CHRISTIAN ALBERTO LOPES BURRONE DE FREITAS
AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE SUBSTÂNCIAS
ODORÍFERAS GERADAS A PARTIR DA
EMISSÃO DE GASES ORIUNDOS DE UMA
INDÚSTRIA QUÍMICA
SÃO JOÃO DA BOA VISTA
2013
CHRISTIAN ALBERTO LOPES BURRONE DE FREITAS
AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE SUBSTÂNCIAS ODORÍFERAS GERADAS A
PARTIR DA EMISSÃO DE GASES ORIUNDOS DE UMA INDÚSTRIA QUÍMICA
Dissertação apresentada ao Centro Universitário das
Faculdades Associadas de Ensino – UNIFAE, como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida.
Orientador: Prof. Dr. Olímpio Gomes da Silva Neto.
SÃO JOÃO DA BOA VISTA
2013
CHRISTIAN ALBERTO LOPES BURRONE DE FREITAS
AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE SUBSTÂNCIAS ODORÍFERAS GERADAS A
PARTIR DA EMISSÃO DE GASES ORIUNDOS DE UMA INDÚSTRIA QUÍMICA
Dissertação apresentada ao Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino – UNIFAE,
como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Sustentável e
Qualidade de Vida.
Dissertação defendida e aprovada em: 13/12/2013, pela Banca Examinadora constituída pelos
professores:
___________________________________________
Prof. Dr. Olímpio Gomes da Silva Neto (Orientador)
UNIFAE - São João da Boa Vista
_________________________________________
Prof. Dr. Lucas Vieira Dutra
UNIFAE - São João da Boa Vista
__________________________________________
Prof. Dr. Reinaldo Pisani Júnior
UNAERP- Ribeirão Preto
SÃO JOÃO DA BOA VISTA
2013
DEDICATÓRIA
À minha esposa Adriana que esteve sempre ao meu lado, apoiando-me no desafio
de alcançar o objetivo a que me propus, através deste projeto.
À minha filha Giovanna a quem deixei, muitas vezes, de dar atenção.
Aos meus Pais: João Alberto e Elenir, que me ensinaram a perseguir os meus
ideais, respeitando sempre aqueles que pudessem ajudar-me a acrescentar algo
que tornasse a vida de todos melhor.
III
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Prof. Dr. Olímpio Gomes da Silva Neto, orientador e companheiro
no processo de elaboração dessa pesquisa;
Agradeço a todos os docentes do Mestrado em Desenvolvimento Sustentável e
Qualidade de Vida (UNIFAE) que, de alguma forma, contribuíram nessa pesquisa
e na formação de uma nova pessoa;
Agradeço aos colegas do Mestrado em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade
de Vida (UNIFAE), que compartilharam desse momento de aprendizado, algumas
vezes estressante, mas, na maioria das vezes, repleta de momentos felizes e
descontraídos;
Agradeço aos Professores Paulo Roberto Alves Pereira, Christian Alexandre
Vieira e Aldari Wagner de Souza pelos conhecimentos prestados;
Agradeço à Indústria Química, representada pelos Srs. Júlio Cesar Barbosa de
Oliveira, Maurício Ramos, Danilo Oliveira, Marcos Antônio Herculano, Alex
Júnio da Silva Balduíno e Eliton Silva, que emprestaram seu tempo e seu
conhecimento para a consecução deste projeto;
Agradeço aos alunos Higor Gomes dos Santos, Luiz Eduardo Mariano Ananias,
Luiz Felipe Rodrigues Dias e Matheus Augusto Arroio, que bravamente me
auxiliaram na aplicação dos questionários dessa pesquisa;
Agradeço à minha irmã Érika, pelo suporte em determinados momentos;
Agradeço, por fim, àqueles que não foram supracitados, mas que de qualquer
forma auxiliaram na busca pelo objetivo final. Obrigado.
IV
“A ciência se compõe de erros que, por sua vez, são os passos até a verdade.”
(Júlio Verne)
V
RESUMO
Incômodos causados por odores em emissões industriais constituem um problema com alta
frequência de reclamações das comunidades. Pequenas concentrações de substâncias
odoríferas têm muita probabilidade de serem emitidas nas atividades industriais e são muitas
vezes suficientes para afetar o sistema olfativo humano, que é altamente sensível. As emissões
atmosféricas odorantes, de um modo geral, são cada vez menos toleradas devido aos seus
efeitos sobre a saúde e qualidade de vida. O presente estudo teve por objetivo avaliar o
impacto de substâncias odoríferas geradas a partir da emissão de gases oriundos de uma
indústria química, identificando os compostos odorantes, medindo o nível de concentração
dos gases e simulando sua dispersão. Também foi investigada a percepção da população no
entorno da indústria, com relação ao odor gerado pelos gases. Essa percepção foi quantificada
através da aplicação de um questionário para avaliar a compreensão do vínculo entre os
odores e a poluição atmosférica, além de identificar a principal origem dos odores. Os
resultados obtidos demostraram que parte da população percebe a presença de gás sulfídrico
emitido pela indústria, porém, essa percepção já foi maior no passado. Foram detectadas
emissões fugitivas de H2S em alguns pontos e, através do mapeamento de sua pluma de
concentração, percebeu-se que, dependendo das condições meteorológicas, essa pluma
poderia ultrapassar os limites da indústria, gerando incômodos na população, visto que os
limites de percepção do H2S são muito baixos. As ações tomadas pela indústria vêm surtindo
efeito e a minimização do problema parece fato concreto, comprovado inclusive pelo órgão
fiscalizador ambiental local.
Palavras-chave: impacto ambiental. poluição atmosférica. dispersão atmosférica. odor. gás
sulfídrico.
VI
ABSTRACT
Nuisances caused by odors in industrial emissions are a problem with high frequency of
community’s complaints. Industrial activities can frequently emit small concentrations of
odoriferous substances and these are often sufficient to affect the human olfactory system,
which is highly sensitive. Odorants atmospheric emissions are becoming less tolerated for
individuals due to their effects on health and quality of life. The present study aimed to
evaluate the impact of odorous substances generated by gas emissions from a chemical
industry, identifying odorous compounds by measuring the gases concentration levels and
simulate their dispersion. We also investigated the perception of the population surrounding
the industry regarding the presence of those gases. This perception was quantified by applying
a questionnaire to assess the understanding of the link between odors and air pollution, and
identify the main source of odors. The results showed that the population perceives the
presence of hydrogen sulfide gas emitted by industry; however, this perception has been
higher in the past. At some points, fugitive H2S emissions were detected and it was noted that
by mapping a plume concentration, depending on weather conditions, the plume could exceed
the limits of the industry, generating uncomfortable in the population, since the limits of
perception of H2S are very low. The actions taken by the industry is having effect and
minimizing the problem seems a concrete fact, attested even by the local environmental
inspection agency.
Keywords: environmental impact. air pollution. atmospheric dispersion. odor. hydrogen
sulfide gas.
VII
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................
1.1 Considerações iniciais ........................................................................................
1.2 Problema de pesquisa .........................................................................................
1.3 Objetivo geral ....................................................................................................
1.4 Objetivos específicos ..........................................................................................
1.5 Organização do trabalho acadêmico ...................................................................
2. REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................
2.1 Poluição atmosférica ...........................................................................................
2.1.1 A atmosfera terrestre: padrões e qualidade do ar ...................................
2.1.2 Natureza das emissões atmosféricas gasosas .........................................
2.1.3 Efeitos da poluição do ar ........................................................................
2.1.4 Principais poluentes atmosféricos ..........................................................
2.1.4.1 Material Particulado ..............................................................
2.1.4.2 Óxidos de Enxofre (SOx) ......................................................
2.1.4.3 Monóxidos de Carbono (CO) ................................................
2.1.4.4 Óxidos de Nitrogênio (NOx) .................................................
2.1.4.5 Hidrocarbonetos (HC) ...........................................................
2.1.5 Compostos orgânicos voláteis (COVs) ..................................................
2.2 Odores .................................................................................................................
2.2.1 Percepção Olfativa ...............................................................................
2.2.2 Quantificação dos odores .....................................................................
2.2.2.1 Qualidade de um odor ...........................................................
2.2.2.2 Intensidade de um odor ..........................................................
2.2.2.3 Hedonicidade de um odor ......................................................
2.2.3 Natureza dos odores .............................................................................
2.2.4 Fonte de odores ....................................................................................
2.2.5 Técnicas de Medição de Odores ..........................................................
2.2.5.1 Métodos Sensoriais ...............................................................
2.2.5.2 Métodos Analíticos ...............................................................
2.3 Sulfeto de Hidrogênio .........................................................................................
2.3.1 Fontes naturais .....................................................................................
2.3.2 Processos industriais ............................................................................
2.4 Dispersão atmosférica .........................................................................................
2.4.1 Fenômenos meteorológicos .................................................................
2.4.1.1 Vento .....................................................................................
2.4.1.2 Turbulência ...........................................................................
2.4.1.3 Estabilidade atmosférica .......................................................
2.4.2 Fatores ligados à dispersão de poluentes .............................................
2.4.3 Modelos de dispersão atmosférica .......................................................
2.4.4 Modelo de dispersão Gaussiano ou Normal ........................................
2.4.4.1 Modelo Gaussiano para emissões contínuas .........................
2.4.4.2 Modelo Gaussiano para emissões instantâneas (puff) ...........
2.4.5 O modelo AID ......................................................................................
2.5 Legislação aplicável à qualidade do ar e odores .................................................
2.5.1 Legislação nacional aplicável à qualidade do ar ..................................
2.5.2 A legislação de odores no Brasil ..........................................................
2.5.3 O Sulfeto de Hidrogênio e a legislação ................................................
2.6 Desenvolvimento Sustentável, indústria e ecoeficiência ....................................
20
20
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21
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61
62
VIII
2.6.1 Ecoeficiência ........................................................................................ 63
2.6.1.1. Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) ...................................... 64
2.6.1.2 Análise do ciclo de vida (ACV) ................................................. 65
2.6.1.3 Produção Mais Limpa (P+L) ..................................................... 66
2.7 Poluição atmosférica e qualidade de vida ........................................................... 68
2.7.1 Qualidade de Vida ................................................................................ 68
2.7.1.1 Indicadores de Qualidade de Vida ........................................ 69
2.7.1.2 Instrumentos de Qualidade de Vida ...................................... 69
2.7.2 Poluentes e seus efeitos na saúde ......................................................... 70
2.7.3 Odores versus Saúde ............................................................................ 72
2.7.4 Toxidez do sulfeto de hidrogênio ........................................................ 72
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 74
3.1 Caracterização da área de estudo ........................................................................ 74
3.2 Instrumentos e procedimentos para coleta de dados ........................................... 76
3.2.1 Avaliação do impacto odorante via questionário ................................. 76
3.2.2 Compostos odorantes, concentrações e dispersão atmosférica ............ 80
3.2.2.1 Identificação dos compostos odorantes ................................. 81
3.2.2.2 Determinação das concentrações de H2S .............................. 81
3.2.2.3 Dispersão de H2S na atmosfera ............................................. 84
3.3 Atividades realizadas na Indústria para prevenção das emissões odorantes ...... 85
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 87
4.1 Estudo dos ventos ............................................................................................... 87
4.2 Percepção de odores via questionário ................................................................. 88
4.3 Concentrações de H2S ....................................................................................... 107
4.3.1 Emissões contínuas ............................................................................ 108
4.3.2 Emissões intermitentes ....................................................................... 113
4.3.3 Plumas de concentração de H2S na Indústria ..................................... 120
4.4 Estimativa da dispersão de H2S na atmosfera do Bairro .................................. 122
4.5 Indústria e a prevenção das emissões odorantes ............................................... 126
4.5.1 A Indústria ......................................................................................... 126
4 5.2 Áreas Verdes ...................................................................................... 128
4.5.3 Fertirrigação ....................................................................................... 130
4.5.4 Biofiltros ............................................................................................ 131
4.5.5 Biogás ................................................................................................ 134
4.5.6 A Indústria e o Órgão Fiscalizador Ambiental .................................. 137
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 137
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 140
ANEXO A – Questionário Investigação dos Incômodos Causados pelos Maus Odores ... 150
ANEXO B – Certificado de calibração aparelho detector de gases QRAE II Plus ............ 151
APÊNDICE A – Questionário Sócio Demográfico ............................................................ 154
APÊNDICE B – Resultados comparativos dos questionários – Jd. São Domingos e branco
de campo aplicado no Bairro Aparecida ............................................................................. 155
APÊNDICE C – Resultados de saída do QRAE II Plus para uma amostra ....................... 164
IX
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Gases componentes da atmosfera terrestre ................................................... 24
TABELA 2: Padrões nacionais de qualidade do ar ........................................................... 26
TABELA 3: Limites de percepção e toxidade de alguns compostos odoríferos ............... 34
TABELA 4: Categorias de intensidade de odor ................................................................ 37
TABELA 5: Definição da Estabilidade Atmosférica segundo Pasquill-Gifford ............... 49
TABELA 6: Critérios para episódios agudos de poluição do ar ...................................... 58
TABELA 7: Valores limite para compostos de enxofre em alguns estados americanos .. 62
TABELA 8: Efeitos na saúde associado à presença de gás sulfídrico no ar ..................... 73
TABELA 9: Características dos pontos de emissão de H2S .............................................. 83
TABELA 10: Percentual de respostas afirmativas ao odor relacionadas à distância ...... 106
TABELA 11: Concentrações de H2S em condições normais .......................................... 108
TABELA 12: Concentrações de H2S em condições de dreno e/ou coleta para análise .. 114
TABELA 13: Parâmetros utilizados na estimativa das concentrações com o AID ........ 124
TABELA 14: Composição do biogás formado na digestão aeróbia ............................... 135
X
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1: Síntese de tópicos e principais autores considerados no referencial teórico 23
QUADRO 2: Escala dos fenômenos meteorológicos ........................................................ 46
QUADRO 3: Classificação da Estabilidade Atmosférica ................................................. 48
QUADRO 4: As três dimensões do desenvolvimento sustentável .................................... 62
QUADRO 5: Normas da série ISO e sua abrangência ...................................................... 65
QUADRO 6: Modelos de QV e seus indicadores ............................................................. 69
QUADRO 7: Poluentes, fontes e efeitos sobre a saúde ..................................................... 71
QUADRO 8: Cronograma macro das ações implementadas pela indústria .................... 128
XI
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Roda de odores .............................................................................................. 37
FIGURA 2: Estrutura da camada limite planetária ........................................................... 45
FIGURA 3: Coordenadas da equação gaussiana para emissão tipo puff ........................... 52
FIGURA 4: Tela de entrada do software AID ................................................................... 55
FIGURA 5: Ciclo de vida de um produto ......................................................................... 66
FIGURA 6: Visão geral da P+L ........................................................................................ 67
FIGURA 7: Localização do Município de Mococa (SP) .................................................. 74
FIGURA 8: Vista aérea da Indústria Química ................................................................... 75
FIGURA 9: Mapa com vista total da cidade de Mococa (SP) ........................................... 75
FIGURA 10: Mapa de localização da Indústria Química .................................................. 76
FIGURA 11: Malha de aplicação dos questionários destacando o Jd. São Domingos e a
Indústria Química .............................................................................................................. 78
FIGURA 12: Mapa de localização do Bairro Aparecida ................................................... 80
FIGURA 13: Pontos de medição da concentração de H2S ................................................ 82
FIGURA 14: Detector de gases QRAE II Plus ................................................................. 83
FIGURA 15: Rosa dos Ventos para Mococa (SP) ............................................................ 87
FIGURA 16: Distribuição dos Ventos para Mococa (SP) ................................................. 88
FIGURA 17: Velocidade Média dos Ventos em Mococa (SP) ......................................... 88
FIGURA 18: Moradores de Mococa ................................................................................. 89
FIGURA 19: Moradores dos Bairros Jd. Morro Azul e Aparecida ................................... 90
FIGURA 20: Moradores classificados por sexo ................................................................ 90
FIGURA 21: Moradores classificados por idade .............................................................. 91
FIGURA 22: Moradores classificados por grau de escolaridade ...................................... 91
FIGURA 23: Moradores classificados por profissão ........................................................ 92
FIGURA 24: Moradores classificados por renda familiar ................................................. 92
FIGURA 25: Moradores que disseram existir coleta de resíduos domiciliares ................ 93
FIGURA 26: Moradores que disseram existir rede de esgoto no bairro ........................... 93
FIGURA 27: Moradores que disseram existir água tratada no bairro ............................... 93
FIGURA 28: Moradores que disseram residir em rua pavimentada ................................. 94
FIGURA 29: Moradores que disseram existir coleta seletiva no bairro ............................ 94
FIGURA 30: Moradores que disseram separar os resíduos domiciliares para descarte .... 95
XII
FIGURA 31: Moradores que são fumantes ....................................................................... 95
FIGURA 32: Moradores que disseram perceber algum tipo de odor no bairro ................ 96
FIGURA 33: Avaliação do incômodo em relação ao odor ............................................... 97
FIGURA 34: Avaliação do caráter do odor ....................................................................... 98
FIGURA 35: Avaliação do perfil hedônico do odor ......................................................... 98
FIGURA 36: Avaliação da intensidade do odor ................................................................ 99
FIGURA 37: Avaliação da periodicidade do odor .......................................................... 100
FIGURA 38: Avaliação dos períodos de percepção do odor .......................................... 100
FIGURA 39: Avaliação das condições do tempo de maior percepção do odor .............. 101
FIGURA 40: Avaliação da percepção do odor em relação às estações do ano ............... 102
FIGURA 41: Avaliação da percepção do odor em relação à direção do vento ............... 102
FIGURA 42: Tempo em que reside no bairro ................................................................. 104
FIGURA 43: Avaliação da percepção do odor em relação ao passado ........................... 104
FIGURA 44: Avaliação da proveniência do odor ........................................................... 105
FIGURA 45: Percentual de respostas afirmativas em relação à percepção de odor ....... 106
FIGURA 46: Diagrama de dispersão entre distância da indústria química e porcentagem de
respostas positivas em relação ao odor ............................................................................ 107
FIGURA 47: Concentrações de H2S em condições normais ........................................... 109
FIGURA 48: Concentrações de H2S no ponto de coleta 1 – Gasômetro ........................ 109
FIGURA 49: Gasômetro .................................................................................................. 110
FIGURA 50: Tanque Pulmão .......................................................................................... 111
FIGURA 51: Concentrações de H2S no ponto de coleta 2 – Tanque Pulmão ................. 111
FIGURA 52: Descarga do Biodigestor UASB na Lagoa Aeróbica ................................. 112
FIGURA 53: Concentrações de H2S no ponto de coleta 6 – Descarga do Biodigestor UASB
na Lagoa Aeróbica ........................................................................................................... 112
FIGURA 54: Concentrações de H2S no ponto de coleta 10 – Caldeira .......................... 113
FIGURA 55: Caldeira ...................................................................................................... 113
FIGURA 56: Concentrações de H2S em condições de dreno e coleta de amostras ........ 114
FIGURA 57: Flare e Tanque de Hidróxido de Sódio ...................................................... 115
FIGURA 58: Concentrações de H2S no ponto de coleta 3 – Dreno do Flare .................. 116
FIGURA 59: Biodigestor UASB ..................................................................................... 117
FIGURA 60: Concentrações de H2S no ponto de coleta 4 – Dreno Biodigestor UASB . 117
FIGURA 61: Tanques de Mistura do Biodigestor UASB ............................................... 118
XIII
FIGURA 62: Concentrações de H2S no ponto de coleta 5 – Dreno Tanques de Mistura 118
FIGURA 63: Dreno 2 da Linha de Biogás ...................................................................... 119
FIGURA 64: Concentrações de H2S no ponto de coleta 7 – Dreno 1 da Linha do Gás .. 120
FIGURA 65: Concentrações de H2S no ponto de coleta 8 – Dreno 2 da Linha do Gás .. 120
FIGURA 66: Concentrações de H2S no ponto de coleta 9 – Dreno 3 da Linha do Gás .. 120
FIGURA 67: Indústria Química e a pluma de concentração de H2S (ppm) em condições
normais de operação ........................................................................................................ 121
FIGURA 68: Indústria Química e a pluma de concentração de H2S (ppm) em condições
extremas – dreno e coleta de amostras ............................................................................ 122
FIGURA 69: Concentrações médias, máximas e mínimas de H2S ................................. 123
FIGURA 70: Pluma de concentração de Odores sobre o Bairro Jd. São Domingos ....... 125
FIGURA 71: Fluxograma da Estação de Tratamento de Efluentes ................................. 128
FIGURA 72: Área em frente à Indústria Química antes do Projeto Cinturão Verde ...... 129
FUGURA 73: Cinturão Verde situado em frente à Indústria Química ........................... 130
FIGURA 74: Biofiltro da RTMP (Recepção e Tratamento de Matéria-prima) .............. 132
FIGURA 75: Biofiltro da Estação de Tratamento de Efluentes ...................................... 133
FIGURA 76: Mecanismos biológicos para eliminar H2S e NH3 ........................................................ 134
FIGURA 77: Moradores de Mococa ............................................................................... 155
FIGURA 78: Moradores dos Bairros Jd. Morro Azul e Aparecida ................................. 155
FIGURA 79: Moradores classificados por sexo .............................................................. 155
FIGURA 80: Moradores classificados por idade ............................................................ 156
FIGURA 81: Moradores classificados por grau de escolaridade .................................... 156
FIGURA 82: Moradores classificados por profissão ...................................................... 156
FIGURA 83: Moradores classificados por renda familiar ............................................... 157
FIGURA 84: Moradores que disseram existir coleta de resíduos domiciliares no bairro 157
FIGURA 85: Moradores que disseram existir rede de esgoto no bairro ......................... 157
FIGURA 86: Moradores que disseram existir água tratada no bairro ............................. 158
FIGURA 87: Moradores que disseram residir em rua pavimentada ............................... 158
FIGURA 88: Moradores que disseram existir coleta seletiva no bairro .......................... 158
FIGURA 89: Moradores que disseram separar os resíduos domiciliares para descarte .. 159
FIGURA 90: Moradores que são fumantes ..................................................................... 159
FIGURA 91: Moradores que disseram perceber algum tipo de odor no bairro .............. 159
FIGURA 92: Avaliação do incômodo em relação ao odor ............................................. 160
XIV
FIGURA 93: Avaliação do caráter do odor ..................................................................... 160
FIGURA 94: Avaliação do perfil hedônico do odor ....................................................... 160
FIGURA 95: Avaliação da intensidade do odor .............................................................. 161
FIGURA 96: Avaliação da periodicidade do odor .......................................................... 161
FIGURA 97: Avaliação dos períodos de percepção do odor .......................................... 161
FIGURA 98: Avaliação das condições do tempo de maior percepção do odor .............. 162
FIGURA 99: Avaliação da percepção do odor em relação às estações do ano ............... 162
FIGURA 100: Avaliação da percepção do odor em relação à direção do vento ............. 162
FIGURA 101: Tempo em que reside no bairro ............................................................... 163
FIGURA 102: Avaliação da percepção do odor em relação ao passado ......................... 163
FIGURA 103: Avaliação da proveniência do odor ......................................................... 163
XV
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT
Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACV
Análise do Ciclo de Vida
Analf.
Analfabeto
ASCE
American Society of Civil Engineers
ASTM
American Society for Testing and Materials
BS
British Standards
CETESB
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
CIGR
Commission Internationale du Genie Rural
CIV
Compostos Inorgânicos Voláteis
CLP
Camada Limite Planetária
CNTP
Condições Normais de Temperatura e Pressão
CONAMA
Conselho Nacional do Meio Ambiente
COVs
Compostos Orgânicos Voláteis
DS
Desenvolvimento Sustentável
DTIE
Division of Technology, Industry and Economics
EEA
European Environmental Agency
EFC
Ensino Fundamental Completo
EFI
Ensino fundamental Incompleto
EMAS
Eco-Management and Audit Scheme
EMC
Ensino Médio Completo
EMI
Ensino Médio Incompleto
EPA
Environmental Protection Agency
ESC
Ensino Superior Completo
ESI
Ensino Superior Incompleto
ETE
Estação de Tratamento de Efluente
FIB
Felicidade Interna Bruta
GPS
Global Positioning System
IAC
Instituto Agronômico de Campinas
IBAMA
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH
Índice de Desenvolvimento Humano
XVI
IEMA
Instituto Estadual do Meio Ambiente do Espírito Santo
INEA
Instituto Estadual do Meio Ambiente do Rio de Janeiro
IQV
Índice de Qualidade de Vida
ISO
International Organization for Standardization
NBR
Norma Brasileira
NR
Norma Regulamentadora
OMS
Organização Mundial de Saúde
P+L
Produção Mais Limpa
P2
Prevenção à Poluição
P.Grad.
Pós-Graduado
PROCONVE Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores
PRONAR
Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar
QV
Qualidade de Vida
SEADE
Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados
SEMA
Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Paraná
SGA
Sistema de Gestão Ambiental
UASB
Upflow Anaerobic Sludge Blanket Digestion
UNEP
United Nations Environment Programme
VDI
Verein Deutscher Ingenieure
WBCSD
World Business Council for Sustainable Development
WEF
Water Environment Federation
WHOQOL
World Health Organization Quality of Life
XVII
LISTA DE SÍMBOLOS
°C
Graus Celsius
µg/m3
Micrograma por Metro Cúbico
µm
Micro Metro
Ar
Argônio
atm
Atmosfera
BaSO4
Sulfato de Bário
BRS
Bactérias Redutoras de Sulfato
CaCl2
Cloreto de Cálcio
CaS
Sulfeto de Cálcio
CaSO4
Sulfato de Cálcio
CH2O
Formaldeído
CH4
Metano
CO
Monóxido de Carbono
CO2
Dióxido de Carbono
CS2
Dissulfeto de Carbono
CuS
Sulfeto de Cobre
CuSO4
Sulfato de Cobre
FeCl2
Cloreto de Ferro
FeS
Sulfeto Ferroso
g
Grama
g/mol
Grama por mol
H2S
Sulfeto de Hidrogênio
H2SO3
Ácido Sulfuroso
H2SO4
Ácido Sulfúrico
HC
Hidrocarbonetos
HCl
Ácido Clorídrico
HCO3-
Bicarbonato
km
Quilômetro
m
Metro
m/s
Metro por Segundo
MAA
Média Aritmética Anual
XVIII
mg/L
mg/m
Miligramas por Litro
3
Miligramas por Metro Cúbico
MGA
Média Geométrica Anual
MP
Material Particulado
mPa
Massa de Ar Polar Atlântica
mTa
Massa de Ar Tropical Atlântica
N2
Nitrogênio
N2O
Óxido Nitroso
Na2S
Sulfeto de Sódio
Na2SO3
Sulfito de Sódio
Na2SO4
Sulfato de Sódio
NH3
Amônia
NaOH
Hidróxido de Sódio
NO
Óxido de Nitrogênio
NO2
Dióxido de Nitrogênio
NOx
Óxidos de Nitrogênio
O2
Oxigênio
O3
Ozônio
OU/h
Unidade de Odor por Hora
Pa
Pascal
pH
Potencial Hidrogeniônico
PM0,1
Partícula Inalável de diâmetro inferior a 0,1µ
PM10
Partícula Inalável de diâmetro inferior a 10µ
PM2,5
Partícula Inalável de diâmetro inferior a 2,5µ
ppb
Partes por Bilhão
ppm
Partes por Milhão
PTS
Partícula Total em Suspensão
S
Enxofre
SO2
Dióxido de Enxofre
SO3
SO4
SOx
Trióxido de Enxofre
–2
Sulfato Solúvel
Óxidos de Enxofre
XIX
1. INTRODUÇÃO
1.1 Considerações iniciais
A poluição atmosférica proveniente da emanação de gases tóxicos, o crescimento urbano e
industrial cada vez mais acentuado, desmatamento, incêndios, trânsito descontrolado em
megalópolis e até em pequenas cidades compõem o cenário de um mundo que caminha para a
destruição.
O homem hoje está informado e consciente de que, a continuar a esgotar as reservas
ambientais, estará decretando a extinção da espécie humana e do mundo como se conhece.
É preciso encarar o problema, preservar o que ainda não foi atingido, tentar recuperar o que
parece perdido e buscar uma qualidade de vida desejável, que se apoie no desenvolvimento
sustentável.
Preservar o meio ambiente não é apenas um slogan publicitário, é uma realidade intransferível
que garantirá a vida. Essa mudança, no caso deste estudo, volta-se, precisamente, para a
atuação das indústrias e a concentração de contaminantes químicos no meio ambiente.
As emissões atmosféricas odorantes são cada vez menos toleradas devido aos seus efeitos
sobre a qualidade de vida (DE MELO LISBOA; PAGE; GUY, 2009).
Incômodos causados por odores em emissões industriais constituem um problema com alta
frequência de reclamações das comunidades junto aos órgãos fiscalizadores.
Pequenas
concentrações de substâncias odoríferas têm muita probabilidade de serem emitidas nas
atividades industriais e são muitas vezes suficientes para afetar o sistema olfativo humano,
que é altamente sensível (SCHWAB, 2003).
Ainda, de acordo com Schwab (2003, p. 1),
[..] é fato que a abrangência destes problemas é geralmente limitada quanto ao
espaço físico atingido e só persiste enquanto dura a sua geração. Pelas
consequências aparentes poderia ter uma prioridade mais baixa frente a outros
problemas ambientais, mas não é o que acontece porque os efeitos são imediatos
20
sobre os seres humanos. Há uma intolerância cada vez maior do público em geral,
que reclama e reage com apoio dos órgãos fiscalizadores oficiais. Estes órgãos têm
usado meios legais para intimar e multar escalonadamente até que o responsável
alcance uma solução que venha a ser considerada aceitável para suas emissões.
A par do problema odorante, deve-se considerar que a população está ciente de que são
necessárias ações e medidas para a solução do problema.
Ações paliativas e minimização de situações que provocam mal-estar e conflito entre a
indústria e a população não são mais aceitáveis. É necessária uma solução que deverá basearse no estudo de dados sobre a qualidade do ar, a concentração de poluentes, as previsões
meteorológicas, no sentido de prevenir ou evitar que os poluentes venham a se acumular e
provocar incômodos ou problemas de saúde.
1.2 Problema de Pesquisa
Este estudo se desenvolveu buscando responder à seguinte pergunta problema: Qual o
impacto das substâncias odoríferas geradas a partir da emissão de gases em uma indústria
química alimentícia?
1.3 Objetivo geral
Avaliar o impacto ambiental de substâncias odoríferas geradas a partir da emissão de gases
oriundos de uma indústria química alimentícia.
1.4 Objetivos específicos
 Identificar os compostos odorantes presentes em uma indústria química;
 Medir o nível de concentração do poluente no interior da indústria e em seu entorno
e estimar sua pluma de odor;
 Simular a dispersão do poluente, estimando sua concentração no entorno da
indústria;
21
 Investigar a percepção da população em relação aos impactos odorantes no entorno
da indústria;
 Realizar um diagnóstico da indústria quanto às questões relacionadas à emissão de
odores.
1.5 Organização do trabalho acadêmico
Os assuntos abordados dissertação foram distribuídos em capítulos, tal como segue:
 Capítulo 1: Faz uma abordagem geral sobre o tema em questão, trazendo as
primeiras definições sobre os principais assuntos dessa pesquisa, ou seja, a
problemática do odor e seus impactos ambientais, relacionados à qualidade de vida
e sustentabilidade. Apresenta o problema da pesquisa e os objetivos geral e
específicos.
 Capítulo 2: Aborda a fundamentação teórica na qual esse estudo está embasado.
Apresenta conceitos sobre poluição atmosférica e odores, além da legislação a
respeito desses temas. Um capítulo que aprofunda nos conceitos de modelagem da
poluição atmosférica e, por fim, os desafios que envolvem a indústria e suas
relações com a qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável.
 Capítulo 3: Traz o conjunto de procedimentos que direcionam a investigação.
Apresenta o detalhamento dos procedimentos para se chegar aos objetivos
propostos, através do mapeamento e a modelagem do odor, bem como a percepção
da população em relação a essa variável.

