15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental PREVISÃO DO COMPORTAMENTO GEOMECÂNICO DE HORIZONTES RESIDUAIS PERTENCENTES ÀS ÁREAS COM POTENCIAL PARA EXPANSÃO URBANA NO MUNICÍPIO DE SÃO BERNARDO DO CAMPOSP. Aloá Dandara de Oliveira de Souza (1); Cláudia Francisca Escobar de Paiva (2) . RESUMO O presente trabalho possui como objetivo classificar dois solos residuais jovens pertencentes às áreas com potencial para expansão urbana no município de São Bernardo do Campo - SP. Os ensaios para classificar os solos tropicais, previstos neste trabalho, foram realizados dentro dos conceitos estabelecidos pela metodologia MCT- Miniatura Compactada Tropical. Esta metodologia baseia-se na determinação de parâmetros fornecidos pelos ensaios de Compactação Mini-MCV e pelo ensaio de Perda de Massa por Imersão, classificando os solos tropicais em dois grandes grupos: os de comportamento laterítico e os de comportamento não laterítico. Além da classificação MCT, foram aplicadas as classificações SUCS (Sistema Unificado de Classificação de Solos) e HRB (Highway Research Board). A caracterização e classificação dos horizontes e, por conseguinte a previsão do comportamento geomecânico dos solos tropicais presentes em áreas de expansão urbana municipal destaca-se como uma necessidade do meio técnico-científico, por um lado devido aos poucos estudos e levantamentos realizados para tal finalidade, por outro pela necessidade da indicação de diretrizes para o planejamento territorialurbano das áreas de expansão urbana municipais, visando atender a Lei 12.608/12 que contempla a elaboração das Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbanização. Pretende-se, portanto, com este trabalho discutir e contribuir para uma melhor classificação dos solos tropicais presentes em áreas de expansão urbana, assim como, avaliar seu comportamento geomecânico frente aos possíveis processos geológico-geotécnicos da dinâmica territorial brasileira. ABSTRACT This work aims to classify the young residual soils belonging to areas with potential urban expansion in São Bernardo do Campo - São Paulo, Brazil. The tests for classifying tropical soils were performed based on the MCT (Miniature-Compacted-Tropical). This methodology is based on determining parameters provided by the tests Mini-MCV Compaction and Loss of Soil by Immersion. The classification separates the tropical soils into two groups: with lateritic and nonlateritic behavior. Besides MCT methodology, were applied the ratings USCS (Unified Soil Classification System) and HRB (Highway Research Board) The characterization, classification and consequently the prediction of geomechanical behavior of soils present in areas with potential urban expansion stands out as one of the requirements in the technical-scientific community, due to few studies and surveys conducted for this purpose and the need for indication of guidelines for territorial-urban planning of the municipal areas of urban expansion in order to meet the Law 12608/12, which includes the preparation of Aptitude Geotechnical to Urbanization Charts. Therefore, the intention of this paper is to discuss and contribute to a better classification of tropical soils present in areas of urban expansion, as well as assess their geomechanical behavior in respect of potential geological and geotechnical processes of brazilian territorial dynamics. Palavras-chave: Sistemas classificatórios, metodologia MCT e solos residuais jovens. (1) Discente UFABC - Universidade Federal do ABC, Rua santa Adélia, 166- Bl. A, (11)961388040, [email protected]. (2) Engenheira, Dra. Professora adjunta do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas – CECS –UFABC - Universidade Federal do ABC, Rua santa Adélia, 166- Bl. A, sala 609-Torre 1, (11) 992748045 (11) 4996-8208, [email protected]. ____________________________________________________________________________________________________ 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1 1 – INTRODUÇÃO O objetivo de caracterizar e classificar os solos é a possibilidade