Alim. Nutr., Araraquara v.18, n.1, p.93-100, jan./mar. 2007 ISSN 0103-4235 ARMAZENAMENTO DA FARINHA DE TRIGO ENRIQUECIDA COM FERRO E ÁCIDO FÓLICO E SEU EFEITO NA PRODUÇÃO DE PÃO DE FORMA* Luiz Carlos GUTKOSKI ** Bruna KLEIN *** Bruna KASTER *** Fernanda Tormen GONÇALVES *** Franciele do Carmo LAMAISON *** Franciela SPIER *** Maria Tereza FRIEDRICH **** RESUMO: A importância das vitaminas e minerais na prevenção de doenças tem motivado a saúde pública a implementar programas de enriquecimento de alimentos. Diante disso, o Ministério da Saúde tornou obrigatória a fortificação das farinhas de trigo e milho com ferro e ácido fólico. O trabalho objetivou estudar farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico durante o armazenamento e a sua influência na produção de pão de forma. A farinha de trigo foi caracterizada quimicamente. Os microingredientes foram adicionados nas concentrações de 1.2, 2.1, 4.2, 6.3, 7.2 mg 100g-1 de ferro e 44, 75, 150, 225, 256ug 100 g-1 de ácido fólico. O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado e os resultados avaliados por análise de variância (ANOVA) e regressão polinomial. Nos modelos significativos, as médias foram comparadas entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Os microingredientes ferro e ácido fólico não interferiram nas características físico-químicas e de panificação da farinha de trigo, sendo as alterações encontradas decorrentes de sua maturação durante o armazenamento. PALAVRAS-CHAVE: Triticum aestivum; farinha; microingrediente; armazenamento; pão de forma. INTRODUÇÃO A resolução RDC no 344 de 13 de dezembro de 20025 tornou obrigatória a adição de ferro e ácido fólico nas farinhas de trigo e milho destinadas ao uso industrial, incluindo as de panificação e as farinhas adicionadas nas pré-mistu- ras, devendo as mesmas terem para cada 100 g no mínimo 4,2 mg de ferro e 150 µg de ácido fólico. A farinha de trigo fortificada utilizada como ingrediente em produtos alimentícios industrializados, no qual comprovadamente o ferro e/ ou ácido fólico causem interferências, poderão ser isentas da adição desde que a empresa processadora comprove através de estudos as alterações causadas nos alimentos. A escolha dos compostos de ferro e de ácido fólico para fortificação é de responsabilidade dos moinhos, mas devem garantir a estabilidade nas farinhas de trigo dentro dos prazos de validade das mesmas e que os compostos de grau alimentício sejam biodisponíveis.2 O ferro é um constituinte da hemoglobina. A hemoglobina é composta de quatro grupos heme contendo o mineral, cada um ligado a quatro cadeias polipeptídicas, que formam sua molécula da hemoglobina. A deficiência de ferro é a causa mais comum da anemia nutricional no homem, pois 80 % do ferro presente no organismo está relacionado com produção das hemácias. A deficiência de ferro pode ocorrer na população, quando esta apresenta hábitos alimentares defeituosos, e na alimentação de crianças, quando o desmame é feito tardiamente. As patologias que podem induzir a deficiência de ferro são todas aquelas síndromes que afetam a absorção intestinal e a ocorrência de hemorragias recorrentes.7 O ácido fólico é uma vitamina do complexo B, quimicamente denominado ácido pteroilglutâmico, encontrado na natureza em forma de folato, ou seja, ligado a uma molécula de L-glutamato.10 A deficiência de ácido fólico pode acarretar desde malformações congênitas no feto até doenças cardíacas. A maioria dos países que sofrem com doenças * Trabalho elaborado com Bolsas de Iniciação Científica - Pibic/CNPq (Processo 106365/2006, Edital 003/2006) e Bic/Fapergs (Processo 00506189, Edital Fapergs 002/2005). ** Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária - Universidade de Passo Fundo - 99001-970 - Passo Fundo - RS - Brasil. *** Curso de graduação em Engenharia de Alimentos - Universidade de Passo Fundo - 99001-970 - Passo Fundo - RS - Brasil. **** Curso de Química - Instituto de Ciências Exatas e Geociências - Universidade de Passo Fundo - 99001-970 - Passo Fundo - RS - Brasil. 