Capítulo 4: Descreve os resultados da pesquisa bem como sua análise confrontada
com a fundamentação teórica.

Capítulo 5: Traz o fechamento do trabalho e evidencia as contribuições.
22
2. REFERENCIAL TEÓRICO
‘Com o propósito de ilustrar os temas abordados no referencial teórico, foi desenvolvido o
Quadro 1, que sintetiza os principais tópicos e autores referenciados.
QUADRO 1: Síntese de tópicos e principais autores considerados no referencial teórico
Temas
Tópicos ou Contribuições
Fontes/Referências
Padrões e Qualidade do Ar
Efeitos
Poluentes
COVs
CETESB (2013); BRASIL (1986)
Álvares Jr. et al. (2002)
Banco Mundial (1998)
Chu et al. (2001)
Odores
Percepção
Quantificação
Natureza e Fonte
Técnicas de Medição
Schirmer (2004);
Stuetz e Frechen (2001)
Belli Filho e De Melo Lisboa (1998)
Sulfeto de Hidrogênio
Fontes Naturais
Processos Industriais
Mainier; Sandres; Maior
(2007)
Lupatini et al. (2007)
Dispersão Atmosférica
Fenômenos
Modelos de Dispersão
Godish (1991); Seinfeld (1986)
EPA (2005); De Nevers (1995)
Qualidade do Ar
Odores
BRASIL (1986); CETESB (2010)
De Melo Lisboa et al. (2002)
Desenvolvimento Sustentável
Ecoeficiência
ISO (2002);
Piotto (2003)
Qualidade de Vida
Indicadores
Instrumentos
Poluição versus Saúde
The Whoqol Group (1995)
Minayo; Hartz e Buss (2000)
Aguiar et al. (2008)
Dockery (1996)
Poluição Atmosférica
Legislação
Desenvolvimento Sustentável,
Indústria e Ecoeficiência
Poluição Atmosférica e
Qualidade de Vida
Tavares
FONTE: Elaborado pelo autor
2.1 Poluição Atmosférica
A poluição atmosférica é consequência, em maior parte, da ação humana, no sentido de
introduzir produtos químicos e/ou tóxicos no ambiente.
2.1.1 A atmosfera terrestre: padrões e qualidade do ar
A centena de quilômetros de altura acima da superfície terrestre estende-se a atmosfera,
podendo ser dividida pelas variações verticais de temperatura em: troposfera, estratosfera,
23
mesosfera e termosfera. A atmosfera é composta por mistura de gases, esses se mantém
relativamente estáveis ao longo da existência do planeta. (ÁLVARES Jr. et al., 2002). Os
principais gases que compõem a atmosfera estão apresentados na Tabela 1.
TABELA 1: Gases componentes da atmosfera terrestre
Elemento
% em Volume
N2
78,09
O2
20,94
Ar
0,93
CO2
0,032
Outros
0,004
Fonte: Adaptado de ALVARES Jr. et al. (2002)
% em Peso (seco)
75,81
23,15
1,28
0,046
0,014
Brasil (1981) afirma que poluição é a degradação da qualidade ambiental resultante de
atividades que direta ou indiretamente:

prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

afetem desfavoravelmente a biota;

afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;
Para traduzir o grau de poluição no ar atmosférico, normalmente usa-se o termo qualidade do
ar. Quando a constituição natural da atmosfera é alterada, dá-se a poluição do ar, essa
provocada por uma mistura de substâncias químicas lançadas no ar ou resultantes de reações
químicas, podendo ter maior ou menor impacto na qualidade do ar. (ÁLVARES Jr. et al.,
2002).
De acordo com Lyra (2001), pode-se dividir as fontes emissoras dos poluentes atmosféricos
em duas: antropogênicas ou naturais. Os resultados das atividades humanas, como atividade
industrial ou o tráfego de automóveis, são as fontes antropogênicas, já os fenômenos da
natureza, tais como emissões provenientes de erupções vulcânicas ou fogos florestais de
origem natural, são fontes naturais.
Alvarez Jr. et al. (2002) enfatizam que:
O nível de poluição do ar é medido pela quantificação das substâncias poluentes
nele encontradas. Considera-se poluente qualquer substância presente no ar e que
pela concentração possa torná-lo impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde,
24
inconveniente ao bem estar público, danoso aos materiais, à fauna e à flora ou
prejudicial à segurança, ao gozo da propriedade e às atividades normais da
comunidade. O transporte, dispersão e deposição destes poluentes são fortemente
influenciados pelas condições meteorológicas. Determinar as concentrações dessas
substâncias é medir o grau de exposição dos receptores como o homem, as plantas e
os materiais. Os poluentes incluem qualquer elemento ou composto químico natural
ou artificial, capaz de permanecer em suspensão ou ser arrastado pelo vento. Essas
substâncias podem existir na forma de gases, no estado líquido, em formas de gotas
ou partículas sólidas.
A CETESB (2013) estabelece dois padrões de qualidade do ar:

Padrões Primários: aqueles em que os níveis máximos toleráveis de concentração de
poluentes, se ultrapassados, poderão afetar a saúde da população.

Padrões Secundários: correspondem aos níveis desejados de concentração de
poluentes, abaixo dos quais se prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem-estar da
população, assim como o mínimo dano à fauna e à flora, aos materiais e ao meio
ambiente em geral.
No Brasil, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –
IBAMA estabeleceu, pela Portaria Normativa no 348 de 14/03/90, os padrões nacionais de
qualidade do ar (Tabela 2). Estes padrões foram submetidos ao Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA) em 28/06/90, resultando na Resolução CONAMA no 03/90.
Em 2008, o Estado de São Paulo iniciou um processo de revisão dos padrões de qualidade do
ar, baseando-se nas diretrizes estabelecidas pela OMS, com participação de representantes de
diversos setores da sociedade. Através do Decreto Estadual no 59.113/2013, ficam
estabelecidos novos padrões de qualidade do ar por intermédio de um conjunto de metas
gradativas e progressivas para que a poluição atmosférica seja reduzida a níveis desejáveis ao
longo do tempo.
I. Metas Intermediárias (MI) - estabelecidas como valores a serem cumpridos em etapas,
visando à melhoria gradativa da qualidade do ar no Estado de São Paulo, baseada na busca
pela redução das emissões de fontes fixas e móveis, em linha com os princípios do
desenvolvimento sustentável;
25
II. Padrões Finais (PF) - Padrões determinados pelo melhor conhecimento científico para que
a saúde da população seja preservada ao máximo em relação aos danos causados pela
poluição atmosférica.
A Tabela 2 contém os padrões de qualidade do ar estabelecidos pelo DE no 59.113/2013,
sendo que os padrões vigentes estão assinalados em negrito.
TABELA 2: Padrões estaduais de qualidade do ar (DE no 59.113 de 23/04/13)
Poluente
Partículas inaláveis (MP10)
Partículas inaláveis (MP2,5)
Dióxido de Enxofre (SO2)
Dióxido de Nitrogênio (NO2)
Ozônio (O3)
Monóxido de Carbono (CO)
Fumaça* (FMC)
Partículas totais em
Suspensão* (PTS)
Chumbo** (Pb)
Tempo de
amostragem
24 horas
MAA1
24 horas
MAA1
24 horas
MAA1
1 hora
MAA1
8 horas
8 horas
24 horas
MAA1
24 horas
MGA2
MAA1
MI 1
(µg/m3)
120
40
60
20
60
40
260
60
140
120
40
-
MI 2
(µg/m3)
100
35
50
17
40
30
240
50
130
100
35
-
MI 3
(µg/m3)
75
30
37
15
30
20
220
45
120
75
30
-
PF
(µg/m3)
50
20
25
10
20
200
40
100
9 ppm
50
20
240
80
0,5
1 – média aritmética anual; 2 – média geométrica anual
* Fumaça e Partículas Totais em Suspensão - parâmetros auxiliares a serem utilizados apenas em situações específicas, a critério da
CETESB.
** Chumbo - a ser monitorado apenas em áreas específicas, a critério da CETESB.
As Metas Intermediárias devem ser obedecidas em 3 (três) etapas, assim determinadas:
I.
Meta Intermediária Etapa 1 - (MI1) - Valores de concentração de poluentes atmosféricos que devem ser respeitados a
partir de 24/04/2013;
II.
Meta Intermediária Etapa 2 - (MI2) - Valores de concentração de poluentes atmosféricos que devem ser respeitados
subsequentemente à MI1, que entrará em vigor após avaliações realizadas na Etapa 1, reveladas por estudos técnicos
apresentados pelo órgão ambiental estadual, convalidados pelo CONSEMA;
III.
Meta Intermediária Etapa 3 - (MI3) - Valores de concentração de poluentes atmosféricos que devem ser respeitados nos
anos subsequentes à MI2, sendo que o início de sua vigência e seu prazo de duração será definido pelo CONSEMA, com
base nas avaliações realizadas na Etapa 2.
Os padrões finais (PF) são aplicados sem etapas intermediárias quando não forem estabelecidas metas intermediárias, como no caso do
monóxido de carbono, partículas totais em suspensão e chumbo. Para os demais poluentes, os padrões finais passam a valer a partir do
final do prazo de duração do MI3.
Fonte: CETESB (2013)
2.1.2 Natureza das emissões atmosféricas gasosas
Fatores como natureza física da fonte a ser abordada, características e origem dos odores daí
emitidos são alguns dos aspectos a serem considerados na caracterização quali/quantitativa
dos compostos odorantes. Com o objetivo de facilitar o estudo relativo às emissões
atmosféricas, as fontes emissoras de gases a partir de processos industriais foram divididas em
três categorias: emissões pontuais, emissões fugitivas e emissões evaporativas.
26
Segundo Lyra (2001), as emissões podem ser:

Pontuais ou primárias: são as chaminés de fornos e caldeiras, unidades de processo
como flares, colunas de destilação e absorção;

Fugitivas: incluem perdas de vapores e gases oriundos de equipamentos como
bombas, válvulas, flanges, conecções, etc. A emissão desses equipamentos representa
uma parcela significativa das emissões totais de uma planta de processamento de
orgânicos, pois apesar de, individualmente, esses acessórios contribuírem pouco, o seu
grande número faz com que o total de emissões seja bastante representativo;

Evaporativas: são provenientes de áreas abertas para a atmosfera. Compõe esse tipo de
emissão as bacias de decantação, lagoas de estabilização, reatores abertos como as
bacias de tratamento biológico de efluentes líquidos, separadores de água e óleo, redes
de drenagem, tanques, ilhas de carregamento e torres de refrigeração.
A taxa de emissão de compostos orgânicos voláteis – COVs, a partir de superfícies
líquidas quiescentes (sem turbulência) com uma camada sobrenadante (geralmente de
óleo), difere-se da emissão de superfície meramente líquida (sem a camada orgânica).
Neste caso, a camada sobrenadante funciona como uma barreira, reduzindo a taxa de
emissão desses gases para a atmosfera. No caso de superfícies aeradas, a taxa de emissão
dos gases é maior, devido ao incremento no coeficiente de transferência de massa
(aumento da área superficial do líquido) (EKLUND, 1992).
2.1.3 Efeitos da poluição do ar
Devido ao tempo e suas concentrações, os efeitos dos poluentes atmosféricos variam. Essas
variações fazem com que, tais efeitos, normalmente sejam crônicos e agudos. Os efeitos
agudos, ao serem atingidas as altas concentrações de certo poluentes, podem ter logo
repercussões nos receptores. Já os efeitos crônicos, seus níveis de concentração são mais
baixos e sua exposição no tempo é mais prolongada. Embora o nível seja mais baixo, a
exposição por um período mais prolongado, faz com que possam aparecer efeitos decorrentes
de tal exposição.
27
Nomeia-se um conjunto de problemas causados pela poluição do ar:

degradação da qualidade do ar;

exposição humana e dos ecossistemas a substâncias tóxicas;

danos na saúde humana;

danos nos ecossistemas e patrimônio construído;

deterioração da camada de ozônio estratosférico;