de realizar previsões do seu comportamento geomecânico em obras de engenharia, mineração e meio ambiente. Sabe-se que, as descrições realizadas em cortes ou taludes somadas a ensaios in situ e/ou laboratoriais tornam possível confeccionar mapas e seções com os respectivos grupos de solos classificados quanto à gênese e ao comportamento geotécnico esperado (OLIVEIRA, 1998). O procedimento denominado de classificação do solo, isto é, determinação da categoria de comportamento geomecânico à qual um solo pertence, é precedido pela caracterização que, por sua vez, refere-se à determinação das características dos solos e, por conseguinte, a distinção entre horizontes com comportamento, gênese e características geológico-geotécnicas diversas. Historicamente, desde o fim da década de 30, tem-se notado em território nacional algumas incoerências com o uso da mecânica dos solos tradicional na previsão do comportamento geomecânico dos solos tropicais. Segundo Nogami & Villibor (1995), tais incoerências devem-se às peculiaridades dos solos e do ambiente tropical, destacando-se: a constituição mineralógica, a fábrica (esqueleto ou arcabouço) e as propriedades índices desses solos. É notório, desta forma que descrever, caracterizar e classificar horizontes pedológicos tropicais pertencentes às áreas mais suscetíveis aos processos geodinâmicos mostra-se extremamente importante nos estudos que envolvem acidentes geológico-geotécnicos, assim como, tais análises podem fornecer subsídios para que os novos projetos de parcelamento do solo incorporem diretrizes voltadas para a prevenção dos desastres naturais, especialmente aqueles associados a deslizamentos de encostas, erosões e demais processos geológicos correlatos. Em virtude do exposto, faz-se necessário uma contribuição significativa do meio técnicocientífico para o melhor entendimento do comportamento geomecânico dos solos tropicais pertencentes não só às áreas de risco, como também às áreas com potencial para expansão urbana. 2 – A IMPORTÂNCIA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS NA PREVISÃO DO COMPORTAMENTO GEOMECÂNICO DE HORIZONTES TIPICAMENTE TROPICAIS Nas últimas décadas a Geotecnia dos Solos Tropicais brasileiros evoluiu significativamente, entretanto, alguns importantes parâmetros e características comportamentais desses solos precisam ser melhor conhecidos e aprimorados necessitando de uma investigação mais criteriosa a luz das propriedades estabelecidas pela Mecânica dos Solos (BARRAZA LARIOS & NOBREGA, 2000) e pela Tecnologia dos Solos Tropicais (NOGAMI & VILLIBOR, 1995). Pelo exposto, é de fundamental importância, a proposição de estudos para a descrição, caracterização e classificação dos solos tropicais visando um maior e melhor entendimento da influência de suas características geomecânicas nos processos de instabilização de encostas/taludes. Vale ressaltar que, as informações sobre o comportamento geomecânico dos solos tropicais quando adequadamente analisadas, podem subsidiar tomadas de decisão no âmbito da Geologia de Engenharia Ambiental, destacando-se, entre outros, o adequado uso do solo para ocupação urbana e rural, assim como, a avaliação da sua maior ou menor susceptibilidade aos processos geodinâmicos superficiais (erosões, escorregamentos, colapsos, etc.). É notório no meio técnico-científico que, as informações contidas nos trabalhos de classificação de solos são fundamentais para a elaboração de cartas destinadas ao planejamento urbano e territorial como as cartas geotécnicas (OLIVEIRA, 1998). Pelo exposto, novos trabalhos, além de contribuírem para a melhor compreensão do comportamento dos solos tropicais em áreas de risco, podem orientar a seleção de áreas para a 2 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental ocupação e instalação de futuros conjuntos habitacionais ou loteamentos populares de caráter social que, atualmente, são as maiores fontes potenciais de instabilização de encostas, por estarem geralmente em terrenos situados em áreas mais problemáticas sob o ponto de vista geotécnico (PAIVA, 2005). 