www.prp.ueg.br www.ueg.br AVALIAÇÃO DOS ÍNDICES ZOOTÉCNICOS DE GRANDES PROPRIEDADES LEITEIRAS Luís Mauro Ferreira Freitas Júnior 1; Reinaldo Cunha de Oliveira Junior2; Daiane Aparecida Fausto3; Juliano José de Resende Fernandes4 1 Programa PVIC/UEG, UnU São Luís de Montes Belos – UEG. 2 Orientador, docente do Curso de Zootecnia, UnU São Luís de Montes Belos – UEG. 3 Bolsista PBIC/UEG, UnU São Luís de Montes Belos - UEG. 4 Docente do curso de Veterinária - UFG RESUMO O projeto teve como objetivo avaliar os índices zootécnicos das pequenas propriedades leiteiras da região de São Luís de Montes Belos. Considerou grande produtor aquele com produção média acima de 500 litros/dia. O estudo foi realizado em 25 propriedades. A escolha dos produtores foi feita por sorteio. A coleta de dados foi realizada através de entrevistas com questionário aos produtores sorteados com a finalidade de levantar os índices zootécnicos. O questionário foi formulado para obter as seguintes informações: intervalo entre partos (IEP), período de serviço, idade a primeira cobrição e parto, produção média por vaca, produção de leite por hectare/ano, período de lactação e mão-de-obra por litro de leite produzido. As pequenas propriedades leiteiras (produção acima de 500 l/d) de São Luis de Montes Belos apresentaram índices zootécnicos abaixo dos preconizados, necessitando melhoria no manejo produtivo e reprodutivo para aprimorar o uso dos recursos disponíveis. Palavras-chave: propriedades leiteiras, escrituração, leite, produção Introdução O Estado de Goiás se destaca no cenário nacional do agronegócio do leite, sendo o segundo maior produtor de leite e o primeiro em produtividade (litros por habitante) do Brasil. Recentemente, criou-se o Arranjo Produtivo Lácteo da microrregião (18 municípios) de São Luis de Montes Belos, demonstrando a importância da atividade leiteira na região. A inexistência de fontes de informações confiáveis faz com que haja a necessidade de se elevar o nível da eficiência técnico-econômica dos sistemas de produção, que devem ser sustentáveis e competitivos. Para que isso aconteça, os produtores devem ter uma nova visão 1 de gestão de suas propriedades (Fernandes e Nogueira, 2005). A utilização dos índices zootécnicos se torna imprescindível para se medir à eficiência dos sistemas de produção. Tais índices levam em conta, diretamente a índices produtivos da propriedade. A produtividade de uma propriedade é entendida como a relação entre as quantidades de seus produtos e insumos. E pode variar devido à diferença na tecnologia de produção, na eficiência dos processos de produção e no ambiente em que ocorre a produção. Quanto ao que diz respeito à eficiência pode ser entendido como uma comparação entre os valores de produtividade observados e os valores ótimos (Souza, 2003). O desempenho zootécnico da atividade leiteira pode ser avaliado através de vários índices zootécnicos, da relação entre eles e também pela análise econômica. Tem-se utilizado como índices: 1) produção média por vaca em lactação/dia; 2) produção média diária pelo total de vacas do rebanho; 3) produção de leite por hectare/ano; 4) taxa de natalidade; 5) idade ao primeiro parto; 6) intervalo entre partos; 7) litros de leite por quilo de concentrado fornecido; e 8) mão-de-obra por litro de leite produzido (Oliveira et al., 2001; Martins, 1988; Gomes, 1997; Schiffler, 1998). Isso vai determinar a análise de desempenho econômico da propriedade e retorno sobre o investimento. O levantamento dos índices zootécnicos nas propriedades leiteiras é um dos principais entraves à realização de um bom planejamento. A maioria dos produtores não conhece nem acompanha seus índices zootécnicos. Em alguns casos, esse fato pode ser atribuído a uma deficiência na criação, ou seja, à falta de anotações rotineiras dos dados relacionados com os animais da criação. Em outros casos, o problema está no processamento e análise dos dados anotados, visto que algumas propriedades possuem muitos dados (ex: data de inseminação, data de nascimento, peso ao nascer, mortes, etc.), porém não conseguem transformá-los em informação ou em índices zootécnicos (Quirino et al., 2004). A anotação de informações da criação depende da presença de uma pessoa capaz de executar esta atividade de forma disciplinada. Apesar de ser uma atividade simples, num país como o Brasil, com elevados índices de analfabetismo, isso pode ser bastante difícil de ser executado na prática. Entretanto, qualquer empregado alfabetizado pode ser treinado para coletar dados. É importante que a pessoa encarregada de registrar os dados seja consciente da importância deste trabalho para o melhoramento da produção do rebanho (Quirino et al., 2004). O presente estudo teve como objetivo levantar e avaliar os índices zootécnicos da atividade leiteira das grandes propriedades produtoras de leite (acima de 500 l/d) da região de São Luís de Montes Belos. 