aquecimento global/alterações climáticas.
As emissões atmosféricas geram problemas em diferentes escalas, desde uma escala local (p.
ex., as concentrações de monóxido de carbono (CO) provenientes do tráfego junto a estradas
congestionadas) à escala global (cujo melhor exemplo é a alteração climática que se traduz,
dentre outros efeitos, pelo aquecimento global do planeta (ÁLVARES Jr. et al., 2002).
2.1.4 Principais poluentes atmosféricos
Para determinar a qualidade do ar, o número de poluentes deve ser restrito, definido em
função de sua importância e dos recursos materiais e humanos disponíveis (CETESB, 2013).
Serão apresentadas nos tópicos seguintes algumas definições sobre os principais poluentes
presentes na atmosfera e os principais efeitos decorrentes da sua presença neste meio.
2.1.4.1 Material Particulado (MP)
Material particulado é definido por Seinfeld e Pandis (1997) como qualquer substância,
exceto água pura, que existe na atmosfera como líquido ou sólido sob condições normais e
apresente dimensões microscópicas ou submicroscópicas, porém maiores que a dimensão
molecular.
As propriedades físicas do material particulado incluem concentração de partículas e
distribuição do tamanho destas. As concentrações ambientais são medidas em µg/m3. A
distribuição do tamanho é usualmente medida através do diâmetro aerodinâmico. De acordo
28
com Zannetti (1990) e Banco Mundial (1998), o material particulado acima de 2,5 µm de
diâmetro aerodinâmico é geralmente definido como partículas grossas, enquanto menores de
2,5 µm, é definido como partículas finas e também como partículas respiráveis.
UNEP (2013) afirma que:
Material particulado em suspensão é uma mistura de substâncias presentes na
atmosfera na forma de partículas sólidas ou gotículas de líquido, que incluem fumos,
fumaças, poeiras e aerossól. Os impactos do material particulado na saúde humana
dependem da concentração e do tamanho das partículas. De acordo com a dimensão,
classificam-se os MP em: PM10, que se referem às partículas de diâmetro menor que
10 micra e geralmente são chamadas partículas grosseiras; PM2,5, aquelas cujo
diâmetro é inferior a 2,5 micra são geralmente chamadas de partículas finas; e PM0,1,
às partículas de diâmetro inferior a 0,1 micron, denominadas de partículas ultrafinas.
Algumas partículas são provenientes de fontes naturais (ex. pólen, emissões vulcânicas).
Grande parte das partículas finas são provenientes dos processos de combustão (ex. queima de
combustíveis fósseis e processos industriais como cimenteiras).
De acordo com Banco Mundial (1998), estima-se que mais de 90% das partículas finas
emitidas de fontes estacionárias estão combinadas com dióxido de enxofre (SO2).
A vegetação pode sofrer danos, quando ocorre a deposição de material particulado combinado
com outros poluentes. Partículas grosseiras podem depositar-se nas folhas e reduzir a
fotossíntese, alterando o crescimento.
2.1.4.2 Óxidos de Enxofre (SOx)
Segundo Banco Mundial (1998), os óxidos de enxofre (SOx) são compostos constituídos de
enxofre e moléculas de oxigênio, que incluem o dióxido de enxofre (SO2) e trióxido de
enxofre (SO3).
O SO2 é a forma predominante na baixa atmosfera. É um gás incolor que pode ser detectado
pelo paladar e olfato na faixa de 1 a 3 mg/m 3. O SO2 dissolve-se rapidamente na água
29
presente na atmosfera, formando ácido sulfuroso (H2SO3). O SO2 é formado durante o
processo de combustão de combustíveis fósseis, contendo compostos sulfurosos, entretanto
existem fontes naturais como vulcões. Quando esses combustíveis fósseis (ex. carvão mineral,
óleo mineral, gás natural) foram formados, compostos de nitrogênio e enxofre foram
introduzidos neles através dos aminoácidos encontrados nas proteínas das plantas.
O SO3 é emitido diretamente para a atmosfera ou produzido através da oxidação do SO2,
podendo ser rapidamente convertido em ácido sulfúrico (H2SO4).
Durante combustões incompletas, o enxofre elementar (S) ou sulfeto de hidrogênio (H2S)
podem, dependendo da temperatura, ser formados sob condições redutoras dos compostos
sulfurosos. Na maioria dos processos de combustão, compostos reduzidos de enxofre são
insignificantes.
2.1.4.3 Monóxidos de Carbono (CO)
O monóxido de carbono (CO) é encontrado em altas concentrações principalmente em áreas
urbanas, resultante da combustão incompleta dos combustíveis fósseis nos veículos
automotivos, nos aquecedores a óleo, churrasqueiras, fogões a gás e na queima de tabaco
(CANÇADO et al., 2006).
2.1.4.4 Óxidos de Nitrogênio (NOx)
Os óxidos de nitrogênio (NOx) são formados durante o processo de combustão a altas
temperaturas, através da oxidação do nitrogênio do ar de combustão ou do nitrogênio contido
no combustível. Primariamente óxido de nitrogênio (NO) é formado, e, dependendo do
excesso de ar, pode ser transformado em dióxido de nitrogênio (NO2). De acordo com o
Banco Mundial (1998), essas duas formas de óxidos de nitrogênio são poluentes significantes
na baixa atmosfera.
30
De acordo com CETESB (2013), outra forma de óxido de nitrogênio é o óxido nitroso (N2O),
um gás que gera efeito estufa, é um forte oxidante, gás amarelo-alaranjado ou marromavermelhado, com odor irritante e pungente.
Os óxidos de nitrogênio, quando na presença de vapor de água, podem levar à formação de
chuva ácida e causar corrosão aos materiais e danos à vegetação (CETESB, 2013).
2.1.4.5 Hidrocarbonetos (HC)
Os hidrocarbonetos (HC) são resultantes da combustão incompleta e evaporação de
combustíveis e outros produtos voláteis. Participam da formação de oxidantes fotoquímicos
na atmosfera, juntamente com os óxidos de nitrogênio (IEMA, 2007).
Apresentam-se também como fontes antropogênicas de HC as indústrias químicas, de
transformação, refinarias, petroquímicas e os processos de queima de materiais orgânicos.
Os HC são gases e vapores e dependendo de suas características químicas podem ter odor
desagradável, irritar olhos, nariz, pele e o trato respiratório.
2.1.5 Compostos orgânicos voláteis (COVs)
Os COVs são hidrocarbonetos do tipo aldeídos, cetonas, solventes clorados e substâncias
refrigerantes (LORA, 2002).
De acordo com Chu et al. (2001), compostos orgânicos voláteis incluem a maioria dos
solventes, lubrificantes e combustíveis em geral, sendo comumente emitidos por indústrias
químicas e petroquímicas. São definidos como compostos orgânicos de elevada pressão de
vapor e são facilmente vaporizados nas condições de temperatura e pressão ambientes. É
designada como COV a maioria dos hidrocarbonetos, incluindo orgânicos nitrogenados,
clorados e sulfurados.
31
Chu et al. (2001) afirmam ainda que esses compostos são geralmente encontrados em
indústrias de manufatura com operação de solventes orgânicos causando sobretudo prejuízos
à saúde humana, ambiente e materiais em geral.
Esses compostos compõem uma lista considerável de compostos químicos (mais de 600), em
que quase um terço deles constitui-se em substâncias tóxicas. A maior parte dos COVs
participa de reações fotoquímicas da atmosfera, embora alguns desses compostos voláteis
tenham baixa reatividade química. Os COVs mais reativos são os dotados de duplas ligações
(C=C), dada a sua capacidade de reagirem com os radicais livres (SCHIRMER, 2004).
Zysman e Skelly (2001) afirmam que
Segundo suas propriedades físico-químicas, considera-se COV todo composto que, à
exceção do metano, contém carbono e hidrogênio, os quais possivelmente podem ser
substituídos por outros átomos como halogênios, oxigênio, enxofre, nitrogênio ou
fósforo, excluindo-se óxidos de carbono e carbonatos. Estes compostos encontramse em estado gasoso ou de vapor dentro das condições normais de temperatura e
pressão (CNTP). Acrescenta-se ainda que todo produto orgânico tendo pressão de
vapor superior a 10 Pa nas CNTP, ou 0ºC e 10 5 Pa (1atm) é considerado um
composto orgânico volátil.
De acordo com Schirmer (2004), o lançamento de clorofluormetanos e demais compostos
clorados na atmosfera, por exemplo, pode aumentar a absorção e emissão de radiação
infravermelha. Assim, retardando-se a perda de calor da terra, clima e temperatura do planeta
são afetados. Ainda, quando em combinação com NOx, em presença de luz, sofrem oxidação
fotoquímica, produzindo o smog fotoquímico (KHAN e GHOSHAL, 2000). A maioria desses
compostos é perigosa devido aos seus efeitos carcinogênicos e/ou mutagênicos (certas classes
de hidrocarbonetos estão associadas a alguns tipos de câncer pela sua exposição à fuligem e
alcatrão), mesmo a baixas concentrações (CHUNG et al., 1998).
2.2 Odores
De acordo com Kawano (2003), o olfato é um dos sentidos mais desenvolvidos pelo homem,
pois ele é capaz de distinguir mais de 10.000 espécies químicas diferentes. A percepção
32
humana relacionada ao odor varia muito com as particularidades de cada componente
individualmente, bem como em alguns casos, varia de indivíduo para indivíduo.
Considerando a percepção individual de um odor, é facilmente comprovado que cada
composto tem uma concentração determinada da qual cada indivíduo consegue sentir o odor.
A concentração no ar na qual a pessoa percebe o odor de uma substância particular é chamada
de valor limiar de percepção do odor. Cada substância volátil particular tem o seu próprio
valor limiar de percepção.
O odor oriundo de processos industriais é motivo constante de preocupação da sociedade,
principalmente pelo incômodo gerado.
Generalizando, o problema mais comum com os odores é causado por uma mistura de
compostos voláteis com valores limiares de percepção muito baixos e que estão em baixas
concentrações no ar.
Os odores resultam das sensações provenientes da interação de moléculas orgânicas ou
inorgânicas voláteis de diversas origens com o sistema olfativo do organismo, provocando
impulsos nervosos que são transmitidos ao cérebro. Compostos odoríficos podem também ser
sentidos, quando absorvidos pela mucosa da boca ou da garganta (SCHIRMER, 2004)
Segundo Antunes (2006), de um modo geral, a causa dos odores está associada à presença de
compostos odoríficos no ar, em consequência de emissões gasosas de compostos químicos.
A Tabela 3 ilustra alguns dos compostos odorantes com seus limites de percepção (limite
olfativo), em alguns casos inferiores aos limites de toxicidade.
2.2.1 Percepção Olfativa
O ser humano é capaz de detectar no ar a presença de substâncias em concentrações muito
baixas, porém, é algo subjetivo: diferentes pessoas percebem os odores de formas variadas e
em diferentes concentrações.
33
Estudos mostram que a sensibilidade olfativa decresce com a idade (BLISS et al., 1996).
O olfato humano possui em torno de 10 bilhões de receptores aptos a captar a percepção de
aproximadamente 100 mil odores ou cheiros diferentes proporcionados por substâncias e
compostos denominados odorantes ou odoríferos (KORDON, DHURJATI e BOKRATH,
1996).
TABELA 3: Limites de percepção e toxidade de alguns compostos odoríferos (Base Molar)
Composto
Acetaldeído
Acetona
Ácido Acético
Ácido Butírico
Ácido Clorídrico
Ácido Sulfídrico
Acrilonitrila
Acroleíma
Amoníaco
Anilina
Benzeno
Bromo
Cloreto de Benzila
Cloro
Dimetil Amina
Dimetil Formamida
Dióxido de Enxofre
Estireno
Etil Mercaptana
Fenol
Folmaldeído
Metil etil cetona
Metil Isobutil Cetona
Metil Mercaptana
Metil Metacrilato
Monoclorobenzeno
Nitrobenzeno
Paracresol
Paraxileno
Percloroetileno
Piridina
Sulfeto de Dimetila
Tetracloreto de Carbono
Tolueno
Tricloroetileno
Trimetilamina
Fonte: Adaptado de SCHIRMER (2004)
Limite de Toxidade
(ppm)
78,0
780,0
8,0
4,0
8,0
16,0
0,08
20,0
4,0
10,0
0,1
0,08
0,08
8,0
8,0
4,0
78,0
0,4
4,0
1,6
155,0
78,0
0,4
78,0
60,0
0,08
4,0
78,0
78,0
4,0
8,0
78,0
78,0
-
Limite de Percepção
(ppm)
0,21
100
1
0,001
10
0,00047
21,4
0,21
46,8
1
4,68
0,047
0,047
0,314
0,047
100
0,47
0,047
0,001
0,047
1
10
0,47
0,0021
0,21
0,21
0,0047
0,001
0,47
4,68
0,021
0,001
100
2,14
21,4
0,00021
34
Mesmo um odor sendo não tóxico, sua associação à decomposição biológica pode indicar
algo a se evitar, ou até mesmo um eventual risco à saúde. A presença de um mau odor em
geral é um sinal para que se evite sua fonte (GOSTELOW, PARSONS, STUETZ, 2001). A
interpretação psicológica destes odores leva a um julgamento tanto sobre a intensidade do
odor percebido quanto sobre o seu grau de agradabilidade.
2.2.2 Quantificação dos odores
Segundo Kawano (2003), odores provenientes de determinadas substâncias químicas, como o
sulfeto de hidrogênio (H2S), podem ser quantificados tanto por métodos físico-químicos
(analíticos) quanto por métodos organolépticos (sensoriais). Embora os métodos analíticos
sejam úteis na identificação e quantificação das substâncias que causam odor, os métodos
sensoriais permitem avaliar o grau de tolerância ao odor proveniente das substâncias químicas
presentes na atmosfera.
De acordo com Buonicore, Theodore e Davis (1992), as respostas humanas para avaliação do
odor dependem de propriedades sensoriais particulares a serem medidas, que incluem:
 Intensidade do odor;
 Qualidade (caráter) do odor;
 Hedonicidade do odor (prazer ou desconforto).
O incômodo que pode causar um odor é resultado do efeito combinado dessas propriedades.
2.2.2.1 Qualidade de um odor
O caráter do odor ou sua qualidade é a propriedade que identifica um odor e o diferencia de
outros odores de igual intensidade. A determinação da qualidade do odor é plenamente
subjetiva, já que a sensação olfativa é individualizada.
35
Geralmente, a qualidade do odor está associada ao tipo de ligações químicas e o potencial
odorífico está relacionado com a massa molar, na medida em que: quanto menor for a massa
molar do composto, maior será a sua volatilidade e, consequentemente, maior será a
probabilidade de ser detectado (ASCE/WEF, 1995).
É uma tarefa difícil descrever a qualidade de um odor percebido. A linguagem olfativa é
efetivamente baseada na comparação da percepção a um odor fundamental frequentemente
encontrado.
Utiliza-se um vocabulário de referência na caracterização do odor. Numerosos padrões de
descrição do odor estão disponíveis para o uso como vocabulário de referência. McGinley e
McGinley (2002) apresentam oito categorias reconhecidas da descrição do odor, em que são
ilustradas como “roda de odor”: vegetal, frutífero, floral, medicinal, químico, piscoso,
ofensivo e térreo. São listadas descrições específicas do odor para cada categoria como
mostrado na Figura 1.
A tonalidade afetiva de um odor é inteiramente subjetiva, já que a sensação olfativa é
individualizada. Nela, usa-se uma linguagem de analogia baseada em interpretações pessoais
(ex: cheiro de fruta, de peixe, de ovos, de menta). Essa característica influencia
significativamente as respostas aos odores. O cheiro se “parece” com o de uma substância
(STUETZ e FRENCHEN, 2001).
Medicinal
Químico
Álcool
Amônia
Cânfora
Cloroso
Desinfetante
Mentol
Ensaboado
Vinagre
Gasolina
Graxa
Querosone
Óleo
Verniz
Pintura
Plástico
Enxofre
Aguarraz
Vinil
Peixe
Amina
Peixe morto
Floral
Amêndoa
Canela
Coco
Eucalipto
Lavanda
Perfume
Rosa
Baunilha
Frutífero
Maçã
Cereja
Cravo
Uva
Hortelã
Laranja
Morango
Limão
Aipo
Pepino
Pimentão verde
Nozes
Cebola
Ofensivo
Sangue
Queimado
Fecal
Esgoto
Azedo
Urina
Lixo
Carne crua
Vômito
Ovo podre
Vegetal
Terra
Cinza
Cogumelo
Mofado
Pinho
Fumaça
Envelhecido
Madeira
Giz gasto
FIGURA 1: Roda de odores
Fonte: adaptado de McGinley e McGinley (2002)
36
2.2.2.2 Intensidade de um odor
A intensidade da sensação do odor percebido pode ser descrita com base em categorias, como
as descritas na Tabela 4.
Na avaliação da intensidade do odor, uma substância padrão, em concentração determinada,
pode servir de referência para as categorias. O método ASTM E-5446, citado em Buonicore;
Theodore; Davis (1992) descreve o n-butanol como uma substância que é utilizada como
referência.
TABELA 4: Categorias de intensidade de odor
0
Não perceptível
1
Perceptível
2
Fraco
3
Facilmente perceptível
4
Forte
5
Muito forte
Fonte: Adaptado de BUONICORE; THEODORE e DAVIS (1992)
A relação entre a intensidade do odor e a concentração é dada pela equação (1), que é
conhecida como Lei de Stevens.
(1)
Onde:
I = intensidade percebida;
K = constante
C = concentração
n = expoente (pode variar de 0,2 a 0,8 dependendo da substância odorante)
A equação (1) demonstra que, para uma pequena redução na intensidade do odor, é necessária
uma grande redução na concentração da substância odorante.
2.2.2.3 Hedonicidade de um odor
37
O valor hedônico é uma medida da agradabilidade e desagradabilidade de um odor. É uma
categoria de julgamento quanto à característica do odor de ser ou não prazeroso. O valor
hedônico é independente do caráter do odor.
A polaridade prazer/desprazer é acompanhada de forte regularidade na sensação olfativa.
Certos autores consideram que a tonalidade hedônica dos odores é o resultado de uma
aprendizagem associada à infância (STUETZ e FRENCHEN, 2001).
Para avaliação da hedonicidade, a orientação é comparar o incômodo odorante, em cada
amostra, com uma escala que representa o nível de agrado ou desagrado de um odor, variando
de -5 (desagradável), passando por 0, indo até +5 (agradável).
2.2.3 Natureza dos odores
As substâncias odorantes compreendem uma gama enorme de diferentes produtos químicos.
Independente da estrutura ou função química a qual pertencem, as famílias das substâncias
odoríferas conferem uma maior ou menor intensidade ao odor percebido e uma característica
mais ou menos agradável a esta percepção (CARVALHO, 2001).
Schirmer (2004) considera os compostos odoríferos como uma mistura de gases
compreendendo as seguintes famílias de compostos:
 Nitrogenados: amônia, aminas (metil-, etil-, dimetil-), heterociclos;
 Sulfurados: ácido sulfídrico, sulfetos (metil-, etil-, propil-), mercaptanas (isoamil-,
metil-, etil-, propil-, isopropil-, butil-, isobutil-, t-butil-);
 Oxigenados: acrilatos, butiratos, acetatos, ésteres (etílicos e metílicos), éteres (etil-,
isopropil-, butil-, fenil-), ácidos orgânicos (fórmico, acético, propiônico, butírico,
valérico, capróico), aldeídos (form-, acet-, propion-), cetonas (acetona, metiletil-,
dietil-, metilisobutil-, pentanona-2, heptanona-2), álcoois (metanol, etanol,
propanol, butanol, pentanol, hexanol, heptanol), fenóis (fenol e cresol);
38
 Hidrocarbonetos: alcanos (etano, propano, butano, pentano, ciclobutano), alcenos
(eteno,propeno, 1-buteno, 2-buteno, isobuteno, 1-penteno, 1-deceno), aromáticos
(benzeno, tolueno, etilbenzeno, xilenos), etc.
2.2.4 Fonte de odores
Os compostos odorantes, originados naturalmente ou de atividades industriais, são resultantes
das reações e das transferências químicas e/ou biológicas.
Schirmer (2004) divide as fontes odorantes em duas categorias:
 Odores provenientes da fermentação, ou seja, da transformação de substâncias
minerais ou vegetais em moléculas voláteis em meio aeróbio ou anaeróbio. Neste
caso, todas as indústrias ligadas a resíduos, como ainda demais atividades que
requeiram processos biológicos;
 Odores da indústria de transformação, como a agroalimentar, química, perfumaria,
etc. Neste caso, os odores podem ser provenientes da própria matéria-prima, do
produto intermediário ou final, ou ainda de algum subproduto. Essas fontes são de
diferentes linhas de produção: armazenamento, síntese, secagem, manutenção, etc.
Muitos compostos odorantes resultam de atividades biológicas ou estão presentes no processo
de emissão de substâncias químicas. A maior parte das substâncias odorantes deriva da
decomposição anaeróbia da matéria orgânica que contém enxofre e nitrogênio; grande parte é
gasosa ou no mínimo tem volatilização significante. O peso molecular dessas substâncias
geralmente é da ordem de 30 a 150 g/mol. Substâncias com elevados pesos moleculares são
menos voláteis e assim têm menos impacto nas questões relativas a odor (PROKOP, 1986).
2.2.5 Técnicas de Medição de Odores
Odores podem ser medidos através da própria percepção humana (métodos sensórias) ou
através de métodos analíticos.
39
2.2.5.1 Métodos Sensoriais
Os métodos sensoriais utilizam o nariz humano para detecção do odor, para avaliar e
caracterizar a resposta humana à presença de compostos químicos odoríficos no ar inalado. O
uso da cromatografia gasosa associada à espectrometria de massa é especialmente adequado
àquelas situações em que substâncias não odorantes são procuradas. No caso de substâncias
odorantes, recomenda-se o uso de técnicas olfatométricas para a determinação do limite de
percepção odorante, a intensidade da sensação odorante, seu caráter e valor hedonístico, ou
seja, se um odor é agradável ou desagradável1 (BELLI FILHO; DE MELO LISBOA, 1998).
As técnicas de medidas sensoriais podem ser divididas em duas categorias (GOSTELOW;
PARSONS; STUETZ, 2001):
 Medidas subjetivas em que o nariz é usado sem nenhum outro equipamento;
 Medidas objetivas nas quais incorporam o nariz em conjunto com algum tipo de
equipamento de diluição.
As medidas sensoriais subjetivas são rápidas e de custo relativamente baixo, também não
exige nenhum equipamento em especial. Os resultados são de difícil interpretação, portanto
tais medidas devem ser empregadas com cautela devido à natural variação na percepção do
odor, mesmo em pessoas bem treinadas (GOSTELOW; PARSONS; STUETZ, 2001). Os
parâmetros que podem ser medidos subjetivamente incluem a qualidade, hedonicidade e
intensidade de um odor (BELLI FILHO; DE MELO LISBOA, 1998).
Para as medidas sensoriais objetivas utiliza-se um olfatômetro (instrumento que dilui a
amostra odorante com ar limpo) em conjunto com o nariz. Há duas categorias de técnicas de
diluição. A mais comum é a olfatometria do limite de percepção, na qual a amostra é diluída
sucessivamente até ser percebida pelo nariz (ou seja, a concentração relativa ao limite de
percepção). A concentração é, então, expressa como o número de diluições necessárias para
alcançar o limite de percepção olfativo. Outra forma de diluição compara a amostra odorante
com um odor de referência e o resultado é expresso como uma concentração equivalente a
esse gás. A amostra ou o odor de referência é diluído até que a intensidade percebida em cada
fluxo seja a mesma. Em ambos os casos, o uso de um olfatômetro impede (ou reduz) a
40
subjetividade da medida. Não existem técnicas objetivas capazes de medir a qualidade e a
hedonicidade, com exceção do Nariz Eletrônico (GOSTELOW; PARSONS; STUETZ, 2001).
A olfatometria tem sido reconhecida como método padrão para a medida da concentração do
odor mesmo no meio industrial. Entretanto, tem uma desvantagem considerável em termos de
custo e procedimentos laboratoriais. Somada a isso, resta ainda a subjetividade da resposta
humana, que pode levar a medidas irreais. Recentes pesquisas no desenvolvimento da tecnologia do Nariz Eletrônico, que são tipicamente compostas por um conjunto de sensores que
permitem a percepção e o reconhecimento de odores e o aparecimento de novos padrões de
reconhecimento tais como as redes neurais artificiais têm permitido o avanço na qualidade das
medidas odorantes (SOHN; SMITH; YOONG, 2006).
2.2.5.2 Métodos Analíticos
Em geral, a qualidade do ar é determinada mediante a coleta de amostras e suas análises em
instrumentos analíticos laboratoriais, tais como a cromatografia em fase gasosa associada à
espectrometria de massa (RYAN, 2012).
Vários processos têm sido empregados para estimar o impacto das emissões odorantes sobre a
população, seja no sentido de se avaliarem as reclamações, seja no sentido da sua prevenção
(DI FRANCESCO et al., 2001). A cromatografia em fase gasosa é frequentemente aplicada
aos odores com esse propósito, frequentemente seguida pela espectrometria de massa, o que
permite a caracterização química das amostras odorantes mediante a qualificação e
quantificação dos compostos odorantes presentes (BELLI FILHO, DE MELO LISBOA,
1998; GOSTELOW, PARSONS, STUETZ, 2001). Essa técnica é cara, demorada e seus
resultados não dão nenhuma informação a respeito da percepção humana (DI FRANCESCO
et al., 2001).
Segundo Mainier e Viola (2005), a detecção e o monitoramento do H2S presente numa
corrente gasosa pode ser efetuado por uma série de técnicas e equipamentos cuja principal
função é registrar e avaliar as concentrações de H2S no ambiente e consequentemente
comparar com as condições de qualidade de vida necessária ao homem e as condições de
segurança nas instalações industriais. Esses equipamentos indicam, continuamente, o teor de
41
H2S presente e alertam quando o limite é ultrapassado e pode trazer problemas ambientais.
Geralmente estão baseados nas propriedades de absorção e /ou de adsorção do H2S em
materiais específicos.
2.3 Sulfeto de Hidrogênio
O sulfeto de hidrogênio (H2S) é um gás incolor, com odor característico de ovo podre em
baixas concentrações, porém inibe o sentido do olfato quando em elevadas concentrações.
Casos de intoxicação por H2S são raridades e ocorrem principalmente no setor industrial
(MANDAVIA, 2013). É bastante inflamável e sua temperatura de autoignição é de 260°C,
enquanto o limite inferior de explosividade é da ordem de 4,3% no ar (em volume).
O H2S (34,08 g/mol) é ligeiramente mais pesado do que o ar (28,8 g/mol), condensa-se na
forma líquida a temperatura de -62ºC. É parcialmente solúvel em água e compostos orgânicos.
A solubilidade em água a 20ºC é de 3850 mg/L (0,385%). Geralmente, a solubilidade em
substâncias orgânicas é maior do que em água.
De acordo com Mainier; Sandres; Tavares (2007), a fonte de H2S pode ser originada da
própria natureza ou de processos industriais. O sulfeto de hidrogênio é encontrado na natureza
entre os gases vulcânicos, nas zonas pantanosas, em fontes sulfurosas, como águas
subterrâneas, no petróleo, no gás natural e como um produto de processos bacterianos
formados da decomposição de plantas ou de proteína animal.
Nos segmentos industriais a procedência do H2S é conhecida, geralmente, oriunda de
processos de remoção química e/ou de lavagens de gases ácidos, de sistemas de tratamento de
efluentes, de fermentações, de decapagens ácidas, etc (MAINIER, SANDRES, TAVARES,
2007).
Em estações de tratamento de esgoto, o H2S é o principal composto causador de odores, sendo
também responsável pela corrosão das tubulações de concreto (LILIAMTIS e MANCUSO,
2003).
42
2.3.1 Fontes naturais
A geração natural do H2S está relacionada a ambientes geológicos diversos nos quais estejam
presentes os componentes necessários e suficientes para o desencadeamento das reações.
Dentre os mecanismos descritos na literatura para geração do H2S nos campos de petróleo e
gás natural, destacam-se o mecanismo bacteriano, o termoquímico associado à oxidação de
hidrocarbonetos e o termoquímico que compreende a decomposição térmica de matéria
orgânica rica em compostos sulfetados.
Os mecanismos de geração de H2S necessitam de uma fonte de enxofre, tais como: sulfato
solúvel (SO4–2) em sedimentos marinhos, sulfato de cálcio (CaSO4) ou sulfato de bário
(BaSO4); um mediador como as bactérias ou as elevadas temperaturas de subsuperfície e um
agente catalisador cuja presença implicará na velocidade da reação de oxirredução.
No caso das bactérias redutoras de sulfato (BRS), outros parâmetros como pH, teor de matéria
orgânica, salinidade,
temperatura e ausência de oxigênio
são fundamentais
no
desenvolvimento do processo de geração de H2S, expresso na reação (1):
→
(1)
Os volumes gerados de H2S por estes mecanismos dependem da disponibilidade da fonte e
das condições geológicas reinantes. Isto vem indicar que as concentrações de sulfeto de
hidrogênio encontradas na natureza são aleatórias e caso haja falha geológica, possivelmente,
poderão ocorrer vazamentos, cujas consequências são indetermináveis. Este mecanismo pode
gerar H2S que pode variar desde 10ppm a 100.000ppm.
2.3.2 Processos industriais
Nos segmentos industriais, o H2S geralmente é proveniente de processos de remoção química
e/ou de lavagens de gases ácidos, de sistemas de tratamento de efluentes, de fermentações, de
43
decapagens ácidas, etc. As reações (2, 3, 4, 5 e 6) representam alguns processos de geração de
H2S em diversos segmentos industriais:
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
A agressividade também é avaliada nos contatos com materiais e equipamentos industriais,
resultando, na maioria das vezes, em deteriorações ou fraturas de materiais ferrosos com
consequências, algumas vezes, catastróficas.
Muitos autores têm considerado o H2S como um dos principais compostos mal odorantes em
Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs), principalmente naquelas que tratam efluentes
com a tecnologia anaeróbia (SÁ et al., 2005; LOPES et al., 2005; ZHANG et al., 2007).
Nesse sentido, Lupatini et al., (2007) sugerem que o sulfeto de hidrogênio pode ser
considerado o principal composto responsável pela percepção de odores em estações de
tratamento de efluentes, principalmente pelo fato de o sistema olfativo humano ser capaz de
detectá-lo em baixas concentrações.
Um problema comumente associado com o H2S está relacionado com a corrosão das
estruturas físicas dos reatores anaeróbios. Tanto no separador trifásico como no sedimentador
do reator, a presença de H2S pode estimular a formação de ácido sulfúrico e provocar
corrosão das superfícies do reator, sendo elas feitas em concreto ou em aço
(CHERNICHARO, 2007).
Estas características fazem do H2S objeto de vários estudos acadêmicos e motivo de muita
preocupação para engenheiros e operadores de estações de tratamento de efluentes.
44
2.4 Dispersão atmosférica
A dispersão dos poluentes atmosféricos está diretamente relacionada com os fenômenos que
ocorrem na Camada Limite Planetária (CLP), visto que é nessa região que ocorre a maior
quantidade das emissões, naturais ou antropogênicas, de poluentes na atmosfera.
A CLP é a região da troposfera influenciada diretamente pela presença da superfície da Terra.
Alguns parâmetros como: fluxos convectivos de calor, gradientes de umidade e temperatura, e
estabilidade atmosférica são responsáveis pela existência de diferentes camadas: camada
superficial, camada de mistura, camada residual, camada estável e camada de entranhamento
(STULL, 1998). A Figura 2 ilustra as camadas componentes da CLP descritas acima.
FIGURA 2: Estrutura da camada limite planetária
Fonte: adaptado de STULL, 1998.
De acordo com Godish (1991), a movimentação do ar na micro e na mesoescala e os ciclones
e anticiclones na macroescala influenciam a dispersão de poluentes atmosféricos. Na
macroescala, são dispersas substâncias com tempo de residência longo (ex. CO2 e CFCs). No
Quadro 2 são mostradas as escalas e os fenômenos meteorológicos associados.
45
Godish (1991) afirma ainda que o comportamento de uma pluma de dispersão depende da
inter-relação de fatores como: natureza física e química dos poluentes; parâmetros
meteorológicos; localização da fonte relacionada com obstáculos e topografia da região.
QUADRO 2: Escala dos fenômenos meteorológicos
Escala
Extensão
Horizontal
(103 m)
Período de duração
Macroescala
> 100
Semanas – meses
Mesoescala
10 – 100
Horas – dias
Microescala
< 10
Minutos
Fenômenos meteorológicos associados
Circulação geral da atmosfera
Frentes do tempo
Sistemas de altas e baixas pressões
Furacões
Brisa marinha e terrestre
Ventos de vale
Ilhas de calor urbanas
Comportamento da pluma
Downwash
Correntes de remoinho
Fonte: GODISH (1991)
2.4.1 Fenômenos meteorológicos
O transporte e diluição dos poluentes na micro e mesoescala dependem dos fenômenos
meteorológicos locais e da influência da topografia. No processo de dispersão atmosférica, os
fenômenos meteorológicos mais importantes incluem o vento, turbulência e a estabilidade
atmosférica.
2.4.1.1 Vento
Definido como o movimento e a circulação da atmosfera, o vento é composto pelos
componentes vertical e horizontal. Os ventos horizontais são um significante meio de
transporte e diluição de poluentes atmosféricos (GODISH, 1991).
Assim como o vento depende das condições meteorológicas, ele também depende dos
obstáculos que irá encontrar na superfície da terra. A velocidade dos ventos horizontais é
afetada pela fricção proporcionada pela rugosidade da superfície, que é determinada por
características topográficas, como campos, montanhas, rios, lagos e vales.
46
A dispersão de poluentes também é afetada pela variação da direção do vento. A frequência
da direção do vento e da velocidade, em um dado período de tempo, pode ser resumida
através de uma rosa dos ventos. Os ventos são denominados a partir da direção de onde eles
sopram. Por exemplo, um vento norte sopra do norte para o sul, um vento leste sopra de leste
para oeste. As medidas básicas do vento referem-se à sua direção e velocidade.
Stern (1968) descreve que a velocidade do vento é geralmente maior no inverno do que no
verão, mas estagnações prolongadas são possíveis no inverno. Há também uma tendência da
velocidade máxima do vento ocorrer na primavera.
2.4.1.2 Turbulência
De acordo com a ABNT NBR-8969 (1985), turbulência é a movimentação do vento, de
maneira extremamente irregular, com rápidas alterações de velocidade e direção,
acompanhada de correntes ascendentes e descendentes. Godish (1991) comenta que a
turbulência atmosférica é produzida por dois processos específicos: a turbulência térmica
(resultado do aquecimento atmosférico) e a turbulência mecânica (causada pelo movimento
do ar em função do vento).
A turbulência dentro da CLP, segundo Turner (1994), são os movimentos do vento sobre
escalas de tempo menores que a média de tempo utilizado para determinar o vento médio. A
turbulência é composta por movimentos circulares ou vórtices horizontais, verticais e entre
todas as orientações. Esses vórtices turbulentos realizam a dispersão dos poluentes através da
mistura de ar com menor concentração de poluentes.
2.4.1.3 Estabilidade atmosférica
Moraes (2004) relata que a estabilidade da atmosfera pode ser definida como sendo a sua
capacidade de resistir ou intensificar os movimentos verticais. Quando ela resiste aos
movimentos verticais, é chamada de atmosfera estável; quando intensifica os movimentos
47
verticais, é dita atmosfera instável ou convectiva, e, quando é indiferente a qualquer tipo de
movimento vertical, é chamada atmosfera neutra. Através do perfil de temperatura potencial
na vertical, pode-se determinar o grau de estabilidade da atmosfera, e cada tipo de
estabilidade atmosférica irá proporcionar uma melhor ou pior dispersão dos poluentes.
De acordo com Turner (1970), a maioria dos problemas de dispersão atmosférica leva em
conta a camada atmosférica próxima ao solo, variando de centenas a alguns milhares de
metros. Variações na turbulência térmica ou mecânica são maiores próximas ao solo.
Godish (1991) descreve que, na baixa troposfera, até aproximadamente 10 km, a temperatura
decresce com a altitude. Kiely (1996) acrescenta que, naquela região a temperatura decresce
com a altitude, em 0,98oC para cada 100 m ou aproximadamente 1oC / 100 m para o ar em
movimento.
Essa taxa de decréscimo é conhecida como Gradiente Térmico Adiabático Seco, e ocorre
quando uma parcela de ar seco sobe verticalmente num meio em equilíbrio hidrostático e se
expande lentamente sem troca de calor com este meio (ABNT NBR-8969, 1985).
De acordo com Davis e Cornwell (1998), a estabilidade da atmosfera reflete-se basicamente
na facilidade ou dificuldade da atmosfera de resistir ao movimento vertical do ar gerado pela
turbulência convectiva. É uma função do vento e do perfil vertical de temperatura, mas,
normalmente, é definido em termos do perfil.
O sistema de classificação da estabilidade atmosférica mais utilizado é o de Pasquill-Gifford
relacionado no Quadro 3.
QUADRO 3: Classificação da Estabilidade Atmosférica
Classe
A
B
C
D
E
F
Fonte: SEINFELD (1986)
Descrição
Extremamente instável
Moderadamente instável
Levemente instável
Neutro
Levemente estável
Moderadamente estável
48
Turner (1994) relata que Pasquill criou um método para estimar a estabilidade atmosférica,
incorporando considerações sobre turbulência térmica e mecânica. A turbulência mecânica é
considerada pela velocidade do vento medida a 10 m de altura, e a turbulência térmica
positiva e negativa são consideradas pela irradiação solar incidente e pela cobertura de
nuvens, respectivamente. Tais critérios para estimar a classe de estabilidade atmosférica em
um dado momento estão demonstrados na Tabela 5.
TABELA 5: Definição da Estabilidade Atmosférica segundo Pasquill-Gifford
Dia
Radiação solar incidente
Velocidade do vento
em m/s (a 10 m)
0à2
2à3
3à5
5à6
>6
Fonte: TURNER (1994)
Noite
forte
moderada
leve
A
A-B
B
C
C
A-B
B
B-C
C-D
D
B
C
C
D
D
Levemente
nublado
>= 4/8
E
D
D
D
Claro ou pouco
nublado
<= 3/8
F
E
D
D
2.4.2 Fatores ligados à dispersão de poluentes
A concentração e dispersão de poluentes nas altitudes próximas ao solo são determinadas por
uma complexa interação de características físicas da fonte, características físicas e químicas
dos poluentes, condições meteorológicas nas proximidades da fonte e topografia (BANCO
MUNDIAL, 1998).
Ainda segundo o Banco Mundial (1998), os principais fatores que devem ser considerados
para os cálculos da dispersão de poluentes e, consequentemente, seleção dos modelos de
dispersão são:
 Topografia da área a ser analisada;
 Uso do solo: se a área é rural ou urbana, com grandes construções e fontes de calor,
além da densidade de população afetando diretamente o número de pessoas
impactadas;
 Propriedades físicas e químicas dos poluentes que influenciam o transporte.
49
 Configuração da fonte: altura e temperatura da emissão e a proximidade de outras
estruturas afetam a dispersão.
 Múltiplas fontes: todos os modelos de dispersão assumem que a concentração em
um local definido é a soma das concentrações de cada uma das fontes que são
modeladas.
 Tempo de exposição para se calcular as concentrações dos poluentes.
2.4.3 Modelos de dispersão atmosférica
De Nevers (1995) cita que o processo de poluição do ar está relacionado a três momentos:
 Emissão ou descarga de matéria e/ou energia para a atmosfera;
 Transporte, diluição e modificação química ou física dos poluentes na atmosfera;
 Imissão, na qual os poluentes chegam a um receptor, podendo acarretar danos
materiais, à saúde ou ao meio ambiente.
A modelagem da qualidade do ar é uma ferramenta essencial para a maioria dos estudos de
poluição atmosférica e, de acordo com Zannetti (1990), eles são divididos em:
 Modelo físico: construído em pequena escala, representando um fenômeno em
laboratório, que evidencia mecanismos e geram dados para a validação de modelos
matemáticos. Como por exemplo, os tanques de água e túneis de vento;
 Modelo matemático: é um conjunto de algoritmos analítico-numéricos que
descrevem os aspectos físicos e químicos do problema.
Devido à complexidade das diversas condições meteorológicas e de emissão de poluentes em
uma área urbana, os modelos físicos não suprem todas as necessidades dos modelos de
qualidade do ar, pois são incapazes de relacionar as emissões com a qualidade do ar
(SEINFELD, 1986). Já Bóçon (1998) ressalta que os modelos matemáticos baseiam-se em
relações matemáticas e em funções estatísticas e necessitam de dados experimentais para que
seus parâmetros sejam determinados.
50
Segundo De Nevers (1995):
O modelo de qualidade do ar ideal permitiria prever a concentração de poluentes em
qualquer condição de emissão, em qualquer condição meteorológica, em qualquer
localização e em qualquer período de tempo. Os modelos atualmente disponíveis
estão distantes do ideal e são simplificações da realidade, conduzindo à convicção
que todos os modelos possuem erros associados.
De acordo com o Banco Mundial (1998), os dados requeridos nos modelos de qualidade do ar
estão distribuídos em três categorias:
 Dados da fonte emissora: coordenadas, temperatura e taxa de emissão dos
poluentes. Alguns modelos podem requerer dados de entrada adicionais como
elevação da fonte, dimensões das construções ou edificações no entorno,
distribuição do tamanho da partícula e suas correspondentes velocidades terminais e
coeficientes de reflexão no solo;
 Dados meteorológicos: são necessários para prever o transporte e dispersão dos
poluentes. A maioria dos modelos aceita dados meteorológicos horários (classe de
estabilidade segundo Pasquill, direção e velocidade do vento, temperatura e altura
da camada de mistura);
 Dados do receptor: coordenadas e elevação do receptor. Podem também ser
necessárias, para facilitar a análise, informações sobre densidade da população e
concentração do poluente esperada.
2.4.4 Modelo de dispersão Gaussiano ou Normal
Os modelos gaussianos explicam o comportamento da pluma em períodos de tempo
relativamente pequenos, considerando o fato de que a variação da concentração de poluentes
ao nível do solo pode ser expressa por uma curva gaussiana, na medida em que se afasta da
fonte emissora (EPA, 2005). Conforme a Figura 3, a pluma sofre uma dispersão, no sentido
do vento, nos planos horizontal e vertical tomando a forma de uma curva de Gauss, com um
máximo no centro da pluma.
Para modelagem de poluente do ar, segundo a EPA (2005) existem duas categorias de
emissões: Contínuas (estado estacionário) ou Instantâneas (transiente). Nas emissões
51
contínuas, as características da fonte não variam com o tempo, e a duração da emissão é longa
comparada com tempo de transporte. Uma emissão instantânea ocorre, quando a duração da
emissão é muito menor que o tempo de transporte.
FIGURA 3: Coordenadas da equação gaussiana para emissão tipo puff
Fonte: KAWANO (2003)
2.4.4.1 Modelo Gaussiano para emissões contínuas
Segundo Turner (1994) e Kiely (1996), algumas das suposições para a aplicação da equação
gaussiana são:
 Emissão contínua: a emissão do poluente ocorre de forma contínua e não varia com
o tempo;
 Conservação de massa: durante o transporte do poluente, a massa emitida do
poluente permanece na atmosfera, isto é, não ocorre remoção por reações químicas,
deposição por gravidade ou impactação;
 Condições estacionárias: as condições meteorológicas não mudam com o tempo de
transporte do poluente;
 Distribuição da concentração no sentido vertical e horizontal: as concentrações
médias nas direções horizontal e vertical são representadas por uma distribuição
gaussiana ou normal.
52
Para uma situação em que a emissão contínua é de uma chaminé e o ponto de medição, ou
avaliação, está à uma distância x, deslocado horizontalmente do centro da pluma a uma
distância y e a uma altura definida z, utiliza-se a equação gaussiana (2), descrita por Turner
(1994).
(
)
[
(
)
(
)
]
(2)
Onde:
C = concentração do poluente no ponto de coordenadas x, y ,z (g/m3);
Q = taxa de emissão do poluente na chaminé (g/s);
σy = coeficiente de dispersão horizontal da concentração da pluma, em função da direção do vento
e da distancia da fonte (m);
σz = coeficiente de dispersão vertical da concentração da pluma, em função da direção do vento e
da distancia da fonte (m);
v = velocidade média do vento na altura da chaminé (m/s);
x = distancia horizontal do emissor ao receptor (m);
z = altura do receptor ou ponto de medição (m);
y = distancia horizontal do ponto de medição a uma distancia “y” da linha central da pluma (m);
H = altura efetiva da chaminé.
Os modelos de dispersão gaussianos são uma importante ferramenta no que se refere à
qualidade do ar, porém, essas condições ideais raramente ocorrem na natureza. Assim, as
concentrações de poluentes previstas são apenas estimativas e não valores absolutos.
2.4.4.2 Modelo Gaussiano para emissões instantâneas (puff)
Um das características primárias de modelos de dispersão que devem ser modificados para
uso em avaliação de odor é o tempo médio de amostragem. Schauberger et al. (2001)
comentam que a sensação do odor depende da concentração instantânea do odor e não do
valor médio. Essa variação dos picos com a concentração média é um fator chave para o
processo de modelagem de odores e também para modelagem de substância que geram efeitos
em curto prazo, como poluentes tóxicos.
Os modelos para emissões contínuas consideram uma concentração média de 10 min a uma
hora. De Melo Lisboa et al. (1997) destacam que flutuações de curto período são ignoradas.
Desta forma, os modelos para emissões contínuas não são aconselhados para dispersão de
53
odores, pois muitas vezes as concentrações médias estão abaixo dos limites de percepção dos
odores.
Zannetti (1990) descreve que os modelos do tipo puff foram desenvolvidos para tratar as
emissões não estacionárias em condições não homogêneas de dispersão. Os modelos puff
possuem a vantagem adicional de serem capazes, pelo menos teoricamente, de simular
condições de calmarias ou velocidades pequenas de vento.
Segundo Kawano (2003), os modelos do tipo puff assumem que cada emissão de poluente de
duração tp introduz na atmosfera uma massa M = Qtp, onde Q é a taxa de emissão do
poluente. O centro do puff que contém uma massa M é advectada de acordo com a variação
local do vento em relação ao tempo. Se em um tempo t, o centro do puff está localizado em
p(t) = (xp, yp, zp), então a concentração devido ao puff no receptor r = (x, y, z) pode ser
calculada usando a equação (Y) do puff gaussiano. A equação (3) é descrita por Seinfeld
(1986) e utilizada no modelo tipo puff.
(
)
(
)
[
(
)
(
)
(3)
]
Onde:
ΔM = massa do poluente (g), ΔM = Q . Δtp;
σx= coeficiente de dispersão horizontal da concentração do puff, no sentido do vento e em função
da distância da fonte (m);
σy = coeficiente de dispersão horizontal da concentração do puff, em função da distancia da fonte
na direção perpendicular à do vento (m);
σz = coeficiente de dispersão vertical da concentração do puff, em função da distancia da fonte
(m).
= coeficiente de reflexão no solo, assumindo-se = 1 para uma reflexão total;
H = altura efetiva da chaminé.
2.4.5 O modelo AID
O modelo de dispersão AID - Avaliação Instantânea da Dispersão (Kawano, 2003) foi
desenvolvido considerando as equações gaussianas para emissões contínuas e instantâneas
(puff). É utilizado para simular a os cálculos de elevação da pluma consideradando as
equações de Holland e de Briggs.
54
O AID possui como principais características:

Coordenadas polares para direção do vento e posição do receptor;

Simulação instantânea das concentrações;

Modelagem para emissões contínuas e instantâneas;

Cálculo da elevação da pluma segundo as equações de Briggs e Holland;

Resultados em forma de um mapa com curvas de isoconcentrações;

Aplicação para terrenos não complexos;

Informações sobre padrões de qualidade do ar;

Informação sobre efeitos de alguns poluentes emitidos por fonte fixa.
Conforme ilustra a Figura 4, os parâmetros necessários para simulação são:
FIGURA 4: Tela de entrada do software AID
Fonte: Kawano (2003)

Tipo de poluente: MP, SO2, NO2, CO e CO2, HC ou odores;

Tipo de modelo de dispersão: contínuas ou instantâneas (puff);

Dados da fonte emissora: taxa de emissão, temperatura e altura;

Dados da área em estudo: urbana ou rural e dimensão;

Dados meteorológicos: classe de estabilidade, velocidade média do vento, altura onde
foi medida, direção média do vento, pressão atmosférica e temperatura ambiente;
55

Dados do receptor: distância, altura e posição em relação à fonte emissora;

Elevação da pluma: equações de Rolland ou Briggs.
Como resultado da modelagem é gerado um mapa com as isoconcentrações do poluente em
µg/m3.
2.5 Legislação aplicável à qualidade do ar e odores
A poluição do ar ocorre quando a alteração de composição da atmosfera resulta em danos
reais ou potenciais. Dentro desse conceito, pressupõem-se a existência de níveis de referência
para diferenciar a atmosfera poluída da não poluída. O nível de referência sob aspecto legal é
denominado Padrão de Qualidade do Ar.
2.5.1 Legislação nacional aplicável à qualidade do ar
A preocupação relativa à poluição atmosférica intensificou-se, no início da década de 70,
período de forte crescimento econômico e industrial. Problemas de grave poluição do ar nas
áreas de grandes cidades - São Paulo, Cubatão, Porto Alegre, etc. - evidenciaram a
necessidade de se adotarem políticas públicas sobre o tema.
De acordo com Santos (1996), a Portaria no 231 de 27 de abril de 1976, do Ministério do
Interior foi a primeira tentativa em nível nacional de estabelecer o controle sobre as emissões
de poluentes atmosféricos. Nessa portaria foram estabelecidos níveis de concentração
máximas permitidos para: material particulado, dióxido de enxofre, monóxido de carbono e
oxidantes fotoquímicos, com o objetivo de proteger a população e criar metas que deveriam
nortear os planos regionais de controle da poluição do ar. Padrões esses trazidos da legislação
americana, até então a mais desenvolvida em nível mundial, porém, fracamente adaptados à
realidade brasileira.
Em meados da década de 80, diante da pressão causada por denúncias de problemas
ambientais ocorridos em todo o Brasil, foram sendo criados programas para o controle da
poluição ambiental (FURLAN, 1998).
56
Com o crescimento da frota automobilística no Brasil, o Governo Federal propôs o
estabelecimento de um programa de controle de poluição veicular, através da Resolução
CONAMA no 18/86, que surge para estabelecer o Programa de Controle da Poluição do Ar
por Veículos Automotores – PROCONVE. As ações implementadas por este programa
resultaram na redução significativa de emissão dos poluentes emitidos pelos veículos
automotores (CETESB, 2013).
No ano de 1989, é instituído o PRONAR - Programa Nacional de Controle da Qualidade do
Ar, a partir da resolução CONAMA no 05. Com a instituição do PRONAR, o governo federal
visou a reduzir os efeitos ambientais negativos da poluição atmosférica em nível nacional,
principalmente nas regiões metropolitanas. A estratégia básica do programa é limitar, em
nível nacional, as emissões por tipologia de fontes e poluentes prioritários, reservando o uso
dos padrões de qualidade do ar como ação complementar de controle (BRASIL, 1989).
A Resolução do CONAMA no 05 descreve ainda que para a implementação de uma política
de não deterioração significativa (PDS) da qualidade do ar ou para atingir os objetivos acima
propostos, torna-se necessária para a fixação de padrões de qualidade do ar, nas diferentes
bacias aéreas ou áreas Classes I, II e III conforme o uso pretendido:

Áreas Classe I: áreas de preservação, lazer, turismo, tais como Parques Nacionais e
Estaduais, Reservas e Estações Ecológicas, Estâncias Hidrominerais e Hidrotermais.
Nessas áreas deverá ser mantida a qualidade do ar em nível o mais próximo possível
do verificado, sem a intervenção antropogênica;

Áreas Classe II: áreas onde o nível de deterioração da qualidade do ar seja limitado
pelo padrão secundário de qualidade;

