8 CAPÍTULO 2 2. ROBOTHRON E SUA ESTRUTURA Neste capítulo são descritos aspectos construtivos de manipuladores robóticos e com a apresentação da anatomia e componentes de robôs manipuladores. São apresentados sistemas de transmissão, atuadores e sensores de movimento responsáveis pela movimentação de manipuladores robóticos. Também é relatada a história do robô Robothron. O capítulo completa-se com uma exposição detalhada das partes componentes do braço deste manipulador. 2.1 ANATOMIA E COMPONENTES DE ROBÔS MANIPULADORES Os robôs manipuladores são estruturas mecânicas de geometria variada, compostos, na sua maioria por corpos rígidos, articulados entre si, com a finalidade de sustentar e posicionar um dispositivo terminal, como uma garra ou uma ferramenta especializada que entra em contado com o processo [9]. 2.1.1 Elementos do Manipulador Um robô é composto de um manipulador, uma unidade de controle e uma unidade de programação. O manipulador compõe-se de corpos rígidos como uma base, um braço e um punho que traz em sua extremidade o efetuador final. O efetuador final é a ferramenta, garra de manipulação ou dispositivo que realiza trabalho externo ao robô. Estes corpos rígidos, denominados elos, são interligados por articulações ou juntas móveis que proporcionam os movimentos relativos entre os elos. O movimento relativo que uma junta pode realizar num espaço tridimensional denomina-se grau de liberdade. 9 As juntas podem ser rotacionais e translacionais ou prismáticas. As juntas rotacionais (Figura 3a) possibilitam movimentos de giro dos elos em torno de um eixo de rotação. Já as juntas prismáticas (Figura 3b), permitem o movimento linear entre dois elos alinhados um dentro do outro. O elo interno escorrega pelo elo externo originando o movimento linear. (a) (b) Figura 3 - (a) Juntas rotacional e (b) prismática Fonte: o autor A Figura 4 apresenta a disposição da montagem dos elos conectados por juntas compondo a cadeia cinemática de um manipulador. Articulações ou Juntas Elos Figura 4 – Elos e Articulações Fonte: o autor Se os elos estão dispostos em série, então a cadeia de elos é dita aberta. Por outro lado, se estes formam um laço fechado, tem-se uma cadeia cinemática fechada. A classificação dos robôs, referente aos tipos de cadeias de elos ou cadeias cinemáticas, é apresentada a seguir: • Cadeia cinemática serial: É definida como uma seqüência de elos e articulações, sempre existindo um elo entre duas articulações. A Figura 5a exibe um manipulador com cadeia cinemática serial. • Cadeia cinemática fechada: É definida como uma seqüência de elos conectados por articulações que formam uma estrutura de malha fechada. Figura 5b exibe um manipulador com cadeia cinemática em formato de paralelogramo. • Cadeia em árvore: É derivada da cadeia serial e apresenta uma estrutura com 10 vários órgãos terminais. A Figura 5c exibe um manipulador com cadeia cinemática em formato de árvore [4]. (a) (b) (c) Figura 5 – Cadeias cinemáticas (a) serial; (b) fechada e (c) em árvore Fonte: o autor Os dois últimos tipos são classificados como cadeias cinemáticas complexas [4]. Para movimentar a cadeia cinemática, independente da forma da sua estrutura, são utilizados atuadores e sistemas de transmissão. 2.1.2 Sistemas de transmissão Os sistemas de transmissão são dispositivos que transmitem a energia mecânica gerada nos atuadores para os elos. Eles permitem realizar a movimentação dos elos nas articulações. Os sistemas de transmissão são compostos de engrenagens, fusos de esferas recirculantes (Figura 6-a), correias e polias dentadas (Figura 6-b), correntes, cabos, fitas de aço e engrenagens harmônicas ou redutores harmônicos4. (a) (b) Figura 6 - (a) Fuso de esferas recirculantes; (b) polia e correias dentada Fonte: Telecurso 2000 Estes dispositivos influenciam diretamente a rigidez e a eficiência operacional, 4 O Redutor Harmônico (harmonic drive) foi inventado por Walt Musser em 1955, EUA. 11 importantes características de funcionamento do manipulador. ADADE, 1999 define rigidez como a resistência oferecida por um corpo a deformações quando submetido a esforços. Assume-se que os elos são considerados corpos rígidos para a grande maioria dos manipuladores industriais. 