PROPOSTA PEDAGÓGICA CURRICULAR DA DISCIPLINA DE SOCIOLOGIA APRESENTAÇÃO GERAL DA DISCIPLINA DE SOCIOLOGIA A sociologia surge num contexto histórico em que as transformações econômicas, políticas e culturais do século XIX, estão consolidando o sistema capitalista. Já em 1824 o termo SOCIOLOGIA foi utilizado primeiramente por August Comte (1798 – 1857), mas é somente em 1838 que aparece com mais precisão relacionado com a ciência da sociedade. Em 1789 segundo Comte havia uma confusão de princípios que não se adequaram mais à sociedade industrial em expansão, uma vez que a razão era o princípio organizador dessa nova sociedade. A proposta de Comte era transformar a sociedade trabalhando a modificação do pensamento, conseqüentemente haveria uma mudança nas instituições. É nesse contexto que aparece a Sociologia, ou a “física social”, que ao estudar a sociedade e analisar seus processos e estruturas, proporia ema reforma pratica das instituições. Para Comte a ciência deve existir para fazer previsões e oferecer soluções para os possíveis problemas que venham a existir. Já para Karl Marx (1818-1883) as mudanças ocorridas com o aparecimento do capitalismo, exigiam o desenvolvimento de um pensamento que explicasse as conclusões sociais, políticas econômicas e define-se as possibilidades de mudança dessa realidade, Marx não se preocupa em definir uma ciência para estudar a sociedade, um vez que acreditava que esta deve ser analisada em todos seus aspectos, sejam eles sociais, econômicos políticos, ideológicos, religiosos etc. O conhecimento cientifico da realidade social só tem sentido quando teoria e pratica são articulada de modo a transformá-la. Historicamente no Brasil o saber sociológico será grandemente influenciado pelo saber acadêmico no país como França, Alemanha e Estados Unidos da América. Na França com Emile Durkheim (1858-1917) será travada a batalha para definir da Sociologia, ele propõe uma educação laica e republicana, em contra posição à presença religiosa e monarquista no sistema de ensino francês da época, mas somente após 1870 – 1876 com as mudanças ocorridas em decorrência das guerras França prussiana e comuna de Paris onde os avanços científicos industrial andavam lado a lado com a miséria e o desemprego, como conseqüência essa situação acabou fortalecendo o acirramento das lutas sociais. É diante dessa diversidade social que ele procurará as respostas. A Sociologia como disciplina aparece, então, nos cursos universitários esteve ligada-a perspectiva da nova moral burguesa. A Sociologia Francesa após Durkheim terá continuidade com Marcel Mauss, Maurice Habwchs e outros. Na Alemanha Marx Weber (1864 – 1920) foi o principal representante para a formação da sociologia neste país. Weber utiliza o método histórico como possibilidade de compreender as ações dos indivíduos. É o individuo e o sentido de sua ação que caracterizará a sociologia Weberiana. Também na Alemanha teremos a Escola de Frankfurt que desenvolverá seus estudos em muitos campos do saber tendo como ponto de partida o pensamento de Immanuel Kant (1724 – 1804), Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831), Karl Marx, Max Weber, Arthur Schpenhauer (1788 – 1860) Martin Hidegger (1889 – 1976) e também Sigmund Freud. Sua proposta é a construção de uma teoria crítica capaz de explicar fenômenos da sociedade comtemporanea. A sociologia nos EUA, se desenvolveu no mesmo período que o da França, Alemanha, mas com características próprias. Dentro do século XX ela possui uma diversidade de temas e de propostas teóricas e metodológicas além de contar com o financiamento privado e público. As cidades americanas, no final do século XIX passam por problemas como processo de inchaço devido à imigração européia e ao desenvolvimento industrial e econômico do país, os novos problemas que surgirão em decorrência disso iriam servir de motivo para pesquisa. Em 1892, surge p primeiro departamento de Sociologia na Universidade de Chicago, que vai organizar os primeiros passos desse conhecimento nos EUA, pautado na pesquisa de campo. Depois disso teremos outras universidades desenvolvendo a sociologia como a Universidade de Harvard e a de Colúmbia cada qual com sua linha teórica. Temos como representante mais expressivo da sociologia crítica nos EUA, Charles Wrights Mills (1916 – 1962) e o que teve mais influência no Brasil. Procurou conciliar o conceito de classe social com o de status, com o objetivo de compreender os mecanismos dos conflitos e da mudança social. Defendeu o comprometimento do cientista com o seu tempo, pois a ciência social não deveria estar separada da vida. No Brasil a sociologia consolidou-se primeiramente nos cursos secundários, para somente depois