0 ISNN 2236-9953 REVISTA FCV EMPRESARIAL Revista Eletrônica da Faculdade Cidade Verde Vol. 4 agosto 2010 1 FCV EMPRESARIAL é uma publicação dirigida e editada pela Faculdade Cidade Verde - FCV Maringá PR Diretor Geral Prof. José Carlos Barbieri Coordenador de Pós- Graduação Prof. Dr. Hamilton Luiz Fávero Editor Chefe Prof. Dr. Hamilton Luiz Fávero Editor Adjunto Prof. Enaldo Francisco da Silva Conselho Editorial Prof. Msc Alfredo Lopes da Costa Moreira Neto (FCV) Profª Msc Daniela Alessandra Rufato Figueiredo (FCV) Profª Msc Giselle Moraes e Silva Pereira (FCV) Prof. Msc José Carlos Costa (UNIOESTE) Prof. Msc José Plinio Vicentini (FCV) Profª Drª Luzia Yamashita Deliberador (UEL) 2 Prof.Dr. Sânderson Reginaldo de Mello (FCV) Prof. Msc Valdemar Dias dos Santos ( FCV) Correspondências deverão ser encaminhadas à: REVISTA FCV EMPRESARIAL Advogado Horácio Raccanello, 5950- Novo Centro. Maringá- Pr CEP – 87.020.035 Fone: ( 044) 3028-4416 Home-page: www.fcv.edu.br e-mail: [email protected] EDITORIAL A revista eletrônica FCV EMPRESARIAL, tem a satisfação de tê-lo como leitor dessa quarta edição. Os resultados de trabalhos de nossos Coordenadores, Professores e Alunos são apresentados nessa publicação. Por isso, é um prazer tê-lo como leitor. Nas debates próximas páginas sobre importância a você de será apresentado gerenciamento a de processo, o sistema financeiro, a relação com o mercado 3 que o marketing desenvolve, e como deve se buscar a lealdade do cliente, como funciona a análise de créditos nas empresas, o Capital de Giro como ferramenta de gestão empresarial e a responsabilidade social como meio de preservação de patrimônio público. Este importante veículo de publicação que a FCV trás a você, busca contribuir para a ampliação do conhecimento tecnológico e científico das áreas de Ciências Sociais Aplicadas, alem de colaborar com a qualidade de produção acadêmica da nossa Instituição. Tenham uma ótima leitura. Prof. José Carlos Barbieri Diretor Geral ARTIGOS 4 A IMPORTÂNCIA DO GERENCIAMENTO DE PROCESSOS Maria Regina da Fonseca e José Paulo de Souza O GIGANTE SISTEMA FINANCEIRO Jeniffer de Sousa Bogdanavicius, Evandro Castilho Salamão, Patrícia Rosana Andersen e Neori Taminini MARKETING DE RELACIONAMENTO: EM BUSCA DA RETENÇÃO E LEALDADE DO CLIENTE. Luciene Martins Campiotto, Fátima Regina Oberst, Pedro Vieira, Bianca Burdini Mazzei e Pedro Espinha A ANÁLISE DE CRÉDITO NAS EMPRESAS Claudemir Souza Bueno e Ronaldo Cordeiro CAPITAL DE GIRO: UMA FERRAMENTA NA GESTÃO EMPRESARIAL Cristiano de Jesus Ballejo, Mário Kunio Marutaka e Augusto César Oliveira Camelo CIDADANIA COM RESPONSABILIDADE SOCIAL: UMA PROPOSTA PARA A PRESERVAÇÃO DE BENS PÚBLICOS DA UEM Manoel Quaresma Xavier, Mário Lonardoni e Edna Mitiko Ota 5 A IMPORTÂNCIA DO GERENCIAMENTO DE PROCESSOS Maria Regina da Fonseca1 José Paulo de Souza2 RESUMO Esse texto se propõe a facilitar a compreensão do que vem a ser gerenciamento de processos, bem como, sua importância, como elemento decisivo, para o alcance das metas traçadas. Para tanto, procura demonstrar quais as principais decisões que envolvem os processos e sua relação com o volume de produção, bem como, a relação existente entre as varias decisões possíveis. Explica, também, a importância da abertura a mudanças nos 1 Professora do curso de Ciências Contábeis da FCV – Artigo desenvolvido na disciplina Gestão de Processos, do curso de Mestrado em Administração da UEM, como aluna não regular. 2 Professor doutor do Programa de Pós-Graduação em Administração da UEM. 6 processos, através da melhoria dos mesmos, ou ainda, da reestruturação, denominada reengenharia. Palavras-chave: gerenciamento de processos, decisões, reengenharia. ABSTRACT This text is proposed to facilitate the understanding of what comes to managing processes, and its importance as a decisive, to achieve the goals outlined. For both, which aims to show the major decisions involving the processes and their relation to the volume of production, and the relationship between the various possible decisions. It explains, too, the importance of openness to changes in procedures, by improving the same, or, in the restructuring, known as reengineering. Key-words: reengineering. management process, decisions, INTRODUÇÃO A globalização da economia trouxe consigo um aumento crescente da concorrência em produtos e serviços. Hoje, mais do que nunca, o cliente busca o produto/serviço que tiver o maior valor agregado possível. O uso ideal dos recursos disponíveis, a fim de proporcionar algo de valor, depende das decisões sobre os processos a serem utilizados. 7 Assim, os gerentes precisam estar abertos a mudanças, seja pela reengenharia ou por um esforço contínuo para a melhoria do processo. Os processos estão presentes em todas as funções da organização, tais como contabilidade, recursos humanos, finanças, sistemas de informação gerencial, marketing e operações. Esse artigo se propõe a facilitar a compreensão da importância do gerenciamento de processos, como função decisiva às empresas, no sentido de atingir metas competitivas. PROCESSOS O processo representa uma série de tarefas interrelacionadas envolvendo diversos insumos com a finalidade de gerar um determinado produto/serviço esperado. Conforme Ritzman e Krajewski (2004, p. 29), “Gerenciamento de processo é a seleção dos insumos, das operações, dos fluxos de trabalho e dos métodos que transformam insumos em resultados”. Segundo os autores, os processos estão envolvidos na maneira como a área de marketing realiza uma análise de mercado, em como a contabilidade fatura aos clientes, em como uma loja varejista proporciona serviços em suas instalações de vendas e, na forma como uma indústria realiza suas operações de montagem. Dessa forma, 8 quaisquer decisões sobre o processo afetam diretamente o processo em si e, indiretamente, o produto ou serviço fornecido, implementando a estratégia de operações. De acordo com Graham e LeBaron (1994), apud Gonçalves, José Ernesto Lima (2000), todo trabalho importante realizado nas empresas faz parte de algum processo. O autor complementa que não faria sentido um processo empresarial, que não oferecesse um produto ou serviço, pois o processo em si representa quaisquer atividades que tomam determinados insumos e, após adicionar valor, oferece-o ao cliente na forma como este o requer. Os processos podem ser entendidos, segundo Lipnack e Stamps (1997), como a forma pelas quais as coisas são feitas na empresa ou, conforme Cameron (et al, 1995), a maneira particular de realizar um determinado conjunto de tarefas. No entanto, algumas vezes, as atividades essenciais envolvem um conjunto de atividades operacionais, diversos níveis organizacionais e práticas gerenciais, ou seja, são os processos necessários para que a empresa exista (BENNIS; MISCHE, 1995). As decisões sobre mudanças ou não dos processos atuais envolvem vários fatores, tais como: aptidões humanas; equipamentos; qualidade; 9 capacidade; arranjo físico; estoque; avanços na tecnologia; mudanças nas capacitações do concorrente; impacto sobre o ambiente. Sobre isso, Ritzman e Krajewski (2004, p. 29) ressaltam que “decisões sobre processos precisam ser coerentes com as prioridades competitivas e a habilidade da organização para obter recursos necessários a fim de apoiá-los”. De nada adiantaria uma decisão sobre processos que não auxiliasse a empresa a atingir metas competitivas ou que necessitasse de recursos que a empresa não dispõe. Assim, o processo de desenvolvimento de estratégia de manufatura, por exemplo, visa garantir que critérios competitivos sejam estabelecidos e priorizados de forma a garantir coerência externa, coerência interna e coerência temporal. Deve garantir, também, que todas as decisões referentes aos recursos estruturais e infraestruturais da manufatura sejam tomadas de acordo com um padrão de decisões coerente e a tempo e que cumpra seu papel proativo adequadamente, monitorando o ambiente, a fim de identificar alternativas de tecnologias e métodos gerenciais de processos. Além disso, deve desenvolver uma dinâmica de replanejamento flexível capaz de responder 10 bem e a tempo as instabilidades e incertezas ambientais e internas (CORRÊA; GIANESI, 1993, p. 30 e 31). As principais decisões que envolvem os processos são: 1. escolha do processo; 2. integração vertical 3. flexibilidade dos recursos; 4. envolvimento do cliente; 5. intensidade do capital. A decisão da escolha do processo é uma das mais importantes, pois, segundo Ritzman e Krajewski (2004, p. 30), ela determina se os recursos são organizados em torno de produtos ou processos. A escolha do tipo de processo depende das prioridades competitivas da organização e será realizada pelo gerente. Normalmente, o tipo de processo escolhido, está entre uma das seguintes: A. de projeto; B. por tarefa; C. por lote; D. em linha; E. contínuo. Processo de Projeto: é aquele, segundo o autor supracitado, que tem como principal característica um grau elevado de customização das tarefas; o grande escopo de 11 cada projeto é a liberação de recursos substanciais após um projeto ser completado. Ou seja, as operações e processos envolvidos são sob medida para o projeto e destinados à criação de certos produtos ou serviços. Logo, esses produtos ou serviços são exclusivos, feitos para atender um pedido de um cliente específico. Segundo Tubino (2000, p. 27): Como o sistema produtivo espera a manifestação dos clientes para definir os produtos, estes não são produzidos para estoque e os lotes normalmente são unitários. Devido ao fato de o prazo de entrega ser um fator determinante no atendimento ao cliente, os sistemas que trabalham sob encomenda possuem normalmente grande capacidade ociosa, e dificuldade em padronizar os métodos de trabalho e os recursos produtivos, gerando produtos mais caros do que os padronizados. A automação dos processos é menos aplicável, visto que a quantidade produzida não justifica os investimentos. Coaduna-se com essas reflexões Davis (et al, 2001), quando ressalta que os custos variáveis nessa categoria são muito altos enquanto os custos fixos são ínfimos e que, nos casos onde há a fabricação de apenas um produto, os custos fixos são até mesmo inexistentes. 12 Ou seja, no sistema de produção por projeto ou sob medida produzem-se bens unitários com características únicas, individuais. Como exemplo, podemos citar: a construção de um Shopping Center ou a formação de uma equipe para realizar um trabalho de consultoria gerencial ou o desenvolvimento de uma nova tecnologia ou produto. Processo por Tarefa: é aquele em que os recursos similares, equipamentos e trabalhadores, são alocados em torno da tarefa e não do produto e/ou serviço específico. Ritzman e krajewsk (2004, p. 33), alertam que essa escolha de processo cria fluxos desordenados ao longo das operações, em vez de um fluxo de linha, que seria o movimento linear de materiais, informações ou clientes de uma operação para a próxima de acordo com uma sequência fixa. Embora haja uma variabilidade considerável nos fluxos ao longo de um processo por tarefa, podem existir fluxos de linha em seu interior. Isso é possível porque alguns subprocessos podem ser idênticos para todas as tarefas, além de que determinados clientes podem solicitar frequentemente os mesmos produtos, criando condições para a produção por lotes. Processo por Lote: volumes médios ou moderados, padrão do fluxo e desordenado, sem uma sequência padronizada de operações por toda a unidade produtiva. No entanto, surgem trajetórias mais dominantes do que em um processo por tarefa, e alguns segmentos do processo 13 possuem um fluxo de linha (RITZMAN; KRAJEWSKI, 2004, p. 33). Embora não haja uma sequência padronizada de operações por toda a unidade produtiva, Tubino (2000, p. 28) deixa claro que cada lote segue uma série de operações que necessita ser programada à medida que as operações anteriores forem realizadas. Esse tipo de operação exige certa flexibilidade a fim de atender diferentes pedidos de clientes, além de acompanhar as flutuações da demanda. Exemplos: programação de uma viagem aérea para um grupo de pessoas, produção de componentes que alimentam uma linha de montagem, processamento de hipotecas, laboratórios de análises químicas, etc. Processo em Linha: caracteriza-se por volumes elevados e produtos ou serviços padronizados. Os prestadores de serviços, com um processo em linha, seguem uma estratégia de serviços padronizados e os fabricantes produzem para estoques, objetivando disponibilizá-los aos clientes a qualquer momento. Essa utilização de um processo em linha algumas vezes é denominada produção em massa, ou ainda, processo de fabricação (RITZMAN; KRAJEWSKI, 2004). Nesse tipo de produção, tanto os recursos produtivos, quanto os padronizados, métodos de produzindo trabalho bens e e controles serviços são uniformes, 14 levando a uma maior eficiência do sistema com consequente redução de custos. De acordo com Davis (et al, 2001, p. 75), os fluxos de linha são usados apenas para os volumes de produtos mais altos, são bem concentrados em termos de enfoque e por consequência, são os menos flexíveis dos três processos. Como exemplo, pode-se citar: automóveis, eletrodomésticos, brinquedos, fast-food, refeitórios, etc. Processo Contínuo: caracterizado pela produção em grande volume e padronizado com fluxos de linha rígidos. Segundo o autor supracitado, sua designação relaciona-se com o modo como os materiais movem-se pelo processo. Normalmente, o processo é capital intensivo e é operado 24 horas por dia, para maximizar a utilização e evitar interrupções e reinícios de produção onerosos. Tubino (2000, p. 28) ressalta que são necessários altos investimentos em equipamentos e instalações, sendo seu custo insignificante em relação aos outros fatores produtivos. Classificam-se nesse grupo as refinarias de petróleo, indústrias químicas e fábricas que produzem cerveja, aço e alimentos. Como exemplo, no setor de serviços, pode-se citar uma usina geradora de eletricidade. A segunda decisão mais importante é relacionada à integração vertical que, para Ritzman e Krajewski (2004, p. 34), diz respeito ao grau de execução dos processos internamente, e não por fornecedores externos. Ou seja, a 15 quanto o sistema de produção ou as instalações de serviço de uma empresa são capazes de atender a sua necessidade sem precisar terceirizar. Assim sendo, decisões de produzir representam maior integração, enquanto que decisões de comprar representam maior terceirização. Após a decisão do que produzir e do que terceirizar, identificam-se maneiras para coordenar e integrar os vários processos e fornecedores envolvidos, podendo ser a integração realizada para trás e para frente. Para trás (backward integration) – representa o movimento da empresa em direção às fontes de matérias-primas e peças, como rede de supermercados que possui fábricas para produzir marcas próprias de sorvete, massas de pizza congelada e manteiga. Para frente (forward integration) – representa a aquisição de mais canais de distribuição e lojas de varejo, ou mesmo a aquisição de empresas que são suas clientes. A integração vertical apresenta várias vantagens, tais como: aumenta a participação de mercado, além de permitir que a empresa penetre em mercados estrangeiros mais facilmente circunstâncias; do que o faria em outras 16 possibilita a obtenção de economias no caso de possuir as qualificações, o volume e os recursos para executar processos a um custo menor e produzir bens e serviços de maior qualidade do que seus concorrentes; permite maior pontualidade na entrega e melhor aproveitamento dos recursos humanos, equipamentos e espaço da empresa. A integração vertical é especialmente atrativa para grandes volumes, pois possibilita a especialização de tarefas e uma maior eficiência. Mas, a alta administração precisa identificar cultivar e explorar suas competências essenciais para prevalecer na concorrência global. A terceirização, por sua vez, também apresenta várias vantagens, conforme relacionamos a seguir: é especialmente atrativa para empresas com pequena produção e pode proporcionar maior qualidade e menor custo, tendo em vista que, a produção por si mesma, poderia exigir um investimento significativo que não compensaria a demanda por seus produtos; a globalização cria mais opções de fornecedores e os avanços na tecnologia da informação tornam mais fácil a coordenação com esses fornecedores. Um exemplo disso é o incêndio que destruiu a fábrica Aisin Sekei, em 01/02/1997 e que forçou a Toyota a parar as 20 fábricas automotivas que produziam 14000 carros por 17 dia. Graças ao trabalho conjunto dos seus fornecedores, a Toyota começou a produzir carros alguns dias após o incidente, embora muitos previssem que demoraria semanas, que seria o tempo que levaria para a Aisin reiniciar sua produção (DAVIS et all, 2001, p. 393); a tecnologia da informação permite que os fornecedores se juntem como uma corporação virtual, onde os concorrentes efetivamente fazem parcerias em curto prazo para responder às oportunidades de mercado. As corporações virtuais permitem que as empresas alterem suas posições de modo flexível em resposta às exigências do mercado em alteração rápida. A terceira decisão refere-se à flexibilidade dos recursos que, segundo Ritzman e Krajewski (2004), diz respeito à facilidade com que funcionários e equipamentos podem lidar com uma ampla variedade de produtos, níveis de produção, deveres e funções. O grau de flexibilidade dos recursos da empresa equipamentos) é (funcionários, determinado instalações pelas e prioridades competitivas da alta administração. Os autores supracitados (p. 36) descrevem a flexibilidade de recursos como sendo a facilidade com que funcionários e equipamentos podem lidar com uma ampla 18 variedade de produtos, níveis de produção, deveres e funções. Os elementos envolvidos nesse tipo de decisão são os seguintes: equipe de trabalho: segundo os referidos autores (2004), a equipe de trabalho ajuda a absorver os altos e baixos da individuais carga causados reduzido, de trabalho pela processamentos em produção operações em volume desordenados e programação instável. Se o fluxo de produção for homogêneo e permanente, contínuo, com o emprego ideal é regular uma equipe em período integral. Se o processo estiver sujeito à picos da demanda de horários, diários ou sazonais, a utilização de funcionários em tempo parcial ou temporário para suplementar um pequeno núcleo de funcionários em tempo integral pode ser a melhor solução; equipamento: quando produtos ou serviços possuem um ciclo de vida curto e um grau elevado de customização, volumes reduzidos significam que os gerentes de processo devem selecionar equipamento de tipo universal. Volumes reduzidos (customização é elevada) requerem equipamento universal a um custo pequeno, o que mantém o investimento em equipamento baixo acarretando custos fixos pequenos. 