Arabesque
Concerto de Jane Birkin
Música • 21h30 • Grande Auditório • Duração 1h45
23 e 24 Jan’04
Voz Jane Birkin
Violino Djamel Benyelles
Piano Fred Maggi
Alaúde Amel Riahi el Mansouri
Percussão Aziz Boularoug
Cantor Moumen
Luzes Jacques Rouveyrollis
Jane Birkin nasceu em Londres a 14 de
Dezembro de 1946, filha de Judy Campbell,
actriz, e de David Birkin, comandante da
Royal Navy. Estreou-se nos palcos aos dezassete anos e conheceu John Barry que, em
1965, a contratou para a sua comédia musical,
Passion Flower Hotel. Casaram-se pouco tempo
depois e em 1967 nasceu Kate.
Com vinte anos de idade, Jane chamava
a atenção em Blow-up, o filme-escândalo
de Antonioni consagrado em Cannes. Em
França, Pierre Grimblat encontrava-se a filmar Slogan e procurava uma actriz inglesa para
trabalhar os diálogos com Serge Gainsbourg.
Enquanto artista, Gainsbourg era já
célebre à margem da corrente yéyé, mas
atravessava um momento difícil na sua vida
pessoal – a separação de Brigitte Bardot. Jane
surgiu para uma audição; quase não falava
francês e desconhecia tudo acerca do seu parceiro, que acabou por descarregar nela a sua
frustração amorosa. Agressivo, Gainsbourg
maltratou a jovem assustada, que se desfez
em lágrimas à frente das câmaras. Assim começou a sua mítica história de amor, na Paris
de 1969. Tornaram-se inseparáveis e construíram a sua lenda nos bares underground, por
onde soprava o vento libertário pós-sessenta
e oito. Vozes e corpos lascivamente lânguidos,
gravaram Je t’aime moi non plus. Jane emprestou
a sua candura à erótica melopeia e tornou-se
o centro das atenções. A escaldante composição integra o álbum Jane Birkin Serge Gainsbourg,
lançado em 1969, no qual Jane interpreta
quatro temas a solo e vários em dueto com
Serge, entre os quais o sempre-eterno 69 année
érotique. A censura insurgiu-se, o disco vendeu
um milhão de cópias em poucos meses. O casal era primeira página das revistas e semeava
a agitação nos meios de comunicação social.
A filha Charlotte nasceu em 1971.
Em 1973 foi lançado Di Doo Dah, o primeiro álbum a solo de Jane. Nesse mesmo
ano, revelou a sua faceta de actriz dramática
no cinema, mais concretamente em Sept morts
sur ordonnance de Jacques Rouffio. Se as suas
actuações foram eclipsadas pelas traquinices
‘erótico-kitsh’ da altura, a delicada Jane aceitou de bom grado a imagem de inglesa etérea
que lhe atribuíam e contribuiu para o sucesso
destas produções comerciais. A ela se deve o
êxito de duas cómedias de Claude Zidi, em
1974 e 1975: La moutarde me monte au nez e La
course à l’échalotte, com Pierre Richard.
Em 1975, os ‘amants terribles’ estavam de
volta com Je t’aime moi non plus, o filme. Nele,
o Pigmalião explora a temática homossexual,
valendo-se da ambiguidade da sua musa andrógina. A França puritana escandalizou-se,
a crítica foi demolidora e Jane regressou aos
estúdios de gravação.
Lolita go home foi editado em 1975. Jane
canta letras de Philippe Labro com música de
Gainsbourg. Em 1978 foi a vez de Ex-fan des
sixties e a magia aconteceu.
O público deixou-se seduzir pela ligeira
acidez do seu sotaque, pela sua voz meio
aguda, meio murmurada e pela atmosfera
velada que conferiu aos textos torturados
de Serge. Em 1981, Jane abandonou Serge e
passou a viver com Jacques Doillon, o realizador de La fille prodigue e de La Pirate, através
dos quais a actriz se impôs num registo marcadamente dramático. Gainsbourg sofreu
com a separação e confessou-o timidamente,
oferecendo-lhe Baby alone in Babylone. Jane,
perturbante intérprete das peculiaridades do
autor, faz vibrar a cumplicidade dos amantes
desavindos em cada nota de Fuir le bonheur de
peur qu’il ne se sauve, de Dessous chics ou de Norma
Jean Baker. No glamour dos anos 80, Jane estava
em estado de graça.
