a maniva, cobrindo-a com terra. As crianças de 12 anos já ajudam a roçar o mato. Na coivara, o pai corta os troncos e as crianças os juntam no aceiro, na margem da roça. As mulheres também ajudam cortando a coivara e plantando. Na derrubada não ajudam porque é um serviço pesado demais. As mulheres e as crianças com mais de 12 anos também participam da colheita, tirando a mandioca e carregando-a para casa. Levantamento das roças atuais Roças 2013 Foram identificadas 15 roças abertas no ano de 2013 na TI Arara da VGX, sendo oito roças na aldeia Terrawangã, uma na aldeia Guary-Duan, duas no núcleo Vista Alegre e uma no núcleo do Pedra Cega (Anexo IV). Três roças que estão localizadas fora dessa terra indígena mas são utilizadas por alguns moradores também foram levantadas por meio das entrevistas com os donos: (i) uma roça localizada no Bento, localidade que fica na boca do rio Bacajá, onde moram parentes não indígenas dos Arara; (ii) na comunidade São Francisco, localizada abaixo do garimpo da Ressaca, onde um casal Arara/Juruna que passa parte do tempo na aldeia Terrawangã e parte nessa comunidade; (iii) uma roça na aldeia Pykaiako (TI Trincheira Bacajá) pertencente a uma família que se mudou há oito meses para a aldeia Guary-Duan e ainda utiliza esta roça para colher seus produtos. A maior parte das roças de 2013 não pode ser medida com o GPS, pois estavam tomadas por mato, o que impossibilitou percorrer os seus limites. Das 15 roças identificadas para o ano de 2013, somente três puderam ter sua área calculada com o uso de GPS. As 12 roças restantes tiveram sua área estimada de acordo com o número de linhas que o seu dono afirmava ter (Quadro 3.1), valor que em geral não coincide com o valor calculado com o GPS. A área total de roças para a TI Arara da VGX em 2013 foi de 18,28 hectares, equivalendo a uma área cultivada per capita de 0,12 hectares/pessoa, valor próximo aos 0,14 hectares/pessoa encontrado para a TI Paquiçamba no mesmo ano. Quadro 3.1: Áreas das roças abertas em 2013 pelos moradores da TI Arara da VGX Aldeia ou localização das roças População (número de 1 habitantes) Terrawangã Roças de moradores do Terrawangã localizadas fora da terra indígena Tamanho total medido e/ou estimado (hectares) Tamanho total de acordo com os donos 2 das roças 11,42 38,5 linhas 2,72 9 linhas 2,12 7 linhas 1,81 6 linhas 100 Guary-Duan Roças de moradores do Guary-Duan localizadas fora da terra indígena 27 Núcleo Vista Alegre 9 0,20 4 linhas Sítio Porto Alegre 12 0 0 Total 148 18,28 64,5 1 2 População em fevereiro de 2015. . De um modo geral percebe-se que as medidas em linha utilizadas pelos donos das roças são um pouco maiores do que a área real medida com o uso de GPS, por isso deu-se preferência, sempre que possível, às medidas calculadas com o GPS. Roças 2014/15 Os dados das áreas de roças abertas entre o final de 2014 e o começo de 2015 foram todos calculados com GPS, com exceção de 3 linhas de roça localizadas na comunidade de São Francisco, fora da terra indígena, que foi estimada, considerandose que a medida de 1 linha equivale a 3.025 m28 (Quadro 3.2). Nesse período foram registradas 29 roças, que totalizaram 16,16 hectares. De toda esta área, apenas 17 roças da aldeia Terrawangã, com uma linha cada, foram abertas com o uso de trator 8 Conforme informado por técnico da Executora do Programa de Atividades Produtivas em comunicação pessoal. (totalizando 4,33 hectares). Toda a área restante foi aberta pelos próprios moradores (Figura 3.1). Uma das roças deste período, com área de 2,89 hectares, localizada no Sítio Porto Alegre, foi aberta exclusivamente para comercialização dos produtos (Figura 3.2). Quadro 3.2: Áreas das roças abertas em 2014/15 pelos moradores da TI Arara da VGX Aldeia ou localização das roças População (número de 1 habitantes) Tamanho total medido e/ou estimado (hectares) Terrawangã 1 8,92 Hectares de roça/habitante 2 Roças de moradores do Terrawangã localizadas fora da terra indígena 100 0,10 Guary-Duan 