19 Volumes elevados (customização é reduzida) requerem equipamento de aplicação especial, ou seja, alto investimento em equipamento e, portanto, custos fixos elevados. No entanto, ao distribuir esses custos fixos por um maior número de unidades produzidas, ver-se-á a vantagem dos custos fixos variáveis baixos compensando os custos fixos elevados. Gianesi e condicionantes flexibilidade Corrêa básicos de um (1993) dos sistema alertam níveis sobre os necessários de produtivo, que são as incertezas do processo, a variabilidade das saídas e a falta de coordenação. Para lidar com essas condições é necessário o desenvolvimento de habilidades específicas e flexibilidade do sistema. O envolvimento do cliente é a quarta decisão e, segundo Ritzman e Krajewski (2004, p. 37), diz respeito ao grau de participação do cliente no processo e ao modo pelo qual ele participa. Esse envolvimento pode variar do autosserviço à customização do produto à decisão do horário e do local em que o serviço deve ser prestado. Autosserviço: comum para varejistas em que o preço é uma prioridade competitiva. Fabricantes de produtos como brinquedos, bicicletas e móveis podem deixar o cliente fazer a montagem final, diminuindo assim os custos com produção, despacho e estocagem, além das perdas decorrentes de estragos. Ou seja, podem 20 transferir as economias para os clientes sob a forma de preços menores. Seleção do Produto: quando a empresa concorre na base da customização frequentemente permite que os clientes apresentem suas próprias especificações do produto, como no caso de construção customizada de residências. Horário e Local: se o serviço é prestado ao cliente ou paciente com hora marcada, as decisões que envolvem o local tornam-se parte do projeto do processo. Davis (et al, 2001, p. 32), complementa essa ideia, afirmando: Esta tendência de ter o processo de transformação trabalhando mais proximamente de clientes e de fornecedores, em igual intensidade, costuma ser denominada a cadeia de valor de um produto. [...] Esta integração de fornecedores e clientes no processo de transformação começa a tirar a nitidez dos limites entre aquilo que antes eram organizações totalmente independentes. O que parece estar surgindo agora é um conceito conhecido como a empresa virtual, que é uma rede totalmente integrada e completa de organizações interdependentes. Com esta nova abordagem, costuma ser difícil 21 determinar onde uma organização sai de cena e a outra assume. Essa integração de fornecedores e clientes traz, assim, vantagens tanto para as empresas que, de certa forma, recebem o feedback dos clientes e o apoio dos fornecedores, quanto para os clientes e fornecedores que participam ativamente do processo de produção. A quinta decisão mais importante é a intensidade de capital que é conceituada como a combinação de equipamento e habilidade humana em um processo – quanto maior o custo relativo do equipamento, maior é a intensidade do capital. Por outro lado, quanto maior a capacitação da tecnologia menor será o custo. Sendo assim, os gerentes se defrontam com uma variedade crescente de escolhas, desde operações que utilizam muito pouca automação até aquelas que exigem equipamento específico para a tarefa e pouquíssima intervenção humana. Automação é um sistema, processo ou parte de um equipamento que atua sozinho e faz sua autorregulação. Uma das vantagens é agregar significativamente a produtividade e melhorar a qualidade. Uma desvantagem é o custo proibitivo do investimento para operações com volume reduzido. 22 No entanto, para produto único ou serviço de alta qualidade, podem ser necessários funcionários hábeis, trabalho manual e atenção individual e não uma nova tecnologia. Segundo Ritzman e Krajewski (2004, p. 38), os fabricantes usam dois tipos de automação: fixa e flexível. Automação fixa: preferível para volumes de demanda elevados, projetos de produto estáveis e ciclos de vida do produto longos para compensar o custo elevado do investimento inicial e relativa inflexibilidade. A automação fixa maximiza a eficiência e resulta no menor custo variável unitário se os volumes são elevados. Automação flexível: pode ser alterada facilmente para produzir vários produtos. A capacidade de reprogramar máquina é útil para os processos de customização reduzida e elevada. No caso de customização elevada, uma máquina que produz uma variedade de produtos em pequenos lotes pode ser programada para alternar entre os produtos. Quando um produto está no final do seu ciclo de vida, a máquina pode ser reprogramada produto. RELAÇÃO ENTRE AS DECISÕES para um novo 23 As decisões sobre o processo normalmente se vinculam e têm como denominador comum o volume, que resulta da estratégia de operações. No caso de operações de serviço deve ser dada uma atenção especial às decisões relativas ao envolvimento do cliente e à intensidade de capital e automação. Segundo Davis (et al, 2001, p. 77): Uma abordagem-padrão para decidir quais das diversas alternativas é mais adequada a determinado negócio é utilizar a análise do ponto de equilíbrio. [...] O eixo horizontal representa o volume de produto, a ser produzido, enquanto o eixo vertical representa os custos totais. [...] os projetos têm poucos ou nenhum custo fixo, mas custos variáveis bastante altos. Processos intermitentes localizam-se entre os dois. Utilizando um critério do custo mais baixo, a escolha de qual processo adotar e, portanto, dependente do volume a ser produzido. Deve-se estar atento, conforme alerta Ritzman e Krajewski (2004), ao fato de que volumes elevados em um processo de serviços normalmente indicam os seguintes fatores: um processo em linha: serviço básico e especificações do serviço rigidamente controlados. Ex.: atendimento em um restaurante self service; 24 maior integração vertical: volume maior diminui a probabilidade de terceirização; menor flexibilidade de recursos: os recursos podem ser dedicados a cada serviço padronizado; menor envolvimento do cliente: serviços padronizados estão relacionados a pequeno contato entre funcionários e clientes; maior intensidade do capital e automação: como o cliente não está envolvido com o processo, aumentam as possibilidades de automação. Volumes elevados e repetição permitem maior automação. No entanto, volumes reduzidos, normalmente significam: um processo de projeto ou processo por tarefa: cada cliente requer alterações distintas no processo em si. Ex.: médicos, etc.; menor integração vertical: volumes reduzidos aumentam a probabilidade do prestador de serviços procurar terceirizar muitos processos; maior flexibilidade de recursos: os funcionários e os equipamentos devem ser capazes de lidar com serviços novos ou diferenciados quando necessário; maior envolvimento dos clientes: interação com os clientes para compreender necessidade particular deles. e diagnosticar cada 25 menor intensidade de capital e automação: nível elevado de habilidades, grande intensidade de mão de obra. Sendo assim, se a escolha do processo a ser adotado tiver como critério o menor custo, essa escolha será dependente do volume a ser produzido. ECONOMIAS DE ESCOPO Representa a capacidade para produzir diferentes produtos, conjuntamente, a um menor custo do que se os produzissem separadamente. Para tanto, duas prioridades competitivas que normalmente são conflitantes, customização e preço baixo, tornam-se mais compatíveis (RITZMAN; KRAJEWSKI, 2004). Para que haja as economias de escopo é necessário que uma família de componentes ou produtos tenha um volume coletivo suficiente para utilizar plenamente os equipamentos. Também em processos de serviços, podem ser aplicadas economias de escopo, tais como, a utilização da internet pela Disney, que vincularam seus processos na internet entre si e com outras partes da Disney. 26 REENGENHARIA DE PROCESSOS E MELHORIA DO PROCESSO Reengenharia é a reestruturação dos processos com a finalidade de melhorar significativamente o desempenho em termos de custo, qualidade, atendimento e rapidez. Para Davis (et al, 2001, p. 138), reengenharia significa, literalmente, começar do princípio com uma planilha em branco e buscar definir como projetamos nossa organização para melhor atender aos nossos clientes. Em função disso, a reengenharia rejeita quaisquer regras que sejam consideradas antiquadas à redefinição da organização e exige o emprego de equipes interfuncionais, tecnologias da informação, liderança e análise do processo. Segundo Ritzman e Krajewski (2004, p. 47) os principais elementos da reengenharia são os seguintes: processos críticos: a ênfase da reengenharia deve dirigir-se aos processos fundamentais do negócio, em vez de aos departamentos funcionais, como compras ou marketing; liderança forte: os executivos devem estabelecer e monitorar objetivos básicos de desempenho para o processo; equipes resultado interfuncionais: em locais a de reengenharia trabalho com dá mais grande envolvimento, equipes de autogestão e a delegação de responsabilidade aos funcionários; 27 tecnologia da informação: a maioria dos projetos de reengenharia dizem respeito à fluxos de informações; filosofia de começar de novo: os encarregados da reengenharia começam do futuro e trabalham em sentido inverso; análise de processo: é necessário analisar todos os procedimentos envolvidos no processo em toda a organização. No entanto, para obter sucesso, a reengenharia precisa estar relacionada à estratégia corporativa da empresa e obter o empenho da gerência, para assim, não correr o risco de precisar competir por recursos escassos. Outra decisão possível para efetuar mudanças é a melhoria de processo que representa um estudo visando o aprimoramento das atividades e fluxos de cada processo. A empresa tarefas, deve eliminar buscar maneiras inteiramente de processos simplificar completos, substituir materiais ou serviços onerosos, melhorar o meio ambiente ou tornar as funções mais seguras, e ainda encontrar maneiras para reduzir custos, atrasos e aumentar a satisfação do cliente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os finanças, processos recursos estão presentes humanos, na sistemas contabilidade, de informação 28 gerencial, marketing e operações, e atravessam as linhas organizacionais, não importando se a empresa é organizada em linhas funcionais, por produto, regionais ou por processo. Eles estão presentes em todos os lugares e são a base de qualquer trabalho, devendo, portanto, agregar o máximo valor possível para o cliente. Assim sendo, a decisão sobre qual alternativa é a que mais se aplica a determinado negócio, exige uma séria análise por parte da organização. Para que isso seja possível, é necessário abertura a mudanças nos processos por parte dos gerentes, quer pela reengenharia, que representa um redesenho do processo, ou uma iniciativa menos drástica, que seria um esforço contínuo para a melhoria do processo. REFERÊNCIAS BENNIS e MISCHE, 1995, citado por GONÇALVES, José Ernesto Lima. RAE-Revista de Administração de Empresas. Jan/março 2000. São Paulo, v. 40. n. 01. p. 6-19. CAMERON, Kim et al. Downsizing and redesigning organizations. Citado por GONÇALVES, José Ernesto Lima. RAE-Revista de Administração de Empresas. Jan/março 2000. São Paulo, v. 40. n. 01. p. 6-19. CORRÊA, Henrique L.; GIANESI, Irineu G. N. Just in time, MRP II e OPT - um enfoque estratégico. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1993. 29 DAVIS, Mark M.; AQUILANO, Nicholas J.; CHASE, Richard B. Fundamentos da administração da produção. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. GRAHAM, Morris, LeBARON, Melvin. The horizontal revolution. San Francisco: Jossey-Bass, 1994. Citado por GONÇALVES, José Ernesto Lima. RAE-Revista de Administração de Empresas. Jan/março 2000. São Paulo, v. 40. n. 01. p. 6-19. LIPNACK e STAMPS. 1997. Citado por GONÇALVES, José Ernesto Lima. RAE-Revista de Administração de Empresas. Jan/março 2000. São Paulo, v. 40. n. 01. p. 6-19. RITZMAN, L. P.; KRAJEWSKI, L. J. Administração da produção e operações. São Paulo: Prentice Hall, 2004. TUBINO, Dalvio Ferrari. Manual de planejamento e controle de produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. O GIGANTE SISTEMA FINANCEIRO 30 Jeniffer de Sousa Bogdanavicius3 Evandro Castilho Salamão8 Patrícia Rosana Andersen8 Neori Taminini - Orientador4 RESUMO O objetivo desse trabalho é mostrar o quão grande é o sistema financeiro, o que é esse mercado, seus componentes, seus objetivos, sua importância, por que devemos entender e interagir com esse mercado. Sabemos que o sistema financeiro está presente no Brasil desde a vinda dos portugueses ao país, tendo por objetivo guardar as riquezas que aqui possuía, dessa mesma forma até hoje, as pessoas tentam da melhor maneira cuidar do seu dinheiro, sendo com investimento, ou movimentando de diversas outras formas. Essa troca de serviços que as instituições e representantes financeiros possuem é muito importante, pois a moeda depositada volta à população em forma de empréstimo e a volta para a instituição em forma de investimento é recíproca, por isso deve-se ter uma noção básica do que ocorre nesse mercado, através do sistema financeiro. Dessa forma este artigo traz um conhecimento simples para que possamos compreender o que fazemos todos os dias com nosso dinheiro, de uma forma básica, pois é muito complexo e amplo o sistema, sendo assim seguem, no decorrer desse artigo, os pontos principais do sistema financeiro. Palavras-chave: moeda, sistema, mercado. ABSTRACT The objective of that work is to show him/it how big it is the financial system, what is that market, your components, your objectives, your importance, why should 3 4 Acadêmicos do curso de Ciências Contábeis do 5º semestre da Faculdade Cidade Verde – Maringá. Professor dos cursos de Ciências Contábeis e Administração da Faculdade Cidade Verde. 31 understand and to interact with that market. We know that the financial system is present in Brazil from the coming of the Portuguese to the Country, tends for objective to keep the wealth that here possessed, this same way to today, the people try in the best way to take care of your money, being as investment, or moving of several other forms, that change of services that it possesses institutions and financial representatives and very important, because the coin deposited turn the population in loan form and it goes back to the institution in investment form and reciprocal, for that that one should have a basic notion of what it happens at that market, through the financial system. This way this article brings a simple knowledge so that we can understand what we do everyday with our money, in a basic way, because it is very complex and wide the system, it proceeds in elapsing of the article the main points of the financial system. Key-words: coin, system, market. 1 INTRODUÇÃO Você sabe por que as instituições financeiras recebem a visita de milhares de pessoas todos os dias? Mesmo trabalhando em um tempo curto ao público, essas instituições apresentam uma grande movimentação, tendo espaço para todas as pessoas, desde uma dona de casa, até um empresário bem sucedido. A resposta para essa questão irá se desenvolver no decorrer desse artigo. Antigamente, antes da invenção do papel moeda, as pessoas trabalhavam com trocas de objetos, porém sempre observando o valor que possuía o objeto para se ter uma troca justa. Com o decorrer do tempo, vieram as pedras preciosas, ouro, prata, e logo o conhecido papel moeda. A 32 diferença nos tempos atuais é que todas as pessoas diariamente buscam essa moeda para adquirir algo, por isso mesmo muitas vezes, não sabendo, elas estão inseridas no mercado financeiro, dentro dos sistemas financeiros, até mesmo as que aplicam ou investem em algo. Dessa forma o sistema financeiro veio facilitar essas transações para que se possa ter um controle, uma organização, para que tudo esteja de forma correta e fiscalizada. Abaixo segue a história, o que é esse sistema, seus componentes e sua importância, para que todos possam entender melhor e até trabalhar mais de forma adequada com esse sistema. 2 HISTÓRIO DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL O sistema financeiro chegou ao Brasil juntamente com a vinda da Família Real portuguesa, em 1808, data na qual também foi criado o Banco do Brasil. Com o passar do tempo outras Inspetoria instituições Geral dos foram Bancos surgindo, (1920), a como Camará a de Compensação do Rio de Janeiro (1921) e de São Paulo (1932), também surgiram novos bancos, as Caixas Econômicas e outras tantas instituições privadas. Em 1808, surge o Sistema Financeiro Nacional, com a construção do 1º Banco do Brasil, porém teve uma duração 33 em curto prazo, pois assim que D. João VI voltou para Portugal levou todo o ouro depositado. Dessa forma, o Sistema Financeiro veio a crescer com a Independência do Brasil, criando-se três novos bancos, sendo o 1º Banco do Ceará, em 1936, o 2º Banco do Rio de Janeiro e o 3º Banco de Pernambuco, tendo um marco maior com a criação do 3º Banco do Brasil, pois o segundo nem ocorreu o funcionamento, começa então a desenvolver as intermediações financeiras, ocasionando a instalação de Bancos Estrangeiros. O Sistema Financeiro caracterizou-se pela intermediação financeira na sua forma mais simples através de atividades relacionadas ao setor cafeeiro e a implantação de projetos no setor de infraestrutura. No período das Guerras e da Depressão, por volta de 1914 e 1945, houve vários acontecimentos que interferiram diretamente no sistema, entre eles tivemos: expansão do sistema de intermediação financeira de curto e médio prazo; criação da Inspetoria Geral dos Bancos, integração da Câmara de Compensação, e ainda a implantação da Carteira de Redescontos do Banco do Brasil, iniciou-se neste mesmo período os estudos para a criação do Banco Central do Brasil. Todos estes acontecimentos trouxeram grandes benefícios ao sistema financeiro brasileiro. Porém, em 1945 e 1964 ocorreram as principais mudanças no Sistema Financeiro Nacional. Foi uma fase de transição, de uma estrutura simples a uma estrutura mais ampla e complexa, com a implantação da SUMOC 34 (Superintendência da Moeda e do Crédito), é o órgão que controla e fiscaliza o sistema financeiro, logo vem o BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico). Tivemos ainda a criação de instituições financeiras de apoio a regiões carentes, o desenvolvimento de companhias de crédito, financiamento e investimentos de médio e longo prazo. Segundo Souza (2003, p. 3), em 1964, 1965 e 1976, tivemos as principais reformas no Sistema Financeiro Nacional, com a edição de 5 (cinco) Leis: Lei nº 4380/64 – Instituindo a Correção Monetária nos contratos imobiliários e criados o SFH – Sistema Financeiro da Habitação e o BNH – Banco Nacional de Habitação. Lei nº 4595/64 – A base de reforma bancária, criando o Banco Central do Brasil e o Conselho Monetário Nacional. Lei nº 4728/65 – Que normatizou o funcionamento do Mercado de Capitais, estabelecendo medidas para o seu desenvolvimento. Lei nº 6385/76 – Criou a CVM – Comissão de Valores Mobiliários, órgão normativo do Mercado de Capitais, que veio substituir o então Departamento de Mercado de Capitais, do Banco Central do Brasil. Lei nº 6404/76 – Estabelecendo a legislação das Sociedades Anônimas. 35 Com as alterações acima citadas, o SFN conseguiu ampliar e diversificar o número de intermediários financeiros, que passaram a atuar em áreas específicas, aumentando, dessa forma, as opções de Ativos Financeiros. Os fatos acima são as principais alavancas para o crescimento do sistema financeiro. Com o decorrer da história, as pessoas tiveram mais acesso aos benefícios do sistema financeiro, como mostra a citação abaixo. Segundo Fleuriet (2004, p. 7): Antigamente, era simplesmente impossível emprestar dinheiro ou tomar emprestado dinheiro. Até pelo menos o século XV, a doutrina católica ensinava que empréstimos a juros (usura) eram contrários à lei divina. Para Santo Agostinho, no século V, esses empréstimos representavam um crime. São Tomás de Aquino concordava plenamente. E também Martinho Lutero, para quem os juros representavam umas das principais obras do demônio! De acordo com o Velho Testamento, os melhores empréstimos eram aqueles que não estavam sujeitos a encargos. Na prática de todo dia, a lei proibia emprestar a um irmão porque essa “ajuda” poderia na verdade escravizá-lo. Na sociedade cristã da Idade Média, era possível emprestar dinheiro a um irmão, mas sem direito a exigir pagamento de juros. 