93 acometidas pela falta de ácido fólico está suplementando os alimentos com esta vitamina.9 As farinhas de trigo adquirem durante o armazenamento propriedades viscoelásticas que os produtos moídos de grãos recém colhidos não possuem. Com o tempo de armazenamento também se observa uma melhoria na cor da farinha.6 As alterações nas propriedades físicas, químicas e reológicas das farinhas de trigo afetam as características de panificação e são explicadas pelo fenômeno da maturação, em que ocorre a oxidação das proteínas do glúten e dos pigmentos carotenóides. Gutkoski et al.,15 estudando a estabilidade de farinha de trigo integral, verificaram que as amostras com 45 dias de armazenamento apresentavam condições para o consumo humano pelo menos quanto a acidez graxa e umidade, ocorrendo também melhoria na força geral do glúten. Miranda et al.,20 estudando a influência do ferro EDTA e do sulfato ferroso na degradação da vitamina E e vitamina A em farinha de arroz enriquecida, observaram que o ferro EDTA adicionado não interferiu na estabilidade da vitamina E. Com a utilização de sulfato ferroso as vitaminas apresentaram uma degradação significativa, reduzindo a estabilidade da farinha. De acordo com Campelo et al.6 a adição de sulfato ferroso e ácido fólico afetou as características reológicas da farinha de trigo. A fortificação da farinha de trigo com 30% do Índice Diário Recomendado de sulfato ferroso (4,8 mg d-1) e de 150 g de ácido fólico proporcionou aumento da resistência à extensão e da resistência máxima da massa, fortalecendo o glúten. O processo de adição de ferro e ácido fólico à farinha de trigo é simples e os benefícios que advém da fortificação de farinhas estão comprovados em estudos científicos, porém existem poucas informações quanto à estabilidade da farinha de trigo fortificada. O pão é um alimento que tem despertado interesse para pesquisa, principalmente sob o aspecto nutricional. Ele é um alimento de alto valor energético, fornece 19% das necessidades energéticas diárias, em média, além de conter ácidos graxos, aminoácidos, elementos minerais e as vitaminas B1, B2, C, A, D, E e K. Para a produção de pão com boas características de volume, uniformidade e cor é recomendado o uso de farinha de trigo com elevado potencial de panificação.21 O trabalho objetivou estudar farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico durante o armazenamento e a sua influência na produção de pão de forma. MATERIAL E MÉTODOS Material Amostra de 30 kg de farinha de trigo sem a adição de microingredientes foi adquirida em moinho de trigo, produzida especialmente para o experimento. O ferro na forma elementar (ferro reduzido) e o ácido fólico foram fornecidos pela empresa M. Cassab. Os microingredientes foram pesados individualmente na quantidade definida em cada tratamento e adicionados em amostras de 2kg de farinha de trigo, misturados pelo uso de misturadeira marca Superfecta por 6 min a 100 rpm. As amostras foram embaladas em sacos de polietileno de baixa densidade (70 m de espessura) com vedação hermética e armazenadas no laboratório de Cereais do Centro de Pesquisa em Alimentação da Universidade de Passo Fundo, com temperatura ambiente de 22oC e umidade relativa entre 55 e 70%. Delineamento experimental O delineamento empregado foi o planejamento fatorial para duas variáveis e três níveis totalizando onze tratamentos. As variáveis respostas foram avaliadas nos tempos zero, 60, 120 e 180 dias e as análises realizadas no mínimo em duplicata. Os níveis de variação de ferro e ácido fólico estão apresentados na Tabela 1 e o delineamento experimental utilizado na Tabela 2. Os pães de forma foram elaborados após os períodos de 60 e 120 dias de armazenamento das farinhas de trigo fortificadas. Umidade O conteúdo de umidade das farinhas foi determinado de acordo com o procedimento da AACC,1 método número 44-15A, pelo uso da estufa com circulação forçada de ar a 130oC por 1 h, em duplicata, e os resultados expressos em porcentagem. Tabela 1- Variáveis independentes e níveis de variação utilizados no experimento estabilidade de farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico. Variáveis independentes Níveis de variação - -1 0 +1 + Concentração de ferro (mg 100 g-1) 1,2 2,1 4,2 6,3 7,2 Concentração de ácido fólico ( g 100 g-1) 44 75 150 225 256 = 1,414 para K=2 (duas variáveis independentes). 94 This document was created with Win2PDF available at http://www.win2pdf.com. The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only. This page will not be added after purchasing Win2PDF.