3 – ÁREA DE ESTUDO No município de São Bernardo do Campo - SP podem ser observados três grandes compartimentos geomorfológicos (IPT, 1990): as Colinas de São Paulo, a Morraria do Embu, onde a maioria dos assentamentos, sujeitos aos processos geodinâmicos, ocupam os trechos menos favoráveis deste compartimento e a Serra do Mar, onde não se registra ocupação significativa. Geologicamente, identificam-se, principalmente, substratos rochosos constituídos por xistos e micaxistos, em geral, estáveis e, observam-se também grande quantidade de depósitos artificiais de cobertura, constituídos por aterros lançados durante os processos de ocupação e de implantação das moradias e por lixo que, segundo Cerri et al. (2010), é gerador de grande parte dos processos geodinâmicos registrados no município. Foram coletadas amostras deformadas e indeformadas representativas de dois horizontes típicos da região: horizonte residual de micaxisto (A-01) e solo de decomposição de granito (A-02) (Figuras 1 e 2). Assim, amostras georreferenciadas representativas desses dois grupos foram coletadas em dois diferentes pontos da área de estudo. A coleta de amostras foi orientada pelo mapa pedológico e geológico do Estado de São Paulo (Escala 1:500000) e trabalhos de campo prévios para identificação das principais formações pedológicas presentes na área de estudo. Figura 1 - Amostra 01- Solo saprolítico residual - Silte Arenoso de micaxisto. 3 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental Figura 2 - Amostra 02- Solo saprolítico residual - Areia siltosa de decomposição de granito. 4 – MATERIAIS E MÉTODOS Neste trabalho foi aplicada a Classificação Geotécnica MCT (Miniatura Compactada Tropical), além das classificações convencionais: SUCS (Sistema unificado de Classificação de Solos) e HRB (Highway Research Board). Inicialmente, in situ as amostras passaram por procedimentos de identificação visual e táctil que foram repetidos em laboratório para confirmação dos resultados. Posteriormente, as amostras foram submetidas aos ensaios de caracterização e classificação preconizados pelas Normas Brasileiras da ABNT, sendo inicialmente preparadas segundo a NBR-6457/86 (Preparação de Amostras de Solo para Ensaios de Caracterização) e, posteriormente, ensaiadas em conformidade com as normas NBR-7181/84 (Análise Granulométrica dos Solos por Peneiramento e Sedimentação), NBR-6459/84 (Limite de Liquidez de Solos) e NBR-7180/84 (Limite de Plasticidade de Solos). Na sequência, foram realizados os ensaios de Compactação Mini-MCV e o ensaio de perda de Massa por Imersão. O ensaio de compactação Mini-MCV foi desenvolvido a partir do ensaio inglês Moisture Condition Value, sendo empregado apenas ao estudo de solos que passam integralmente na peneira 10 (abertura de malha 2 mm). Em geral, são compactados cinco a seis corpos de prova, com diferentes teores de umidade e com energia de compactação variável. Como resultado obtém-se dois gráficos: um de deformidade e outro de compactação. Já o ensaio de perda de massa por imersão foi criado com a finalidade de se distinguir o comportamento dos solos lateríticos dos não lateríticos, sendo utilizado na classificação do solo tropical no cálculo do coeficiente e’ (VILLIBOR et al., 2007). No ensaio de perda de massa por imersão avalia-se o comportamento do solo quando saturado. Desta forma, o corpo de prova compactado resultante do ensaio Mini-MCV é deslocado em 10 mm de dentro do cilindro e submerso em água na posição horizontal, recolhendo-se, após 20 horas, o material desprendido do corpo de prova. A massa seca da amostra é determinada através da análise da parte desprendida neste ensaio e, assim, determina-se a perda de massa por imersão (Pi). Após a realização do ensaio de compactação e perda de massa por imersão, os solos podem ser classificados em um dos 7 grupos comportamentais da classificação MCT. Sendo que, a mesma agrupa os solos tropicais em duas grandes classes quanto ao comportamento: laterítico e não-laterítico (NOGAMI & VILLIBOR, 1995). Os ensaios realizados adicionalmente (Análise Granulométrica e Limites de Consistência) foram feitos para classificar os solos segundo os principais classificações geotécnicas tradicionais que são a HRB (Highway Research Board) - AASHTO e o Sistema unificado de Classificação de Solos (SUCS). 