CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DE UM SOLO TROPICAL ORIUNDO DA REGIÃO DO PAMPA Juliana Calage Quevedo Acadêmica do curso de Engenharia Agrícola, Universidade Federal do PampaUNIPAMPA/Instituto Federal Farroupilha-IFFCA [email protected] Wilber Chambi Tapahuasco Professor/Orientador do curso de Engenharia Agrícola, Universidade Federal do PampaUNIPAMPA [email protected] Resumo. Utilizando diferentes metodologias de classificação geotécnicas, este trabalho teve como objetivo, caracterizar física e mecanicamente um solo típico e oriundo da região dos pampas. Para isso, inicialmente foram coletados amostras deformadas do solo. Seguidamente, utilizando a metodologia do Sistema Rodoviário de Classificação (HBR), o Sistema de Classificação Unificada (SUCS) e a metodologia expedita MCT, foram executados ensaios laboratoriais de caracterização. Tais ensaios consistiram na determinação da massa específica dos grãos, determinação da granulometria, limite de liquidez e limite de plasticidades, determinação da contração e penetração pelo método das pastilhas. Finalmente, a aplicação das diferentes metodologias na identificação e caracterização do solo, mostraram algumas similitudes entre a SUCS e HBR, assim também, se observou algumas particularidades da classificação MCT pelo método expedito. Palavras-chave: Classificação Geotécnica. Solos. Estradas Rurais. 1. INTRODUÇÃO A diversidade do comportamento apresentado por diferentes solos remetem a necessidade de classificá-los em grupos distintos. Existem diversas classificações de solos. Neste trabalho optou-se por utilizar a classificação HBR que tem origem na classificação Public Roads Administration, onde se fundamenta na granulometria, limite de liquidez e índice de plasticidade e, foi proposta para analisar materiais para base e sub-base de pavimentos (Pinto, 2006). Desta maneira, os solos são classificados em oito grupos desde A1 até A8. O sistema Unificado de Classificação de Solos (SUCS) foi desenvolvido pelo professor Arthur Casagrande (1948), para uso na construção de aterros em aeroportos durante a segunda guerra mundial, atualmente compreende seu uso em obras de barragens, fundações e outras construções (Pinto, 2006). Em função das porcentagens das frações granulométricas os solos podem ser classificados como solos grossos de acordo com sua curva granulométrica e, solos finos, relacionados com sua plasticidade. A Classificação MCT proposta por Nogami e Villibor, visa agrupar os solos tropicais conforme suas peculiaridades de comportamento, sob o ponto de vista mecânico e hidráulico, obtidas de corpos de provas compactados de dimensões reduzidas. Esta classificação separa os solos em duas grandes classes, os de comportamento laterítico e os de comportamento não laterítico (Fortes, et al. 2002). Nogami e Villibor (1994 e 1996) propuseram uma simplificação do método XXVI CONGRES S O REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil MCT, utilizando um procedimento expedito, onde é possível obter a identificação do grupo MCT por meio de um gráfico, implicando apenas saber o valor da contração diametral e o valor da penetração observado em pequenos corpos de provas, de formato cilíndrico de 5 mm de altura por 20 mm diâmetro. 2. a b c d MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Materiais Utilizados Para este trabalho foi utilizado um solo de textura fina, ocorrente no município de Alegrete/RS, extraída de uma área de empréstimo, localizado nas coordenadas 29º49’13.26”S 55º52’45.12” W. 2.2 Execução de Ensaios Convencionais de Caracterização Geotécnica Com a intenção de conhecer os tamanhos dos grãos do solo em estudo, foi executado o ensaio de granulometria, que compreende o peneiramento grosso, peneiramento fino e a sedimentação. O ensaio foi executado seguindo a norma NBR 7181(1984). Conforme a NBR 6508 (1984), foi determinada a massa específica dos grãos. Onde o valor é indispensável para o ensaio de granulometria por sedimentação. Os ensaios dos limites de liquidez e plasticidade foram realizados a partir de 200g de material passado na peneira de abertura 0,42 mm, onde se utilizou o aparelho de Casagrande, segundo a NBR 6459 (1984). Para a determinação do limite de plasticidade procedeu-se conforme a NBR 7180 (1994). A figura 1 mostra parte das etapas de execução dos ensaios de caracterização geotécnica. Figura 1. Ensaios de caracterizaçao geotécnica: a) Ensaio de granulometria; b) Ensaio de massa específica dos grãos; c) Ensaio de limite de liquidez; d) Ensaio de limite de plasticidade. 2.3 Ensaios Expeditos Metodologia MCT Utilizando Os procedimentos utilizados nesta etapa tiveram como base o trabalho publicado por Fortes, et.al.(2002). Na execução dos ensaios, inicialmente utilizou-se uma pequena quantidade de amostra deformada do solo estudado, passando pela peneira de abertura 2 mm (aproximadamente 50g) e pela peneira 0,42 mm, umedecida por um período aproximado de 8 horas. A amostra preparada foi espatulada para moldagem e secagem das pastilhas. Após isso, foi medida a contração diametral da pastilha, a qual é expressa em mm, com aproximação de 0,1 mm. Finalmente, executouse a etapa de embebição por 2 horas e, seguidamente, realizou-se a determinação da penetração. A penetração é verificada por uma agulha padrão de um mini penetrômetro, expressa em mm, quando aplicada verticalmente na superfície da pastilha após a reabsorção de água efetuada sobre condições padronizadas (Fortes et al., 2002). A figura 2 mostra parte das etapas do ensaio expedito MCT. XXVI CONGRES S O REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil resumidamente os nomes e siglas dados pelos diferentes métodos de classificação para o solo em estudo. Figura 2. Ensaios expeditos MCT: a) secagem e contração diametral das pastilhas; b) Etapa de embebição. 