36 Atualmente as coisas mudaram muito, hoje as pessoas que necessitam de capital tem acessibilidade a qualquer sistema financeiro, desde que cumpra com suas obrigações, à base de contratos, normas, e à taxa de juros, sem esquecer os impostos. Com a amplitude da população quase não existe a confiança uma nas outras, tudo é feito de forma legalizada e registrada para não se ter dúvida do compromisso que está sendo firmado. Dessa forma, vamos conhecer melhor nosso sistema financeiro para fazer melhores negócios, seguindo os tópicos abaixo. 2.1 O QUE É O SISTEMA FINANCEIRO Para melhor entender o que é um sistema financeiro, devemos saber a definição do Mercado Financeiro, e que a negociação de dinheiro entre pessoas varia de um simples empréstimo bancário até um alto investimento na bolsa de valores. É um fluxo onde os superavitários (pessoas, empresas e governo) transferem o recurso para os deficitários, através das instituições financeiras. Segundo Alexandre Neto e Martins Elizeu, (1992, p. 67): Todo processo de desenvolvimento de uma economia exige a participação 37 crescente de capitais, que são identificados por meio da poupança disponível em poder dos agentes econômicos e direcionados para os setores produtivos carentes de recursos mediante intermediários e instrumentos financeiros. E é em função desse processo de distribuição de recursos no mercado que se evidencia a função econômica e social do sistema financeiro. Dessa maneira, as pessoas depositam fundos em uma instituição financeira, através da poupança, aplicações, investimentos na bolsa de valores, depósitos, fazendo com que essas instituições emprestem ou forneçam esse dinheiro com juros para aqueles indivíduos que necessitam de uma complementação, para eventuais finalidades. Na realidade existem diversas formas desse fluxo financeiro girar, para que essa negociação aconteça. O sistema financeiro nacional do Brasil é composto por um conjunto de instituições financeiras voltadas para a gestão da política monetária do governo federal e por entidades supervisoras e operadores que atuam no mercado nacional e, orientado por três órgãos normativos, o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e o Conselho de Gestão da Previdência Complementar (CGPC). Segundo pesquisa via internet, o mercado financeiro nada mais é do que o mecanismo que recolhe e canaliza as 38 poupanças dos agentes econômicos para o investimento, através de três segmentos fundamentais, cujos signos orientam e determinam o movimento geral da economia e competência. Segundo, Fortuna (2005, p.16): Uma conceituação bastante abrangente de sistema financeiro poderia ser de um conjunto de instituições que se dedicam, de alguma forma, ao trabalho de propiciar condições satisfatórias para a manutenção de um fluxo de recursos dentre poupadores e investidores. O mercado financeiro, onde se processam essas transações, permite que um agente econômico qualquer (um indivíduo ou empresa, sem perspectivas de aplicação em algum empreendimento próprio), da poupança que é capaz de gerar (denominado como um agente econômico superavitário), seja colocado em contato com outro, cujas perspectivas de investimento superam as respectivas disponibilidades de poupança (denominado como um agente econômico deficitário). Dessa maneira, o sistema financeiro vem proporcionando a manutenção de um fluxo de recursos entre os poupadores e investidores, dentro do mercado financeiro, que possui um papel muito importante no processo de crescimento econômico, pois é através dele que as taxas de poupança e investimento elevam-se. 39 2.2 ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO Para melhor entender esse sistema devemos conhecer sua estrutura, que cada vez se modifica para melhor atender as necessidades de seus usuários. Essa estrutura obedece a SFN do art. 192, da Constituição Federal, que prevê Lei Complementar para regulamentar o Sistema Financeiro. Segundo Souza (2003, p. 3): “Atualmente o Sistema Financeiro Nacional é composto por 2 (dois) subsistemas: 1 – Subsistema Normativo; e 2 – Subsistema Operativo” O Subsistema Operativo é normatizado e controlado pelo Subsistema Normativo. O subsistema Normativo tem a finalidade de regular o subsistema operativo, e é responsável pelo funcionamento do mercado financeiro e de suas instituições tendo como órgão máximo o conselho monetário nacional, possuindo dois subgrupos, as autoridades monetárias e autoridades de apoio. O subsistema de intermediação é composto pelas instituições bancárias e não bancárias que atuam em operações de intermediações financeiras. Sendo as autoridades monetárias responsáveis de fixar as diretrizes da política monetária, creditícia e cambial do país, sendo considerado como um Conselho Político- 40 Econômico, as autoridades de apoio têm o objetivo de fiscalizar, disciplinar e regulamentar o mercado de valores mobiliários (ações, debêntures, partes beneficiarias, cupons, bônus de subscrição, certificados de depósitos de valores mobiliários, etc.), tendo inserido a CMV (Comissão de Valores Mobiliários), sendo, segundo Souza (2003, p. 13): “uma entidade autarquia em regime especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, com personalidade Jurídica e patrimônio próprio, dotada de autoridades administrativas independentes, ausência de subordinação de seus dirigentes”. 2.3 ELEMENTOS QUE COMPÔEM O SISTEMA FINANCEIRO Existem dentro do sistema financeiro alguns elementos, ou subgrupos, que servem para diferenciar o tipo de finanças com a qual trabalho. Vejamos cada um deles de acordo com os autores citados e explicações: Segundo Azevedo (p. 17), O Conselho Monetário nacional foi criado pela lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, que lhe dá poderes para direção da política da moeda e do crédito do país. Através da evolução da sua constituição, pode-se ter uma ideia das diferenças de conceitos que 41 norteiam a monetária. sua influencia na área O CMN e a responsável pela formulação de toda a política de moeda e do crédito, tendo como objetivo, atender os interesses socioeconômicos do país. A superioridade dessa entidade dentro do sistema financeiro faz com que a mesma tenha diversas competências, entre elas: sincronizar os valores internos da moeda, prevenindo ou corrigindo os surtos inflacionários de origens internas e externas; regular o valor externo da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos do país; orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras, tanto públicas, quanto privadas, propiciando condições financeiras regionalizadas, para garantir o desenvolvimento do país; zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras. BANCO CENTRAL DO BRASIL – BC OU BACEN Segundo Fortuna (2005, p. 20): O Banco Central é entidade criada para atuar como órgão executivo central do 42 sistema financeiro, cabendo-lhe a responsabilidade de cumprir e fazer cumprir as disposições que regulam o funcionamento do sistema e as normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional. O Banco Central foi criado pela Lei nº 4595 de 31 de Dezembro de 1964 vindo para substituir a antiga SUMOC – Superintendência da Moeda e do Crédito. É um órgão fiscalizador da política e das operações realizadas no mercado financeiro. Na sua superioridade, é o banco dos bancos, recebe com exclusividade o depósito compulsório dos bancos comerciais. As autoridades financeiras do Banco Central baixam normas, fiscalizam e controlam as atividades das instituições financeiras, concedendo autorizações para seu funcionamento, bem como pode decretar intervenções extrajudiciais dessas instituições. Sua atuação é direta nas Instituições Financeiras do Mercado, Companhias de Capital Aberto e Investidores. É o monopolizar da emissão de papel-moeda e da moeda metálica. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS – CVM Segundo Fortuna (2005, p. 23): “Elas operam com autonomia administrativa, financeira e patrimonial e responsabilidade de fiscalização direta de seus respectivos 43 membros e das operações com valores mobiliários nelas realizadas, mas sempre, sob a supervisão da CVM”. A CVM tem como função básica incentivar a poupança no mercado acionário, estimular o funcionamento das bolsas de valores e das instituições operadoras do mercado acionário, bem como proteger seus investidores, e ainda promover a expansão de todo mercado acionário. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. Segundo Fortuna (2005, p. 25): “É a instituição responsável pela política de investimentos de longo prazo do governo federal. É a principal instituição financeira de fomento do país”. O BNDES apoia empreendimentos que contribuem para o desenvolvimento do país, resultando desta ação melhorias na competitividade econômica brasileira, bem como uma elevação da qualidade de vida da população. Caixa Econômica Federal – CEF ou CAIXA Segundo Fortuna (2005, p. 25): “A caixa é a instituição da política do governo federal para habilitação popular e saneamento básico, caracterizando-se cada vez mais como o banco de apoio ao trabalhador de baixa renda”. 44 É a principal agência de atendimento à população brasileira, além de ser uma instituição bancária como as outras, atende uma grande massa de trabalhadores formais do país, quer por meio de pagamentos de FGTS, PIS, seguro-desemprego, entre outros. É uma das pioneiras no setor de atendimento da população no que tange à habitação, procurando melhorar o acesso da população na aquisição de imóveis, principalmente da classe de baixa renda. Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional – CRSFN Segundo Fortuna (2005, p. 26): “Criado pelo decreto 91.152, de 15/03/85, como órgão integrante do Ministério da Fazenda, para julgar, em segunda e última instância os recursos interpostos das decisões relativas à aplicação de penalidades administrativas pelo Banco Central do Brasil e comissão de valores mobiliários”. O CRSFN é composto por oito conselheiros, que possuem conhecimentos específicos em assuntos do mercado financeiro, de câmbio, crédito rural e industrial, de capitais. Compõem-se de: um representante do Ministério da Fazenda; um representante do Banco Central do Brasil; um representante da Secretaria de Comércio Exterior; 45 um representante da Comissão de Valores Mobiliários; e quatro representantes das entidades de classe dos mercados afins, indicados por estas em lista tríplice. Instituições Financeiras – MNI Segundo Fortuna (2005, p. 27): “O Manual de Normas e Instituições – MNI, preparado e editado pelo Banco Central, estabelece todas as instituições financeiras”. São divididas em: Bancos Comerciais – BC; Caixas Econômicas – CE; Bancos Cooperativos – BCO; Cooperativas de Crédito – CC. Instituições Financeiras não monetárias, segundo Fortuna (2005, p. 32): “São instituições que captam recursos para empréstimo, através da emissão de títulos, portanto, intermediam a moeda”. São divididas em: Bancos de Desenvolvimento – BD; Bancos de Investimentos – BI; Sociedades de Créditos, Financiamento e Investimento Financeiro; Sociedade de Crédito ao Microempreendedor – SCM; Companhias Hipotecárias – CH; Sociedades de Crédito Imobiliário – SCI; Associações de Poupanças e Empréstimos – APE. Instituições Auxiliares do Mercado Financeiro 46 Segundo Fortuna (2005, p. 36): “São instituições típicas do mercado acionário, operando com a compra, venda e a distribuição de títulos e valores mobiliários (inclusive ouro) por conta de terceiros”. São divididas em: Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários – CCVM; Sociedades Distribuidoras de Títulos e valores mobiliários – DTVM; Sociedades de Arrendamento Mercantil (Leasing); Agências de Fomento ou Desenvolvimento – AF; Bancos Múltiplos – BM. 2.4 IMPORTÂNCIA DO SISTEMA FINANCEIRO E SUA DEVIDA UTILIZAÇÃO Quando as pessoas utilizam desse sistema sem o devido conhecimento, e de forma a levar vantagens, acaba como previsto por Karl Marx, citado por Fleuriet (2004, p. 3): O sistema de crédito público, isto é, o endividamento nacional, cuja origem vamos encontrar em Gênova e Veneza, já na Idade Média se espalhou pela Europa durante o período manufatureiro (...) a dívida nacional deu lugar às sociedades por ações, à negócios de todos os tipos e à agiotagem, ao jogo das bolsas de valores e à moderna bancocracia. 47 A citação acima nos mostra que, com o passar do tempo, foram ampliando as facilidades para se adquirir créditos, para usufruir do sistema financeiro. Diante de tais facilidades, um problema é percebido: as pessoas que não têm controle acabam se tornando inadimplentes no decorrer dos anos, pois não buscam informações, não pesquisam melhores taxas e, às vezes, fazem uma operação atrás da outra sem se importar com a renda que possui. O Estado é que desperta o crescimento do mercado, todos procuram o que está exposto nele, por isso que o mercado financeiro também se tornou um arrecadador de imposto, pois além da população pagar pelas taxas de serviços, ainda paga o valor correspondente aos impostos. Dessa forma, é um sistema capitalista que expande para atender as necessidades do grande mercado, que cria argumentos de vendas, estuda novos investimentos e facilidades para atrair cada vez mais a população. Segundo Silva (1985, p. 31): O mercado financeiro, também conhecido como mercado do dinheiro, constitui-se o centro do mercado monetário. A importância do mercado de financiamentos está calcada na expressividade do volume de recursos que ali é transacionado diariamente, já que as instituições financeiras tomam recursos emprestados de terceiros para ‘bancar’ as carteiras de títulos. Além 48 desse aspecto, há que se reconhecer que esse mercado se constitui um dos canais de propagação da política monetária. A atuação do Banco Central, através das Operações de Mercado aberto, injeta ou retira reservas dos bancos, o que permite uma maior ou menor capacidade de expansão dos bancos comerciais. Dessa forma, o mercado financeiro é muito importante, assim como qualquer outro mercado, ele também tem procura e oferta de recursos, sempre busca atrair as pessoas para girar esse mercado, pois necessita das mesmas que investem para bancar as pessoas que buscam recursos de terceiros, fato muito comum hoje. Só não pode deixar se prender nesse mundo financeiro e não ter a liberdade de ter seu próprio capital. Por isso, na realidade, é um direito e uma obrigação de cada cidadão saber em que se está interagindo, quem cuida de seu dinheiro, ou mesmo onde se está investindo, pois hoje o sistema financeiro também se tornou um consultor de seus investidores, também para tirar as dúvidas necessárias, podendo ser procurado sempre que houver necessidade. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS As transações financeiras avançaram das trocas comerciais ao papel moeda. Nesse meio tempo, passou 49 pelas acumulações primitivas de capital, pelo mercantilismo, pela Revolução Industrial, até chegar ao surgimento dos grandes bancos, dos conglomerados multinacionais e das bolsas de valores atuais, instrumentos que viabilizam o fluxo de capitais entre os países. Em se tratando do Brasil, o mercado financeiro teve seu início com a vinda dos portugueses, e cresceu gradativamente acompanhando o crescimento do país atuando, orientando e direcionando os investimentos nos diversos setores da economia brasileira. Diferente do que se percebia há algumas décadas, quando apenas quem possuía um grande montante tinha acesso ao sistema financeiro, hoje quase todos podem frequentar e usufruir desse sistema, que procura viabilizar o acesso da população às operações financeiras, incluindo o pagamento de impostos, financiamentos, investimentos, enfim, formas variadas de transações que envolvem dinheiro. REFERÊNCIAS EIZIRIK, Nelson. Instituições financeiras e mercado de capitais. Rio de Janeiro: Renovar, 1998. FLEURIET, Michel. A arte e a ciência das finanças. Rio de Janeiro: Campus, 2004. FORTUNA, Eduardo. Mercado financeiro, serviços. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005. produtos e 50 NETO, Alexandre; A, MARTINS, Eliseu. Manual de controle operacional das sociedades de crédito, financiamento e investimento. São Paulo: Atlas, 1992. SILVA, Peri. A. Técnicas do mercado aberto. Rio de Janeiro: IBMEC, 1985. SOUZA, José Luiz de. Mercado financeiro conhecimentos bancários. Rio de Janeiro: Impetus, 2003. MARKETING DE RELACIONAMENTO: EM BUSCA DA RETENÇÃO E 51 LEALDADE DO CLIENTE. Luciene Martins Campiotto (FCV) Fátima Regina Oberst (FCV) Pedro Vieira (FCV) Bianca Burdini Mazzei (FCV) Pedro Espinha (FCV) RESUMO A prática do marketing de relacionamento pode se tornar um diferencial entre empresas e produtos. É capaz de trazer para o consumidor um motivo concreto para escolher uma marca em detrimento das outras. Assim, o objetivo desse artigo é caracterizar o marketing de relacionamento como instrumento na busca pela retenção e lealdade do cliente. Para tanto, trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva, com natureza qualitativa, e bibliográfica quanto ao levantamento dos dados. Observa-se então que o marketing de relacionamento é saber que o poder está nas mãos do consumidor e perceber que ou a empresa reconhece essa força e dá para ele o que ele quer, ou tem poucas chances de vencer os desafios impostos pelo mercado competitivo. Dessa forma, de um diferencial, o marketing de relacionamento, está passando a ser considerado uma obrigação, já que contribui efetivamente na retenção e lealdade dos clientes. ABSTRAC The practice of relationship marketing may become a form different between companies and products. It is able to bring to consumers a concrete reason to choose one brand between of others. So the purpose of this article is to characterize the relationship marketing as tool in the quest 52 for the customer loyalty and retention. Then, this is a search-type descriptive, with a qualitative nature, and literature on the lifting of the dates. It was then that the marketing relationship is knowing that the power is in the hands of consumers and realize that or the company recognizes that force and to give him what he wants, or have little chance of overcoming the challenges posed by the competitive market. Thus, a differential, relationship marketing, is going to be considered an obligation, as it contributes effectively in the retention and loyalty of customers. 1- INTRODUÇÃO A busca das empresas na construção e manutenção de relacionamentos duradouros e lucrativos com os clientes tem sido uma tendência (KOTLER, 1998), uma vez que muitas empresas estão se afastando do marketing exclusivamente de transação, cuja ênfase é a venda, para praticar o marketing de relacionamento. De acordo com Gordon (2002), isso se deve principalmente em função da alta competitividade gerada a partir da enorme quantidade de novos produtos com tecnologia e preços muito parecidos que são introduzidos no mercado a cada ano. Acompanhar as constantes mudanças e tendências dos mercados tem sido um dos grandes problemas para as organizações que primam pela satisfação dos clientes, através da oferta de produtos e serviços. Muitas empresas acreditam que o marketing de relacionamento consegue reduzir seus custos com 53 prospecção de novos clientes e aumentar a receita com os clientes existentes. Portanto, a conquista da venda não é a função do marketing em si, mas o início para o real desenvolvimento do trabalho dos profissionais dessa área: consistindo na construção de um relacionamento entre a empresa e o cliente, agregando valor ao serviço ofertado já baseado em informações relevantes, selecionadas e aplicadas ao longo dos contatos. Tem-se observado que, no momento atual, as empresas estão cada vez mais investindo na capacitação de seus funcionários, no bom atendimento ao cliente, para que este possa sair satisfeito e sempre retornar. Quanto mais a empresa reconhece as necessidades de seu cliente, mais este lhe dará informações a seu respeito. As empresas conquistam a sua lealdade e fidelidade, o que garante um crescimento nas suas vendas. Entende-se que o caminho para o sucesso está no fortalecimento dos relacionamentos com seus públicos, criando elos e rotinas que melhoram a imagem das empresas, aumentando a qualidade percebida e garantindo, assim, a superação de suas tão desejadas metas comerciais e financeiras. 