4 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 5 – RESULTADOS As características das amostras A-01 e A-02 são apresentadas na Tabela 1, onde também está informado o horizonte de coleta e a sua origem geológica. Vale ressaltar que, para a caracterização de solos tropicais, a partir da Classificação MCT, estas últimas informações são imprescindíveis, uma vez que permitem fazer associações entre a classificação MCT e a perspectiva de comportamento geomecânico inerente à sua origem genética. Já na Tabela 2 estão apresentados os resultados dos ensaios de caracterização (Análise granulométrica e Limites de Consistência) das amostras coletadas. Tabela 1. Características das amostras ensaiadas. Amostra Designação Local Origem Geológica HORIZONTE Granulometria (% passando) No. 4 No. 10 No. 40 No. 200 CLASSIFICAÇÃO MCT A-01 A-02 Silte Arenoso de micaxisto. Areia argilo siltosa de decomposição de granito Jardim São Jorge-SBC-SP Granitos equigranulares, médios e grossos, bastante alterados Parque Ideal – SBC-SP Micaxistos e/ou Metarenito, inclui também xitos miloníticos em zonas de cisalhamento C 100 98,82 89,26 21,77 NS’ – Não Laterítico Siltoso C 99,80 98,04 78,03 32,47 NG’ – Não Laterítico Argiloso Tabela 2. Caracterização geotécnica das amostras. FRAÇÃO FINA (%) AREIA (%) Amostra P (%) LL (%) LP (%) IP (%) wnat A+S F M G A-01 21,77 67,49 9,56 1,18 0,00 32,40 29,84 2,56 12,83 A-02 32,47 45,56 20,01 1,76 0,20 32,12 25,19 6,93 15,00 Onde: A + S: Argila + Silte (Fração Fina do Solo); Areia F: Areia Fina; Areia M: Areia Média; Areia G: Areia Grossa; P: Pedregulho; LL: Limite de Liquidez; LP: Limite de Plasticidade; IP: Índice de Plasticidade; Wnat: Teor de Umidade Natural. Visando caracterizar as amostras (A-01 e A-02) coletadas sob os diferentes aspectos das classificações convencionais e não convencionais, incluindo a classificação MCT-M (Miniatura Compactada Tropical - Modificado) proposta por Vertamatti (1998), que inclui a gênese dos solos transicionais, a Tabela 3 expõe os grupos aos quais as mesmas pertencem. Tabela 3. Classificação geotécnica das amostras. AMOSTRA A-01 A-02 CLASSIFICAÇÃO GEOTÉCNICA CONVENCIONAIS SUCS HRB ML A-2-4 SM A-2-4 MCT NS’ NG’ NÃO CONVENCIONAIS MCT-M NS’ NS’G’ Onde: ML: Silte de Baixa Plasticidade; SM: Areia siltosa A-2-4: Pedregulhos e Areias siltosas e argilosas NS’: Solos de Comportamento Não Laterítico Siltoso. NG’: Solos de Comportamento Não Laterítico Argiloso. N’S’G’: Solos de Comportamento Não Laterítico Silte Argiloso. 5 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental No Sistema de Classificação Unificado, a amostra A-01 encontra-se na faixa de finos, subgrupo ML, caracterizado por siltes de baixa plasticidade e a amostra A-02 encontra-se no grupo das areias siltosas. Já de acordo com a classificação HRB, tanto a amostra A-01 como a amostra A-02 pertencem ao grupo A-2-4 caracterizado por pedregulhos e areias siltosas e argilosas. Por fim, tanto na classificação MCT (Figura 3) como na classificação MCT-M (Figura 4) a amostra A-01 pertence ao grupo NS’ que compreende siltes caolínicos e micáceos, siltes arenosos e siltes argilosos não-lateríticos. Já a amostra A-02 na classificação MCT encontra-se no grupo NG’ de comportamento não laterítico argiloso e, pela classificação MCT-M, passa a pertencer ao grupo intermediário entre os solos siltosos e argilosos, isto é, grupo NS’G’. A-01 A-02 Figura 3. Classificação da Amostra A-01 e A -02 ( ) no Ábaco MCT. A-01 A-02 Figura 4. Classificação da Amostra A-01 e A -02 ( ) no Ábaco MCT-M. Sabe-se que o coeficiente c’ possui boa correlação com a granulometria do solo, sendo que valores de c’ superiores a 1,5 são típicos de solos argilosos. Por sua vez, valores intermediários de c’ (1,0 < c’ <1,5) podem representar o comportamento de areias siltosas ou areias