estar como disciplina básica dos cursos de direito no país, já nos anos 30 do século XX, Benjamin Constant, ministro da Instrução Pública do Governo Provisório da República, teve como meta principal a desvinculação e a quebra de supremacia do ensino religioso nas escolas secundaristas. A disciplina de Sociologia estaria vinculada à de moral e seria lecionada no ultimo período do curso, ou seja, no sétimo ano. Em 1901, a consolidação do Decreto nº 3890, de 01 de Janeiro, retirou a disciplina oficialmente dos currículos escolares. Ela retornaria apenas em 1925, através de uma reforma efetuada pelo ministro Rocha Vaz. No decorrer dos anos 30 com novas normas para o ensino secundarista, a sociologia vai ter inclusão obrigatória no segundo ano do chamado ciclo complementar, para quem desejasse freqüentar cursos superiores nas áreas de Direito, Ciências Médicas, Engenharia e Arquitetura e para professores do curso normal. Os primeiros cursos secundários e escolas normais são de 1933, em São Paulo, são desse período também a fundação dos cursos superiores de Ciências Sociais na Escola livre de Sociologia e Política de São Paulo, o objetivo desses cursos era formar técnicos, assessores e consultores com conhecimento cientifico para darem suporte às decisões dos governos, seja no âmbito municipal, estadual e federal. Com a criação da Universidade de São Paulo (USP), em 1934 e a Universidade do Distrito Federal, em 1935, procuraram-se formar professores para o Ensino Médio, principalmente aqueles que formariam os profissionais para atuar no Ensino Fundamental. Definia-se assim o campo de atuação dos formandos de Sociologia, como professores ou como funcionários do Estado. Nesse período os objetivos para o ensino da disciplina seriam: a) Tratar a ação educativa como cientifica; b) Transformar professores em lideres capazes de conduzirem os seus alunos a levar a sociedade a um estagio maior de educação; c) Os professores seriam agentes privilegiados capazes de “deixar em paz” a sociedade e indivíduos, já que a sociologia ministrada nesses cursos exigiria dos alunos apenas duas habilidades: a de expressão verbal e memorização de conceitos. A partir das décadas 1950/60 apareceram várias Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras no Brasil, em universidade ou fora delas, e a Sociologia vai fazer parte do currículo dos cursos de Ciências Sociais ou apresentar-se como independente em outros cursos. A sociologia, nessas décadas, tornou-se disciplina hegemônica no quadro das ciências sociais no Brasil, e a primeira a formar uma “escola” ou uma “tradição” em São Paulo. Com isso ampliam as possibilidades de formação de professores de sociologia para o ensino médio. Em 1972, com a lei 5692 a sociologia é retirada dos currículos escolares das Escolas Normais, sendo substituída pela disciplina de Fundamentos da Educação que integraria os conteúdos provenientes, da Sociologia da Educação e da Filosofia da Educação, disciplinas essas também excluídas da nova habilitação (Santos, 2004, p.146). De 1997 até o ano de 2001, a proposta de um Projeto de Alteração da LDB em seu artigo 36, tornando a Sociologia e Filosofia como disciplinas obrigatórias no Ensino Médio, transmitiu e passou por unanimidade em duas comissões consideradas de mérito, a de Educação e a de Constituição e Justiça onde houve finalmente a aprovação do projeto de lei, em 18 de setembro de 2001. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E METODOLÓGICA E CONTEÚDOS ESTRUTURANTES Entende-se por conteúdos estruturantes em Sociologia, aqueles saberes que são fundamentais para o entendimento da vida em sociedade. Estes conteúdos para o Ensino Médio, devem abarcar uma série de discussões que envolvem teorias, conceitos e temas hitorizados anteriormente. Abordar o processo de socialização oferecerá ao aluno a possibilidade de compreender as diferentes formas de organização social. A vida em sociedade necessita que seus membros conheçam e internalizem as expectativas de comportamentos estabelecidos pelos valores, regras e normas presente nela. Isso se dá através dos processos de socialização que não estão dissociados das situações econômicas, políticas e culturais de cada sociedade no tempo e no espaço. Assim a socialização deverá ser analisada em seus aspectos formais e também não formais. Neste caso, significa, pensar e analisar os grupos de amigos, colegas, da escola, da rua, do trabalho, as mídias entre outros, que interferem na formação ou no reforço e conservação de atitudes tanto no âmbito pessoal quanto grupal. À família cabe iniciar o processo de internalização das normas, regras e valores de uma sociedade, a chamada socialização primária. O papel da escola é socializar