2 METODOLOGIA 54 O objetivo desse artigo é caracterizar o marketing de relacionamento como instrumento na busca pela retenção e lealdade do cliente. Para tanto, trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva, pois conforme Richardson (1999, p. 66) esse é o estudo que se utiliza “quando deseja descrever as características de um fenômeno”. Nesse artigo o fenômeno social descrito é o marketing de relacionamento como instrumento de marketing na busca pela retenção do cliente. Os dados foram levantados por meio de uma pesquisa bibliográfica que, para Marconi e Lakatos (2006), a pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange a bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, livros, os meios de comunicação mais influentes, entre outros. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direito com tudo que foi escrito. A pesquisa bibliográfica abrangeu os levantamentos e estudos bibliográficos que se estenderam ao longo do trabalho e foram essenciais para elaborar as categorias de análise, tratar os resultados e construir as referências teóricas que serviram de sustentação para esse estudo. Assim, essa pesquisa possui natureza essencialmente qualitativa, uma vez que não se utiliza de instrumental estatístico para levantamento e análise dos dados (VIEIRA, 2004). 55 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 EVOLUCAO DO MARKETING Com o passar do tempo, essa definição de marketing foi evoluindo e passou a ser não uma função, mas uma forma de fazer negócios. Com o desenvolvimento da tecnologia e o aumento da competição, algumas empresas se mostraram mais dispostas a atender as necessidades dos clientes. O desafio do marketing agora é decodificar o modo de pensar, de compreender e lidar com a realidade oferecendo as informações necessárias para que os executivos possam tomar decisões, com base no conhecimento do ponto de vista do cliente. De acordo com Kotler (1998, p. 19), “no delineamento da oferta da organização, em termos das necessidades e dos desejos do mercado-alvo, e no uso eficaz da política de preços, comunicações e distribuição, a fim de informar, motivar e prestar serviços aos mercados”. As ações de marketing visam que o cliente compre o produto hoje, desde que não se perca a relação de longo prazo que deve perdurar entre cliente e fornecedor. Atender as necessidades do consumidor é um dos princípios básicos do marketing. E o que mais as pessoas 56 precisam hoje, para além da relação de compra, é de relacionamentos positivos com uma marca. O marketing está sendo praticado no mundo inteiro e está atraindo o interesse de organizações sem fins lucrativos, tais como escolas, hospitais, museus. 3.2 CONCEITO DE MARKETING DE RELACIONAMENTO O marketing de relacionamento é considerado uma filosofia de administração empresarial baseada na aceitação da orientação para o cliente e para o lucro por parte de toda a empresa, e no reconhecimento de que se devem buscar novas formas de comunicação para estabelecer um relacionamento profundo e duradouro com os clientes. Para Kotler (1998) há cada vez mais uma necessidade de relacionamento. O autor acredita que a maioria das pessoas está se afastando do marketing de transação, cuja ênfase é fazer vendas, para praticar o marketing de relacionamento, que enfatiza a construção e manutenção de relacionamentos lucrativos em longo prazo com os clientes oferecendo-lhes maior valor e satisfação. “Marketing de relacionamento é como a empresa encontra, conhece, mantém e garante ao seu cliente, que ele obtenha o que deseja e que lhe foi prometido em todos os aspectos do negócio” (BRETZKE, 2000, p. 29). 57 Para Kotler (1998), o marketing de relacionamento objetiva estabelecer relacionamentos mutuamente satisfatórios de longo prazo com partes-chave: clientes, fornecedores e/ou distribuidores, de maneira a ganhar e reter sua preferência no longo prazo. Estes relacionamentos estabelecem sólidas ligações econômicas, técnicas e sociais entre as partes, resultando na construção de um patrimônio corporativo singular, denominado rede de marketing. As empresas necessitam estudar bem o mercado, e principalmente seu público-alvo, para poder atender da melhor forma suas necessidades. O marketing de relacionamento apresenta um produto ou serviço e trabalha bastante com a área subjetiva da mente do consumidor, lutando para que ele realmente se torne leal a sua marca. Freitas (1999, p. 3) entende que: Clientes insatisfeitos frequentemente cessam de usar ou comprar os serviços sem dar informações que permitam que ações corretivas sejam tomadas. A confiança nas reclamações dos clientes como uma medida da satisfação dos clientes pode levar as conclusões incorretas. Com a tecnologia avançada e o marketing de relacionamento é possível identificar as necessidades do cliente. Não somente os dados da venda e o cadastro do 58 cliente geram níveis de lealdade à marca, o relacionamento reduz o investimento na busca de novos clientes. Quando o cliente confia mais na empresa, sabe que ela reconhece suas necessidades e entrega produtos e serviços compatíveis com as suas características, mas dá informações a seu respeito. Quanto mais informações a empresa privilegiar tem, os maior clientes a capacidade lucrativos. de O reconhecer marketing e de relacionamento estimula a lealdade dos clientes. Enfim, fazer marketing de relacionamento é saber que o poder está nas mãos do consumidor e perceber que, ou a empresa reconhece essa força e dá para ele o que ele quer, ou tem-se poucas chances de vencer os desafios impostos pelo mercado no novo milênio. 3.3 RELACIONAMENTO COM O CLIENTE Os clientes querem os produtos que satisfaçam seus desejos e suas necessidades, de uma forma constante as exigências aumentam e se tornam imprescindíveis às medidas de adequação de cada setor da empresa as exigências dos mercados consumidores. McKenna (2000, p. 45) diz que: Os consumidores não querem ser classificados como alvos ou segmentos 59 de mercado, grupos de pessoas com necessidades praticamente idênticas. Eles querem que lhes perguntem quais são suas preferências, e esperam que essas preferências sejam respeitadas. Na maioria das vezes, o relacionamento entre a empresa e o cliente é ineficiente por causa da inexistência ou da má qualidade das informações existentes. A força de uma organização voltada para o mercado é medida pelo conhecimento das necessidades de seus clientes e sua habilidade em atender de modo eficaz e lucrativo essas necessidades. 3.3.1 Clientes Externos O relacionamento entre empresa e cliente pode-se caracterizar pelo caráter passivo ou ativo de ação da empresa. De acordo com Abreu (1996) quando a empresa participa ativamente, ela se antecipa ao cliente procurando saber sua satisfação com o produto adquirido, e ao contrário, as que atuam de forma passiva, ficam esperando pelas chamadas dos clientes. Conforme Kotler (1998, p. 201), “[...] apesar de todos os clientes serem importantes, as empresas precisam identificar os clientes que lhes são mais valiosos e tratá-los de forma especial”. 60 A estratégia de relacionamento e de retenção dos clientes pode ser incrementada erguendo-se barreiras para dificultar a troca de fornecedor ou entregando melhor valor aos clientes. A lealdade de uma clientela é um compromisso físico e também emocional, mas em troca desse comprometimento, os clientes esperam que suas necessidades sejam bem atendidas. O comportamento do consumidor é bastante instável e pode mudar repentinamente, e nesse ambiente de mudança nem sempre usar dados do passado e presente é suficiente para predizer o futuro. Para identificar os desejos, anseios e necessidades antes mesmo que eles consigam percebê-los, a empresa devera consolidar um relacionamento baseado na confiança, redobrar a atenção nos dados internos e externos ao mesmo tempo em que acompanha a evolução do mercado. Uma vez que se saiba, de um lado, qual é a identidade da marca, e de outro, o perfil do consumidor - bem como suas crenças e valores - cabe ao marketing de relacionamento garantir a conexão entre ambos num processo contínuo de ação e reação. Para Cabral (2006, p. 1), “a grande estrela é o cliente. Deve-se conhecer profundamente a fim de administrar o que fazer o que não fazer e quanto de energia as empresas devem dispensar com seus diversos tipos de clientes”. 61 Quanto mais o cliente percebe que a empresa sabe reconhecer suas necessidades e entregar produtos e serviços compatíveis com as suas características, mais o cliente dá informações a seu respeito. Quanto mais informações a empresa tem, maior a capacidade de reconhecer e privilegiar os clientes lucrativos. A fidelização do cliente integra-se ao processo do marketing de relacionamento. Desde a preocupação com o cliente interno (quadro funcional da empresa), passando pela qualidade total de serviços, e o pós-venda, que atua como fator importante para conquista da fidelidade do cliente externo. 3.3.2 Clientes Internos Os clientes internos da empresa constroem ou destroem a imagem da organização. Jamais haverá um bom relacionamento com os clientes externos se não houver um bom relacionamento com os colaboradores. Para que o empregado exerça seu papel com eficiência e eficácia é preciso antes de tudo, que ele esteja satisfeito e comprometido com a organização. A medida da satisfação dos funcionários proporciona um importante indicador dos esforços da empresa no sentido de melhorar a satisfação dos clientes e o desempenho operacional. A empresa que deseja proporcionar satisfação dos seus clientes externos deve, prioritariamente, investir na 62 formação, preparação e satisfação dos seus clientes internos, ou seja, dos empregados. Os clientes internos são os funcionários da empresa, que são responsáveis pela sua imagem. Não há um bom relacionamento com os clientes externos se os internos não estiverem em perfeita harmonia. Daí resulta a necessidade de se fornecer serviços de qualidade aos clientes internos como condição fundamental para que estes possam prestar serviços de qualidade para os clientes finais. Portanto, é muito importante que a empresa invista no marketing de relacionamento com o objetivo de manter os clientes antigos e capturar novos clientes. Essas ações se traduzem em atendimento eficaz e personalizado, no qual são observadas as características e particularidades de cada cliente. A empresa pode se destacar mantendo funcionários mais hábeis em contato com os consumidores do que com seus concorrentes (KOTLER, 1998). 3.4 O MARKETING DE RELACIONAMENTO O conceito de marketing de relacionamento é relativamente novo na Administração. Seu surgimento deuse a partir da década de 1990. Inicialmente, o marketing de relacionamento dizia respeito apenas ao desenvolvimento de relações entre 63 empresas e consumidores institucionais, ou seja, outras empresas. Acredita-se, porém, que a percepção original sobre o conceito de marketing de relacionamento não faz sentido. Para Kotler (1998, p. 619), “marketing de relacionamento é baseado na premissa de que os clientes importantes precisam receber atenção contínua”, independentemente de serem pessoas físicas ou jurídicas. O que vale aqui é o retorno que esse cliente dá à empresa. De acordo com Vavra (1993), marketing de relacionamento refere-se ao processo de proporcionar satisfação contínua e reforço aos indivíduos ou organizações que são clientes atuais ou que já foram clientes. Os clientes devem ser identificados, reconhecidos, comunicados, aditados em relação à satisfação e respondidos. Para tanto, as empresas de sucesso rastreiam as expectativas dos seus clientes, investigam como o seu próprio desempenho é percebido, e monitoram a satisfação do cliente continuamente. Além de melhorar suas relações com seus parceiros da rede de suprimentos (atacadistas e varejistas) que distribuem seus produtos, algumas empresas têm especial interesse em melhorar seu relacionamento com seus consumidores finais. De acordo com Limeira (2003, p. 301), o marketing de relacionamento é: 64 Uma estratégia de marketing que visa a construir uma relação duradoura entre cliente e fornecedor, baseada em confiança, colaboração, compromisso, parceria, investimentos e benefícios mútuos, resultando na otimização do retorno para a empresa e seus clientes. As organizações precisam prestar muita atenção na taxa de consumidores perdidos e tomar providências para reduzi-la, pois, de acordo com Kotler (1998, p.619), “o custo de atrair novos consumidores é cinco vezes maior que o custo de manutenção do atual consumidor”. Logo, é necessário muito esforço para induzir consumidores satisfeitos a abandonar seus fornecedores atuais, situação que se agrava em mercados altamente competitivos. Para Kotler (1998), determinar a taxa de consumidores perdidos deve-se seguir quatro passos: a) a empresa deve definir e mensurar sua taxa de retenção de consumidores. No caso de uma agência de viagens ou operadora de turismo, o ideal seria medir a quantidade de clientes que utilizam seus serviços seguidamente. Em uma faculdade, por exemplo, uma boa medida pode ser dividir o número de graduados em relação ao numero de matrículas; b) a empresa deve determinar as causas que levaram os consumidores a abandoná-la. A Empresa deve classificar em porcentagem essas causas. Pouco se pode fazer no caso de consumidores que estão 65 deixando a cidade ou que faleceram, por exemplo. No entanto, problemas como má qualidade ou mau atendimento podem e devem ser solucionados; c) a empresa deve contabilizar o volume de lucro perdido com esses consumidores, ou seja, o quanto deixou de arrecadar ao longo do tempo em que esse consumidor deixou de adquirir seu produto; d) e, finalmente, a empresa precisa calcular quanto custaria reduzir a taxa de abandono de clientes. Se o custo for menor que o lucro perdido, essa mesma quantia deve ser destinada à redução da taxa de abandono. Em verdade, geralmente esse custo é muito menor. Alguns hotéis adotam medidas simples para reduzir a taxa de abandono, como, por exemplo, bordar no roupão do hotel, o monograma do hóspede que lá se hospeda com determinada frequência. Ainda conforme Kotler (1998) há duas maneiras de se aumentar a taxa de retenção do consumidor: a) a primeira é erguer uma barreira para dificultar a troca de fornecedor. Os consumidores estão menos dispostos a procurar outro fornecedor quando isso envolve altos custos de capital, de procura, perda de descontos por fidelidade e assim por diante. b) a outra maneira é entregar alta satisfação aos consumidores, pois se se torna difícil para um fornecedor atrair consumidores somente oferecendo 66 preços mais baixos, já que o consumidor está plenamente satisfeito com o produto. É o que procura fazer a Disney, por exemplo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente o marketing de relacionamento está presente em qualquer planejamento de negócios. Fruto do aumento da competitividade, qualquer empresa atualmente precisa dar maior ênfase à pós-venda, à comunicação dirigida ao cliente e ao atendimento em todos os momentos. Vê-se que na atualidade as empresas estão investindo no marketing de relacionamento, pois estão sempre preocupadas em adaptar seus serviços às necessidades de seus clientes. Assim, o profissional de marketing deve se preocupar, também, com relacionamento. Conquistar clientes já não é suficiente para que uma empresa mantenha seus níveis de excelência em resultados. O cliente hoje está mais atualizado, sempre busca serviços de melhor qualidade, custo, satisfação e principalmente que atenda suas necessidades. Através do programa de relacionamento desenvolvido pela empresa, ela cria um relacionamento especial com 67 seus clientes através de diálogo, privilégios especiais e prêmios. O que se mostrou através do presente estudo é que as empresas devem trabalhar cada vez mais o relacionamento com o cliente, pois assim desenvolve uma grande vantagem competitiva, com redução de custos, e por consequência consegue clientes mais fiéis e satisfeitos, trazendo uma maior estabilidade para a empresa, comprovando que o foco no relacionamento traz resultados. A fidelização de clientes não é só a grande largada para o início das ações de comunicação externa, como também um fator de diferenciação frente aos concorrentes, pois se conquista assim uma credibilidade com os clientes atuais e os futuros. A empresa deve posicionar adequadamente seus ativos e diferenciais intelectuais no mercado, comunicando ao mundo externo todo o potencial associado a eles e evidenciando como estes ativos a tornam uma empresa diferentemente exclusiva. É uma estratégia de negócios que visa construir pró ativamente relacionamentos duradouros entre a organização de seus clientes, contribuindo para o aumento do desempenho dessa organização e para resultados sustentáveis. O objetivo maior das empresas atualmente é reter o cliente, já que isso significa maximizar o lucro no longo prazo, durante o período em que o cliente se relacionar 68 com ela e não obter o lucro máximo em apenas uma única transação. Conclui-se, portanto, que para manter seus clientes, é necessário que a empresa possua foco estratégico, conquiste a confiança dos seus clientes, e invista também nos funcionários, para assim trabalhar uma estratégia de marketing de relacionamento. REFERÊNCIAS CABRAL, Adriana. CRM – A cultura de pensar o cliente: marketing. Disponível em: <www.pauloangelim.com.br>. Acesso em 23 de abr 2006. KOTLER, Philip. Administração de Marketing: análise, planejamento, implementação e controle. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1998. ARMSTRONG, Gary. Principals do marketing. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1992. LIMEIRA, Tânia M. V. Administração das Comunicações de Marketing. In: Dias, Sérgio R. Gestão de marketing. São Paulo: Saraiva, 2003. MARCONI, Eva Maria; LAKATOS, Maria de A. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006. MCKENNA, R. Marketing de relacionamento: estratégias bem-sucedidas para a era do cliente. 11. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. _______. Competindo em tempo real: estratégias vencedoras para a era do cliente nunca satisfeito. Rio de Janeiro: Campus, 1992. 69 RICHARDSON, Roberto J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. VAVRA, Terry G. Marketing de aftermarketing. São Paulo: Atlas, 1993. relacionamento: VIEIRA, Marcelo M. F. Por uma boa pesquisa (qualitativa) em Administração. In: VIEIRA, Marcelo M. F.; ZOAUIN, Deborah M. Pesquisa qualitativa em Administração. Rio de Janeiro: FGV, 2004. A ANÁLISE DE CRÉDITO NAS EMPRESAS Claudemir Souza Bueno5 Ronaldo Cordeiro1 5 Graduandos em Administração pela Faculdade Cidade Verde. 