OS ACIDENTES QUÍMICOS: UM ALERTA AS DISCIPLINAS
DE PROCESSOS INDUSTRIAIS
Fernando B. Mainier1
Universidade Federal Fluminense
Departamento de Engenharia Química, GESET Grupo de Estudos Sobre Ensino Tecnológico
Rua Passo da Pátria 156 - S. Domingos – Niterói,
Rio de Janeiro, CEP 24210-240,
[email protected]
Resumo. As indústrias armazenam e manipulam, direta ou indiretamente, grande quantidade de
produtos químicos e combustíveis. O manuseio destas substâncias é controlado por normas e
procedimentos que visam a minimizar os riscos, os danos aos equipamentos e ao meio ambiente e
preservar a saúde do trabalhado. Entretanto, o conhecimento destas normas não impede os
acidentes fatais e as contaminações ambientais que vêm ocorrendo nestes últimos 40 anos. A
maioria destes processos foi concebida no início do século ou na década de quarenta, quando os
princípios da preservação do homem, do ambiente e da segurança industrial não eram requisitos
fundamentais nas implantações destes complexos industriais. Muitos acidentes químicos têm
deixado rastros de destruição em muitas partes do mundo como Bhopal (Índia) e Minamata
(Japão). Os vazamentos de cloro, sulfeto de hidrogênio, amônia, ácido clorídrico, ácido sulfúrico e
ácido nítrico que vêm ocorrendo nas indústrias ou nos transportes ferroviários e/ou rodoviários
causam grandes perdas materiais, ambientais e mortes. Objetiva-se neste trabalho, com base nestes
fatos, inserir nos programas das disciplinas de processos industriais uma conscientização técnicocrítica que relacione os acidentes químicos aos processos industriais vigentes.
Palavras-chave: contaminação, meio ambiente, segurança industrial.
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1.
INTRODUÇÃO
As grandes transformações que ocorreram na civilização ao longo do tempo, modificaram hábitos, criando
filosofias, normas e resoluções que resultaram na evolução do homem primitivo, que passou de simples caçador à
procura de alimentos ao atual gestor de tecnologias ou dos grandes complexos industriais.
Desde os primórdios das civilizações, segundo Fellenberg [1], os despejos dos sistemas de produção, artesanais
ou semi-industrializados, eram lançados no meio ambiente, principalmente nos cursos d’água ou no ar atmosférico. Não
restam dúvidas de que havia, naquela época, uma preocupação com o cheiro desagradável ou com as fumaças
agressivas que tais sistemas exalavam, de tal forma que, tanto na Grécia quanto na Roma Antiga, as fundições de cobre
e prata, as fábricas de azeite, os matadouros e os curtumes eram localizados em zonas desabitadas e longe da cidade.
No entanto, com o crescimento das cidades, tais sistemas ficavam mais próximos, de tal modo, que a
agressividade e o desconforto com o mau cheiro exalado destas ações produtivas voltavam a incomodar e a preocupar a
classe dominante; então, transferiam-se novamente os corpos poluidores para mais longe. O problema industrial não era
resolvido e continuava a exalar contaminantes e na maioria das vezes era apenas deslocado para pontos mais distantes.
A degradação ambiental vem ocorrendo de forma sistemática a partir da Revolução Industrial do século XIX,
entretanto, o quadro nestas últimas décadas tem apresentado um crescimento espetacular, principalmente em função das
atividades tecnológicas desenvolvidas a qualquer custo sem se importem com as conseqüências a curto e a longo prazo.
Segundo Doménech [2], os grandes volumes de resíduos lançados no ar, na água e no solo estão começando a
ser protagonistas indesejáveis da vida diária da sociedade, pois têm impregnado os costumes da sociedade ocidental,
colocando em perigo a vida no planeta.