2.1.3 Atuadores Os atuadores são dispositivos que convertem a energia elétrica, hidráulica ou pneumática, em energia mecânica e através dos sistemas de transmissão possibilitam o posicionamento e movimentação dos elos. Os atuadores hidráulicos e pneumáticos podem proporcionar movimentos lineares ou angulares. Ambos são comandados por válvulas direcionais que orientam a passagem do fluido sob pressão. Tanto os atuadores hidráulicos, como pneumáticos necessitam de unidades de compressão do fluido que transmitem energia para o sistema [10]. Os atuadores eletromagnéticos são representados por motores elétricos. Os motores elétricos utilizados podem ser de corrente contínua, motores de passo ou servomotores de corrente alternada. Estes atuadores utilizam circuitos eletrônicos complexos para o acionamento, que são circuitos de eletrônica de potência. 2.1.4 Sensores de Posicionamento e Movimento Rotacional Os sensores são dispositivos que medem as grandezas envolvidas nos movimentos e forças aplicadas pelos atuadores aos elos do robô. Os sensores que medem o posicionamento e velocidade dos motores são os codificadores digitais de posição (encoders) ou resolvers. Os codificadores digitais de posição são dispositivos eletromecânicos que convertem a rotação angular em sinais digitais através da codificação da posição num disco óptico [11]. Os codificadores digitais absolutos (Figura 7-a) possuem um único sistema de codificação para cada posição do disco óptico, já os codificadores incrementais (Figura 7b) apresentam pulso de indexação da posição e outros dois defasados de 90º que permitem 12 aumentar a resolução e determinar a direção do giro[7] [12]. (a) (b) Figura 7 – Codificadores digitais de posição (a) absoluto; (b) incremental Fonte: http://www.diadur.com/phaise2/incenc.html Os resolvers são sensores analógicos cujo funcionamento elétrico assemelha-se ao dos transformadores. São constituídos de um enrolamento primário (rotor), alimentado com tensão C.A. de freqüência constante, e dois enrolamentos secundários (estatores) defasados fisicamente de 90º cujas tensões induzidas são proporcionais à posição do eixo [13] [9]. (a) (b) Figura 8 - (a) modelo do resolver; (b) tensões no primário e secundários Fonte: www.mechatronik.uni-duisburg.de/..../robo_23.html - acesso: 26/05/2004 Os resolvers determinam a posição absoluta e devido a característica analógica, a sua resolução e precisão são limitadas apenas pela eletrônica do circuito. 2.1.5 Estrutura do Robô A estrutura do manipulador está conectada a uma unidade de controle e programação. O sistema de programação instalado na memória do computador dentro da 13 unidade de controle é acessado por meio do painel remoto de programação. Através deste painel são inseridos os programas para o controle dos movimentos do manipulador e do efetuador final [11]. A Figura 9 exibe um diagrama em blocos da estrutura funcional de um robô manipulador. Painel Remoto de Programação Memória CPU de Controle Sensores Atuadores e Acionadores Articulações / Juntas Efetuador Final / Ferramentas Figura 9 - Diagrama em blocos de um Robô Fonte: SPONG, 1989 O computador (CPU) de controle, composto por microprocessadores, coprocessadores matemáticos e unidades de memórias, processa os programas através do sistema de controle, convertendo-os em sinais elétricos de comando para o sistema de acionamento dos atuadores que movimentam os elos através das transmissões e realizam os movimentos. O sistema de controle calcula o torque necessário para os atuadores e sincroniza os movimentos nas juntas garantindo a posição e orientação corretas do efetuador final, de acordo com as informações provenientes dos sensores. Para cada articulação, existe uma malha de controle que faz a atuação e aquisição de sinais. O controle utilizado nos manipuladores robóticos pode ser realizado de dois modos: robôs com controle em malha-aberta e robôs com controle em malha-fechada. Robôs com controle em malha-aberta são chamados robôs não-servo controlados ou robôs de seqüência fixa, empregam chaves de fim de curso, ou sensores indutivos para definir o final das trajetórias ou a seqüência das operações, como por exemplo, os robôs do tipo pega–e-põe (pick-and-place). Esta estrutura de controle empregada nos primeiros 14 manipuladores, em função da tecnologia disponível na época, não suporta estratégias de controle mais sofisticadas [14]. Na grande maioria das tarefas onde são exigidas a precisão no posicionamento e a repetibilidade5 é necessário um controle mais refinado e preciso, nesse caso, utiliza-se um sistema de controle em malha-fechada (robôs servo-controlados), empregado em controle de posição, velocidade e força. O espaço dentro do qual o manipulador do robô pode mover seu efetuador final é denominado volume de trabalho. Este volume é delimitado pela configuração física, pelas dimensões dos elos e pelas limitações dos movimentos nas articulações do manipulador. A estrutura dos elos e articulações associada ao volume de trabalho do manipulador possibilita