70 RESUMO A finalidade desse estudo é a relevância da concessão de crédito para as empresas, especificando parte dos conceitos que envolvem o assunto. O tema, inserido no campo de atuação da Administração, envolve a defesa da pessoa jurídica que, diante dos sistemas de análise de crédito utilizado no Brasil, busca uma maior velocidade e segurança nos processos de análise e concessão dos mesmos. Torna-se fundamental a correta e justa análise do crédito oferecido a cada entidade, visando não só o benefício gerado a quem contrata/compra, mas primordialmente, a solvência da empresa que o concede. Esse artigo consiste em uma pesquisa bibliográfica, onde se buscou fontes de dados secundários. A importância do tema é evidenciada nesse artigo, que reúne os principais aspectos da concessão de crédito. Palavras-chave: competitividade; solvência e insolvência. análise; crédito; ABSTRACT The purpose of this study is the importance of granting credit to businesses, specifying part of the concepts that surround the subject. The theme, in the field of action of government, involving the defense of legal person who, before the credit analysis systems used in Brazil, seeking greater speed and safety in the process of examining and granting the same. It is essential to correct and fair analysis of the credit given to each entity, aiming not only to whom the benefit generated hire / purchase, but primarily, the solvency of the company that gives. This article consists of a literature search, which sought sources of secondary data. The importance of this issue is highlighted in this article, which brings together the main aspects of the granting of credit. 71 Key-words: competitiveness; analysis; credit; solvency and insolvency. INTRODUÇÃO Com o advento da atual conjuntura econômica, a escassez de crédito no âmbito global sofreu destaque. O fato afetou de forma direta, principalmente, os micros e pequenos empresários no Brasil. Os fatores gerados pela recessão, originária da crise que se apregoa atualmente, acaba por dar cenário a um problema comum das empresas: a falta de capital para financiar suas operações. Devido a esta situação, o acesso ao crédito ficou mais restrito e burocrático. O impacto nas empresas, que tinham a necessidade de investimento seja para expansão de suas atividades ou para manter seus negócios foi, evidentemente, negativo. Nesse enfoque, a dificuldade de acesso ao crédito no sistema financeiro tradicional, para a constituição de capital de giro, é um dos principais motivos do encerramento prematuro das atividades dos pequenos empreendimentos. Pretende-se com este trabalho definir, conceituar e esclarecer a importância da análise de crédito, identificando os seis grupos de informações e características das empresas solicitantes do crédito (seis C’s do crédito), unindo todos dados necessários sobre estes grupos para uma análise correta e segura. 72 Todavia, é relevante se definir e conceituar análise de crédito, dando alicerce teórico ao que se tratará em sequência. A análise de crédito nas empresas objetiva uma carteira de clientes mais saudável, com mais segurança em suas vendas, gerando maior lucratividade e menor índice de perdas. Para que haja um menor índice de perdas a análise deve ser realizada de forma criteriosa, de maneira que a área de vendas ou mercadológica esteja subordinadas às áreas de crédito e finanças, que estão incumbidas de fazer com que a empresa reduza as de possíveis falhas neste processo. Com o mundo em constantes mudanças, a rapidez das informações e o uso de tecnologias para realização destas análises é de grande importância. Visando proporcionar uma breve ideia sobre tão importante assunto, trata-se do tema em duas vertentes: conceituar Análise de Crédito e a apresentação dos seis “Cs do Crédito”. ANÁLISE DE CRÉDITO 1.1 CONCEITO Tendo em vista a importância desta ferramenta neste trabalho será descrito de forma sucinta a definição de cada “Cs” do crédito nas empresas (pessoa jurídica) constando 73 informações sobre concessão e dicas para esta análise. Porém para melhor entender análise de crédito é de grande relevância conceituar a palavra “crédito”. Segundo Blatt (1999, p. 23) “a palavra crédito tem sua origem no vocábulo latino credere, que significa: crer, confiar, acreditar, ou ainda, do substantivo créditum, o qual significa literalmente “confiança”, ou seja, uma relação de confiabilidade entre dois ou mais agentes”. Logo, podemos afirmar que o surgimento do crédito se deve, de forma especial, à confiança do credor no devedor, além dos fatores econômicos e financeiros que envolvem o tema. Já de forma mais prática, a operacionalização do crédito ocorre por meio de um contrato entre dois agentes, um com a obrigação de oferecer o produto/serviço e outro com a obrigação de pagá-lo. Pereira (2008, p. 48) diz que “o crédito de que alguém se dispõe, portanto, é sua capacidade de obter dinheiro, mercadoria ou serviço mediante compromisso de pagamento num prazo tratado”. Notamos que a Análise de Crédito é uma tarefa bastante complexa e de fundamental importância, seja numa instituição financeira ou até mesmo em operações comuns de venda a prazo. Seu objetivo consiste em atribuir valores a um conjunto de fatores, que permitam a emissão de um parecer positivo ou negativo sobre determinada operação de crédito, dentro de um cenário de incertezas e 74 informações, comumente, incompletas. Contudo a análise de crédito é uma das ferramentas indispensáveis para uma boa decisão de crédito. Para Blatt, (1999, pg.23), a análise de crédito consiste em um estudo da situação global de um devedor em perspectiva, visando à elaboração de um parecer que retrate, de forma clara e objetiva, o desempenho econômico-financeiro do mesmo. Tal estudo é realizado não só mediante a avaliação de suas demonstrações financeiras, como também das condições do grupo do qual faz parte, do seu setor de atuação, além de aspectos políticos e econômicos. Esse mesmo autor diz que analisar crédito também significa avaliar os riscos envolvidos em um negócio, a capacidade de o cliente liquidar a dívida nas condições contratadas. Desta forma, para que se possa elaborar um parecer consistente é necessário obter dados econômicofinanceiros mais recentes possíveis, levando em conta até que ponto as mudanças no cenário econômico poderão refletir no contexto operacional da empresa. Segundo Hoji, (2004, p. 137): a análise de crédito não deve ocorrer apenas na ocasião da primeira venda a prazo. A situação do cliente, mesmo 75 daqueles antigos e tradicionais, deve ser constantemente monitorada e atualizada, quanto aos aspectos de pontualidade, capacidade de pagamento e situação financeira. As informações financeiras podem ser obtidas por intermédio de entidades especializadas como o SPC e SERASA. O mesmo autor faz entender que existem condições em que a empresa deve analisar, simultaneamente, o risco comercial e o risco financeiro do cliente, ou seja, para cada fator será emitido um valor individual, seja ele positivo ou negativo. Se o conjunto de fatores apresentarem valores positivos, em maior número que os negativos, a tendência é que o parecer seja favorável à concessão do crédito. Para exemplificar, podemos pensar que uma pessoa física tem sua fonte de renda e suas despesas que podem ser de curto, médio ou longo prazo e sua receita tem que ser suficiente para honrar suas despesas. A falta de controle das despesas faz com que exista a necessidade da empresa em buscar um suprimento de dinheiro extra para preencher esta lacuna aberta em seu orçamento. Nesta situação é que surge o profissional de crédito com a missão de analisar se este proponente merece que a instituição lhe conceda os recursos que necessita. Existe também a situação que o proponente está procurando recursos para investimento e a análise é feita 76 de maneira um pouco diferente, mas os princípios não mudam. Entretanto, no aspecto de análise serão diversos fatores como, por exemplo, o caráter e capacidade, que analisados, torna possível emitir um parecer que possibilita uma ideia Analisando do o provável seu comportamento passado, busca-se do cliente. prever seu comportamento futuro. A ideia é só conceder o crédito aos que demonstrem as melhores chances de honrar seus compromissos. Outro fator de grande relevância são as garantias. Comumente bens e fianças (de acordo com a natureza da operação), as garantias geram a certeza de que, no caso de um fato que impeça o pagamento por parte do credor, o capital investido terá um retorno mais rápido, fazendo uso da garantia oferecida no contrato. A análise de crédito também pode contar com a TI – Tecnologia da Informação como instrumento de precioso auxílio. É possível, com uma grande base de dados estatísticos, saber o perfil de um provável bom pagador. Não se pode esquecer que as informações obtidas pela checagem e pela análise dos documentos apresentados pelo tomador, que deseja realizar uma operação de crédito, são fatores determinantes na análise de crédito. Sendo assim, todos estes fatores permitem que a análise de crédito seja possível com maior segurança. 77 Entretanto, a análise de crédito pode ser realizada com base em técnica conhecida como os seis Cs: caráter, condições, colateral, capacidade, capital e conglomerado. 2 Cs DO CRÉDITO Os “Cs” de crédito fornecem uma visão da complexidade que uma avaliação de crédito pode assumir. Tal dificuldade, frequentemente implica um grau de subjetividade elevado no que tange à decisão propriamente dita. Portanto, este nível de subjetividade aumenta em função da multiplicidade que é o grau de qualidade e origem das informações, do caráter que frequentemente contraditório reveste essas mesmas informações e muitas vezes, tornando a decisão muito complicada por existir vários pontos positivos e negativos. Para melhor entender será explicado cada um dos “Cs” do crédito utilizado dentro de uma análise. 2.1 CARÁTER Caráter é referente à intenção, a determinação, a vontade que o tomador tem em honrar uma operação. Identificar se um tomador que não honrou suas dívidas teve ou não a intenção de pagar não é uma tarefa fácil de realizar. As informações que a instituição/empresa possui de seus clientes, aquelas obtidas com outros bancos e 78 fornecedores e as informações disponibilizadas pelas empresas/órgãos de proteção ao crédito, evidenciam a melhor maneira de conhecer os hábitos de pagamento do tomador. Para Hoji (2004, p. 137), “caráter é o item mais importante na análise de crédito”. É importante destacar que uma empresa pode não honrar seus compromissos por não possuir recursos, isto não significa que falta caráter aos responsáveis pela empresa. Sinteticamente, o caráter é um dos mais importantes elementos de uma análise de crédito, pois outros fatores que não permitam que o cliente consiga honrar suas dívidas podem até ser contornados. Mas, se o tomador não possui a intenção de honrar seus compromissos, nada há para fazer, a não ser recorrer aos meios legais de cobrança. Se possuir caráter, ele tentará negociar a dívida, oferecer bens como forma de pagamento, buscando manter sua boa reputação. Também haverá casos em que a intenção de pagar do tomador não é muito grande, mas ele necessita de realizar negócios com determinado fornecedor para que seu empreendimento continue a existir. Sendo assim, pode-se dizer que a importância do produto ou serviço, em relação ao negócio do tomador, pode ser fundamental para o recebimento dos valores concedidos, ou seja, se parar de vender os produtos ou serviços a um determinado cliente, seu negócio acaba. Além disso, o cliente pode ter um mau caráter e apesar disso, honrar suas obrigações por 79 necessidade, conveniência, ou até para não deixar de honrar outro compromisso futuro. Portanto o que se tem a entender é que quando os fatores são favoráveis, como os negócios, os lucros, o crescimento da riqueza, o poder, o prestigio, a probabilidade de se ter caráter é maior que em situações adversas, onde se exigirá sacrifício de algum daqueles fatores. Nessa fase, busca-se avaliar, através de comportamentos e posturas evidenciados na vida pessoal ou profissional, a imagem que o cliente desfruta junto às pessoas com as quais convive ou negocia. A perspectiva é de que os comportamentos pessoais se repitam na administração do crédito. Blatt (2009) faz entender que os fatores para análise do caráter vão envolver: Idoneidade; Crédito que desfruta na praça e experiência com operações de crédito na instituição. A pergunta-chave do “caráter” é se a pessoa ou empresa tem reputação de honestidade a ponto de fazer qualquer esforço para pagar suas obrigações. 2.2 CAPACIDADE Entre os profissionais de crédito, a capacidade pode ser definida como a capacidade de pagamento de uma empresa de honrar suas dívidas e obrigações, ou seja, como a habilidade ou a competência de se administrar a 80 empresa demonstra, numericamente, sua capacidade de pagamento. Conforme Hoji, (2004, p. 138), “capacidade é o potencial de o cliente saldar os compromissos financeiros obtidos por meio da análise das demonstrações financeiras e informações financeiras adicionais, em instituições como Serasa”. Esse mesmo autor diz que as analises das demonstrações financeiras fornecem informações sobre os índices de liquidez, índices de endividamento, índices de investimentos, rentabilidade e geração de caixa. Ele afirma que só a determinação de pagar, ou seja, o caráter, não terá validade se não tiver capacidade de honrar seus compromissos financeiros. Para Blatt (1999, p. 43), “consiste nas qualidades curriculares do indivíduo em gerir sua vida pessoal/profissional e/ou empresarial”. Portanto para se analisar a capacidade da empresa, devem-se observar os seguintes fatores: a) seus administradores: a formação profissional destes, se possível à formação acadêmica também, sua exposição ao ramo de atuação na qual a empresa que ele dirige está inserida; b) a empresa: suas instalações, seus métodos de trabalho. Quanto maior o porte da empresa mais profundamente deverá mergulhar nela, até pelo fato de que, devido ao grande porte da empresa, a possibilidade das quantias envolvidas em 81 operações de crédito e risco serem altamente significativas. Enfim, para analisar o “C” da capacidade o analista deve dispor de dados que permitam julgar o potencial da pessoa e/ou profissional para gerenciar as finanças que estejam sob sua responsabilidade. 2.3 CAPITAL Em uma análise de crédito de uma empresa, não é entendido simplesmente como a conta de capital que se usa na contabilidade. Quando se fala de Capital em uma análise, refere-se à situação econômica, financeira e patrimonial. Segundo Pereira, (2008, p.60), “o Capital abrange a análise financeira e patrimonial do tomador de recursos”. Reúnem-se nesse enfoque, os recursos e bens que podem ser utilizados para honrar suas dívidas. Através da análise dos demonstrativos contábeis, se podem levantar informações sobre como está o desempenho da empresa e sobre sua solidez, portanto o “C” do capital é um fator importantíssimo na análise de crédito. Em outros termos, significa fazer uma análise financeira da empresa. Conforme Hoji (2004, p. 138), para fazer este resultado, por exemplo, é analisado o nível de imobilização em 82 relação ao patrimônio líquido, o nível de investimentos em máquinas, equipamentos e tecnologias. Os índices de liquidez e a analise de Capital de Giro que evidencia com clareza o quanto a empresa precisa para financiar suas operações. Para a análise financeira não se utiliza somente os demonstrativos como balanços e relatórios de demonstração de resultados. Torna-se interessante fazer a análise financeira para descobrir a capacidade de pagamento de uma empresa ou de uma pessoa que não emita nenhum demonstrativo, ou declare imposto de renda podendo se basear apenas em informações obtidas com o próprio proponente e com terceiros. O “C” do Capital, no âmbito da analise de crédito, procura identificar se o tomador de credito, pela quantidade e forma de aplicação de recursos na empresa, apresenta condições de saldar seus empréstimos nos prazos combinados. Para Blatt (1999, p.45), se faz importante que “o capital faz menção às condições econômico-financeiras da empresa, abrangendo o volume de bens e direitos disponíveis para o fiel cumprimento de suas obrigações”. Nesses casos, cabe ao analista procurar mensurar até que ponto as informações disponíveis dessas condições são confiáveis e se os demonstrativos, realmente mostram dados melhores ou piores que os reais que a empresa declara. 83 CONDIÇÕES As "condições" na análise de crédito são os fatores externos e macroeconômicos, procurando identificar e medir o impacto destes fatores sobre o desempenho do negócio. Estes fatores externos não são controláveis pela empresa, pois se encontram permeado pelas mudanças na política econômica positivamente ou do governo que negativamente uma podem afetar empresa. Toda empresa está envolvida em um sistema onde diversas forças e fatores lhe exercem influência. Podemos citar como exemplos, as conjunturas nacionais e internacionais, as políticas de um governo, o meio ambiente, a concorrência, etc. O ramo de atividade também é um fator que influi na existência da empresa. Alguns ramos de atividade funcionam em uma cadeia e só atendem a outro ramo, se este ramo entra em crise, com certeza a crise irá lhe afetar. A sazonalidade é outro elemento que deve ser muito considerado neste “C“ crédito. Existem empresas que produzem para comercializar somente durante determinada época do ano, a exemplo das fábricas de ovos de Páscoa e Panetone. Existem também os produtores agrícolas que cultivam culturas que não se desenvolvem durante o ano todo. As condições afetam as empresas de diferentes formas e de diferentes intensidades. O porte da empresa é outro fator fundamental para a redução desta intensidade. 