Lou nasceu em 1982, o seu álbum foi disco
de ouro e realizadores como Jacques Rivette
ou Régis Wargnier foram ao encontro da sua
sensibilidade artística. Em 1985, Jane subiu
pela primeira vez ao palco de um teatro, para
interpretar La fausse suivante no Théâtre des
Amandiers de Nanterre, sob a direcção de
Patrice Chéreau. Foi graças a esta experiência
e à confiança que lhe foi transmitida por este
encenador que nasceu em Jane o seu desejo
de enfrentar o palco enquanto cantora; foi
assim que depois da edição de Lost song em
1987, Jane subiu ao palco do Bataclan, “para
deixar Serge atordoado”. A encenação minimalista, da responsabilidade de Philippe
Lerichomme, seu director artístico, adequava-se ao ambiente terno e poético do
espectáculo que incluía vinte temas, entre os
quais uma pungente versão de Avec le temps de
Léo Ferré. Foi um êxito. À beira dos quarenta
anos, Jane Birkin era uma artista consumada
e virava a página de eterna adolescente.
Em 1990, Gainsbourg dedicou-lhe um
novo álbum-declaração: Amours des feintes, que
seria o último, pois iria falecer a 2 de Março
de 1991. Alguns dias mais tarde, falecia também o seu pai, David Birkin. Jane ficou destroçada. Quando subiu ao palco do Casino
de Paris, o ambiente era de recolhimento e
a emoção quase palpável. A sua última declaração ecoava ainda na lembrança de todos:
“Preparo-me para abandonar a música. Não
consigo sequer imaginar gravar com qualquer
outra pessoa.”
Apoiada pela sua família e amigos, Jane
terminou a digressão em Julho de 1992 nas
Francofolies de la Rochelle, depondo o microfone no chão. Foi a sua forma de dizer
adeus. A ideia de parar fê-la sentir um grande
alívio. Ganhou novas forças na intimidade
da escrita e dedicou-se àquilo que lhe era
mais querido: a sua família e as causas humanitárias. Chegou a cantar para a Amnistia
Internacional, realizou uma curta metragem
a favor da luta contra a sida e partiu para
Sarajevo em plena guerra, pela Associação
Paris-Sarajevo.
Os pedidos dos fãs, que a pressionaram
para que continuasse a “cantar-lhes Serge”,
foram atendidos em 1996, ano de Versions
Jane. Neste álbum, diferentes artistas, tais
como Goran Bregovic ou o percussionista
senegalês Dudu N’Diaye Rose compõem
novas orquestrações para quinze obras do
reportório de juventude de Gainsbourg. No
seu conjunto, o álbum é marcado por um tom
nostálgico mas o público elegeria La gadoue e o
seu ritmo acelerado, re-inventado pela banda
Les Négresses Vertes, trinta anos após a versão original.
Em 1998, Jane gravou A la légère. Para
esta nova aventura, que qualificou de “uma
infidelidade total”, convidou doze autores
a compor-lhe doze temas inéditos. Pela
primeira vez, Gainsbourg não assinava nem
letras nem músicas, mas inspirava cada uma
das composições. Entre os cúmplices encontravam-se Chamfort, Souchon, Vouzly,
Françoise Hardy, MC Solaar, Lavoine, Daho
e Zazie, que lhe iria oferecer C’est comme ça,
cujo texto é denso de significado: “Não direi
mais uma palavra sobre ti / é melhor assim /
No futuro, outros me farão falar”. Estas palavras, inaudíveis à primeira escuta, depressa
se tornariam para Jane a conclusão do álbum:
“o mais pudico que ela poderia ter desejado”.
A cantora arriscou, elevou o tom e venceu o
desafio: a sua voz cristalina, mais leve, assemelhava-se a ela própria.
Em 2002, Jane sentiu vontade de, à sua
maneira, defender Elisa, Les dessous chics, a sua
canção preferida, ou Amours des feintes. Sob a
égide oriental, levou as canções de Serge a
terras “simultaneamente argelinas, andaluzas, judias e ciganas”, encantada com a ideia
de as dar a conhecer a um público jovem, o
mais alargado possível. Este novo espectáculo
foi baptizado de Arabesque. Foi o seu director
artístico, Philippe Lerichomme, que sugeriu
a Jane trabalhar com Djamel Benyelles, o
violinista de origem argelina cujo arco faz
vibrar as canções de Gainsbourg ao sabor de
intermezzi arabizantes.