classificar os manipuladores robóticos como: robôs de coordenadas cartesianas ou prismáticos, robôs de coordenadas cilíndricas, robôs de coordenadas esféricas, e. robôs articulados ou antropomórficos. Os robôs também podem ser classificados em dois grandes grupos: Os robôs fixos (rígidos ou flexíveis) e robôs móveis. Os robôs rígidos apresentam em sua estrutura, elos e elementos de contato rígidos nas juntas, rigidez estrutural suficiente para que não haja oscilações durante os movimentos. Os robôs flexíveis são formados por elementos não-rígidos, ou seja, apresentam um certo grau de elasticidade nas transmissões e articulações ou a presença de interação nos contatos entre o manipulador e o ambiente de trabalho. O primeiro grupo dos robôs manipuladores rígidos é o objeto de interesse desse trabalho. 2.2 A HISTÓRIA DO ROBOTHRON O Robothron é um robô que depois de concluído, apresentará estrutura articulada, punho esférico RPR e um mecanismo paralelo de quatro barras para o acionamento da junta 3. Em março de 1995, foram traçados os primeiros planos para o projeto e construção de um robô na Sociedade Educacional de Santa Catarina. Em junho de 1996, iniciou-se o projeto do punho esférico (Roll-Pitch-Roll) do robô e sua construção foi concluída em 5 Repetibilidade é a capacidade do robô atingir repetidamente uma mesma posição, dentro de certa precisão. 15 1998 [15]. Após esta etapa, iniciou-se o estudo da geometria do braço que consiste de uma estrutura rígida de cadeia aberta, parte da qual é mostrada na Figura 10(a). A Figura 1(b) mostra a idéia inicial da localização do acionamento do cotovelo diretamente conectado à junta três, logo abaixo do mecanismo do punho. (a) (b) Figura 10 – (a) Concepção da base, ombro e cotovelo do Robothron;(b) Punho Fonte: LEAL, J. C,1995. Analisando-se esta primeira versão, conclui-se que a junta dois fica sobrecarregada em razão do peso excessivo das massas do acionador e do atuador da junta três. Várias idéias foram examinadas para aliviar o excesso de esforço sobre a junta dois. Uma das hipóteses consideradas foi realizar a transmissão de forças para movimentar o punho utilizando uma estrutura mecânica acionada por meio de fuso de esferas recirculantes, inspirada no robô AS100 fabricado pela ASEA [10], mostrado na Figura 11 16 Fuso de esferas recirculantes Figura 11 – Manipulador AS100 que utiliza fuso de esferas recirculantes Fonte: ASEA. Esta estrutura projetada apresenta como desvantagem as limitações nos movimentos das articulações, que dependem do comprimento do fuso guia (Figura 12). Alavanca Fuso de esferas Guias Guiados do fusos de defuso esferas esferas Figura 12 – Esboço do manipulador com acionador de fuso de esferas recirculantes Fonte: Leal, J C., 1995. Até este ponto, o robô proposto apresentava somente 5 graus de liberdade, alguns com acionamento direto por servomotores e dois com transmissão de movimentos aos eixos acionados feita por alavancas utilizando o fuso de esferas recirculantes. Este sistema restringia o espaço de trabalho do robô devido ao espaço físico ocupado pelo conjunto. A grande quantidade de elementos móveis presentes no mecanismo o tornaria passível de 17 folgas causando problemas precisão e repetibilidade. Esta versão foi abandonada em favor do uso de “redutores harmônicos” [7]. Os redutores harmônicos são mecanismos de transmissão de movimentos por engrenagens destinados a reduzir ou aumentar a velocidade em sistemas mecânicos. São compostos por gerador de onda, engrenagem flexível e engrenagens circulares, como mostra a Figura 13. Engrenagem circular Engrenagem flexível Gerador de onda Figura 13 – Mecanismo de transmissão redutor harmônico Fonte: www.harmonic-drive.com O gerador de onda é composto de um rolamento com formato elíptico preciso e de um anel de aço, geralmente é conectado ao servomotor. A superfície exterior do anel pressionada pelo rolamento conforma-se à mesma forma elíptica. A engrenagem flexível é uma lâmina fina de aço reforçado, montada externamente ao gerador de onda. As engrenagens circulares externas são anéis de aço rígido com os dentes no perímetro interno, geralmente uma delas é fixada à carcaça do servomotor e não gira e a outra fixada ao elo. O gerador de onda conforma a lâmina flexível ao seu formato elíptico, que, por sua vez, acopla-se aos dentes das engrenagens circulares externas, transmitindo o movimento [16]. O principal problema do projeto da estrutura apresentada na Figura 12, consistia em posicionar o sistema de transmissão e o atuador da junta 3 para uma região mais próxima da base, deslocando o centro de massa com o propósito de reduzir o efeito inercial das massas da localizadas na junta 3 sobre o mecanismo da junta 2. Cogitou-se em usar um mecanismo com correias dentadas, cujo esboço está representado na Figura 14 (podem-se ver as polias na parte de trás do mecanismo). Este tipo de transmissão não suporta a potência necessária de ser transmitida em função do peso e da inércia do punho. 