4. Resultados e Análise A figura 3 apresenta a curva de granulometria do solo natural utilizado. A tabela 1 mostra os resultados dos ensaios executados no laboratório. Figura 3. Curva granulométrica. Tabela 1. Resultados dos Ensaios de caracterização geotécnica do solo. Propriedades Valores Limite de liquidez (Wl) % Limite de plasticidade (Wp) % Índice de plasticidade (Ip) % Contração diametral da pastilha (Cd) mm Penetração da pastilha mm, após 2 horas Massa específica dos grãos (ρs) g/cm³ Pedregulho (G) % Areia (S) % Silte (M) % Argila (C) % 34,0 20,0 14,0 1,5 0,0 2,75 14,0 25,7 17,6 42,7 Pelo observado na figura 3 e tabela 1, o solo natural utilizado para este trabalho, é constituído predominantemente por fração fina de baixa plasticidade. A tabela 2 apresenta Tabela 2. Classificação do solo, pelo sistema SUSC, HBR e MCT. Classificação Nome Sigla Sistema Unificado de Classificação de Solos (SUCS) Sistema Rodoviário de Classificação (HRB) Método Expedito das pastilhas (MCT) Argila pouco plástica arenosa CL Solo Argiloso A-6 Laterítico Argiloso LG' Na classificação SUCS a sigla CL indica uma argila pouco plástica arenosa. Para o DNIT (2006) esses solos são classificados com CL, onde C significa argila (clay), e o L (de low), ou seja, indica um baixo limite de liquidez e são essencialmente argilas sem matéria orgânica, geralmente magras, arenosas ou siltosas. Na classificação HRB o solo enquadrou-se como um A-6, referindo-se há um solo fino de péssimo comportamento para compor uma camada de pavimento. Para o DNIT (2006), esse solo é tipicamente argiloso, plástico, onde geralmente possuem 75% ou mais do material passando na peneira nº200 (abertura de 0,075 mm), podendo ter ainda misturas de solos finos argilosos, também contar até 64% de areia e pedregulho retidos na peneira nº200. Já na classificação expedita MCT, o mesmo solo classificou-se como sendo um Laterítico argiloso (LG’). Esses solos são típicos da evolução de solos em climas quentes, com regime de chuvas moderadas a intensas, têm sua fração argila constituída predominantemente de minerais cauliníticos e apresentam elevada concentração de ferro e alumínio na forma de óxidos e hidróxidos. Caracterizam-se por ter peculiar coloração avermelhada e amarela na natureza, apresentando-se, geralmente, não saturados, XXVI CONGRES S O REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil com índice de vazios elevado, dai sua pequena capacidade de suporte, mas quando compactados, sua capacidade de suporte é elevada e, por isso, são muito empregados em pavimentação e aterros. Após compactado um solo Laterítico, apresenta contração se o teor de umidade diminuir, mas não apresenta expansão na presença de água. (Pinto, 2006). Finalmente, Villibor et.al.(2007) recomenda o uso da argila laterítica na construção de bases de pavimentos rodoviários, em trechos com tráfego muito leve, praticamente só de veículos de eixos simples (80 KN), caracterizado por N≤104. 5. CONCLUSÕES. Nesta pesquisa, observa-se que apesar dos três tipos distintos de classificação geotécnica, o solo estudado foi classificado quanto à textura como sendo um solo argiloso. Finalmente, segundo a classificação HBR o solo estudado não seria recomendável como material de construção em obras rodoviárias. No entanto, sob os aspectos da metodologia MCT, o solo estudado pode ter seu aproveitamento em obras rodoviárias de tráfego leve. 6. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7181 (1984): Análise granulométrica. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6459: Solo – Determinação do Limite de Liquidez. Rio de Janeiro, 1984. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7180 (1994): Determinação do Limite de Plasticidade. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5734 (1988): Peneiras para ensaio. Especificação. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6508 (1984): Determinação da massa específica dos grãos. DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES DNIT. Manual de pavimentação. Rio de Janeiro: Ministério dos Transportes, 2006.274 p. FORTES, R.M. MERIGHI, J.V.; ZUPPOLINI NETO, A. (2002). Método das pastilhas para identificação expedita de solos tropicais. In: Congresso Rodoviário Português, 2002, Lisboa. Anais do Congresso Rodoviário Português, 2002. NOGAMI, J. S; VILLIBOR, D. F. (1994). Identificação Expedita Dos Grupos de Classificação MCT Para Solos Tropicais. Anais do 10º COBRAMSEG – Foz do Iguaçu. Vol. 4. 1293-1300, ABMS, São Paulo. NOGAMI, J. S; VILLIBOR, D. F. (1996). Importância e Determinação do Grau de laterização em Geologia de Engenharia. Anias do VIII Congresso da ABGE – Rio de Janeiro, Vol. 1, 345/358, ABMS, São Paulo. PINTO, C.S. (2006). Curso Básico de Mecanica dos Solos em 16 Aulas/3º Edição – São Paulo: Oficina de Textos, 2006. VILLIBOR, D.F., NOGAMI, J.S., Cincerre, J.R., Serra, P.R. M, A.Z. (2007). Pavimentos de Baixo Custo para Vias Urbanas – Bases Alternativas com Solos Lateríticos. Arte & Ciência. São Paulo – Brasil. 172 p. XXVI CONGRES S O REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil