Revolução Mexicana
AS REVOLUÇÕES NA AMÉRICA LATINA
Revolução Mexicana
O caráter de classe de uma organização não deriva da situação social de sua
dirigência e sim da sua posição na luta de classes, do projeto de classe que
assume, expressa e promove.
Reforma é toda a elaboração teórica e ação prática que, mesmo
apresentando-se como renovadora, justifica e corrobora para a
manutenção das estruturas econômicas e sociais vigentes.
1. questão de classe
2. questão nacional
3. questão do desenvolvimento
4. questão da democracia
CARÁTER DA REVOLUÇÃO –
POLICLASSISTAS
ANTIOLIGÁRQUICOS
• 1. A questão de classe é fundamental e perpassa todos os outros aspectos.
A condução do processo revolucionário por uma classe ou fração permite
entender melhor as decisões e percursos do trajeto.
• Na América Latina, sempre existiu certa dificuldade de identificar as
classes fundamentais (burguesia e proletariado) porque persistiram outras
relações de trabalho não capitalistas (escravos, servos, semi-servos) e
também as variações heterogêneas como camponeses, artesões, quasecamponeses, etc.
• Então, a contradição que se colocava em primeiro plano era:
• classe dominante
X
classe dominada
• identificada como controladora
identificada como afastada do
• do aparelho de Estado
aparelho de Estado
• ou então a contradição entre:
• Estado-nação
X
Povo-nação
• Estes pólos escamoteiam a questão fundamental do capitalismo e pode
ser responsável pela constituição de um sujeito reformista e não
revolucionário, já que muitas vezes torna-se difícil identificar quem são
seus reais antagonistas.
• Enfim, a questão de classe é fundamental porque vai depender da fração
da classe que lidera o processo, a transformação ou eliminação da
exploração capitalista, ou se é uma reforma ou uma revolução.
• 2. A questão nacional é um ingrediente importante de todas as
Revoluções terceiro-mundistas. Porque o Estado nos países do
Terceiro Mundo não representa apenas os interesses da classe
dominante local (condensação político-institucional de uma
dominação de classe anti-popular), mas também é a expressão da
subordinação ao exterior (lugar do vínculo entre classe dominante
local e imperialismo). Toda a revolução da América Latina coloca a
questão da soberania nacional e questiona o Estado como um todo
(seu aspecto interno: domínio local / aspecto externo:
imperialismo). Os limites desse questionamento que nos informam
o caráter da revolução.
• Anti imperialismo burguês provêm da existência de uma fração
burguesa afastada do poder, enquanto outra fração da classe
dominante divide com a imperialismo o domínio econômico. Neste
caso, o questionamento pretende apenas modificar os termos da
exploração capitalista e não acabar com ela.
• Anti imperialismo popular parte da luta principal contra a
exploração capitalista como um todo.
• No começo da Revolução pode ocorrer uma união entre as classes
populares e a fração da classe dominante afastada do poder,
relegada a segundo plano, em torno da questão nacional. Mas, ao
longo da luta, a capacidade de liderança de um ou outro grupo é
que vai determinar o caráter do nacionalismo.
• 3. A questão do desenvolvimento esteve presente em todos
os processos revolucionários da América Latina, já que o
atraso no desenvolvimento das forças produtivas é uma das
dimensões mais visíveis das nossas realidades. Todos os
processos revolucionários latino-americanos vieram
acompanhados de projetos de desenvolvimento econômico
nacional.
• Esses projetos só podem ser analisados do ponto de vista das
classes que os elaboram, pois as perguntas: o que produzir,
como e para quem produzir, só tem sentido em uma
perspectiva de classe. Assim, a decisão de socializar meios de
produção não pode estar vinculada a um projeto burguês,
bem como a manutenção da propriedade capitalista privada
não é específica de uma luta proletária.
• Um dos problemas concretos das classes populares latinoamericanas era, até bem pouco tempo, salvo exceções, a falta
de um projeto de desenvolvimento e a falta de recursos
humanos para colocar em prática esses projetos. Muitas vezes
a burguesia tirou proveito do “caos” organizacional das classes
populares com palavras de ordem, técnica, administração
eficaz, etc.
•
•
•
4. A questão da democracia esteve presente também em todos os processos
revolucionários: México, Cuba e Nicarágua. Romance de Miguel Angel
Asturias, “El Señor presidente” tornou-se paradigmático no tratamento do
autoritarismo dos governos oligárquicos latino-americanos, ao retratar o
presidente guatemalteco Estrada Cabrera (1898-1920). Porfírio Díaz, Anastacio
Somoza e Fulgencio Batista eram representantes do latifúndio e da economia
primário-exportadora, além de serem os elos entre essa economia local e o
imperialismo. Essas oligarquias primárias eram excludentes politicamente e
utilizavam altos graus de violência para manutenção do poder. Então, em
todas as revoluções latino-americanas tratava-se, em primeiro lugar, de
eliminar governantes despóticos com palavras de ordem como: sufrágio
universal, não-reeleição, voto livre e secreto, etc.
A condução posterior do processo também indica o caráter pretendido pela
democratização: somente aspectos político-eleitorais ou também as relações
de produção.
A forma pela qual se articulam essas quatro questões e como elas se
desenvolvem ao longo do processo revolucionário é que indicam qual o
caráter da Revolução. No caso da América Latina, ainda se pode dizer que
todos os processos foram policlassistas num primeiro momento, ou seja, no
momento em que as tarefas nacional, democrática e de desenvolvimento
econômico convocam todas as classes para a luta principal: contra a sucção
desenfreada de excedentes econômicos, contra o despotismo e contra o
atraso. Por isso, num primeiro momento, a presença operária não torna uma
revolução socialista, assim como a presença burguesa não a transforma em
revolução burguesa.
México/1910, Cuba/1959, Nicarágua/1979
• Fatores constitutivos da história contemporânea desses três países, marcos
fundamentais de construção dos Estados contemporâneos no México, em Cuba e
na Nicarágua e das relações desses Estados com a sociedade civil.
• Processos revolucionários não estavam questionando direta e especificamente as
relações entre capital e trabalho, questionamento era ao poder dos latifundiários,
contra a primazia do setor primário-exportador e contra a violência colocada em
prática para a manutenção desse poder.
• Revoluções tipicamente anti-oligárquicas, que ao longo do processo, conforme as
condições concretas, foram se modificando e tomando a forma consagrada pela
literatura.
• No México, em Cuba e na Nicarágua, o que modificou substancialmente o perfil das
lutas anti-oligárquicas foi a participação ativa do povo no processo, e foi
justamente essa participação que modificou em termos comparativos com os
outros países da América Latina, a feição dos Estados e da sociedade civil nos três
países.
• cada revolução é igual somente a si mesma: por causa das características próprias
da estrutura social e econômica do país, da relação do país com o capitalismo
internacional, do perfil concreto das forças políticas que se enfrentam, etc. Logo,
pode-se afirmar que o que permite verificar, compreender e explicar uma
revolução é sua própria história.
México/1910, Cuba/1959, Nicarágua/1979
REVOLUÇÃO MEXICANA: Contexto pré-revolucionário
 Porfírio Díaz – 1876 – 1910
 A sustentação ideológica - “científicos”
 Hipertrofia do aparato repressivo do Estado - “pan o palo”:
 Legislação fundiária de 1893/94
 1890/1904 – 16.800.000 ha, ou uma quarta parte do território do México.
 “México tornou-se uma mãe para os estrangeiros e madrasta dos mexicanos”
Camponeses super-explorados na área rural
Índios expropriados de suas terras
Oferta abundante de mão-de-obra nas cidades
PORFIRIATO: Inflação acelerada
Classe média se proletarizando
Endividamento externo
REVOLUÇÃO MEXICANA: Contexto pré-revolucionário
Campo – Estrutura agrária tradicional:
 Ranchos: 5 à 1000 ha: propriedades privadas, poucas, modernas, cultivadas pelos
proprietários, subsistência, multiplicaram-se no norte do país no final do século
XVIII.
 Comunidades indígenas: herança do período colonial quando os conquistadores
aproveitaram a organização do trabalho dos índios, subsistência, propriedades
comunais, participação política.
 Haciendas: mais de 2500 ha improdutivos, cultivo extensivo, técnicas primitivas,
base do poder, prestígio e renda.
Censo de 1910: população –
15.160.369 habitantes;
80% ou 12.000.000 dependiam do salário rural;
840 eram hacendados – Igreja, Cias demarcadoras, latifundiários, descendentes
espanhóis, serviços militares.
“Três palavras trágicas na história do México: hacienda, sacristia e
quartel”
Norte – atividade mineira, desenvolvimento urbano acelerado, rancho era a principal
propriedade com uma classe média rural desprestigiada pelo governo em relação
aos hacendados; imigrantes eram protegidos pelo governo no acesso à terra,
tinham também os melhores empregos nas minas; região de grande afluxo de
capital internacional, elite = donos de minas, banqueiros, funcionários graduados,
grandes comerciantes.
