III SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2014
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Inventário Rápido da Chiropterofauna em Fragmentos Florestais na Região de
Joatuba, Laranja da Terra - ES
V. T. Pimenta1*; I. S. Borloti1; J. P. M. Hoppe1 & A. D. Ditchfield1
1
Laboratório de Estudos em Quirópteros- Universidade Federal do Espírito Santo.
*Email para correspondência: [email protected].
Introdução
A importância de se inventariar mamíferos é ressaltada por Pardini et al. (2003) devido ao
grau de ameaça e importância ecológica do grupo. Levantamentos acurados sobre a
ocorrência ou não ocorrência de espécies nas unidades de conservação ou fragmentos
florestais são de grande importância para pesquisas científicas. Levantamentos são
essenciais para originar políticas de manejo de recursos naturais, preservação da
biodiversidade dentro dos limites das unidades de conservação e identificar expansões ou
novas reservas (Stohlgren et al., 1995).
No entanto situações emergenciais e a falta de recursos financeiros limitam a realização de
inventários em longo prazo. Para suprir estas deficiências, desde 1992 a “Nature
Conservancy” tem realizado Programas de Avaliação Biológica Rápida que objetivam
coletar, analisar e disseminar informações sobre áreas importantes para a conservação da
biodiversidade (Young et al. 2003).
A Ordem Chiroptera merece uma atenção especial, pois é a segunda ordem mais especiosa
dentre os mamíferos. Possivelmente devido a grande diversidade de hábitos alimentares é a
ordem mais diversa localmente (Reis et al., 2007). Na região Neotropical essa diversidade
alimentar alcança seu nível máximo, não só de morcegos, mas também de toda a Classe
Mammalia (Gardner, 1977; Ferrarezi & Gimenez, 1996; Freeman, 2000; Wetterer et al.,
2000; Simmons, 2005). A família Phillostomidae ocupa virtualmente todos os níveis
tróficos (Fenton, et al., 1992), podendo ocorrer numa mesma localidade morcegos
nectarívoros, frugívoros, insetívoros, carnívoros e até os hematófagos (Simmons, 2005).
Material e Métodos
Área de estudos. A área amostrada localiza-se no distrito de Joatuba, zona rural do
município de Laranja da Terra, região leste do estado do Espírito Santo (19º 52` 43,30``S e
40º 57` 34,96``O, altitude de 258 m). A região possui vegetação nativa altamente
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PIMENTA ET AL.: INVENTÁRIO RÁPIDO DA CHIROPTEROFAUNA.
fragmentada, sendo que a monocultura de tomate e a pecuária bovina ocupam a maior
parte da paisagem local. O relevo é acidentado e o clima é do tipo tropical quente e seco,
com estação chuvosa no verão e seca no inverno. Inserida no bioma da Mata Atlântida, a
formação vegetal dominante é a Floresta Estacional Semidecidua, caracterizada por ser
uma mata verde na época chuvosa e com perda de folhas na época seca (MMA, 2007).
Os dois maiores fragmentos de mata na região foram amostrados, ambos possuem em
torno de cinco hectares e são distantes entre si por 1,2 km (19º 53` 14,67``S e 40º 56`
40,51` O, altitude de 381 m, ponto médio entre os dois fragmentos).
Coleta dos dados. Foram realizadas oito noites de amostragem, uma por mês, no período
entre junho de 2009 e janeiro de 2010. Os morcegos foram amostrados por meio de redes
de neblina, armadas no sub-bosque até 3 m de altura. Oito redes (cinco de 6 x 2,5 m, duas
de 9 x 2,5 m e uma de 12 x 2,5 m) foram utilizadas em cada noite, expostas durante as
primeiras seis horas após anoitecer. O esforço amostral foi calculado na forma de redehoras, sendo que a área de cada rede somada foi multiplicada pelo número de horas
expostas (rede.hora). O índice de capturas foi calculado dividindo-se o número de
morcegos capturados pelo esforço amostral.
Os seguintes dados foram registrados para cada morcego capturado: espécie, sexo, estado
reprodutivo, medida de antebraço e peso. Os primeiros indivíduos de cada espécie foram
coletados como espécimes testemunho e levados ao Laboratório de Estudo em Quirópteros
na Universidade Federal do Espírito Santo, onde foram mortos pelo processo de quebra da
coluna cervical, fixados em formol 10% e conservados em meio úmido (etanol 70%).