18 Mecanismo da Polia Correia dentada Figura 14 – Acionamento das juntas 2 e 3 utilizando correia dentada Fonte: Leal, J C., Rel. de Estágio. A idéia de utilizar-se mecanismo de acionamento da junta 3 por correia dentada foi abandonada em favor do conceito de um mecanismo de acionamento paralelo de quatro barras como é mostrado na Figura 14. Este mecanismo transmite a força para a junta 3 através de um braço de alavanca, reduzindo assim o peso na junta 3 e concentrando-o mais próximo da base. Manipuladores de cadeia fechada são aqueles cuja estrutura cinemática contém uma ou mais malhas-fechada, são ainda objetos de estudo e preferidos em pesquisas e aplicações industriais devido a sua tendência a serem mais rápidos e precisos que os mecanismos de cadeia aberta [17]. Outro aspecto de sua importância é a transmissão de força (necessária) requerida para as tarefas que exigem controle de força. Exemplos de tarefas assim são esmerilhamento, aplicação de troque em porcas e parafusos. 19 2.3 Estrutura do Braço e da Base do Robothron O primeiro modelo para a estrutura de paralelogramo é constituído de duas placas metálicas paralelas unidas somente pelos eixos das juntas dois e três e uma alavanca destinada a transferir o movimento do acionador (axialmente alinhado ao eixo da junta 2) para a junta 3. Os componentes da base e do braço e antebraço do Robothron são representados esquematicamente pela Figura 15. Neste modelo, como no anterior, também foram adotadas correias dentadas para acoplar os eixos dos motores aos mecanismos movimentação. Juntas 4,5,6 RPR Junta 3 localizada no centro de gravidade Servomotores CA Flange para Instalação da Ferramenta Punho Esférico RPR Alavanca do mecanismo de quatro barras Acionamento por correia dentada Junta 2, do Ombro Base Estacionária Figura 15 – Mecanismo do manipulador Robothron 20 Um modelo em madeira (Figura 16) revelou problemas de estabilidade e uma torção indesejada no braço e uma simulação em computador utilizando CAD, calculou-se que placas laterais de sustentação do antebraço e do punho pesariam 35kg cada uma, comprometendo o mecanismo de movimentação da junta do ombro. Figura 16 – Modelo do Robothron em madeira Escolhido o modelo estrutural para a base, ombro e cotovelo do manipulador, iniciou-se um pré-projeto, cuja representação tridimensional da estrutura é apresentada na Figura 17. Figura 17 – Representação 3D do manipulador do Robothron com paralelogramo 21 Com base nos dados de massas e centro de gravidade obtidos da simulação em computador, novas modificações foram introduzidas, substituindo-se as placas laterais do braço que estavam separadas por uma única estrutura com formato retangular para o corpo do braço, porém mantendo o conceito do mecanismo de quatro barras e favorecendo a rigidez estrutural (Figura 18). Figura 18 – Manipulador Robothron A Figura 19(a) mostra isoladamente corpo do braço e o antebraço, sem a base e a Figura 19(b) detalha somente o paralelogramo. 22 Figura 19 – (a)Antebraço e braço (b) paralelogramo A Figura 20(a) exibe detalhes internos do mecanismo do ombro do manipulador, como a alavanca inferior da junta 3 e respectivo mancal; o eixo da junta 2 e mancais das juntas dois e três são mostrados na Figura 20(b) e os fixadores das laterais de apoio e a placa base para a conexão do ombro do manipulador sobre o mecanismo da base, na Figura 20(c). (a) (b) (c) Figura 20 – Elementos das juntas 2, 3 e elo 1 Os componentes internos da base, a saber, o eixo, mancal e adaptador da base são mostrados na Figura 21(a), (b) e (c), respectivamente. A placa base do ombro é montada sobre o eixo da base que se encaixa sobre o mancal da base e este é suportado pelo adaptador da base. O adaptador da base fixado no interior da base tem a função de suportar todo o manipulador. 23 (a) (b) (c) Figura 21 – (a) Eixo, (b) mancal e (c) adaptador da base A Figura 22 mostra a base, que tem como função dar sustentação e permitir a fixação do manipulador do robô ao piso. Figura 22 – Base do manipulador Definido o tipo da estrutura, esboçados os mecanismos, determinados tipos de materiais adequados para uma futura construção do manipulador, procedeu-se ao levantamento do modelo cinemático, do espaço de trabalho e do comportamento em termos de velocidades.