27 2,81 0,10 Núcleo Vista Alegre 9 0,52 0,06 Sítio Porto Alegre 12 2,89 0,24 Total 148 16,16 0,11 1,02 2 População em fevereiro de 2015. . Destes, 4,335 hectares correspondem a área aberta pelo trator e 4,585 correspondem a área aberta pelos próprios indígenas. Figura 3.1: Em primeiro plano, roça aberta à mão, já plantada, e ao fundo, roça aberta com o uso de trator Figura 3.2: Roça com fins comerciais No período de 2014/15, a área cultivada per capita foi de 0,11 hectares/pessoa. Este valor é condizente com os 0,12 hectares/pessoa estimados para essa mesma terra indígena no período de 2013. Contudo, descontando-se a área de 2,89 hectares do sítio Porto Alegre, que é destinada exclusivamente para comércio, obtém-se uma área cultivada per capita de 0,10 hectares/pessoa no ano de 2014/15. As etnovariedades cultivadas Foram registradas vinte e cinco espécies de plantas cultivadas pelos Arara da TI arara da VGX em suas roças abertas em 2013 e 2014/15 (Quadro 3.3). Quatro tipos de cultivos, a mandioca, macaxeira, o milho e a banana foram responsáveis por 33% de toda a agrobiodiversidade das roças Arara. Quadro 3.3: Plantas cultivadas nas roças de 2013 e 2014/15 pelos Arara da TI Arara da Volta Grande e suas etnovariedades Nome do cultivo em português o Nome científico Mandioca N de etnovariedades 7 - Seis meses - Tachizona - Tachizinha - Sacaí - Baixinha - Najá - Amarelinha 5 - Cacau - Da Bahia - Olho roxo - Branca - Casca rosa 5 - Comum - Da Agrar/Engetec - Pipoca - Baixinho - Do índio (colorido) Manihot esculenta Macaxeira Milho Banana Musa spp. 9 - Prata - Roxa - Peruá - Branquinha - Comprida - Peruazinha/costela de vaca - Maçã - Anajá - Roxa/branca Melancia Citrullus lanatus 3 - Redonda (rajada) - Comprida (branca) - Japonesa 3 - Abobrinha - Redonda grande - Pescoçuda/comprida 3 - Cabeludo/espinhudo - Liso com raias - Liso amarelo grandão 5 - Roxo - Branco - Bem roxinho - Cinzinha - Inhame grande Abóbora/jerimum Maxixe Cará 9 Zea mays Nomes das etnovariedades Curcubita máxima Cucumis anguria Dioscorea trifoliata Abacaxi Ananas comosus 5 - Pequeno - Grande - Ananás - Comum 9 - Da Agrar/Engetec Mamão Carica papaya 2 - Havaí A variedade fornecida pela Executora do Programa de Atividades Produtivas passou a ser chamada pelos Arara por “abacaxi da Agrar/Engetec”. - Comum Batata doce Ipomoea batatas 5 - Branca - Amarela - Meio amarelada - Vermelha - Roxa Cana-de-açúcar Saccharum officinarum 2 - Branca - Roxinha Pimenta (Figura 3.3) Capsicum sp. 6 - Malagueta - Malaguetão - De cheiro amarelinha - Outros 3 tipos que não sabia o nome Pepino Cucumis sativus 1 - Não sabia o nome Quiabo Abelmoschus esculentus 1 - Não sabia o nome Feijão Phaseolus vulgaris 2 - Branquinho grande - Branquinho pequeno Cupuaçu Theobroma grandiflorum 1 Graviola Annona muricata 1 Acerola Malpighia glabra 1 Biriba Não identificado 1 Coco da praia Cocos nucifera 1 Ingá Inga spp. 1 Laranja Citrus sp. 2 - Lima - Tangerina Limão Citrus sp. 2 - Tanja - Pequeno Cacau Theobroma cacao 3 - Gema de ovo - Cururu - Roxo Urucum (Figura 3.4) Bixa orellana 2 - Vermelho - Verde Total 25 espécies 79 Figura 3.3: Seis etnovariedades de pimenta Figura 3.4: As duas etnovariedades de urucum: verde e vermelho Comparação temporal da área cultivada A comparação temporal dos resultados da TI Arara da Volta Grande do Xingu tem duas limitações: a primeira é que os dados do Componente Indígena do EIA da UHE Belo Monte foram apresentados em linhas e não se deixa claro se os valores em hectares foram medidos pelos autores ou estimados, o que faz com que a comparação tenha que ser feita somente com os valores em linhas e, a segunda, é o fato de que em 2013 boa parte da área de roças teve que ser estimada a partir da percepção dos donos das roças, em linhas. Ainda assim, é possível fazer algumas observações. Apesar do número de roças abertas ter aumentado de 11 roças em 2009 (Patricio et al., 2009) para 15 roças em 2013 e 29 roças em 2014/15, os dados parecem indicar uma redução gradual da