A queima de combustíveis, seja de óleo diesel, gasolina, gás natural ou álcool, fundamentais para impulsionar
navios, trens, caminhões, ônibus e automóveis, resultam na grande poluição atmosférica da atualidade. A presença dos
contaminantes provenientes desta queima polui as principais cidades do planeta, onde são comuns o dióxido de carbono
(CO2), o monóxido de carbono (CO), o dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOX), partículas sólidas, etc.
A atmosfera é um sistema muito complexo, no qual os fenômenos meteorológicos e químicos que interagem
com os efluentes gasosos industriais acarretam graves conseqüências para as populações que habitam as grandes
cidades, produzindo doenças respiratórias e/ou processos de corrosão que deterioram os monumentos, as construções
civis e os equipamentos em geral.
Na ótica de Tigre et al.[3], a sociedade de um modo geral, ainda está longe de entender, com rigor, os efeitos
ambientais de muitas práticas industriais. Conseqüentemente, as ações públicas e privadas são pouco adequadas para
tratar dos problemas daí derivados. Além disso é bastante limitado o conhecimento sobre os efeitos “colaterais” de
muitos materiais e de formulações químicas que, à primeira vista, surgem como grandes soluções técnicas; pouco se
sabe sobre a efetividade de sistemas para estocar e reprocessar os resíduos e são desconhecidas as conseqüências da
combinação dos diferentes componentes químicos. Ou seja, na verdade, pouco se conhece sobre as relações entre
tecnologia, meio ambiente e desenvolvimento.
O futuro da nova revolução industrial ambientalmente viável fatalmente passará pelo controle e descoberta de
formas de produção menos contaminantes e menos consumidoras de energia. Novas pesquisas, provavelmente,
decretarão a obsolescência, substituição, transformação de materiais e reutilização e/ou reprocessamento de materiais e
processos, por outros similares com características exeqüíveis, ainda que resultem em custos mais onerosos.
Não se tem certeza que tais projetivas resultem em benefícios. É provável que sejam intangíveis para um futuro
próximo, sem contar que, às portas do limiar do século XXI, pouco se fez e quase nada se acena numa época em que os
fenômenos químicos estão a eclodir sem fronteiras, desafiando o próprio destino da humanidade, à beira de um colapso
ecológico diante dos vários acidentes que têm ocorrido nos processamentos químicos.
Muitos acidentes químicos têm deixado rastros de destruição em muitas partes do mundo. Os vazamentos de
cloro, sulfeto de hidrogênio, amônia, ácido clorídrico, ácido sulfúrico, ácido nítrico, entre outros que vêm ocorrendo nas
indústrias ou nos transportes ferroviários e/ou rodoviários, causam grandes perdas materiais, ambientais e mortes daí a
necessidade de inserir no programa da disciplina de processos industriais uma conscientização técnica-crítica que
relacione os acidentes químicos aos processos industriais vigentes.
2.
A DISCIPLINA PROCESSOS INORGÂNICOS
A ementa da disciplina de Processos Inorgânicos do Curso de Engenharia Química da Universidade Federal
Fluminense apresentada, a seguir:
Processos clássicos e modernos dos seguintes produtos: enxofre e ácido sulfúrico, barrilha e
soda cáustica, cloro e ácido clorídrico, amônia, ácido nítrico, fertilizantes nitrogenados,
fósforo, ácido fosfórico e fertilizantes fosfatados, fertilizantes potássicos. Gases industriais:
oxigênio, nitrogênio, gás carbônico e hidrogênio;
visa a atingir os seguintes objetivos:
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•
identificar e caracterizar os diversos tipos de processos inorgânicos utilizados na obtenção
de produtos químicos que por sua vez podem ser usados em vários segmentos industriais;
•
reconhecer e estabelecer as relações críticas entre o conhecimento dos processos químicos e
o meio ambiente com base na contaminação industrial ou nos tratamentos de efluentes;
•
visualizar e consolidar a visão do presente e do futuro com base nos princípios e diretrizes
das tecnologias limpas.