de maneira mais formal as novas gerações propiciando uma maior integração do individuo e uma identificação com o sistema social. A cultura é uma construção inscrita na história das relações dos grupos sociais, sujeita a dinâmica de distinção que produz diferenças e hierarquias. Na medida em que a cultura só existe produzida pro indivíduos ou grupos que ocupam posições desiguais no campo social econômico e político, as culturas dos diferentes grupos se encontram em maior ou menor posição de forca em relação às outras. É importante problematizar, para o aluno do Ensino Médio, que nenhuma cultura é dotada de superioridade intrínseca, capaz de dominar “naturalmente” as outras culturas, pois a força relativa das diferentes culturas em competição depende diretamente da forca social relativa dos grupos que as sustentam. Esse campo de forcas constitui-se e concretiza-se sob a forma dos mais variados arranjos. Daí a pertinência de se estudarem temas como cultura erudita, cultura popular, relativismo etnocentrismo, gênero, etnias, especialmente em função do processo histórico de conquista, colonização e subdesenvolvimento em que vivemos. Também questionar como as determinações das entidades morais da sociedade e onde acontecem as ações sociais é fundamental, pois nós aprendemos a nos comportar de acordo com um determinado tipo de ambiente. O espaço social direciona nossos comportamentos, uma vez que as relações de cordialidade; os moralismos; os preconceitos e as divisões sociais; a imposição sexual do homem sobre a mulher; as relações das pessoas com o universo religioso; a percepção da morte no imaginário da população são questões que merecem ser debatidas. De acordo com Alfredo Bosi a cultura brasileira é plural, mas não é caótica. Outros autores ajudam-nos a pensar conceitos a respeito da relação entre cultura popular e erudita. Conceitos esses que são implicadores importantes na medida em que teremos de compreender o significado de erudito e popular, e se é possível associar cada um desses conceitos a alguma classe ou grupo determinado. E existem maneiras de ser, pensar e agir, diferentes de quem faz parte de uma ou de outra cultura. Alguns autores apontam apara discussão de três culturas que se interelacionam: a cultura popular, a cultura erudita e a industria cultural. Isso nos traz aos conceitos sobre a industria cultural formulado por Theodor Adorno (1903 – 1969) e Marx Horkheimer (1895 – 1973) que procuram diferenciar maiôs de comunicação de massa e indústria cultural. Os produtos culturais são uma forma de abarcar a questão cultural na contemporaneidade e ver como eles foram transformados em mercadoria, ou seja, um valor de troca. De uma forma crítica, eles discutem como esses meios produzem a dependência e alienação dos homens. Para eles, a indústria cultural modela os gostos e as preferências das massas formando suas consciências ao introduzir o desejo das necessidades supérfluas, portanto pretende excluir as necessidades concretas e que realmente proporcionam satisfação e felicidade. CONTEÚDOS Conteúdo Estruturante: - O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA E TEORIAS SOCIOLÓGICAS. Conteúdos Específicos: O surgimento da Sociologia; As teorias sociológicas na compreensão do presente; A produção sociológica brasileira. Conteúdo Estruturante: - INSTITUIÇÕES SOCIAIS: Conteúdos Específicos: A Instituição Escolar; A Instituição Religiosa; A Instituição Familiar. Conteúdo Estruturante: - CULTURA E INDÚSTRIA CULTURAL. Conteúdos Específicos: Cultura ou culturas: uma contribuição antropológica; Diversidade Cultural Brasileira; Cultura: criação ou apropriação? Conteúdo Estruturante: - TRABALHO, PRODUÇÃO E CLASSES SOCIAIS. Conteúdos Específicos: O processo de trabalho e a desigualdade social; Globalização. Conteúdo Estruturante: - PODER, POLÍTICA E IDEOLOGIA. Conteúdos Específicos: Ideologia; Formação do Estado Moderno. Conteúdo Estruturante: - DIREITO, CIDADANIA E MOVIMENTOS SOCIAIS. Conteúdos Específicos: Movimentos Sociais; Movimentos Agrários no Brasil; Movimento Estudantil. OBJETIVOS: A disciplina de Sociologia será trabalhada de forma a ir além da simples reprodução do conhecimento; levando os alunos a socializarem as produções sociológicas já existentes de forma crítica e sugestiva; buscando a formação de pessoas capazes de compreenderem a estrutura social contemporânea, através de um olhar “observador” sobre a sociedade. Sendo assim, o conhecimento sociológico perpassa habilidades como: definir, conceituar, classificar, descrever, correlacionar, pois tendo como objeto de estudo a própria sociedade e as relações nela estabelecidas pelos sujeitos sociais, direcionará o aluno a contextualizar problemáticas sociais e a partir destas criar possibilidades de transformação social. Esta transformação vai se contrapor às percepções de que a realidade social é histórica e socialmente construída. Pois proporcionará, aos alunos observarem-se como sujeitos sociais, podendo assim participar efetivamente na construção dos novos rumos para a sociedade, fazendo uso de conhecimentos de senso comum e também de pesquisa (conhecimentos) científicos. ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS. A organização do trabalho a ser desenvolvido na disciplina de Sociologia tem como base os conteúdos estruturantes e específicos que já apresentam-se articulados entre si e não exigem uma ordem de seqüência para serem trabalhados. Os conteúdos terão por objetivo levar os alunos a apreenderem conceitos sociológicos básicos e relacioná-los com a prática social; desenvolverem o pensamento reflexivo, critico e autônomo acerca do espaço onde estão inseridos. O trabalho será iniciado pela contextualização histórica da Sociologia e pelas teorias sociológicas fundamentais, as quais estarão sendo sempre retomadas no trabalho com os demais conteúdos numa perspectiva atualizada, como forma de dar-lhes suporte teórico. É importante que o aluno compreenda que ele, enquanto parte constituinte da sociedade estudada, também é produtor de conhecimento sociológico e que este por sua vez não representa um dado pronto e acabado, pois sendo resultado das relações estabelecidas entre os seres humanos, está em constante reelaboração e construção A participação ativa dos alunos é essencial, pois seus conhecimentos, ainda que baseados no senso comum, serão de grande valia por tornarem possível a identificação das idéias e ideais predominantes na sociedade. A ação participativa como sujeito social será reforçada com o desenvolvimento de debates, leituras, pesquisas teóricas e de campo, tento como princípio a exposição do que os alunos já sabem sobre o assunto a ser trabalhado, o professor os desafiará através de questionamentos e em uma etapa seguinte os provocará a buscar o conhecimento científico de forma organizada. Para tanto, dois encaminhamentos metodológicos inerentes a disciplina de Sociologia serão constantemente utilizados: pesquisa de campo e teórica, também a utilização de recursos audiovisuais e interpretações sobre a utilização dos meios de comunicação. A pesquisa de campo abrange as seguintes etapas: Definição do tema a ser pesquisado; Pré-projeto de pesquisa; Roteiro de observação/entrevista; Ida a campo para levantamento de dados; Organização dos dados coletados; Interpretação dos dados coletados; Análise e articulação dos dados coletados com a as teorias sociológicas apreendidas. Os recursos audiovisuais serão utilizados mediante os seguintes critérios: Escolha do filme (deverá estar relacionado ao conteúdo, a faixa etária a familiaridade cultural e ao nível de entendimento dos alunos); Observação da ficha técnica do filme; Roteiro que direcione os aspectos a serem observados com mais intensidade; Sistematização. Realizado todo o trabalho então descrito, é de suma importância a verificação da síntese mental do aluno, com vistas ao compromisso social por parte do mesmo, a partir do apreendido na disciplina de Sociologia. AVALIAÇÃO: A avaliação na disciplina de Sociologia será pensada e elaborada de forma transparente e coletiva. Tendo caráter diagnóstico, a avaliação permitirá ao professor identificar as falhas ocorridas no processo ensino – aprendizagem e redimensionar seu trabalho até que veja cumprido seus objetivos primordiais, que são: a apreensão/compreensão/reflexão dos conhecimentos por parte dos alunos. Todas as atividades realizadas durante as aulas serão valorizadas, o que permitirá análise contínua e processual acerca do aprendizado dos alunos. Durante o ano, serão importantes pontos de observação para o professor como forma de avaliar seus alunos os seguintes: capacidade de articular conceitos sociológicos básicos apreendidos, com a prática social; capacidade de argumentação fundamentada teoricamente, clareza e coerência na exposição de idéias; construção de “novos olhares” para os problemas sociais; iniciativa de pensamento e atitudes; autonomia de pensamento e atitudes; rompimento com o senso comum e a acomodação; reflexão crítica nos debates; participação nas pesquisas de campo e outras atividades solicitadas. Outro aspecto importante, que não pode ser esquecido é a avaliação da instituição em sua totalidade, a qual deve estar constantemente analisando suas práticas, seus discursos políticos e seu compromisso com a qualidade e a democracia. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFIA Diretrizes Curriculares de Sociologia para a Educação Básica