Análise dos dados. As capturas foram separadas de acordo com o horário, definidas em
intervalos de uma hora, com cada noite tendo seis amostras. Foi realizada uma estimativa
de riqueza de espécies utilizando o estimador Jackknife de segunda ordem (Jackknife2)
que segundo Rex et al. (2008) é o mais eficiente na estimativa da riqueza de espécies de
morcegos utilizando um inventário incompleto. Esse método é importante para detectar
espécies que são pouco abundantes e que por isso são difíceis de serem encontradas em
levantamentos (Chao, 1984). Duas curvas de acumulação de espécies foram feitas, uma
para capturas observadas durante o período de amostragem, e outra usando os dados
observados para estimativas de esforço amostral maior, utilizando a rarefação de Coleman,
que permite estimar a velocidade que se acrescentariam espécies inéditas.
Realizou-se um cálculo de dominância utilizando o índice de Berger-Parker. Este índice
estima a dominância dentro de uma comunidade, ou seja, verifica se há ou não dominância
de uma determinada espécie numa comunidade (Berger & Parker, 1970). A
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homogeneidade ou a equitabilidade (J) da comunidade de morcegos foi analisada pelo
índice de Pielou, que determina a distribuição dos indivíduos entre as espécies. Este índice
varia entre zero e um, sendo que valores próximos a um indicam uma maior equitabilidade
das espécies na amostra, ou seja, as abundâncias são semelhantes (Ludwing & Reynolds,
1988; Pinto-Coelho, 2000)
A diversidade de espécies da área foi determinada a partir do índice de Shannon-wiener
(H´). Este índice se baseia em informações teóricas e mede o grau de incerteza em predizer
qual será a espécie a que pertence um indivíduo tomado ao acaso de uma amostra de „S‟
espécies e „N‟ indivíduos (Odum, 1988). De acordo com Pinto-Coelho (2000), o índice de
diversidade de Shannon-Wiener (H) reflete dois atributos básicos: o número e a
equitatibidade de espécies, assumindo que todos os indivíduos são amostrados
aleatoriamente, e que todas as espécies estão representadas na amostra. Essas análises
(riqueza, diversidade, equitabilidade dominância) foram importantes para dizer o quanto a
amostragem foi representativa da riqueza de espécies da comunidade. Uma análise de
influência da competição interespecífica requer uma amostragem representativa dessa
riqueza.
Resultados e Discussão
O estudo registrou um esforço amostral de 150 m2/h, gerando 900 m2.h por noite de
amostragem totalizando 7200 m2.h de redes expostas, o sucesso de capturas atingiu 0,0238
capturas/m2.h. Registrando um total de 172 capturas que representam duas famílias, oito
gêneros e 14 espécies (Tabela 1). A família mais comum amostrada foi Phyllostomidae
(n=171, 7 gêneros, 12 espécies) desta a subfamília Carollinae teve a maior abundância
(n=66, 1 gêneros, 2 espécies), embora a subfamília Stenodermatinae tenha apresentado
maior riqueza de táxons (n=55, 2 gêneros, 5 espécies). A família Vespertilionidae teve
apenas uma captura da espécie Myotis riparius. Carollia perspicillata (Phyllostomidae,
Carollinae, n=62) e Artibeus lituratus (Phyllostomidae, Stenodermatinae, n=22), foram as
espécies mais comuns. Morcegos da Família Molossidae foram visualizados forrageando
durante o final da tarde, porém nenhum foi capturado. A estimativa de riqueza da área
alcançou 16 - 20 espécies. A curva de acumulação de espécies gerada usando dados brutos
(Figura 1) pareceu estar perto de estabilizar, porém, aquela gerada pelo método de
Rarefação de Coleman (figura 2) mostrou que a amostragem da área está incompleta.
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Figura 1. Curva do coletor observada. Eixo x: noites de amostragem; eixo y: número de
espécies acumuladas.
Figura 2. Curva do coletor produzida pela Rarefação de Coleman.. Eixo x: noites de
amostragem; eixo y: número de espécies acumuladas.
O resultado para o índice de Berger-Parker foi d=0,360465116 e 1/d=2,77419355. O índice
de homogeneidade e equitabilidade de Pielou resultou em j = 0,7407496. A diversidade da
área foi medida com os índices de Shannon-Wiener, resultando em h= 1,854881. A
diversidade é baixa para uma área de floresta de Mata Atlântica, apresentando um número
pouco superior ao encontrado por Oprea et al. (2009) para uma restinga capixaba.