2 Material e Métodos A pesquisa foi realizada na região de São Luis de Montes Belos-GO. Inicialmente foi levantado o número provável de grandes propriedades leiteiras, produção diária acima 500 l/d (Gomes, 2000), a partir de levantamentos nas indústrias, postos de coleta de leite, cooperativas, associações, Sindicato rural, Agência Rural e no comércio local (agropecuárias) e associações. O estudo foi realizado em 25 propriedades com produção média diária acima de 500 litros. A escolha dos produtores foi feita por sorteio. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas utilizando questionário. Foram realizadas visitaram às fazendas dos proprietários sorteados. O questionário foi formulado para obter as seguintes informações: intervalo entre partos, período de serviço, idade a primeira cobrição e parto, produção média por vaca e propriedade, produção de leite por hectare/ano, período de lactação e mão-de-obra por litro de leite produzido e outros (Gomes, 1997). Os dados foram processados no pacote estatístico SAS (1988). Resultados e Discussão Verifica-se na Tabela 1, o baixo percentual de vacas em lactação (61%; Tabela 1), embora, próximo de 60% observado por Souza et al, (1994) no município de Cromínia-GO. Martins et al. (2003) verificaram, ao estudarem propriedades tecnificadas nos Estados de GO, MG, SP, PR e RS, uma produção média de 704 litros/dia por propriedade, valor superior ao observado nos grandes produtores estudados (546,9 litros/dia). A média da idade a primeira cobrição de 28,4 meses (Tabela 1) está acima do recomendado por Campos e Lizieire, (2005), que é de 25 a 27 meses para animais mestiços. Para isto ocorrer, é necessário que as novilhas atinjam peso de 300 a 330 kg em 16 a 18 meses de idade, fato este que não está acontecendo, provavelmente, devido às falhas no manejo, principalmente nutricional. O Intervalo entre partos (IEP) é conhecido como o intervalo de tempo no qual a vaca pariu, desenvolveu a lactação, foi coberta, entrou em gestação, foi seca e ocorreu o novo parto, sendo uma conseqüência direta das limitações do sistema de alimentação, para atender às demandas do rebanho no decorrer do ano agrícola. 3 O IEP de 15,2 meses é considerado um período longo. O IEP ideal é de 12 meses e as vacas observadas neste estudo ficaram pouco mais de três meses sem produzir, só gastando e reduzindo a produção e a receita da propriedade. Levantamento realizado por Hillesheim & Stuker (1995) sobre IEP em propriedades leiteiras na região Leste de Santa Catarina, constatou-se que a média das unidades gira em torno dos 390 dias, próximo ao ideal que seria de 365 dias, meta difícil de ser atingida mesmo em bacias leiteiras especializadas, como a de Castrolândia no Paraná, cujo intervalo está próximo de 416 dias. Tabela 1. Índices zootécnicos de grandes propriedades leiteiras (produção acima de 500l/d) da região de São Luis de Montes Belos. Itens1 Média Máx Total de vacas 89,8 230,0 Vacas lactantes 54,9 165,0 Vacas lactantes, % 61,8 87,5 Período de lactação 9,0 11,0 Intervalo entre partos 15,2 20,6 Período de serviço, d 185,7 348,4 Produção média diária 546,9 2750,0 Produção média vaca, d 9,6 24,8 Produção média/ha/ano 53642,9 202163,7 Produção média func., d 221,5 450,0 Idade a 1ª concepção 28,4 39,0 Idade a 1ª parição 37,4 48,0 1 Mín 48,0 22,0 40,0 6,0 9,1 3,9 200,0 5,2 9937,1 100,0 15,0 24,0 d - dia Os baixos índices de produtividades evidencia a necessidade de se organizar e profissionalizar a administração do empreendimento, com vistas à melhor alocação e combinação dos recursos produtivos. É preciso, que os produtores de leite adotem práticas de gestão fundamentadas no planejamento da produção, organização rural e controle de atividades e seus processos, notadamente controles zootécnicos. Além disso, é necessário que a tecnologia disponível seja plenamente compreendida e utilizada de forma eficiente, garantindo a alimentação e o manejo adequados do rebanho, assim como o uso da capacidade máxima instalada e a obtenção de uma melhor rentabilidade na atividade leiteira. 4 Conclusões As grandes propriedades leiteiras (produção acima de 500 l/d) de São Luis de Montes Belos apresentaram índices zootécnicos abaixo dos preconizados, necessitando melhoria no manejo produtivo e reprodutivo para aprimorar o uso dos recursos disponíveis. Referências Bibliográficas FERNANDES, E.N.; NOGUEIRA, M.C.P.Y. Sistemas de apoio à decisão na gestão ambiental de propriedades leiteiras. Tecnologia e gestão na atividade leiteira. Juiz de Fora: Embrapa Gado de leite, 2005, 323p. GOMES, S.T. Indicadores de eficiência técnica e econômica na produção de leite. São Paulo: FAPESP, 1997. 178p. GOMES, S. T. Economia da produção de leite. Belo Horizonte: Itambé, 2000. 130p. HILLESHEIM, A.; STUKER, H. 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