Sul – produção de cana-de-açúcar, latifúndio, mão-de-obra indígena, cultivo
extensivo, 1880 – aumento da demanda internacional, incentivo ao cultivo,
introdução de máquinas modernas via capital externo, expulsão de trabalhadores
tanto do latifúndio como de suas propriedades que interessavam aos plantadores
de cana.
CARACTERÍSTICAS DOS CAMPONESES:
 ligadas regionalmente;
 interesses locais;
 lutas particulares;
 principal motivação era terra e sobrevivência;
 sem ideologia de classe;
 formação de consciência no decorrer do processo revolucionário.
REVOLUÇÃO MEXICANA: Contexto pré-revolucionário
Cidades – centros de troca internacional para atender as
demandas da DIT; 1880: desenvolvimento industrial
Proletariado: concentrava-se em áreas de investimento estrangeiro – ferrovias, mineração e têxteis; em 1910,
746.559 pessoas estavam empregadas nestes setores,
ou seja, 5% da população recebia salários pela primeira
vez na vida; origem rural, reduzido
1872: Gran Círculo de Obreros de México composto por
28 sociedades operárias; durante o porfiriato ocorreram
250 greves por melhores salários, diminuição da jornada
de trabalho, melhor tratamento, igualdade de condições
com o trabalho estrangeiro;
Cidade do México centro político-administrativo
1906 e 1907 - greves de Cananea e Rio Blanco, precursoras do movimento revolucionário.
Classe média – médicos, engenheiros, advogados, professores, pequenos comerciantes, etc.
Burguesia e intelectuais – formação de associações, clubes e partidos políticos;
Massas rurais – formação de exércitos guerrilheiros;
Proletários – sindicatos e movimentos grevistas.
Cronologia


1899 - Fundação do Círculo Liberal Ponciano Arriaga em San Luis Potosí
1900 - Fundação de vários clubes liberais e da reunião de todos eles sob orientação do Partido Liberal Mexicano,
fundado pelo anarquista Ricardo Flores Magón
 1901 - Reunião dos clubes liberais em San Luis de Potosí = Confederação de Círculos Liberais
 1902 - Segunda reunião resultou em violenta repressão do governo e prisão de vários líderes do movimento
liberal
 1908 - Marcada uma revolta A revolta foi sufocada pelo governo e vários líderes foram presos. Depois de sufocar
a rebelião Díaz anuncia a intenção de não se candidatar para o sétimo mandato. Os liberais voltam a se articular
pelas vias eleitorais.
 Francisco Madero lança o livro “A sucessão presidencial de 1910”, de cunho
anti-reeleicionista. Madero tinha educação européia e norte-americana, filho da
aristocracia.
 1909 - Oposição funda o Partido Antireeleicionista com Francisco Madero
para a presidência e Vásquez Gomez para vice.
 Partidários de Díaz fundam o Partido Democrático e com as mesmas palavras
de ordem da oposição lançam a candidatura de Díaz para o sétimo mandato.
 1910 - Madero foi preso no dia 07 de junho e as eleições se realizaram no dia
26 do mesmo mês sem a presença do opositor de Díaz. A vitória do ditador foi
assegurada por eleições fraudulentas e repressão violenta ao movimento de oposição.
 Três focos revolucionários já eram evidentes: - Madero e seus seguidores nas cidades;
- Exércitos camponeses de Pancho Villa (N) e Emiliano Zapata (S); - governo dos Estados Unidos.
 Outubro - Madero fugiu da prisão, foi para o Texas e lançou o Plano San Luis de Potosí (“Sufrágio efectivo e no
reelección”).
 Novembro - Revolta marcada para o dia 20 foi antecipada para 18 devido ao assassinato de Aquiles Serdán
Cronologia
1911 - Adesão de Emiliano Zapata à revolução em março.
Abril - início da batalha decisiva para a vitória dos revolucionários.
Cidade fronteiriça de Juárez, onde cerca de 20 mil soldados norteamericanos já se mobilizavam desde 1910.
Maio - dia 21 rendição das tropas do governo e assinatura do Tratado
de Ciudad Juárez. Interinidade de Francisco León de la Barra até
eleições de novembro.
Novembro - Madero é eleito presidente e conclama mais uma vez os
camponeses a desarmar os seus exércitos, forma um gabinete liberal e
conservador moderado com poucos revolucionários, o latifúndio não é
tocado, o poder local continua com as oligarquias, os líderes
camponeses, marginalizados. O imperialismo segue com controle de
80% do capital produtivo do país. Zapata resiste e lança o Plano de
Ayala, onde chama Madero de traidor e pede sua derrubada, com o lema
Tierra y Liberdad.