área total cultivada e da área cultivada per capita. Em 2009, a estimativa de área total era de 76,5 linhas, enquanto que em 2013 o número caiu para 64,5 linhas. Em hectares, em 2013 a área total cultivada era de 18,28 hectares, passando para 16,16 hectares em 2014/15. A área cultivada per capita passou de 0,68 linhas/habitante em 200910 para 0,44 linhas/ habitante em 2014, mantando-se em níveis semelhantes entre 2013 (0,12 ha/habitante) e 2014/15 (0,11 hectares/ habitante). No presente estudo não se aprofundou nas possíveis razões para esta situação, contudo, alguns moradores indicaram a pouca disponibilidade de tempo para trabalhar na roça11 e a perda de roças já preparadas. Sete moradores informaram que prepararam roças em 2013 mas acabaram perdendo-as por diferentes razões: em uma das roças as sementes de milho e as manivas de mandioca plantadas não vingaram; três roças foram abertas mas não queimaram direito; a área de duas roças foi utilizada para a construção das novas casas de alvenaria; uma roça o dono optou por abrir novamente quando o trator chegou na aldeia. Houve também um morador da aldeia Guary-Duan que abriu uma roça de 16 linhas, porém conseguiu plantar apenas quatro linhas. Percepção dos Arara com relação às transformações nas roças ao longo do tempo De acordo com o morador e fundador mais velho da aldeia Terrawangã, antigamente, há cerca de 60 anos, as roças tinham no máximo quatro linhas, ninguém plantava oito 10 Quando a população da TI era de 112 habitantes. Um morador informou que no ano de 2013 chegou a abrir uma roça de três linhas mas acabou não plantando porque começou a trabalhar na construção das casas de alvenaria, não tendo mais tempo disponível para trabalhar em sua roça 11 linhas de roça. Dessas quatro linhas ele colhiam os alimentos que duravam até o outro ano. Hoje, plantam oito linhas de roça e mesmo assim as vantagens são poucas. Segundo os Arara, houve momentos em que as pessoas não se interessam por fazer roça, só se importavam em caçar, trabalhar em garimpo, pescar peixes para vender e peixe ornamental. “Muitos se entretinham só de pescar”. Às vezes, deixavam passar o tempo de fazer roça e depois é que sentiam falta de farinha. Na época que trabalhavam com a seringa, segundo este informante, os Arara nunca se atrapalharam. Cortavam seringa em maio, se o verão era cedo, e em junho, julho e agosto. Quando chegava 15 de agosto, pai convidava as pessoas da comunidade para parar de cortar seringa e ir brocar e derrubar roça. Deixavam a vegetação secar durante o mês de setembro e aí queimavam a roça. A coivara era realizada no mês de setembro ou outubro, às vezes começava no fim de setembro e em outubro já estava tudo pronto para em novembro ser feito o plantio. Em outubro, os Arara iam limpar as estradas de seringa, sem atrapalhar o trabalho na roça, trabalhando na seringa uma semana ou às vezes três dias e, no restante do tempo, iam trabalhar na roça. Ou então, trabalhavam na seringa de segunda à sexta-feira e no sábado iam à roça encoivarar ou plantar, sem que um trabalho atrapalhasse o outro. Todo ano tinham produção de seringa e da roça. Já a pesca de carizinho (peixe ornamental), o garimpo e a pesca comercial que, como eles dizem, são “invenções da juventude”, competiram muito com o trabalho na roça. Segundo um informante mais velho, o carizinho e o Plano Emergencial foram os que mais reduziram o trabalho na roça: “... esse bem aí [o Plano Emergencial] aconteceu que muitos se esqueceu mesmo [da roça], só tavam comendo e pensando que todo tempo ia ser daquele jeito. (...) O que aconteceu foi sofrer depois.(...) Todo mundo com a casa cheia de bagulho [objetos] ia fazer o que? Trabalhar pra que?”. (...) O carizinho e esse plano [Plano Emergencial] deu o problema maior, (...) ninguém se incomodava não. (...) Teve muita gente que não se incomodou não, achava que isso aí [alimentos externos] dava pra comer todo tempo. Nego engordou menino. Sabe o que é pegar mercadoria e botar dentro de casa?” Os mesmos cultivos que existiam antes são plantados hoje também, com poucas diferenças nas etnovariedades. Naquela época, havia dois tipos de mandioca Najá, a grande e a da folha miúda, uma com a casca mais escura e a outra que produzia uma farinha bem amarelinha, e havia também a etnovariedade Tachi. A Tachi é uma mandioca que a massa é bem alva e a casca dela aguenta ser deixada de molho por mais de um dia sem amolecer, só a massa amolece, facilitando o trabalho da produção de farinha. Há dois tipos de Tachi, a Tachizinha e a Tachizona. Antigamente não existiam duas etnovariedades de macaxeira, a Vermelha e a Cacau, só existiam a Da bahia, que é preta, e a Branca que, como o nome diz, é branca. 4. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES A partir dos resultados apresentados, três aspectos do sistema agrícola atual dos povos Juruna e Arara da Volta Grande do Xingu merecem destaque: a forte dependência de sementes externas; o reduzido tempo de pousio praticado pelo povo Juruna e, a redução, ao longo dos anos, na área total e na área cultivada por habitante nas duas Terras Indígenas. Atualmente, tanto os Juruna como os Arara dependem do fornecimento externo de sementes para seus plantios, em alguns casos até deixando de plantar uma roça já aberta devido à falta destas. Segundo um entrevistado Arara, eles possuíam mais sementes e manivas, mas hoje em dia estão descuidando destas. O milho é o caso mais emblemático, apenas quatro roças na TI Paquiçamba cultivam etnovariedades de milho diferentes do milho adquirido na cidade. Recomenda-se, portanto, fomentar e facilitar a troca de sementes destes dois povos com outros povos locais, bem como incentivar a retomada da prática de armazenamento de sementes e promover a reflexão sobre a importância da valorização e da manutenção da agrobiodiversidade para garantir a sustentabilidade das roças, sem dependência externa. O tempo de pousio na TI Paquiçamba, de cerca 5 anos é, de acordo com a literatura apresentada , extremamente baixo e pode apresentar riscos para a sustentabilidade do sistema agrícola deste povo. Por fim, a redução na área cultivada por habitante observada na TI Paquiçamba ao longo dos últimos anos e a indicação de redução na TI Arara da Volta Grande do Xingu também merecem atenção. De acordo com a literatura, quando há uma fonte de renda regular ou quando há envolvimento de tempo em outra atividade comercial, como a pesca comercial, o garimpo e a pesca de peixes ornamentais, também mencionados pelos Arara, é comum ocorrer uma redução da área cultivada por povos indígenas. Com a redução destas fontes de renda, é possível que haja uma retomada da atividade agrícola pelos povos Arara e Juruna nos próximos anos. Por todas estas razões, é extremamente relevante o monitoramento anual do sistema agrícola destas duas Tis, por meio de levantamentos realizados no âmbito da ação Monitoramento do sistema agrícola. Esta ação tem interface direta com o Programa de Atividades Produtivas e sugere-se, portanto, que seja feita uma análise integrada dos sistemas agrícolas dos povos da Volta Grande do Xingu, aprofundando os estudos sobre o conhecimento tradicional, o tempo de pousio, as etnovariedades plantadas e perdidas e a capacidade produtiva das roças. Além disso, embora o Programa de Atividades Produtivas não incentive a introdução de maquinário agrícola nas aldeias, mas responda a uma demanda indígena, sugere-se também o acompanhamento dos efeitos da introdução de maquinário no preparo e na abertura das roças. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALCORN, J. B. 1981. Huastec Noncrop Resource Management: Implications for Prehistoric Rain Forest Management. Human Ecology, vol. 9, n º 4, pp. 395-417. ALCORN, J. B. Noble savage or noble state? Northern myths and Southern realities in biodiversity conservation. Etnoecologia v.2, n. 3 [s.d.]. 