A maioria dos processos constantes da ementa referenciada foi concebida no início do século ou na década de
quarenta, onde os princípios da preservação do homem, do ambiente e da segurança industrial não eram requisitos
fundamentais nas implantações destas grandes indústrias de base.
Atualmente, é comum, no mínimo, a existência de três tecnologias competitivas para fabricação de um mesmo
produto inorgânico clássico, entretanto, dependendo de sua utilização é fundamental estabelecer critérios diversos para
cada processo industrial, por exemplo, os critérios de uma indústria farmacêutica são inteiramente diferentes da
indústria petroquímica, daí a importância definir critérios amplos ou detalhados para cada ação industrial.
Em função dos acidentes químicos que podem ocorrer nos processos industriais, é fundamental conscientizar o
Engenheiro Químico da responsabilidade no uso, direto ou indireto, de um produto químico e das tecnologias correlatas
de sua produção.
3.
OS ACIDENTES QUÍMICOS
Segundo Wongtschowski [4], a indústria química nasceu da necessidade de complementação das atividades
básicas ligadas à preservação da vida humana. O grande desenvolvimento e o sucesso da indústria química moderna
originaram-se do êxito na realização de descobrir novos produtos e materiais através de ensaios laboratoriais e no
desenvolvimento desses ensaios para produção em escala industrial.
As Agências Ambientais dos países industrializados têm realizado estudos mostrando o grande número de
acidentes de pequeno e de grande porte que ocorreram nos processamentos industriais.
Com relação aos vazamentos industriais de grande porte, Tolba [5] relata que ocorreram cerca de 180 acidentes
graves no período compreendido entre 1970-1990, ocasionando descargas poluentes no meio ambiente que resultaram
em 250.000 feridos e 8.000 mortos. Entre os vários acidentes ocorridos neste período, são citados a explosão, em julho
de 1976, na fábrica de produtos químicos em Seveso, na Itália, que afetou cerca de 37.000 pessoas e contaminou o solo
de uma área de aproximadamente 18 km2. Também na Índia, na região de Bhopal, em dezembro de 1984, uma repentina
emissão de 30 toneladas de isocianato de metila, de uma planta industrial da Union Carbide, para a atmosfera, resultou
na morte de 2.800 pessoas que viviam nas cercanias e, além disto, trouxe problemas oftalmológicos e respiratórios a
mais de 200.000 pessoas.
Em janeiro de 2000 ocorreu um grande vazamento de 368 mil litros de solução de cianeto em Baia Mare, a 650
quilômetros de Bucareste (Hungria) para os afluentes do rio Danúbio que cortam a Hungria, a Romênia e a Sérvia. Tal
catástrofe resultou numa grande mortandade de peixes onde os teores de cianeto foram 700 vezes maiores que os
valores permitidos pelas normas ambientais (Figura 1, El Pais, Madrid, 12/02/2000).
Inúmeras vítimas fatais têm ocorrido em vazamentos durante processamento industrial e/ou provenientes de
desastres rodoviários e ferroviários.
A literatura apresenta vários acidentes como vazamentos de gases tóxicos como o cloro (figura 2), amônia,
sulfeto de hidrogênio e substâncias ácidas como ácido sulfúrico, ácido clorídrico, ácido nítrico, etc.
De uma maneira geral as substâncias químicas com potenciais de risco de acidentes químicos podem ser
classificadas em função dos seguintes parâmetros:
•
toxidez;
•
propriedades físico-químicas;
•
diversidade de aplicação;
•
volume e concentração durante o processamento industrial, armazenamento e transporte.
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Figura 1 – Vazamento de cianeto.
Figura 2 – Vazamento de cloro.
As conseqüências de um acidente com liberação de substancias químicas dependerão de vários fatores, tais
como, propriedades das substâncias, a quantidade da descarga, o período durante o qual as pessoas estão expostas e o
tempo que decorre entre exposição propriamente dita e o tratamento.
As substâncias químicas de maior risco são gases, especialmente, o cloro (Cl2), dióxido de enxofre (SO2),
amônia (NH3), cloreto de hidrogênio (HCl), sulfeto de hidrogênio (H2S). Estas substâncias têm toxicidade relativamente
alta quando inaladas e geralmente podem causar vítimas fatais.
As elevadas perdas humanas que têm havido nestas últimas décadas nos diversos segmentos na produção
industrial, nos efluentes industriais e na produção e refino de petróleo devido aos vazamentos e/ou contaminações de
sulfeto de hidrogênio (H2S) induzem à necessidade e ao estabelecimento de metas que devem ser atingidas, tais como:
•
pesquisa e desenvolvimento de processos para remoção de sulfetos solúveis e sulfeto de
hidrogênio;
•
desenvolvimento de um programa educacional que estabeleça conhecimentos técnicos e
científicos sobre os efeitos danosos do sulfeto de hidrogênio, em função da qualidade de vida,
da preservação do meio ambiente e da proteção dos equipamentos industriais;
•
conscientização crítica do corpo técnico da importância do desenvolvimento de tecnologias
limpas visando à descontaminação ambiental e à transformação de um poluente existente na
corrente gasosa numa matéria prima de alta pureza para utilização em outros processos
industriais.
O sulfeto de hidrogênio (H2S) também conhecido como gás sulfídrico foi escolhido como tema central para
visualizar e configurar a questão dos acidentes químicos que ocorrem nos diversos segmentos industriais.
4.
OS ACIDENTES E A AÇÃO TÓXICA DO SULFETO DE HIDROGÊNIO
O sulfeto de hidrogênio (H2S) é um gás incolor, de cheiro desagradável característico, extremamente tóxico e
mais denso do que o ar. É bastante inflamável e sua temperatura de auto-ignição é de 260°C enquanto o limite de baixa
explosividade é da ordem de 4,3% no ar (em volume). É parcialmente solúvel em água formando as espécies químicas
HS¯¯(sulfeto ácido) e S2–(sulfeto) conforme mostram as reações a seguir:
H2S → H+ + HS¯
k1 = 9,1 x 10-8
HS¯ → H+ + OH¯
k2 = 1,2 x 10-15
O sulfeto de hidrogênio encontrado na natureza, seja nos campos de petróleo, nas águas subterrâneas, nas
zonas pantanosas, dentre outros, é originado por processos físico-químicos que se desenvolvem em condições, de
pressão e temperatura variáveis, segundo um agente mediador, um catalisador e uma fonte de enxofre. Neste caso a
geração do H2S, portanto, está relacionada a ambientes geológicos diversos, nos quais estejam presentes os
componentes necessários e suficientes para o desencadeamento das reações.
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Dentre os mecanismos descritos na literatura para geração do H2S, quais sejam o mecanismo bacteriano, o
termoquímico associado à oxidação de hidrocarbonetos e o termoquímico relativo ao craqueamento térmico de matéria
orgânica rica em compostos sulfetados, todos podem ocorrer em condições favoráveis à prospecção de petróleo.
Os mecanismos de geração de H2S necessitam de uma fonte de enxofre, tais como: sulfato solúvel (SO42–) em
sedimentos marinhos, sulfato de cálcio (CaSO4) ou sulfato de bário (BaSO4); um mediador como as bactérias ou as
elevadas temperaturas de sub-superfície e um agente catalisador cuja presença implicará na velocidade da reação de
oxi-redução.
No caso das bactérias redutoras de sulfato (BRS) outros parâmetros como pH, teor de matéria orgânica,
salinidade, temperatura e ausência de oxigênio são fundamentais no desenvolvimento do processo de geração de H2S
conforme mostra a reação a seguir:
2 CH2O + SO42–
(matéria orgânica)
→
H2S + 2HCO3–
BRS
Os volumes gerados de H2S por estes mecanismos dependem da disponibilidade da fonte e das condições
geológicas reinantes. Isto vem indicar que as concentrações de sulfeto de hidrogênio encontradas na natureza são
aleatórias e caso hajam falhas geológicas, possivelmente, poderão ocorrer vazamentos, cujas conseqüências são
indetermináveis. Este mecanismo pode gerar H2S que pode variar desde 10 ppm a 100.000 ppm.