Áreas Classe III: áreas de desenvolvimento onde o nível de deterioração da qualidade
do ar seja limitado pelo padrão primário de qualidade.
A mesma resolução prevê ainda que, enquanto não for estabelecida a classificação das áreas,
pelos órgãos ambientais estaduais, os padrões aplicáveis são os primários.
57
Por meio da Resolução CONAMA no 03, de 28 de junho de 1990, conforme descrito no item
2.1.1 deste presente trabalho, o IBAMA estabeleceu os padrões nacionais de qualidade do ar e
os respectivos métodos de referência. Além de estender o número de parâmetros
regulamentados pela Portaria Minter no 231/76 de quatro para sete (partículas totais,
partículas inaláveis, fumaça, dióxido de enxofre, monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio
e ozônio troposférico), foi introduzida na legislação a figura dos padrões secundários de
qualidade do ar, mais restritivos que os primários, constituindo-se seu atendimento em meta
de longo prazo.
Outro avanço dessa resolução foi o estabelecimento em nível nacional dos critérios para
elaboração de plano de emergência para episódios agudos de poluição do ar (Tabela 6), antes
existentes apenas no Estado de São Paulo.
TABELA 6 - Critérios para episódios agudos de poluição do ar - Resolução CONAMA no 03,
de 28/06/90
Parâmetros
Partículas totais em suspensão (µg/m3) - 24 h.
Fumaça (µg/m3) - 24 h.
Partículas Inaláveis (µg/m3) - 24 h.
Dióxido de enxofre (µg/m3) - 24 h.
Monóxido de carbono (ppm) - 8 h.
Ozônio (µg/m3) - 1 h.
Dióxido de nitrogênio (µg/m3) - 1 h.
SO2 X PTS (µg/m3) x (µg/m3) - 24 h.
Fonte: CETESB (2013)
Atenção
375
250
250
800
15
400
1.130
65.000
Níveis
Alerta
625
420
420
1.600
30
800
2.260
261.000
Emergência
875
500
500
2.100
40
1.000
3.000
393.000
Em 06 de dezembro de 1990, foi aprovada a resolução do Conama n o 08, que estabeleceu o
primeiro conjunto de limites máximos de emissão (padrões) nacionais para processos de
combustão externas em novas fontes fixas.
Infelizmente, as metas estabelecidas na resolução Conama no 05, de 15 de junho de 1989, na
sua grande maioria, não foram atingidas.
Já a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, chamada de "Lei de Crimes Ambientais", com a
qual se espera maior agilidade na punição aos infratores do meio ambiente, deu novo impulso
ao Programa. A Seção III, do capítulo do referido instrumento legal, que versa sobre os
crimes contra o meio ambiente, tipifica os crimes relativos à poluição e outros crimes
58
ambientais. Outro avanço no âmbito de tal lei é a definição da responsabilidade da pessoa
jurídica – inclusive a responsabilidade penal – e permite a responsabilização também da
pessoa física, autora ou coautora da infração.
2.5.2 A legislação de odores no Brasil
Segundo De Melo Lisboa et al. (2002):
Entre todos os tipos de poluição ambiental, os maus odores estão entre os mais
difíceis de regular. Um cheiro desagradável é considerado como algo subjetivo,
portanto, legalmente indefinível. Com base neste princípio, as autoridades ficam
impedidas de autuar, a não ser que os maus odores causem, simultaneamente, outro
tipo de poluição reconhecida por lei. Por isso são poucos os países onde há
legislação para esta forma de poluição.
A poluição causada por maus odores ainda é desconhecida no Brasil, apesar da preocupação
crescente com as várias fontes de poluição ambiental. Muitos países, como Estados Unidos,
Holanda, Reino Unido, Áustria, Alemanha, França, Dinamarca e Nova Zelândia elaboraram
normas definindo metodologias que permitam quantificar objetivamente a emissão de odores,
e relacionar estas emissões com o nível de mal estar que causam às populações (DE MELO
LISBOA et al., 2002).
A legislação federal brasileira não trata diretamente do impacto do odor, devido à dificuldade
relacionada à subjetividade associada à avaliação dos odores.
A Lei no 6938/81 da Politica Nacional do Meio Ambiente, em seu artigo terceiro, cita as
atividades que afetam o bem-estar da população, o que pode, indiretamente, incluir o
incômodo causado pelos odores.
A Resolução CONAMA no 382, de 26 de dezembro de 2006, faz referência a odores, quando
se trata dos limites de emissão para poluentes atmosféricos provenientes de processos de
fabricação de celulose.
Alguns estados têm legislações específicas e estabelecem padrões para poluição atmosférica
por compostos odorantes emanados por algumas atividades industriais e de serviços, como:
59
SÃO PAULO: O Decreto no 8468/76, de 08 de setembro de 1976, regulamenta a Lei no
997/76, que dispõe sobre a prevenção e controle do meio ambiente. Com relação ao odor, os
artigos 33 e 38 são os mais explícitos:
§33° fica proibida a emissão de substâncias odoríferas na atmosfera, em quantidades
que possam ser perceptíveis fora dos limites da área de propriedade da fonte
emissora.
Parágrafo único – A constatação da percepção de que trata este artigo será efetuada
por técnicos credenciados da CETESB.
§38° As substâncias odoríferas resultantes das fontes a seguir enumeradas deverão
ser incineradas em pós-queimadores, operando a uma temperatura mínima de 750 oC,
em tempo de residência mínima de 0,5 segundos, ou por outro sistema de controle
de poluentes, de eficiência igual ou superior:
I - torrefação e resfriamento de café, amendoim, castanha de caju e cevada;
II - autoclaves e digestores utilizados em aproveitamento de matéria animal;
III - estufas de secagem ou cura para peças pintadas, envernizadas ou litografadas;
IV - oxidação de asfalto;
V - defumação de carnes ou similares;
VI - fontes de sulfeto de hidrogênio e mercaptanas;
VII - regeneração de borracha.
Além disso, o Decreto no 47.397/02 acrescentou: “A renovação da licença ambiental é
obrigatória para todos os estabelecimentos que emitem odores”. Isso não era necessário pelo
Decreto nº 8.468/76.
SANTA CATARINA: a Lei no 5793, de 15 de outubro de 1980, referente à proteção e
melhoria da qualidade ambiental proíbe a emissão de substâncias odoríferas na atmosfera em
quantidades que possam ser perceptíveis fora dos limites da área de propriedade da fonte
emissora. Essa lei apresenta vários compostos odorantes e seus limites de percepção de odor.
Já o Decreto no 14.250, de 05 de junho de 1981, dispõe sobre leis para controle de odor
citadas nos artigos abaixo:
§ 31° É proibida a emissão de substâncias odoríferas na atmosfera em quantidades
que possam ser perceptíveis fora dos limites da área de propriedade da fonte
emissora.
Paragrafo 1o - A constatação de emissão de que trata este artigo será efetuada:
II - com referência as substâncias a seguir enumeradas, através de sua concentração
no ar em comparação com o Limite de Percepção de Odor (LPO).
DISTRITO FEDERAL: A Lei no 5631, de 27 de novembro de 1980, regulamenta a
construção e o funcionamento de Estações de Tratamento de Esgotos (ETE).
60
PARANÁ: O Decreto no 54/2006, de 8 de setembro de 2006 da Secretaria de Meio Ambiente
e Recursos Hídricos – SEMA, impõe que:
§ 12° As atividades geradoras de substâncias odoríferas, com taxa de emissão acima
de 5.000.000 OU/h, deverão promover a instalação de equipamento, previamente
analisado pelo Instituto Ambiental do Paraná, visando à captação e remoção do
odor. O tipo de equipamento dependerá das condições locais de dispersão, da
proximidade de áreas habitadas e da quantidade de substâncias odoríferas emitidas,
que deverá ser quantificada por olfatometria e expressa em Unidades de Odor
lançadas na atmosfera por hora. A eficiência do equipamento de remoção de odor,
determinada por olfatometria, deve ser de, no mínimo, 85%.
Fica evidente aqui a necessidade de se criarem leis mais consistentes no tocante à relação
entre poluição atmosférica e odores, visto que existem leis somente para casos específicos.
2.5.3 O Sulfeto de Hidrogênio e a legislação
O Ministério do Trabalho e Emprego Brasileiro (MTE), por meio de sua norma
regulamentadora número 15 (NR 15), estabelece limites máximos de exposição para agentes
químicos. Para o caso do gás sulfeto de hidrogênio, o MTE estabelece o limite de 8 ppm para
exposição máxima de trabalhadores cuja carga horária semanal não ultrapasse 48 horas,
salientando que o H2S possui grau de insalubridade máxima.
Já para a fase líquida, a Resolução CONAMA 357/06 apresenta padrões para o lançamento de
efluentes nos corpos de água, estabelecendo limites para compostos orgânicos e inorgânicos.
Esta resolução estabelece para sulfeto de hidrogênio o padrão de 1,0 µg/L.
Nos Estados Unidos cada estado tem autonomia para legislar, aparecendo com isso várias
legislações próprias de cada um. Na Tabela 7 são mostrados os valores limites de
concentração media para diferentes tipos de medida de sulfeto de hidrogênio em alguns destes
estados. Podem-se constatar diferenças consideráveis entre os estados e até entre cidades.
61
TABELA 7: Valores limite para compostos de enxofre em alguns estados americanos
Estado
Califórnia
Composto
H2S
Idaho
H2S
Minnesota
H2S
Estado de Nova York
Cidade de Nova York
Dakota do Norte
H2S
H2S
H2S
Pensilvânia
H2S
Texas
H2S
Padrão de odor no ambiente (ppb)
30 ppb – média 1 h
10 ppb – média 24 h
30 ppb – média 30 min.
30 ppb – média 30 min.1
50 ppb – média 30 min. 2
10 ppb – média 1 h
1 ppb
50 ppb – medidas instantâneas – intervalo de 0-15h
100 ppb – média 1h
5 ppb – média 24h
80 ppb – média 30 min. (áreas residencial/comercial)
120 ppb – média 30 min. (área industrial)
1 - Não pode ser excedido por mais de dois dias no período de cinco dias.
2 - Não pode ser excedido de duas vezes em um ano.
Fonte: MAHIN (2004)
2.6 Desenvolvimento sustentável, indústria e ecoeficiência
A sustentabilidade combina a ciência ambiental junto com as ciências econômica e social,
buscando desenvolver estudos e ferramentas que propiciem o entendimento da dinâmica e
interação entre essas três dimensões. O Quadro 4 contempla o desenvolvimento sustentável
para cada uma dessas três dimensões (social, econômica e ambiental).
QUADRO 4: As três dimensões do desenvolvimento sustentável
Dimensão
Componentes
uma repartição mais justa das riquezas
produzidas, universalização do acesso à
Sustentabilidade Social educação e à saúde, equidade entre sexo,
grupos étnicos, sociais e religiosos, entre
outros aspectos;
aumento da eficiência no uso da energia e
recursos naturais, mudança no padrão de
Sustentabilidade
consumo para obter menos desperdício e
Econômica
maior consciência dos impactos causados
pelo uso destes recursos;
utilização equilibrada dos recursos naturais,
Sustentabilidade
considerando sua capacidade de renovação,
Ambiental
de forma a garantir seu uso pelas futuras
gerações.
Fonte: Elaborado pelo autor
Objetivos
Redução das desigualdades sociais
Aumento da produção e da riqueza
social, sem dependência externa
Melhoria da qualidade do meio
ambiente e preservação das fontes de
recursos energéticos e naturais para as
próximas gerações
Na busca por esse desenvolvimento, as empresas têm dado ênfase à utilização de tecnologias
limpas, gerenciamento integrado de resíduos, relações institucionais, cultura organizacional,
62
gestão ambiental e ISO 14.000, provocando mudanças de paradigmas, de valores e orientação
em seus sistemas operacionais e gerenciais (SCHENINI, 1999).
Ainda de acordo com Schenini (1999, p.58):
[...] A questão ambiental vem-se tornando um dos diferenciais competitivos mais
importantes para as empresas. Essa é uma das justificativas para o fato de que as
principais empresas do mundo estarem tentando assimilar o conceito de
Desenvolvimento Sustentável. Para isso, tem-se tomado medidas para criar uma
nova mentalidade empresarial no que diz respeito à preservação do meio ambiente e
também admitir que a adoção de tecnologias ou produtos de menor impacto
ambiental deve ser encarada como uma necessidade de sobrevivência.
Na atualidade, a concorrência torna muito mais difícil manter posições de vantagem, uma vez
que as empresas se imitam mutuamente a uma velocidade cada vez maior. Para as empresas,
restam apenas duas formas para obter vantagens dentro de um setor que são diferenciar seus
produtos e/ou ter custos mais baixos (PORTER, 1991).
Para alcançar essa diferenciação, a empresa tem que partir de um diagnóstico de impacto
ambiental adequado à realidade, e para isso é necessário que se adote uma abordagem
holística que contemple todas as suas atividades (SCHENINI, 1999).
Assim, as empresas buscam uma união entre o fornecimento de bens e serviços sustentáveis a
preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e promovam a redução dos
impactos ambientais e de consumo de recursos naturais, tornando-se ecoeficientes.
2.6.1 Ecoeficiência
Para a UNEP-DTIE (2001), ecoeficiência é a produção e entrega de bens e serviços a preços
competitivos, que satisfaçam as necessidades humanas, promovendo qualidade de vida,
enquanto, progressivamente, são reduzidos os impactos ambientais e a intensidade do
consumo de recursos naturais em todo o ciclo de vida, em consonância com a capacidade
estimada da terra em prover estes recursos e absorver os impactos.
Piotto (2003) diz que a ecoeficiência:
63
[...] pode servir de base para as empresas desenvolverem e implementarem
estratégias voltadas à sustentabilidade. Essas estratégias terão o foco em inovações
tecnológicas e sociais, na transparência, na contabilização ambiental e na
cooperação com os demais segmentos da sociedade.
[...] é um conceito de negócios, que pode ser aplicado amplamente nas empresas,
desde o desenvolvimento de produtos e serviços até a sua distribuição. A ecoeficiência envolve três objetivos principais: (a) redução do consumo de recursos
naturais, incluindo-se a redução do uso de energia, insumos, água e solo por meio do
aumento da reciclabilidade e durabilidade dos produtos e da otimização dos
processos produtivos (reuso); (b) redução dos impactos ao meio ambiente por
intermédio da minimização das emissões; redução do uso de produtos perigosos e
uso sustentável de recursos renováveis; (c) valorização de produtos ou serviços
perante aos consumidores por meio do aumento da sua funcionalidade e
flexibilidade, de modo a atender às suas expectativas, permitindo, assim, que o
mesmo serviço ou produto possa ser entregue utilizando-se menos recursos naturais.
Dentre as diversas ferramentas da ecoeficiência, cabe aqui abordar:
 Sistemas de Gestão Ambiental (SGA);
 Análise de Ciclo de Vida (ACV);
 Produção Mais Limpa (P+L) ou Prevenção à Poluição (P2).
2.6.1.1 Sistemas de Gestão Ambiental (SGA)
Um sistema de gestão ambiental é uma estrutura organizacional que inclui responsabilidades,
práticas, procedimentos, processos e recursos necessários para gerir os aspectos ambientais
relacionados ao negócio, garantindo, ao mesmo tempo, conformidade com suas políticas e
com as expectativas das partes interessadas (FIVE WINDS, 2000).
De acordo com Campos e Melo (2008), os principais modelos de Sistemas de Gestão
Ambiental são:
 Responsible Care: Programa desenvolvido pela Canadian Chemical Producers
Association – CCPA, surgido no Canadá em 1984 e implantado em diversos países
a partir de 1985; encontra-se atualmente em mais de 40 países com indústrias
químicas.
64
 BS 7750: Norma Britânica que se iniciou em 1991, e teve sua primeira publicação
em junho do mesmo ano com a formação de um comitê técnico no British
Standards Institution (BSI).
 EMAS – Eco-Management and Audit Scheme: Sistema Europeu de Eco-Gestão e
Auditorias. Foi adotado pelo Conselho da UE em junho de 1993, e é aberto à
participação voluntária das empresas desde abril de 1995.
 NBR ISO 14001: norma do conjunto ISO 14000 que especifica os requisitos de
sistema de gestão ambiental, tendo sido redigida de forma a aplicar-se a todos os
tipos e portes de organizações, não estabelecendo requisitos absolutos para
desempenho ambiental.
A série de normas ISO 14.000 abrange seis áreas bem definidas: Sistemas de Gestão
Ambiental; Auditorias ambientais; Avaliação de desempenho ambiental; Rotulagem
ambiental; Aspectos ambientais nas normas e produtos e Análise de ciclo de vida do produto,
conforme indicadas no Quadro 5 abaixo:
QUADRO 5: Normas da série ISO e sua abrangência
Normas
ISO 14001 e 14004
ISO 14015
ISO 14020, 14021, 14024 e TR 14025
ISO 14031 e 14032
ISO 14040, 14041, 14042, 14043, TR
14047, TR 14048 e TR 14049
ISO 14050
ISO TR 14061
ISO TR 14062
ISO 19011
ISO Guide 64
ISO Guide 66
Abrangência
Refere-se à gestão ambiental
Refere-se à avaliação de organizações e empresas.
Refere-se à certificação de produtos (selos verdes).
Refere-se à avaliação de desempenho ambiental (indicadores)
Refere-se à avaliação do ciclo de vida dos produtos (onde TR
significa relatório técnico).
Refere-se ao glossário de termos e definições.
Refere-se às informações para auxiliar o uso das normas em
corporações florestais.
Refere-se à gestão ambiental para integrar aspectos ambientais do
projeto e desenvolvimento de produtos.
Refere-se às instruções para auditoria (substitui as normas 14010,
14011 e 14012).
Refere-se a instruções para inclusão dos aspectos ambientais de
produtos.
Refere-se às instruções gerais para registro e avaliação de
organismos certificadores.
Fonte: ISO (2002)
2.6.1.2 Análise do Ciclo de Vida (ACV)
65
A Análise do Ciclo de Vida (ACV) pode ser entendida como um processo que se estende
desde a extração da matéria-prima, o seu processamento, a manufatura, o transporte e a
distribuição, o uso e destinação final do produto (RIBEIRO; GIANNETI; ALMEIDA, 2013).
Piotto (2003) cita que esse conceito de ciclo de vida (Figura 5) é baseado na abordagem do
“berço ao túmulo”, na qual cada etapa do ciclo de vida de um produto (extração e
processamento de matérias-primas; fabricação, transporte, distribuição, reutilização ou
reciclo, tratamento e disposição dos resíduos) apresenta impactos econômicos e ambientais
associados.
Considerando-se que, nos dias de hoje, o desenvolvimento sustentável está presente nas
agendas políticas e econômicas, a análise de ciclo de vida desponta nesse cenário como uma
das mais importantes ferramentas para o desenvolvimento de novos produtos e na gestão
corporativa estratégica.
FIGURA 5: Ciclo de vida de um produto
Fonte: adaptado de EEA (2001a)
2.6.1.3 Produção Mais Limpa (P+L)
A Produção Mais Limpa, segundo a UNEP (2001), consiste na aplicação contínua de
estratégias econômicas, tecnológicas e ambientais integradas aos processos e produtos, que
evitam a geração, minimizam ou reciclam emissões, efluentes e resíduos gerados pelos
processos produtivos, com a finalidade de aumentar a eficiência na utilização das matérias66
primas, água e energia e de reduzir os riscos para as pessoas e para o meio ambiente (Figura
6).
A P+L trabalha na melhoria contínua nas operações da empresa, qualquer que seja sua área
(manufatura, comércio ou de serviços), solucionando os problemas de ordem técnica e
ambiental, demandando baixo investimento e reduzindo custos para a empresa.
Para a P+L, todas emissões, efluentes e resíduos devem ser considerados produtos de valor
econômico negativo, portanto, a produtividade e os benefícios financeiros da empresa podem
ser alavancados pela redução do consumo de matéria-prima, água e energia ou pela redução
ou prevenção da geração de emissões, efluentes e resíduos (UNEP, 2001).
FIGURA 6: Visão geral da P+L
Fonte: adaptado de EEA (2001b)
De acordo com Silva (2002), a P+L toma um foco mais preventivo de gerenciamento
ambiental, tentando estabelecer uma mudança na visão dos industriais e do governo,
mostrando assim que é possível produzir, causando o mínimo de impacto ambiental.
Segundo Calia (2007), um aspecto fundamental do conceito de P+L é o de que ela representa
uma estratégia “ganha-ganha”, ou seja, é favorável tanto para o desempenho ambiental,
quanto para o desempenho econômico da empresa. As perdas no processo produtivo são
67
consideradas como evidência de um desempenho econômico negativo, enquanto os esforços
para a redução do consumo de matéria-prima e de energia, assim como para a redução ou
prevenção da geração de perdas resultam no aumento da produtividade, o que beneficia a
empresa financeiramente.
2.7 Poluição atmosférica e Qualidade de Vida
A convivência dos seres vivos, em especial a do homem, com a poluição do ar, tem trazido
consequências sérias para a saúde. Os efeitos dessa exposição têm sido marcantes e plurais
quanto à abrangência.
2.7.1 Qualidade de Vida
De acordo com o The WHOQOL Group (1995), qualidade de vida é a percepção do indivíduo
de sua posição na vida, como também do contexto da cultura e do sistema de valores nos
quais ele vive e ainda, em relação a seus objetivos, preocupações, padrões e expectativas.
O termo Qualidade de Vida (QV) é complexo, dada à subjetividade que representa para cada
pessoa ou grupo social, podendo representar felicidade, harmonia, saúde, prosperidade, morar
bem, ganhar salário digno, ter amor e família, poder conciliar lazer e trabalho, ter liberdade de
expressão, ter segurança (QUEIROZ; SÁ; ASSIS, 2004).
QV abrange ainda muitos significados, que refletem conhecimentos, experiências e valores de
indivíduos e coletividades que a ele se reportam em variadas épocas, espaços e histórias
diferentes (MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000). No seu aspecto individual, refere-se ao que
proporciona bem-estar, satisfação e conforto ao indivíduo. No seu aspecto coletivo, é o que
deve ser garantido a todos pelos bens e serviços sociais e econômicos, pelo acesso a serviços
de saúde, condições de moradia, transporte – bens da coletividade.
Nesta perspectiva, o termo QV tem sido muito utilizado nas últimas décadas devido à
crescente preocupação individual e coletiva com a saúde e o bem estar da população
(GORDIA; SILVA; CAMPOS, 2010).
68
2.7.1.1 Indicadores de Qualidade de Vida
A abrangência do termo Qualidade de Vida é grande e não há como precisá-la, embora se
saiba que os estudos envolvendo QV são decisivos para o planejamento de ações a ela
relativo, para a criação de instrumentos que aperfeiçoem o trabalho nessa área e que
determinem intervenção, quando necessária.
Aguiar, Vieira e Carvalho (2008) citam que é difícil juntar todas as dimensões possíveis ao
medir a qualidade de vida de um indivíduo, pois cada sujeito pontua de maneira diferente
essas dimensões, reafirmando a singularidade do ser humano.
O Quadro 6 permite observar alguns dos modelos, os quais estabelecem indicadores que
possibilitam a determinação da medida de QV.
QUADRO 6: Modelos de QV e seus indicadores
Modelo / Autor / Ano
Indicadores Determinantes
Indicador de Felicidade
Interna Bruta – FIB (1972)
Bom padrão de vida econômica; Boa governança; Educação de qualidade;
Saúde; Vitalidade comunitária; Proteção ambiental; Acesso à cultura;
Gerenciamento equilibrado do tempo; Bem estar psicológico.
Índice de Desenvolvimento
Humano – IDH (1990)
Indicadores de Qualidade
de Vida – OMS (1992)
Indicadores de Qualidade de
Vida Calvert –Henderson
(2000)
Fonte: Elaborado pelo autor
Renda; Longevidade; Educação.
Domínio físico; Domínio psicológico; Nível de independência;
Relações sociais; Ambiente; Aspectos espirituais/religião/crenças pessoais.
Educação; Emprego; Energia; Meio-ambiente; Saúde; Direitos humanos;
Renda: Infraestrutura; Segurança nacional; Segurança pública; Lazer;
Habitação.
2.7.1.2 Instrumentos de Qualidade de Vida
A literatura apresenta diferentes instrumentos de mensuração da QV. Um aspecto importante
dessas ferramentas é a capacidade de representar sob a forma numérica (avaliação
quantitativa), as diferenças entre indivíduos ou grupos (TESCH; OLIVEIRA; LEÃO, 2007).
69
Só se melhora o que se pode medir. Portanto, deve-se avaliar de forma objetiva o bem-estar
do indivíduo, pelo uso de instrumentos diversos, inclusive alguns que permeiem a
subjetividade das informações que detectam os fatores que intervêm na Qualidade de Vida.
De acordo com Oliveira e Orsini (2008), podem-se usar instrumentos genéricos e específicos.
Os genéricos aplicam-se a toda a população e a um mesmo problema que atinge essa
população. O específico analisa o problema, a evolução do problema e detectam a necessidade
de uma intervenção.
Os instrumentos utilizados devem oferecer confiabilidade e validade. A validade garante que
se mediu exatamente aquilo que se propôs medir. A confiabilidade é obtida pela aplicação
repetida de um instrumento a uma situação ou a um mesmo sujeito com obtenção de
resultados iguais, o que revela que são confiáveis (SCHMIDT; DANTAS; MARZIALE,
2008).
2.7.2 Poluentes e seus efeitos na saúde
Percebe-se que o domínio Saúde está presente nos mais diversos instrumentos utilizados para
se medir a QV, tornando-se uma dimensão extremamente necessária a ser mensurada.
De acordo com o INEA (2008), a poluição atmosférica nos centros urbanos tem sido
identificada como um grave problema de saúde pública. As principais fontes de emissão de
poluentes associadas à contaminação do ar urbano são as indústrias e os veículos automotores.
O desenvolvimento urbano-industrial, observado nos últimos anos, não foi acompanhado de
uma gestão eficiente da qualidade do ar, colocando em risco a qualidade de vida da
população.
As doenças do aparelho circulatório, respiratório e neoplasias compõem as principais causas
de morte no ambiente urbano, e estão associadas, de acordo com estudos realizados por
Dockery (1996), Martins et al. (2002) e Pereira (2009), à exposição a variados tipos de
poluentes atmosféricos, cuja toxicidade é de difícil detecção, devido a serem compostos de
minúsculas partículas e poderem penetrar no organismo humano de diversas maneiras.
70
No Quadro 7 são mostrados os principais poluentes atmosféricos, suas principais fontes e
efeitos gerais sobre a saúde.
Segundo Correia (2001), a dificuldade enfrentada para a determinação dos efeitos da poluição
atmosférica na saúde resulta do fato de existirem covariáveis de difícil controle. Dentre elas,
destacam-se o fumo, os ambientes de trabalho e a diversidade populacional.
A toxicidade das partículas é determinada pelos compostos nela presentes. As partículas
também podem ser aprisionadas dentro dos pulmões, onde se inicia a transferência de
espécies tóxicas das partículas para todo nosso organismo, através da circulação sanguínea
(DOCKERY, 1996).
QUADRO 7: Poluentes, fontes e efeitos sobre a saúde
Poluente Atmosférico
MP (PM10 e PM2,5)
SO2
CO
(combustão incompleta)
Fonte de Poluição
Veículos movidos a diesel,
industriais, desgaste de pneus e
freios dos veículos em geral da
suspensão de poeiras assentadas.
Indústrias e veículos com
combustíveis derivados do petróleo
Veículos, fornos e caldeiras mal
operadas
NOx
Processo de combustão geral:
veículos.
HC
Queima incompleta e evaporação
dos combustíveis (álcool, gasolina
e diesel) e outros produtos voláteis.
O3
Decorre da ação da luz solar sobre
os hidrocarbonetos e óxidos de
nitrogênio, resultantes do processo
de queima de combustíveis
principalmente por veículos.
Efeitos Gerais na Saúde
Agrava quadros alérgicos de asma
e bronquite. As partículas mais
grossas ficam retidas no nariz e na
garganta, causando irritação e
infecções gripais; as mais finas
chegam aos pulmões, agravando
casos de doenças respiratórias ou
cardíacas. Pode causar câncer.
Provoca coriza, catarro e danos
irreversíveis aos pulmões. Em altas
concentrações pode matar.
Também afeta plantas e espécies
mais sensíveis e contribui para a
destruição, por corrosão, do
patrimônio histórico.
Liga-se à hemoglobina, substância
do sangue que leva o oxigênio às
células, diminuindo a oxigenação.
Em altas concentrações, em
ambiente fechado, pode matar.
Pode provocar desconforto
respiratório, diminuição da
resistência a infecções e alterações
celulares.
São responsáveis pelo aumento da
incidência de câncer no pulmão,
irritação nos olhos, nariz, pele e
aparelho respiratório
Causa envelhecimento precoce e
diminui a resistência às infecções.
Pode gerar ainda irritação nos
olhos, nariz e garganta, e muito
desconforto.
Fonte: Elaborado pelo autor
71
2.7.3 Odores versus Saúde
Os sintomas mais frequentemente atribuídos aos odores incluem: irritação da garganta, olhos
e nariz; dor de cabeça, náuseas, diarreia, rouquidão, inflamação na garganta, tosse, dores no
peito, congestão nasal, palpitação, estresse, sonolência e alteração do humor.
Schiffman, Bennett e Raymer (2001) citam que os sintomas aparecem logo nos primeiros
contatos com os odores e diminuem (ou desaparecem) depois de cessada a exposição. Porém,
indivíduos mais passíveis tendem a permanecer com os sintomas ainda por um longo período
além de muitas vezes ter seu quadro clínico agravado por essa exposição, como os asmáticos
ou alérgicos. Para um grande número de moléculas odorantes, a irritação só é gerada a
concentrações de 3 a 10 vezes superior à concentração necessária à detecção deste odor.
Compostos sulfurados ou ainda aminados podem gerar sintomas pela simples percepção,
mesmo que estejam bem abaixo dos limites de toxicidade. Muitas vezes, o limite de
percepção não é excedido por um único componente da mistura odorante, mas por grande
parte ou ainda todos deles (SCHIFFMAN; BENNETT; RAYMER, 2001).
2.7.4 Toxidez do sulfeto de hidrogênio
O sulfeto de hidrogênio é responsável por fortes odores e sérios problemas à saúde e
materiais. Consequentemente, sua eliminação é uma questão ambiental relevante, para a qual
atualmente não existe uma solução ótima (PORTELA et al., 2007).
O grau de intoxicação depende da concentração no ar, da duração, frequência de exposição e a
susceptibilidade individual Na Tabela 8 são mostrados os efeitos na saúde humana a várias
concentrações de sulfeto de hidrogênio.
Segundo Mainier e Rocha (2003), quando se respira, o H2S penetra pelos pulmões e alcança a
corrente sanguínea. Rapidamente o sistema de proteção oxida o H2S, transformando-o em um
produto praticamente inócuo na corrente sanguínea.
72
Mas também pode reagir com enzimas essenciais que contêm elementos metálicos, como o
cobre, o zinco e o ferro formando sulfetos metálicos, e, consequentemente, acarretando a
perda de sensibilidades importantes na vida do homem. Entretanto, à medida que a
concentração de H2S aumenta rapidamente, o organismo não consegue oxidá-lo totalmente, e
então, o excesso de H2S age no centro nervoso do cérebro que comanda a respiração,
resultando na paralisação do sistema respiratório. Os pulmões paralisam, a pessoa se asfixia e
acaba falecendo.
TABELA 8: Efeitos na saúde associado à presença de gás sulfídrico no ar.
Concentração
Tempo de
de H2S (ppm)
exposição
0,05 – 5
1 min.
10 – 30
6 – 8h.
50 – 100
30 min. – 1h.
150 – 200
2 – 15 min.
250 – 350
2 – 15 min.
350 – 450
2 – 15 min.
500 – 600
2 – 15 min.
700 – 1500
0 – 2 min.
Fonte: MAINIER; SANDRES; MAIOR TAVARES (2007)
Efeitos nos seres humanos
Detecção do odor
Irritação nos olhos
Conjuntivite, dificuldades respiratórias
Perda de olfato
Irritação dos olhos
Inconsciência, convulsão
Distúrbios respiratórios e circulatórios
Colapso, morte
A literatura não é clara sobre os efeitos da exposição controlada de baixas concentrações de
sulfeto de hidrogênio, se é cumulativa ou não, e, se os efeitos são completamente reversíveis
(MAINIER e ROCHA, 2003).
Nesse contexto de emissões poluentes, dispersão atmosférica e percepção das pessoas em
relação ao odor, foi feito um estudo dos impactos gerados pelos gases emitidos pela indústria
química em questão.
73
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1 Caracterização da área de estudo
O presente estudo foi realizado na cidade de Mococa, que está situada a nordeste do estado de
São Paulo, possui 854,07 km2 de área territorial (SEADE, 2013), 21º 27' 54" de latitude Sul,
47º 00' 21" de longitude Oeste e a uma altitude de 640m (Figura 7).
Mococa
FIGURA 7: Localização do Município de Mococa, Estado de São Paulo.
Fonte: Wikipedia (2013)
O município possui uma população de 66.290 habitantes, com uma densidade demográfica de
77,70 hab/km2 (IBGE, 2010), relevo pouco acidentado, com colinas e maciços de forma
tabular e ladeiras suavemente inclinadas. Seu clima é temperado tropical com invernos
secos (Aw na classificação de Köppen), com temperatura média anual de 23,1°C.
A Indústria em foco é caracterizada como uma indústria química que transforma parte do
couro de boi, que não é aproveitado pelos curtumes em gelatina e colágeno hidrolisado.
Possui uma área total de 69.270 m2 com 12.000 m2 de área construída (Figura 8).
74
FIGURA 8: Vista aérea da Indústria Química
Fonte: Indústria Química
FIGURA 9: Mapa com vista total da cidade de Mococa (SP)
Fonte: Google Maps (2013)
Sua localização é ao norte do município (Figura 9), no Distrito Industrial II, fazendo divisa
com o Jardim São Domingos, situado a sudoeste da empresa (Figura 10).
75
FIGURA 10: Mapa de localização da Indústria Química.
Fonte: Google Earth (2013)
3.2 Instrumentos e procedimentos para coleta de dados
Através da aplicação de questionário foi avaliado o impacto dos gases odorantes no entorno
do bairro, após essa aplicação, foi medida concentração dos gases na indústria e, por fim, foi
realizado um levantamento das atividades realizadas na indústria visando a prevenção das
emissões odorantes.
3.2.1 Avaliação do impacto odorante via questionário
O uso de questionários para entrevistas consiste num excelente procedimento na avaliação da
percepção ambiental dos odores, especialmente em regiões urbanas.
Foi investigada a percepção do odor pela população circunvizinha à fonte odorante, através da
utilização de dois questionários:

Questionário 1 – Sócio Demográfico (Apêndice A), com o objetivo de propiciar
determinado conhecimento ao pesquisador a respeito da amostra. Este possuía uma
pergunta disparadora para o 2º Questionário;