84 Podemos citar também outros fatores que afetam as empresas como: a moda, a essencialidade e a região geográfica. Blatt (1999, p. 47), em sua obra, diz que: a medida das condições é feita com base no conhecimento das atividades do cliente no que concerne ao mercado em que atua, concorrência, qualidade dos produtos que fabrica/comercializa, crise ou fartura financeira, enfim, condições que permitam ter uma previsão do futuro do cliente. De acordo com esse pensamento, percebe-se a importância das empresas buscarem parcerias para, nos momentos de crise, ter melhores condições de sobrevivência. Este C do crédito também busca verificar se os dados demonstram que o empreendimento tem capacidade para absorver o crédito, já que este pode potencializar os recursos humanos, ou seja, colaboradores que dispõe conseguem atingir a produção necessária ao alcance das metas; se os equipamentos são adequados e estão em condições de uso; se há possibilidade de suprimentos de matérias-primas; se o mercado é favorável; se o processo gerencial é compatível com o crédito solicitado. CONGLOMERADO 85 O termo conglomerado em análise de crédito significa analisar não apenas a empresa que está solicitando crédito, mas todo o conglomerado de empresas na qual a solicitante está inserida. A ideia é que se faça a análise da empresa controladora ou das controladoras se for o caso, também das coligadas. Blatt (1999, p. 47) diz que “o conglomerado faz menção à análise financeira de controlada(s), controladora(s), coligada(s) e interligada(s), para que se possa fazer uma análise mais apurada com relação ao pleiteante do crédito”. Dessa maneira, poderemos ter uma ideia do conjunto de empresas que formam determinado grupo. O procedimento servirá para evitar que alguém utilize uma coligada ou controlada, que está em melhor condição financeira, para obter recursos que, na verdade, serão utilizados em outra empresa sem condições favoráveis ao crédito. A ideia de conglomerado não é usada somente nos termos da lei, mas sim quando qualquer empresa possui participação nas tomadas de decisão de outra empresa. Pereira (2008, p. 60) afirma que “conglomerado abrange a apreciação dos fatores de risco relativos às coligações, controles e vínculos”. Para melhor entender o contexto, a definição de empresa coligada e empresa controlada, se faz necessário entender o que significa cada uma delas: 86 empresa coligada: É uma sociedade que participa com o mínimo de 10% do capital da outra, porém sem controlá-la; e, empresa controlada: É uma sociedade na qual a condição de eleger a maioria dos administradores e o predomínio nas deliberações sociais é exercida de modo permanente. Ou seja, uma sociedade possui direitos de sócios que a possibilita controlarem outra sociedade. Esse controle pode ser exercido de maneira direta ou através da intermediação de outras controladas. COLATERAL O “C” de Colateral é uma espécie de segurança adicional a uma operação de crédito. Representa uma ou mais garantias dadas pelo tomador, para aumentar o grau de segurança da operação e, muitas vezes, para fortalecer algum dos outros fatores da análise. Segundo Hoji (2004, p. 138), “colateral é utilizado para contrabalançar ou reforçar a fragilidade de um ou mais “C” dos quatros outros itens. Pode ser representado por ativos tangíveis ou ativos financeiros, desde que cubram o período do crédito concedido”. Blatt (1999) faz entender que colateral faz menção às garantias oferecidas pelo cliente para compensar fraquezas 87 ou simplesmente para reforçar e complementar outros aspectos de crédito. Contudo, nunca se devem utilizar garantias para fortalecer uma proposta de um tomador que apresente restrições em relação ao seu caráter, por ser um dos Cs de difícil avaliação. As garantias também constituem um fator complementar à operação de crédito, devendo-se levar em conta, em primeiro plano, o caráter do cliente e a capacidade de pagamento do próprio negócio. Elas geram maior comprometimento com a operação, mas não pagam o crédito. São assim, importantes como fatores de "pressão" em caso de atraso de pagamento, uma vez que o cliente também está correndo risco de perder algo, ou seja, a garantia é a última hipótese a ser analisada, servindo exclusivamente para reforçar as hipóteses de que o cliente tem capacidade de pagamento. Para Pereira (2008 p. 60), “as garantias são tratadas como decorrência do risco que o cliente apresenta”. Por outro lado, devem ser exigidas como componente de aprendizagem, para o futuro acesso aos créditos tradicionais e também, como recurso em caso de inadimplência. Desse modo, à medida que o risco aumenta, deverá haver maior preocupação com a qualidade e liquidez das garantias. Conforme Hoji (2004, p. 136), “as garantias podem ser representadas por diversos instrumentos e classificada em dois aspectos: fidejussórias e as garantias reais”. garantias pessoais ou 88 GARANTIAS As garantias têm com objetivo dar reforço à segurança nas operações de crédito. Durante uma operação de crédito as garantias deverão ser examinadas em conjunto com as informações cadastrais, a finalidade da operação, sua forma e as fontes de pagamento. É fundamental adequar as garantias às características da operação de crédito, porém a liquidez do crédito não deve ser baseada somente nas garantias constituídas, mas sim em um conjunto de variáveis que nos permitam ter uma ideia se a operação de crédito será concedida a um "bom cliente". As garantias são divididas em grupos distintos: a)garantias pessoais: as garantias pessoais ou fidejussórias são garantias nas quais pessoas físicas ou jurídicas assumem como avalistas ou fiadores, a obrigação de honrar os compromissos referentes à operação de crédito, caso o cliente não o faça. Os avalistas e fiadores devem passar pela mesma análise creditícia que o proponente, pois caso o cliente não honre seus compromissos o avalista ou fiador terá que fazê-lo, portanto é necessário que ele tenha condições econômicas e financeiras para isto. Quando o aval ou fiança for dado por pessoa jurídica, deverá ser verificado no contrato ou estatuto social da empresa se existe esta possibilidade expressa no contrato, pois 89 se não houver, o aval ou a fiança não terá validade jurídica; b)garantia aval de pessoas idôneas: é a promessa que alguém faz de cumprir obrigação de terceiro realizado através de um título de crédito, se o obrigado não vier a cumprir. O avalista é quem concede o aval. Avalizado é a pessoa que recebe o aval. Não existe aval em contrato, somente em títulos de crédito; c) garantia de fiança: é uma garantia cujo fiador, pessoa física ou pessoa jurídica, se constitui como principal responsável pelo pagamento das obrigações assumidas pelo afiançado, caso este não cumpra as obrigações contratadas. A fiança é sempre estabelecida em relação a um contrato; d)garantias reais: são representadas por imóveis ou fiança mercantil, recebimentos ou dados seja, em bens garantia ou de direitos de obrigações relativas a operações de crédito. A escolha do tipo de garantia real deve ser feita de acordo com as características da operação de crédito, como: tipo de operação, prazo, valor etc. esta escolha deverá ser voltada para os bens e direitos de maior grau de liquidez (possibilidade de recebimento) e que deverão ser observados os preceitos de sua formalização. Para citar, os principais tipos de garantias são: 90 Alienação Fiduciária: é a transferência da propriedade de um bem móvel ou imóvel do devedor ao credor para garantir o cumprimento de uma obrigação; Anticrese: é um instituto civil, espécie de direito real de garantia, ao lado do penhor e da hipoteca, no qual o devedor, ou representante deste, entrega um bem imóvel ao credor, para que os frutos deste bem compensem a dívida. É sempre originado de um contrato (negócio jurídico), não existe anticrese originada pela lei, como ocorre em outros dois institutos citados anteriormente; Caução: é a cautela que alguém tem ou toma como garantia de indenização de algum dano possível ou devido à possível falta do cumprimento de alguma obrigação. A caução pode ser real, se a garantia dada for fidejussória uma coisa, (pessoal), móvel se a ou imóvel, garantia dada ou for pessoal (ou seja, uma pessoa garante por outra que vai cumprir a obrigação); Hipoteca: é uma garantia real extrajudicial e incide sobre bens imóveis ou equiparados que pertençam ao devedor ou a terceiros; 91 Penhor Mercantil: recai sobre coisas móveis do comércio, que ficarão sujeitas ao pagamento do débito (ex.: Joias); Reserva de Domínio: tem o objetivo de atender a pessoas e empresas que desejam resguardar um domínio enquanto não fazem utilização do mesmo. Com o crescimento do mercado Internet os domínios estão ficando cada vez mais difíceis de registrar. A corrida tem sido tão grande que identificamos a necessidade de criar um serviço que resguardasse marcas e ideias com um baixo custo até o ingresso efetivo na internet. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se que no processo de análise de crédito é importante que os instrumentos envolvidos para a decisão do crédito, sejam adequados a melhorar competitividade da empresa buscando sempre o resultado das aplicações no prazo e condições estipuladas, principalmente dentro dos padrões de qualidade traçados pela organização. Em síntese, a análise de crédito é uma importante ferramenta para a boa saúde financeira e administrativa de uma empresa. Uma instituição que analisa com critério o crédito que concede, corre menor risco com perdas, 92 imprevistos com fluxo de caixa e outros, sobrando mais tempo para se preocupar com sua atividade principal, se desenvolvendo e destacando no mercado. Pode-se dizer que, através de pesquisa elaborada de forma minuciosa, utilizando-se critérios de avaliação dos Cs do Crédito citados acima, as instituições terão capacidade de prever a possibilidade de inadimplência futura. A ideia é fazer constar qual o grau de risco que determinada empresa apresenta em relação ao valor solicitado, para sanar as dívidas que esta pretende adquirir junto à instituição financeira. REFERÊNCIAS GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. São Paulo: Prentice-Hall, 2004. HOJI, MASAKAZU. Administração financeira. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2004. SILVA, J. P. Gestão e análise de risco de crédito. São Paulo: Atlas, 2008. TAVARES, R. F. Crédito e cobrança. São Paulo: Atlas, 1988. CAPITAL DE GIRO: UMA FERRAMENTA NA GESTÃO EMPRESARIAL 93 Cristiano de Jesus Ballejo6 Mário Kunio Marutaka2 Augusto César Oliveira Camelo7 RESUMO As empresas com fins lucrativos são organizações que utilizam recursos administrativos e financeiros para atingir seus objetivos, no qual seu principal é a obtenção do lucro, portanto é necessário um sistema de gestão que envolva o controle financeiro e econômico adequado no que venha proporcionar a execução de sua atividade a fim de gerar recursos (receita) para saldar suas despesas, obtendo a assim lucratividade necessária para dar continuidade em sua atividade. Em suma o controle financeiro se dá através da gestão do capital de giro, o qual precisa de acompanhamento permanente, pois está continuamente sofrendo o impacto das diversas mudanças enfrentadas pelas empresas. A gestão financeira tem por objetivo geral, direcionar a empresa para que esta obtenha lucro dentro de um nível aceitável de risco e que esse lucro se transforme rapidamente em dinheiro, uma vez que ele normalmente está em forma de estoque (mercadorias) e precisa ser convertido em dinheiro, fazendo se necessário também uma gestão eficiente do controle e planejamento do estoque e contas a receber já se que estão diretamente ligados na geração de receitas, influenciando assim a liquidez e o capital de giro da empresa. Palavras-chave: capital de giro; gestão e empresa. ABSTRATC The companies with lucrative ends are organizations that use administrative resources and financial to reach their goals, whose the main one is the attainment of the profit, 6 7 Graduandos em Ciências Contábeis pela Faculdade Cidade Verde. Docente da Faculdade Cidade Verde. 94 therefore is necessary a management system that involves adjusted the financial and economic control in which it comes to provide the execution of its activity in order to generate resources (prescription) to liquidate its expenditures, getting thus the profitability necessary to give continuity to their activities. In fact, the financial control is developed through the management of the floating capital, whose process needs permanent accompaniment, because it’s continuously suffering the impact from too much changes confronted for the companies. The financial management has as main objective, to direct the company so that this gets profit on a acceptable level of risk and that this profit transforms into money quickly, once in supply form (merchandises) normally and needs to be converted into money, it becomes necessary also an efficient management of the control and planning of the supply and bills to receivable that are directly connected to prescription development, influencing this way the pay off and the floating capital of the company. Key-words: floating capital; management and company. 1 - INTRODUÇÃO Anteriormente as pessoas viviam a base de troca de mercadorias para sobreviver, sem a utilização de moeda. Após o surgimento da moeda essa forma de comercialização teve fim. Com isso surge a necessidade de se ter um capital, para girar e administrar os recursos. O capital passou a ser algo indispensável no dia a dia das pessoas e das empresas em geral. Onde, para as empresas o seu objetivo principal seria a obtenção do lucro e quitação de dívidas. Com o desenvolvimento do capitalismo e o surgimento das transações comerciais entre as empresas, surgiu a 95 necessidade de as mesmas possuírem um instrumento que lhes oferecesse a possibilidade de medir a capacidade dos devedores em cumprir com os seus compromissos financeiros. O capital de giro se destina se principalmente aos recursos de curto prazo utilizados pelas as empresas para financiar as suas atividades. Daí a importância de se conhecer as ferramentas que auxiliam o administrador a aplicar melhor estes recursos, estudo que será abordado no presente trabalho. 2 - CAPITAL DE GIRO O capital de giro tem participação relevante no desempenho geralmente operacional mais da das metade empresas, de seus cobrindo ativos totais investidos. Uma gestão inadequada do capital de giro resulta em sérios problemas financeiros, contribuindo para a formação de uma situação de insolvência financeira, ou seja, a sua capacidade de pagamento ficara comprometida. Segundo pesquisas publicas no site do IEF, Instituto de Estudos Financeiros (www.ief.com.br/analise) “O capital de giro representa, em média, 30 a 40% do total dos ativos de uma empresa”. A gestão do capital de giro aplica se aos ativos e passivos correntes sendo eles interdependentes, ou seja, estão ligados de alguma forma e são dependentes. Um 96 certamente influencia o outro. Por exemplo, a perda da liquidez pela maior participação dos estoques no ativo circulante deve ser compensada por um volume maior de caixa, através de vendas a vista ou recebimentos de duplicatas. A presença de ativos correntes é importante para viabilizar financeiramente seus negócios e contribui para a formação do retorno econômico do investimento realizado. Para Assaf e Silva (1997, p. 37): As decisões de investimento em capital de giro devem também promover a atratividade econômica da empresa, favorecendo sua solvência, sua continuidade e valorização. A definição da política de investimento em capital de giro da empresa, portanto, deve considerar qual a quantidade de capital de giro é necessária para o adequado funcionamento da empresa, ou seja, qual é a melhor relação entre os ativos circulantes e os ativos totais. Para que se tome uma decisão de quanto investir em capital de giro, é necessário ter um amplo conhecimento da organização tanto econômico, quanto operacional. É de suma importância a quem a administra conhecer suas operações, sua sazonalidade quanto à atividade principal, ou seja, sua situação financeira e econômica a curto e longo prazo, para que esses investimentos venham de encontro com as reais necessidades da empresa. 97 3 - CONCEITOS E OBJETIVOS DO CAPITAL DE GIRO Devido às oscilações atualmente devem variações, sua estar atividade do mercado, prevenidas principal as quanto não empresas a essas deve ficar comprometida, o capital de giro tem esse papel importante de financiar seus recursos correntes para que a mesma de continuidade em suas operações em curto prazo. De acordo com Assaf e Silva (1997), “capital de giro refere-se aos recursos correntes da empresa, geralmente identificados como aqueles capazes de serem convertidos em caixa no prazo máximo de um ano”, ou seja, são recursos exigidos para financiar o ciclo operacional da empresa. Dessa forma entendemos que o capital de giro está diretamente ligado as operações cotidianas da empresa. Por isso há necessidade de um acompanhamento e planejamento constante sobre os resultados operacionais. Para Gitmam (1997, p. 616) “capital de giro refere-se aos ativos circulantes que sustentam as operações do diaa-dia das empresas”. Essas operações são relacionadas com vendas, compras, recebimentos, desembolsos e todas as atividades que se empresa. fazem necessárias para o funcionamento da 98 Cherry (1997, apud GONÇALVES 2004, p. 03) diz que “capital de giro em finanças denota os ativos que normalmente devem circular e ser substituídos, pelo menos em partes, durante o ciclo operacional corrente da empresa, correspondente aos ativos correntes”. Esses recursos são destinados para compra de mercadorias, reposição de estoques, financiamentos das vendas a prazo, despesas administrativas, etc...; que corresponde a parte do capital utilizado para financiamento dos ativos circulantes da empresa. Para Santos (2001, p. 22), uma empresa utiliza para seu funcionamento recursos materiais de renovação lenta, como as instalações, equipamentos e imóveis – denominados capital fixo ou permanente e recursos materiais de rápida renovação, como os estoques de matérias primas e produtos que formam seu capital circulante. Os componentes do ativo corrente, ou do capital de giro, são o caixa e títulos negociáveis, contas a receber e estoques. Cada componente é rapidamente convertido em outras formas de ativo, assim o saldo de caixa poderá ser usado para recompor os estoques. 3.1 Ciclo Operacional 99 Podemos de conceituar o ciclo operacional como sendo o intervalo de tempo em que uma empresa gasta para executar todas as suas atividades operacionais, como por exemplo: venda e o recebimento dos créditos gerados pela atividade comercial. Podemos entender o ciclo operacional como o prazo total, que começa já na aquisição da matéria-prima é termina no recebimento do valor referente à venda. Segundo Gitmam (1997) o ciclo operacional pode ser calculado de uma forma bem simples: pega-se o prazo médio de recebimento (+) prazo médio de estoque (-) prazo médio de recebimento. Conhecendo esse intervalo de tempo pode-se assim fazer um planejamento financeiro em curto prazo. Essas informações também são importantes para o gerenciamento financeiro, permite fazer a adequação do “tempo” aos compromissos da empresa. 3.2 Liquidez O capital de giro ou ativo corrente está ligado diretamente à liquidez da empresa. Para Gitmam (1997) os indicadores de liquidez medem a capacidade de uma empresa em saldar suas dívidas exigíveis no prazo máximo de um ano. Os índices de liquidez normalmente empregados são: liquidez geral, liquidez corrente, liquidez seca e liquidez 100 imediata. Todos eles relacionam bens e direitos com obrigações da empresa, por intermédio de uma operação de divisão. Embora não seja a melhor definição, costumase dizer que os índices de liquidez medem “o quanto a empresa tem para cada unidade monetária que ela deve”. Para se compreender como funciona o índice de liquidez corrente de uma empresa, basta analisar os valores do ativo circulante e os valores do passivo circulante, assim temos o índice de liquidez corrente. Ainda segundo Gitmam (1997) o capital de giro liquido é a diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante: AC-PC=CCL (Capital Circulante Líquido). Dessa forma a empresa calcula a necessidade ou sobra de capital de giro. O ativo circulante consiste nas disponibilidades, credito e estoques e o passivo circulante consiste em contas a pagar e financiamentos em curto prazo. 4 - AS DIFICULDADES DO CAPITAL DE GIRO NAS EMPRESAS Dentre as muitas dificuldades que surgem de capital de giro nas empresas, pode-se destacar: 101 4.1 Redução de vendas: A redução das vendas atinge e compromete toda a situação financeira e econômica da empresa, uma vez que se têm despesas fixas entre outros compromissos para serem liquidados, alem de deixar um estoque parado consequentemente dinheiro parado. Assim qualquer empresa pode ficar num período difícil. Santos (1995, p.23) afirma que: “quando o capital de giro aumenta em virtude do crescimento dos estoques, ou das duplicatas a receber, sem o acompanhamento das vendas, traduz uma situação de administração inadequada”. O capital de giro influencia diretamente no ciclo operacional da empresa, por isso não é interessante deixálo preso como estoques. Quando uma empresa mantém um estoque alto de baixo giro, com muitas duplicatas a receber, as vendas tem que acompanhar o mesmo crescimento, quando isso não ocorre gera um aumento na necessidade de capital de giro, umas vez que a empresa necessita de caixa para fechar seu ciclo operacional. Quando ocorre a redução nas vendas diminui-se a receita da empresa, afetando diretamente a sua liquidez e consequentemente comprometendo seus compromissos, despesas e dividas em curto prazo. Por isso as vendas são extremamente necessárias para que empresa feche o seu ciclo operacional sem a necessidade de um aumento de 102 capital de giro ou, até mesmo de utilizar capital de terceiros para financiar sua atividade em curto prazo. 