A decomposição térmica de moléculas de sulfetos e dissulfetos orgânicos de alto peso molecular inseridas nas
rochas matrizes pode gerar H2S conforme as reações a seguir:
H3C { [CH2]n } S H3C
→
CXHY + H2S
H3C { [CH2]n } S-S H3C →
CXHY + H2S
Nos segmentos industriais a procedência do H2S é conhecida, geralmente, é oriundo de processos de remoção
química e/ou de lavagens de gases ácidos e de sistemas de tratamento de efluentes. As reações apresentadas a seguir
representam processos de geração de H2S em diversos segmentos industriais:
a)FeS + 2 HCl →
FeCl2 + H2S
b)CaS + 2 HCl →
CaCl2 + H2S
c)CuS + H2SO4 → CuSO4 + H2S
d)4 Na2SO3 + 2 H2O (vapor) → 3Na2SO4 + 2 NaOH + H2S
e) CH4 + 4 S (vapor) → CS2 + 2 H2S
4.1 Toxidez do sulfeto de hidrogênio
O sulfeto de hidrogênio devido a sua toxidez é capaz de irritar os olhos e/ou atuar no sistema nervoso e
respiratório dos seres humanos e dependendo da concentração pode matar um ser humano em questão de minutos.
Quando se respira, o H2S penetra nos pulmões e alcança a corrente sangüínea. Rapidamente o sistema de proteção oxida
H2S transformando-o em um produto praticamente inócuo na corrente sangüínea. Mas também pode reagir com
enzimas essenciais que contêm elementos metálicos como o cobre, o zinco e o ferro formando sulfetos metálicos,
conseqüentemente, acarretando a perda de sensibilidades importantes na vida do homem. Entretanto, à medida que a
concentração de H2S aumenta rapidamente, o organismo não consegue oxidá-lo totalmente, então, o excesso de H2S age
no centro nervoso do cérebro que comanda a respiração, resultando na paralisação do sistema respiratório. Os pulmões
param de trabalhar e a pessoa se asfixia e acaba morrendo.
A literatura não é clara sobre os efeitos da exposição controlada de baixas concentrações de sulfeto de
hidrogênio, se é cumulativa ou não, e se os efeitos são completamente reversíveis. A exposição aguda é usualmente
rápida e completa e as seqüelas resultantes podem ser irreversíveis.
Segundo Goodman & Gilman [6], apesar do seu odor característico e desagradável, em teores acima de 150
ppm ocorre a perda da sensação de odor, que é devida à fadiga do sistema olfatório sensitivo pela destruição pelo H2S
dos nervos (neuroepitélio olfatório) responsáveis por esta função.
Considerando os aspectos extremamente tóxicos do H2S é importante que todo pessoal envolvido no
processamento industrial esteja suficientemente informado sobre os riscos apresentados na Tabela I, bem como esteja
adequadamente treinado para, em caso de emergência, prestar a assistência necessária. Além disso, é fundamental que
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os equipamentos de proteção individual como máscaras com filtros especiais para H2S e/ou com suprimento portátil de
ar (oxigênio) estejam prontamente disponíveis.
Na detecção do H2S é essencial um planejamento da localização de detectores contínuos acoplados a
dispositivos de alarme que possam sinalizar, diferentemente, dois níveis de concentração de H2S;
nível 1: 8 ppm na atmosfera;
nível 2: 50 ppm na atmosfera.
As instalações devem possuir um plano de emergência básico, bem estruturado de forma que, ao atingir e/ou
ultrapassar os níveis indicados, toda a assistência seja empregada a fim de minimizar, restringir ou eliminar o efeito
tóxico do H2S .