Questionário 2 – Investigação dos Incômodos Causados pelos Maus Odores – UFSC /
ENS / LCQar – Validado (Anexo A). As perguntas constantes nesse questionário
aplicado têm como princípios: avaliar a compreensão do vínculo entre os odores e a
76
poluição atmosférica; verificar a adaptação aos odores; identificar as condições do
clima (temperatura, direção do vento, período do dia e do ano) para a análise das
possíveis associações com os odores; identificar a principal origem dos odores;
relacionar alguns sintomas de doenças aos odores (DE MELO LISBOA, 2010).
De acordo com De Melo Lisboa (2010), a aplicação do Questionário 2 através de enquete
junto à vizinhança, segue as instruções da VDI 3883 - Parte 2 (1993), que descreve em
detalhes como se faz uma investigação de incômodo olfativo em áreas atingidas por odores. É
de caráter eventual e foi adaptado da Comission International du Génie Rural (CIGR, 1994) e
outro proposto por Cudmore e Dons (2000).
Esse questionário é do tipo fechado, com as questões com várias respostas prontas, o que
permitiu ao entrevistado responder qual era aquela que correspondia a sua vivência em
relação aos odores percebidos.
A aplicação do questionário foi feita de forma estruturada, e o entrevistado respondeu
verbalmente às perguntas do entrevistador, que as transcreveu para uma ficha.
Na determinação do número total de questionários aplicados, primeiramente, definiu-se como
área de aplicação o Bairro Jardim São Domingos, circunvizinho à Indústria, delimitando a
área para um raio de 1 km no entorno na Indústria.
Foi utilizada a equação (4) (BARBETTA, 2001), admitindo um erro máximo tolerável de
6,25%, que é o menor erro possível admitido para controle estatístico, devido à quantidade de
alternativas disponíveis nas questões analisadas. Como o bairro possui 1.456 domicílios
(SEADE, 2013), chegou-se a uma amostra mínima de 211 questionários a serem aplicados,
sendo aplicado somente um para cada domicílio.
e
(4)
Onde:
N = tamanho da população
n = tamanho da amostra
Eo = erro amostral tolerável
77
De modo a assegurar uma boa representatividade de residências, o bairro foi dividido em uma
malha de 16 pontos (Figura 11). Como cada ponto da malha possuía uma área de 200 x 200m,
sendo ocupada por aproximadamente 90 residências, procurou-se aplicar um questionário a
cada seis residências, totalizando 15 questionários em cada ponto, chegando a um total de
240. Ocorreu que, nos pontos 1 e 5 não existiam 15 residências, diminuindo a amostra para
215.
RU
A
47º00'37,5" W.Gr.
TU
-21º26'52,5"
-21º26'52,5"
FI
292000
291800
47º00'37,5"
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BAIRRO SÃO DOMINGOS
DIA
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PA
ION
E
RU
DE
HO
FIL
O
AD
PR
7626000
CO
ST
A
BAIRRO SANTA CECILIA
SUBSOLO
FIGURA 11: Malha de aplicação dos questionários destacando o Jd.
São Domingos e a Indústria Química
Os questionários foram aplicados em quatro etapas, nos dias 13, 16, 18 e 20 de setembro de
2013.
No questionário, o grau de incômodo provocado pelos odores – hedonicidade – foi expresso
através de um índice de desconforto olfativo, que vai de zero para a situação em que as
pessoas se declaram não incomodadas com os odores até -100 para aquela situação em que os
participantes ficam extremamente incomodados.
78
Para isso se ponderaram os índices da seguinte forma: (0) para entrevistados que “não se
incomodam” com os odores, (-25) para o item “incomodam-se pouco”, (-50) para
“incomodam-se”, (-75) para as pessoas que se apontam “muito incomodadas” e (-100) para
aquelas “extremamente incomodadas”. Esta questão valoriza a resposta da população mais
incomodada, dando-lhe peso mais elevado.
Já a intensidade média do odor pôde ser calculada através de uma média ponderada em que
cada nível de intensidade tem um peso. Desta forma, a intensidade média do odor varia numa
escala de 0 (Muito Fraco) a 100 (Muito forte). Para os entrevistados que não sentem nenhum
tipo de odor suas repostas tiveram peso 0, assim como os que sentem odores de intensidade
muito fraca. Esta escala valorizou a reposta do entrevistado que sente odores mais intensos
(mais afetados), prevalecendo sobre os que não sentem ou julgam o odor muito fraco.
Para o cálculo da intensidade média do odor percebida, foram atribuídos índices (pesos) da
seguinte forma: 0 para os 2 entrevistados que sentem odores “muito fracos”, 25 para os 8 que
indicaram o item “fraco”, 50 para os 53 que indicaram o item “médio”, 75 para os 33 que
indicaram o item “forte” e 100 para os 10 indivíduos que indicaram o item “muito forte”.
Utilizando as respostas afirmativas em relação à percepção do odor, foi gerado um mapa
sobre a malha da Figura 11, identificando as porcentagens de indivíduos que relataram essa
percepção. Para tanto foi utilizado o programa computacional SURFER 8.0.
Segundo UNESP (2002), o SURFER é um software gráfico utilizado para o cálculo e a
confecção de mapas de variáveis a partir de dados regularmente distribuídos. Ele faz uso da
geoestatística para calcular estimativas dentro de um contexto regido por um fenômeno
natural com distribuição no espaço e, desse modo, supõe que os valores das variáveis,
consideradas como regionalizadas, sejam espacialmente correlacionados.
Ainda de acordo com UNESP (2002), de uma forma geral, a metodologia geoestatística
procura extrair, de uma aparente aleatoriedade dos dados coletados, as características
estruturais probabilísticas do fenômeno regionalizado, ou seja, uma função de correlação entre
os valores situados numa determinada vizinhança e direção no espaço amostrado. O método
de estimativa utilizado foi o da krigagem, que é um processo de estimativa por médias
79
móveis, de valores de variáveis distribuídas no espaço a partir de valores adjacentes, enquanto
considerados como interdependentes por uma função denominada variograma.
Finalmente, com a finalidade de executar um branco de campo, numa área que provavelmente
não fosse afetada pelos odores da indústria em questão, foram aplicados os mesmos
questionários no bairro Aparecida (Figura 12), situado ao sul da cidade, numa direção oblíqua
à direção de predominância dos ventos, distante 3 km da indústria em questão. Essa
ferramenta permitiu resguardar a qualidade da avaliação das respostas referentes ao Jardim
São Domingos.
De acordo com Sesi (2007), para aplicação do branco de campo deveriam ser aplicados 10%
de questionários relativos aos 215 aplicados no Jardim São Domingos, porém optou-se pelo
aumento da amostra, aumentando a amostra de 22 para 30 questionários.
FIGURA 12: Mapa de localização do Bairro Aparecida
Fonte: Google Earth (2013)
3.2.2 Compostos odorantes, concentrações e dispersão atmosférica
Foram identificados os compostos odorantes, medidas suas concentrações e estimadas as
plumas de odor, baseadas nas concentrações encontradas. Para estimar a dispersão da pluma
no entorno da indústria foi utilizado o método da Modelagem Matemática.
80
3.2.2.1 Identificação dos compostos odorantes
Para a identificação dos compostos odorantes foi feita uma análise observacional, in loco,
para identificar os possíveis locais de emissão de compostos odorantes presentes no processo
(emissões pontuais, fugitivas e evaporativas), analisando, desde a recepção de matéria-prima,
até o tratamento de efluentes.
Como resultados preliminares pôde se constatar, de acordo com a percepção dos
colaboradores da indústria, que são gerados gases odorantes em uma quantidade ínfima na
recepção de matéria-prima, devido à decomposição do couro de boi, liberando gás amônia
(NH3).
Analisando o processo de fabricação da gelatina em toda sua extensão, ficou constatado que
não há geração de odor, pois o processo é altamente controlado e fechado.
A percepção de maiores intensidades de odor ocorreu na região da Estação de Tratamento de
Efluentes, onde se encontram a Lagoa Aeróbica e o Biodigestor Anaeróbico de Fluxo
Ascendente (UASB). Nessa região, pôde se perceber um forte cheiro de ovo estragado,
relacionado à existência de gás sulfídrico (H2S).
Realizado esse levantamento, onde foi considerado dados da própria indústria e a percepção
dos indivíduos, percebeu-se que, apesar de pequenas quantidades de gases como NH3,
mercaptanas, CH4 e alguns COVs, o maior problema da indústria, atualmente, é a geração de
H2S, gás esse que se tornou o foco desse estudo.
3.2.2.2 Determinação das concentrações de H2S
Foi efetuado um reconhecimento inicial da unidade alvo do estudo, através de visitas de
campo, utilização de listas de equipamentos e/ou de fluxogramas de processo simplificados
para identificação dos pontos a serem pesquisados, bem como indicações, observações ou
sugestões eventuais do próprio pessoal técnico da área.
81
Baseadas nessas informações foram realizadas medições preliminares ao longo do processo e
assim determinados dez pontos como possíveis emissores de gás sulfídrico (Figura 13).
Foi realizado um estudo de cada ponto, determinando as principais características
relacionadas à forma de emissão, conforme Tabela 9.
As concentrações dos gases foram medidas para a análise da dispersão na indústria. Para a
realização das medições de concentração, foi utilizado um detector portátil multigases QRAE
II (Figura 14). Sua leitura se dá de forma direta e instantânea, estando este configurado para
armazenar uma medida de pico de concentração a cada 60 segundos. A faixa de medição do
aparelho é de 0 a 100 ppm.
1- Gasômetro; 2- Tanque Pulmão; 3- Flare; 4- Biodigestor UASB; 5- Tanques de Mistura
do Biodigestor; 6- Descarga do Biodigestor na ETE; 7- Dreno 1 da Linha do Gás; 8- Dreno
2 da Linha do Gás; 9- Dreno 3 da Linha do Gás; 10- Caldeira.
FIGURA 13: Pontos de medição da concentração de H2S
82
TABELA 9: Características dos pontos de emissão de H2S
Ponto de Emissão
1. Gasômetro
2. Tanque Pulmão
Tipo de Emissão
Fugitiva
Fugitiva
3. Dreno do Flare
Fugitiva
4. Dreno do Biodigestor UASB
Fugitiva
5. Dreno dos Tanques de Mistura
Fugitiva
6. Descarga do Biodigestor na
Lagoa Aeróbica
Evaporativa
7. Dreno 1 da Linha do Biogás
Fugitiva
8. Dreno 2 da Linha do Biogás
Fugitiva
9. Dreno 3 da Linha do Biogás
Fugitiva
10. Caldeira
Fonte: Elaborado pelo próprio autor
Fugitiva
Frequência
Contínua
Contínua
Dreno de purga
(1 vez ao dia / 5 min.)
Tomada de amostra
(2 vezes por semana / 10 min.)
Tomada de amostra
( de hora em hora / 3 min.)
Contínua
Dreno de purga
(3 vezes ao dia / 2 min.)
Dreno de purga
(3 vezes ao dia / 2 min.)
Dreno de purga
(3 vezes ao dia / 2 min.)
Contínua
FIGURA 14: Detector de gases QRAE II Plus
O detector possui um sensor eletroquímico específico para gás sulfídrico. Esses sensores
eletroquímicos são compactos, requerem pouca energia, apresentam excelente linearidade e
repetitividade, além de geralmente apresentarem vida útil de um a três anos. Os tempos de
resposta, no formato T90 (ou seja, tempo para alcançar 90% da resposta final), são
tipicamente de 30 a 60 segundos.
O princípio de funcionamento do sensor baseia-se em três eletrodos ativos de difusão de gás
que são imersos em um eletrólito comum, em geral um ácido aquoso concentrado ou uma
solução salina, para a condução eficiente de íons entre o eletrodo operacional e o de
contagem. Dependendo da célula específica, o gás de destino é oxidado ou reduzido na
superfície do eletrodo operacional. Essa reação altera o potencial do eletrodo operacional com
83
relação ao de referência. A função principal do circuito do controlador eletrônico associado,
conectado à célula, é minimizar essa diferença de potencial transmitindo corrente entre o
eletrodo operacional e o de contagem, com a corrente medida proporcional à concentração do
gás de destino. O gás entra na célula através de uma barreira de difusão externa, porosa ao
gás, mas impermeável a líquidos.
Para cada um dos dez pontos determinados, foram realizadas seis etapas de medições de cinco
minutos, sempre com o detector a 1,5m da fonte de emissão, fazendo com que se tivesse 5
medidas de pico de concentração para cada ponto em cada etapa.
O detector de gás foi calibrado previamente, conforme Anexo B, para o composto a ser
medido, garantindo a confiabilidade das medições.
Quanto aos locais e as formas de medição, as concentrações foram medidas em locais abertos
com correntes de ar. Outro fator considerado foi o momento operacional, onde se buscou
fazer as medições sempre em momentos de fluxo de produção constante.
Com base nas concentrações dos poluentes medidas no interior da indústria foram geradas,
utilizando o software SURFER 8.0, duas plumas hipoteticamente reais para os odores
emitidos. A primeira baseada em condições normais de operação da indústria e a segunda
considerando as operações de dreno e coleta de amostras para análise, situações de grande
emissão de H2S.
3.2.2.3 Dispersão de H2S na atmosfera
Tendo como objetivo simular a dispersão do H2S, estimando sua concentração provável no
entorno da indústria, foi utilizado o módulo para odores do software AID (Kawano, 2003).
Através dele, conseguiu-se estimar as concentrações de poluentes, utilizando modelos
gaussianos, baseados em emissões contínuas e instantâneas (tipo puff).
Hipoteticamente, foi considerada toda a área do empreendimento emissor (emissões fugitivas
por todos os lados) como sendo uma única fonte pontual, admitindo que as emissões tivessem
84
sido geradas por uma suposta chaminé. Assim, pôde-se fazer uso desse modelo gaussiano
clássico, baseado em emissões instantâneas.
A taxa de emissão do poluente atmosférico gerada pela indústria (emissões fugitivas por todos
os lados) foi admitida supondo emissões instantâneas e constantes no tempo, considerando
para isso a existência de uma fonte pontual hipotética, calculada pela somatória das máximas
concentrações nos 10 pontos de amostragem. Para tanto, foi utilizado o “Protocolo para
Emissões Fugitivas em Equipamentos” (EPA, 1995);
Para o cálculo da taxa de geração de gás sulfídrico, foi utilizada a Equação (5) (EPA, 1995)
para estimar o fator médio para emissões fugitivas em vedações, visto que essas são as
maiores responsáveis pela fuga de gases em instalações industriais.
(5)
Onde:
Q = taxa de geração (Kg/h)
SV = concentração do gás (ppm)
Com base na taxa de geração de gás sulfídrico e em algumas condições meteorológicas
hipotéticas, foi estimada a pluma de odor e sua maior concentração sobre o bairro.
3.3 Atividades realizadas na Indústria para prevenção das emissões odorantes
Foram analisadas as ações realizadas pela indústria na atualidade, principalmente no que diz
respeito à emissão de odores.
Para tanto foram feitos levantamentos das alterações ocorridas nos processos produtivos,
através de uma observação sistemática, análise de documentos e entrevistas com seus
colaboradores.
85
Outra questão investigada foram os registros junto ao órgão fiscalizador local – Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) – relacionados às reclamações referentes à
indústria em questão.
86
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Estudo dos Ventos
Em Mococa, constata-se que o regime dos ventos do quadrante norte são predominantes,
estando esses ligados à massa de ar Tropical Atlântica (mTa), enquanto os ventos do
quadrante Sul, menos atuantes, estão ligados à massa de ar Polar Atlântica (mPa), precedidos
pela Frente Polar Atlântica.
O histórico dos dados obtidos junto ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC),
monitorados de 1960 a 1991, mostra a predominância dos ventos Norte / Nordeste.
Os dados do IAC referentes a 2013, obtidos de hora em hora, de 1o de janeiro a 23 de agosto
de 2013, confirmam a predominância dos ventos Nordeste (43,59%), seguida pelos ventos de
Leste (23,42%), Norte (10,11%) e Oeste (8,17%). Os demais 14,71% são referentes às
direções omitidas acima, que são apresentados nas Figuras 15 e 16.
N
NW
NE
W
E
SW
SE
S
FIGURA 15: Rosa dos Ventos para Mococa (SP)
87
50%
43,59%
45%
40%
Ocorrência
35%
30%
23,42%
25%
20%
15%
10,11%
10%
5%
2,56%
3,93%
SE
S
5,55%
8,17%
2,67%
0%
N
NE
E
SW
W
NW
Quadrante
FIGURA 16: Distribuição dos Ventos para Mococa (SP)
Ainda de acordo com o IAC, as velocidades médias históricas representadas mensalmente, de
1961 a 1990, estão representadas na Figura 17. Para o ano de 2013, a velocidade média do
vento, calculada de 1o de janeiro a 23 de agosto de 2013, foi de 2,0m/s.
Velocidade Média (m/s)
3,5
2,9
3,0
2,5
2,5
2,0
2,1
1,9
2,9
3,0
2,9
2,5
2,1
1,8
2,3
1,8
1,5
1,0
0,5
0,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Meses
FIGURA 17: Velocidade Média dos Ventos em Mococa (SP)
4.2 Percepção de odores via questionário
88
As questões constantes no questionário aplicado tiveram como princípios: caracterizar os
entrevistados, embora mantendo o anonimato; verificar a possibilidade de adaptação aos
odores e a noção de poluição; perguntas gerais sobre as condições do clima (temperatura,
direção do vento, período do dia e do ano), para a análise das possíveis associações com os
odores; identificar a principal origem dos odores; relacionar alguns sintomas de doenças; e
verificar o grau de desagradabilidade dos odores percebidos. Foi evitado qualquer tipo de
indução ou influência nas respostas.
Fazendo uma análise do branco de campo aplicado no Bairro Aparecida (Apêndice B),
comprovou-se que aquele local não sofre com a problemática do odor, visto que apenas 10%
dos entrevistados disseram perceber algum tipo de odor, porém, nenhum deles soube informar
a sua proveniência.
Pôde-se perceber também que, dentre os que disseram perceber algum tipo de odor, a maioria
não sabe identificar o seu caráter; não se incomodam ou se sentem pouco incomodados;
acharam que o odor é muito fraco ou fraco e raramente sentem odores.
Analisando o Jardim São Domingos, através da análise do Questionário Sócio Demográfico,
podem-se observar algumas características dos entrevistados do bairro circunvizinho à
indústria pesquisada. Todos residem no Jardim São Domingos e, consequentemente, em
Mococa (Figuras 18 e 19).
Morador de Mococa
100,00%
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0,00%
0%
Sim
Não
FIGURA 18: Moradores de Mococa
89
Morador do Jd. São Domingos
100,00%
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0,00%
0%
Sim
Não
FIGURA 19: Moradores dos Bairros Jd. Morro Azul e Aparecida
A Figura 20 permite observar que 43,26% dos 215 pesquisados são homens e 56,74% são
mulheres.
Sexo
70%
56,74%
60%
50%
43,26%
40%
30%
20%
10%
0%
Masc.
Fem.
FIGURA 20: Moradores classificados por sexo
Pode-se perceber que praticamente metade dos entrevistados (47,44%) possuem mais de 50
anos de idade (Figura 21), com um relativo grau de escolaridade (67,91%), visto que
possuíam no mínimo ensino médio completo (Figura 22). Isso pode significar que possuem
um certo grau de vivência, conciência e instrução.
90
Idade
50%
47,44%
45%
40%
35%
30%
24,19%
25%
20%
15%
16,28%
12,09%
10%
5%
0%
18 a 25
26 a 35
36 a 50
Mais de 50
FIGURA 21: Moradores classificados por idade
Grau de Escolaridade
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
36,28%
21,40%
12,56%
9,30%
9,30%
5,58%
4,65%
0,93%
Analf.
E.F.I.
E.F.C.
E.M.I.
E.M.C.
E.S.I.
E.S.C.
P.Grad.
FIGURA 22: Moradores classificados por grau de escolaridade
A Figura 23 permite observar uma forte variação de atividades profissionais, porém, um a
cada três pesquisados (33,02%) são do lar, consequentemente passam a maior parte do dia em
suas residências, significando que têm um maior discernimento do cotidiano do bairro,
atribuindo à pesquisa um caráter mais confiável.
91
Profissão
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
33,02%
29,77%
6,05%
8,37%
4,65% 4,19%
6,51%
2,79%
0,47% 0,93% 1,40% 1,86%
FIGURA 23: Moradores classificados por profissão
Com relação à renda familiar dos entrevistados (Figura 24), fica claro que a maioria pertence
às classes sociais D e E, pois 75,82% disseram receber até 4 salários mínimos.
Renda Familiar
35%
30%
32,56%
28,84%
25%
20%
14,42%
15%
9,77%
10%
6,98%
4,19%
5%
2,33%
0,93%
0%
Até 2
2a3
3a4
4a5
5a6
6a7
7a8
Mais de
8
FIGURA 24: Moradores classificados por renda familiar
As Figuras 25, 26, 27 e 28 estão relacionadas às condições de saneamento básico do bairro e
nos indicam que praticamente todos percebem esses serviços que são essenciais e estão de
acordo com a realidade atual.
92
Coleta de Resíduos Domiciliares
100%
99,07%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0,93%
0%
Sim
Não
FIGURA 25: Moradores que disseram existir coleta de resíduos domiciliares no bairro
Rede de Esgoto
100,00%
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0,00%
0%
Sim
Não
FIGURA 26: Moradores que disseram existir rede de esgoto no bairro
Água Tratada
100,00%
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0,00%
0%
Sim
Não
FIGURA 27: Moradores que disseram existir água tratada no bairro
93
Pavimentação da Rua
100%
99,53%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0,82%
0%
Sim
Não
FIGURA 28: Moradores que disseram residir em rua pavimentada
Uma questão importante diz respeito às Figuras 29 e 30, que exibem as respostas dos
indivíduos relacionadas à
coleta seletiva e à separação dos resíduos domiciliares para
descarte. Embora se observe que 66,51% tenham dito que existe coleta seletiva e 80,47%
possuem a consciência de separar os resíduos para descarte, o fato é que, de nada adianta
separá-los, visto que, na realidade, não existe destinação para esses resíduos. O município não
possui um programa de coleta seletiva, somente os materiais recicláveis são coletados por
catadores que dão os mais diversos fins para esses resíduos.
Coleta Seletiva
100%
90%
80%
70%
66,51%
60%
50%
40%
33,49%
30%
20%
10%
0%
Sim
Não
FIGURA 29: Moradores que disseram existir coleta seletiva no bairro
94
Separação de Resíduo Domiciliar para Descarte
100%
90%
80,47%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
19,53%
20%
10%
0%
Sim
Não
FIGURA 30: Moradores que disseram separar o resíduo domiciliar para descarte
A Figura 31 exibe a porcentagem de fumantes entrevistados. Investigando essa questão,
observou-se que dos 215 entrevistados, 36 são fumantes e 179 disseram que não fumam.
Dentre os fumantes, 58,33% percebem algum tipo de odor no bairro, contra 41,67% que
disseram não perceber. O mesmo não ocorre entre os não fumantes: 47,49% percebem odores
e 52,51% disseram não perceber. Pode-se concluir que o simples fato de fumar não esta
relacionado com a percepção do odor.
Fumante
100%
90%
83,26%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
16,74%
10%
0%
Sim
Não
FIGURA 31: Moradores que são fumantes
95
Como questão principal do questionário sóciodemográfico estava a avaliação da existência
do problema de odor no bairro. Essa questão era de caráter eliminatório, ou seja, caso o
entrevistado respondesse “não” a esta pergunta, ele não responderia às próximas, visto que
estas se referiam a sua vivência em relação aos odores.
A Figura 32 ilustra a porcentagem de pessoas que disseram perceber algum tipo de odor
singular. Dos 215 questionamentos, 106 foram afirmativos em relação à percepção de odores
(49,30%) e 109 foram negativos (50,70%). Chega-se à conclusão que, praticamente, uma em
cada duas pessoas percebiam um odor diferente, problema esse que foi analisado através do
Questionário de Investigação de Incômodos Causados pelos Maus Odores, aplicado a esses
106 indivíduos.
Percepção de Odor
100%
90%
80%
70%
60%
50%
49,30%
50,70%
Sim
Não
40%
30%
20%
10%
0%
FIGURA 32: Moradores que disseram perceber algum tipo de odor no bairro
(Avaliação da existência do problema)
A Figura 33 reflete os incômodos produzidos pelos odores, que foram questionados, e os
entrevistados puderam escolher mais de uma opção. Entre as opções apresentadas para os
entrevistados os itens intranquilidade (38,68%), irritação (22,64%), náusea (13,21%) e dor de
cabeça (11,32%) foram os mais respondidos acrescidos de outros itens em menor percentual.
Isso pode ser ocasionado pela presença de gás sulfídrico, que tem também como efeito sobre a
saúde a irritação dos olhos e das vias pulmonares (DE MELO LISBOA, 2010).
96
Avaliação do Incômodo
38,68%
22,64%
14,15%
Não Sei
5,66%
Outros
Vômito
11,32% 7,55%
Perda de Apetite
0,94%
3,77%
Dor de Cabeça
3,77%
Irrit. Olhos
Irritação
Insônia
Náusea
4,72%
Irrit. Garganta
13,21%
Intranquilidade
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
FIGURA 33: Avaliação do incômodo em relação ao odor
A avaliação do caráter (qualidade) de um odor percebido é difícil de qualificar. A linguagem
olfativa é efetivamente baseada na comparação dessa percepção a um odor fundamentalmente
bastante encontrado.
Na Figura 34, o odor percebido pelo indivíduo era comparado a outros odores conhecidos
para que, assim, a fonte do odor pudesse ser identificada, sem que seu nome fosse
propriamente dito pelo entrevistado. Também nesta questão, o entrevistado foi orientado a dar
respostas positivas ao número de alternativas que desejasse ou identificasse, pois há diversos
casos em que pessoas se sentem incomodadas por mais de um tipo de odor.
Os resultados permitiram concluir que os odores de ovo estragado e de esgoto, que são
comumente relacionados com a presença de gás sulfídrico no ar, foram os mais respondidos,
com 52,83% e 66,04%, respectivamente.
A Figura 35 permite observar que 3 pessoas (2,83%) não se incomodam com o odor; 31
(29,25%) se incomodam pouco; 35 (33,02%) se incomodam; 31 (29,25%) se incomodam
muito e 6 (5,66%) se incomodam extremamente.
97
Avaliação do Caráter
66,04%
0,94%
6,60%
Não Sei
Fertilizante
1,89%
Gasolina
2,83%
Gás
0,94%
Tinta
Esgoto
1,89%
Óleo Queimado
52,83%
Ovo Estragado
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
FIGURA 34: Avaliação do caráter do odor
O índice de hedonicidade foi calculado através da média ponderada dos resultados obtidos,
chegando a um valor de -51,41, concluindo que o índice de desconforto olfativo encontra-se
muito próximo daquelas pessoas que se sentem incomodadas com o odor.
Avaliação da Hedonicidade
29,25%
33,02%
29,25%
Incom. Muito
Incomoda
Incom. Pouco
Incom. Extrem.
5,66%
2,83%
Não Incomoda
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
FIGURA 35: Avaliação do perfil hedônico do odor
A Figura 36 reflete as porcentagens relacionadas ao grau de intensidade de odor percebido. A
intensidade média calculada foi de 59,67, estando localizada entre uma intensidade média e
forte.
98
A exposição contínua a um odor constante tem por consequência o fenômeno de adaptação.
Alguns entrevistados que perceberam o odor, mas o consideram fraco, como os 7,55% da
Figura 37 podem estar experimentando mudanças na percepção do odor, ou seja, adaptação
olfativa.
Avaliação da Intensidade
100%
90%
80%
70%
60%
50,00%
50%
40%
31,13%
30%
20%
10%
9,43%
7,55%
1,89%
0%
Muito Fraco
Fraco
Médio
Forte
Muito Forte
FIGURA 36: Avaliação da intensidade do odor
Existe também outro fenômeno chamado fadiga olfativa. A fadiga olfativa pode ser definida
como a incapacidade de um indivíduo de perceber um odor próximo do limite de percepção, e
até mesmo quando submetido a concentrações mais elevadas do mesmo odor. O fenômeno
explica a ausência de reação olfativa de numerosos indivíduos face aos odores que encontram
em seus locais de trabalho. A fadiga pode ser uma variável de perigo no caso em que os
odores inalados são de risco tóxico.
A questão relacionada à frequência do odor (Figura 37) foi elaborada para investigar a
periodicidade com que ocorrem os odores na área onde o entrevistado habita. A maioria dos
entrevistados (63,21%) disse perceber o odor com certa regularidade.
A Figura 38 evidencia o período do dia de maior percepção de odores. Mais uma vez foi
permitido ao entrevistado selecionar mais de uma das alternativas.
99
Avaliação da Frequência
100%
90%
80%
70%
63,21%
60%
50%
40%
30%
20%
21,70%
15,09%
10%
0%
Todo Dia
Periodicamente
Raramente
FIGURA 37: Avaliação da periodicidade do odor
Aos entrevistados foram apresentados quatro opções para responderem qual o período do dia
em que mais percebiam odores (manhã, tarde, noite e madrugada).
Evidenciou-se se que os períodos de maior percepção do odor foram à tarde e à noite,
correspondendo ambos a 88,68% dos entrevistados. Isso pode ser justificado pelo fato que, ao
anoitecer, geralmente a temperatura cai rapidamente, estratificando a atmosfera, diminuindo a
altura da camada de mistura, tornando os odores mais perceptíveis (DE MELO LISBOA,
2010).
Avaliação dos Períodos de Percepção
100%
90%
80%
70%
60%
54,72%
50%
40%
33,96%
30%
20%
10%
9,43%
3,77%
5,66%
Madrugada
Não Sei
0%
Manhã
Tarde
Noite
FIGURA 38: Avaliação dos períodos de percepção do odor
100
A avaliação das condições do tempo de maior percepção dos odores está exposta na Figura
39. Nesta questão, o entrevistado pôde assinalar mais de uma alternativa como resposta,
exceto quando optasse por uma das duas últimas alternativas (“Independente da condição
meteorológica” e “Não sei”). Percebe-se que a maioria respondeu que percebe o odor
independente da condição (56,60%), seguido por 26,42% que disseram perceber o odor em
dias ensolarados e 10,38% em dias chuvosos.
Avaliação das Condições Climáticas
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
56,60%
26,42%
10,38%
3,77%
Ensolarado
Nublado
4,72%
0,00%
Chuvoso
Antes da
Chuva
Indep. da
Condição
Não Sei
FIGURA 39: Avaliação das condições do tempo de maior percepção do odor
A Figura 40 descreve a questão que busca verificar se existe alguma relação da percepção do
odor com as estações do ano; se em uma das estações o odor é percebido com maior
frequência. Nesta questão, o entrevistado pôde assinalar mais de uma alternativa como
resposta, exceto quando optasse por uma das duas últimas alternativas (“Não sei” e “Todas”).
Entretanto, foi recomendado que o entrevistado assinalasse somente uma alternativa. Com
relação às respostas em que os odores eram percebidos mais intensamente, 29,25% dos
entrevistados disseram que seria era no verão, as outras estações do ano não superaram 4% de
indicações, porém, 57,55% responderam que percebem o odor independente da estação do
ano.
Schauberger et al. (2001), citado por Silva (2002), estudaram a percepção dos odores nas
diferentes estações do ano, baseados na frequência de notificações mensais das reclamações
sobre os maus odores. Concluíram que o maior número de reclamações ocorria no verão,
101
seguido pela primavera, outono e inverno. Estudo este que coincide com os dados levantados
junto à CETESB, relativos à indústria em estudo, onde de setembro à dezembro foram
registrados os maiores índices de reclamações por odor.
Avaliação das Estações do Ano
100%
90%
80%
70%
57,55%
60%
50%
40%
29,25%
30%
20%
10%
1,89%
3,77%
0,94%
8,49%
0,00%
0%
Primavera
Verão
Outono
Inverno Nenhuma
Todas
Não Sei
FIGURA 40: Avaliação da percepção do odor em relação às estações do ano
A avaliação da direção do vento pode ser observada pelos percentuais da Figura 41, que
procurou investigar a sua predominância. Este fator permite determinar a fonte do odor
devido à sua localização.
Avaliação da Direção do Vento
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40,57%
40%
30%
28,30%
20%
14,15%
11,32%
10%
2,83%
1,89%
0%
Norte
Sul
Leste
Oeste
Indep.
Não Sei
FIGURA 41: Avaliação da percepção do odor em relação à direção do vento
Para apontar direções predominantes particulares pode-se indicar mais de um ponto cardeal.
102
Os resultados indicam que 40,57% dos entrevistados responderam que percebem odor,
independente da direção do vento. Segundo Silva (2002), o estilo de vida no meio urbano faz
com que as pessoas não observem muito a natureza, pois, em geral, estão em locais fechados e
muito pouco dependem das condições meteorológicas para realizarem suas funções.
Outro dado a ser ressaltado mostra que 28,30% dos entrevistados disseram que o vento sopra
da direção norte e 11,32% da direção leste, fato este que coincide com os dados
meteorológicos históricos da região registrados pelo Instituto Agronômico de Campinas –
IAC (2013), conforme Figuras 16 e 17. Traçando um eixo imaginário entre a indústria
química e o bairro, percebe-se que o vento sopra da indústria para dentro do bairro, fator esse
que se torna um complicador para a indústria na questão da emissão, e consequentemente
dispersão dos poluentes atmosféricos, inclusive de substâncias odoríferas.
Com a finalidade de avaliar a procedência do odor e a sua percepção em relação ao passado
entre os indivíduos da área pesquisada, primeiramente foi avaliado o tempo de residência
desses indivíduos com o propósito de atestar a qualidade das respostas em relação à
procedência e percepção do odor em relação ao passado.
A Figura 42 evidencia que 75,46% dos entrevistados moram no bairro há mais de 5 anos,
tempo suficiente para que o cidadão conheça seu habitat.
Avaliando a percepção do odor em relação ao passado, 8,49% dos entrevistados disseram que
o odor aumentou, enquanto que 43,40% disseram ser o mesmo de tempos atrás e 48,11%
indicaram que a percepção em relação ao odor diminuiu em relação ao passado (Figura 43).
Praticamente metade dos questionados indicaram que o odor é menor hoje em dia, sugerindo
que ações foram tomadas pela empresa, para que esse problema fosse minimizado.
103
Avaliação do Tempo de Residência
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
24,53%
23,58%
20,75%
20%
15,09%
16,04%
11 a 15
16 a 20
10%
0%
Menos de 5
5 a 10
Mais de 20
FIGURA 42: Tempo em que reside no bairro
Avaliação da Percepção versus Passado
100%
90%
80%
70%
60%
50%
43,40%
48,11%
40%
30%
20%
10%
8,49%
0%
Maior
O Mesmo
Menor
FIGURA 43: Avaliação da percepção do odor em relação ao passado
Tendo como propósito avaliar a proveniência do odor, foi colocada uma questão na qual o
entrevistado poderia citar o nome de uma ou mais prováveis fontes do odor que o
incomodassem, ou poderia se abster da resposta, respondendo desconhecer a sua origem.
A Figura 44 evidencia que 77,36% das pessoas indicaram que a indústria química é a
provável fonte dos odores percebidos, enquanto 22,64% disseram que seria outra fonte
responsável pela geração do odor ou não sabiam dizer a proveniência. Essa questão remete à
indústria química como provável emissora dos compostos odorantes.
104
Avaliação da Procedência do Odor
100%
90%
80%
77,36%
70%
60%
50%
40%
30%
22,64%
20%
10%
0%
Indústria Química
Outros / Não Sabe
FIGURA 44: Avaliação da proveniência do odor
A percepção do odor está diretamente relacionada à dispersão atmosférica dos poluentes que,
por sua vez, dependem da fonte emissora, de fatores meteorológicos e do receptor.
Com o intuito de relacionar as quantidades de respostas afirmativas dos entrevistados em
relação ao odor, com a distância da provável fonte emissora (indústria química), foi criada a
Tabela 10, indicando os 16 pontos da malha ao qual o bairro foi dividido, a distância média
do centro da malha em relação à indústria e, por fim, foi calculada para cada ponto da malha a
porcentagem de indivíduos que afirmam ter essa percepção.
A Figura 45 evidencia o mapa de distribuição das afirmativas em relação ao odor. Através de
uma análise visual pode-se perceber que quanto mais próximo da indústria, maior a
porcentagem de indivíduos afirmando perceber o odor, diferentemente de pontos mais
distantes, nos quais a porcentagem de afirmações vai se aproximando de zero.
Vale ressaltar a presença do cinturão verde, que também funciona como quebra ventos
arbóreo. Ele pode influenciar na dispersão dos poluentes e com isso na percepção da
população em relação ao odor. Observa-se que na parte inferior da malha de aplicação (pontos
de 9 a 16) a porcentagem de afirmações positivas ao odor é menor que na parte superior
(pontos de 1 a 8), onde o cinturão aparenta ter uma influência menor pela sua localização.
105
TABELA 10: Percentual de respostas afirmativas ao odor relacionadas à distância.
Pontos da Malha
Distância em relação à
Indústria (m)
Afirmações de Odor (%)
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
141,42
316,23
509,90
707,11
316,23
424,26
583,10
761,58
509,90
583,10
707,11
860,23
707,11
761,58
860,23
989,95
100
73
80
60
67
67
80
33
60
60
7
7
47
67
20
20
FIGURA 45: Percentual de respostas afirmativas em relação à percepção de odor
Através da análise estatística da Figura 46, chega-se à conclusão de que o coeficiente de
correlação r de Pearson entre o percentual de respostas afirmativas e a distância do indivíduo
106
em relação à indústria é da ordem de -0,7967, com confiabilidade superior a 99%. Quando o r
se aproxima de -1 isso indica pouca dispersão e uma correlação muito forte e negativa entre as
variáveis. Conclui-se que a percepção ao odor está relacionada com o inverso da distância do
Porcentagem (%)
receptor em relação à fonte emissora.
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
y = -0,0966x + 111,81
R² = 0,6347
0,00
200,00
400,00
600,00
800,00
1000,00
Distância (m)
FIGURA 46: Diagrama de dispersão entre distância da indústria química e porcentagem de
respostas positivas em relação ao odor
Baseado na equação encontrada no diagrama da Figura 46 estima-se que, acima de 1.150m, a
porcentagem de indivíduos que percebem o odor pode ser próxima de zero. Porém, convém
lembrar que a capacidade olfativa varia de pessoa para pessoa e isso não significa que um
receptor acima dessa distância não pudesse sentir o mesmo, o que também pode justificar o
valor obtido para a correlação r de Pearson (-0,7967). O modelo mostrou-se pertinente para
estimar a percepção dos moradores ao odor em relação a fonte emissora.
Os odores comprometem a qualidade de vida da população que reside próxima à indústria. As
pessoas entrevistadas dizem que se sentem mais incomodadas e não são complacentes com a
presença constante dos incômodos.
4.3 Concentrações de H2S
107
O efluente gerado pelo processo de fabricação da indústria em questão possui uma alta carga
orgânica, devido à natureza de seus processos. O tratamento desse efluente é devido em parte
pela Lagoa Aeróbia e parte por um Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente do tipo UASB
(Upflow Anaerobic Sludge Blanket).
Os Reatores UASB estão entre as principais fontes de emissão de H2S, caracterizado como
um dos principais agentes contaminantes encontrados na atmosfera. De acordo com Gloria
(2009), o tratamento de efluentes é feito por micro-organismos anaeróbios que convertem a
matéria orgânica do efluente em gases como metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2) e os
sulfatos em sulfeto de hidrogênio (H2S).
O estudo em questão confirmou a presença de H2S em vários pontos, todos eles relacionados
ao tratamento do efluente da indústria, principalmente no Biodigestor (Reator Anaeróbio
UASB). Os pontos de amostragem foram divididos naqueles em que as emissões se dão de
forma contínua e aqueles em que ocorrem de forma intermitente.
4.3.1 Emissões contínuas
Na Tabela 11 encontram-se as concentrações médias do H2S para as seis amostras de pico de
concentração em cada ponto coletado na indústria. Esses pontos correspondem aos locais
onde ocorre a presença de gás sulfídrico em condições normais de operação dos
equipamentos. Isso pode ser melhor visualizado através da Figura 47.
TABELA 11: Concentrações de H2S (ppm) em condições normais
Condições Normais
Locais de Amostra
1 – Gasômetro
2 – Tanque Pulmão
6 – ETE / Descarga do Biodigestor
10 – Caldeira
Amostras
1
14.3
1.1
2.1
< 1.0
2
20.0
2.1
< 1.0
< 1.0
3
34.1
2.0
< 1.0
< 1.0
4
37.4
2.8
< 1.0
< 1.0
5
45.4
2.6
2.2
< 1.0
6
13.0
2.1
2.9
< 1.0
108
Concentração (ppm)
Concentração de H2S em condições normais
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
1 – Gasômetro
2 – Tanque Pulmão
1
2
3
4
5
6 – ETE / Descarga do
Biodigestor
6
10 – Caldeira
Amostra
FIGURA 47: Concentrações de H2S em condições normais
A Figura 48 permite observar as concentrações de H2S no Gasômetro, que é uma sala fechada
onde está instalado o sistema do compressor (Figura 49) responsável pelo controle e
abastecimento do biogás, gerado no Biodigestor, que alimenta a caldeira. Percebeu-se uma
grande quantidade de emissões fugitivas, com valores chegando a 45,4 ppm. O valor médio
para as medições foi de 27,4 ppm, bastante elevado por ser uma emissão que ocorre de forma
contínua. O diagnóstico para a alta concentração, provavelmente, está relacionado aos
possíveis vazamentos em flanges e juntas das tubulações de transporte do biogás.
Concentração de H2S (ppm)
1 – Gasômetro
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
34,1
14,3
20,0
1
2
37,4
45,4
13,0
0,0
3
4
5
6
Amostras
FIGURA 48: Concentrações de H2S no ponto de coleta 1 – Gasômetro
Existem perdas indesejáveis através de eixos de bombas, hastes de válvulas e flanges que, em
condições normais, deveriam ocorrer de forma controlada. (EPA, 1995).
Durante muito tempo buscou-se vazamento zero. Cientificamente, sabe-se que isso não existe
quando se utilizam juntas e gaxetas. O que se busca, na realidade, é o controle do vazamento.
Para tanto, deveriam ser feitas manutenções periódicas, principalmente nas juntas e flanges,
109
buscando minimizar a fuga de gás, posto que esse ponto é o local de maior emissão fugitiva
contínua de H2S na indústria.
FIGURA 49: Gasômetro
O ponto 2 – Tanque Pulmão (Figura 50) – é responsável pela equalização do biogás, fazendo
com que seja enviada à caldeira uma quantidade constante de biogás que será utilizado como
combustível. Havendo qualquer tipo de paralisação da caldeira, ele funcionará como
armazenador do gás, até uma nova partida para queima do gás.
As concentrações médias registradas no Tanque foram de 2,1 ppm, com pico de 2,8 ppm,
conforme gráfico da Figura 51. Os valores foram inferiores aos registrados no Gasômetro,
porém, contribuem com uma pequena parcela na liberação de gás sulfídrico para a atmosfera
devido à sua constante emissão.
As emissões percebidas no Tanque são fugitivas, ocorrendo vazamentos, em pequenas
proporções, principalmente nas válvulas e juntas da tubulação.
110
FIGURA 50: Tanque Pulmão
Concentração de H2S (ppm)
2 – Tanque Pulmão
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
1,1
2,1
2,0
2,8
2,6
2,1
1
2
3
4
5
6
0,0
Amostras
FIGURA 51: Concentrações de H2S no ponto de coleta 2 – Tanque Pulmão
As concentrações medidas na saída da tubulação de descarga dos Tanques de Mistura do
Biodigestor na ETE (Figura 52) estão ilustradas na Figura 53.
É o ponto de desague na Lagoa Aeróbia (ponto 6) do efluente pré-processado no Biodigestor.
Percebeu-se uma concentração máxima de 2,9 ppm, com média de 1,2 ppm.
111
FIGURA 52: Descarga do Biodigestor UASB na Lagoa Aeróbica
Concentração de H2S (ppm)
6 – ETE / Descarga do Biodigestor
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
2,1
0,0
0,0
0,0
2,2
2,9
1
2
3
4
5
6
0,0
Amostras
FIGURA 53: Concentrações de H2S no ponto de coleta 6 – Descarga do Biodigestor UASB
na Lagoa Aeróbica
A Figura 54 evidencia as concentrações nas imediações da Caldeira (Figura 55). Pôde-se
perceber que as concentrações ficaram próximas de zero, fato que indica um maior controle
de manutenção preventiva nas tubulações do Biogás, flanges e juntas, posto que poderia ser
um ponto de emissões fugitivas. Constatou-se que não há concentração de H2S ao nível do
solo, porém, a liberação do gás resultante da combustão se faz pela parte superior da caldeira,
através da chaminé, ponto em que poderiam ter sido feitas medições.
112
Concentração de H2S (ppm)
10 – Caldeira
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
1
2
3
4
5
6
0,0
Amostras
FIGURA 54: Concentrações de H2S no ponto de coleta 10 – Caldeira
4.3.2 Emissões intermitentes
Na Tabela 12 e Figura 56, estão representadas as concentrações medidas nos pontos de
drenagem ou coleta de material para análise. Esses locais liberam H2S de forma intermitente,
somente nos momentos em que estão sendo executadas as operações.
FIGURA 55: Caldeira
113
TABELA 12: Concentrações de H2S (ppm) em condições de dreno e/ou coleta para análise
Condições Extremas
Locais de Amostra
3 – Dreno do Flare
4 – Dreno do Biodigestor UASB
Amostras
5 – Dreno dosTanques de Mistura
7 – Dreno 1 da linha de Gás
8 – Dreno 2 da Linha de Gás
9 – Dreno 3 da linha de Gás
1
66.8
9.1
2
7.7
5.5
3
5.4
30.1
4
45.8
39.2
5
24.6
17.2
6
26.4
25.7
52.9
>100.0
57.9
85.8
5.0
>100.0
>100.0
>100.0
30.9
>100.0
45.4
94.2
9.3
>100.0
29.3
79.3
5.8
77.0
38.7
69.0
4.9
>100.0
50.0
74.5
Concentração (ppm)
Concentração de H2S em condições de drenagem
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
3 – Dreno do Flare
4 – Dreno do
Biodigestor UASB
1
2
3
4
Amostra
5
6
5 – Dreno dos
Tanques de Mistura
FIGURA 56: Concentrações de H2S em condições de dreno e coleta de amostras
O Flare (Figura 57) é um sistema para queima do gás gerado no Biodigestor. Havendo uma
intervenção na queima do Biogás na caldeira, seja por manutenção ou baixo consumo, esse
gás é armazenado no Tanque Pulmão, até que seja atingido seu limite. A partir daí, esse gás é
direcionado para ser queimado no Flare.
De acordo com Chernicharo et al. (2010), o Flare é um método de tratamento químico de
odores que ocorre através da combustão direta em tochas. É uma variante da oxidação
térmica, a qual usualmente não emprega uma câmara de combustão. Dessa forma,
temperaturas suficientemente elevadas não são alcançadas e a combustão dos poluentes pode
ser incompleta. A combustão incompleta pode resultar na geração de compostos sulfurados,
prejudiciais ao meio ambiente.
114
FIGURA 57: Flare e Tanque de Hidróxido de Sódio
Por esse motivo, antes de entrar no queimador, o Biogás passa por uma solução de hidróxido
de sódio, que reagirá com o gás sulfídrico (reação 10), teoricamente sendo eliminado antes da
queima.
(10)
Antes da queima, é feita a drenagem da tubulação de gás, visando à eliminação do líquido
presente.
A Figura 58 permite observar as concentrações de H2S medidas nessas operações de dreno.
Pôde-se perceber altas concentrações em determinadas amostras, com máximas de 66,8 ppm e
média para seis amostras de 29,5 ppm. Essa grande variação nas concentrações, talvez esteja
ocorrendo devido à saturação da solução de hidróxido de sódio, fazendo com que o gás
sulfídrico permaneça no sistema, sendo emitido na operação de purga. Um controle maior
deveria ser feito para que tal situação fosse evitada.
115
Concentração de H2S (ppm)
3 – Dreno do Flare
100,0
80,0
66,8
45,8
60,0
40,0
20,0
7,7
5,4
2
3
24,6
26,4
5
6
0,0
1
4
Amostras
FIGURA 58: Concentrações de H2S no ponto de coleta 3 – Dreno do Flare
O ponto de amostragem 4 refere-se ao Dreno do Biodigestor UASB (Figura 59). É o ponto de
coleta da solução para análise que ocorre duas vezes na semana, durante dez minutos.
A Figura 60 evidencia a variação da concentração de H2S em decorrência do ponto de coleta
da amostra. A concentração máxima medida foi de 39,2 ppm e a média de 21,1 ppm.
Puderam-se perceber algumas variações nas concentrações, devido ao ponto de coleta no
Biodigestor. A solução coletada no ponto mais alto apresenta concentração mais elevada de
gás, devido à evolução na formação do Biogás, inerente ao processo ocorrido no reator.
Percebeu-se que o Biodigestor utilizado na ETE ainda não está operando em sua capacidade
máxima. É feita uma mistura do efluente da fábrica com água, alimentando o Biodigestor. Os
equipamentos responsáveis por essa operação são os Tanques de Mistura (Figura 61), que são
responsáveis por manter a recirculação da solução do biodigestor e executar a correção
necessária do pH através da dosagem de ácido sulfúrico.
116
FIGURA 59: Biodigestor UASB
Concentração de H2S (ppm)
4 – Dreno do Biodigestor UASB
100,0
80,0
60,0
30,1
40,0
20,0
9,1
5,5
1
2
39,2
17,2
25,7
0,0
3
4
5
6
Amostras
FIGURA 60: Concentrações de H2S no ponto de coleta 4 – Dreno do Biodigestor UASB
As concentrações medidas nesse ponto (5) estão representadas na Figura 62. Aqui também se
percebeu uma grande variação da concentração de H2S, com médias de 18,1 ppm, máxima de
52,9 ppm e mínima de 4,9 ppm. Essas variações podem ter ocorrido em função das
proporções de mistura do efluente com a água que recirculam no Biodigestor.
117
FIGURA 61: Tanques de Mistura do Biodigestor UASB
Concentração de H2S (ppm)
5 – Dreno dos Tanques de Mistura
100,0
80,0
60,0
52,9
30,9
40,0
5,0
20,0
9,3
5,8
4,9
4
5
6
0,0
1
2
3
Amostras
FIGURA 62: Concentrações de H2S no ponto de coleta 5 – Dreno dos Tanques de Mistura
A Figura 63 ilustra um dos três pontos de drenagem da linha de Biogás. São pontos instalados
ao longo da tubulação entre a sala do Gasômetro e a Caldeira, com uma extensão aproximada
de 100 metros. Os drenos, compostos por uma válvula de esfera, têm por finalidade eliminar
gotículas de água acumuladas na tubulação.
A variação de concentração de H2S medida (Figuras 64, 65 e 66) pode ser justificada por
correntes de ar e posicionamento do aparelho de medição.
118
Os valores encontrados para os três pontos são muito altos, chegando algumas vezes a
extrapolar a capacidade de medição do detector de gases, correspondente a 100 ppm. Os três
pontos são purgados três vezes ao dia, por aproximadamente dois minutos.
FIGURA 63: Dreno 2 da Linha de Biogás
Constatou-se que ocorre uma grande liberação de H2S para a atmosfera nesses procedimentos,
pois a purga é feita abrindo-se a válvula de esfera, liberando o gás diretamente para o meio
ambiente, sem qualquer método de contenção.
119
Concentração de H2S (ppm)
7 – Dreno 1 da Linha de Biogás
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
77,0
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
1
2
3
4
5
6
Amostras
FIGURA 64: Concentrações de H2S no ponto de coleta 7 – Dreno 1 da Linha do Biogás
Concentração de H2S (ppm)
8 – Dreno 2 da Linha de Biogás
100,0
100,0
80,0
57,9
45,4
60,0
29,3
40,0
38,7
50,0
20,0
0,0
1
2
3
4
5
6
Amostras
FIGURA 65: Concentrações de H2S no ponto de coleta 8 – Dreno 2 da Linha do Biogás
9 – Dreno 3 da Linha de Biogás
Concentração de H2S (ppm)
100,0
100,0
85,8
94,2
79,3
80,0
69,0
74,5
5
6
60,0
40,0
20,0
0,0
1
2
3
4
Amostras
FIGURA 66: Concentrações de H2S no ponto de coleta 9 – Dreno 3 da Linha do Biogás
4.3.3 Plumas de concentração de H2S na Indústria
120
Através das Figuras 67 e 68, pôde-se observar a concentração de H2S sobre a Indústria em
duas condições, a primeira representa a estimativa da pluma gerada em condições normais de
operação da indústria, levando-se em consideração somente as emissões do Gasômetro,
Tanque Pulmão, Descarga do Biodigestor na ETE e Caldeira.
Sem levar em consideração as condições climáticas, observa-se que a pluma possui uma
concentração maior próxima ao local onde se situa o Gasômetro, com concentrações em torno
de 28 ppm. Próximo aos limites da empresa, a concentração está próxima de zero.
FIGURA 67: Indústria Química e a pluma de concentração de H2S (ppm) em condições
normais de operação
Para a segunda condição (Figura 68), somaram-se às condições anteriores, as concentrações
medidas em condições de dreno e coleta de amostras para análise. Hipoteticamente,
simulando um fato extremo, foram utilizadas as concentrações como se estivessem sendo
emitidas todas ao mesmo tempo.
121
Percebeu-se uma pluma com concentrações muito maiores e abrangendo praticamente toda a
área da empresa, chegando a extrapolar seus limites, fato que, de acordo com a legislação, não
deveria ocorrer.
FIGURA 68: Indústria Química e a pluma de concentração de H2S (ppm) em condições
extremas – dreno e coleta de amostras
4.4 Estimativa da dispersão de H2S na atmosfera do Bairro
A dispersão de H2S na atmosfera do Bairro foi estimada através de Modelagem Matemática.
Somando-se as concentrações máximas de H2S nos 10 pontos amostrados (Figura 69),
estimou-se a uma concentração total de 489 ppm. Baseado na Equação (5) (EPA, 1995),
estimou-se a uma taxa média de emissão de H2S de 2,200 g/h.
122
Concentrações de H2S
Pontos de Amostragem
100,0
90,0
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Média
27,4
2,1
29,5
21,1
18,1
1,2
96,2
53,6
83,8
0,0
Máximo
45,4
2,8
66,8
39,2
52,9
2,9
100,0
100,0
100,0
0,0
Mínimo
13,0
1,1
5,4
5,5
4,9
0,0
77,0
29,3
69,0
0,0
FIGURA 69: Concentrações médias, máximas e mínimas de H2S (ppm)
Uma das características primárias de modelos de dispersão para uso em avaliação de odor é o
tempo médio de amostragem, pois a concentração instantânea na linha central da pluma é
significativamente mais alta que para tempos médios.
Schauberger, Piringer e Petz (2001) comentam que a sensação do odor depende da
concentração instantânea do odor e não do valor médio. Essa variação dos picos com a
concentração média é um fator chave para o processo de modelagem de odores e também para
modelagem de substâncias que geram efeitos em curto prazo, como poluentes tóxicos.
Algumas condições hipotéticas foram estabelecidas para simular a concentração dos
poluentes:

A fonte pontual foi definida como se fosse uma chaminé de 0,5 de diâmetro e 1,5m de
comprimento;

A velocidade dos gases da chaminé foi estimada como sendo a velocidade média
histórica do vento na região;

Foram utilizadas as equações de Briggs para calcular a elevação da pluma acima da
chaminé, conforme EPA (1995);
A Tabela 13 explicita os parâmetros utilizados para se estimar a pluma sobre a área estudada.
123
TABELA 13: Parâmetros utilizados na estimativa das concentrações com o AID
Nome do poluente emitido
Taxa de emissão
Temperatura dos gases na chaminé (tc)
Veloc. dos gases na chaminé (vc)
Diâmetro da chaminé (d)
Altura física da chaminé (h)
Região
Extensão da área quadrada em estudo
Tipo de modelo gaussiano para cálculo da
dispersão
Cálculo da elevação da pluma acima da chaminé
segundo equação de:
Posição do receptor em relação à fonte
Distância da fonte ao receptor (x)
Altura do receptor (z)
Classe de estabilidade atmosférica
Velocidade do vento (v)
Direção do vento
Pressão atmosférica (Patm)
Temperatura do ar (tar)
Veloc. vento (vf) corrigida a altura da chaminé
Altura onde o vento foi medido
odores
0,00061
25
2
0,5
1,5
Urbana
800
-----g/s
°C
m/s
m
m
-----m
Modelo para emissões instantâneas
------
Briggs
------
SO-Sudoeste
120
10
F-Moderadamente Estável
2
NE-Nordeste
689,7
25
1,915531039
2
-----m
m
-----m/s
-----mmHg
°C
m/s
m
A maior concentração, após 2 min de emissão do puff, foi de 0,1884 µg/m3, de acordo com o
software AID, o equivalente a 0,00014 ppm. A Figura 70 ilustra graficamente essa simulação.
Observou-se que a maior concentração encontrada no bairro está próxima do limite de
percepção dos indivíduos para o H2S, que é de 0,00042 ppm. Os resultados apresentados no
questionário aplicado indicaram que 49,3% dos indivíduos percebem o odor. Essa
discrepância pode ser explicada pelos seguintes fatores:

Pontos de fuga de H2S subestimados: as concentrações foram medidas em 10 pontos
específicos, não levando em consideração as fugas em tubulações e juntas do sistema
de tratamento de efluentes;

Capacidade máxima de leitura do detector de gases de 100ppm: em alguns pontos a
concentração atingiu o teto do detector, mascarando o resultado real;

Efeito memória do odor: a persistência do odor na memória do indivíduo, mesmo
caso ele deixe de existir.
124
Assim, utilizando um aparelho com capacidade de medição maior e ampliando os pontos de
medição das emissões fugitivas, provavelmente se chegará a uma estimativa das
concentrações perceptíveis pela população circunvizinha, confirmando os resultados
apresentados pelo questionário.
FIGURA 70: Pluma de concentração de Odores disposta sobre o Bairro Jd. São Domingos
4.5 Indústria e a prevenção das emissões odorantes
Na avaliação das ações realizadas pela indústria na atualidade, principalmente no que diz
respeito à prevenção das emissões odorantes, baseada em gerenciamento ambiental,
desenvolvimento sustentável e qualidade de vida, foram estudadas as ações macro
implementadas nos últimos anos para que esta esteja integrada no mundo globalizado de hoje.
A importância dessa integração deve-se à valorização que vem ocorrendo de forma crescente
no mercado das empresas que se preocupam com a sustentabilidade, bem como com o melhor
rendimento econômico das mesmas.
125
Segundo Almeida (2006), é evidente que, nos dias de hoje, a credibilidade das empresas está
atrelada ao grau de responsabilidade que assumem diante dos problemas que afligem o
mundo. Está ocorrendo uma evolução do conceito de responsabilidade legal para o conceito
de responsabilidade moral, ambas configurando a nova ordem da responsabilidade civil.
Dessa forma, verifica-se a importância de se difundirem diretrizes do desenvolvimento
sustentável em todos os passos da empresa, principalmente, na forma de gestão relacionada às
ações, produtos e serviços da empresa. Tais ações justificam a organização perante seu
mercado, oferecem a ela as condições de permanecer existindo, de gerar resultados
econômicos, de se mostrarem para seus clientes da forma verdadeira, sendo estes também os
responsáveis pelos impactos positivos e negativos em termos econômicos, ambientais e
sociais.
Assim, vale ressaltar que, na gestão das ações, produtos e serviços, deve-se ter uma
preocupação maior em se questionar o quanto tais projetos estão contribuindo para a
estratégia de desenvolvimento sustentável da organização.
4.5.1 A Indústria
A Indústria é certificada FSSC 22.000, norma para certificação de sistema de gestão da
segurança dos alimentos, e segue os pré-requisitos das normas ISO 14.000 (meio ambiente),
OSHAS 18.000 (saúde e segurança do trabalho).
É produtora de gelatina, a unidade é especificamente produtora de gelatina farmacêutica, com
uma capacidade instalada de 450 t.mês-1 e um rendimento de 16%, ou seja, necessita de 2.800
t.mês-1 de couro para produzi-la.
Os principais insumos utilizados são raspas e aparas (couro) bovinas, água, energia térmica,
além dos produtos químicos: hidróxido de sódio (NaOH), ácido clorídrico (HCl), peróxido de
hidrogênio (H2O2), ácido sulfúrico (H2SO4) e hipoclorito de sódio (NaClO).
126
São geradas no final do processo, 10 t.mês-1 de gordura como subproduto, 600 m3/dia de lodo
biológico e 100 m3/dia de lodo primário.
O processo de fabricação, por natureza, gera uma alta carga de matéria orgânica, que é
trabalhada na ETE – Estação de Tratamento de Efluentes.
Segundo Sanches (2009), o desempenho sustentável tem sido aplicado em empresas e
indústrias, traduzindo um conceito mais amplo do desenvolvimento sustentável em aplicações
empresariais práticas, revisando e substituindo processos, produtos e serviços, de modo a
torná-los compatíveis com os ecossistemas da natureza. A autora ainda afirma que a estação
de tratamento de efluente deve ser vista como uma indústria que transforma matéria-prima
(esgoto bruto) em produto final (esgoto tratado), por isso deve-se aplicar o desempenho
sustentável nesse empreendimento.
Os projetos para o tratamento de efluentes coletados são desenvolvidos para atenuar os
impactos no meio ambiente, utilizando diversos sistemas alternativos.
Sendo assim, a sustentabilidade interligada aos sistemas de tratamento de efluentes, gera o
desafio da reflexão. Como a redução dos impactos ambientais é uma das principais funções de
uma ETE, estes sistemas devem ser concebidos para diminuir o seu impacto total no
ambiente, ao longo do seu ciclo de vida, tendo em vista que os impactos ambientais e
benefícios podem ocorrer em diferentes fases deste ciclo (MORRISSEY E BROWNE, 2004).
A Figura 71 ilustra o fluxograma da ETE da Indústria, área que se mostra como principal
responsável pelas emissões de odor, consequentemente, onde ocorre a maioria das ações
relacionadas a essa problemática.
Devido à necessidade de estar de acordo com os padrões vigentes, responsabilidade social,
preocupação com a sustentabilidade e também com a qualidade de vida do indivíduo como
um todo, fato constatado pelo próprio lema da empresa – “Improving Quality of Life” –
“Melhoria da Qualidade de Vida” – várias ações vêm sendo tomadas em busca de melhorias,
como pode ser observado através do Quadro 8.
127
Efluente
Calado / Lavado
Efluente
Fábrica
Fibras, Areia e Gordura
Peneira Rotativa
Compostagem
Caixa de Captação
Lagoa de Estabilização
Flotador
Agricultura
Biodigistor
Biogás
Caldeira ou
Flare
Fertirrigação
Centrífugas
Tanque de Recirculação
Lagoa de Aeração
Córrego Santa
Elisa
Clarificador
Lodo Aeróbio
FIGURA 71: Fluxograma da Estação de Tratamento de Efluentes
QUADRO 8: Cronograma macro das ações implementadas pela indústria
Ano
Ação Implementada
2002
Criação, Manutenção e Preservação de Áreas Verdes ao redor da Indústria
2007
Ampliação do Sistema de Fertirrigação
2008
Instalação de Biofiltro – Recepção de Matéria Prima
2009
Instalação do Reator Anaeróbio com Sistema de Queima (Biodigestor UASB)
2009
Instalação do Reator Anaeróbio com Sistema de Queima (Biodigestor UASB) – ETE
2009
Instalação de Biofiltro – ETE
2011
Startup do Sistema de Queima de Biogás para geração de vapor
2011
Instalação do estacionamento de caminhão de Matéria Prima no Distrito Industrial II
4.5.2 Áreas Verdes
A vegetação é importante para a manutenção da qualidade ambiental de uma determinada
área, pois protege o solo contra a erosão, reduz o fluxo das águas superficiais, dificulta o
assoreamento dos cursos d’água e traz benefícios paisagísticos.
128
Muitos dos atuais programas de desenvolvimento buscam a melhoria da qualidade de vida no
meio urbano. Áreas verdes são elementos cruciais para alcançar estes objetivos. Elas são os
elementos naturais dentro do ambiente extremamente artificial em que as nossas cidades se
transformaram, relevantes para o bem-estar e as condições de saúde da população, por
promoverem a biodiversidade, constituírem importante parte da paisagem urbana, por
trazerem benefícios econômicos significativos e formarem espaços estruturais e funcionais
fundamentais para transformar as nossas cidades em áreas mais agradáveis de viver.
A Indústria executou um projeto de criação, manutenção e preservação de um cinturão verde
(Figuras 72 e 73) próximo à sua localização, possuindo 650m de comprimento e 50m de
largura, totalizando 32.500m2, denominado Bosque Engenheiro Trombini. Essa área hoje está
sob responsabilidade da Indústria.
FIGURA 72: Área em frente à Indústria Química antes do Projeto Cinturão Verde
Fonte: Indústria Química
Além de funcionar como um quebra-vento natural, protegendo o bairro contra os referidos
odores provenientes do parque industrial, como foi relatado no item 4.2 dessa dissertação; e
ser um habitat para plantas e animais, essa área verde também funciona como lugar da
recreação e lazer, servindo para neutralizar os fatores urbanos estressantes, como ruído, calor
e poluição do ar.
129
FIGURA 73: Cinturão Verde situado em frente à Indústria Química
Fonte: Google Earth (2013)
O exercício do lazer e da recreação em espaços adequados funciona como anti-estressante, já
que as pessoas relaxam em contato com os elementos naturais nessas áreas, utilizando-as
também como local de caminhada e exercícios físicos, contribuindo não somente para a
sustentabilidade ambiental como também para a vertente social, melhorando a qualidade de
vida do indivíduo.
4.5.3 Fertirrigação
Em observância à legislação governamental referente ao tratamento de efluentes, os resíduos
gerados na ETE são utilizados como melhoradores de solo, devido às suas características
nutricionais, sendo aplicados nas áreas agrícolas através de fertirrigação, via tubulação e
caminhão e aspersão, seguindo os requisitos da legislação vigente do Estado de São Paulo e
CONAMA 375/06.
A Indústria aumentou sua capacidade de irrigação em 130% beneficiando maior área de
cultivo da cana-de-açúcar e de milho em localidades distantes de 6 a 8 km da empresa.
De acordo com Bernardi (2003), são vários os benefícios da água de reuso provenientes de
tratamento de efluentes na agricultura, podendo-se mencionar:
130