4.2 Crescimento da inadimplência: O aumento da inadimplência nas empresas ocasiona uma situação desfavorável em sua saúde financeira, uma vez que diminui os valores recebíveis em curto prazo. Segundo a pesquisa realizada pelo Serasa Experian e publicada no site (http://www.serasa.com.br/empresa/noticias/2009), no período de 5 a 9 de janeiro de 2009 foi feito um pesquisa com várias empresas representativas dos setores da indústria, comércio, serviços e instituições financeiras do país. Dos empresários entrevistados, 72% esperam crescimento da inadimplência do brasileiro no 1º trimestre do ano e 20%, estabilidade em relação ao mesmo período de 2008. As instituições financeiras são as pessimistas, 86% apostam em alta, seguidas pela indústria (73%), Serviços (71%) e o Comércio (70%). Isso demonstra que a inadimplência afeta as empresas de todos os setores, podendo ocorrer consequências diretamente ligadas ao caixa da empresa, uma vez que o lucro do negócio ficará diminuído, devido ao não recebimento das vendas realizadas no período. Se o recebimento nunca ocorrer, o efeito disso no caixa será para sempre, se for o caso de um atraso, o efeito no caixa 103 é temporário. O que também poderá gerar um custo, só que agora para financiar o caixa durante o atraso. Todos os negócios, em geral, estão sujeitos a uma probabilidade de não receberem parte de suas vendas realizadas, se seus clientes atrasarem os pagamentos, você poderá precisar de um empréstimo para conseguir pagar suas despesas previstas, repor os estoques, fazer investimentos. E quando ocorrer o recebimento a empresa quitará seu financiamento, isso terá um custo, que seria os juros do financiamento. 4.3 Aumento das despesas financeiras: O descontrole das despesas financeiras ocorre pelo desequilíbrio entre o ativo circulante e o passivo circulante, geralmente ocorre porque elas não mantém uma margem de segurança para cobrir gastos inesperados ocasionados por alguma sazonalidade, desajustes nos recebimentos e desembolsos. conforme define Assaf Neto e Silva (2007, p.24) “... somente a presença de um CCL positivo não se torna indicador seguro de equilíbrio financeiro. É necessário que se identifiquem, nos ativos circulantes, as contas de longo prazo (permanentes) e as variáveis (sazonais).”. 4.4 Aumento de Custos; 104 O aumento dos custos das empresas esta ligado a diversos fatores, entre eles podemos destacar: a) elevação do custo dos financiamentos, devido a altas taxas; b) elevação no custo da produção; c) aumento no custo dos estoques. Quando empresa compra mais estoques, o custo de estocagem aumenta consideravelmente, pois tem que ser levado em conta o custo de oportunidade e armazenagem. Sendo que o aumento no nível dos estoques eleva o risco de obsolescência, perda alem de aumentar o custo da gestão desses ativos. 5 - ALTERNATIVAS EFICIENTES PARA A GESTÃO DO CAPITAL DE GIRO 5.1 Formação de reserva financeira O equilíbrio financeiro é fundamental para a empresa se manter no mercado competitivo e se prevenir de eventuais desequilíbrios ou de sazonalidade durante a atividade operacional da empresa. E evitar buscar recursos financeiros de terceiros para cobrir estas eventualidades. É importante para toda empresa se prevenir desses desequilíbrios e sazonalidades do mercado, para isso se faz 105 necessário à formação de reserva financeira pra cobrir estas mudanças inesperadas. O volume desta reserva deve ser estipulado de acordo com o grau de proteção que a empresa deseja. Recomenda-se que seja feita uma aplicação desta reserva para que gere juros ativos. Segundo Sanvicente (1990, p. 140): “interessa e empresa evitar insuficiência de caixa. A alternativa mais desfavorável é aquela em que as diferenças entre provisões e fatos levam a déficits superiores aos esperados. Por isso, temos esta segunda parcela do saldo, cuja finalidade é proporcionar uma margem de segurança contra essas variações incertas e desfavoráveis”. No caso de empresas que possuem suas vendas irregulares, é necessário ter um controle financeiro rigoroso, caso contrário não terá dinheiro em caixa no período em que suas vendas forem baixas, assim o capital de giro será incerto. Por isso o fluxo de caixa é uma ferramenta indispensável na administração do capital de giro, pois é ele que irá projetar as entras e saídas de caixa. Assim o objetivo desta projeção é fazer com que no período de vendas elevadas seja feita uma reserva para evitar surpresas durante o período de menor lucratividade. 5.2 Encurtamento do ciclo econômico 106 A redução do ciclo econômico significa um menor tempo para produzir e vender. No comércio esta redução significa um giro mais rápido dos estoques e no setor de serviços significa basicamente, trabalhar com um cronograma mais curto para a execução dos serviços. Quando e empresa encurta seu ciclo econômico suas necessidades de capital de giro reduzem drasticamente. Essa redução não é uma função tipicamente financeira, ela requer o apoio de funções como o de produção, operação e logística. 5.3 Controle da inadimplência A inadimplência dos clientes pode ocorrer do quadro econômico do país (ao qual não podemos controlar), como a diminuição na renda das pessoas, isso faz com que o cliente perca o poder de pagamento ou de fatores da própria empresa, como por exemplo, a inexistência de uma política de crédito criteriosa e a falta de um sistema de cobrança eficiente e integrado, ocasionando o aumento da mesma. Também devem ser observados os prazos e recebimentos das vendas, talvez seja possível diminuir este prazo, qualificar melhor a análise de crédito e intensificar as ações de cobrança, assim possibilita um giro mais rápido do caixa. 107 Descontos também podem ser concedidos, isso fará com que aumente as suas vendas a vista e reduz o risco de inadimplências causadas pelas vendas a prazo. 5.4 Não se endividar a qualquer custo Quando há insuficiência de capital de giro, muitas empresas optam por empréstimos de custo elevado. O financiamento do capital de giro com uma taxa maior do que a sua rentabilidade pode sim resolver seu problema imediato de caixa, mas também criar um novo problema, o pagamento deste financiamento, uma vez que a captação de capital de terceiros terá um custo maior do que através de capital próprio. 5.5 Alongar o perfil do endividamento Uma boa alternativa seria tentar negociar um prazo maior para o pagamento de suas dívidas, isso retardaria as saídas de caixas correspondentes, assim melhoraria o seu capital de giro. Embora seja uma medida provisória, ajudara bastante até que a empresa se ajuste financeiramente. No entanto é necessário fazer uma analise do custo do alongamento deste prazo, para verificar se é viável. 5.6 Reduzir custos 108 Uma das formas de redução de custos seria a implantação de um sistema de custos, ele tem um efeito positivo sobre o capital de giro da empresa, desde que não restringem as vendas nem as operações da empresa. Para as empresas que estão em crise com o seu capital de giro, não é uma tarefa muito fácil, já que sua capacidade de investimento está comprometida. Outra alternativa seria cortar gastos que não causem grandes prejuízos. Primeiro deve-se saber quais os custos que empresa tem e analisar quais tem a maior importância, e aqueles de menor importância podem ser eliminados ou reduzidos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após o estudo realizado podemos concluir que o capital de giro é de suma importância na gestão de qualquer empresa, pois está ligado diretamente com o seu ciclo operacional. Podemos identificar as principais dificuldades enfrentadas pelas empresas para administrar seus recursos em curto prazo e seu capital de giro, uma vez que, suas necessidades se dão por vários fatores, como: a redução nas vendas, crescimento da inadimplência, o aumento das despesas financeiras e aumentos de custos, levando em conta que existe sazonalidade de recursos. Por isso há a importância de se 109 conhecer a fundo empresa, conhecer os fatores que o influenciam assim como as alternativas para uma gestão eficiente, uma vez que o capital de giro está ligado diretamente com sua atividade principal. As alternativas encontradas aqui de uma gestão do capital de giro com sucesso estão ligadas a prevenção e ao planejamento administrativo e financeiro como fluxo eficiente do ciclo operacional: o giro rápido dos estoques com as vendas por exemplo. A boa administração do caixa pode o ajudar e muito a se planejar, assim como das contas a receber, entre outras. Então compete ao administrador ou empresário planejar, organizar, controlar, dirigir e formar estratégias que venham de encontro com as expectativas de lucro e o objetivo da empresa. REFERÊNCIAS ANAIS. VII Ciclo de Estudos de Ciências Contábeis. UNIVALE, Ivaiporã - PR, 24 a 26 de outubro de 2005. ASSAF NETO, Alexandre; SILVA, César A. T. Administração do capital de giro. São Paulo: Atlas, 1997. ASSAF NETO, Alexandre; SILVA, César A. T. Administração do capital de giro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2007. GONÇALVES, Cherry. Administração financeira. São Paulo: Atlas, 1997. GITMAN, Laurence J. Princípios de administração financeira. São Paulo: Harbra, 1997. 110 SANTOS, Edno de Oliveira dos. Administração financeira da pequena e média empresa. São Paulo: Atlas, 1995. SANTOS, Edno de Oliveira dos. Administração financeira da pequena e média empresa. São Paulo: Atlas, 2001. SANVICENTE, Antônio Zoratto. Administração financeira. São Paulo: Atlas, 1990. 111 CIDADANIA COM RESPONSABILIDADE SOCIAL: UMA PROPOSTA PARA A PRESERVAÇÃO DE BENS PÚBLICOS DA UEM Manoel Quaresma Xavier8 Mário Lonardoni4 Edna Mitiko Ota9 RESUMO O presente artigo tem como objetivo discutir a responsabilidade social como exercício de cidadania voltado à preservação dos bens públicos da UEM, tanto os tangíveis como os intangíveis. Atualmente, a Responsabilidade Social é um tema que a cada dia vem atraindo a atenção da sociedade, com ênfase nas organizações privadas que têm como principal objetivo a geração de lucros, cujas críticas mais comuns é que estas empresas utilizam não como um benefício social, mas, sim, como marketing. Do ponto de vista das organizações públicas, esse artigo pretende revelar que a Responsabilidade Social pode ser praticada sem a finalidade de “marketing”, mas por meio do exercício da cidadania no que diz respeito aos deveres e direitos no convívio social, cujas ações devem ser voltadas a 8 Professores do curso de Contabilidade da Universidade Estadual de Maringá. Professora do curso de Contabilidade da Universidade Estadual de Maringá e professora da Faculdade Cidade Verde. 9 112 possibilitar a compreensão e sensibilização da necessidade de contribuir ativamente tanto na organização como na preservação dos bens públicos da UEM. Nesse sentido, encontra-se em desenvolvimento um projeto na Universidade Estadual de Maringá – UEM em que procura despertar a comunidade universitária sobre a importância de cada cidadão quanto aos seus deveres e direitos independente da ação que lhe é atribuída. Embora o projeto seja de longo prazo, já foi possível detectar aspectos relevantes de mudança de comportamento entre os envolvidos, inclusive interesse de outros departamentos em implantá-lo. Palavras-chave: responsabilidade social; capital social; cidadania; patrimônio público. INTRODUÇÃO Uma das características sociais da atualidade está relacionada à necessidade de participação efetiva de todas as pessoas que convivem no mesmo ambiente como sendo um fator primordial de sustentabilidade para continuidade da comunidade a que pertencem, independentemente de ser tal participação exercida de forma direta ou indireta. Para Clemente et. al. (2006) a teoria do crescimento endógeno, principal corrente de pensamento da atualidade sobre desenvolvimento, destaca o fator humano como explicação nuclear. A educação, enquanto formadora do capital humano é, dessa forma, considerada a condição mais importante para o surgimento e a manutenção do processo de elevação sustentável da qualidade de vida. 113 Dessa forma, o conhecimento passa a ser considerado a mola propulsora do desenvolvimento integrado e sustentável, proporcionando novas formas de atuação no meio social e fazendo emergir novos mecanismos de integração em torno de objetivos comuns. Os autores acrescentam que a sensibilização e a conscientização acerca da interdependência da vida em sociedade têm como consequência lógica nível crescente de participação, seja no processo de prevenir ações contrárias ao desperdício de qualquer natureza ou mesmo na manutenção e no uso adequado dos bens e serviços de natureza pública. Possibilitar entender que todos os bens de uso comum são de propriedade comum, bem como comparar o quadro de necessidades da comunidade universitária com o volume de recursos públicos que podem ser arrolados para o seu atendimento é um exercício de afirmação e de crescimento da cidadania. A sociedade informada e sensibilizada da sua importância não somente é capaz de resolver de forma eficiente e eficaz os problemas inerentes ao seu desenvolvimento como se torna apta a fiscalizar a sua execução, evitando corrupção e desvios de toda natureza. Nesse contexto, um aspecto invisível e adormecido nas redes sociais, denominado capital social, pode vir a ser percebido pelos indivíduos e, através da interação, produzir benefícios de natureza social. Para Garcia Jr (2005) o 114 capital social de qualquer comunidade compreende um conjunto de valores e atitudes dos cidadãos que favorecem o seu autodesenvolvimento. Neste sentido, encontra-se atualmente em desenvolvimento no campus da Universidade Estadual de Maringá – UEM, um projeto denominado Cidadania com Responsabilidade Social, cujo objetivo é possibilitar a compreensão e sensibilização da necessidade de contribuir ativamente na organização e preservação do ambiente de convivência manutenção de de modo a ambiente facilitar sua saudável, conservação melhorando e as condições de vida daqueles que compartilham os espaços públicos (e até particulares) envolvidos. Visando contribuir com a mudança de comportamento, o projeto tem a finalidade de agir perante a comunidade universitária no sentido de sensibilizar professores, técnicos administrativos e acadêmicos para preservarem e deixarem seus locais de trabalho ou salas de aula devidamente organizadas, bem como aos membros da sociedade externa que frequentam o campus universitário, independente se por motivos de estudos ou por interesse diversos. Busca-se com isso facilitar a limpeza, preservação de mobiliários, evitar gastos desnecessários de materiais de consumo, facilitar a reciclagem de materiais, racionalizar o consumo de água e energia; conservar a limpeza do pátio, e assim evitar doenças (dengue), orientar a comunidade 115 externa que frequenta o campus da necessidade de contribuir com a preservação do patrimônio público. Por essas razões este artigo procura oportunizar o conhecimento acerca das principais variáveis que compõe o sistema integrado para ações voltadas a responsabilidade social no contexto da UEM. 2 CONCEITO DE SOCIEDADE Comumente define-se sociedade como um conjunto de pessoas que compartilham propósitos, ideologias, costume e preocupações, e que se unem com intuito de construir uma sociedade harmônica que compartilhe as benesses da sociedade para todos. Segundo Birou (1966, p. 380) do ponto de vista sociológico, podem-se dar diferentes definições da sociedade as quais se completam entre si: “Conjunto de pessoas e de grupos, que mantêm relações de recíprocas de comunicação, de solidariedade, de dependência, e têm uma atividade geral e combinada resultante de tais relações. A sociedade é a estrutura global que permite a subsistência deste conjunto”. No Brasil, com o passar dos tempos, e as mudanças de governo, surgem promessas e mais promessas em prol da sociedade, mas o que se vê é uma paranoia institucionalizada pelos governantes na qual a prioridade é revertida apenas para satisfazer os grandes capitalistas, e não a sociedade como deveria ser. 116 No entanto, as dificuldades enfrentadas pela sociedade, na maioria das vezes, existem em função da falta de sua própria consciência, que agindo de maneira a ignorar a responsabilidade sobre sua atuação no meio em que convive provoca gastos que poderiam ser evitados, caso se comportasse de maneira consciente. Esta ação pode ocorrer de diversas maneiras, por omissão ao se deparar com situações que prejudicam a coletividade, acreditando que o problema é somente dos outros (principalmente da administração pública quando ocorrem desperdícios), ou por ação própria quando provocam danos ao meio ambiente, salas de trabalho, salas de estudos, preservação de pátios, entre outros. A responsabilidade social faz parte deste contexto, tão almejada pela sociedade geral, porém, sem saber como agir. As práticas de responsabilidade social têm tido destaque em muitas empresas nos últimos anos, por meio do desenvolvimento e ampliação de projetos sociais, já que o Estado não pode mais ser visto como o único a ter responsabilidades para com a sociedade. Para Ashley (2002, p. 06 e 07), Responsabilidade social pode ser definida como compromisso que uma organização deve ter com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico (...). Assim, numa 117 visão expandida, responsabilidade social é toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade. Neste contexto é necessário, também, que no convívio social haja mudança de comportamento e de atitude para que se possa praticar a responsabilidade social, bem como da necessidade de se conhecer a sua finalidade, pois se isso não ocorrer não há como colocar em prática a ideia da responsabilidade social. 3 ABORDAGENS SOCIAIS Do ponto de vista sistêmico, o que se espera como abordagem social é a mudança cultural de comportamento no convívio social. Entretanto, é muito difícil prescrever aspectos que possam servir de modelo para tais mudanças. É argumentável consolidar os que meios existam métodos necessários que para possam benefício da sociedade, como por exemplo, os conceitos de capital social. A aplicação do exercício da cidadania, quanto aos deveres e comunicação direitos e de pode proporcionar integração entre uma os rede de cidadãos e, consequentemente, constituir destacado fator de Capital Social, necessário sustentável. ao desenvolvimento integrado e 118 Para que o processo solidário se amplie e haja engajamento generalizado na busca de desenvolvimento e justiça social, é necessário que ações sejam desenvolvidas em todos os segmentos, a fim de que cada indivíduo descubra sua real capacidade de atuação e de influência nos destinos da comunidade. Para Pagnoncelli e Aumond (2004, p. 21), o Capital Social é formado: [...] quando as pessoas participam de grupos ou associações, formalmente organizadas ou não, para realizar atividades ou simplesmente para se reunirem de maneira regular, com sindicatos, grupos religiosos, movimento políticos, associações de moradores, grupos esportivos, ONGs, associação de pais e mestres. Para os autores, esses grupos e associações expressam a estrutura social em que operam: ricos e pobres, as tendências políticas e religiosas, a diversidade étnica e outros aspectos. Quando há interação sintonizada com certo objetivo comum, surgem redes que fortalecem o desenvolvimento e o crescimento do capital social, predispondo as pessoas a participarem e contribuírem, por exemplo, com tempo, trabalho voluntário e atitudes solidárias, em projetos que beneficiam a comunidade como um todo, seja com ações individuais ou coletivas. 