Tabela I - Efeito do Sulfeto de Hidrogênio nos Seres Humanos
Concentração
H2S(ppm)
0,05- 5
10 - 30
50 - 100
150 - 200
250 - 350
350 - 450
500 - 600
700 - 1500
Tempo de
Exposição
1 min
6-8h
30 min - 1h
2 - 15 min
2 - 15 min
2 - 15 min
2 - 15 min
0 - 2 min
Efeito nos Seres Humanos
Detecção do odor característico
Irritação dos olhos
Conjuntivite, dificuldades de respiração
Perda de olfato
Irritação dos olhos
Inconsciência, convulsão.
Distúrbios respiratórios e circulatórios
Colapso, morte
Em caso de incêndio com gases contendo H2S as equipes de combate devem utilizar equipamentos especiais de
proteção respiratória e os equipamentos industriais próximos devem ser resfriados com água até o bloqueio e extinção
da fonte de gás, pois existe o risco de envenenamentos e o de explosões devido à inflamabilidade do gás.
Daí a importância do conhecimento e do treinamento nos equipamentos destinados a monitorar a emanação de
sulfeto de hidrogênio nos ambientes industriais ou comerciais que estejam suportados no cotidiano do trabalhador e do
homem comum.
A detecção e o monitoramento do H2S presente numa corrente gasosa podem ser efetuados por uma série de
técnicas e equipamentos cuja principal função é registrar e avaliar as concentrações de H2S no ambiente e
conseqüentemente garantir as condições de segurança e qualidade de vida necessárias ao trabalhador.
Existe uma grande diversidade de equipamentos dimensionados para atender aos requisitos de ordem
individual ou em sistema “on-line”. Estes aparelhos indicam,continuamente, o teor de H2S presente e alertam quando o
limite é ultrapassado e pode trazer problemas ambientais. Geralmente estão baseados nas propriedades de absorção e/ou
de adsorção do H2S em materiais específicos.
O método de acetato de chumbo consta do enegrecimento de uma tira de papel umedecido com acetado de
chumbo provocado pela reação entre o H2S e o acetato de chumbo conforme mostra a reação a seguir:
H2S + Pb(CH3-COO) 2 → PbS + 2 CH3-COOH
A corrente gasosa contendo H2S aspirada do ambiente é projetada continuamente sobre uma fita de papel
contendo acetato de chumbo que, ao reagir, provoca o enegrecimento da fita detectado pelo sistema ótico do fotodiodo e
comparado com uma fonte clara do diodo emissor de luz. O sinal produzido é avaliado por um microprocessador que
então fornece o teor de H2S presente no ambiente. Geralmente, estes aparelhos são dotados de limites de concentração
que permitem o alarme quando as condições ambientais são inadequadas ao uso (figura 3).
Outro método de detecção e monitoração consiste na adsorção do H2S através de um sensor constituído de uma
película de alumina (Al2O3) sobre uma placa de platina ligada a uma ponte de Wheatstone conforme mostra o esquema
apresentado na figura 4. O aumento da resistência é proporcional a concentração do H2S presente na corrente gasosa.
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Figura 3 – Monitoração de H2S (método do
acetato de chumbo)
Figura 4 – Monitoração de H2S (método adsorção
em alumina)
4.2 Vazamentos industriais de H2S
O órgão de Segurança e Saúde Pública dos Estados Unidos – OSHA (Occupational Safety and Health
Administration) registra, no período de 1984 - 1994, 1480 menções sobre contaminações diretas e indiretas com H2S
ocorrendo 80 mortes, sendo 56 mortes diretas de envenenamento e 24 mortes de pessoas tentando salvar os colegas de
trabalho. Dessas mortes, 60 ocorreram em estabelecimentos comerciais de vários segmentos, enquanto 18 mortes
ocorreram na produção e refino de gás/petróleo.
A seguir, são apresentadas, na tabela II, indicações de alguns vazamentos de H2S ocorridos em unidades
industriais em várias partes do mundo. Tais acidentes resultaram num elevado número de vítimas intoxicadas e fatais
servindo para alertar a necessidade de normas e procedimentos para inibir e/ou impedir tais vazamentos.
