MISSÃO ESCREVE-SE COM TODAS AS LETRAS A B C D E F G H I J L M N O P Q R S T das as biografias a maneira como Xavier, em seguida a uma profunda experiência de conversão aos 27 anos, ancorou a sua vida radicalmente no Evangelho. A partir daí foi sempre a sua relação com Deus que inspirou as suas decisões e orientou os seus passos. Jesuíta da primeira geração, viu o seu destino selado pela missão quando embarcou para a Índia. Oração prolongada e fé viva, humildade e obediência, integridade e sentido de serviço, abnegação até ao heroísmo, transpareciam tanto nas suas palavras como no seu agir. Zelo Xavier texto Luís Tomás foto João Caniço O alfabeto, que tem ditado a ordem dos te mas desta série, dá-nos agora a opor tunidade de evocar aqui uma figura em que se concretizam muitas das características da missão que têm vindo a ser evidenciadas nesta página: São Francisco Xavier (1506-1552) celebrado co- mo o missionário de referência dos tempos modernos. Santidade Poucos santos tiveram tantos biógrafos. Ainda hoje, a cinco séculos do nascimento, a sua vida continua a suscitar interesse e a levar os mais variados autores a estudá-la e divulgá-la. Sobressai em toFÁTIMA MISSIONÁRIA 22 É admirável a todos os títulos o empenho incansável com que Xavier exerceu o seu man dato de missionário. Durou só dez anos a sua actividade, mas é impressionante o volume de trabalho realizado, de viagens empreendidas por terra e por mar em condições tão difíceis e perigosas que nos é quase impossível imaginar hoje. Dominava-o a ambição de anunciar a Cristo e por aí se guiava na escolha dos territórios de inserção para si e para os missionários sob a sua responsabilidade. Índia, Molucas, Japão traduzem um itinerário de deslocação progressiva para o Oriente. É de notar que Xavier era um espanhol ao serviço de Portugal; dada a rivalidade aguda que percorria os dois impérios naquele tempo, isso exigia dele uma enorme capacidaANO LIV | Novembro de 2008 U {X} V Z de de renúncia em nome do superior interesse do Evangelho; a sua lealdade nunca foi posta em causa. O seu entusiasmo missionário levou-o a manter contacto com as suas raízes culturais e a escrever aos jovens da Europa para os animar a abrirem-se à grande causa da evangelização. Visão Xavier revelou-se também um homem de visão, um verdadeiro estratega. Foi ele que organizou e lançou as bases sobre as quais se regeu a missão no Oriente nas décadas seguintes. Mostrou uma notável abertura de mente perante situações novas, de sociedade, cultura e religião. Observou, avaliou, decidiu, cresceu. Daí nasciam mudanças na metodologia. Na Índia, trabalhando entre os pobres de baixa casta, e nas Molucas, a sua acção missionária era directa e frontal. No Japão encontrou umasociedadealtamenteestru turada, e também uma religião muito organizada. Isso levouo a enveredar por caminhos de adaptação para aos quais hoje usamos o termo inculturação. Quando percebeu que os japoneses estavam culturalmente dependentes da China, concebeu o plano de ir lá levar o anúncio cristão: convertida a China, também o Japão lhe seguiria o exemplo. A morte colheu-o às portas da China, prematuramente, aos 46 anos. Outros pegaram no seu sonho para lhe darem seguimento.