119 As pessoas acabam por entender que quando os membros de uma sociedade têm consciência da necessidade de atuação coletiva, essa consciência pode propiciar condições de progresso mediante a constituição de redes sociais, que são conexões de ideias. O principal resultado desse processo é a percepção de que o desenvolvimento efetivo de qualquer indivíduo não pode ser alcançado à custa ou a despeito do desenvolvimento da comunidade, mas tão somente como parte deste. Dessa forma, a sensibilização de cada indivíduo da importância de sua participação passa a assumir o verdadeiro caráter de alavancagem do bem comum. Do ponto de vista de Clemente et. al. (2006), a solução dos problemas da comunidade passa a ser uma tarefa a ser realizada pelos seus integrantes: o mito de solução externa milagrosa, conhecido como messianismo, perde lugar e cada indivíduo passa a se perceber como elemento ativo capaz de cooperar para os avanços desejados. Questões elementares, mas frequentemente desconhecidas, como: de onde vêm os recursos, porque certas necessidades não estão sendo atendidas, ou porque as autoridades parecem incapazes de enfrentar certos problemas, como o de segurança que atualmente atormenta a maior parte das comunidades, passam a ser compreensíveis aos cidadãos. O modelo de desenvolvimento fundamentado nos deveres e direitos concebe a cidadania como um processo 120 de construção do bem-estar, liberdade e atendimento às necessidades coletivas. Nessa construção, as ações coletivas e individuais são consideradas como parte de uma rede social, em prol do bem comum. Portanto, cidadania pressupõe a organizadas, existência cujos de membros sociedades discutam, livremente escolham e planejem suas ações de forma solidária. Sawaia (1994, p. 147), destaca que: As comunidades se colocam como espaços privilegiados da passagem da universalidade ética à singularidade do gozo e vice-versa, passando pelas necessidades do coletivo, e garantindo, assim, a objetivação na vida cotidiana do princípio da cidadania colocado pela modernidade contemporânea, que é o direito de viver a própria vida, ser único e diferente dos demais, enquanto igual a todos. Nesses espaços, os indivíduos aprendem a viver em sociedade e a decidir em conjunto, discutindo racionalmente possibilidades concretas de vida melhor e promovendo no homem, a consciência da necessidade de se contrapor à hegemonia de interesses corporativistas, capazes de que desvirtuar a ética, transmutando-a em ética minimalista e moralidade cínica. A cidadania agrega valores individuais cuja fusão, por meio da interação social, contribui decisivamente para a formação do capital social e elevação do status da 121 comunidade de objeto a sujeito, de modo a tornar-se protagonista do seu próprio destino. O PNEF (2004, p. 35, caderno 1), define educação como: Um processo de formação do ser humano que objetiva prepará-lo para a vida, dotando-o de conhecimento e habilidades que o tornem capaz de compreender o mundo e intervir conscientemente para modificar a realidade em que vivemos, de modo a edificar uma sociedade livre, justa e solidária. Dessa forma, entende-se que quando os indivíduos exercem seus direitos e deveres no convívio social fazem com que estimule a mudança de valores, crenças e culturas do indivíduo, na perspectiva da formação de um ser humano integral, como meio de possibilitar o pleno exercício de cidadania e propiciar a transformação social. Sobre este aspecto, Lima (2001, p. 46) menciona que Capital Social pode ser entendido como: “o conjunto de normas de reciprocidade, informação e confiança presentes nas redes sociais informais desenvolvidas pelos indivíduos em sua vida cotidiana, resultando em numerosos benefícios diretos e indiretos, sendo determinante na compreensão da ação social”. Fukuyama (1995) apud Garcia Jr. (artigo s/d, p. 1), refere Capital Social como: “um conjunto de valores ou 122 normas informais comuns aos membros de um grupo ou de uma sociedade, que permitem e definem regras de cooperação entre eles”. Entende-se assim que, uma vez estabelecido o padrão de comportamento, os membros que compõem a sociedade passam a confiar que os outros irão se comportar de certa forma. Os conceitos mencionados anteriormente são unânimes quanto à interação entre os indivíduos orientada para despertar sentimentos de responsabilidade em relação à consecução de objetivos comuns como sendo a essência do Capital Social. 4 A IMPORTÂNCIA DO EXERCÍCIO DA CIDADANIA NO CONTEXTO SOCIAL Cidadania significa, de acordo com o Dicionário Barsa de Língua Portuguesa (2005, p. 209), “qualidade ou condição de cidadão”, e o Dicionário de Ciências Sociais (1986, p. 177) define como: “o estatuto oriundo do relacionamento existente entre uma pessoa natural e uma sociedade política, conhecida como Estado, pelo qual a pessoa deve a este obediência e a sociedade lhe deve proteção”. Para Guimarães (1999, p. 162) apud Peixe (2002, p.153), “cidadania é a qualidade de cidadão, pessoa que está no gozo de seus direitos e deveres civis e políticos garantidos pela Constituição”. 123 Esses conceitos estão amparados pelo Art. 5º da Constituição Federal, que assim estabelece: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes...”. Quanto a esses aspectos, Peixe (2002, p. 154), sugere: Compreender cidadania não como um estado passivo de desfrutar os direitos conquistados, ou seja, concedidos de cima para baixo, nem como uma concepção abstrata, mas uma prática cotidiana de participação social e política nos destinos do Estado, com adoção de atitudes de solidariedade, cooperação, corresponsabilidade pela vida social na comunidade, onde o objetivo maior seja a felicidade e o bem estar de todos, individual e coletivo. Acrescenta ainda que “no cotidiano, cidadania pode ser qualquer atitude natural que implique a manifestação de uma consciência de pertinência e de responsabilidade solidária e coletiva”. A frequente referência aos direitos individuais assegurados pela Constituição não deveria ser entendida como destaque destes sobre os deveres e as obrigações do indivíduo para com a sociedade. A consciência dos deveres sociais trás consigo a noção de responsabilidade social em 124 relação ao bem comum e a disposição de participar dos esforços necessários para atender às necessidades coletivas. 5 A IMPORTÂNCIA DO MEIO AMBIENTE NA ATUALIDADE Não se pode falar em responsabilidade social sem se preocupar com o meio ambiente, haja vista que a convivência social forma esse meio e dele a sociedade é dependente. acadêmicos ambiente, Discutem-se da necessidade tendo em vista atualmente de que nos preservação com o meios do meio crescimento econômico há uma crescente demanda pelo consumo de energia e recursos naturais, os quais se não forem utilizados com qualidade e responsabilidade poderá se esgotar. Por essas razões, a necessidade de administrar os recursos naturais e os bens comuns à sociedade é fator preponderante de cada ser humano, do qual deve ser feito com muita eficiência, principalmente quando se trata do uso eficiente de energia, água e outros recursos evitando o desperdício. Como exemplo, o simples ato de apagar uma lâmpada economiza-se não somente energia, mas recursos financeiros e, principalmente a água dos reservatórios das usinas hidrelétricas, tendo em vista que a energia não tem 125 origem de estoque, mas da produção simultânea em função do consumo. Estudos têm demonstrado que em nome do desenvolvimento econômico não se pensa duas vezes em destruir, com resíduos químicos, um riacho que passe próximo de uma fábrica ou abusar dos agrotóxicos para se obter uma maior produção e até mesmo desmatar florestas. O livro Primavera Silenciosa, da bióloga Rachel Carson, publicado em 1962, reunia uma série de narrativas sobre as desgraças ambientais que estavam ocorrendo em várias partes do mundo, promovidas pelo modelo de “desenvolvimento” econômico então adotado, e alertava a comunidade internacional para o problema. Rios mortos, transformados em canais de lodo, o ar das cidades envenenado pela poluição generalizada, destruição de florestas, solos envenenados por biocidas, águas contaminadas e tantas outras mazelas compunham, enfim, um quadro de devastação sem precedentes na existência humana. Dois Universidade convívio projetos Estadual social, em de mostra desenvolvimento Maringá a sua estão na voltados preocupação ao para a construção de ambientes saudáveis, visando à realização do valor da sustentabilidade. O primeiro, denominado Cidadania com Responsabilidade Social, visa contribuir com a mudança de comportamento e tem como finalidade agir perante a 126 comunidade universitária, no sentido de sensibilizá-la quanto aos aspectos de facilitar a reciclagem de materiais, racionalizar o consumo de água e energia, conservar a limpeza dos pátios, evitando doenças como a dengue. O segundo denominado Programa de gerenciamento de resíduos químicos – Pró-Resíduos têm como principais objetivos: quantificar e qualificar os diversos resíduos gerados na UEM (Campus sede e extensões); desenvolver tecnologia para passivação, reaproveitamento e descarte final de maneira ecologicamente sadia aos diversos resíduos gerados; desenvolver, nortear e determinar as ações necessárias para o cumprimento da legislação do meio ambiente; orientar, fiscalizar e propor medidas tecnicamente corretas e seguras para o descarte de resíduos em geral; proceder à segregação, tratamento, passivação dos resíduos infectantes, químicos, radioativos, efluentes (atualmente estocados nos diversos laboratórios e setores da UEM que perderam a rastreabilidade) e encaminhar para aterro industrial os não recuperáveis; incentivar, articular e sistematizar as atividades relacionadas ao gerenciamento de resíduos, 127 desenvolvidos no programa; etc. (Dados obtidos na página br/programa http://www.proresíduos. de gerenciamento de uem. resíduos químicos – Pró-Resíduos.htm em 04.11.08). Projetos como esses têm para o serviço público valor significante, uma vez que além de serem políticas institucionais capazes de implementar novos estímulos cognitivos para viabilizar a construção de ambientes saudáveis, não tem a preocupação de fazer marketing tendo um significado maior, a cidadania e a responsabilidade da mudança para uma melhor qualidade de vida. A Constituição Brasileira, no seu artigo 225 diz que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para a presente e futuras gerações”. Por essas razões desenvolver o processo de formação humana e social na academia se torna fator principal para que o egresso não saia da universidade somente com o conhecimento técnico, mas com uma formação voltada aos aspectos da cidadania no que se refere aos deveres e direitos no convívio social. 128 6 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ: UM PATRIMONIO PÚBLICO QUE DEVE SER PRESERVADO O patrimônio tangível e intangível da Universidade Estadual de Maringá e tido como um patrimônio público, cuja missão é “produzir conhecimento por meio da pesquisa; organizar, articular e disseminar saberes por meio do ensino e da extensão, para formar cidadãos, profissionais e lideranças para a sociedade”; sua Visão de Futuro visa “Tornar a UEM, nos próximos cincos anos, uma instituição de excelência na formação de profissionais e pesquisadores, capazes de atender às necessidades e aos anseios da sociedade, de forma geral, e aos das comunidades onde está inserida”. (Dados obtidos da página virtual http://www.scs.uem.br/2005/cou/021cou2005.htp). Esse patrimônio pertence a toda sociedade, seja aquela que compõe internamente sua estrutura ou mesmo a externa, sendo de responsabilidade de todos os deveres de cuidar e preservar para sua continuidade. De acordo com o Minidicionário Caldas Aulete (2004, p. 600), patrimônio significa “conjunto de bens de uma pessoa, família ou instituição”. Esses bens podem ser corpóreos (bens físicos) e incorpóreos (bens intangíveis). Segundo o Vocabulário Jurídico (2003, p. 215), “...bens incorpóreos são os que não têm existência concreta. Referem-se a entidades abstratas, que, embora possam ser objeto de direito, e deles se possam sentir os resultados, 129 não possuem qualquer materialidade, em que se possa tocar ou apalpar, ou se sinta ou se veja. São bens de existência imaterial, impalpável, invisível”. Os bens intangíveis (incorpóreo) da Universidade Estadual de Maringá estão representados pelo capital humano de aproximadamente 4.165 mil servidores, formados por professores e técnicos administrativos, bem como por 13.477 acadêmicos. (Dados obtidos na PróReitoria de Recursos Humanos e Assuntos Comunitários/Diretoria de Pessoal/Divisão de Controle de Pagamento e Diretoria de Assuntos Acadêmicos (DAA). Clemente et. al. (2006) argumentam que do ponto de vista social, entende-se que todo cidadão é parte corresponsável pela autossobrevivência e, neste sentido na interação consciente das ações e atitudes no convívio social, cria-se o capital social como sendo um conjunto de valores e atitudes que favorecem o desenvolvimento. Esse conjunto de valores, por não ser corpóreo, pode ser considerado um Ativo Intangível que necessita de ações de sensibilização para proporcionar benefícios incrementais no desenvolvimento sustentável. É nesse sentido que o projeto denominado Cidadania com Responsabilidade Social, em desenvolvimento na Universidade Estadual de Maringá está focado, ou seja, está investindo no seu Ativo Intangível para minimizar problemas por meio da sensibilização e conscientização de todos os cidadãos que convivem no ambiente universitário. 130 Entre as diversas ações que atualmente estão sendo desenvolvidas para atender os objetivos do projeto, podese destacar: a) identificação dos disseminadores para compor a equipe de trabalho; b) fotografar salas de utilização, no aula antes e sentido de após sua constatar sua organização antes e após o uso; c) realização de atividades com zeladoria e encarregados de manutenção da UEM no sentido de levantar informações sobre os problemas mais frequentes enfrentados pelos mesmos e com possibilidade de solução através de orientações; d) aplicação de professores questionário para levantar para alunos informações e sobre problemas encontrados; e) estabelecimentos de estratégias para solucionar problemas (organização detectados de salas, nos itens limpeza anteriores de salas, manutenção prevenção de prédio e mobiliários, proteção de acessórios, separação de materiais recicláveis etc.); f) participação em reunião do Conselho Departamental expondo os objetivos do projeto; g) participação em reunião dos Departamentos, que permitirem, para expor os objetivos do projeto; 131 h) reunião com coordenadores pedagógicos dos cursos que integram o CSA expondo os objetivos do projeto; i) confecção de material de sensibilização e divulgação; j) realização de reuniões com técnicos administrativos para discutir e implementar ações visando a sensibilização para a necessidade da mudança do ambiente em que convivem; k) avaliação periódica das mudanças ocorridas em função das atividades desenvolvidas pelo projeto. (Dados obtidos do Projeto nº 13.270/2007-PRO – Cidadania com Responsabilidade Social). As ações do projeto Cidadania com Responsabilidade Social podem ser consideradas fator relevante na formação do capital social da comunidade universitária, haja vista que possibilita mudança de comportamento, bem como sensibilizar os futuros profissionais que serão colocados no mercado quanto à formação do exercício da cidadania. Diante deste contexto de que o processo de investimento na formação do cidadão, como ser humano consciente de seus deveres e direitos, gera o capital social facilitador dos mecanismos de continuidade sustentável da sociedade e esse capital pode ser considerado um ativo social intangível, entende-se que a formação, a confiança e as ações de reciprocidade são consideradas os ativos 132 intangíveis mais importantes para solução de problemas comuns de uma sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do objetivo deste artigo em discutir a responsabilidade social como exercício de cidadania voltado à preservação dos bens públicos da UEM, tanto os tangíveis como os intangíveis, pode-se concluir que existem iniciativas de discussões empreendedoras na busca de sensibilizar a comunidade universitária a exercer a cidadania quanto aos deveres e direitos na convivência social, cujos resultados possam interferir positivamente na conservação dos bens públicos da UEM, sejam por meio de ações coletivas ou individuais por meio de mudança de comportamento de seus membros. Também foi possível perceber que por meio da sensibilização e conscientização das ações de cada membro que o capital humano adquirido de cada cidadão proporciona o aumento do “estoque” do capital social como um ativo intangível e tão necessário ao desenvolvimento integrado. Através de um relatório sobre os resultados alcançados durante o ano de 2008 do projeto Cidadania com Responsabilidade Social, foi possível verificar aspectos relevantes do comportamento de cidadãos, tanto com exemplos práticos quanto testemunhos de ações de 133 cidadania, e que diante dessa percepção de mudança comportamental, alguns departamentos e setores da UEM demonstraram interesse em implantá-lo em suas áreas de atuação. Outro resultado positivo do projeto refere-se à reivindicação junto a Diretoria de Manutenção da UEM para colocação de lixeiras para coleta de pilhas e baterias a ser entregue para destinação o Departamento adequada, de protegendo Física o que meio dará ambiente. Também houve depoimentos de servidores da zeladoria que após a apresentação do projeto, constataram-se mudanças de organização nas salas de aulas, no que se refere ao estado das mesmas antes e depois de sua utilização, facilitando o serviço das zeladoras, bem como o tempo gasto para a limpeza das salas. Essas ações têm contribuído com a preservação dos móveis e equipamentos utilizados pela instituição nas salas de aulas, consequentemente, poderá ocasionar redução de gastos com a manutenção de móveis, cortinas, ventiladores, materiais de consumo. A prática da responsabilidade social requer não somente a prática do exercício de cidadania quanto aos direitos e deveres, mas também uma mudança de comportamento, principalmente nas organizações públicas pelo fato de que a maioria entende que a “coisa pública” não tem dono e esse paradigma converge para gerar desperdício de tempo, materiais, recursos humanos e 134 financeiro, cujas consequências são revertidas em prejuízo dos próprios cidadãos que financiam tais recursos por meio dos tributos. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Maria Celina Soares D’. Capital Social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. ASHLEY, Patrícia Almeida (coordenação). Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2002. BIROU, Alain. Dicionário das Ciências Sociais. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1966. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. BRASIL. Programa Nacional de Educação Fiscal – PNEF. Ministério da Fazenda e Ministério da Educação, Brasília: 2004. 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