Cronologia
1912 - Rebelião de Pascual Orozco ao Norte promoveu a reunião de um
número considerável de revolucionários, quando reafirmaram os pontos
programáticos dos planos de Ayala e de San Luis de Potosí e firmaram o
Pacto de Empacadora. Criticam as ligações de Madero com o
imperialismo norte-americano.
Casa del Obrero Mundial (COM) dirigida por anarquistas repudiava o
governo Madero.
Estados Unidos opunha-se ao novo imposto fixado por Madero de $0.20
por tonelada de petróleo cru. Intervenções dos Estados Unidos no país
Cronologia
 1913 – fevereiro “Golpe da Embaixada” = deposição de Madero tramada por
banqueiros, comerciantes, antigos porfirístas, Igreja, grandes industriais e
investidores estrangeiros dentro da embaixada dos Estados Unidos no México.
 Madero preso e assassinado. Assume o poder Victoriano Huerta, ex-maderista,
homem de confiança do embaixador norte-americano.
 Contra ofensiva – apesar de descontentes com Madero, os movimentos
camponeses e de trabalhadores não podiam suportar a intervenção dos
Estados Unidos. Organizações de intelectuais e classes médias também se
opuseram ao governo Huerta =
 Coahuila - Venustiano Carranza organiza Exército Constitucionalista
 Sonora - Alvaro Obregón Organiza
Guerrilhas + Plutarco Elias Calles.
 Chihuahua - Pancho Villa volta a
Incendiar fazendas, assaltar trens, etc.
 Morelos - Emiliano Zapata
continuava resistindo e planejando
ataques sistemáticos às propriedades
rurais.
 COM realizava protestos em todas
as cidades mexicanas.
Cronologia
 26 de março – Venustiano Carranza une
esforços e lança o Plano de Guadalupe
(restabelecimento da ordem constitucional).
 Governo democrata dos E. Unidos
(Woodrow Wilson) começa a articulação
para
ganhar adesões às vésperas da I Guerra
e Huerta demonstrava simpatia pelos
investidores europeus, cada vez mais autoritário
e não atendia às exigências dos E. Unidos.
 1914 – em abril, fuzileiros navais
desembarcam suas tropas no porto de Vera Cruz para
apoiar a queda de Huerta e o triunfo de Venustiano
Carranza.
 julho – Huerta renuncia.
 outubro - Carranza entra triunfalmente na cidade do México.
 Acordos de Xoximilco – reunião entre villistas e zapatistas na Convenção de
Aguascalientes: deposição de Carranza, efetivação da Reforma agrária, realização de
eleições presidenciais
 1915 - Lei Agrária de V. Carranza que devolvia a seus legítimos donos propriedades
usurpadas antes de 1856 (não foi posta em vigor).
 Pactos de Vera Cruz – acordo de Carranza com a Casa del Obrero Mundial
Cronologia
1917 - Constituição avançada do ponto de vista
social com conquistas parciais para o proletariado
e previsão de Reforma agrária.
1920-1924 Alvaro Obregón: reformas
constitucionais são levadas adiante
apenas parcialmente.
1924-1928 Plutarco Elías Calles: estancamento dos planos de
reforma agrária, intervenção dos EUA em 1927, por causa das
concessões de petróleo (artigo 27).
1928 Emilio Pontes Gil
1929-1932 Pascoal Ortiz Rubio
1932-1934 Abelardo Rodríguez
1934-1940 Lazaro Cárdenas: criação do PRM, integrado por
CTM e CNC, inaugurando o peleguismo sindical. Andamento à
reforma agrária, cria cooperativas, nacionaliza estradas de ferro
e Cia petrolífera (Pemex – 1938).
Em 1945 o PRM se transforma em PRI
constituição
dee a1917
Depois de neutralizar A
as lideranças
camponesas
oligarquia, Carranza encontrou
condições para a aprovação de uma nova constituição Foi considerada como uma
das mais modernas e liberais da América Latina. Interessa-nos particularmente os
artigos 30, 27, 123 e 130 que no seu conjunto estabelecem:
• o ensino laico, ao encargo do estado preservando-se ainda um setor privado
• a expropriação de terras não cultivadas em favor dos ranchos e dos ejidos
• fixava as relações entre Capital e Trabalho, como por exemplo, a jornada de 8
horas, regulamentação do trabalho do menor e da mulher, salários iguais para
tarefas iguais, direito de greve, organização sindical, justiça do trabalho para
arbitrar os conflitos entre o Capital e o Trabalho
• restringiu o poder da Igreja. O casamento civil foi tornado obrigatório e o único
válido
• secularização do clero, transformando os padres em trabalhadores comuns
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