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Responsável por parte do levantamento bibliográfico e pela revisão do relatório: Renata Barros Marcondes de Faria, consultora PGTI. Anexo I - Questionário sobre as roças de 2013 Aldeia _____________________ Data __________ Nome do dono da roça ____________________________________________ Tamanho da roça medido com o GPS ________________________________ Qual o tamanho de acordo com o dono? ______________________________ Ano de abertura _____________ Quantas roças abriu nesse ano? ________ A roça é só sua ou de mais alguma pessoa? Família? _______________________________________________________________ Que tipo de vegetação tinha antes de derrubar? _______________________________________________________________ Qual é o tipo de solo da sua roça? _______________________________________________________________ O que plantou? __________________________________________________ _______________________________________________________________ Ir para a tabela de etnovariedades Troca ou compra sementes e manivas com alguém? Com quem? Como? Quando? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ A produtividade está boa? _______________________________________________________________ Usa ou usou adubo ou veneno? Por quê? Como e quando começou a usar? Incentivado por quem? _______________________________________________________________ Quem se alimenta dos produtos da sua roça (no de pessoas)? Nomes e relações de parentesco. Cobra de alguma forma pelos produtos? _______________________________________________________________ Os produtos da sua roça são suficientes para o sustento da sua família? Caso não por quê? _______________________________________________________________ Ano passado vendeu alguma coisa, fez farinha para vender? Quantidade, preço, para quem e aonde vendeu? _______________________________________________________________ Quem ajudou a fazer sua roça? Contratou alguém? De que forma é o pagamento? Colocar nomes e relação de parentesco. _______________________________________________________________ Alguma instituição ajudou a fazer a sua roça, ou deu assistência técnica? Quem e como? _______________________________________________________________ Quem cuida e/ou limpa a sua roça? Contrata alguém? De que forma é o pagamento? _______________________________________________________________ Algum problema nessa sua roça? _______________________________________________________________ Como se desloca até a roça? _______________________________________________________________ Como transporta a produção? _______________________________________________________________ Depois que abandona as roças visita elas? Para que? _______________________________________________________________ Pretende fazer roça esse ano de 2015? De que tamanho? Vai plantar os mesmos cultivos? _______________________________________________________________ Você acha que está difícil encontra locais para abrir roça? _______________________________________________________________ Pra você as roças estão longe ou perto da aldeia? _______________________________________________________________ Você acha que Belo Monte trouxe ou vai trazer algum impacto para as roças? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Como você gostaria que fossem as roças de vocês no futuro? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Você acha que a roça pode ser uma alternativa para vocês? Por quê? O que gostaria de plantar? Quais as dificuldades? _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Tem bananal ou algum outro tipo de cultivo como bananal ou cacau? Qual? _______________________________________________________________ Quantos filhotes de banana plantou? Preencher ficha variedades. _______________________________________________________________ Nome do cultivo Etnovariedades Quantidade Finalidade Duração do ciclo Procedência da semente ou Descrever a (pouco, médio, (consumo, venda, fazer (quanto tempo demora maniva etnovariedade, (como muito) farinha, alimentar galinhas) para produzir) (local, quem