As espécies de morcegos frugívoros (Artibeus fimbriatus, A. lituratus, A. obscurus,
Carollia brevicauda, C. Perspicillata, Platyrrhinus lineatus e P. recifinus) representam
metade da riqueza de espécies (n=7) e mais da metade das capturas (n=110, 64%).
Morcegos insetívoros foram representados por apenas um indivíduo (Myotis riparius).
Artibeus lituratus, Platyrrhinus lineatus e Glossophaga soricina são citadas como espécies
generalistas e adaptadas a ambientes antropizados (Brendt & Uieda, 1996).
O uso apenas de redes de neblina é o método mais empregado em inventários de morcegos
em todo o Brasil (Bergallo et al. 2003, Esbérard & Bergallo 2005), pois demanda equipes
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pequenas e baixo investimento. Este método mostra-se bastante funcional para espécies da
Família Phyllostomidae e tende a subamostrar espécies das famílias Emballonuridae,
Thyropteridae, Vespertilionidae e Molossidae (Voss & Emmons, 1996, Simmons & Voss,
1998). O alto número de frugívoros também é relatado como possível reflexo da
amostragem com redes de neblina (Arita, 1993; Pedro & Taddei, 1997).
Tabela 1. táxons de morcegos capturados na região de Joatuba, Laranja da Terra – ES,
com número de indivíduos capturados.
Táxon
n
Guilda alimentar
Família Phyllostomidae
Sub-família Stenodermatinae
Artibeus fimbriatus
15
Frugívoro
Artibeus lituratus
22
Frugívoro
Artibeus obscurus
1
Frugívoro
Platyrrhinus lineatus
20
Frugívoro
Platyrrhinus recifinus
1
Frugívoro
Sub-família Carollinae
Carollia brevicauda
4
Frugívoro
Carollia perspicillata
64
Frugívoro
Sub-família Glossophaginae
Anoura caudifer
2
Nectarívoro
Anoura geoffroyi
16
Nectarívoro
Glossophaga soricina
3
Nectarívoro
Sub-família Desmodontinae
Desmodus rotundus
1
Hematófago
Sub-família Phyllostominae
Phyllostomus discolor
19
Onívoro
Phyllostomus hastatus
3
Onívoro
Família Vespertilionidae
Sub-família Myotinae
Myotis riparius
1
Insetívoro
14
Número total de espécies
172
Número total de capturas
A fragmentação do ambiente coloca as espécies em condição de risco, podendo resultar em
extinções, bem como a perda de populações geneticamente viáveis (Erlich, 1998). A
riqueza de espécies está associada com a área dos fragmentos florestais, assim como o
número de espécies vulneráveis diminui progressivamente com a diminuição do tamanho
da floresta (Gascon et al., 1999; Goodman & Rakotond-Ravony, 2000).
Platyrrhinus recifinus é citado como vulnerável na lista vermelha da IUCN (MMA, 2008)
e na lista brasileira de espécies ameaçadas de extinção (Machado et al., 2005) por
destruição e fragmentação do hábitat. Porém não consta na lista de espécies da fauna
ameaçadas de extinção no estado do Espírito Santo. Espécie endêmica da Mata Atlântica
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PIMENTA ET AL.: INVENTÁRIO RÁPIDO DA CHIROPTEROFAUNA.
que, embora seja rara em vários pontos da distribuição (Dias & Peracchi, 2008), séries
numerosas têm sido obtidas para a Mata Atlântica no Espírito Santo (Peracchi &
Albuquerque 1993; Peracchi et al., 2011). Sua ocorrência em uma área altamente
antropizada pode significar que a espécie não é tão sensível quanto se pensa, embora a
frequência de capturas tenha sido bem menor do que P. lineatus que é a espécie mais
comum do gênero deste bioma.
Conclusão
Inventários rápidos são ferramentas úteis para estimar a riqueza e abundância de espécies
em uma determinada localidade. Tendo em vista que este tipo de metodologia demanda
baixo custo financeiro e requer menos tempo de amostragem. O método com rede de
neblina é eficiente para captura de espécies Phyllostomidae, subamostrando as outras
famílias. O uso de outras formas de amostragens se faz necessário para tornar os
inventários da chiropterofauna mais completos.
Agradecimentos
Agradecimentos especiais ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos
Renováveis (IBAMA) pela autorização da pesquisa na área do Espírito Santo.
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