Tabela II - Resumo de Acidentes com Sulfeto de Hidrogênio
Local/data
Poza Rica,
México, 1950
Texas,USA,1969
Maine, USA,
02/04/1971
Chicago, USA,
14/02/1978
Genova, Itália,
19/08/1978
Texas,USA,1979
Rajasthan, Índia,
28/10/1984
Texas, USA,
20/02/1989
Memphis, USA
26/10/1999
Whitehall, MI,
USA, 29/06/1999
Dalian, China
29/12/1999
Alberta, Canadá
30/10/2000
Ufa, Rússia,
24/11/2000
Descrição resumida dos acidentes
Intoxicações
Falha operacional em planta de remoção de H2S em gás
320
natural.
Vazamento em refinaria de petróleo.
6
Transferência de solução de sulfito de sódio para um tanque
--de ácido crômico.
Vazamento originário da reação de sulfito com solução de
6
ácido crômico.
Vazamento originário da reação do sulfito com solução de
29
ácido crômico.
Vazamento em refinaria de petróleo.
10
Vazamento em planta de água pesada em usina nuclear .
3
Mortes
22
3
6
3
8
2
1
Vazamento de petróleo bruto em parque de tanque.
30
---
Vazamento ocorrido durante manutenção de rotina em
refinaria de petróleo.
Vazamento de gás durante transporte e descarga de produtos
químicos.
Vazamento em fábrica de produtos químicos.
11
---
1
1
11
4
Vazamento de gás durante a manutenção de válvula de um
gasoduto.
Vazamento em fábrica de ácido sulfúrico.
13
---
9
3
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No Brasil têm ocorrido vários acidentes com vazamentos de sulfeto de hidrogênio para o meio ambiente
acarretando, conseqüentemente, intoxicações e mortes.
A mídia (Estado de S. Paulo,14/03/1996) informa que três operários morreram no Rio Grande de Sul ao entrar
em um silo de estocagem de milho. A deterioração do milho gerou altos teores de H2S ocasionando, conseqüentemente,
o envenenamento dos operários.
Em outro acidente, segundo O Globo, em 26 de janeiro de 2001, ocorreu um vazamento de gás natural
contaminado com sulfeto de hidrogênio na plataforma P-37 da Petrobrás, na Bacia de Campos, matando dois operários
que trabalhavam para uma empreiteira da Estatal.
5.
CONCLUSÕES
Diante dos fatos expostos, conclui-se da necessidade de:
6.
•
reavaliar, reestruturar e inserir na ementa e no programa da disciplina de Processos Inorgânicos a
visão dos acidentes químicos nas diversas rotas industriais referentes ao armazenamento,
transporte, corrosão, efluentes industriais e segurança industrial;
•
em função dos acidentes químicos que podem ocorrer nos processos industriais, é fundamental
conscientizar os profissionais da responsabilidade no uso, direto ou indireto, dos produtos
químicos e das rotas industriais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] G. Fellenberg, Introdução aos problemas da
Universidade de São Paulo, 1980, 196p.
poluição ambiental. São Paulo: EPU: Springer: Ed. da
[2] X. Doménech, Quimica Ambiental - El impacto ambiental de los residuos, Madrid: Miraguano Ediciones, 1994,
254p.
[3] P.B.Tigre, A. Vanderley, J.C.Ferraz, H. Rush, Tecnologia e Meio Ambiente - Oportunidade para a indústria, Rio
de Janeiro: Editora UFRJ, 1994, 139p.
[4] P.Wongtschowski, Industria Química: Riscos e Oportunidades, S. Paulo : Editora Edgard Blücher,1999, 215p.
[5] M. K.Tolba Salvemos el planeta - problemas y esperanzas. London: Chapman & Hall, 1992, 266p.
[6] L.S. Goodman, G.A. Gilman, As bases farmacológicas da terapêutica. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Dois,
1987, 1195p.
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