A possibilidade de substituição parcial de fertilizantes químicos, com diminuição do
impacto ambiental, em função da redução da contaminação de curso d’água;

Aumento na produção;

Economia da quantidade de água direcionada para a irrigação, que pode ser utilizada
para o abastecimento público.
Segundo Brega Filho & Mancuso (2002), a prática de reuso de água na agricultura, além de
garantir a recarga do lençol freático, serve para fertirrigação de diversas culturas.
A utilização de água proveniente de reuso deve ser direcionada para a irrigação de plantas não
comestíveis (silvicultura, pastagens, fibras e sementes), porém para plantas comestíveis essas
águas necessitam de um nível maior de qualidade, principalmente em relação às questões
sanitárias. Nesse sentido, o sistema de irrigação por gotejamento, minimiza o problema em
relação à aspersão. No que se refere aos patógenos, vetores de doenças prejudiciais ao ser
humano, é preciso destacar que o solo atua como redutor do período de sobrevivência dos
mesmos (BERNARDI, 2003).
Hoje a Indústria também reutiliza cerca de 15% da água captada, além de desenvolver
processos de melhoria visando à sua redução, fatores que têm sua contribuição econômica e
ambiental em relação à sustentabilidade.
4.5.4 Biofiltros
A biofiltração consiste na passagem dos gases odorantes através de um meio filtrante constituído
de material orgânico: turfa, composto orgânico, lodo desidratado de estações de tratamento de
efluentes, solo orgânico e outros. O meio filtrante deve estar úmido (50% a 80%) e rico em microorganismos. Neste meio úmido e oxigenado, os compostos voláteis são transferidos da fase
gasosa para o biofilme líquido através do mecanismo de absorção, e degradados pelos
microrganismos através do processo de oxidação (KOWAL, 1993).
131
A Indústria possui duas estações de tratamento de odor, ambas utilizando como material
orgânico a casca de eucalipto. A casca do eucalipto tem como vantagem a sua abundância e
seu baixo custo, porém, seu baixo teor de lenhina faz com que seja altamente biodegradável.
O Biofiltro RTMP (Figura 74), situado na área de recepção e tratamento de matéria-prima
(raspas e aparas de boi), com a função de aspirar possíveis gases, como NH3, gerados em
decorrência da decomposição natural da matéria-prima. Esses gases são aspirados, passam por
lavadores e são direcionados para o filtro biológico. A Figura 75 ilustra o Biofiltro ETE,
utilizado para tratamento de odor proveniente do sistema de tratamento de efluentes, que
possui uma alta taxa de concentração de H2S.
Foram medidas as concentrações de H2S próximo ao Biofiltro ETE e o detector nada acusou.
FIGURA 74: Biofiltro da RTMP (Recepção e Tratamento de Matéria Prima)
Burgess, Parsons e Stuetz (2001) citam que, dentre as principais vantagens do biofiltro, têmse: planta simples e flexível; eficiente no tratamento de altos volumes e baixa concentração
dos compostos sulfurosos; remoção de 99% de aldeídos, ácidos orgânicos, dióxido de
enxofre, óxidos de nitrogênio e sulfeto de hidrogênio; 90% de remoção de metano, propano e
isobutano.
132
FIGURA 75: Biofiltro da Estação de Tratamento de Efluentes
A biofiltração é viável e possui uma excelente relação custo-benefício para tratamento de
correntes de ar com baixa concentração de poluentes. O baixo custo de operação resulta da
utilização da oxidação microbiológica nas condições ambientes. Sob determinadas condições,
alta eficiência de remoção pode ser alcançada e o processo não agride o meio ambiente (WU
et al., 1998).
A Figura 76 representa os eventos que ocorrem no biofiltro durante o tratamento de ácido
sulfídrico e amônia.
Segundo Da Silva (2008), a eficiência na remoção de compostos odoríferos através de
Biofiltro é superior a 70%, podendo chegar a valores próximos a 100%, dependendo das
condições operacionais e do material filtrante, mostrando que esse método é altamente viável
devido à eficiência e baixo custo de operação.
A utilização de biofiltros reduzindo a concentração de compostos odoríferos contribui para a
melhora da qualidade de vida da população, pois certamente diminui o índice de incômodo
por odores daqueles que habitam as proximidades da indústria.
133
Gás Poluente
H2S
NH3
-
NH4
Transferência em
meio úmido
HS
Biomassa
Autotrófico aeróbio
(Thiobacillus)
Heterotrófica
Autotrófica
(Nitrobacter e
Nitrossomonas)
Necessidade de
nutrientes
Alcalinidade
Fósforo
Nitrogênio
Oligoelementos
Alcalinidade
Fósforo
Oligoelementos
Produto Final
2-
S → SO4
2-
+
-2
-
NO2 → NO3
- NO3
-
Figura 76: Mecanismos biológicos para eliminar H2S e NH3
Fonte: adaptado de Belli Filho et al. (2001)
4.5.5 Biogás
Como já exposto no item 4.3, a empresa possui um biodigestor instalado em sua planta,
visando não só ao tratamento de efluentes, como também ao ganho ambiental e à minimização
de recursos.
Recentemente instalado, esse equipamento produz biogás que é utilizado como combustível
na alimentação da caldeira, gerando uma economia financeira de 7% e uma redução do
consumo de aproximadamente 60 t.mês-1 de óleo BPF (óleos pesados de baixo ponto de
fluidez). Estudos internos da Indústria indicam que essa economia poderá chegar a 15%
quando o biodigestor estiver operando com sua máxima eficiência.
A composição média dos gases produzidos a partir da biodigestão anaeróbia está descrita na
Tabela 14 (SALOMOM, 2007).
134
TABELA 14: Composição do biogás formado na digestão anaeróbia (Base molar)
Gases
Metano (CH4)
Dióxido de Carbono (CO2)
Hidrogênio (H2)
Nitrogênio (N2)
Oxigênio (O2)
Sulfeto de Hidrogênio (H2S)
Amônia (NH3)
Monóxido de Carbono (CO)
Água (H2O)
Fonte: Salomom (2007)
Porcentagem no Biogás
40 a 75
25 a 40
1a3
0,5 a 2,5
0,1 a 1
0,1 a 0,5
0,1 a 0,5
0 a 0,1
Variável
Como pode ser observado, o metano está presente em uma grande quantidade no biogás. A
fim de se utilizar o biogás produzido no biodigestor como fonte de combustível é necessária a
remoção de impurezas presentes no gás, como sulfeto de hidrogênio, amônia e outros gases;
além da redução da concentração de dióxido de carbono aumentando seu poder calorífico.
Atualmente a Indústria utiliza o biogás sem qualquer tratamento para alimentar a caldeira,
substituindo o óleo BPF como combustível.
4.5.6 A Indústria e o Órgão Fiscalizador Ambiental
A CETESB é o órgão que tem por missão promover e acompanhar a execução das políticas
públicas ambientais e de desenvolvimento sustentável, assegurando a melhoria contínua da
qualidade do meio ambiente de forma a atender às expectativas da sociedade no Estado de
São Paulo.
Esta tem por competência atuar na execução das políticas de meio ambiente e de
desenvolvimento sustentável, notadamente no âmbito das questões que afetam as mudanças
climáticas e emissão de poluentes atmosféricos, da avaliação de impacto ambiental, dos
resíduos, da prevenção de riscos ambientais graves, da prevenção e controle integrado da
poluição, da proteção aos mananciais e da educação ambiental, assegurando a participação e
informação da população do Estado de São Paulo (CETESB, 2013).
De acordo com pesquisa levantada junto à mesma, a CETESB (2013) cita que:
135
“A Indústria objeto do estudo, entre 19 de dezembro de 2002 e 11 de setembro de
2009, teve 55 registros de reclamações da população, sendo a maioria por
incômodos causados por odor”.
“Noticie-se que o último registro de reclamação da população é de 11 de setembro
de 2009”.
“Em 2006, houve uma concentração de registros de reclamação pública, sobretudo
nos meses de setembro, novembro e dezembro. Muitos desses registros ocorreram
de forma concentrada no mesmo dia e mês”.
“A partir daí, e em razão das ações de fiscalização, seguida de medidas mitigadoras
empreendidas pela empresa, esses registros de reclamação da população diluíramse pelos anos, sendo 3 registros em 2007, 5 registros em 2008 e 2 registros em 2009,
tendo o último ocorrido em 11 de setembro de 2009”.
Percebe-se claramente que as ações que vêm sendo tomadas com o passar dos anos estão
repercutindo positivamente em favor da Indústria, como pode ser notado nas palavras do
próprio órgão fiscalizador.
Isso mostra que os resultados das ações estão fazendo com que a Indústria esteja
completamente inserida nas resoluções das problemáticas da atualidade, fazendo com que a
mesma caminhe para um mundo mais sustentável e para uma melhor qualidade de vida dos
cidadãos.
136
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização do presente projeto teve como objetivo avaliar o impacto ambiental de
substâncias odoríferas geradas a partir da emissão de gases oriundos de uma indústria
química.
Para tal, analisou-se a percepção da população no entorno da indústria em relação aos odores,
através de questionário.
De acordo com a população, a indústria é a principal responsável pela emissão dos compostos
odorantes;
Verificou-se que, apesar de se sentirem incomodados com o odor, os indivíduos percebem que
esse é menor do que tempos atrás, inferindo que as ações realizadas pela indústria atenuaram
o problema;
Após essa análise e conhecimento dessa percepção, partiu-se para a identificação dos
compostos odorantes presentes na indústria química. Ficou constatado que o gás sulfídrico era
o principal responsável pelas emissões da indústria.
As condições atmosféricas, principalmente a direção do vento, contribuem para que esse
problema se acentue, visto que o vento sopra no sentido da indústria para o bairro;
O processo de fabricação da indústria gera uma grande quantidade de material orgânico em
seu efluente, devido à sua natureza, tornando-se um fator complicador no processo;
O tratamento desse efluente gera uma grande quantidade de H2S, principalmente na
composição do biogás, produzido pelo biodigestor;
As emissões fugitivas de gás, inerentes às indústrias de um modo geral, estão presentes,
tornando-se um problema para a indústria analisada;
137
Foram medidas as concentrações de H2S nos principais pontos de emissão do gás e gerados
mapas dessas concentrações sobre a indústria, tanto em condições normais de operação
quanto em condições extremas.
Verificou-se que, seja através de flanges e válvulas, ou mesmo na purga da tubulação do
biogás e coleta de amostras para análise, a fuga do H2S é o elemento principal na geração de
odores da indústria;
Partindo dessas concentrações, procurou-se estimar a dispersão do gás sobre a indústria e no
seu entorno.
Em condições normais, percebeu-se que os gases odorantes gerados, provavelmente não
ultrapassam os limites da indústria, porém, nas condições de coleta de amostras e drenagem
do biogás, esses, dependendo das condições climáticas, podem se dispersar sobre o bairro
circunvizinho;
O limite de percepção do H2S é muito baixo, fazendo com que concentrações muito baixas do
poluente possam ser percebidas por alguns indivíduos, tornando-se um fator de incômodo,
como comprovado pelos questionários;
Finalmente, foram avaliadas as ações gerenciais da indústria relacionando-as à prevenção das
emissões odorantes e ao desenvolvimento sustentável e qualidade de vida.
Através de diversas ações, a indústria tem procurado se enquadrar nas diretrizes atuais
vigentes, preocupando-se com as questões de sustentabilidade e de qualidade de vida, fato que
pôde ser comprovado através da criação de áreas verdes em seu entorno; da instalação dos
biofiltros, visando à atenuação dos odores do efluente; do envio de parte do efluente tratado
para a fertirrigação e da instalação do biodigestor anaeróbio que, além de tratar parte do
efluente, gerará biogás que substituirá o óleo de origem fóssil na turbina para geração de
energia.
138
A resposta positiva em relação à indústria pôde ser comprovada pelo próprio órgão
fiscalizador, CETESB, que ponderou a diminuição do número de reclamações da população
em relação ao odor, ratificando as ações tomadas pela empresa.
Como sugestões de trabalhos futuros, sugere-se que seja feito um estudo mais aprofundado
dos pontos de fuga de gás sulfídrico na planta da indústria, pois podem ter sido subestimados.
Outro fato a ser considerado é a substituição do aparelho detector de gases por um aparelho
com capacidade de leitura maior, obtendo dados mais precisos.
Apesar da crescente preocupação em relação à questão do odor, no Brasil, são poucos os
estudos realizados em torno desse tema. A maior parte das pesquisas, em Engenharia Sanitária
e Ambiental, ainda se apoia sobre tratamento de resíduos sólidos e líquidos bem como águas
de abastecimento. Entretanto, similarmente ao que já vem se observando em âmbito
internacional, a expectativa é de que, também no Brasil, ocorra um aumento no controle de
fontes industriais, como a adoção de padrões de emissão mais rígidos (específicos para fontes
de diferentes naturezas) e a inclusão de um programa de medida e controle/abatimento de
odores.
Assim sendo, acredita-se que os objetivos desse estudo foram atingidos: a percepção da
população em relação ao odor proveniente da indústria foi analisada, foi gerado um mapa
desse odor sobre a indústria e também no seu entorno, contrastando cos resultados dos
questionários e foi feita a avaliação da indústria em relação à prevenção das emissões
odorantes.
Por fim, como forma de ratificação do trabalho realizado, alguns indicadores constatados no
projeto já estão sendo utilizados pela própria indústria em busca de melhorias no seu processo
produtivo e de uma melhor inserção do mercado futuro.
Esse projeto resultou num processo de enriquecimento, quer em nível da experiência
adquirida numa área proeminente como o tratamento de odores, quer em nível pessoal, pelo
envolvimento com todos que colaboraram para o sucesso do mesmo, ou ainda pelo sentimento
de realização perceptível no seu desfecho.
139
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149
ANEXO A – Questionário Investigação dos Incômodos Causados pelos Maus Odores
Investigação dos Incômodos Causados pelos Maus Odores
01 – Você sente algum odor que te incomoda?
Sim
Não
02 – Quais tipos de incômodos os odores provocam em você?
Intranquilidade
Irritação na Garganta
Perda de Apetite
Náusea
Irritação nos Olhos
Outros
Insônia
Vômito
Não Sei
Irritação
Dor de Cabeça
03 – Você pode descrever esse odor?
Ovo Estragado
Tinta
Gasolina
Esgoto
Fertilizante
Não Sei
Óleo Queimado
Gás
04 – O odor que você percebe:
Não Incomoda
Incomoda
Incomoda um Pouco
Incomoda Muito
Incomoda Extremamente
05 – O odor que você percebe é:
Muito Fraco
Médio
Fraco
Forte
Muito Forte
06 – Qual a frequência que você sente o odor?
Todos os Dias
Periodicamente
Raramente
Manhã ( 6 as 12h )
Noite ( 18 as 24h )
Não Sei
Tarde ( 12 as 18h )
Madrugada ( 24 as 6h )
07 – Qual o período do dia que o odor te incomoda?
08 – Você sente mais odor desagradável quando o tempo está?
Ensolarado
Chuvoso
Independente da Condição
Nublado
Antes da Chuva
Não Sei
09 – Qual estação do ano é mais frequente a percepção dos odores desagradáveis?
Primavera
Inverno
Verão
Nenhuma
Outono
Todas
Não Sei
10 – Você sente o odor quando a direção do vento está?
Norte
Leste
Independente
Sul
Oeste
Não Sei
Menos de 5 Anos
11 a 15 Anos
Mais de 20 Anos
5 a 10 Anos
16 a 20 Anos
11 – Há quanto tempo mora nesse bairro?
12 – O odor percebido atualmente, em relação ao passado é:
Maior
O mesmo
Menor
13 – Você saberia dizer a proveniência do odor que percebe?
150
ANEXO B – Certificado de calibração aparelho detector de gases QRAE II Plus
151
152
153
APÊNDICE A – Questionário Sócio Demográfico
Perfil Sócio Demográfico
01 – Mora em Mococa?
Sim
Não
________________________
02 – Mora em que Bairro?
03 – Sexo:
Feminino
Masculino
04 – Idade:
18 a 25 anos
36 a 50 anos
26 a 35 anos
Mais de 50 anos
Analfabeto
Ensino médio completo
Ensino fundamental incompleto
Ensino superior incompleto
05 – Grau de escolaridade:
Ensino fundamental completo
Ensino superior completo
Ensino médio incompleto
Pós – graduado
Professor
Mecânico
06 – Profissão:
Comerciante
Operário
Médico
Enfermeiro
Empresário
Dentista
Do Lar
Engenheiro
Estudante
Outra: ____________________
07 – Renda familiar:
Até 2 SM
De 5 a 6 SM
De 2 a 3 SM
De 6 a 7 SM
De 4 a 5 SM
Acima de 8 SM
De 3 a 4 SM
De 7 a 8 SM
08 – Há serviço de coleta de lixo no seu bairro?
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
09 – Há rede de esgoto no seu bairro?
10 – Há água tratada em seu bairro?
11 – Sua rua é pavimentada?
12 – Há coleta seletiva do lixo em seu bairro?
Sim
Não
13 – Em sua residência separa-se o lixo para descarte?
Sim
Não
Sim
Não
14 – Você é Fumante?
15 (1) – Você sente algum cheiro (odor) em seu bairro que te incomoda?
Sim
Não
154
APÊNDICE B – Resultados comparativos dos questionários – Jd. São Domingos e branco de
campo aplicado no Bairro Aparecida
Questionário Sócio Demográfico
Morador de Mococa
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Sim
Não
Jd. São Domingos
100,00%
0,00%
Aparecida
100,00%
0,00%
FIGURA 77: Moradores de Mococa
Bairro
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Sim
Não
Jd. São Domingos
100,00%
0,00%
Aparecida
100,00%
0,00%
FIGURA 78: Moradores dos Bairros Jd. Morro Azul e Aparecida
Sexo
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Masc.
Fem.
Jd. São Domingos
43,26%
56,74%
Aparecida
33,33%
66,67%
FIGURA 79: Moradores classificados por sexo
155
Idade
50,00%
45,00%
40,00%
35,00%
30,00%
25,00%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
18 a 25
26 a 35
36 a 50
Mais de 50
Jd. São Domingos
12,09%
16,28%
24,19%
47,44%
Aparecida
6,67%
20,00%
30,00%
43,33%
FIGURA 80: Moradores classificados por idade
Grau de Escolaridade
50,00%
45,00%
40,00%
35,00%
30,00%
25,00%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
Analf.
E.F.I.
E.F.C.
Jd. São Domingos 0,93% 12,56% 9,30%
Aparecida
E.M.I. E.M.C.
E.S.I.
E.S.C.
P.Grad
.
9,30% 36,28% 5,58% 21,40% 4,65%
0,00% 13,33% 13,33% 3,33% 43,33% 0,00% 23,33% 3,33%
FIGURA 81: Moradores classificados por grau de escolaridade
Profissão
35,00%
30,00%
25,00%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
Prof.
Comerc.
Oper.
Empres.
Do Lar
Estud.
Mec.
Méd.
Enf.
Dent.
Eng.
Outra
Jd. São Domingos
6,05%
8,37%
4,65%
4,19%
33,02%
6,51%
2,79%
0,47%
0,93%
1,40%
1,86%
29,77%
Aparecida
6,67%
3,33%
13,33%
10,00%
26,67%
0,00%
6,67%
0,00%
3,33%
0,00%
3,33%
26,67%
FIGURA 82: Moradores classificados por profissão
156
Renda Familiar
35,00%
30,00%
25,00%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
4a5
5a6
6a7
7a8
Mais
de 8
Jd. São Domingos 28,84% 32,56% 14,42% 9,77%
4,19%
2,33%
0,93%
6,98%
Aparecida
3,33%
6,67%
3,33%
6,67%
Até 2
2a3
3a4
13,33% 20,00% 30,00% 6,67%
FIGURA 83: Moradores classificados por renda familiar
Coleta de Resíduos Domiciliares
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Sim
Não
Jd. São Domingos
99,07%
0,93%
Aparecida
100,00%
0,00%
FIGURA 84: Moradores que disseram existir coleta de resíduos domiciliares no bairro
Rede de Esgoto
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Sim
Não
Jd. São Domingos
100,00%
0,00%
Aparecida
100,00%
0,00%
FIGURA 85: Moradores que disseram existir rede de esgoto no bairro
157
Água Tratada
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Sim
Não
Jd. São Domingos
100,00%
0,00%
Aparecida
100,00%
0,00%
FIGURA 86: Moradores que disseram existir água tratada no bairro
Rua Pavimentada
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Sim
Não
Jd. São Domingos
99,53%
0,47%
Aparecida
100,00%
0,00%
FIGURA 87: Moradores que disseram residir em rua pavimentada
Coleta Seletiva
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Sim
Não
Jd. São Domingos
66,51%
33,49%
Aparecida
63,33%
36,67%
FIGURA 88: Moradores que disseram existir coleta seletiva no bairro
158
Separação do Resíduo Domiciliar para Descarte
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Sim
Não
Jd. São Domingos
80,47%
19,53%
Aparecida
86,67%
13,33%
FIGURA 89: Moradores que disseram separar o resíduo domiciliar para descarte
Fumante
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Sim
Não
Jd. São Domingos
16,74%
83,26%
Aparecida
13,33%
86,67%
FIGURA 90: Moradores que são fumantes
Percepção de Odor
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Sim
Não
Jd. São Domingos
49,30%
50,70%
Aparecida
10,00%
90,00%
FIGURA 91: Moradores que disseram perceber algum tipo de odor no bairro
(Avaliação da existência do problema)
159
Questionário de Investigação de Incômodos Causados pelos Maus Odores
Avaliação do Incômodo
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Intranq.
Náusea
Insônia
Irritação
Irrit. Garg.
Irrit.
Olhos
Vômito
Dor Cab.
Perda
Apet.
Outros
Não Sei
Jd. São Domingos
38,68%
13,21%
4,72%
22,64%
3,77%
0,94%
3,77%
11,32%
7,55%
5,66%
14,15%
Aparecida
66,67%
0,00%
0,00%
33,33%
0,00%
0,00%
0,00%
33,33%
0,00%
33,33%
0,00%
FIGURA 92: Avaliação do incômodo em relação ao odor
Avaliação do Caráter
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Ovo
Estrag.
Esgoto
Óleo
Queim.
Tinta
Fertiliz.
Gás
Jd. São Domingos
52,83%
66,04%
1,89%
0,94%
2,83%
1,89%
0,94%
6,60%
Aparecida
0,00%
33,33%
0,00%
0,00%
0,00%
0,00%
0,00%
66,67%
Gasolina Não Sei
FIGURA 93: Avaliação do caráter do odor
Avaliação da Hedonicidade
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Não
Incomoda
Incom.
Pouco
Incomoda
Incom.
Muito
Incom.
Extrem.
Jd. São Domingos
2,83%
29,25%
33,02%
29,25%
5,66%
Aparecida
33,33%
66,67%
0,00%
0,00%
0,00%
FIGURA 94: Avaliação do perfil hedônico do odor
160
Avaliação da Intensidade
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Muito
Fraco
Fraco
Médio
Forte
Muito
Forte
Jd. São Domingos
1,89%
7,55%
50,00%
31,13%
9,43%
Aparecida
66,67%
33,33%
0,00%
0,00%
0,00%
FIGURA 95: Avaliação da intensidade do odor
Avaliação da Frequência
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Todo Dia
Periodic.
Jd. São Domingos
15,09%
63,21%
Raramente
21,70%
Aparecida
0,00%
0,00%
100,00%
FIGURA 96: Avaliação da periodicidade do odor
Avaliação dos Períodos de Percepção
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Manhã
Tarde
Noite
Madrugada
Jd. São Domingos
9,43%
54,72%
33,96%
3,77%
Não Sei
5,66%
Aparecida
0,00%
33,33%
33,33%
0,00%
33,33%
FIGURA 97: Avaliação dos períodos de percepção do odor
161
Avaliação das Condições Climáticas
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Ensolarado
Nublado
Chuvoso
Antes da
Chuva
Indep. da
Condição
Jd. São Domingos
26,42%
3,77%
10,38%
0,00%
56,60%
4,72%
Aparecida
0,00%
0,00%
0,00%
0,00%
33,33%
66,67%
Não Sei
FIGURA 98: Avaliação das condições do tempo de maior percepção do odor
Avaliação das Estações do Ano
70,00%
Título do Eixo
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Primav.
Verão
Outono
Inverno
Nenhum
Todas
Jd. São Domingos
1,89%
29,25%
0,94%
3,77%
0,00%
57,55%
Não Sei
8,49%
Aparecida
0,00%
0,00%
0,00%
0,00%
0,00%
66,67%
33,33%
FIGURA 99: Avaliação da percepção do odor em relação às estações do ano
Avaliação da Direção do Vento
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Sul
Leste
Oeste
Indep.
Jd. São Domingos 28,30%
Norte
2,83%
11,32%
1,89%
40,57% 14,15%
Aparecida
0,00%
0,00%
0,00%
33,33% 66,67%
0,00%
Não Sei
FIGURA 100: Avaliação da percepção do odor em relação à direção do vento
162
Avaliação do Tempo de Residência
35,00%
30,00%
25,00%
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
Menos
de 5
5 a 10
11 a 15
16 a 20
Mais de
20
Jd. São Domingos
24,53%
20,75%
15,09%
16,04%
23,58%
Aparecida
0,00%
0,00%
33,33%
33,33%
33,33%
FIGURA 101: Tempo em que reside no bairro
Avaliação da Percepção x Passado
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Maior
O Mesmo
Menor
Jd. São Domingos
8,49%
43,40%
48,11%
Aparecida
0,00%
100,00%
0,00%
FIGURA 102: Avaliação da percepção do odor em relação ao passado
Avaliação da Proveniência do Odor
100,00%
90,00%
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%
Indústria Química
Outros / Não Sabe
Jd. São Domingos
77,36%
22,64%
Aparecida
0,00%
100,00%
FIGURA 103: Avaliação da proveniência do odor
163
APÊNDICE C – Resultados de saída do QRAE II Plus para uma amostra
164
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167
168
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CHRISTIAN ALBERTO LOPES BURRONE DE FREITAS