trouxe, época/ano) diferencia das outras) Anexo I - Questionário sobre as roças de 2014/15 Aldeia _____________________ Data __________ Nome do dono da roça ____________________________________________ Tamanho da roça medido com o GPS ________________________________ Qual o tamanho de acordo com o dono? ______________________________ Ano de abertura _____________ Quantas roças abriu nesse ano? ________ A roça é só sua ou de mais alguma pessoa? Família? _______________________________________________________________ Que tipo de vegetação tinha antes de derrubar? _______________________________________________________________ Qual é o tipo de solo da sua roça? _______________________________________________________________ O que plantou? __________________________________________________ _______________________________________________________________ Etnovariedade, quantidade e procedência. _____________________________________________________________________ _________________________________________________________ Usa ou usou adubo ou veneno? Por quê? Como e quando começou a usar? Incentivado por quem? _______________________________________________________________ Quem ajudou a fazer sua roça? Contratou alguém? De que forma é o pagamento? Colocar nomes e relação de parentesco. _______________________________________________________________ Alguma instituição ajudou a fazer a sua roça, ou deu assistência técnica? Quem e como? _______________________________________________________________ Algum problema nessa sua roça? _______________________________________________________________ Como se desloca até a roça? _______________________________________________________________ Anexo II – Detalhes das roças cultivadas pelos Juruna no ano de 2013, separadas por aldeia Aldeia Paquiçamba: Roça1: Roça grande, contigua, mas não coletiva, de propriedade do Seo Manoel, Mário Sandro, Marino e Marizan: Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Cultivos Etnovariedades Tachizona Mandioca Seis meses Milho da Agrar/Engetec Comprida Branca/maçã Seo Manoel 3 linhas Peruá Banana Roça grande Regindeira (engana ladrão) contigua. Sapo Prata Trezentos Tachizona Mandioca Sacaí Marino 3 linhas Prata Banana Maçã Milho da Agrar/Engetec Seis meses Mandioca Najá Tachizona Marizan 3 linhas Roça grande Macaxeira Não sabe o nome contigua. Milho da Agrar/Engetec Banana Maçã Tachizona Mário Sandro (Cocó) 3,5 linhas Mandioca Seis meses Olho roxo Macaxeira Não sabe o nome Milho da Agrar/Engetec Peruá Comprida Banana Engana ladrão Trezentos Total 2,8326 hectares Melancia Redonda Abacaxi 3 tipos mas não sabe o nome 12,5 linhas Roça 2: roça grande contigua, mas não coletiva, de propriedade do Marino, dona Alvina, Seo Zequinha, Eliete, Nildo e Antônio: Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Cultivos Etnovariedades Folha fina Mandioca Seis meses Macaxeira Não sabe da Agrar/Engetec Milho Comum Seo Zequinha e o Zé da Lusa 1,5 linhas Redondo Abóbora Comprido Roça grande contigua. Melancia Redonda Maxixe Cabeludo Pepino Só um tipo, não sabe qual Não sabe o nome Mandioca Seis meses Elenildo Macaxeira Não sabe o nome Milho da Agrar/Engetec Banana Prata Cará Roxo 3 linhas Pescoção Abóbora Não sabe o nome Maxixe Cabeludo Redonda Melancia Comprida Dona Alvina Mandioca Tachizona Macaxeira Não sabe Melancia Comprida Maxixe Liso 1 linha Redonda Abóbora Comprida Mandioca Seis meses Macaxeira Não sabe o nome Milho da Agrar/Engetec Banana Só um tipo, não sabe qual Cará Roxo Roça grande contigua. Cláudio 3 linhas Redonda (rajada) Melancia Comprida Maxixe Cabeludo Pepino Só um tipo, não sabe qual Marino 1 linha Sem informações Sem informações Antônio 1 linha Sem informações Sem informações Total 3,104 hectares 10,5 linhas Roça 3: grande a princípio coletiva, mas depois dividida entre Ozimar, Odimar, Manuelzinho e Raimundo Todo Manso: Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Cultivos Etnovariedades Folha fina Seis meses Mandioca Tachizinha Tachizona