argilosas. Já valores de c’ baixos caracterizam solos arenosos e siltosos não plásticos. Na proposta metodológica de Nogami e Villibor (1979), o coeficiente e’ sinaliza o comportamento laterítico ou não laterítico de um solo. Ressaltando que, solos classificados com comportamento laterítico possuem, em média, valores elevados de d’ (d’> 20) e baixos valores de perda de massa por imersão (Pi <100). Destaca-se os elevados valores de perda de massa por imersão (Pi) para os solos classificados como NS’ (Tabela 4), sugerindo um elevado grau de erodibilidade para estas 6 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental amostras, em especial para a amostra A-01 que possui valores médios para perda por imersão da ordem de 515%. Essa análise corrobora com observações feitas no meio técnico-científico sobre a maior susceptibilidade dos horizontes saprolíticos aos processos erosivos hídricos. Tabela 4. Valores médios para os coeficientes classificatórios da metodologia MCT e MCT-M para as amostras A-01 e A-02. AMOSTRA c’ d’ e' Pi (%) CLASSIFICAÇÃO MCT CLASSIFICAÇÃO MCT-M A-01 A-02 0,70 1,60 30,8 4,53 1,80 1,70 515 60 NS’ NG’ NS’ NS’G’ No caso da susceptibilidade à erosão, as propriedades geotécnicas básicas consideradas importantes, segundo os pesquisadores, são: análise granulométrica, índice de vazios, estrutura do solo, parâmetros de plasticidade (Limite de Liquidez e Limite de Plasticidade) e outros testes específicos (Inderbitzen, Infiltrabilidade, Perda por Imersão, Grau de desagregação etc.). Na realidade, não existe um único índice que mede a erodibilidade do solo de maneira simples, padronizada e universal. O Sistema de Classificação Unificado (SUCS) sugere a seguinte hierarquia para a medida da erodibilidade, obtida através da análise granulométrica e em medidas de plasticidade em amostras de solos deformados. Mais Erodível Menos Erodível ML>SM>SC>MH>OL>>CL>CH>GM>SW>GP>GW Para as amostras analisadas, a hierarquia segundo a SUCS (sentido mais erodível para o menos erodível) fica: Amostras 01 (ML) > Amostra 02 (SM). Já de acordo com a classificação MCT, a erodibilidade em solos lateríticos é estimada como sendo de baixa a média e aumenta consideravelmente para os horizontes saprolíticos. Segundo Nogami e Villibor (1995), solos não lateríticos de grupo NS’ apresentam baixa coesão, sendo instáveis nos cortes com grande inclinação e, ainda, apresentam erosão com ravinamento intenso quando seus horizontes ficam expostos. Neste caso, como a amostra A-01 foi classificada como NS’, isto é, solos não lateríticos siltosos, confirma-se, portanto, a hierarquia proposta pelo sistema SUCS. Pode-se dizer que, nos horizontes saprolíticos, sua estrutura colabora para que os mesmos sejam mais suscetíveis à erosão hídrica. Em geral, são solos muito heterogêneos e, quando de origem residual, como é o caso da amostra A-01 analisada, mantém características estruturais da rocha mãe (estrutura reliquiar) e verdadeiros planos de fraqueza estrutural. Os solos desse grupo apresentam média a baixa permeabilidade e possuem elevada perda de massa por imersão. As amostras (A-01 e A-02) possuem elevados teores de fração areia, 78,23 % e 67,33% respectivamente, o que parece indicar uma tendência erodível para as amostras estudadas, em especial para a amostra A-01. Estudos realizados por diferentes autores relacionam as partículas constituintes dos solos aos valores de erodibilidade. Poesen e Govers1 (apud GUERRA, 1998) observaram que as areias apresentam os maiores índices de erodibilidade. Também foi demonstrado que a maior susceptibilidade dos solos à erosão está relacionada aos elevados teores de silte ( EVANS, 1980 e GUERRA, 1998). Assim, sabe-se que a erodibilidade tende a aumentar quando os teores de areia muito fina e silte são elevados, e a diminuir, com a elevação dos teores de argila e matéria orgânica. De acordo com Wischmeier e Smith (1978), as argilas comportam-se como elemento agregante do 1 POESEN, J. e GOVERS, G. (1986) A field-scale study of surface sealing and compaction on loam and sandy loam soils.In: Proceedings of the Symposium held in Ghent. apud GUERRA, A. J. T. (1998) Processos Erosivos nas Encostas. In: Geomorfologia - uma atualização de bases e conceitos. Orgs. S. B. Cunha e A.J.T. Guerra. Ed. Bertrand Brasil, 149-209. 