A seu lado, Jane sacode-se ao ritmo de
Les clés du Paradis, de pés nus e longo vestido
vermelho-sangue, acompanhada por Aziz
Boularouq (percussão), Fred Maggi (piano) e
Amel Riahi el Mansouri (alaúde). Concebido
no âmbito do Festival d’Avignon em 1999 e
posteriormente apresentado na Argélia, em
algumas cidades francesas e no Odéon em
Março de 2001, Arabesque arrebata e surpreende um público entusiástico, que aclama
Jane de pé.
É a atmosfera de festa com que sonhava
para um espectáculo que lhe parecia inimaginável há apenas alguns anos. Em 2003, Jane
apresentou Arabesque em França, assim como
em Londres, Espanha, Itália, Alemanha,
Canadá, Nova Iorque e Ásia. Filmada no
Théâtre de l’Odéon em Paris, a gravação do
espectáculo foi editada pela Capital em CD e
DVD, nos finais de Outubro de 2002.
Neste momento, Jane aspira a ser ela própria e a surpreender-se. Tem já planeado escrever um álbum, com letras de sua autoria.
Na capa de A la légère, Jane surge como uma
borboleta. Na abertura de Arabesque, entoa C’est
comme ça num raio de luz. A artista consumada
demorou o seu tempo para sair do casulo mas
voa agora com as suas próprias asas.
Agosto de 2002
© Ariane Schuman-Dreyfus
Jane Birkin agradece
a Philippe Lerichomme pela sua lealdade,
a Jacques Rouveyrollis pelo desenho de luzes,
aos músicos Djamel Benyelles, Fred Maggi, Amel
Riahi el Mansouri e Aziz Boularoug,
e a Gabrielle.
Programa
Physique et sans issue (Serge Gainsbourg)
Ces petits riens (Serge Gainsbourg)
C’est comme ça (Zazie)
La chanson de Prévert (Serge Gainsbourg)
Elisa (Serge Gainsbourg / Michel Colombier – Serge Gainsbourg)
Et quand bien même (Serge Gainsbourg)
L’amour de moi (Serge Gainsbourg)
Couleur café (Serge Gainsbourg)
Anno “Close to the River” (Anno)
Dépression au-dessus du jardin (Serge Gainsbourg)
Valse de Melody (Serge Gainsbourg)
Haine pour aime (Serge Gainsbourg)
Amours des feintes (Serge Gainsbourg)
Instrumental (Djamel Benyelles)
Les dessous chics (Serge Gainsbourg)
Les clés du paradis (J. Duvall / J.N. Chaleat - A. Chamfort)
Fuir le bonheur de peur qu’il ne se sauve (Serge Gainsbourg)
Comment te dire adieu (Arnold Goland / Jack Gold – Adaptation: Serge Gainsbourg)
Baby alone in Babylone (Serge Gainsbourg)
La Javanaise (Serge Gainsbourg)
Conselho de Administração
Presidente Manuel José Vaz
Vice-presidente Fátima Ramos
Vogal Luís dos Santos Ferro
Director artístico António Pinto Ribeiro
Director Técnico Eugénio Sena
Produção Margarida Mota da Costa, Paula Tavares
dos Santos, António Sequeira Lopes, Catarina
Carmona, Patrícia Blázquez, Marta Cardoso, Rute
Sousa, Maria do Céu Jimenez, Filipe Folhadela
Moreira, Cristina Ribeiro, Paulo Silva, Tiago
Bernardo, Álvaro Coelho, Nuno Cunha, Teresa
Figueiredo, Sofia Fernandes
Direcção de cena e iluminação Horácio Fernandes
Maquinaria de cena José Luís Pereira
Audiovisuais Américo Firmino, Paulo Abrantes
Operador de luzes Fernando Ricardo
Técnicos de palco Alcino Ferreira, Nuno Alves
Bilheteira Manuela Fialho, Edgar Andrade
Patrocínio:
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Arabesque Concerto de Jane Birkin 23 e 24 Jan`04