da Agrar/Engetec Hibra Milho da Agrar/Engetec Redonda Ozimar, Manuelzinho, Odimar e Raimundo Todo Manso 16 linhas 3,731 (4 linhas para casa um) Comprida Melancia Brasileirinha Moscatel Pescoção Abobrinha Abóbora Redonda Caboclo Mamão Amarelo Cabeludo Maxixe Liso Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Cultivos Etnovariedades Tachizinha Mandioca Tachizona Cacau Macaxeira Da bahia Juriti Hibra Milho Caboclo Branco Ozimar e seus três filhos, Ocimar, Jocivan e Ozivan Cará Roxo 0,351 2 linhas Pescoção Abóbora Abobrinha Redonda Redonda Comprida Melancia Brasileirinha Moscatel Cabeludo Maxixe Liso Dono da roça Tamanho medido com o GPS Tamanho de acordo Cultivos Etnovariedades (hectares) com o dono Mandioca Seis meses Baixinho Milho Canelão De massa (tradicional) Comprida Banana Dona Alvina 0,387 Branca 2 linhas Redonda Abóbora Comprida Redonda Melancia Comprida Liso Maxixe Cabeludo Aldeia Mïratu: Roça grande contigua, mas não coletiva, de propriedade do Seo Agostinho, Natanael, Jailson, Pedro, Jarliel, Jair, Josiel, Gelson e José: Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Cultivos Etnovariedades Folha fina Mandioca Sacaí Seis meses Milho Seo Agostinho e Natanael 4 linhas da Agrar/Engetec Pescoçuda Abóbora Redonda Abobrinha Jailson (Caboco) e Pedro Feijão Branco (de baião) Mandioca Vários tipos, não sabe os nomes Milho Só um tipo, não sabe qual 2 linhas 3,941 Seis meses Mandioca Jarliel, Jair e Gerbim (visita frequente) Folha fina 4 linhas Não sabe o nome Milho da Agrar/Engetec Folha fina Mandioca Josiel e Gelson Total Outro tipo, não sabe qual 3,5 linhas José 3,941 Seis meses Macaxeira Não sabe o nome Milho da Agrar/Engetec 2 linhas Sem informações Sem informações 15,5 linhas 5 cultivos Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Cultivos Etnovariedades Olho roxo Mandioca Folha fina Outro 3 tipos mas não sabe o nome Macaxeira Cacau Milho da Agrar/Engetec Banana Comprida Pescoçuda Abóbora Redonda Giliarde 1,882 Comprida 6 linhas Melancia Redonda Maxixe Cabeludo Abacaxi Ananas Quiabo Só um tipo, não sabe qual Pepino Só um tipo, não sabe qual Abacate Só um tipo, não sabe qual Cacau Sem informação Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Cultivos Etnovariedades Pau torto Macaxeira Cacau Outro 2 tipos mas não sabe o nome da Agrar/Engetec Milho Agostinho 0,422 Canela roxa 2 linhas Redonda Melancia Comprida Liso Maxixe Cabeludo Pepino Só um tipo, não sabe qual Cultivos Etnovariedades Aldeia Furo Seco: Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono da Agrar/Engetec Mandioca Tachizona Milho Banana Só um tipo, não sabe o nome Chifre de vaca/comprida Branquinha Toda a aldeia 1,663 4 linhas Redonda Melancia Comprida Redonda Abóbora Pescoçuda Liso Maxixe Cabeludo Feijão Branco Anexo IV: Detalhes das roças cultivadas pelos Arara da TI Arara da Volta Grande do Xingu em 2013 Na aldeia Terrawangã: Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Cultivos Etnovariedades Seis meses Mandioca Tachizona Sacaí Cacau Macaxeira Da bahia Prata Roxa Peruá Banana Branquinha Comprida Peruazinha/costela de vaca Milho Comum Branca Ednaldo 2,1922 8 linhas Batata doce Vermelha Pequeno Abacaxi Grande Ananás Cabeludo Maxixe Liso com raias Liso amarelão, grande Redonda Melancia Comprida rajada Vermelho Urucum Verde Gema de ovo Cacau Cururu Roxo Malagueta Pimenta de arder Malaguetão De cheiro amarelinha Pimenta de temperar 3 tipos mas não sabe o nome Abobrinha Redonda grande Jerimum Pescoçudo Grande Feijão Branquinho pequeno Branquinho grande Cará 1 tipo Quiabo 1 tipo Pepino 1 tipo Tanja Limão Pequeno Lima Laranja Tangerina Dono da roça Fernando Kinho Tamanho medido com o GPS (hectares) Não foi medida Tamanho de acordo com o dono Coco da praia 1 tipo Ingá 1 tipo Cultivos Etnovariedades Mandioca Seis meses Milho Comum Maxixe Com espinho Mamão 1 tipo 2 linhas Dono da roça Bajaú Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Não foi possível de medir por que o trator passou por cima para abrir as roças