7 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental solo devido à alta atividade eletro-química. As frações mais grossas da areia são transportadas com dificuldade devido ao seu peso. Por outro lado, o silte e as areias finas são as frações mais susceptíveis aos agentes erosivos, pois não possuem nem a característica agregante da argila e nem o peso da areia. É notório, desta forma que descrever, caracterizar e classificar horizontes pedológicos tropicais pertencentes às áreas mais suscetíveis aos processos geodinâmicos mostra-se extremamente importante nos estudos que envolvem a predisposição de novas áreas à expansão urbana. E ainda, o uso de sistemas classificatórios, baseados em uma abordagem predominantemente experimental, mais adequada à realidade tropical e, portanto, às peculiaridades dos solos tropicais, podem contribuir de forma acentuada para um melhor entendimento sobre o comportamento dos solos pertencentes às áreas mais problemáticas sob o ponto de vista geotécnico (PAIVA, 2005). 6 – CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com as informações levantadas, podem-se destacar alguns pontos importantes enumerados abaixo: - Na fração areia dos solos analisados ocorrem minerais instáveis ao intemperismo tropical, como mica e feldspatos, além de quartzo e fragmentos de rocha. - Na fração silte da amostra A-01 destaca-se a presença acentuada de mica e ainda, argilominerais sob a forma de “sanfona”. - Na fração argila dos solos jovens micáceos (amostra A-01) podem ocorrer minerais expansivos das famílias da ilita e da montmorilonita, bem como qualquer outro argilomineral, sendo que uma caulinita de origem saprolítica pode ter comportamento diferente de uma caulinita estabilizada pelo processo de laterização, pelo fato do Fe ainda não estar agregado naquela. - Segundo Nogami e Villibor (1995) solos não lateríticos de grupo NS’ (amostra A-01) apresentam baixa coesão, sendo instáveis nos cortes com grande inclinação e, ainda, apresentam erosão com ravinamento intenso quando seus horizontes ficam expostos. - Já a amostra A-02, classificada como NG’- solo argiloso não laterítico (classificação MCT) e NS’G’- solo silte argiloso não laterítico (classificação MCT-M), apresentou uma perda por imersão consideravelmente inferior a perda por imersão apresentada pela amostra A-01, o que pode ser justificado, entre outras características, pela presença de fração argilosa na amostra A-02. - Por fim, destaca-se que atualmente, torna-se inadmissível o não conhecimento do real comportamento geomecânico dos solos tropicais, em particular, dos solos pertencentes aos horizontes que mais recebem intervenções nas áreas suscetíveis aos processos geodinâmicos e/ou nas áreas com potencial para expansão urbana municipal. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao Ministério das Cidades pelas bolsas de pesquisa, Universidade Federal do ABC pelo apoio logístico e à Prefeitura de São Bernardo do Campo - SP pelo apoio prestado durante a realização dos trabalhos de campo. REFERÊNCIAS BARRAZA LARIOS, M.R. e NÓBREGA, L. H. P. Caracterização Geotécnica de Solos Susceptíveis à Erosão. In: XXIX CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 2000; FORTALEZA. Anais do XXIX Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, Fortaleza, CE. Sociedade Brasileira de Engenharia agrícola, 2000. 8 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental CERRI, L. E.S.; NOGUEIRA, F. R.; SOUZA, L.A. PLANO MUNICIPAL DE REDUÇÃO DE RISCOS- Etapa II: Elaboração do Plano Municipal de Redução de Riscos. São Bernardo do Campo. Maio de 2010. EVANS, R. Mechanics of Water Erosion and their Spatial and Temporal Controls: na empirical viewpoint. In: Soil Erosion. Soil Erosion. Editores: M.J. Kirkby e R.P.C. Morgan, 1980. p.109-128. 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