novas Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Cultivos Etnovariedades Mandioca Seis meses Milho Da Agrar/Engetec Branquinha 4 linhas Banana Costela de vaca Tamanho de acordo com o dono Cará Roxo Abacaxi Comum Cultivos Etnovariedades Mandioca Não sabe as etnovariedades Milho Pipoca Redonda Edson Carlos Não foi medida, estava com muito mato Melancia Comprida 8 linhas Abóbora Abobrinha Maxixe Espinhudo Verde Urucum Vermelho Dono da roça Josimar Leléu Tamanho medido com o GPS (hectares) Não medida Tamanho de acordo com o dono 2,5 linhas Cultivos Etnovariedades Mandioca Tachizinha Cará Roxo Maxixe ? Coco da praia 1 tipo Laranja 1 tipo Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Jorge Não foi medida* 2 linhas Cultivos Etnovariedades Mandioca Seis meses Abacaxi Da Agrar/Engetec Cultivos Etnovariedades * Foi destruída pelo trator para abrir a aldeia nova Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Sacaí Mandioca Seis meses Macaxeira Olho roxo Comum Milho Pipoca Comum Abacaxi Ananás Branco Cará Roxo Bem roxinho Edcarlos Não foi medida, muito fechada com mato 8 linhas Comum comprida Melancia Redonda rajada Cabeludo Maxixe Liso amarelo Cana-deaçúcar Branca Grande Jerimum Comprido Feijão Branco pequeno De cheiro Pimenta De arder Pepino 1 tipo Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Cultivos Etnovariedades Seis meses Mandioca Não sabe o nome Zildo Não foi medida, muito mato Milho Da Agrar/Engetec Melancia Comprida Maxixe Cabeludo Feijão Branco Cultivos Etnovariedades Mandioca 2 tipos, mas não sabe o nome Milho 1 tipo, não sabe o nome 4 linhas No Bento, boca do Bacajá, fora da TI Arara da VGX: Dono da roça Benedito Tamanho medido com o GPS (hectares) Não deu para medir Tamanho de acordo com o dono 3 linhas Na comunidade São Francisco, fora da TI Arara da VGX: Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Cultivos Etnovariedades Tachi Mandioca Milho 2 tipos que nasceu sozinha Da Agrar/Engetec Comum Abacaxi Francelino Não foi medida Ananas 6 linhas Maxixe Cabeludo Redonda rajada Melancia Japonesa (comprida amarela) Cará Roxo Quiabo 1 tipo Na aldeia Guary-Duan: Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Cultivos Etnovariedades Seis meses Mandioca Não sabe o nome Francisco Não foi medida, muito mato e espinho Macaxeira Olho roxo Milho Não sabe o nome Cará Roxo Maxixe Cabeludo Jerimum Redondo Pepino 1 tipo Cultivos Etnovariedades 4 linhas Na aldeia Pykaiako, TI Trincheira Bacajá:. Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Tachizona Mandioca Baixinha 3 tipos, não sabe o nome Branca Macaxeira Olho roxo Do índio (colorido) Pipoca Luís Kayapó Não foi medida por estar em outra terra indígena Milho Comum 6 linhas Da Agrar/Engetec Cinzinha Cará Inhame grande Comum roxo Maxixe Cabeludo Branca Batata doce Roxa Amarela Inhame Cana-deaçúcar 1 tipo Roxinha Branca Quiabo 1 tipo Pepino 1 tipo Ananás Abacaxi Comum Abóbora 1 tipo Redonda rajada Melancia Comprida branca Havaí Mamão Comum Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Coco da bahia 1 tipo Biriba 1 tipo Acerola 1 tipo Graviola 1 tipo Tanja (tangerina) 1 tipo Cupuaçu 1 tipo Cultivos Etnovariedades Najá Mandioca Tachi Macaxeira Cacau Prata José Pedra Cega Não foi medida, com muito mato 3 linhas Branquinha Banana Peruá Roxa branca Comprida Milho Não sabe o nome Roxo Cará Branco Maxixe Cabeludo Redonda Abóbora Abobrinha Melancia Comprida Cultivos Etnovariedades Mandioca Anajá Macaxeira Não sabe o nome Milho ? Núcleo Vista Alegre: Dono da roça Tamanho medido com o GPS (hectares) Tamanho de acordo com o dono Maçã Peruá Banana Prata Comprida Anajá Baltazar 0,1123 Abacaxi Comum Abóbora Abobrinha Melancia Redonda 2 linhas Roxo Cará Branco Maxixe Cabeludo Malagueta Pimenta De cheiro Dono da roça Tamanho medido com o GPS Tamanho de acordo Quiabo 1 tipo Batata doce ? Cultivos Etnovariedades (hectares) com o dono Mandioca Anajá Milho Baixinho Roxa branca Branquinha Cirley 0,0910 2 linhas Banana Comprida Anajá Peruá Cará Roxo Melancia Redonda